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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO

NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO - PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: ESTADO E POLÍTICAS
EDUCACIONAIS
PROFA. DRA. MARIA VIEIRA SILVA
ALUNA: MAYARA FERNANDA DA SILVA SANTOS

TRABALHO PARA A DISCIPLINA ESTADO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS

MAIO/2023
NATAL - RN
I – INTRODUÇÃO
O presente trabalho intenciona discorrer no formato de uma síntese, as principais
concepções sobre teoria do Estado em torno do pensamento de Hobbes, Locke, Rosseau,
Marx e Engels, analisando as ideias mais relevantes desses filósofos, evidenciando as
contraposições em suas teses, de modo a fazer uma reflexão a respeito se houve realmente
uma teoria de Estado nesses autores.
Para isso, é importante compreender o contexto histórico desses pensadores, pois está
relacionado com a formação de suas perspectivas sobre o surgimento do Estado e a sociedade,
como por exemplo, Hobbes que era mais próximo da classe nobre e, portanto, defendia o
Estado absolutista. Locke e Rosseau estavam em defesa do povo. Ocorre que o povo aqui
defendido era a burguesia, pois esses filósofos estavam em meio ao antigo regime, de modo
que nessa época, a burguesia era tida como povo, e a nobreza via um burguês, da mesma
forma que via um camponês pobre. Marx e Engels viveram no auge da revolução industrial,
presenciando a realidade de exploração da classe operária criada com o domínio da classe
burguesa. Assim, com a compreensão histórica podemos analisar as influências desses autores
para a construção de suas ideias.

II – SÍNTESE DAS IDEIAS DE HOBBES, LOCKE, ROSSEAU, MARX E ENGELS


SOBRE O ESTADO.

De início, cumpre informar que Thomas Hobbes foi um filósofo inglês que viveu na
época entre 1588 e 1679. Ele era filho de um pastor anglicano, estudou em uma escola
anglicana, e se formou na Universidade de Oxford. Em sua vida, Hobbes vivenciou momentos
de revoltas burguesas e camponesas, além da Revolução Inglesa de 1642, vivendo em exílio
na época da República de Cromwell. Outrossim, Hobbes também foi professor de membros
da nobreza. As principais ideias desse pensador estão contidas em sua obra mais famosa, qual
seja, Leviatã, de 1651, onde se encontra uma forte defesa à monarquia absolutista.
Nesta breve síntese biográfica, é perceptível aspectos da vida do filósofo que podem
tê-lo influenciado na defesa pelo poder centralizado do rei, como ter recebido uma educação
de natureza aristocrática, presenciado revoltas que perturbam o sistema existente, além da
proximidade com a nobreza real. Diante desse contexto, em Leviatã, Hobbes teoriza que os
homens vivem em um estado natural dentro de um caos de coisas primitivas, onde eles são
impulsionados por paixões naturais, como guerras, egoísmos, e domínio sobre os outros.
Dessa maneira, ele defende que os homens devem realizar um pacto ou uma espécie de
contrato com um indivíduo ou assembleia de homens, capaz de manter a unidade dos homens
dentro da paz e respeito às leis de natureza, quais sejam, equidade, justiça, piedade e outros.
Logo, os homens devem anuir força e poder próprios a outro homem para que este proteja a
todos, podendo utilizar a força e recursos como achar conveniente em prol de um suposto bem
comum. Desse modo, compreende-se a forte defesa de Hobbes pelo poder absoluto
concentrado nas mãos do rei, de modo que se possa evitar ou reprimir revoltas que tentem
derrubar o sistema, justificando o uso da força para punir aqueles que ameaçam a
desconstituição desse pacto.
Então, como garantia ele argumenta que “E os pactos sem a espada não passam de
palavras, sem força para dar qualquer segurança a ninguém”. (HOBBES, 2003, p. 143).
Assim, entende-se que esse contrato é a exteriorização da concepção de Hobbes sobre como
deve ser o Estado, de maneira que os súditos devem submissão ao rei, o detentor do poder
soberano e absoluto, e que garante a proteção da unidade de homens através do poder
coercitivo da força.
Por conseguinte, enquanto Hobbes teoriza que os homens devem ceder algumas de
suas liberdades individuais para o soberano para manter a paz, John Locke defende algo
parecido, que no estado natural, os homens possuem liberdades, mas passa a existir a
necessidade de se ter limites, em prol da proteção a propriedade.
Importa elucidar que John Locke (1632-1704) era um filósofo inglês que teve grande
destaque na área da filosofia política, contribuindo para consolidar ideias pertinentes ao
liberalismo político, influenciando processos históricos como a Independência das treze
colônias. Locke era filho de um advogado e capitão da cavalaria parlamentar. Dessa maneira,
de origem burguesa e não nobre, é natural que ele tenha sido um grande defensor do
parlamentarismo, já que antes desse sistema na Inglaterra, a classe burguesa não tinha os
mesmos direitos que a nobreza.
Sobre a concepção de Estado, Locke defende que os homens, para a consecução dos
objetivos de se viver em paz na sociedade, eles fazem um pacto, onde eles renunciam o poder
em prol da comunidade, esta representada por outros homens escolhidos para governar e
proteger os interesses da maioria da sociedade, devendo obediência à lei positivada, por isso
ele tutela, “(...) a verdadeira constituição de qualquer sociedade política não é nada mais que o
consentimento de um número qualquer de homens livres, cuja maioria é capaz de se unir e se
incorporar em uma tal sociedade.” (LOCKE, 1994, p. 141). Dessa maneira, é perceptível o
advento do prelúdio ao pensamento da democracia liberal, fundada na noção da
representatividade dos interesses da maioria sociedade.
Nessa esteira, Locke defende esse sistema para garantir a liberdade de usufruto da
propriedade pelos legítimos donos e que o Estado deve assegurar esse direito à propriedade
privada e sua interferência só é legítima, caso haja consentimento da sociedade. Assim, a
sociedade política se faz por contrato através do consentimento explícito para fazer parte da
comunidade. Logo, segundo esse pensador, o comum acordo dá origem aos poderes executivo
e legislativo, quando da nomeação de titulares dos cargos capazes de garantir a liberdade
sobre a propriedade, de modo que esses poderes devem ser separados para evitar o abuso de
poder, sendo que é também através do contrato se origina o governo e a própria sociedade.
Por fim, Locke defende a existência do poder federativo, como forma de descentralizar o
poder de governo, de modo a assegurar a liberdade política, mas o executivo deve proteger a
unidade, quando for solicitado pela comunidade, para sustentar a paz, ou fazer alianças.
Sobre Jean-Jacques Rosseau (1712-1778), ele foi um filósofo social e político, foi um
dos principais pensadores do movimento iluminista que surgiu na Europa, valorizando o
conhecimento científico e racional. Ele nasceu na Suíça, era filho de um relojoeiro protestante
e suas ideias influenciaram a Revolução Francesa de 1789.
Em sua obra principal, Do Contrato Social, Rosseau também defendia que os homens
faziam uma espécie de convenção para assegurar sua própria preservação, ou seja, ele também
tinha uma concepção contratualista de Estado e sociedade, assim como Hobbes e Locke. No
entanto, ele teoriza que os homens nascem livres, mas não renunciam aos seus direitos
naturais em favor de um poder absoluto do soberano, como defendia Hobbes, ele explica a
constituição do governo e sociedade através do pacto social, de modo que esses direitos
seriam assegurados pelo governo instituído mediante convenção com a sociedade.
Rosseau se aproxima de Locke no que diz respeito a democracia representativa, e na
constituição de um governo baseado na ideia da maioria. No entanto, Rosseau defendia uma
democracia mais social, onde se reconhecia a soberania do povo. Enquanto que Locke
defendia um governo que protegesse o interesse privado sobre a propriedade. Dessa maneira,
o pacto social de Rosseau dá origem ao corpo político também chamado de república,
conhecido também como Estado soberano, que segundo ele, é uma pessoa pública constituída
da junção de todas as cidades. Os associados são o povo e em particular cidadãos, quando
participam do processo político e são vassalos, quando devem obediência às leis.
Rosseau, enquanto iluminista, valorizava a racionalidade, por isso atribuía a natureza
racional ao Estado, e, portanto, capaz de assegurar os termos do pacto social, e com isso, a
vontade da maioria pela obediência a ordem instituída. Ele também expõe a respeito da
natureza do estado civil desse contrato, pois o homem possui de início a liberdade natural e
com o pacto social, ele passa a ter a liberdade civil, onde ele limita sua vontade em prol da
maioria, mas assegurando a posse de tudo que ele possui legitimamente. Por isso, ele diz que
“o que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito sem limites a
tudo que o tenta e pode atingir; ganha a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui.”
(ROSSEAU, 2009, p. 29). Nesse caso, Rosseau não defende a mesma ideia de propriedade
que Locke, para ele, o interesse do particular é subordinado a comunidade. Por fim, ele
defende o poder soberano do povo, representado pela assembleia, devendo haver na sociedade
política cooperação dos poderes executivo e legislativo para governar.
Em sentido contrário a isso, as ideias de Marx e Engels surgem para criticar essa visão
burguesa sobre o sistema político e econômico em torno da figura do Estado. Assim, Karl
Heinrich Marx (1818-1883), foi um filósofo socialista alemão, nascido na Prússia, um dos
reinos do território alemão. E Friedrich Engels (1820-1895) também nasceu na Prússia, e foi
um filósofo social e político que se tornou amigo de Marx, onde passaram a produzir escritos
juntos a respeito do comunismo.
As ideias iluministas sobre o Estado relatadas anteriormente, dando origem ao
pensamento burguês sobre o mundo, começaram a ser criticadas a partir do revolucionário
francês e líder da Conspiração dos Iguais, Graco Babeuf, em meados da Revolução Francesa.
Babeuf deu origem às ideias pré-comunistas e sustentava que os ideais de liberdade e
igualdade defendidos pela classe burguesa eram apenas formalmente universais. Era preciso
alcançar uma igualdade efetiva.
Marx teoriza que há conexão entre a sociedade civil e a sociedade política, explicando
que “A sociedade política, o Estado, é expressão da sociedade civil, isto é, das relações de
produção que nela se instalaram” (GRUPPI, 2001, p. 31). No caso, os pensadores liberais
faziam a distinção desses elementos. Marx e Engels analisam as formas de Estado e a
sociedade a partir de processos históricos, envolvendo relações materiais de existência, ou
seja, eles analisam os sistemas de produção criados pelo homem desde a origem humana,
formando aí o que se entende como materialismo histórico. Dessa maneira, eles teorizam que
o surgimento do Estado se deve à sociedade civil, entendida como um conjunto de relações
econômicas, essa sociedade forma o Estado de modo que proteja a estrutura econômica
imposta, baseada na propriedade privada e na acumulação de capital.
Nesse sentido, para analisar a origem do Estado, Engels estabelece uma ligação
histórica entre propriedade, Estado e família, partindo da formação dos clãs antes de
aparecerem as primeiras civilizações, que segundo Engels, a propriedade privada surge com a
caça, e com o resultado produtivo desta, começa a surgir uma visão materialista das coisas,
dando origem ao poder do homem sobre o conjunto social, dando base para a sociedade
patriarcal e a ideia de herança da propriedade na família. Ele defende que o Estado surge da
divisão da sociedade em classes e da subjugação da classe dominante, que possui os meios de
produção, sob a classe oprimida.
Assim, Marx e Engels definiram uma teoria para alcançar a sociedade comunista, qual
seja, a tomada dos meios de produção pelo proletariado, alcançando um período de transição
entendido como socialismo, quando a classe proletária vai buscar aumentar a massa das forças
produtivas, socializando com a comunidade os meios de produção, fazendo desaparecer as
classes sociais, extinguindo-se o Estado, instalando então o comunismo. Dessa maneira, é
perceptível como a visão liberal de Locke é totalmente contrária às ideias de Marx e Engels,
pois o liberalismo burguês exige a proteção da propriedade privada.

III – CONCLUSÃO

Por fim, com base em tudo que foi explanado, fica compreendido a existência de
diferentes visões a respeito do surgimento do Estado na sociedade. No entanto, essas ideias
apresentadas fazem parte de um arcabouço histórico, construído por importantes pensadores
para analisar a origem do Estado, estudando os aspectos relevantes que envolvem o seu
nascimento.
Posto isto, concorda-se com a visão do autor Luciano Gruppi, no sentido de que não
existe nesses autores uma teoria de Estado propriamente dita, pois Hobbes apresenta uma
ótica utópica sobre como a sociedade de sua época deveria ser, ou seja, o domínio absoluto do
rei. Os iluministas Locke e Rousseau, embora suas ideias entrem em contraposição sobre a
questão dos poderes e da propriedade, ambos compartilham uma visão burguesa da sociedade.
Quanto a Marx e Engels, segundo Gruppi, eles não chegaram a construir uma teoria orgânica
do Estado, mas formaram teorias com base nas relações econômicas da sociedade, dando
amparo científico para a formação de uma teoria de Estado.
IV – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GRUPPI, Luciano. Tudo começou com Maquiavel: As concepções de Estado em Marx,


Engels, Lênin e Gramsci. Tradução de Dario Canali. 16 ed. Porto Alegre: L&P, 2001, p. 7-55.

HOBBES, Thomas, 1588-1679. Leviatã: organizado por Richard Tuck; tradução João
Paulo Monteiro, Maria Beatriz Nizza da Silva, Claudia Berliner; revisão da tradução Eunice
Ostrensky. - Ed. brasileira supervisionada por Eunice Ostrensky. - São Paulo: Martins Fontes,
2003. - (Clássicos Cambridge de filosofia política).

LOCKE, John, 1632-1704. Segundo Tratado sobre o Governo Civil: ensaio sobre a origem,
os limites e os fins verdadeiros do governo civil; introdução de J.W. Gogh; tradução de
Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1994 – (Coleção clássicos do
pensamento político).

ROSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social ou Princípios do Direito Político. Tradução


de Pietro de Nassetti. 3ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2009.

Fonte: https://www.ebiografia.com/friedrich_engels/ Acesso em 01/05/2023.


Fonte: https://www.ebiografia.com/karl_marx/ Acesso em 01/05/2023.
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/thomas-hobbes.htm Acesso em 01/05/2023.
Fonte: https://www.ebiografia.com/john_locke/ Acesso em 01/05/2023.
Fonte: https://www.ebiografia.com/jean_jacques_rousseau/ Acesso em 01/05/2023.
ANEXO – SOBRE A DISCIPLINA ESTADO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS

A respeito da disciplina em questão, o formato pensado para discutir as concepções de


Estado é muito interessante, fazendo um resgate desde os principais teóricos até os dias atuais,
quando entrará na questão educacional.
Na opinião da presente aluna, é desejado a continuação desse formato, assim como as
discussões que são realizadas em sala de aula.

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