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Em os dois tratados sobre o governo civil, Locke descreve o primeiro tratado como uma
refutação do Patriarca, obra de Robert Filmer que defende o direito divino dos reis. E no
segundo tratado Locke afirma que o consentimento expresso dos governados é a única
fonte de poder legítimo, não a tradição nem a força. Este último, tornou Locke celebre,
e exerceu enorme influência sobre as revoluções liberais da época moderna.
Além disso, Locke utiliza a noção de propriedade num sentido desigual da de Hobbes.
Para Hobbes, o Estado criou a propriedade e também podia tirá-la dos súditos. Para
Locke, a propriedade já existe no estado de natureza e é um direito natural do indivíduo,
que não pode ser violado pelo Estado. Ele concluía que como a terra foi dada por Deus,
o trabalho era um estado natural do homem, disso surgia um direito próprio, o direito de
propriedade.
Assim como Hobbes, John Locke propôs que o ser humano possui seu estado de
naturalidade, onde para o mesmo, está alheio à violação dos direitos naturais, que são a
vida, a liberdade, e a propriedade. Portanto, fez-se mister a realização de um contrato
social, onde para o pensador em questão, os indivíduos fizeram um pacto de
consentimento entre si, de forma livre, com o intuito de preservar a sociedade e seus
direitos inalienáveis através de uma organização política unitária. Locke se difere de
Hobbes no ponto em que o primeiro prega em um contrato social de consentimento
público, onde o Estado serve a população, como exposto anteriormente. Enquanto o
segundo, se concentrava em um contrato social de submissão a uma entidade maior, que
controla a fúria de anarquia coletiva e supre suas necessidades mais primitivas. Seria
essa entidade o Leviatã.
Para Locke, o poder estatal tem como dever o serviço ao povo. Porém, quando o mesmo
ultrapassa os limites impostos e viola a vida, a liberdade e a propriedade da sociedade,
em prol do interesse e benefício próprio, o meio social volta para o estágio do estado de
natureza, promovendo um estado de guerra através da tirania. Nesse sentido, o povo tem
o direito de rebelar-se, mesmo que para isso seja preciso a utilização da força bruta, para
assim garantir a proteção dos seus direitos. Tal princípio serviu de estopim para as
revoluções liberais que posteriormente vieram a acontecer na Europa e América.
TEXTOS DE LOCKE
Primeiramente, vale salientar que Locke defende que o comando político tem o poder de
fazer o que for necessário para garantir a privacidade da propriedade de seus cidadãos.
Para o mesmo, o poder político se difere de outros tipos de relação de poder, como um
pai para com o filho, justamente porque o poder inerente ao Estado, paradoxalmente é
exercido como submissão aos seus indivíduos. É diferente do poder existente no mundo
animal, ou de um comando que usa da força e violência em prol da tirania, causando
desordem e discórdia.
Para entendermos o poder político, o autor acredita que devemos compreender em que
estado todos os homens se acham naturalmente, seja no estado de liberdade para
ordenar-lhes as ações, posses, pessoas nos limites da lei da natureza sem pedir
permissão ou depender da vontade alheia, seja no estado de igualdade que é reciproco
para qualquer poder e jurisdição e nenhum tendo mais que o outro. Assim temos
criaturas da mesma espécie e ordem, embora, seja esse um estado de liberdade não o é
de licenciosidade visto que o homem não possui, no entanto, liberdade para destruir a si
mesmo ou o outro, visto que o estado de natureza tem uma lei de natureza a governá-lo
e que a todos submete sendo todos iguais e independentes nenhum deve prejudicar a
outrem na vida, saúde, liberdade ou posses.
Para Locke cada homem tem uma propriedade em sua própria pessoa, podemos dizer
que o “trabalho” do seu corpo e a “obra” das suas mãos são propriamente seus. Seja o
que for que ele retire do estado que a natureza lhe forneceu e no qual o deixou, fica-lhe
misturado ao próprio trabalho, juntando-se algo que lhe pertence e, por isso, mesmo,
tornando-o propriedade dele.
Teremos uma sociedade política somente quando cada um dos membros renunciar ao
próprio poder natural, passando-o às mãos da comunidade em todos os casos que não
lhe impeçam recorrer à proteção da lei por ela estabelecida. O poder de fazer leis, bem
como possui o poder de castigar qualquer dano praticado contra qualquer dos membros,
o poder de guerra e paz, tudo isso para preservar o direito à propriedade, denotando uma
origem do poder legislativo e executivo, visto que uma monarquia absoluta é
incomparável com uma sociedade civil, até porque o objetivo da sociedade civil
consiste em evitar e remediar os inconvenientes do estado de natureza.
Sendo os homens livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso ou
submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento a única maneira em
virtude que uma pessoa renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade
civil é concordando com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para
viverem com segurança, conforto e paz, gozando garantida mente das propriedades e
desfrutando de proteção contra quem quer que não faça parte dela.
O que constitui realmente qualquer sociedade política nada mais é que uma união
voluntária e do acordo mútuo de homens livres escolhendo seus governantes e suas
formas de governo. Sendo assim quem uma vez deu, por acordo ou declamação
expressa, o seu consentimento particular dessa comunidade, está obrigado perpétua e
indispensavelmente, a ficar inalteravelmente súdito dela e assim impedido de voltar para
o estado inicial de natureza, exceto em casos extremos como calamidades ou ato público
que dissolva a comunidade.
O principal e grande objetivo de viver em comunidade é a preservação da propriedade,
primeiro temos uma lei estabelecida, firmada, conhecida, recebida e aceita mediante
consentimento comum, em segundo no estado de natureza falta um juiz conhecido e
independente com autoridade para resolver a partir de leis estabelecidas, um terceiro
ponto interessante é a falta de poder que apoie e sustente a sentença quando justa,
dando-lhe a devida execução. Assim sendo o poder legislativo ou poder supremo obriga
o governante a governar mediante leis estabelecidas, promulgadas e conhecidas pelo
povo e não por meio de decretos extemporâneos e mediantes juízes imparciais e
corretos, visando a paz, a segurança e o bem-estar do povo.
Com a união dos homens numa sociedade é possível deter o poder de uma comunidade
entre si. Leis que podem ser concedidas a seu favor, criadas e executadas por
funcionários que podem ajudar a governar o estado de forma democrática. Para os
homens escolhidos pelo povo, fazer suas leis e assim sucedendo aos seus herdeiros a
monarquia eletiva. Seguindo esta condição, a comunidade poderia estabelecer várias
formas de governar, da maneira que fosse mais conveniente.
Obter paz e segurança era o grande propósito da sociedade. Impunha-se a primeira lei
natural regida pelo poder legislativo, que como lema preservava a sociedade como um
bem público, algo sagrado e inalterável assim que a comunidade tenha implantado sob
sanção. Como exemplo, estas leis não poderiam favorecer casos mais particulares, ela
funcionava tanto para os ricos como para os pobres e destinada com um único fim que
seria para o bem da população; difundir impostos nas propriedades do povo sem o
consentimento deles; o poder legislativo não teria autorização de construir leis que não
fosse indicado pelo povo.
Embora em um estado constituído com bases próprias e a partir da sua natureza, ou seja,
com ação na preservação da comunidade e assim cabendo ao povo o poder último para
afastar ou alterar o poder legislativo quando esse por ventura venha a falhar, assim,
podemos dizer que a comunidade é sempre o poder supremo, mas não considerada sob
qualquer forma de governo, poder executivo permanente mas em todos os estados e
condições o verdadeiro remédio contra a força sem autoridade coloca sempre quem dela
fará uso num estado de guerra como agressor e sujeita-o a ser tratado da mesma forma.
Constitui direito dos progenitores, o poder paterno. Este será atribuído, pois entende-se
que os menores não dispõem do exímio uso da razão para tomarem as próprias decisões,
sendo necessária a intermediação parental até que estes indivíduos atinjam o
suprassumo do conhecimento. Em segundo plano, o poder político sobrevém a partir do
momento que os homens abdicam daquilo que possuíam no estado de natureza e o
concedem à sociedade, em um acordo mútuo. Em suma, o poder despótico configura-se
como um artifício no qual o homem, exerce o direito de obstruir a vida de outrem.
Entretanto, só está submetido a este poder, os homens que não possuem vínculo com a
sociedade ou não cumpriram o acordo anteriormente estabelecido.
O conquistador não obtém direito às riquezas acumuladas com a guerra, se estas não
forem devidamente legalizadas e nutriram prejuízo à sociedade. Da mesma forma, a
usurpação de um direito que pertence a outrem e lhe fora tirado, não é assentida pela lei.
Ademais, a Tirania não deve ser desenvolvida por nenhum conquistador do direito, pois
esta sempre é movida em benefício próprio. Assim, quando a lei finda, a tirania emerge;
pondo em vigor as vontades do soberano, baseada na sua emoção. Por fim, cabe
destacar que a dissolução estatal pode ser influenciada por duas acontecimentos:
Quando decorre uma invasão estrangeira, desalinhando a sociedade; ou quando esta
própria é destituída por rebeliões internas que alteram a harmonia.