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Filosofia
Resenha Crítica
História da Filosofia Moderna
Resumo
Esse é um estudo dos três módulos do Tema 3 da disciplina, o qual tem como foco a
Filosofia política, passando por três períodos centrais da modernidade. Os objetivos
dos módulos são, respectivamente: Compreender o contexto histórico renascentista e
a Filosofia humanista, diferenciar as concepções de contrato social da Filosofia
Moderna e reconhecer os principais conceitos do pensamento iluminista.
1. RENASCENTISMO
A Idade Média, também conhecida como Idade das Trevas, foi um período marcado
pela forte influência da Igreja Católica, opressão e poucos avanços políticos, sociais e
tecnológicos na Europa. Foi esse o cenário que desenvolveu, na segunda metade do
século XIV, o Renascimento, momento no qual houve o desvencilhamento gradual
dos dogmas prevalentes na era anterior e a valorização da racionalidade.
Essa fase durou até o início do século XVII, sendo uma transição entre a Era
Medieval e a Era Moderna. Contudo, não se trata apenas disso, mas sim do estopim
das transformações essenciais no modo com o qual vemos a tradição e nas reflexões
quanto ao indivíduo.
Um dos elementos que mais favoreceu a renovação na forma de pensar da época foi o
grande fluxo de transações comerciais, o que promoveu, consequentemente, o contato
da Europa com a cultura árabe e o remanescente da bizantina. Tanto que os centros do
Renascimento foram as cidades-Estado Florença e Veneza, rotas comerciais no norte
do mar Mediterrâneo. Houve um resgate da filosofia da Antiguidade Clássica, a qual
inspirou muitos dos pensadores e artistas mais renomados da época.
Michel de Montaigne
Escritor e filósofo francês, expoente do ceticismo e humanismo. O cerne do seu
pensamento era o constante questionamento do senso comum, das convenções e da
própria realidade, visto que a certeza não existe. O mundo sempre esteve e sempre
estará em um imparável processo de transformação e, por esse motivo, a reflexão
sobre o mesmo também nunca está pronta e acabada.
Montaigne também é notável pela criação do gênero literário do ensaio, através da sua
única obra publicada, Os ensaios, uma coletânea de peças escritas pelo mesmo
durante vinte anos. As discussões variam entre ponderações quanto aos sentimentos
humanos, doutrinas filosóficas da Antiguidade até elementos do seu dia a dia sem
distinção.
Étienne de la Boétie
A sua obra tem como objeto de estudo a relação entre soberanos e súditos. O
questionamento central é: Por que o povo, uma vez que se encontra em vantagem
numérica, não se impõe contra um ditador que os prejudica? O motivo, de acordo com
o filósofo, é a manipulação emocional e psicológica do ditador, criando uma ilusão de
poder irresistível. Os subordinados, sob a impressão de que o tirano estaria zelando
pelos interesses comuns, abdicam de sua liberdade, porém, caso tomassem
consciência do dilema em que se encontram, seria facilmente provado que o poder do
líder não passa de uma mentira.
Nicolau Maquiavel
Conhecido pela sua abordagem realista, o filósofo fez contribuições cruciais para a
organização política e estatal que utilizamos hoje. Uma das obras mais célebres de
Maquiavel foi O príncipe, cujo objetivo é ensinar como governar, se manter no poder
e retratar a política como ela é de verdade.
A autoridade e capacidade de se impor eram consideradas essenciais para o pensador
a fim de preservar o Estado e a ordem social, ao ponto de que entre ser um líder
amado ou temido, ele instruiu que é melhor ser temido. Apenas a força coercitiva
seria capaz de manter um sistema político bem ordenado constituído por legislação e,
principalmente, exército. As qualidades de um governante versado nestes
fundamentos é chamada por Maquiavel de virtú: Saber quando agir, a flexibilidade de
mudar sua conduta do bem para o mal quando necessário e a mentalidade estratégica
no geral.
2. ERA MODERNA
A maior conquista dessa era foi o desenvolvimento da ciência, impulsionada pelo
afastamento entre o saber científico e a religião proporcionado pelo Renascentismo.
Com o avanço das Ciências Naturais e Astronomia, foi constatado que a Terra não é o
centro do universo, o que trouxe uma nova perspectiva da existência humana.
Ao mesmo tempo, houve intensas transformações políticas com a formação de
Estados soberanos, declínio dos nobres e aristocratas detentores de feudos e
concentração do poder nas mãos dos monarcas. Além de tudo isso, também houve a
ascensão da burguesia, nova classe social com alto poder aquisitivo, porém sem poder
político em razão das suas origens plebéias.
Thomas Hobbes
O pensador inglês viveu em um período definido por múltiplas revoluções, com
grande instabilidade política. Foi o primeiro teórico contratualista, elaborando uma
forma de organização política entre as partes que compõem o Estado e explicando
como o ser humano teria passado do seu estado de natureza, isto é, da condição regida
apenas pelas leis da natureza, para a sociedade civil. O ponto principal é que a busca
incessante pelo poder sempre dá nascimento a conflitos e a forma de manter a ordem
social é dotar uma única pessoa de poder suficiente para mantê-la, com todos os
demais a obedecendo.
Em seu livro Leviatã, Hobbes argumenta que o monarca deve ser dotado de poder
absoluto e os súditos devem abrir mão de sua liberdade em troca da proteção que
apenas um governante forte pode oferecer. Separar moral e política a fim de submeter
às leis seria o desdobramento mais racional, assim como transformar a consciência
individual em consciência coletiva. Contudo, os subordinados ainda possuem o direito
de autodefesa perante ao soberano e julgar se a proteção oferecida é satisfatória ou
não.
John Locke
O filósofo faz uma separação clara entre a lei divina, a lei civil e a lei moral. Esta
última é derivada da consciência humana e rege as relações na forma de um acordo
tácito. Isso significa que, apesar dos cidadãos estarem limitados pelas leis civis
coercitivas, ainda fazem a formação de suas próprias opiniões e são capazes de manter
o respeito mútuo sem a influência estatal.
Sendo assim, a moral é a única coisa que, dentro do contrato social, está além do
alcance do Estado ao mesmo tempo que o rivaliza. Ninguém está acima do juízo
moral, pois o portador dela não é o indivíduo, e sim a sociedade no geral, agindo de
forma indireta por meio da opinião pública, também chamada por Locke de lei da
censura privada. Esse conceito de moralidade é o que os iluministas mais tarde
usariam para argumentar a favor do abandono das leis vigentes na época em favor do
progresso.
Baruch de Espinosa
Diferente dos contratualistas anteriores, sua filosofia trás uma conexão entre os
desejos humanos, a racionalidade e contrato social de um ponto de vista menos
pessimista. O pensador defende que o ímpeto de realizar seus desejos é o que move o
ser humano, contudo estes são incapazes de entender o que os motivou a desejar,
inicialmente. O pensamento racional nasce então da exploração do mundo movida
pelos desejos e os efeitos sobre nós mesmos.
Nessa busca, existem disputas por recursos que geram conflitos, assim como a
cooperação mútua para superar obstáculos. Em uma perspectiva hobbesiana, o Estado
existe apenas para aplacar a primeira situação, entretanto Espinosa infere que a última
também gera o corpo social, uma vez que os indivíduos são incentivados pelos
benefícios comuns a todos.
Outro ponto a se abordar é a sua concepção de poder. De acordo com Espinosa, uma
renúncia absoluta é impossível, visto que a capacidade de fazer de cada pessoa é
natural e inata. Também defende a participação política do povo através das eleições e
revoltas contra opressão e abusos de poder. Contudo, uma autoridade se faz necessária
para a convivência pacífica em função do desejo de perseverar em si mesmo presente
em cada indivíduo, ou seja, o embate dos desejos de uns contra os desejos de outros.
3. ILUMINISMO
Após os avanços científicos da era anterior, os sociais e políticos os sucederam
através da reformulação completa das instituições. Três grandes revoluções
possibilitaram tal feito: A Revolução Inglesa (1688), a Revolução Americana (1775-
1783) e a Revolução Francesa (1789-1799). Foi nessa fase que surgiu a base do
modelo democrático difundido mundialmente hoje, com os ideais de liberdade,
igualdade e direitos intrínsecos à condição humana, assim como os mecanismos que
limitam o poder, antes ilimitado nas mãos dos monarcas, como o sistema de freios e
contrapesos.
Jean-Jacques Rousseau
A soberania do povo é onde nasce o poder, de acordo com Rousseau. A vontade
comum é o poder político, una e incondicional, estabelecendo a identidade do coletivo
e fazendo dele uma nação. A constituição de um Estado legítimo acontece por meio
dessa vontade geral, cujo caráter não é de soma de individualidades, e sim de
emanação de uma totalidade.
O contrato social entra nesse contexto para permitir a coexistência da liberdade e da
obediência, garantindo a participação de todos ao mesmo tempo que se faz presente
uma figura com autoridade. O líder é aquele com consciência da vontade geral e que
estabelece a complexa relação entre moral e política, guiando as ações dos indivíduos.
Para esse fim, meios como terror e ideologia seriam empregados.
Immanuel Kant
Considerado um dos maiores filósofos da época, suas teorias envolvem o
conhecimento, pensamento, estética, ética e política, abordando questões sobre a
experiência da realidade que não podem ser inferidas objetivamente. Uma delas é a
ética, fundamentada no conceito de que todos os homens são livres, mesmo que isso
não possa ser de fato comprovado, visto que mesmo quando coagido, a submissão
ainda é uma escolha. Conjuntamente, defende que o homem não deve ser usado como
um meio para um fim, pois isso violaria sua liberdade.
Seguindo a mesma linha, o Estado deve tomar medidas para preservar a liberdade dos
cidadãos e assumir uma postura semelhante na relação com demais Estados, buscando
o benefício mútuo. Desta maneira, seria atingida o que Kant chama de paz perpétua.
Todavia, ele acreditava que esse processo ocorreria de forma espontânea e que
guerras não deveriam ser vistas como entraves para a paz, mas como desequilíbrios
nas relações entre os países.