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Pressupostos do

Estado moderno e do
pensamento político
contemporâneo
Seidel, Carolina Cunha; Lopes, Franciele Aparecida
SST Pressupostos do Estado moderno e do pensamento po-
lítico contemporâneo / Carolina Cunha Seidel; Franciele
Aparecida Lopes
Ano: 2020
nº de p.: 12

Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.


Pre ssupo sto s do Esta do
mo de rno e do pe nsa me nto
po lític o c o nte mpo râ ne o

Apresentação

O conceito de Estado, da maneira que conhecemos atualmente, surge no século XVI,


na obra O Príncipe, de Maquiavel, que o define como grupos que são formados por
cidades-Estado e que apresentam certa independência política. É esse autor que
observa o fenômeno e o descreve em sua obra.

O presente conteúdo levará ao estudante importantes informações sobre como o


Estado se formou e como o pensamento político influenciou essas formações. As
ideias de Hobbes, Kant, Rousseau, Maquiavel, entre outros, cada um à sua época,
contribuem para o que conhecemos como o Estado moderno. Além disso, suas
ideias refletem, principalmente, um “mundo ideal” particular que considera as
variáveis de suas épocas. Bons estudos!

Bases do Estado moderno


Para compreendermos o pensamento político básico sobre a formação dos
Estados, é fundamental destacarmos a doutrina político-filosófica de importantes
pensadores como Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau.
Vamos estudar cada um deles, buscando compreender influências do pensamento
político clássico.

O trabalho de Maquiavel (1469-1527) é um marco fundamental na história


do pensamento, já que materializa o fim do agostinismo político. A política é
definitivamente secularizada de suas reflexões sobre a religião. Não podemos
esquecer que Maquiavel atuou como diplomata e secretário da República Florentina,
ou seja, era um exímio conhecedor das complexidades do poder. Além disso, teve a
oportunidade de observar de perto diversas maneiras e estilos de exercer o governo
em diferentes regiões, visto que, como diplomata e secretário, viajava em missões.

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Ainda, escreveu livros, entre os quais destacam-se duas importantes obras: O
Príncipe e Discursos sobre a primeira dé cada de Tito Lívio.

Sa iba ma is
A clássica obra O Príncipe, quando publicada, foi duramente
criticada e denunciada, pois se entendia que continha ensinos
imorais que afrontavam a política e os conteúdos éticos. Maquiavel
se defendeu, dizendo que a arte dello stato (técnica política) teria
sua própria lógica e não deveria ser determinada por outros
imperativos, como a religião ou a moral, e, logo, contrapunha-se
drasticamente à corrente e doutrina cristã agostiniana.

Segundo Maquiavel, a política é uma luta ativa para alcançar o poder e a prática
das virtudes tradicionais, em um contexto de conflito e instabilidade política que
pode levar ao fracasso do político e à ruína do Estado. Nesse sentido, haveria uma
imagem intuitiva, na qual o político deveria ser meio homem (fazer uso das virtudes
humanas tradicionais) e meio besta (saber usar a astúcia e a força em momentos
excepcionais).

Curiosida de
Há uma parte do trabalho de Maquiavel que é muito menos
conhecida, parte essa que concerne ao seu lado republicano e
que pode ser encontrada nos Discursos sobre a primeira década
de Tito Lívio. Nesse livro, Maquiavel defende a República como o
regime mais adequado para garantir a estabilidade do Estado e a
liberdade dos cidadãos. Para ele, república deve ser entendida no
sentido de que são os próprios cidadãos que a governam, além
disso, os membros do corpo político estão igualmente sujeitos às
leis.

Ainda, Maquiavel defendeu que as boas leis são o resultado do


conflito entre os poderosos e as pessoas, entre a oligarquia e as
classes plebeias. As leis, portanto, surgiriam do desejo das classes
populares de não serem oprimidas pelos grandes aristocratas.
Nessa obra, Maquiavel difere dos ensinamentos propostos em O
Príncipe.

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Metaforicamente, a besta, para o autor, às vezes era identificada como o leão (a
força) e outras vezes como a raposa (a astúcia). Dessa forma, Maquiavel incorporou
uma defesa da nova virtù (nova virtude), entendida como astúcia e determinação,
que complementaria a clássica virtus (virtude). O político teria, à sua disposição,
todos os meios possíveis para lidar com a fortuna, aleatoriamente, que é mutável e
instável e, consequentemente, não pode ser totalmente confiada a ele.

Sa iba ma is
Maquiavel subordinava a virtude à política (virtude simplesmente
útil em termos políticos), pois, vendo o a fã de glória um substituto
a moral da moral, inaugurou a concepção da Filosofia como
disciplina a serviço das metas da humanidade inteira. Sua teoria
filosófica política tentava garantir a realização da ordem de direito,
rejeitando uma meta natural do homem.

O republicanismo do autor, ainda, coloca muita ênfase na participação política para


garantir um modo de vida civil, contrariamente ao poder arbitrário das tiranias.
Dessa forma, para melhor compreender a doutrina político-filosófica de Maquiavel,
devemos relacionar os trabalhos e as perspectivas que se complementam para
formar uma visão original e nova dos problemas da política que marcarão os
tempos modernos.

Os contratualistas e o Estado moderno


A questão sobre a legitimidade e sobre os direitos e deveres dos governadores e
governados foi discutida por teóricos que ficaram conhecidos como contratualistas.
Na modernidade contemporânea, a partir de argumentos baseados em um suposto
acordo entre os membros do órgão político para constituir o estadocivil, os teóricos
do contrato social, como Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau
ofereceram uma doutrina que visava responder a tal questão. Vejamos seus
pensamentos filosóficos-políticos a seguir.

Thomas Hobbes (1588-1679) é considerado pioneiro ao claramente formular a tese


sobre o contrato social, que foi desenvolvida baseada no status civil e de autoridade
soberana. Assim, Hobbes era, como Hugo Grocio, um naturalista (corrente filosófica

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que defendia a natureza com o princípio único daquilo que é considerado como
real).

Segundo a corrente hobbesiana, no estado de natureza não há poder soberano,


e cada um dos homens e mulheres têm o direito a tudo que possa ser alcançado
por meio do uso de sua própria força (lei natural). Nesse estado, haveria guerra
potencial de todoscontratodos, na qual ninguém poderia esperar que seus bens
ou a própria pessoa estivesse em segurança. Assim, os homens se moveriam pelo
instinto de autopreservação e pelo medo da ameaça dos outros.

Curiosida de
Quais são as condições em que o soberano pode esperar que os
sujeitos obedeçam às leis ou aos mandatos legitimamente? Ou,
de outra forma: em que casos deve haver consentimento por parte
das pessoas ante ao governo e em quais casos é justo se rebelar?

Dessa forma, a longo prazo, seria insustentável a existência dos homens e, por
esse motivo, os indivíduos deveriam concordar em deixar o estado de natureza e
alcançar garantias mínimas de paz. Nasceria, assim, o contratosocial.

Como contratosocial, as partes delegariam poderes ao soberano, que seria


responsável por manter a lei e a ordem dentro de um novo estado civil. Logo,
o poder do monarca deveria ser absoluto a fim de garantir a instabilidade ou a
possibilidade de conflitos entre membros do corpo político, denominado por Hobbes
como o“Leviatã”. Hobbes não pensou que esse contrato social tinha sido dado
historicamente e que poderia ser datado de forma cronógica.

Ate nç ã o
A ideia consiste na justificativa do poder soberano baseado na
argumentação da passagem do estado da natureza para o estado
civil, ou seja, os sujeitos deveriam obedecer ao soberano, porque
ele seria responsável por assegurar a paz e a preservação de seus
bens.

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Assim, a alternativa ao governo civil seria o retorno à guerra e o terror do estado de
natureza, pois o homem, abandonado ao seu estado natural, tornando-se um perigo
para a humanidade.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) representa uma alternativa ao absolutismo


político de Hobbes. Rousseau contradiz a teoria de Hobbes, afirmando que o
homem, no estado de natureza,não é um lobo para o homem: mas despojado das
características da sociedade civil, sendo bom por natureza.

Para Rousseau, o que corrompe e aliena o homem é a propriedade privada e a vida


em sociedade, o qual, face à hipocrisia e às aparências, vive preso.

A visão política rousseauniana remonta ao fundamento da soberania política


no contexto do contratosocial. O homem natural não precisaria se associar
politicamente, mas, ante à falta de recursos, ele se sentiria obrigado a se associar.
Assim, segundo a doutrina desse pensador, o contrato social seria o acordo de
formar uma sociedade civil eestabelecer o instrumento da autoridade: o soberano.

Desse modo, para Rousseau, toda a dificuldade política consiste em estabelecer


a devida relação entre a vontade particular e a vontade geral. Ou seja, segundo
o contrato social e a Filosofia Política a ele subjacente, não haveria um melhor
esquema de leis, visto que o contrato constituiria a sociedade anterior ao governo e,
independentemente de alterações governamentais, ela seria mantida.

John Locke (1632-1704) é considerado o pai do Liberalismo (filosofia política


baseada em ideais de liberdade individual e igualitarismo), isto é, uma visão
contrária à Teologia. Locke questionava o que seria o poder político e, segundo
o seu pensamento, a sociedade política seria uma invenção e criação humana,
mas tal aparato artificial, uma vez que fosse criado, teria natureza própria, logo,
seria aplicável uma lei natural. Assim, a sociedade política somente persistiria
se o governo fosse constituído de uma única vez, visto que a sociedade política
necessitaria do governo.

Para Locke, não há liberdade onde não há lei, pois, na condição natural do homem,
não há lei pre estabelecida, e, na visão do pensador, para ser livre, os homens
deveriam ser legisladores.

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Sa iba ma is
Convém destacar que a obra Dois tratados sobre o governo,
de Locke, é de grande importância para o estudo da política.
Recomendamos a leitura!

No próximo e último, tópico, vamos explanar sobre alguns autores que marcam o
pensamento político contemporâneo.

Formação do pensamento político


contemporâneo
Compreender o surgimento do pensamento político e a formação do Estado
moderno pode nos ajudar a entender como conflitos entre Estado e Igreja seguem
motivando discórdias e estão presentes em temas da natureza humana, como, por
exemplo, o aborto.

Novas teorias surgiram para explicar assuntos contemporâneos, várias delas


retomando os clássicos, e dentre eles se destacam-se alguns pensadores
importantes que desenvolveram o pensamento político nosTempos Modernos.

Immanuel Kant (1724-1804) desenvolveu seu pensamento político, supostamente,


junto com suas propostas filosóficas em outros campos do conhecimento, que se
constituiu como uma verdadeira revolução teórica. De acordo com Kant, a única
Constituição política legítima seria a republicana, pois o sistema político deveria
ser representativo, ou seja, os governantes estariam sujeitos à vontade popular e,
portanto, deveriam prestar contas aos cidadãos. Além disso, não deveria haver a
concentração de poder em apenas uma mão, mas sim uma divisão nas funções
de poder, a fim de evitar abusos e despotismos.

Karl Marx (1818-1883) era discípulo da Filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel
e buscou, de maneira explícita, demonstrar que a realização da ordem de direito
é um subproduto necessário do conflito dialético, das cegas paixões egoístas no
processo da história.

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Sa iba ma is
Convém ressaltar que Karl Marx criou a dialética marxista, também
chamada de materialismo dialético, que recorre à dialética – a arte
do diálogo, poder de persuasão, convencimento da verdade por
meio de um discurso – para entender as lutas de classes sociais.

Para Marx, seu professor Hegel criticou o formalismo moral de Kant e sua abstração
vazia nas questões de política, pois, para esse último, Kant contrastava com uma
Filosofia da História em que o motivo se torna consciente de si mesmo, nunca de
maneira individual e unilateral, mas seguindo uma evolução coletiva de grandes
momentos e tempos.

Para Marx, Hegel era um visionário que defendia os interesses dos líderes do
Estado prussiano, camuflando-os sob a aparência de uma Filosofia altamente
especulativa. Em razão disso, Marx transformou a dialética hegeliana à realidade
material, modificando sua orientação e objetivos. Na teoria de Marx, os filósofos
se limitariam a interpretar o mundo, mas o que realmente deveria ser feito era
transformá-lo.

Para Friedrich Nietzsche (1844-1900), diferentemente da corrente doutrinária cristã,


não haveria nenhuma relação entre Estado e Deus. Nietzsche, além de criticar
a cultura e a religião, também criticou a relação do Estado com os sistemas de
educação. Segundo seu pensamento, o Estado é uma das maiores perversões
criadas pelo homem, pois, além de representar o abstrato, trataria os indivíduos de
modo indiscriminado, sendo esses nada mais que escravos. Dessa forma, deixando
o Estado de existir, surgiria o verdadeiro homem e não uma massa que identifica
os seus interesses com os interesses do Estado. Além disso, para o autor, a
política é possível se for orientada à reconstrução do povo e, para isso, haveria que
resgatá-lo do estado catastrófico no qual se encontraria pela ação do igualitarismo
democrático promovido pela modernidade, visto ser o povo essencialmente político.

Sa iba ma is
Leia mais sobre o utilitarista neste interessante artigo: www.
revistas.usp.br/discurso/article/view/89097

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Na história do pensamento das Ciências Políticas, a tomada de decisões na política
passou a ser pensada com base em critérios que justificassem tais escolhas e que
se pautassem na máxima utilidade das ações do homem para proporcionar
felicidade. Essa corrente de pensamento ficou conhecida como utilitarista.

No utilitarismo, as possíveis ações políticas são decididas com base no bem-estar


geral que elas pudessem produzir. O objetivo, o valor e o critério das ações devem
ser a maximização da felicidade para o maior número possível de pessoas. As
consequências previsíveis das ações se tornam a referência para determinar sua
qualidade. Outra característica fundamental do utilitarismo é que não poderia haver
diferenças de valores arbitrários entre os indivíduos, negando-se, assim, privilégios
sociais.

O filósofo jurista Jeremy Bentham(1748-1832) é considerado uma referência, além


de ser o fundador do utilitarismo. Ele defende a opinião de que um ato é justo ou
injusto dependendo de suas consequências, ou seja, se essas são boas ou más.
Outro expoente da corrente utilitarista foi John Stuart Mill (1806-1873). Contudo,
Mill ponderou que as questões de valor normativo não poderiam ser reduzidas
a meros cálculos de utilidade e, dessa forma, considerou que a teoria utilitarista
precisava ser corrigida.

Curiosida de
De acordo com Mill, existiriam valores, como liberdade ou
tolerância, que deveriam ser protegidos, e o utilitarismo teria
que ser combinado com uma série de regras para garantir que
as decisões éticas ou políticas não fossem reduzidas a meros
cálculos de utilidade que não levassem em consideração os
direitos individuais.

Mesmo que a corrente utilitarista seja bastante atual, podemos perceber que
algumas ideias políticas defendidas por pensadores como Platão ou Hegel a
influenciaram. Essa presença também aparece em outros autores que formaram o
pensamento político na contemporaneidade.

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Conclusão
Conhecer as diversas ideologias que influenciaram a formação dos Estados
modernos é de fundamental importância, pois a partir do passado podemos refletir
sobre os erros cometidos e agirmos para a melhoria não somente do Estado que
vivemos mas, também, para a melhoria da sociedade em que vivemos.

Desta forma, ao ter estudado este conteúdo, poderá ser possível compreender o
contexto de como os Estados se relacionam entre sí e os motivos que levam cada
um a agir como agem nas relações internacionais. Lembramos que é necessário o
apronfundamento por meios dos textos complementares que foram aqui sugeridos.

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Referências
BENTHAM, Jeremy. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

HEGEL, G. W. F. A fenomenologia do espírito. Tradução de P. Meneses. Petrópolis,


RJ: Vozes, 1999.

HOBBES, T. Leviatã. Tradução: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva.
São Paulo: Martins Fontes, 2003.

KANT, E. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Tradução de Guido Antônio


de Almeida. São Paulo: Barcarolla, 2009.

LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo civil. São Paulo, Martins Fontes, 2001.

MAQUIAVEL, N. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Tradução MF.


São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Maria Lucia Cumo. Rio de Janeiro:


Editora Paz e Terra, 1996.

MARX, Karl. O Capital. Vol. 2. 3ª edição, São Paulo, Nova Cultural, 1988.

MILL, John Stuart. Utilitarismo: Introdução, tradução e notas de Pedro Galvão.


Porto. Porto Editora, 2005.

NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral. Tradução de Paulo César de Souza . São Paulo:


Companhia das Letras, 2009.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Tradução de Lourdes Santos


Machado. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

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Diferenças entre
Estado e Governo
Fernandes, R.;
SST Diferenças entre Estado e Governo / Raquel Fernandes
Ano: 2020
nº de p.: 9 páginas

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Dife re nç a s e ntre Esta do e G o ve rno

Apresentação
Nesta Unidade, iremos entender a diferença entre Estado e governo. Estado é o
conjunto de instituições sociais que constituem a organização política de um povo;
é o controle social da sociedade. Já governo é o conjunto de pessoas que exercem
o Poder Executivo (que veremos ainda nesta unidade) de um Estado e é exercido
por meio de formas e sistemas, como monarquia e república; presidencialismo,
parlamentarismo e semi-presidencialismo. Assim, podemos entender que o governo
é o grupo de pessoas que representa o Estado.

Estado
Segundo Dalmo de Abreu Dallari (2005), o Estado é uma sociedade politicamente
organizada, com regras de convivência de seus membros, dotado de autoridade
superior. A origem deste Estado deu-se através da formação originária (natural ou
contratual), a partir de um agrupamento humano não integrado a um determinado
Estado; ou, através da formação derivada, nascendo a partir de Estados
preexistentes (fracionamento ou união).

Elementos Constitutivos do Estado


• Povo: vínculo jurídico com o Estado, onde se diferencia da população, que é
um conjunto numérico que vivem ou estão no território temporariamente.
• Território: espaço fisico dotado de soberania.
• Soberania: una, indivisível, inalienável e imprescritível.

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O Estado brasileiro é dotado de povo, território e soberania

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Formas de Estado

União de regiões autonomas entre si. Ex: Brasil e


Federação
EUA. Podem ter mais ou menos autonomia interna.

União de Estados soberanos, onde conservam a sua


Confederação
soberania interna.

Caracteriza-se pela união precária em função de um


União pessoal
governo comum.

Ocorre quando os Estados distintos na sua


União real organização interna apresentam-se sob uma
mesma unidade nas relações internacionais.

Possui um único centro dotado de capacidade


Estado Unitário
legislativa, administrativa, política.

Governo
O governo é a esfera máxima de um Estado ou nação, onde atuará em nome do
povo através da máquina administrativa ou da administração pública.

Formas de governo
Maquiavel, em sua obra “O Príncipe”, traz duas formas de governo, sendo elas a
monarquia e a república, pois, para ele, o governo poderia ser exercido por uma só

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pessoa ou por muitas. Assim, a natureza da vontade, na monarquia, é individual e,
na república, é coletiva.

Governos monárquicos caracterizaram o Estado Moderno. Escritores políticos


do século XV ao XVIII enalteciam a superioridade da monarquia, e o sucesso das
monarquias europeias representava evolução.

Na contramão, estava os EUA que, no final do século XVIII, adotaram a república


como forma de governo. O movimento que levou à independência das 13 colônias
inglesas da América do Norte trouxe a ideia de repúdio à monarquia e que essa
forma de governo estava ultrapassada.

A monarquia foi perdendo força e, com o fim da Primeira Guerra Mundial, aumentou
o desaparecimento das monarquias, que foram substituídas por governos
republicanos. Após a Segunda Guerra Mundial, esse processo ficou ainda mais
evidente com as independências das colônias europeias na Ásia e na África.

As monarquias, ainda existentes nos dias de hoje, são constituídas de traços de


governo misto, ou seja, um pouco de monarquia e um pouco de república. Nesse
caso, os parlamentos desempenham papel cada vez mais significativo, reduzindo o
papel do monarca.

Assim, as formas de governo podem ser as clássicas, descritas monarquia,


aristocracia e democracia (essas são as legítimas), além das ilegítimas, como
tirania, oligarquia e demagogia.

Tipos de regime de governo


É o modo como se relacionam governantes, poder e governados. São eles:
democráticos, autoritários e totalitários.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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Sistema de governo: presidencialismo e
parlamentarismo
União entre as formas de sistema do governo

Fo rm a de g o ve rno Siste m a de G o ve rno


Monarquia: rei ou a rainha Parlamentarista: 1º Ministro
Parlamentarista:
Chefe de Estado (representa o Estado):
Presidente da República
Chefe de governo (dita a politica interna): Iº
República Ministro
Presidencialista
Chefe de Estado e Chefe de Governo: Presidente
da República

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Na República há eleições periódicas

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

O sistema partamentarista naceu na Inglaterra, no século XIII, através da criação do


Partamento pela Magna Carta, sendo oficializada suas reuniões pelo Rei Eduardo I,
em 1295.

O Parlamento comanda a politica interna do País, o qual poderá eleger o seu 1º


Ministro ou o povo poderá elegê-lo, dependerá de como foi constituído. No sistema
presidencialista, há a figura de um Presidente da República que irá comandar a
parte política do país.

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No Brasil, adotamos a República Presidencialista, onde o(a) Presidente da República
exerce as funções de chefe de Estado e chefe de governo. Enquanto chefe de
governo, o(a) Presidente da República traça as linhas de ações a serem seguidas
pelos órgãos do país e, com isso, participa diretamente da administração do Estado.
Além disso, desempenha papel político, no sentido de aproximar-se do Poder
Legislativo e buscar consenso para a execução de um bom governo.

Enquanto chefe de Estado, o(a) presidente simboliza a unidade nacional, é o


representante máximo do país, da nação, perante o mundo.

O(A) Presidente da República conta com a colaboração de um grupo de auxiliares.


Isso acontece devido à complexidade e quantidade de trabalhos que ele tem. Esse
grupo é integrado por ministros de Estado e pelos diretores de órgãos estatais, que
são nomeados livremente pelo(a) Presidente da República.

Quando ouvimos que nosso país tem ministro da saúde, ministro da educação etc.,
estão sendo referenciados os ministros de que falamos anteriormente. Pense que
seria humanamente impossível para o(a) Presidente saber tudo o que se passa no
Brasil e trabalhar sozinho em todos os setores, como saúde, educação, transporte
etc., pois não podemos nos esquecer de que o nosso país é extenso territorialmente
e repleto de diferenças econômicas e culturais. Dessa forma, é primordial que o(a)
Presidente tenha pessoas de confiança que possam auxiliá-lo nos trabalhos.

Nessa esteira, percebe-se que foram eliminados os princípios da hereditariedade e


da vitaliciedade, marcas da monarquia, ou seja, o poder não é mais passado de uma
pessoa para outra por motivos de parentesco e também não é mais vitalício.

Assim, o(a) Presidente da República é escolhido em eleições periódicas que tem a


participação de todos os cidadãos através do voto popular com exceções à idade
e à nacionalidade. A eleição é direta, ou seja, o candidato é escolhido diretamente
pelo povo, e não por um colegiado ou assembleia.

Também apresentamos que os Poderes Legislativo e Executivo não interferem um


no outro. Entretanto, há a possibilidade de que o(a) Presidente participe de processo
legislativo através da apresentação de projetos de lei de assuntos que ele(ela) julgar
relevantes. Além disso, a ele(ela) também compete sancionar ou vetar projetos
de lei submetidos à sanção presidencial, ou seja, ele(ela) pode aprovar ou não um
projeto de lei. Isso não significa que o veto do(a) Presidente é absoluto.

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Diferenças entre Estado e Governo
O Estado é toda a sociedade política, incluindo o governo. O governo é
principalmente identificado pelo grupo político que está no comando de um Estado.
O Estado possui as funções executiva, legislativa e judiciária. O governo, dentro
da função executiva, ocupa-se em gerir os interesses sociais e econômicos da
sociedade, e de acordo com sua orientação ideológica, estabelece níveis maiores ou
menores de intervenção (ROCHA, 2009, p. 140).

O governo não é o Poder Executivo, mas, sim, é composto deste, já que é o


responsável pela direção política do Estado.

Fechamento
Nessa Unidade, estudamos o Estado e o Governo, suas diferenças. Já o Estado
inclui o governo, o qual deverá ser soberano para comandar o povo dentro do
seu território. O governo é o condutor das atividades políticas do Estado, que são
realizadas pelo Poder Executivo. Tanto o Estado como o governo são dotados de
cacteristicas, elementos e formas.

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Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 10 out 2020.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 25.ed. São Paulo:
Saraiva, 2005.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Trad. Antonio Caruccio-Caporale. São Paulo:


L&PM, 2011.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 36.ed. São Paulo: Atlas, 2020.

ROCHA, Manoel Ilson Cordeiro. Estado e governo: diferença conceitual e implicações


práticas na pós-modernidade. Revista Uniara, n.21/22, 2008/2009, p. 140/145.

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Repartição da
competência
do Estado
Oliveira, Julio
SST Repartição da competência do Estado / Julio Oliveira
Local: 2020
nº de p. : 12

Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.


Re pa rtiç ã o da
c o mpe tê nc ia do Esta do

Apresentação
A Federação ou Estado Federal designa uma forma de Estado, um modo de
organização territorial e de poder. O que caracteriza o Estado federado é o fato de
ser composto por diversas entidades territoriais autônomas, em maior ou menor
medida de pender do Estado nacional, que possui governo próprio.

O Brasil é um estado federado, composto pela União, estados e municípios, cada


qual com suas competências e governos locais. A existência de vários entes
federados importa na repartição de competências entre eles, que traz diversos
benefícios de ordem prática, como a descentralidade da organização e maior
preservação das identidades e necessidades locais. Vamos conhecer agora um
pouco sobre a repartição de competências.

Repartição da competência
Agra (2014) atribui à repartição de competência a principal característica da forma
federativa de Estado, pois desempenha missão sensível para o federalismo, que é
evitar atritos entre os entes federados.

Definir quais matérias devem ficar a cargo da competência dos entes federativos não
é trabalho fácil.

Os limites da repartição regional e local de poderes dependem da


natureza e do tipo histórico de federação. Numas a descentralização é
mais acentuada, dando-se aos Estados federados competências amplas,
como nos Estados Unidos. Noutras a área de competência da União é mais
dilatada, restando limitado campo de atuação aos Estados-membros,
como tem sido no Brasil, onde a existência de competências exclusivas
dos Municípios comprime ainda mais a área estadual. A Constituição
de 1988 estruturou um sistema que combina competências exclusivas,
privativas e principiológicas com competências comuns e concorrentes,
buscando reconstruir o sistema federativo segundo critérios de equilíbrio
ditados pela experiência histórica. (SILVA, 2013)

3
Segundo Tavares (2017), o modelo de repartição de competência, que teve origem na
Constituição dos Estados Unidos da América de 1787, consistia na enumeração de
poderes na figura do Governo Central, reservando-se aos Estados parciais poderes
não enumerados.

Na atualidade, a repartição de competência é um verdadeiro desafio, pois é


tarefa árdua equacionar a distribuição de competências federativas nos Estados
contemporâneos, marcados por uma sociedade plural.

Observe-se que, por mais minuciosa que tenha sido a Carta de 1988, ainda
existem conflitos entre os componentes da Federação, oriundos da defesa de suas
autonomias.

O princípio da predominância do
interesse
O princípio geral que norteia a repartição de competência entre as
entidades componentes do Estado federal é o da predominância do
interesse, segundo o qual à União caberão aquelas matérias e questões
de predominante interesse geral, nacional, ao passo que aos Estados
tocarão as matérias e assuntos de predominante interesse regional,
e aos Municípios concernem os assuntos de interesse local, tendo a
Constituição vigente desprezado o velho conceito do peculiar interesse
local que não lograra conceituação satisfatória em um século de vigência.
(SILVA, 2013)

Acrescenta-se ao magistério de Silva a competência do Distrito Federal, que é de


interesse geral e local.

Ocorre que, conforme observa Bulos (2015), “tal princípio não resolve todas
as situações que lhe são colocadas, em razão da dificuldade ou mesmo da
impossibilidade de se determinar, em algumas hipóteses, qual é o interesse
predominante, como os problemas relacionados à Amazônia, ao polígono da seca e
ao Vale do São Francisco.”

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A repartição de competências e o dilema do interesse predominante

Fonte: Deduca (2020)

Técnicas de repartição
São técnicas tradicionais de repartição de competência previstas nas constituições,
segundo Silva (2013): enumeração dos poderes da União, reservando-se aos Estados
os poderes remanescentes (EUA e Argentina); atribuição dos poderes enumerados
aos Estados e dos remanescentes à União (Canadá); enumeração das competências
das entidades federativas (Índia e Venezuela).

Ocorre que as técnicas tradicionais deixaram de atender à evolução e à


complexidade do federalismo, bem como não respondiam de forma adequada à
ampliação das tarefas do Estado contemporâneo.

Assim, surgiram outras técnicas de repartição de competências com o objetivo de


compatibilizar a autonomia dos entes com a reserva de campos específicos de
competência, sejam exclusivas, sejam privativas com possibilidade de delegação;
áreas comuns nas quais se possibilita a atuação paralela e áreas concorrentes,
nas quais à União compete as atribuições de ordem geral enquanto aos Estados se
assegura a competência suplementar (SILVA, 2013).

5
A repartição de competências, pela ótica constitucional,
visa o equilíbrio das relações entre os entes federativos

Fonte: Deduca (2020)

Bulos identifica, de forma muito didática, as técnicas de repartição das


competências federativas na Carta Magna de 1988:

1. técnica dos poderes enumerados – aplicada à União (arts. 21 e 22) e aos Mu-
nicípios (art. 30);
2. técnica dos poderes remanescentes – aplicada aos Estados (art. 25, § 1º);
3. técnica da reserva especial de competência – aplicada ao Distrito Federal (art.
32, § 1º);
4. técnica da delegação legislativa – lei complementar federal pode autorizar os
Estados a legislar sobre assuntos correlatos à competência privativa da União
(art. 22, parágrafo único);
5. técnica da atuação administrativa paralela – aplicada, simultaneamente, a to-
dos os entes federativos (art. 23);
6. técnica da atuação legislativa concorrente – aplicada à União, aos Estados e
ao Distrito Federal (art. 24);
7. técnica na atuação exclusiva – aplicada ao Município (art. 30, I);
8. técnica da atuação suplementar – aplicada ao Município (art. 30, II); e
9. técnica da atuação residual – aplicada à União (arts. 145 a 162). (BULOS,
2015)

6
Se você levar em consideração o princípio da predominância do interesse e as
técnicas de repartição de competências aqui citadas, podemos afirmar que a Lei
Maior de 1998 dividiu a competência em dois grandes grupos (Bulos, 2015):

Repartição de competências

ENUMERADA
EXCLUSIVA
REMANESCENTE
COMPETÊNCIA COMUM

ADMINISTRATIVA DECORRENTE

ORIGINÁRIA

PRIVATIVA

CONCORRENTE

SUPLEMENTAR

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA RESIDUAL

DELEGADA

ORIGINÁRIA
Fonte: Bulos (2015)

Antes de adentrar em cada uma dessas classificações, é importante distinguir


competência administrativa de competência legislativa. Esta última diz respeito ao
poder de edição de atos normativos primários, ou seja, que criam direito sobre uma
respectiva matéria. Já a competência material se refere ao desempenho e execução
de tarefas previstas no ordenamento jurídico, para fins de satisfação do interesse
público.

Feita tal distinção, vamos prosseguir com as divisões citadas no Quadro.

Ate nç ã o

Competência administrativa exclusiva – é aquela que só pode


ser exercida pelo ente federado especificado na Constituição. Não
pode ser delegada. Por essa razão, o seu exercício se dá de modo
a excluir o campo de atuação dos demais entes. Exemplo: art. 21
da CF.

7
A competência administrativa exclusiva pode ser enumerada ou remanescente. Por
enumerada entende-se que são aquelas que vêm taxativas na Constituição. Já as
remanescentes são as que sobram após a enumeração das competências de um
dos entes. O art. 21 da CF é um exemplo de competência administrativa exclusiva
numerada. Por sua vez, o art. 25, §1º, é exemplo de competência administrativa
exclusiva remanescente.

Ate nç ã o

Sabe-se que muitas competências administrativas existem


em virtude da previsão legal de competências legislativas que
com elas guardem pertinência. Na omissão de designação pela
Constituição Federal de competências administrativas para o
Distrito Federal, seria possível, em casos excepcionais, aplicar
as regras de competência legislativa do Distrito Federal que se
encontram efetivamente previstas na Carta Magna para solucionar
algum problema decorrente da omissão apontada?

• Competência administrativa comum – é exercida por todos os entes da Fe-


deração de modo a atender aos objetivos e a cumprir as tarefas que lhes são
comuns. O art. 23 da CF/88 é exemplo dessa competência.

Agra (2014) ainda estabelece uma subdivisão dessa competência em cumulativa ou


paralela: na cumulativa, a competência é exercida sem qualquer coordenação entre
os entes federados; diferentemente da paralela, em que há uma cooperação para
se otimizar o cumprimento das tarefas e o alcance dos objetos que são comuns a
todos os entes.

Compe tê nc ia a dministra tiva de c orre nte

é aquela que se encontra implícita na Constituição Federal, como, por


exemplo, a do Supremo Tribunal Federal de fiscalizar a constitucionalidade
de emendas constitucionais que vão de encontro às cláusulas pétreas da
Constituição.

8
Fonte: Deduca (2020)

Compe tê nc ia a dministra tiva orig iná ria

é aquela que desde o início é estabelecida em favor de ente da Federação. O


art. 30 da Constituição Federal é exemplo dessa competência.

Fonte: Deduca (2020)

9
A Constituição de 1988 também prevê as chamadas competências legislativas.

• Competência legislativa privativa – é aquele que, embora seu exercício esteja


previsto para um determinado ente, pode ser delegada para outro, como pode
ser observado, por exemplo, do parágrafo único do art. 22 da CF/88.
• Competência legislativa concorrente – é aquela em que mais de um ente
da Federação, a partir de prerrogativas que lhes são próprias, legislam sobre
uma mesma matéria. O art. 24 da Constituição de 1988 é um exemplo dessa
competência.

Sobre o modelo de competência concorrente brasileiro, é importante destacar:

O modelo de competência concorrente adotado no Brasil se refere a


uma atribuição legislativa vertical, em que a União legisla sobre normas
gerais e os Estados se incumbem da legislação específica. Esse tipo de
competência reflete um federalismo de feição simbiótica, em que os
órgãos componentes somam esforços para alcançar uma finalidade
comum.

De importância salutar é a definição do que venha a ser uma norma geral,


porque isso imporá um limite para a competência legislativa dos Estados-
membros. Uma primeira característica deste tipo de norma reside na sua
extensão, que abrange a totalidade do Estado nacional, configurando-se
em uma norma de âmbito nacional, enquanto a norma específica tem como
extensão o território de um Estado-membro. A segunda característica é
que a norma geral não pode ser exaustiva, tolhendo todos os espaços
referentes à incidência da norma específica. Deve ser deixada uma zona
para a atuação das normas específicas, para que elas possam se adequar
às peculiaridades regionais. (AGRA, 2014)

Ate nç ã o

Mais uma vez se reafirma, tal como explicitado no tópico anterior,


que o alcance da repartição de competências propostas pela
Constituição de 1988 vem promover relações de coordenação
e cooperação entre entes federativos, de modo a harmonizar a
pluralidade de regimes jurídicos encontrados no Brasil.

10
• Competência legislativa suplementar – ocorre quando os Estados e o Distri-
to Federal, para suprir lacunas legislativas, adicionam, esclarecem e aperfei-
çoam matérias de interesse regional, conforme pode ser observado no §2º do
art. 24 da Carta Magna de 1988.

A competência suplementar ainda pode ser dividida em complementar e supletiva.


Diz-se complementar quando os Estados-membros ou o Distrito Federal editam
normas para especificar a legislação da União. Pode se dizer que na competência
complementar há uma adequação legislativa da legislação nacional às
peculiaridades regionais.

Já a supletiva ocorre quando os Estados produzem normas de caráter geral ou


específico em decorrência da omissão legislativa da União.

• Competência legislativa residual – é a que permite aos Estados-membros


legislarem sobre temas não defesos ou que não tenham sido enumerados na
Constituição. Exemplo dessa competência é o art. 154, I, da CF/88.

Importa destacar que de acordo com Agra (2014) “o exercício da competência


residual pelos Estados-membros requer a existência de interesse regional, ex vi do
art. 25, §1º, da CF.”

• Competência legislativa delegada – é aquela transferível de um ente da Fe-


deração para outro, como previsto, por exemplo, no parágrafo único do art. 22
do Texto Maior.
• Competência legislativa originária – trata-se da competência criada inicial-
mente para determinado ente federativo.

Fechamento
Estudamos um pouco mais sobre a organização dos Estados federados. Foi possível
identificar a importância da divisão das competências e os vários modos de como
se dão. Como visto, apesar da Federação ser uma forma de organização de muitos
Estados, nem sempre têm a mesma configuração.

Nesse estudo, foi abordado também qual o critério para a distribuição de


competências: o princípio da predominância do interesse. Por fim, analisou-se as
diversas técnicas de distribuição de competências, na qual foi possível observar a
possibilidade dessa distribuição em diversos âmbitos e diferentes formas.

11
Referências
AGRA, W. de M. Curso de direito constitucional. 8. ed. Rio de Janeiro:Forense, 2014

BULOS, U. L. Curso de direito constitucional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 37. ed. São Paulo: Malheiros,
2013.

TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

12
Princípios
do direito
administrativo
Bellan, Rosana
SST Princípios do direito administrativo / Rosana Bellan
Local: 2020
nº de p. : 15

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Princ ípios do dire ito
a dministra tivo

Apresentação
Os princípios do Direito Administrativo podem ser entendidos como orientações
que embasam este ramo do Direito. São linhas mestras que orientam as atividades
da Administração Pública. Tais princípios podem estar explícitos em uma norma ou
virem implícitos, como objeto de interpretação.

Para iniciar nossa análise dos princípios, trataremos daqueles que estão previstos
expressamente no art. 37 da Constituição Federal de 1988.

do art. 37 da Constituição Federal de 1988, a Administração Pública deverá observar,


além de outros preceitos, aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência.

A Constituição Federal de 1988 é a lei maior do sistema jurídico brasileiro. Assim,


saiba que todas as demais normas e princípios devem observar os preceitos
estabelecidos na Constituição.

Passemos a analisar cada um deles.

Princípios da legalidade,
impessoalidade e moralidade

Princípio da legalidade
Pelo princípio da legalidade, o administrador público somente deve agir dentro dos
limites determinados pela lei. Segundo ensina Di Pietro (2015), “a Administração só
pode fazer o que a lei permite”.

É diferente do que ocorre nas relações privadas, em que vigora o princípio da


autonomia da vontade, segundo o qual é permitido fazer tudo o que a lei não proíbe.
De fato, o art. 5º, inciso II, da Constituição Federal, define como direito fundamental
do cidadão que “[...] ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei” (BRASIL, 1988).

3
Da obra de Meirelles (2015), extraímos que “[...] na Administração Pública não há
liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer
tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei
autoriza”.

Veja que, enquanto para a Administração Pública vigora o princípio da legalidade,


para os particulares vigora a autonomia da vontade.

O princípio da legalidade constitui importante garantia para que os administrados


tenham seus direitos respeitados, pois qualquer ato decorrente da Administração
só será válido se amparado em lei. Em outras palavras, a Administração Pública
somente poderá agir se e quando a lei determinar ou autorizar.

Ate nç ã o
Se ao administrador só é admitido fazer o que a lei permite, como
podemos assistir diariamente notícias de escândalos nacionais
relatando o descumprimento das leis pelos nossos representantes?
Por que diariamente assistimos a reiterados atos de desrespeito à
Constituição Federal e por conseguinte aos direitos dos cidadãos?

Princípio da impessoalidade
Sobre o princípio da impessoalidade, destaca-se que as ações do administrador
público devem ser impessoais, ou seja, ele não pode agir de forma a favorecer
interesse próprio ou de terceiros. Pelo contrário, deve buscar sempre o interesse
da coletividade envolvido em determinado ato. Fala-se também em princípio da
finalidade, pois a finalidade dos atos praticados na Administração deve ser sempre
pública e não particular.

Este princípio está intimamente ligado com o princípio da indisponibilidade do


interesse público, segundo o qual o administrador não pode dispor dos bens e
valores públicos, já que não são dele, mas de toda a sociedade.

Com relação ao sentido de igualdade, podemos destacar que:

[...] nele se traduz a ideia de que Administração tem que tratar a todos
os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem

4
favoritismo nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades
pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação
administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou grupos
de qualquer espécie.

Um dos exemplos do princípio da impessoalidade na CRFB/88 é o ingresso


em cargo, emprego ou função pública, depender de concurso público (art.
37 II), onde se dará igualdade de participação a todos os interessados que
preencham determinados requisitos estabelecidos no edital do certame.
(MELLO, 2015)

Com fundamento neste princípio, o art. 37, §1°, da Constituição Federal de 1988,
proíbe que autoridades, partidos ou agentes públicos se promovam às custas das
realizações da Administração Pública, utilizando-se da propaganda oficial, por
exemplo, como forma de angariar popularidade. Observe o texto da Constituição
Federal:

Art. 37 […]

§ 1° A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos


órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação
social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
(BRASIL, 1988).

Ate nç ã o
Apesar de ser um princípio previsto na Constituição como
obrigatório, você talvez já tenha observado políticos usando
dinheiro público para fazer propaganda de seu governo com o
intuito de se promover e angariar votos para a próxima eleição.
Reflita sobre isso e fique mais atento a esta prática. Você pode
denunciar o uso de dinheiro público em promoção pessoal.

5
Princípio da moralidade
Pelo princípio da moralidade, o administrador público deve agir com honestidade, e
pautado pela ética e pelos bons costumes.

Para Di Pietro (2015), trata-se de um princípio que deve ser observado não apenas
pelo administrador, mas também pelo particular quando se relaciona com a
Administração Pública, pois, como lembra a autora, é frequente, em licitação, o
conluio entre licitantes. O conluio em licitação configura violação ao princípio da
moralidade pelo particular.

O princípio da moralidade ensina que:

[…] a Administração haverá de proceder em relação aos administrados


com sinceridade e lhaneza, sendo-lhe interdito qualquer comportamento
astucioso, eivado de malícia, produzido de maneira a confundir, dificultar
ou minimizar o exercício de direitos por parte dos cidadãos. (MELLO, 2015)

Agir com desonestidade pode configurar ato de improbidade administrativa, previsto


no art. 11 da Lei nº 8.429/1992, sujeitando o administrador a sanções previstas na
Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992), como a perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos e pagamento de multa
civil.

Princípios da publicidade, eficiência e


da razoabilidade e proporcionalidade

Princípio da publicidade
O princípio da publicidade determina que os atos da administração devem ser
públicos, sendo que todo cidadão tem o direito de ter acesso a tais atos. Neste caso,
estamos diante da exigência de transparência da atuação administrativa, importante
para que seja possível um maior controle por parte da população sobre as ações de
seus governantes.,

[...] não se pode falar em Estado Democrático de Direito, segundo o qual o


poder reside no povo, se os administrados forem privados de ter acesso

6
aos assuntos que a todos interessam, e muito menos em relação aos
sujeitos individualmente afetados por alguma medida. (MELLO, 2015)

A Constituição Federal traz vários dispositivos em que podemos visualizar a


aplicação do princípio da publicidade. Podemos citar, por exemplo, o direito de obter
informações e o direito de obtenção de certidões, previsto no art. 5º, inciso XXXIII e
XXXIV, respectivamente. Observe:

Art. 5° [...]

– todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu


interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
(Regulamento)

– são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra


ilegalidade ou abuso de poder;

a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e


esclarecimento de situações de interesse pessoal. (BRASIL, 1988).

Atendendo a esta faceta do princípio da publicidade, no ano de 2011 foi aprovada


a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, conhecida como Lei de Acesso à
Informação ou Lei da Transparência, a qual dispõe sobre os procedimentos a serem
observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir
o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do
art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal.

Ate nç ã o
Note que todas as esferas da Federação (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios) sujeitam-se aos preceitos da nova lei. Trata-
se, portanto, de uma Lei de normas gerais, de caráter nacional, que
obriga todos os entes federados.

7
Podemos afirmar, com certeza, que esta lei é fundamental para garantir o acesso à
informação e efetivar a democracia em nosso país.

Outro lado deste princípio é a necessidade de que alguns atos administrativos


possuem de serem publicados oficialmente para produzirem efeitos no mundo
jurídico. Alguns atos somente produzem efeitos perante as pessoas envolvidas e os
terceiros ao serem publicados em meio de divulgação oficial.

Existem atos, no entanto, que não devem ser publicados. Isso acontece quando é
necessária a defesa da intimidade das pessoas, no caso de proteção da segurança
da sociedade e do Estado (art. 5º, incisos LX e XXXIII da Constituição Federal).

Princípio da eficiência
O princípio da eficiência foi introduzido na Constituição Federal de 1988, dez
anos após o nascimento da Constituição – em 1998, com a chamada reforma
administrativa. O objetivo inicial de introdução deste princípio, pela Emenda
Constitucional 19/1998, no “caput”, do art. 37 da Constituição Federal, foi trazer para
a Administração Pública métodos de gestão já utilizados nas empresas privadas,
as quais buscam sempre a produtividade, qualidade na prestação de serviços e
maximização de resultados.

Por este princípio, o administrador público em sua atividade administrativa deve


atender às necessidades da população, utilizando-se dos recursos humanos,
materiais, técnicos de forma eficiente. O objetivo é atingir mais resultados com
menos gastos possíveis para o atingimento pleno dos resultados almejados.

Para Di Pietro (2015), o princípio da eficiência pode ser visto sob dois
pontos de vista. Em um primeiro aspecto a ser considerado é “[...] em
relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o
melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores
resultados”.

De acordo com o mesmo autor, um segundo aspecto a ser considerado é “[...]


em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública,
também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do
serviço público”.

Note que este princípio busca aferir mais resultados com menos dispêndios. Por
este motivo, pode ser chamado de princípio da proibição de excesso, que significa

8
aferir a compatibilidade entre os meios e os fins, de modo a evitar atuações
desnecessárias ou abusivas por parte da Administração Pública.

Princípios da razoabilidade e proporcionalidade

São princípios implícitos da Constituição. Apesar de alguns autores diferenciá-los,


em linhas gerais, eles possuem um mesmo sentido.

O princípio da razoabilidade exige do administrador proporcionalidade entre os


meios que se utiliza para alcançar determinada finalidade. O princípio do ato
praticado pela Administração deve ser proporcional ao objetivo a ser buscado.

Como você pode perceber, razoabilidade envolve a proporcionalidade e vice-versa. É


importante lembrar que tais princípios devem sempre respeito à legalidade, uma vez
que, como já vimos, o administrador somente pode fazer o que está autorizado em
lei.

Ate nç ã o
De Mello (2015) entende que os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade não se confundem. Para ele, o princípio da
razoabilidade exige da Administração uma atuação dentro de
critérios aceitáveis do ponto de vista racional, em sintonia com o
senso normal de pessoas equilibradas, respeitadas as finalidades
de competência outorgadas.

Já a proporcionalidade significa que o administrador deve utilizar-se dos meios


indispensáveis para a satisfação do interesse público pretendido.

Sobremodo quando a Administração restringe situação jurídica dos


administrados além do que caberia, por imprimir às medidas tomadas
uma intensidade ou extensão supérfluas, prescindendas (sic), ressalta
a ilegalidade de sua conduta. É que ninguém deve estar obrigado a
suportar constrições em sua liberdade ou propriedade que não sejam
indispensáveis à satisfação do interesse público. (MELLO, 2015)

Como conclusão, podemos afirmar que o princípio da proporcionalidade é um


desdobramento do princípio da razoabilidade, já que a razoabilidade impõe
proporcionalidade entre os meios utilizados e o fim almejado para determinado ato
administrativo.

9
Princípios da segurança jurídica, da
motivação e do contraditório e ampla
defesa

Princípio da Segurança Jurídica


O princípio da segurança jurídica tem por finalidade garantir maior segurança
aos cidadãos. Com fundamento neste princípio, entende-se que os cidadãos não
podem ser prejudicados pela vontade do administrador e por novas interpretações
a qualquer tempo. Um bom exemplo é a regra da prescrição administrativa, que
impede a Administração de agir em prejuízo do administrador após o transcurso de
determinado prazo legal.

Ate nç ã o
O art. 54 da Lei nº 9.784/1999 tem como fundamento este
princípio, ao proibir que a Administração anule atos já benéficos
aos administrados praticados há mais de cinco anos. Observe o
texto da lei:

“Art. 54. O direito da Administração de anular os atos


administrativos de que decorram efeitos favoráveis
para os destinatários decai em cinco anos, contados
da data em que foram praticados, salvo comprovada
má-fé” (BRASIL, 1999, grifo nosso).

Ao tratar do princípio da segurança jurídica, também podemos


observar que:

O princípio se justifica pelo fato de ser comum, na esfera


administrativa, haver mudança de interpretação de determinadas
normas legais, com a consequente mudança de orientação,
em caráter normativo, afetando situações já reconhecidas e
consolidadas na vigência de orientação anterior. (DI PIETRO, 2015)

10
Veja que o objetivo deste princípio é sempre proteger o cidadão contra novos atos
praticados pelo administrador.

Mas, fique atento, porque a segurança jurídica não ampara atos ilegais. Caso a
Administração tenha praticado atos ilegais, ela pode anulá-los dentro do prazo
previsto em lei, que em regra é de cinco anos, conforme previsto no art. 54 da Lei nº
9.784, acima descrito.

Princípio da motivação
O princípio da motivação exige que a prática dos atos administrativos esteja
acompanhada da devida justificação.

Para Di Pietro (2015), este princípio significa que a Administração deve indicar “[...]
os fundamentos de fato e de direito de suas decisões”. Segundo a autora, “[...] a sua
obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque trata de formalidade
necessária para permitir o controle de legalidade dos atos administrativos”.

Corroborando este entendimento, o art. 50 da Lei nº 9.784 enumera várias situações


em que há a exigência de motivação dos atos administrativos.

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação


dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

– neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

– imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

– decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

– dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório; V –


decidam recursos administrativos;

– decorram de reexame de ofício;

– deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem


de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

– importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato


administrativo. (BRASIL, 1999).

11
Pela análise da lei e das considerações trazidas pela autora Di Pietro, podemos
concluir que todas as decisões administrativas devem ser motivadas. De fato, os
incisos do art. 50 não diferenciam uns ou outros atos, de modo que todos os que se
encontrarem nas situações elencadas devem obrigatoriamente trazer os argumentos
que levaram a uma ou outra decisão.

Observe também que praticamente todo ato administrativo está abrangido pelo
dispositivo citado acima. Analisando-se somente o inciso I você pode constatar que
a maioria absoluta dos atos já está aí abrangida, pois qual ato administrativo não
nega, limita ou afeta algum direito ou interesse?

Sobre o momento para se expressar a motivação, deverá ser feita antes ou no


momento da expedição do ato administrativo. Nos casos de aplicação automática
da lei, será suficiente a menção do fato concreto e a respectiva norma legal para
cumprir o princípio em tela.

12
Ate nç ã o
Você consegue observar que a necessidade da motivação dos atos
administrativos tem como finalidade a proteção do interesse dos
administrados? Ora, se o objetivo da Administração é satisfazer o
interesse público, a motivação dos atos é a forma mais eficiente de
demonstrar a legalidade e as razões que ensejaram sua prática de
forma que todos possam verificar a existência do interesse público
envolvido.

Princípios do contraditório e ampla defesa


Estes princípios, apesar de terem significados distintos, são decorrência um do outro
e, por isso, são apresentados em conjunto. A própria Constituição Federal faz isso no
art. 5º, inciso LV. Veja:

Art. 5º. [...]

LV - A todos os litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes. (BRASIL, 1988).

Mas, no que consistem estes princípios? O contraditório é o direito que tem o


indivíduo de tomar conhecimento de todo o conteúdo do processo que seja parte,
bem como de se manifestar sobre os fatos ou argumentos de que discorde,
contraditando os argumentos da parte adversa ou da própria Administração.

Já a ampla defesa consiste no direito de o indivíduo trazer ao processo todos os


meios e elementos de prova admitidos em lei, além de poder calar-se ou omitir-se.

Como você viu, são princípios garantidos pela Constituição aplicáveis aos processos
administrativos e judiciais.

13
Fechamento
Todos ramos do direito possuem princípios, que são a base do direito em questão.
Ao se analisar os fundamento de direito, os princípios costumam servir tanto como
normas para a análise de uma situação concreta quanto fundamentos ou standards
para interpretação das regras. Com isso já é possível visualizar a importância dessas
normas.

Dessa forma, o enfoque foi o estudo dos princípios de direito administrativo


presentes na Constituição Federal. O conhecimento desses princípios são essenciais
pois norteiam diversos atos, leis, normas administrativas, normas regulatórias,
etc. A ofensa a um desses princípios pode invalidar totalmente uma norma ou um
ato, por isso o conhecimento deles é essencial para reconhecer o cumprimento da
Constituição.

14
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: out.
2010.

______. Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/leis/L9784.htm>. Acesso em: out. 2015.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros,


2015

MELLO, C. A. B. Curso de direito administrativo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

15
Administração
Pública I
Bellan, Rosana
SST Administração Pública I / Rosana Bellan
Local: 2020
nº de p. : 11

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Administra ç ã o Públic a I

Apresentação
O Estado deve estar organizado de modo que seja capaz de promover o bem
público. A organização estatal com a finalidade de gerir o bem público é denominado
Administração Pública. Como o nome indica, designa os órgãos públicos em geral
responsáveis por administrar o bem público, o que inclui a atuação direta nos
serviços para a população.

Vamos conhecer mais sobre a Administração Pública e o conceito e objetivo legal da


Administração, bem como a divisão entre pessoas jurídicas da Administração direta
e indireta, com enfoque na Administração direta.

Administração pública
O Estado tem por objetivo desenvolver atividades com o fim de promover o interesse
público. Para isso, desempenha basicamente três funções: a legislativa, a judicial e a
executiva (ou administrativa).

Le g isla tiva

compreende fundamentalmente a elaboração de normas jurídicas para reger a


vida em sociedade.

Judic iá ria

tem por finalidade resolver conflitos no intuito de pacificar as relações


jurídicas e sociais.

Administra tiva

tem a função de exercer atividades para implementar o bem comum dos


indivíduos.

3
Assim, podemos afirmar que a Administração existe com o objetivo de atingir um
dos fins públicos do Estado, qual seja, o de exercer atividades para o bem comum da
sociedade.

Para que isso seja possível, é necessária a existência de uma estrutura composta de
pessoas físicas, pessoas jurídicas e órgãos.

Para Di Pietro (2015), “a estrutura composta por órgãos, pessoas e seus agentes é
designada de Administração Pública em sentido formal. Já as atividades exercidas
por eles compreendem a Administração Pública em sentido material.”

Ate nç ã o
A Administração Pública, em sentido formal (orgânico ou subjetivo),
compreende as pessoas jurídicas, os órgãos e os agentes
públicos encarregados de exercer a função administrativa. Já a
Administração Pública em sentido material (objetivo ou funcional)
compreende a própria atividade administrativa. (DI PIETRO, 2015).

Organização da administração
pública
A Administração Pública se organiza e exerce suas atividades por meio de órgãos,
pessoas jurídicas e pessoas físicas (agentes públicos).

As pessoas jurídicas compreendem a administração direta e a indireta. A


administração direta é composta pela própria pessoa do Estado e seus órgãos. Já a
administração indireta é composta por outras pessoas jurídicas criadas pelo Estado
para desenvolverem atividades específicas em seu nome. A criação de órgãos dentro
da estrutura administrativa decorre da desconcentração da atividade. A criação de
pessoas jurídicas, por outro lado, é uma forma de descentralização da atividade.

4
Administração Pública organizada por meio de órgãos e pessoas físicas e jurídicas

Fonte: Deduca (2020)

A desconcentração e a descentralização das atividades são formas adotadas para o


melhor desempenho das suas funções e distribuição de competências.

Mas, enquanto na desconcentração a repartição de atribuições dá-se por uma


mesma pessoa jurídica, por meio da criação de órgãos públicos, na descentralização
a repartição de atribuições ocorre entre pessoas diferentes (de uma pessoa para
outra). Assim, o Estado cria pessoas jurídicas para exercer indiretamente, de forma
descentralizada, as atribuições estatais.

Administração direta
A administração direta abrange, em sentido amplo, todos os órgãos do Estado
encarregados de desempenhar a função administrativa, seja no Poder Executivo,
Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas, ou seja na Defensoria
Pública.

5
Em sentido estrito, a administração direta abrange apenas os órgãos integrantes do
Poder Executivo de qualquer dos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios).

Ate nç ã o
O Estado brasileiro é uma pessoa jurídica de direito público. Ele é
dividido em unidades federadas que são: a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios.

Órgãos públicos
Segundo entendimento extraído da obra de Meirelles (2015), órgãos públicos
são “[...] centros de competência instituídos para o desempenho de funções
estatais, através de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa jurídica a que
pertencerem”. Dito de outra forma, são centros de atribuições, instituídos por lei para
o desempenho das funções estatais.

Mas, quem efetivamente exerce essas atribuições dentro dos órgãos?

Sendo eles um centro de atribuições, quem exerce essas atribuições são os agentes
públicos. Assim, podemos dizer que a vontade dos órgãos é exercida por meio dos
agentes públicos, chamados genericamente de servidores públicos.

No intuito de explicar a relação existente entre os agentes públicos e a pessoa


jurídica da qual fazem parte, foram desenvolvidas teorias do mandato, da
representação e do órgão.

Vamos conhecê-las melhor?

Teoria do mandato

Segundo a teoria do mandato, o agente público é mandatário da pessoa jurídica a


que pertence. Assim, a pessoa jurídica delegaria poderes ao agente, que atuaria em
nome dela, como um mandatário.

6
Mandato

Fonte: Deduca (2020)

Essa teoria acabou não sendo aceita, pois só alguém com vontade própria pode
delegar poderes, o que não é possível verificar na relação entre órgãos do Estado e
seus agentes.

Realmente, na medida em que a vontade do Estado é expressa pelos seus agentes,


podemos afirmar que o Estado não possui vontade própria. Logo, não existe alguém
acima do agente com aptidão para delegar poderes.

Além disso, pelo contrato de mandato, quando o mandatário age com excesso de
poder, aquele que delegou os poderes não responde por estes atos perante terceiros.
Isso não acontece na relação com o Estado, que sempre tem responsabilidade pelos
atos dos agentes públicos que se encontrem investidos no poder, na forma do art.
37, § 6º da Constituição Federal.

Teoria da Representação

7
Por esta teoria, o agente público representa a vontade da pessoa jurídica.

Ocorre que a representação legal tem por finalidade suprir a capacidade jurídica dos
incapazes. Assim, dizer que a relação entre Estado e agente é de representação seria
o mesmo que equipará-lo a um incapaz.

Além do mais, como acontece na teoria do mandato, se o representante ultrapassar


os poderes da representação, o Estado representado não poderia responder por
estes atos perante terceiros. E o Estado, como já vimos, sempre responde pelos atos
de agentes públicos investidos deste poder.

Em razão destas questões, a teoria da representação também não foi aceita.


Curio sida de
Teoria do Órgão
A teoria do órgão foi criada pelo alemão Otto Gierke, e a que melhor
explica a relação existente entre Estado, seus órgãos e agentes,
Pela teoria do órgão, a pessoa jurídica expressa sua vontade por meio dos seus
pois os atos praticados pelos agentes são responsabilidade da
órgãos. Destapessoa
maneira, quando
jurídica da os agentes
qual expressam sua vontade, é como se a
pertencem.
própria pessoa jurídica do Estado o fizesse.

Mas, como já salientamos, somente podem ser creditados ao Estado, os atos


praticados pelos agentes que se encontrem investidos no poder jurídico do Estado
ou, como afirma Di Pietro (2015), que estejam aparentemente investidos de poder
jurídico estatal, como acontece nas funções de fato.

Em resumo, pela teoria do órgão, a pessoa jurídica age por meio de seus órgãos
que a compõe, e estes por intermédio dos agentes públicos. Significa dizer que os
agentes agem em imputação à pessoa jurídica a que pertencem, ou seja, os atos
praticados pelos agentes são imputados à pessoa jurídica a qual pertencem: ao
Estado.

Outra questão muito importante em relação aos órgãos públicos é que eles não
possuem personalidade jurídica própria. Por essa razão, sua atuação é imputada à
pessoa jurídica da qual fazem parte, que possui personalidade jurídica e é dotada de
capacidade para contrair direitos e obrigações.

Se os órgãos não possuem personalidade jurídica, eles não podem demandar


ou serem demandados em juízo. Excepcionalmente, entretanto, é possível que
demandem em juízo, como acontece quando precisam defender suas atribuições e
prerrogativas.

8
Classificação dos órgãos públicos
Existe uma infinidade de órgãos públicos na estrutura pública brasileira. Os órgãos
públicos podem ser classificados:

Quanto à posição estatal, eles podem ser independentes, autônomos, superiores e


subalternos.

• Órgãos independentes: representam os três Poderes do Estado (Legislativo,


Executivo e Judiciário). Isso mesmo: os Poderes Legislativo, Executivo e Ju-
diciário são órgãos do Estado. E estes órgãos dividem-se em outros órgãos.
No Legislativo, por exemplo, temos o Congresso Nacional e as Assembleias
Legislativas. No Judiciário, o Supremo Tribunal Federal e os demais tribunais
e juízes. No Executivo, a Presidência da República, as Governadorias de Esta-
do, e as Prefeituras.
• Órgãos autônomos: representam a cúpula da Administração. Podemos citar
os Ministérios, as Secretarias de Estado e de Municípios.
• Órgãos superiores: exercem função de direção, controle e decisão.
• Órgãos subalternos: possuem atribuições de mera execução e estão subordi-
nados a outros órgãos mais elevados. Como exemplos temos os setores de
expediente, de pessoal etc.
• Quanto à estrutura, os órgãos podem ser simples e compostos:
• Órgãos simples: possuem um só centro de competência. Exercem atribuições
de forma concentrada, independentemente do número de cargos que o com-
põe.
• Órgãos compostos: reúnem outros órgãos em sua estrutura. Exemplo: um mi-
nistério é composto por vários outros órgãos menores dentro da sua estrutu-
ra.
• Quanto à atuação funcional, os órgãos são classificados em singulares e co-
legiados:
• Órgãos singulares: quando as atribuições são concentradas em um único
agente, seu chefe e representante. Exemplo: Pre- sidência da República.
• Órgãos colegiados ou pluripessoais: são os que atuam pela manifestação
conjunta de seus membros. Exemplo: Congresso Nacional e Órgão Pleno dos
Tribunais. (MEIRELLES, 2015)

9
Ate nç ã o
Falamos anteriormente que a principal característica dos órgãos
públicos é a ausência de personalidade jurídica, característica
própria de pessoas físicas ou jurídicas. Apesar de não possuírem
personalidade jurídica, você já observou que muitos deles possuem
CNPJ? Embora seja contraditório, pois o CNPJ, como o próprio
nome indica, é o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, isso
existe na prática por conta de uma exigência da Receita Federal
do Brasil.

Fechamento
Por força constitucional o Estado brasileiro deve fornecer diversos serviços a
seus cidadãos na promoção do bem comum. A administração da coisa pública
para atingir essas finalidades não é simples, considerando o tamanho do Estado,
territorial e economicamente, além da complexidade dos serviços prestados.

Conhecemos neste estudo mais sobre a Administração Pública, com enfoque na


Administração direta e reconhecemos as principais teorias que tratam dos órgão
públicos e de suas classificações.

10
Referências
DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros,


2015.

11
Administração
Pública II
Bellan, Rosana
SST Administração Pública II / Rosana Bellan
Local: 2020
nº de p. : 13

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Administração Pública II

Apresentação
Os órgãos são centros de atribuições criados pelo Estado para a execução de
atividades administrativas. Eles fazem parte da própria pessoa jurídica do Estado e,
por isso, compõem a administração direta.

Além de exercer atividades diretamente, por meio dos órgãos, o Estado também
desempenha atividade administrativa indiretamente, por meio de pessoas jurídicas
independentes. Estas entidades são criadas pelo Estado para o exercício de
outras funções públicas, que não as desenvolvidas pela administração direta. A
administração indireta compreende as seguintes categorias de entidades, todas
dotadas de personalidade jurídica própria: autarquias; fundações públicas; empresas
públicas; sociedades de economia mista; e associações públicas.

Autarquias empresas públicas e


sociedades de economia mista

Autarquias
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, criadas por lei específica para
exercer atividades administrativas especificadas em lei e sujeitas ao controle do
Estado.

Segundo Di Pietro (2015), as autarquias possuem as seguintes características:


Devem ser criadas por lei específica: é o que estabelece o art. 37, inciso XIX, da
Constituição Federal. Observe:

XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada
a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas
de sua atuação. (BRASIL, 1988)

Possuem personalidade jurídica própria e pública: significa que são pessoas


distintas da pessoa jurídica que as criou, sendo também titulares de direitos e

3
obrigações distintas e específicas. Possuem personalidade pública e, por isso,
submetem-se ao regime jurídico público, quanto à criação, à extinção, aos poderes,
às prerrogativas, aos privilégios e às sujeições.

Possuem capacidade de autoadministração: têm o poder de se autoadministrar no


que toca às competências específicas que lhes foram confiadas pela pessoa jurídica
que as criou.

Sujeitam-se ao controle ou à tutela do ente que as criou: a pessoa jurídica que cria
a autarquia deve fiscalizar e supervisionar as atividades por esta desenvolvidas. Não
há hierarquia, e sim relação de vinculação, existindo apenas um controle sobre as
atividades finalísticas, com o objetivo de observar se a autarquia executa as tarefas
para a qual foi criada.

Desenvolver atividades especializadas: são criadas para determinados fins, logo,


atividades específicas e especializadas.

Como exemplos de autarquias, temos: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS e


Banco Central – BC.

Empresas públicas e sociedades de economia


mista
Segundo Meirelles (2015), as empresas públicas e sociedades de economia mista,
também designadas empresas estatais ou governamentais, “[...] são pessoas
jurídicas de direito privado cuja criação é autorizada por lei específica, como
patrimônio público ou misto, para a prestação de serviço público ou para a execução
de atividade econômica de natureza privada”

Note que as empresas estatais, diferentemente das autarquias e assim como as


fundações, são autorizadas por lei específica. Outra característica específica das
empresas públicas e sociedades de economia mista é sua personalidade jurídica de
direito privado.

4
Atenção
Segundo Meirelles (2015), “a personalidade de Direito Privado é
apenas a forma adotada para lhes assegurar melhores condições
de eficiência, mas em tudo e por tudo ficam sujeitas aos princípios
básicos da Administração Pública”.

Podem ser criadas para o exercício de serviços públicos ou para o desempenho


de atividades econômicas. Se executarem serviços públicos, serão regidas
principalmente por normas de direito público. Quando desempenharem atividades
econômicas, serão regidas principalmente pelas normas de direito privado.

Conforme a Constituição Federal de 1988, as empresas públicas e sociedades de


economia mista não podem ser criadas para executar qualquer tipo de atividade
econômica, mas somente aquelas autorizadas no art. 173, que englobam atividades
necessárias aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo.
Observe a redação do dispositivo constitucional:

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração


direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei. (BRASIL, 1988).

Diretrizes criadas pela justiça

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

5
São características comuns das empresas públicas e sociedades de economia
mista:

• sua criação e extinção deve ser autorizada por lei específica;


• devem possuir personalidade jurídica de direito privado;
• sujeitam-se ao controle estatal, pois seu patrimônio é total (empresa pública)
ou parcialmente público (sociedade de economia mista);
• vinculação aos fins definidos à lei instituidora; e
• desempenho de atividade de natureza econômica.

As principais diferenças entre sociedade de economia mista e empresa pública são:

• forma de organização: de acordo com artigo 5º do Decreto-lei nº 200/67 e art.


5º da Lei nº 13.303/2016, a sociedade de economia mista deve ser estrutu-
rada sob a forma de sociedade anônima, já a empresa pública, sob qualquer
das formas admitidas em direito. Assim, verificamos que a primeira é sempre
sociedade empresária e a segunda pode ser civil ou empresária;
• composição do capital: a empresa pública é constituída por capital totalmen-
te público. Já o capital da sociedade de economia mista deverá ser majorita-
riamente público, ou seja, mais de 50% público.

Segundo Meirelles (2015), o regime celetista é a espécie de regime de pessoal


adotado pelas empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia
mista), já que são pessoas jurídicas de direito privado.

Fundações públicas e associações


públicas

Fundações públicas
São pessoas jurídicas criadas pelo Estado pela personificação de um patrimônio
público destacado e afetado à uma finalidade pública específica, após prévia
autorização por lei.

Note que, enquanto as autarquias são criadas por lei específica, as fundações
também são autorizadas por lei específica, conforme previsto no art. 37, inciso XIX,
da Constituição Federal, transcrito anteriormente.

6
As fundações podem ser de direito público ou de direito privado.

Quando o Estado institui uma pessoa jurídica sob a forma de fundação,


ele pode atribuir a ela regime jurídico administrativo, com todas as
prerrogativas e sujeições que lhes são próprias, ou subordiná-la ao Código
Civil, neste último caso, com derrogações por normas de direito público.
(DI PIETRO, 2015)

Lembre-se então que o Estado poderia instituir duas diferentes espécies de


fundações, as quais veremos a seguir.

A fundação pública de direito público, que possui as mesmas características e


prerrogativas das autarquias, designadas de autarquias fundacionais e as fundações
públicas de direito privado, simplesmente designadas de fundações públicas.

As fundações públicas possuem as seguintes características:

• dotação patrimonial formada por patrimônio inteiramente público ou misto


(público e privado);
• personalidade jurídica de direito público ou de direito privado;
• exercem atividades estatais de natureza social. Como exemplo podemos ci-
tar atividades ligadas à educação, à saúde, ao meio ambiente, à assistência
social;
• capacidade de autoadministração, do mesmo modo que as autarquias; e
• sujeitam-se ao controle da entidade estatal que as criou.

Curiosidade
As Sociedades de Economia Mista normalmente adotam a
espécie empresária de Sociedade Anônima. Por serem Sociedades
Anônimas e possuírem parte do capital privado, podem negociar
suas ações a qualquer interessado, na bolsa de valores. É o que
ocorre com o Banco do Brasil e a Petrobrás. Você nunca verá,
entretanto, uma empresa pública negociando ações na bolsa de
valores, uma vez que o seu capital é inteiramente público e não
pode ser aberto à negociação privada. É o que ocorre com a Caixa
Econômica Federal, por exemplo.

7
Como exemplos de fundações públicas, temos: Fundação Nacional do Índio (Funai) e
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Associações Públicas
Associações públicas são pessoas jurídicas criadas quando da celebração de
consórcio público pelas entidades federadas (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios). O fundamento para sua criação está na Lei n. 11.107/2005, que dispõe
sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos.

Ao celebrar um consórcio público, as entidades federadas podem decidir se ele vai


ter natureza jurídica de direito público ou de direito privado. Caso assuma a natureza
de direito público, teremos uma associação pública. A criação de um consórcio sob
a forma de associação pública destina-se a atingir finalidades de interesse comum
das entidades federativas que a criaram, sendo que ela pertencerá à administração
indireta de todas as entidades federadas consorciadas.

Atenção
As autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades
de economia mista estão previstas no art. 4º do Decreto-Lei nº
200/1967, que trata da organização da Administração Federal. As
associações públicas estão previstas na Lei nº 11.107, de 6 de
abril de 2005, que dispõe sobre normas gerais para que a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios contratem consórcios
públicos. Recentemente, em 2015, entrou em vigência a   Lei nº
13.303/2016, que dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa
pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Agentes públicos
O Estado exerce atividades administrativas por meio de estrutura organizada,
composta por pessoas jurídicas, órgãos e seus agentes públicos. Agora que já
compreendemos o que são os órgãos e quais as pessoas jurídicas que compõe a
Administração, vamos ingressar no estudo de agentes públicos.

8
A expressão agentes públicos pode ser analisada como:

[...] a mais ampla que se pode conceber para designar genérica e


indistintamente os sujeitos que servem ao Poder Público como
instrumentos expressivos de sua vontade de ação. [...] quem quer que
desempenhe funções estatais, enquanto as exercita, é um agente público.
(MELLO, 2015)

Assim, agentes públicos são todas as pessoas naturais que, de qualquer modo e
independentemente do vínculo formado com o Estado, exercem funções públicas
em nome do Estado. São exemplos, desde os chefes do Poder Executivo, os
detentores de mandato eletivo, de cargos e empregos públicos, até os contratados
para o exercício de funções temporárias, os concessionários, permissionários
e autorizatários, os que exercem funções delegadas e os requisitados para o
desempenho de atividades pública, sem qualquer vínculo com o Estado.

Classificação
A maioria da doutrina classifica os agentes públicos em três grandes grupos:

• agentes políticos;
• servidores estatais ou servidores administrativos; e
• agentes particulares em colaboração com o Poder Público.

Os agentes políticos são os titulares dos cargos estruturais do Estado e formam a


vontade superior do Estado. São agentes políticos: o Presidente da República, os
governadores, os prefeitos e respectivos auxiliares imediatos (ministros e secretários
das diversas pastas), os senadores, os deputados e os vereadores.

Alguns autores, como Meirelles (2015), consideram também como agentes políticos:
os magistrados, os membros do Ministério Público e os dos Tribunais de Contas.
Mello (2015) já designa servidores públicos em sentido amplo ou servidores
administrativos, como todos aqueles que mantém com o Estado ou com as
entidades da administração indireta relação de trabalho de natureza profissional, de
caráter não eventual e sob vínculo de dependência.

Representam a maioria esmagadora dos agentes públicos e compreendem as


seguintes espécies:

9
Servidores estatutários ou servidores públicos em sentido es-
trito:

ocupam cargos públicos e são regidos por estatuto funcional. Por tal
motivo, são chamados estatutários e mantêm com o Estado vínculo de
trabalho de natureza institucional, criado por lei especial de cada uma das
pessoas jurídicas estatais. Na esfera federal, o regime jurídico estatutário
é regulamentado pela Lei nº 8.112/1990. Nos termos do art. 2º da Lei nº
8.112/1990, “servidor público é a pessoa legalmente investida em cargo
público”;

Empregados públicos:

ocupam emprego público e são contratados sob o regime da Legislação


Trabalhista (CLT). Os servidores das empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações públicas de direito privado são contratados pelo
regime celetista;

Servidores temporários:

conforme estabelece o art. 37, inciso IX da Constituição Federal, são


servidores contratados por tempo determinado para atender à necessidade
temporária de excepcional interesse público. Não são regidos nem por
estatuto nem pela CLT, mas por lei específica. Também não ocupam cargos e
nem empregos, mas apenas funções públicas.

Os agentes particulares em colaboração com o poder público, abrangem todas as


pessoas físicas que, sem perderem a qualidade de particulares, exercem atividade
pública sem vínculo empregatício com o Estado. Podem ou não ser remunerados.

Exercem funções em caso de:

• requisição pelo Poder Público: como exemplo temos os jurados do Tribunal do


Júri, mesários nas eleições, os recrutados para o serviço militar obrigatório;
• delegação do poder público: é o que acontece com os empregados das em-
presas concessionárias e permissionárias de serviços públicos.
• voluntariado: são os que prestam serviço voluntário, nos casos de enchente,
desastre, sem qualquer pedido ou intervenção do Estado.

10
Ingresso no serviço público
Segundo estabelece o art. 37, inciso II, da Constituição Federal de 1988, a investidura
em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público,
com algumas exceções. Observe o texto da Constituição.

Art. 37. II – a investidura em cargo ou emprego público depende de


aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de
acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração. (BRASIL, 1988).

Observe que excetuadas as nomeações para o provimento de cargos em comissão,


tanto os cargos quanto os empregos públicos somente podem ser providos após
prévio concurso público.

Curiosidade
Você saberia dizer qual princípio está sendo observado pela regra
constitucional do concurso público? Tal exigência decorre de
um princípio ético e moralizador que visa assegurar igualdade e
impessoalidade no provimento dos cargos e empregos. Além disso,
a profissionalização do serviço público está ligada ao princípio da
eficiência na Administração.

Cargo, emprego e função pública


Cargo público:

“cargos são as mais simples e indivisíveis unidades de competência a


serem expressadas por um agente, previstas em número certo, com
denominação própria, retribuídas por pessoas jurídicas de Direito Público
e criadas por lei” (MELLO, 2015, p. 261).

De acordo com o art. 3º da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, “cargo público


é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional
que devem ser cometidas a um servidor” (BRASIL,1990).

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• Empregos públicos: segundo Mello (2015), são núcleos de encargos de traba-
lho permanentes a serem preenchidos por agentes contratados para desem-
penhá-los, sob relação trabalhista.

Em síntese, podemos afirmar que tanto cargos quanto empregos são unidades
específicas de atribuições, localizadas no interior dos órgãos. A diferença essencial
entre cargo e emprego é o regime jurídico e o vínculo que os ligam com o Estado.
Enquanto o ocupante de cargo possui vínculo estatutário e institucional, o ocupante
de emprego possui vínculo trabalhista e contratual.

• Funções públicas: De acordo com Meirelles (2015), são um “[...] conjunto de


atribuições que a Administração confere a cada categoria de profissional ou
comete individualmente a determinados servidores para a execução de servi-
ços eventuais”

Em linhas gerais, você pode concluir que tanto os cargos quanto os empregos
possuem funções públicas, pois elas compreendem o conjunto de atribuições
conferidas a um agente para o alcance das finalidades públicas.

Fechamento
A Administração Pública indireta é exercida de modo igualmente indireto pelo
Poder Público, por meio de pessoas jurídicas próprias e independentes. Essa
independência não significa, entretanto, ausência de controle na medida em que
os entes da administração indireta também estão sujeitos aos princípios gerais da
Administração Pública. Exigem também, por exemplo a realização de concurso
público para o ingresso em seus quadros.

Dessa forma, estudamos as principais características de cada um dos entes da


administração indireta. Analisamos também, detalhes sobre os agentes públicos, as
classificações desse agentes e o modo de ingresso no serviço público.

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Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em:
out. 2020.

BRASIL. Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8112cons.htm> Acesso em: out. 2020.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros,


2015.

MELLO, C. A. B. Curso de direito administrativo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

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