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Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

Departamento de História – FaFich

Curso: História – diurno V período

Disciplina: Cultura e política,“sexo, drogas e rock n’ roll”: a década de 60 e Guerra Fria

Prof.(a): Suellen Maria Marques Dias

Aluno: Marcus Ít. Cruz Augusto

A invenção da juventude:

a emergência dos jovens como atores político-sociais na década de 60


A invenção da juventude:

a emergência dos jovens como atores político-sociais na década de 60

Introdução

A observação atenta de diferentes momentos da história, permite-nos entrever


alguns aspectos que julgamos serem bastante interessantes. Tomemos como exemplos
para nossa proposição, alguns principais momentos de tensão social ocorridos na
história da humana: as jacqueries, na Idade Média, a Revolução Francesa, na Idade
Moderna e “os Anos 60” do século XX, na pós-modernidade. Sem a intenção de
engessar e enclausurar estes e outros eventos nos limites de condicionantes históricas,
ou subjugá-los ao enfadonismo de leis gerais – que já sabemos, não se aplicam à
historia – desejamos apenas destacar que, a análise mais detida destes acontecimentos
históricos, nos permite perceber que todos eles compartilham, e comungam de uma
característica comum: grosso modo, todos são frutos de momentos de profunda pressão
sobre os indivíduos, manifesta seja na exploração do trabalho, na rigidez das
hierarquias sociais, na manutenção dos costumes aristocráticos ou no conservadorismo
das práticas e comportamentos sociais.

Estes fatores, aliados às conjunturas históricas que lhes circunscreveram, foram


responsáveis no nosso entendimento, pela eclosão das tensões, movimentos e
revoluções a que assistimos no decurso da história. Neste sentido, para além da questão
das pressões sociais comuns a todos estes movimentos, percebemos como elemento
comum a eles, a busca dos indivíduos não só por suas reivindicações políticas,
ideológicas, mas também a busca pela liberdade, que toma aspecto e acepções distintas,
conforme cada contexto. Sobre o conceito de liberdade, a Mona Ozouf no Dicionário da
Revolução Francesa nos apresenta as diversas facetas que a liberdade pode tomar

“Liberdade no plural e liberdade no singular; liberdade enraizada


na complexidade e liberdade exercida na unidade; liberdade como pura
ausência de coerção e liberdade como atividade positiva: essa cascata
de dicotomias sugere um nítido antagonismo (…).”
Ao citar um nítido antagonismo entre os diferentes tipos de liberdade, Mona Ozouf nos
sugere também o antagonismo de projetos, acepções e nas buscas pela liberdade, por parte das
diferentes juventudes envolvidas nos diversos movimentos sociais ocorridos durante a década
de 1960 ao redor de todo o mundo.

O presente estudo, de caráter ensaístico, visa expor reflexões iniciais e a análises


bastante subjetivas a respeito da constituição da juventude, que emerge como
agente/ator de transformações políticas e culturais, a juventude desponta como categoria
social durante a década de 60 do século XX.

A emergência da juventude como ator político social na década de sessenta:

seu emergência para a história e para a historiografia

Desde então tem-se assistido paulatinamente a sua emergência como objeto de


estudos no campo das ciências sociais, e com a história não seria diferente. As análises
sobre a juventude, que até então estavam profundamente marcadas por um caráter
homogeneizante, passam agora a entendê-la a partir de perspectivas mais plurais e
complexas, assim como ela se apresenta – seja ela vista enquanto conceito (amplo e
complexo), seja ela encarada como dado concreto, real, tangível e mensurável isto é, o
contingente populacional correspondente àqueles que se identifica como jovens.1

Conforme foi dito acima, parece haver na história uma tendência à eclosão de
crises e tensões, quando observamos períodos de grande (re) pressão sobre os homens,
como tentou-se demonstrar. Essa pressão pode tomar diversos aspectos, ser exercidas de
diversas formas nos mais diferentes campos da vida humana. Carlo Guinzburg nos
aponta que todas as relações humanas estão transpassadas, regem-se ou se operam

1 Temos aqui uma variável importante que é a consideração do que seria esse “contingente
populacional jovem”. Quem poderia ser considerado jovem? Seria possível utilizar-se de
parâmetros etários para classificar a juventude presente e atuante nos diferentes movimentos
sociais ocorridos na década de 1960? Acreditamos que questões como estas somente possam ser
respondidas, através de estudos sociológicos e estatísticos mais aprofundados, mas que no
momento não nos esclarecem a análise, pois fica-nos a pergunta: mesmo dispondo de dados que
nos digam o que é a juventude em termos de faixa etária, ainda assim, este dado objetivo, tornado
conceito sob a forma da expressão juventude, traduziria de forma satisfatória as questões
relacionadas à esta nova categoria social? E ainda, considerando que um bom conceito deve ser
plástico o suficiente para se moldar à diferentes realidades históricas, sem no entanto perder sua
essência, seria possível que um tal conceito se aplicasse de modo geral aos diferentes contextos em
que a juventude se faz presente na década de 60?
através de “relações de força”. Logo, a momentos de pressão e repressão, sucedem-se
igualmente o exercício de forças contrárias, buscando alcançar maior liberdade.

No caso da juventude da década de 1960, o conservadorismo do mundo,


expresso, sobretudo nos campos cultural e político, fez com que a juventude almejasse
rompê-lo, buscando instituir mudanças nos padrões vigentes, mirando através da defesa
das diferentes liberdades: para mulheres, para os negros, para os homossexuais, alcançar
transformações nas atitudes sociais, políticas, culturais e comportamentais. Prova disso,
são os movimentos que se alastram nos anos 60 pelo mundo todo, a contracultura, o
movimento hippie, maio de 68’ na França, o movimento dos negros pelos direitos civis
e os panteras negras, o movimento feminista, entre outros que tiveram na juventude e
nos jovens, seus atores reivindicantes mais árduos.

O contexto da década de 1960, instável e politicamente conturbado – Guerra


Fria, emergência e consolidação das ditaduras na América Latina, Guerra do Vietnã –
fora responsável pela configuração de uma conjuntura favorável à insurgência e ao
questionamento das pautas vigentes no seio da sociedade. Filha do chamado baby boom
e de um momento de prosperidade econômica, a juventude americana, consumidora
ativa e crescente dos produtos da indústria do cinema, da música e da moda passa a ditar
uma série de mudanças nos padrões, estéticos, comportamentais e com o auxílio de
meios de comunicação de massa, como a televisão – que na época, crescia a olhos vistos
em todo o mundo – exportou suas ideias, seu visual, suas expressões e gírias, sua
ideologia política.

Em virtude desse fenômeno de aparecimento da juventude, assiste-se no Brasil,


na França e em todo mundo, paulatinamente, à emergência, crescimento e consolidação
da juventude enquanto categoria social autônoma, com suas demandas, reivindicações e
pautas políticas. As mulheres gradualmente conquistam espaço e voz no seio da
sociedade, e em todo o mundo assiste-se a sua luta e tentativa de conquista de
autonomia frente ao conservadorismo das sociedades machistas. Os homossexuais,
antes relegados à sombras e ao silêncio no interior dessa mesma sociedade
heteronormativa e machista, ganham mais voz e buscam conquistar seu espaço.

Tentou-se, neste estudo, demonstrar como momentos e conjunturas históricas


instáveis, são muitas vezes responsáveis por revoltas e insurgências, e como as
manifestações dos jovens na década de 1960, insere-se no quadro geral destes
movimentos de contestação às estruturas de rigidez e controle social. Conforme
dissemos, a juventude tendo diante de si uma sociedade que não mais traduzia seus
anseios e aspirações – fossem políticas, culturais ou particulares – toma posse de seu
poder de ação e parte para a contestação social e política, emergindo como uma nova
categoria social, cujas demandas se fazem ouvir a partir de então, graças aos
movimentos de contestação por ela articulados, que banhados pela força e vigor da
juventude, fizeram de Woodstock, das manifestações contra a Guerra de Vietnã no
capitólio e Maio de 68, movimentos representativos do poder de articulação política e
da vontade dessa juventude.

Bibliografia

ABRAMO, Helena Wendel. Cenas Juvenis. São Paulo: Página Aberta Editora, 1994.

BIAGI, Olavo L. O imaginário da Guerra Fria. Disponível on-line


http://www.revistas.uepg.br/index.php?journal=rhr&page=article&op=viewFile&path%
5B%D=47&path%5B%5D=105

RAMOS, Eliana Batista. Anos 60 e 70: Brasil, juventude e rock. São Paulo: Revista
Ágora, Vitória, n.10, 2009, p.1-20

OLIVEIRA, O protagonismo da juventude na contracultura: reverberações


contemporâneas. Rio Grande do Norte: Diálogos & Ciência – Revista da Faculdade de
Tecnologia e Ciências – Rede de Ensino FTC. Ano 9, n. 25, mar. 2011

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