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História do Teatro prof.

Ariel Moshe 1

ÉSQUILO

Desde que Téspis recebera o prêmio dramático em 535 a.C., as peças não eram
muito mais que oratórios animados fortemente influênciados pela poesia mélica que exigia
acompanhamento musical com instrumentos e pela poesia coral que era suplementada por
expressivos movimentos de dança. Um coro dançava e travava um diálogo com um ator que
interpretava uma ou mais personagens através do uso de máscaras.
É bem verdade que a tragédia adquirira novas perspectivas nas mãos dos
dramaturgos: Overilo, Pratinas, Frínico que sucederam a Téspis. Frínico, em especial,
contribuiu de forma extraordinária para o drama primitivo, introduzindo personagens
femininas desenvolvendo as passagens líricas e descritivas muito admiradas pelos gregos.
Uma de suas peças históricas, “As Fenícias”, que celebrava a vitória ateniense em Salamina,
permaneceu popular durante todo o século V. Contudo, em geral as primeiras peças não
abrangiam muita ação nem tinham suas personagens precisamente caracterizadas, e apenas
conflitos elementares podiam ser nelas representados. O teatro físico também se apresentava
rudimentar, e o palco tal como conhecemos era praticamente inexistente. Quase toda a ação
tinha lugar na arena circular para danças, chamada "orquestra" um vestígio dos velhos
tempos nos quais o drama fora pouco mais que uma dança circular ao redor de algum objeto
sagrado.
Na melhor das hipóteses haveria uma cabana, conhecida por “SKENE” na parte
de trás da orquestra, onde os atores podiam envergar e trocar suas roupas e máscaras.
Ésquilo precisava escolher entre o quase ritual e o teatro, entre o coro e o drama.
Seus coros são os mais longos do drama grego e são notáveis pela variedade
métrica. Em sua tragédia AGAMEMNON, esforçou-se para fazer do coro um elemento
ativo . O côro dos anciãos briga com o amante da rainha e está prestes a atirar-se sobre ele
quando é detido por Clitemnestra. O côro das Fúrias em “As Eumenides” desempenha
função dramática ao perseguir ativamente o filho torturado pela consciência por haver
assassinado a mãe.
ÉSQUILO trabalhou para aumentar as partes representadas de suas peça , os trechos
a que os gregos davam o nome de Episódios. Na tentativa de superar a inércia da forma
estabelecida, Ésquilo deu um grande passo ao introduzir o segundo ator na tragédia.
Com o tempo, adquiriu também um terceiro ator dialogador, introduzido por
Sófocles, e atingiu assim o supremo grau de individualização na tragédia grega. Se três
atores nos parecem insuficientes, precisamos lembrar que eles se multiplicavam pelo uso das
máscaras, eram aumentados os personagens mudos como os servos e os soldados, e que os
efeitos de multidão sempre podiam ser obtidos através do coro.
Ésquilo se não foi ator como seus predecessores, foi um excelente diretor e
encenador, que conhecia o valor da pausa de efeito e as usava com frequência.
Muitas das suas personagens são personificações sobrenaturais de forças naturais e
figuras mitológicas fantásticas, entre elas, ocupam lugar de destaque "Io" com seus cornos de
vaca, o curioso "Oceano" que cavalga um cavalo alado, as "Hapias" que roubam comida de
"Fineas" numa peça perdida, e o titã "Prometeu".
As tragédias contêm aparições de fantasmas, como "Dario", o rei morto invocado em
"Os Persas" e a assassinada "Clitemnestra" cujo espírito errante aterroriza Orestes, seu filho
matricida, em "As Eumênides".
Quando Ésquilo colocou "As Fúrias" em cena de forma tão realista, provocou pavor
nas crianças e abortos na platéia. O figurinista era o próprio Ésquilo, colocando no palco as
tochas simbólicas, os cabelos entrelaçados de serpentes, os olhos aterradores das "Fúrias".
Resolvido a fazer de seus atores as figuras mais impressionantes possíveis, num
teatro como o de Atenas, que abrigava até vinte mil espectadores, aumentou a estatura dos
intérpretes com sapatos e coturnos adaptados com saltos altos.
Embora Téspis usasse máscara de linho e Frínico introduzisse as máscaras
femininas, foi Ésquilo quem primeiro empregou máscaras expressivamente pintadas.
Decorava seu palco com objetos requeridos nas peças, começando já a usar a
maquinaria e os efeitos cênicos.
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SÓFOCLES

Nascido em 495 desfrutou das comodidades de filho de um rico mercador e das


vantagens de um belo corpo, bem como dos frutos de uma das mais civilizadas épocas da
história mundial.
Vivendo numa aldeia foi educado musicalmente pelo renomado musicista Lampros,
crescendo cultuando sua beleza física e uma doutrina espiritual. Aos dezesseis anos foi
escolhido para liderar o coro de meninos que comemorou a vitória de Salamina.
Após doze anos dispendidos nos estudos e no treinamento literário, Sófocles estava
pronto para competir com os dramaturgos já em exercício, e não foi outro, senão Ésquilo, quem
perdeu para ele o primeiro premio.
Ator consumado, interpretava suas próprias peças, tendo conquistado fama por sua
perícia acrobática em “Nausicaa”, entretendo o público com um número de prestidigitação com
bolas, longamente recordado por seus contemporâneos. Apenas a relativa fraqueza de sua voz
que o levou a escolher um papel feminino em “Nausicaa”, o fez abandonar prematuramente sua
carreira de ator.
O segredo do triunfo de Sófocles como dramaturgo foi sua compreensão da natureza de
seu meio de expressão mais claramente do que qualquer outro dramaturgo grego. Ë verdade que
não conseguiu violar a proibição de se encenar a morte de um personagem, assim como seu
sucessor Eurípides, também não foi capaz de banir a convenção que dava destaque ao coro.
Mas, sendo obrigado a usar o coro, Sófocles reduziu-o, relegando-o ao segundo plano.
Seu coro tornou-se primordialmente um grupo de espectadores que seguia a ação dramática de
perto, reagindo emocionalmente e comentando-a sem perder-se em generalizações irrelevantes.
Sentiu-se também livre para aumentar as complicações dramáticas das peças.

EURÍPIDES

Dizia-se que Eurípides passava os dias sentado, a meditar, desprezando o lugar comum,
melancólico, reservado e insociável.
Permanente alvo dos poetas cômicos, especialmente de Aristófanes, tornou-se objeto
das mais desenfreadas calúnias e zombarias. Sua vida privada foi invadida por acusações
segundo as quais era um marido traído e de que não suportava mulheres. Foi julgado
impediosamente abandonando Atenas totalmente desacreditado.
A corte Macedônia do rei Arquelau honrou-o recebendo-o de braços abertos e neste exílio
voluntário encontrou companheiros. Mas foi breve sua vida na corte Macedônia, apenas
dezoito meses, encerrando-se por um acidente. Conta-se que foi estraçalhado por cães mastins
do rei, hipótese bastante plausível na selvagem Macedônia. Seus ossos permaneceram
enterrados em solo estrangeiro, pois o rei Arquelau se recusou a entregar o corpo à Atenas, que
subitamente despertou para o fato de que perdera um grande homem, mas foi obrigada a
contentar-se com a construção de um cenotáfio.
Ainda que Sócrates não pareça ter sido um de seus amigos íntimos, o mais sábio homem de
Atenas colocava-o acima de todos os outros dramaturgos e jamais ia ao teatro senão quando
Eurípides tinha uma de suas peças encenadas e chegava mesmo a empreender longas
caminhadas de Atenas ao porto marítimo do Pireu para ver uma tragédia euripidiana.
Sófocles respeitava seu colega dramaturgo, ainda que não aprovasse seu realismo, mas
vestiu seu coro de negro quando soube da morte de Eurípides.
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Eurípides permaneceu suscetível aos valores estéticos da adoração religiosa até o fim de
seus dias. Em “Ion” e “As Bacantes”, recria-se a beleza e a maravilha da adoração divina.
Eurípides, ante a imensa manifestação de cultura que cintilava em sua terra natal, exultava
de orgulho patriótico. Quando Atenas se empenhou na luta de vida ou morte contra a Esparta,
anti-intelectual, provinciana e militarista, ele correu em defesa de sua pátria não apenas como
soldado empunhando armas, mas como propagandista que exaltava seus ideais.
Como percebeu Aristóteles, a tensão nervosa nas peças de Eurípides faz dele o mais
dramático dos dramaturgos gregos. A maior parte de sou trabalho encerra muita ação com
características complexas e multidimensionais. Enquanto brincava de cabra cega com seu
público, conseguiu criar o mais vigoroso realismo e crítica social da cena clássica.
O povo simples começou a aparecer em suas peças e seus heróis homéricos, socialmente
superiores eram personagens anônimos ou desagradáveis. Seus Agamenon e Menelau são anti-
heróis, como se Eurípides desejasse mostrar aos espectadores o que eram na realidade os heróis
militares convencionais. Outras personagens homéricas como Electra e Orestes são até hoje
casos caros à clínica psiquiátrica. Ademais, Eurípides é o primeiro dramaturgo a dramatizar
conflitos internos do indivíduo, sem atribuir a vitória final aos impulsos mais nobres. Temos
exemplos de personalidades divididas, por exemplo, em “Medéia”, quando a esposa enganada
luta entre o amor pelos filhos e o desejo de punir o pai deles, seu amado Jasão, matando-os. Em
“Alceste”, quando Admeto oscila entre o amor à vida e afeição pela esposa, cuja morte é a
única coisa capaz de salvá-lo.
A obra de Eurípides constitui, sem dúvida alguma, no protótipo do moderno drama realista
e psicológico.
Devotou uma peça inteira aos males do imperialismo e da agressão militar. A guerra que
pede sacrifícios tais como a imolação da donzela “Ifigenia”, que é sacrificada a fim de que as
naves possam zarpar para Tróia, suscita sua mais violenta ira e desprezo.
Não pensem que suas vítimas permanecerão objetos de inocente impotência. Fortemente
pressionadas, podem muito bem se tornar demônios com fúria, ódio e como a rainha troiana
em “Hecuba”, poderão pelo desespero tanto destruir quanto serem destruídos.
Completando seu trabalho, Eurípides volta-se para os líderes mundanos e celestiais da
humanidade, e julga ambos imensamente desprezíveis. Os primeiros são tiranos intrigantes,
covardes e empedernidos que estão muito distantes de seus sósias homéricos.
Quanto aos deuses, são duplamente perigosos, pois não apenas refletem a mentalidade
primitiva do homem como também servem de mau exemplo.

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