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I., no âmbito dos festivais dra
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gcm, portanto, o espetá
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m-ia ssi- tam bem ii div ers ão, está inserido em um contex
;ili gregos.
de todo apartadas para os
cívico e religioso, esferas não no e, por
stóteles na Poética, é inata ao ser huma
A imitação, como nota Ari
o, drama) já se encon-
, as ati vid ade s de nat ure za mimética (dança, desenh
isso pinturas rupestres. O
cavernas, como revelam as
t 'avam entre os homens das ém, diferente de
nte ceu em Ate nas , no fina l do século VI a.C., foi, por
que aco gos e outros povos
então. Antes, os próprios gre
tudo o que se conhecia até ter viva a me—
seu s mit os co mo for ma de celebrar os deuses e man
encenavam ser observado hoje em
ia de fei tos her oic os do passado — o que ainda pode
mór cursos teatrais, deixa—
tudo, com a criação dos con
muitas partes do globo. Con do espetáculo.
s o imp rov iso ritu al e abr aça—se a proíissionalização
se para trá
a ano, contratam-se
apresentar suas peças a cad
Poetas passam a compor e ignados
vid a às per son age ns por eles criadas, cidadãos são des
atores para dar a exercer a função de
a par tic ipa r do cor o e, os mais ricos dentre eles, par
par egado da premiação.
devem integrar o júri encarr
produtores, enquanto outros o grego, e não
os pas sam a atr air esp ectadores de todo o mund
Os espetá cul
apenas os atenienses. ria teatral
tas se o sur gim ent o de um a prática diferenciada, a teo
Não bas particular no Íon e na
ém apa rec e na Gré cia co m a reflexão de Platão, em
tamb e tratado sobre a arte
na Poética, o mais important
República, e de Aristóteles, erência teórica
que a Ant igu ida de nos legou e ainda hoje uma ref
dramática mos que adentraram o
ort ant e. Con tin ua- se a debater o significado de ter
imp arse (purificação este
mimese (representação), cat
vocabulário crítico, como
ia (falha trágica).
tica das emoções) e hamart poesia, a experiênc ia
al, pela qualidade de sua
Por tudo isso e, em especi no Ocidente. Não
olvimento da arte dramática
grega foi decisiva para o desenv
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(cuja primeira accpcao c acao), integra hoje () VlN'JlHIl." m (iv mmm-m:. linguas mlr nm lx' m, Ix.” rnnlu «» lxll't'UUlll uma ilha
ao redor do planeta. n, tragédia que Eurípides
Embora se possa datar com razoável certeza o início das atividades tea nic, Primeiro (* o deus que surge em
trais em c.535 a.C., com as primeiras representações de tragédias no seio da
pólis ateniense,.sua origem é pouco conhecida. A questão é tão controversa dinnisiams de 'li-lms. Depois e a vez de Pcntcu, que, persuadido por Dioniso,
que um dos helenístas mais influentes do último século, o francés Jean—Pierre travesti» sv pnm espionar as bummer; reunidas nas montanhas. Elas, no en—
Vernant, aconselhava que fosse deixada de lado, porque, mesmo considerando mmo, nao se deixam iludir e, ao descobri-lo, despedaçam-no. Embora outros
que fosse possível resgatar com exatidão a gênese do drama grego a partir de «l mes do panteão grego também sejam capazes de se transformar, Dioniso
rituais agrários, isso não resultaria útil para a compreensão do fenômeno his- r_- alclar de forma mais intensa a percepção que o homem tem de si e da
tórico que perpassa o século V a.C. Ou seja, para Vernant, o teatro praticado ade que o cerca.
em Atenas reflete diretamente as condições sociais e políticas dessa cidade, Aristoteles, na Poética, também remonta a gênese do drama a formas poé-
não devendo mais nada a sua suposta origem rural. Ainda assim, é grande a ticas associadas ao deus do vinho. O ditirambo, um hino coral executado no
tentação para debruçar—se sobre o assunto. ambito das festas em homenagem a Dioniso, estaria na origem da tragédia;
Como as tragédias e comédias eram representadas durante os festivais os cantos talicos, com os quais se acompanhavam as procissões do deus, que
em que se celebrava Dioniso, o culto a esse deus sempre esteve no centro das favorece a fertilidade da terra, na origem da comédia. Por mais simplificadora
especulações sobre a origem do drama. Para os gregos, O ato de ir ao teatro que essa genealogia possa parecer, uma vez que esses dois elementos não
lil m ao uma clara conotação religiosa. Os espetáculos eram precedidos bastam para explicar O fenômeno dramático como um todo, é signihcativo
pm ;_mwissovs cm que a estátua do deus era conduzida até o recinto das re- que mais uma vez Dioniso se encontre no centro da cena.
pwwmug‘ws, onde permanecia ate' o final da competição. Os coros trágicos Assim, pode soar contraditório que o deus apareça tão pouco nos enredos,
(? mmm evolnímn em volta do altar do deus do vinho e diante do seu sacer— quer trágicos, quer cômicos. Tão raramente a sua saga figurava no programa
dote, a quem era reservado um assento na primeira fila da plateia. Banquetes dos festivais dramáticos que os atenienses cunharam a expressão “nada a ver
(* szntriiicios comp 'tavam a programação. com Dioniso", com a qual marcavam o espanto, para não dizer o protesto,
Não resta dúvida de que o deus era visto como o patrono do teatro. Mas diante (lessa ausência notável.
como esse vínculo teria surgido? Em primeiro lugar, em seu culto, o deus era São principalmente os heróis, personagens dos ciclos épicos, que
adorado sob a forma de uma máscara, pendurada em uma coluna recoberta fornecem assunto para as tragédias. Ao ciclo tebano, que reúne os mitos
por uma túnica. A máscara, vale lembrar, e o acessório mais emblemático do relacionados a Tebas, pertence a história de Édipo e seus descendentes — An-
teatro grego, é o sinal da sua alteridade, da capacidade de abandonar-se para tígona, Polinices, Eteócles —, e também a do próprio Dioniso, filho de Zeus
tornar—se outro, ainda que momentaneamente. Além disso, através da música, com a tebana Sêmele. O ciclo troiano aborda os acontecimentos passados
da dança e da ingestão do vinho, os rituais dionisíacos predispunham seus durante a guerra de Troia e os heróis que dela participaram, como Ajax, Fi-
seguidores ao transe, de modo que transcendessem a realidade imediata e loetetes, Helena, e do lado dos troianos Hécuba, Andrômaca e outras troia-
entrassem em comunhão com a divindade. Guardadas as particularidades de nus cativas. Também se ligam a ele as histórias dos Átridas, de Agamenão e
cada caso, na pratica teatral se observa um efeito parecido, já que o que nela seus filhos, Ifigênia, Electra e Orestes. Outros heróis, como Héracles, Jasão,
se busca é uma forma de dar vida a um outro, abdicando da própria identidade. ou ainda Teseu e Íon, especialmente caros aos atenienses, também foram
O deus também se revela hábil nas artes da ilusão. Nos mitos em que objeto de tragédias. Vale notar que me atenho aqui aos títulos que foram
figura, Dioniso mostra-se capaz de modificar sua aparência, adotando os mais conservados, os quais representam apenas uma pequena porcentagem da
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culto junto as populaçocs das cidades, que os consideravam ('llll(l1l(l('5llt'lli'u— 'r :| um cspctri—
zejas, chegando a disputar a primazia de abrigar seus restos fúnebres, como mais conveniente,
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mostra muito bem a tragédia Édipo em Colono, de Sófocles. Reverenciados em ms. lim Atenas, não havia
pois .is peça:» eu 1
eventos esportivos e poéticos, os heróis migraram naturalmente para o palco
tantas opçm's, ja quvns pct; :; emm mnnmslas pala serem apresentadas uma
dos concursos dramáticos.
unica vw, dur nto o festival em que estavam inscritas. Por isso, era difícil que
Percebe-se assim que o mito, entendido como as histórias tradicionais
um espetáculo tosse visto mais de uma vez, embora fosse possível que, depois
e anônimas que versam sobre deuses e heróis, constitui a matéria—prima da
da estreia, houvesse reapresentações eventuais, para homenagear um poeta
tragédia. Quanto a comédia, seu assunto é outro, é o dia a dia da cidade, o
recém-falecido, por exemplo, ou para contemplar localidades mais afastadas
aqui e agora. Seus heróis estavam às voltas com os problemas políticos, que
A de fato, parece que trupes mambembes rodavam todo 0 mundo grego. Por
se propunham a resolver com os métodos mais fantásticos. Suas personagens
outro lado, o comparecimento ao teatro era quase universal — não há consenso
frequentavam as praças e as ruas, como os famosos Sócrates e Eurípides, ou
sobre a presença de mulheres entre os espectadores. Uma política de subsídios
os anônimos taverneiros, artesãos, floristas e feirantes que ajudam a compor
garantia que as camadas mais pobres da população pudessem deixar de lado
o quadro mais vivo, muito embora eivado de exageros, da sociedade ateniense.
o trabalho para acompanhar os três dias de espetáculos.
() teatro tem muito a dizer a respeito de sua época, pois é também um
Outra diferença entre a prática grega e a nossa está no fato de as apre-
acontecimento cívico. Os espetáculos dramáticos entraram no calendário de
sentações ocorrerem não à noite, mas durante o dia e ao ar livre. O teatro
(“Estas de Atenas por iniciativa de seus governantes. Coube a Pisístrato, tirano
grego, com a plateia em semicírculo, disposta a volta da orquestra — um espaço
ateniense, instituir os concursos teatrais na cidade, o que foi mantido pelos
circular ocupado pelo coro — e de frente para a cena, onde ficavam os atores,
representantes da democracia, regime que sucederia a tirania no início do
favorece tanto a acústica quanto avisibilidade. Ainda hoje é possível testa-las. O
século V a.C. Os festivais forneciam uma grande oportunidade para que Ate-
turista que visita o teatro de Epidauro, localizado a curta distância de Atenas,
nas consolidasse sua imagem internamente e a projetasse para além de suas
espanta-se ao perceber que mesmo sentado na última Ela tem visão total da
fronteiras. As Grandes Dionísias, o maior desses festivais, proporcionavam a
orquestra e escuta com clareza o som de uma moeda que cai no chão ou de
ocasião ideal para tal exibição, uma vez que, por acontecerem durante a prima-
um fósforo riscado. Isso nos diz muito acerca dos espectadores antigos, que
vera, quando as condições de navegação eram mais favoráveis, contavam com
faziam questão de ver e ouvir o que transcorria em cena, sem ligar se eles
a presença de muitos estrangeiros entre os espectadores. Paradas militares,
próprios eram vistos pelos outros.
cerimônias em que os órfãos e os heróis de guerra eram homenageados, o de—
As construções em pedra que nos vêm à mente quando pensamos nesse
pósito público dos tributos recolhidos das cidades aliadas, estas eram algumas
espaço ainda não existiam no período áureo da produção ateniense, o século
das atividades que antecediam os espetáculos, somando—se às manifestações
V a.C. Então, as peças eram encenadas em estruturas provisórias, erguidas
de ordem religiosa, por si só solenes. Atenas queria se mostrar uma potência
em madeira e desmontadas após o término dos festivais. A maior parte das
bélica, econômica e cultural.
obras remanescentes foi apresentada nesses recintos improvisados, em que o
Quando o espetáculo começava, as peças se encarregavam de reforçar ou,
palco consistia em um estrado cerca de meio metro mais alto que a orquestra,
por vezes, de contestar essa imagem, dando prosseguimento à exposição da
facilitando o contato entre atores e coreutas, os membros do coro. Um século
cidade. A comédia, por abordar a esfera pública, tematizava a pólis democrática
mais tarde, com a elevação do palco em mais de dois metros, refletindo a
e seus problemas de forma direta, valendo-se da sátira explícita e dirigindo
perda de relevância do coro enquanto elemento dramático, isso já não seria
conselhos a população. Já a tragédia, apesar de ter por objeto o passado mítico,
mais possível ou desejável.
atualizava-o ao apresenta-lo a partir de uma perspectiva ateniense. Assim se
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os coros, CUlL ando de seu sustento durante o periodo cm que durassem os Pouco se salu-
ensaios e do figurino que usariani em cena. smot— rs no menu:. sq, ( :» A1 istolclcs na Poética. Em vista
O coro, formado exclusivamente por cidadãos do sexo masculino, sortea- das condiçoes ilnpmvismlJn «ln “Mum certim no período clássico, construi-
dos a cada ano para a função, somava entre doze e quinze integrantes no caso do a cada apresenta ' ;) nulo para *thrlgelr em sequência três tragédias, um
da tragédia e 24 no da comédia. Sua caracterização podia variar dos usuais drama satírico e uma comedia, :! decoração de cena deveria ser simples e prática,
anciãos e prisioneiras trágicos a grupos de camponeses, pássaros, nuvens limitando-se, talvez, a paineis pintados em madeira ou tecido, que poderiam
ou o que mais ditasse a imaginação dos comediógrafos. O coro trágico é por ser substituídos rapidamente no intervalo entre as peças. No mais, os textos são
natureza mais contemplativo e passivo, limitando-se a comentar a ação e acon- eloquentes, fornecendo diversas indicações para situar os espectadores. As per-
selhar o herói, com quem mantém uma relação de dependência. O da comédia sonagens entravam em cena pelas laterais do palco ou pelas portas localizadas
é mais combativo, por vezes opondo—se ao protagonista, que deve conquista—lo no fundo, que representariam as casas — normalmente a ação dramática se passa
para fazer prevalecer seu ponto de vista. do lado de fora das residências. Os coreutas compartilhavam a mesma passagem
Se os coreutas eram amadores, os atores, em contrapartida, eram pro— utilizada pelo público: o párodo, a entrada lateral, o que reforçava a identidade
fissionais contratados pela cidade. O elenco, limitado a três atores para a tra- entre eles. Uma vez na orquestra, ali permaneciam até a conclusão do drama.
gédia e, por vezes, quatro para a comédia, era composto apenas por homens, O uso da maquinaria cênica estava restrito ao enciclema e à máquina, am-
que, com a ajuda das máscaras, deveriam representar todos os papéis da peça. bos empregados com frequência pelos poetas. O primeiro era uma plataforma
Por vezes podia—se recorrer a figurantes, geralmente sem falas. A Medeia, de rolante, impulsionada através da porta cenográfica, cujo intuito era revelar o
Eurípides, por exemplo, conta com sete personagens — além das crianças, re— interior de uma casa; a segunda, um guindaste que suspendia personagens por
presentadas por figurantes — e as falas eram distribuídas pelos três atores de sobre a cena, representando, em geral, divindades — o célebre deus ex machina. Eu—
acordo com a hierarquia estabelecida entre eles. Assim, o ator principal, ou rípides, na Medeia, faz uso notável dos dois elementos. Medeia declara ao com que
protagonista, ficaria com o papel mais importante, o da heroína que dá nome matará seus filhos, em seguida entra no palácio, de onde se escutam os gritos das
à peça, permanecendo por mais tempo em cena. O deuteragonista e o tritago- crianças. Jasão aparece e força a porta para que se possam ver os corpos — e como
nista, segundo e terceiro ator respectivamente, dividiam os papéis menores. as mortes não ocorriam em cena no teatro grego, mas a exibição dos cadáveres
A direção de cena cabia geralmente ao poeta ou a um dos atores e o diretor era um importante meio de comoção, o enciclema era usado frequentemente
era denominado “professor" (didáskalos). Como ele preparava o grupo para para esse fim. Abertas as portas, a expectativa se frustra, pois nada se vê; mas
uma única apresentação, não havia necessidade de incluir no texto final as ouve-se avoz de Medeia vinda do alto. A heroína está sobre o carro do Sol, que a
indicações cênicas, as didascálias. Os textos, no entanto, fornecem inúmeras transportará a Atenas, onde sepultará os filhos, num uso espetacular da máquina.
informações sobre o estado de espírito das personagens, cuja expressão con- A duração dos festivais dramáticos variou conforme o tempo e as circuns—
gelada da máscara ocultaria, ou relativas à sua movimentação. Presume—se tâncias. Grande parte da produção clássica remanescente data do período em
que estaria a serviço dos espectadores, ajudando-os a acompanhar melhor o que Atenas enfrentava Esparta na Guerra do Peloponeso (431—404 a.C.), que
espetáculo. mudaria os rumos da poderosa democracia ateniense. Durante os quase trinta
Além da máscara, com seu característico esgar de horror ou com a boca anos do conflito, por razões de economia, as apresentações de teatro foram
rasgada em perpétua gargalhada, apresentando as personagens de acordo reduzidas de cinco para três dias.
com o gênero a que se ligavam, compunham o figurino uma túnica, comprida A programação incluía então a encenação de urna tetralogia, composta por
para tragédia ou curta para comédia, e os coturnos“, calçados cênicos, ainda três tragédias e um drama satírico, a cargo de um mesmo tragediógrafo, e de

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hum» Unu- 'mrªumna


ção entre os dramaturgos na Grécia, desconhecendo—sc um único caso em que
o mesmo homem tenha se aventurado a compor tragédias e comédias, como
sugere de maneira provocativa o Sócrates platônico, no final do Banquete.
Esse número reduzido de participantes por festival, seis poetas ao todo, 1m que lucra :| "agr—ªdm. Para Hal-ao, buscar deliberadamente comover os es-
sendo três para cada categoria, sugere que tenha havido uma seleção inicial pectadores, como fazem os lrzxgcdiógratos, é nocivo, pois enfraquece a parte
para definir, dentre os inscritos, os textos que seriam apresentados. Sabe-se, racional da alma, debilitando o cidadão. Daí, entre outras razões, os poetas
entretanto, que a tradição familiar exercia forte influência nesse campo, uma trágicos estarem excluídos da cidade ideal juntamente com os épicos. Ia Aris-
vez que era recorrente a participação dos mesmos dramaturgos ano após ano, tóteles, embora tenha sido discípulo de Platão, compreende diversamente a
não sendo incomum que seus filhos ou sobrinhos seguissem a mesma carreira. questão. Para ele, o prazer da tragédia esta em suscitar e purgar certas emoções,
Por fim, prêmios eram atribuídos ao melhor poeta, ator protagonista e corego, processo que ele denomina catarse. No caso da tragédia, essas emoções seriam
por um júri formado de cidadãos especialmente designados para a função. o terror e a piedade, o que exigiria uma identificação entre o espectador e o
Tragédias e comédias seguiam uma mesma estrutura em sua composição, herói trágico, de modo que aquele pudesse se colocar no lugar do último e
alternando partes dialogadas ou recitadas, a cargo dos atores, com cantos temesse passar pelo que ele passa, apiedando—se dele, que sofre sem merecer.
corais. Resguardadas as particularidades, as peças se iniciam com () prólogo, Desse processo, que Aristóteles não se digna a explicar na Poética, derivaria o
dialogado ou recitativo, no qual são apresentadas as premissas que devem prazer que sentimos ao contemplar obras de natureza artística.
reger a ação, com vistas a situar os espectadores. Segue-se o párodo, seção de
Os gregos consideravam que Téspis, poeta semilendário, teria dado início
natureza coral que marca a entrada do coro em cena, dando indícios de sua
a tragédia ao ter a ideia de destacar um elemento do coro para com ele contra—
caracterização e do Vínculo que mantém com o herói. A partir daí alternam-se cenar, criando assim o primeiro ator; mas foi Ésquilo o primeiro poeta trágico
episódios, em que as personagens contracenam, e estásimos, intervenções
poupado pela ação do tempo. Embora varios poetas tenham participado dos
cantadas em que o coro tece comentários sobre a ação ou dirige súplicas aos concursos dramáticos ao longo do século V, apenas quatro tiveram peças con-
deuses. Dentre os episódios encontra-se o agon, ou combate verbal em que
servadas na íntegra. São eles os tragediógrafos Ésquilo, Sófocles e Eurípides, e
duas personagens entram em conflito, contrapondo seus pontos de vista e o comediógrafo Aristófanes. Eles estão reunidos nesse volume, representados
argumentando até que um deles ceda. Por fim, há o êxodo, a parte final da peça,
através de suas obras mais impactantes, respectivamente: Prometeu acorrentado,
marcada pelo desenlace da trama e pela saída das personagens de cena — aliás,
Édipo rei, Medeia e As nuvens.
é esse o significado da palavra em grego.
Consideradas as convenções do teatro grego, nem tudo poderia ser mos— ADRIANE DA SILVA DUARTE

trado em cena. Mortes no palco, cenas que requerem uma multidão, milagres,
não eram encenáveis. Também não eram factíveis mudanças bruscas de cená—
rio. Há, no entanto, uma personagem, responsável por trazer aos olhos dos
espectadores aquilo que eles não podem testemunhar diretamente: () mensa—
geiro. Ele é uma espécie de espectador privilegiado, que relata a plateia o que
Adriane da Silva Duarte é professora de língua e literatura grega na USP, onde defendeu mestrado
viu dentro das casas, no campo de batalha, o que se passa no acampamento e doutorado sobre a comédia grega. É autora, entre outros, das traduções das comédias As aves,
inimigo ou na cidade vizinha. Na Medeia, o mensageiro surge para narrar o Lisístrata e As tesmoforiantes, de Aristófanes, e dos livros O dono da voz e a voz do dono: A parábase na
comédia de Aristófanes e Cenas de reconhecimento na poesia grega, além do infantil O nascimento de Zeus
fim trágico de Creonte e sua filha, envenenados pelos presentes que a heroína e outros mitos gregos.

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