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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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Ainda que o direito à vida seja reservado apenas ao poder divino, o direito à
aplicação de punição contra infratores dos direitos naturais está à disposição de cada
homem, não obstante não ser absoluto também, sendo os homens juízes e aplicado-
res. Além de preservar os direitos naturais, o direito da punição assegura também
assegura não só a paz, como também a preservação da própria humanidade. Dessa
observação, é possível estabelecer, conforme destaca MELLO (2011), um grande
contraponto entre Locke e Hobbes, pois, enquanto este considera que, no estado de
natureza, os homens vivem em um estado de guerra generalizado, o primeiro avalia
que, nesse estado, há relativa tranquilidade.
Embora o estado seja relativamente pacífico, isto não quer dizer que não exis-
tam conflitos, resultando num estado de guerra, muito menos que esse estado e o de
natureza sejam sinônimos, como era considerado por Hobbes, por exemplo. Para
Locke (2005), o estado de guerra se caracteriza como o momento em que um homem
tenta impor poder sobre a vida de outrem e promove guerra ou manifesta-se contra a
existência de outro e este, sem outra forma de recorrer a tal injúria, utiliza-se dos
meios necessários para sua preservação, inclusive a destruição de quem ameaça-o.
Contudo, o autor defende, ainda, que, caso essa força ameaçadora cesse e haja como
recorrer pela lei, deve-se utilizar deste mecanismo; porém, se esse mecanismo estiver
sujeito a corrupção e deturpação das leis, o estado de guerra se instaura novamente
a fim de restituir os danos do agredido.
Nesse estado, os homens atuam como juízes em causa própria, prevalecendo
a parcialidade, da qual não é possível estabelecer nenhum tipo de resolução satisfa-
tória nem assegurar a manutenção dos direitos – sobretudo, à propriedade –, assim,
“evitar esse estado de guerra [...] é a grande razão pela qual os homens se unem em
sociedade e abandonam o estado de natureza” (LOCKE, 2005, p. 400).
Como esboçado, Locke dá grande ênfase ao direito à propriedade durante todo
seu trabalho, ponto fundamental para sua teoria sobre o início do governo. Antes,
contudo, é necessário estabelecer o que o autor considera o seu início e o que seria
a propriedade. Assim, ressalta o direito que homens têm a tudo que for necessário
para sua preservação e considera que, para alcançar esse objetivo, os homens têm
acesso à terra, que no início, era comum à humanidade. A partir disso, pareceria es-
tranho admitir algum senso de propriedade dentro de um ambiente em que, determi-
nado por Deus, seria de uso comum, no qual não há, originalmente, nenhum domínio
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contrariamente ao encargo que lhe foi confiado [...] quando tenta violar a propriedade
do súdito” (LOCKE, 2005, p. 579). Portanto, há dissolução do governo quando há um
atentado contra a propriedade dos indivíduos. Nesse momento, o povo está desobri-
gado a prestar obediência aos governantes e agir da forma que achar apropriado a
sua conservação, podendo estabelecer um novo governo, por meio da mudança dos
representantes ou da sua forma ou, ainda, de ambos os modos.
Por fim, a finalização deste fichamento está destinada para citar algumas pas-
sagens da leitura que mais me chamaram a atenção:
“O trabalho forma a maior parte do valor das coisas” (LOCKE, 2005, p. 422)
“O homem (sendo senhor de si mesmo e proprietário de sua própria pessoa e
de suas ações ou de seu trabalho) tinha já em si mesmo o grande fundamento da
propriedade” (LOCKE, 2005, p. 424)
“A comunidade passa a ser o árbitro mediante regras fixas estabelecidas, im-
parciais e idênticas” (LOCKE, 2005, p. 458)
“Aquele que pensa que o poder absoluto purifica o sangue dos homens e cor-
rige a baixeza da natureza humana precisa apenas ler a história” (LOCKE, 2005, p.
463)
“[As pessoas] concluem que são naturalmente súditos, quando são homens”
(LOCKE, 2005, p. 490)
Em suma, o livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da
sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do go-
verno, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o controle do
executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade, são, para
Locke, os principais fundamentos do estado civil (MELLO, 2011, p. 87).
Referências bibliográficas
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. 2ª edição. São Paulo: Martins Fon-
tes, 2005.
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEF-
FORT, F.C. Clássicos da política, 1. 14.ed. São Paulo: Ática, 2011.
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