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ORIGENS DO DRAMA NO OCIDENTE

Os alicerces da dramaturgia ocidental estão no teatro grego clássico.

A TRAGÉDIA GREGA
O vocábulo “tragédia” significa drama trágico: uma composição literária escrita
para ser interpretada por atores em que a personagem central se chama
protagonista trágico, ou herói, que sofre uma série de infortúnios que não são
acidentais, mas que estão logicamente vinculados às ações do herói.
A tragédia sintetiza a vulnerabilidade dos seres humanos, cujos sofrimentos
são trazidos pela combinação de ações humanas e divinas.

A receptividade da Tragédia.

A tragédia desde de seus primórdios foi um gênero popular de Atenas. Era


encenada num teatro para uma platéia. No IV século AEC, o filósofo Aristóteles em
sua “Poética”, mostra que através da simples leitura é possível experimentar as
mesmas emoções de uma encenação, determinando a natureza literária do texto
teatral.
A leitura, no entanto, não substitui a encenação, com seus efeitos visuais e
conexão entre atores e público. Nossa palavra TEATRO vem do verbo grego
“Theiasthai”, que significa “ver como espectador”. A palavra DRAMA vem do verbo
“Dran”, que em grego clássico quer dizer “ação”.
Na Grécia clássica o autor não se limitava a escrever a peça. Se o texto era
aprovado para o Festival de Dionísio, o estado o contratava para ensaiar os atores e
o coro, compor a música, além de coreografar as cenas dançadas.
Hoje as tragédias gregas são mais lidas que encenadas, sendo a palavra
escrita dos dramaturgos o meio mais importante de as conhecermos. Segundo
Aristóteles, o enredo é a alma da tragédia, e este é comunicado ao público por meio
de palavras. As tardes de emoções fortes dos teatros gregos já se perderam no
tempo. Ficaram máscaras, pinturas e esculturas sobre personagens e cenas, que só
nos dizem um pouco do que foi aquele teatro extraordinário. Felizmente sobraram
intactas algumas peças, que nos a dimensão exata da grandeza daquele teatro e de
seus autores. Porque TUDO NO TEATRO É EFÊMERO, MENOS O TEXTO
TEATRAL.

O FESTIVAL TRÁGICO

O teatro em Atenas era financiado integralmente pelo estado como parte


integrante do festival religioso da cidade de Dionísia. O teatro no Ocidente já nasceu
profissional e subsidiado por verbas públicas.
Três poetas trágicos (dramaturgos) eram escolhidos por um magistrado, o
“archon”, e apresentavam cada um três tragédias e uma comédia, numa manhã do
festival. Apenas a trilogia “Orestéia”, de Ésquilo sobreviveu. A trilogia conta a história
da Casa dos Atreu, do assassinato de Agamenon pela esposa, quando de seu
retorno de Tróia, à vingança de Orestes, seu filho, que mata a própria mãe.
As tragédias de Sófocles e Eurípides não faziam parte de trilogias.
As comédias, denominadas “peças com sátiros”, trabalhavam com um coro
vestido como sátiros, que eram espíritos das florestas de formas humanas, mas
com orelhas e rabos de cavalos. Apenas uma dessas peças sobreviveu, “Os
Ciclopes”, de Eurípides, uma paródia das aventuras de Ulisses e o gigante
Polifremo.

O TEATRO GREGO

O teatro de Dionísio era um auditório ao ar livre. E como não havia iluminação


adequada, as peças eram encenadas de dia. As cenas noturnas eram informadas
pelo coro, que também dizia o local, descrevia o clima, ajudando a imaginação da
platéia. As cenas das tragédias aconteciam ao ar livre, em frente a palácios ou
templos. Cenas de interior, comuns nos nossos teatros, não existiam. No mundo da
democracia grega, tudo o que era socialmente relevante acontecia em praça pública,
aos olhos dos cidadãos. O clima temperado da Grécia ajudava este costume
gregário.
Quase todos os termos técnicos usados no teatro moderno, em todas as
línguas cultas, derivam do grego clássico.
ESTRUTURA DA TRAGÉDIA

A tragédia tem uma estrutura característica em que as cenas com diálogos se


alternam com cantos corais. Essa alternância permite ao coro comentar em cada
canto o que foi dito ou feito na cena precedente. Muitas tragédias começam com
uma cena expositiva, com um diálogo ou monólogo chamado PRÓLOGO.
Após o prólogo o coro entra em cena cantando o PÁRODO. A seguir vem
uma cena com diálogos, chamada EPISÓDIO, seguida pelo primeiro ESTÁSIMO
(ode cantada pelo coro). A alternância de episódios e estásimos seguem até o último
estásimo, sendo a tragédia concluída pelo EXODO, que em geral é uma cena de
diálogos.

ABAIXO UMA TÍPICA ESTRUTURA DA TRAGÉDIA.

Prólogo Párodo
Primeiro Episódio Primeiro Estásimo Segundo Episódio Segundo Estásimo
Terceiro Episódio Terceiro Estásimo Quarto Episódio Quarto Estásimo Quinto
Episódio Quinto Estásimo Êxodo

Vejamos o começo da tragédia “Os Persas”, de Ésquilo:

“Cenário.
Ao fundo o palácio real, diante do qual se reúnem os anciãos conselheiros
do rei, componentes do CORO, que entram em cena.
CORO
Aqui estamos nós, que entre os persas Atualmente ausentes lá na Grécia
Somos chamados de Fiéis por todos, Vigias da opulência de um palácio Onde há
imensa quantidade de ouro. Pelo fato de sermos nobres
O próprio Xérxes, grande rei da Pérsia, Filho e sucessor de Dario,
Deu-nos a incumbência de zelar Pelo país durante a sua ausência. O
coração, porém, profeta inquieto, Já pressagia em nosso peito aflito
Calamidades quanto à volta à pátria Do enorme exército coberto de ouro E de
nosso senhor, seu comandante; As forças todas dos filhos da Ásia Levadas para a
guerra já murmuram Contra seu jovem rei, e não chegou À capital dos persas um
arauto
Ou mensageiro em rápido corcel, Embora o esperemos ansiosos.
Deixando Ecbátana, deixando Susa E as antiqüíssimas muralhas císsias,
Partiram incontáveis combatentes,
Uns a cavalo, outros em muitas naus E a pé o grosso de nossos soldados, A
multidão de bravos lutadores.
Foram assim para as duras batalhas, Amistres, Artafernes, Megabates
E Astaspes, os comandantes dos persas, Submissos apenas ao grande rei,
à frente de forças incalculáveis.
Com eles foram seus archeiros ótimos E seus assustadores cavaleiros,
Terríveis nos combates, impelidos Pela bravura de seus corações.
Estavam entre eles Artembares, Que luta sem abandonar o carro, Masistes e
Imeu irresistível, Arceheiro triunfante, e farandaces, Que sempre fustigava seu
cavalo. O caudaloso Nilo fecundante
Constribuiu também como muitos homens: Susícanes, Pegástenes ilustre,
Filho do rei Egito, Artames, rei
Da sacra Mênfis, e o senhor de Tebas, cidade muito antiga – Ariomardo -,
E os hábeis navegantes, cujos barcos Avançam rápidos vencendo os
pântanos, Constituindoum contingente imenso.
Vinha em seguida a multidão de lídios Voluptuosos, que dominam sós
Toso os povos do continente. Artreu e Metrogartes valorosos,
Seus régios chefes, e Sárdis dourada Deram-lhe ordens para ir a lutar Em
carros aos milhares e puxados
Por quatro a seis cavalos, agrupados Em esquadrões – insólito espetáculo! Os
reis da região do alto Tmolo, Montanha sacra – Tábiris e Márdon, Dois baluartes
diante da lança -, Alardeavam sua decisão
De impor da penosa escravidão Valendo-se de seus mísios exímios
No lançamento dos dardos mortíferos. Da Babilônia, outra cidade áurea,
Chegaram multidões de combatentes Em suas naus, soldados orgulhosos
Dos arcos que empunhavam com mãos fortes.
À sua retaguarda, recrutados
Em toda a Ásia, vinham combatentes Armados com espadas, sempre dóceis
Às ordens terminantes de seu rei.
Estava de partida a fina flor
Dos guerreiros e de todo o império persa, E por eles chorava a Ásia inteira
Repleta de saudades. Pais e esposas Estão aqui contando os muitos dias
E trêmulos com o tempo que se alonga. (...)”

Desde suas origens nos teatros de Atenas a 2500 anos atrás, de onde
herdamos parte da obra de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, e as singulares
articulações com Lope de Vega, Shakespeare, Racine e Schiller, às modernas
incursões de Strindberg e Beckett, a tragédia se desenvolveu provocando as
mesmas reações paradoxais. Embora outras culturas tenham criado espetáculos
semelhantes, a tragédia se inscreve numa tradição específica e é parte indissociável
da identidade da cultura Ocidental.
Tragédia, do grego clássico “tragoeidia”: canto do bode. O gemido do
sofrimento humano que oferece ao público uma lição.
Na era clássica a poesia se dividia em épica e lírica, e o teatro em tragédia e
comédia. Hoje o teatro se divide em tragédia, comédia, drama, melodrama,
tragicomédia e teatro épico.

Nietzsche e a Tragédia.

No ensaio de juventude “O Nascimento da Tragédia”, Nietzsche traça a


evolução da tragédia desde os antigos rituais, através da junção dos ritos apolíneos e
dionisíacos. Para Nietzsche a tragédia perde força com a filosofia de Sócrates que
acredita no poder da razão em superar e compreender os mistérios da existência. A
tragédia clássica, portanto, seria a arte da aceitação sensual dos terrores da
realidade e a celebração desses terrores através do amor e do destino.

A PRÁTICA DA DRAMATURGIA

ESCREVENDO PEÇAS HOJE


Em 1921 o crítico teatral americano Georges Polti sentenciou que os autores
contavam com apenas 36 situações dramática para criar uma peça. Seu livro se
chamava exatamente assim: “As 36 Situações Dramática”.
Tanto Polti quanto muitos outros pragmáticos americanos não acreditavam
em novas idéias, na noção de originalidade. Talvez eles tenham razão,
provavelmente não há mais idéias novas. Mas se não há mais idéias novas, resta a
originalidade de cada autor ao observar a vida de seu único e exclusivo ponto de
vista.
Para conseguir isto o autor tem de ter uma filosofia.
Quando um autor tem um ponto de vista distinto, o número de histórias
possíveis é ilimitado.

TODA PEÇA COMEÇA COM UMA IDÉIA.

A idéia tanto pode surgir de um fato, de uma notícia na TV ou de certa


experiência de vida. Os dramaturgos são movidos pelas suas memórias, sonhos,
pesadelos, ressentimentos e ações frustradas.
A melhor idéia é aquela que vem com duas características: ela tem de ter um
poder propagador, como uma centelha ateando fogo à imaginação, obrigando o
autor a meditar, a pensar; e tem de ser uma idéia que possa ser encenada
teatralmente.

Vejamos alguns exemplos de idéias:

PERSONAGEM
Peça 1 – Um avião cai num rio amazônico. A equipe de salvamento não
consegue chegar a tempo e todos os passageiros são dados como mortos. No dia
seguinte um familiar recebe uma ligação de celular: mesmo no fundo do rio há
sobreviventes. Começa uma corrida contra o tempo, para salvar aquelas vidas.

O tema é interessante, tem suspense. Mas é encenável? É teatro? E não é


uma idéia completa, pois não há personagens. Quem são esses sobreviventes?

HISTÓRIA/AÇÃO
Peça 2 – Um jovem autor queria fazer uma peça sobre seu avô, que viveu
até os 100 anos. Viveu uma vida dura, foi pracinha da II Guerra Mundial, operário
num estaleiro. A idéia é fazer uma peça que fale da necessidade de viver o presente.

Não é uma idéia completa. O autor tem o esboço de uma personagem, e o


resto?
Como vai se desenrolar esta peça?

CONFLITO/CRISE
Peça 3 – A autora decidiu escrever sobre sua infância, pois desejava criar
uma peça real, sobre uma vida real. Foi uma infância feliz numa família amorosa.

A autora não apresenta muitos detalhes, mas a idéia está incompleta, pois se
a família é assim tão perfeita, não haverá crise e conflito. Elementos essenciais do
drama.

UNIDADE
Peça 4 – É a história de uma mulher atravessa de carro a transamazônica,
tentando escapar de um péssimo casamento.

É uma idéia incompleta para uma peça, pois embora ali se encontrem bons
elementos para crises e conflitos, não há unidade. A personagem anda sem rumo e,
portanto, não tem unidade.\\

VERDADE
Peça 5 – Homem quer matar a esposa. Espera numa praça por onde ela
passa ao sair do trabalho, para apunhalar a mulher. Na hora a esposa tenta se
defender e cai sobre uma grade de ferro. Uma das lanças atravessa-lhe o coração.
Levado a julgamento, o homem é absolvido e tenta reconstruir sua vida.

A história aparenta possuir boas idéias para ser uma peça, mas falta verdade.
Não é verossímil. Uma peça só tem sentido se suas ações forem aceitas pelo
público.

DURAÇÃO TEATRAL
Peça 6 – O autor deseja escrever uma peça que conte a saga da conquista
da Amazônia. De Pedro Teixeira ao golpe militar de 1964.

O teatro é uma forma de expressão com suas limitações. A saga amazônica


proposta dificilmente poderá caber numa peça, mesmo seguindo a experiência do
Teatro Épico de Brecht. O tema pode ser um filme ou um romance.

ESCALA DE DURAÇÃO

Poema Conto Peça de Teatro Roteiro de Filme Mini-


Série Romance

Maior Duração

IDÉIA CINEMATOGRÁFICA
Peça 7 – É a história de um grupo de jornalistas e intelectuais que
freqüentam numa noite de sábado diversos bares de uma cidade. Na medida em
que avança a noite e a cada bar eles vão revelando suas frustrações e desejos sem
inibição.

O problema desta idéia para uma peça teatral é que o autor tem imaginação
cinematográfica.

CONHECIMENTO DO TEMA
Peça 8 – Durante a construção de uma hidrelétrica na Amazônia, a empresa
decide alfabetizar os trabalhadores e contrata uma professora indígena. A
professora é hostilizada pelos trabalhadores por ser índia e história acaba em
violência e tragédia.

É uma excelente idéia para uma peça. Tem todos os requisitos, desde que o
autor tenha profundo conhecimento sobre questões raciais e o problema dos povos
indígenas.

MODISMO
Peça 9 – Um autor decidiu inventar uma história romântica que se passa
num Shopping Center, por acreditar ser uma coisa da moda que vai atrair público.

O problema é que o sucesso é algo aleatório. Quando muito o autor pode


conseguir escrever uma história sem profundidade, o que não garante sucesso.

SE UMA IDÉIA TEM A DURAÇÃO APROPRIADA.


UNIDADE.
CRISE E CONFLITO.
PERSOANGENS, E VERDADE.
SE NÃO É CINEMATOGRÁFICA.
MAS ACIMA DE TUDO É ALGO QUE VOCÊ CONHECE. ENTÃO ESTA É
UMA BOA IDÉIA.
ESCOLHA UMA IDÉIA E VEJA SE ELA CONTÉM OS INGREDIENTES
ABAIXO:

DURAÇÃO TEATRAL, PERSONAGENS ENTRECHO, AÇÃO


CRISE E CONFLITO,UNIDADE E VERDADE

EXERCÍCIOS
Escrever a partir dos seguintes tópicos.
Antigas memórias
Sonhos e pesadelos
Mágoas
Coisas inacabadas
Injustiça
Notícia de jornal
Fatos testemunhados
Poema
Foto
A partir de sua idéia, responda as perguntas abaixo: Qual é a ação?
Quem são as personagens? Qual é o conflito?
Qual é a crise? Qual é a unidade? Tem verdade?

É UMA BOA IDÉIA?

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