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Os festivais religiosos

O teatro, na Grécia antiga, está insertido em um conjunto de manifestações religiosas.

Jogos pan-helênicos: Olímpicos (em Olimpia), píticos (em Delfos), nemeus (em Nemeia) e istmicos (no
Istmo).

Os jogos olímpicos e píticos ocorriam a cada 04 anos e os nemeus e istmicos a cada 02 anos.

Os jogos olímpicos abrangiam apenas provas esportivas (hipismo e ginásticas), os outros três abrangiam
provas esportivas e musicais.

Os festivais dramáticos atenienses estão intimamente associados ao deus Dioniso. Ele é o deus da
videira, do vinho, do delírio místico e do teatro, celebrado em animadas procissões que seriam a origem
da comédia. É também um deus de origem rural e, por conseguinte, popular. Está associado à fertilidade,
o que é corroborado pelas falofórias (procissões em que se levava um grande falo em honra ao deus)
que havia, por exemplo, nas Dionísias Rurais. Ele aparece, em certas, representações, acompanhado de
sátiros e mênades.

Sátiros: seres míticos representados por um misto de homem e cavalo ou homem e bode, com orelhas e
cauda longa, com o mebro sexual sempre em ereção e em proporção exagerada.

Mênades: mulheres míticas que serviam a Dioniso, estavam sempre tomadas de um delírio divino que as
impulsionava a um comportamento exagerado e a uma agitação incontrolável, expressão de uma
sexualidade cheia de furor.

Os sátiros e as mênades representam, assim, o exagero, inclusive sexual, tanto masculino como
feminino, resultante da influência dionisíaca.

O nome teatro

(théatron) quer, portanto, dizer “lugar de observação”, “observatório”.

O termo “spectaculum”, em latim, quer dizer “aquilo que você observa, que você vê” e o lugar ao qual
você vai para observar é o théatron, o observatório.

O que se observa no teatro é o espetáculo, ou seja, aquilo que é objeto de observação.

O teatro era para os gregos aquilo que a TV é para nós hoje, um meio de comunicação e de diversão em
massa.

O termo que os gregos usavam para esse conceito era δράμμα (drámma), que deu o nosso “drama”. Por
isso se diz que o teatro pertence ao gênero dramático. O teatro é drama, isto é, “ação”; teatro é poesia
em movimento, em ação.

A estrutura física
O teatro foi, então, construído em forma de um semicírculo de frente para o palco. Para que os que
estivessem atrás pudessem ver a ação, a construção subia pouco a pouco, utilizando-se de degraus que
formavam uma arquibancada. O caráter religioso dos festivais teatrais fica bem evidenciado pela
presença de um altar na orquestra.

Máscaras e figurino

Os atores usavam roupas características, o que hoje chamaríamos de figurino, e máscaras. Por vezes
usavam revestimento para criar uma barriga ou nádegas maiores. Podiam ter também um pênis
pendurado na cintura, com função cômica, feito normalmente de couro e geralmente avantajado,. Esses
elementos permitiam a caracterização e, portanto, a melhor identificação dos personagens. Era
fundamental que o público, parte do qual estava muitas vezes distante do proscênio, pudesse identificar
facilmente os personagens. As máscaras permitiam, também, criar efeitos semelhantes à nossa moderna
maquiagem, com cores, presença ou ausência de cabelo (para simular a calvície), de barba, traços
indicando velhice ou juventude etc. Podia cobrir apenas o rosto ou também o crânio e era amarrada com
fios ou correias na parte posterior da cabeça.

Autores e obras

Na Grécia, três tragediógrafos e dois comediógrafos tiveram algumas de suas obras conservadas através
dos séculos. São eles: Ésquilo, Sófocles, Eurípides (tragediógrafos), Aristófanes e Menandro
(comediógrafos). Em Roma, dois comediógrafos, Plauto e Terêncio, e um tragediógrafo, Sêneca, são os
mais conhecidos.

Gênero dramático: tragédia e comédia

O teatro pertence ao gênero dramático. Sendo o gênero dramático, um subgênero da poesia. Dentro do
gênero dramático podemos ter subgêneros, os principais são: tragédia e comédia.

Tragédia, em grego, diz-se τραγῳδία, que é um termo composto de τράγος (trágos) e de ᾠδή (oidé,
cognato de ἀείδω (aeído), o verbo cantar, que deu “aedo”, em português). Este último termo deu, em
português, a palavra ode, que significa propriamente “canto”. A tragédia e a comédia são, portanto,
cantos.

Algumas hipóteses foram levantadas para explicar o significado do termo tragédia:

a) o “canto do bode” poderia ser o canto realizado por um coro no momento de um sacrifício religioso
(lembre-se da origem religiosa do teatro) cuja vítima era um bode;

b) o canto poderia ser executado por um coro fantasiado de bode em cerimônias ou procissões
consagradas a Dioniso;

c) o bode aparece mencionado, em uma inscrição do séc. III a. C. (mármore de Paros), como o prêmio do
concurso teatral em Atenas desde o ano 530 a. C.

O termo comédia, em grego, é κωμῳδία (comoidía). O segundo elemento é, obviamente, o mesmo ᾠδή
(oidé) que encontramos em “tragédia”. E quanto à primeira parte da palavra? Nela encontramos o
radical κωμ- (kom-). Algumas hipóteses foram levantadas para tentar explicar o sentido dele:

a) comédia viria de κῶμος (kômos), que era um cortejo ou procissão que percorria as ruas, com cantos e
danças em honra a Dioniso;

b) o radical vem do termo κῶμα (kôma), que significa “sono profundo” (deu origem ao termo médico
“coma”), pois a comédia teria se originado do fato de grupos de camponeses irem à cidade, de
madrugada, quando todos dormiam, para cantar cânticos com críticas e ofensas a figuras importantes da
vida pública;

c) o radical está ligado a κώμη (kóme), que significa “vilarejo”; os a utores de farsas, que não eram
tolerados na cidade e eram impedidos de nela exercer sua arte, passaram a apresentar seus cantos nos
vilarejos (κῶμαι – kômai)

Temática

Salvo raras exceções, nas quais se abordam temas históricos, a tragédia grega clássica tem como fonte de
seus temas os grandes mitos.

A comédia tem uma temática variada. E, por vezes, ela se serve da tragédia como escada, parodiando
tragédias conhecidas do público e, por assim dizer, transformandoas em algo digno de riso. A comédia
tem, via de regra, uma temática atual.

O teatro pertence ao âmbito da poesia. Ele possui, portanto, uma série de elementos característicos do
gênero poético: métrica, ritmo, música. A palavra teatro vem do grego théatron, que significa “lugar de
observação”, “observatório”. O teatro, como nos mostra sua etimologia, tem um elemento novo que o
caracteriza: o visual. O gênero dramático apela para a visão, sem deixar de lado a parte auditiva que
caracteriza a poesia. O teatro, na Grécia antiga, nasce como uma manifestação religiosa. Os gregos
possuíam inúmeras festas religiosas espalhadas pelo ano. Algumas eram de maior importância e
duravam alguns dias. Já no período arcaico, há festivais em que competidores disputam prêmios em
diversas modalidades esportivas e musicais. Essas competições estavam inseridas em festivais religiosas
em honra a diferentes deuses. Em Atenas, o teatro vai se desenvolver no âmbito de festas dedicadas ao
deus Dioniso.

A estrutura física do teatro compreendia o auditório, ou melhor, o observatório, que era onde o público
ficava (e que era o teatro propriamente dito) e tinha uma forma semicircular, envolvendo parcialmente a
orquestra, local de forma circular onde o coro ficava cantando e dançando. Junto à orquestra, em
oposição ao “observatório”, ficava o proscênio (palco) e, atrás deste, a skené (bastidores). No meio da
orquestra, havia um altar, o que mostra como o teatro pertencia ao âmbito das manifestações religiosas.

No teatro grego, já encontramos quase todos os elementos de nosso teatro moderno: figurino, cenário,
máscaras (que podem ser assimiladas à maquiagem), efeitos especiais (mekhané e outros recursos). As
máscaras tinham uma função primordial. No modelo clássico do séc. V a. C., havia apenas três atores no
palco, além do coro, que ficava na orquestra. Os atores tinham, frequentemente, mais de um papel na
peça. As máscaras serviam para permitir essa variação de papéis e também para auxiliar o público a
identificar os diferentes personagens. Como os atores eram sempre homens, as máscaras e o figurino
permitiam que eles representassem papéis femininos.

Entre os incontáveis dramaturgos da Antiguidade, alguns nomes se imortalizaram.

Entre os gregos, temos três grandes tragediógrafos – Ésquilo, Sófocles e Eurípides – e dois comediógrafos
– Aristófanes e Menandro. Entre os romanos, temos Sêneca, um tragediógrafo, e Plauto e Terêncio,
comediógrafos.

A temática abordada no teatro varia segundo os subgêneros. A tragédia explora temas tradicionais,
tirados dos mitos. O tragediógrafo não tem muito espaço para criar sua temática, mas sua arte reside no
modo como aborda os diferentes mitos e nos elementos secundários ou periféricos que recria ou
introduz. A comédia, no séc. V a. C., tem uma temática social, política. Ela aborda os temas atualíssimos
de Atenas, refletindo o momento sócio-político-cultural em todo o seu vigor. Assim, vemos Aristófanes
explorar o tema da guerra e da paz, pois Atenas estava vivenciando todas as vicissitudes da guerra do
Peloponeso, que opôs a cidade a Esparta. Nos séculos IV e III, a comédia grega, com Menandro, explora
assuntos mais privados, pertinentes às relações familiares ou de vizinhança. É a comédia nova, que se
firma como comédia de costumes, tratando de temas que têm uma certa universalidade no tempo e no
espaço.

Aula 14

Do mito à razão: a invenção da filosofia

Desponta, assim, uma literatura de tipo existencial, na qual são exploradas questões como a vida e a
morte, a juventude e a velhice, a felicidade e a tristeza, a riqueza e a pobreza, a saúde e a doença. Tudo
aquilo que se refere mais intimamente ao indivíduo, à sua existência e ao sentido de sua vida, é matéria
de verso. E essa poesia sapiencial terá uma dimensão dicotômica. É preciso, por um lado, questionar,
exprimir as angústias e agruras humanas, descrevê-las.

poesia gnômica – Em português, gnoma ou gnome é sinômino de máxima, ou seja, de um pensamento


breve, conciso, muitas vezes de caráter filosófico e ético, preconizando, portanto, uma conduta a ser
seguida. O termo vem do grego γνώμη (gn óme), cujo sentido é “conhecimento” ou “opinião”. O
comediógrafo Menandro é famoso por suas máximas (γνῶμαι – gnômai).

Os exemplos tirados de Sólon e de Teógnis nos deixam entrever que há uma preocupação prática com o
comportamento e o agir humanos, mas que ela aparece ligada a questões teóricas sobre a natureza do
homem e sobre sua existência que começam a frutificar no espírito grego. Esse primeiro momento é
dominado por uma interesse ético e existencial.

Pouco a pouco, outras questões relativas ao mundo e ao homem merecerão um interesse mais intenso
da parte dos gregos.

Mito e filosofia não se opõem radicalmente, antes provêm de uma raiz comum, de um mesmo tronco: o
desejo de saber.

Vimos que a definição nominal (etimológica) de filosofia é “amor à sabedoria”

Se cruzarmos as diferentes citações, poderemos formular uma definição melhor elaborada. O que nelas
encontramos que nos permitiria compreender o conceito de filosofia? Eis suas características:

a) ciência ou conhecimento

b) das coisas divinas e humanas e da natureza

c) e de suas causas

d) na medida em que é possível ao homem avaliá-las

Nossa definição, provisoriamente, seria: a filosofia é a ciência de todas as coisas e suas causas adquirida
por meio da razão humana.

Vimos em aulas anteriores que a poesia lírica aborda uma multitude de temas, a eles aplicando
diferentes tons. Outra característica do gênero lírico é colocar o indivíduo e sua realidade em destaque.
Assim, surgem, naturalmente, questionamentos existenciais que teorizam a condição humana. O
arcabouço teórico que se forma abre caminho, por sua vez, para conselhos que visam a preconizar uma
conduta e um modo de vida condizentes com essa condição humana. Vemos, assim, desenvolver-se uma
poesia de cunho sapiencial, qualificada frequentemente de gnômica, que se caracteriza por máximas
sobre o homem e sua vida e que prodigaliza uma série de conselhos e admoestações. Em outras aulas
abordamos, também, a temática do mito e aprendemos que ele é um processo de racionalização do
mundo e da vida, uma tentativa de explicar o desconhecido. Por isso mesmo, Aristóteles aproxima o
amante dos mitos (philómythos) do amante da sabedoria (philósophos). Os mitos e a poesia gnômica
são o sinal do iminente despontar de um novo tipo de pensamento: a filosofia. Esta surge na Grécia e
seu aparecimento é devido a uma série de fatores que se interrelacionam, dentre os quais podemos citar
a situação geográfica da Grécia, o ambiente intelectual, a influência da religião, a existência de
teogonias, mitos e de uma poesia gnômica, e a presença de condições socioeconômicas que permitiam
que uma parcela da população pudesse ter um certo ócio ou lazer para dedicar-se a investigações
teóricas. A filosofia está, também, entre os primeiros gêneros literários gregos a utilizar a prosa e não o
verso. O termo filosofia, etimologicamente, significa “amor à sabedoria”. Sua criação é atribuída, desde a
Antiguidade, a Pitágoras, embora a veracidade dessa atribuição não possa ser corroborada. Ele, ao ser
interrogado sobre qual era sua profissão ou a que ele se dedicava, teria respondido que era um filósofo
e, para explicar o significado do termo, teria comparado a vida a um espetáculo. Assim como a um
festival acorrem diferentes tipos de pessoas, uns para buscar honra e glória, outros para perseguir o
lucro e o ganho e outros para simplesmente observar o que se passa, assim também é na vida, pois há
aqueles que vivem em função da fama, outros que desejam apenas o dinheiro e outros, ainda, que
vivem sem nada desejar auferir que não seja o conhecimento e a sabedoria e esses são os filósofos. A
filosofia é o “amor à sabedoria”, mas o que realmente significa isso? Diversas respostas foram dadas a tal
pergunta, ao longo da história. Algumas características comuns aparecem ao lado de outras, mais
específicas. Assim, a filosofia é definida como uma ciência que tem como objeto todas as coisas (“as
coisas divinas e humanas”, “a natureza”), procurando conhecer-lhes as causas, não quaisquer, mas as
primeiras e universais. A filosofia quer conhecer a verdade e isso faz com que ela seja um caminho para
a liberdade. Também pode ser relacionada ao esforço pelo bem viver (cultivo das virtudes), à meditação
da morte (sentido da vida e da morte) e o desprezo do mundo (das frivolidades mundanas e de tudo
aquilo que nos afasta do conhecimento da verdade e da prática do bem). Sêneca, citando Epicuro, diz
que 'é preciso que te tornes escravo da filosofia, para que te chegue a verdadeira liberdade'.

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