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História do

Teatro
TEATRO GREGO

GRÉCIA, A FORMAÇÃO

A origem do teatro na Grécia está mais radicalmente ligada ao culto ao deus Dioniso, originário da Ásia, que
entrou na Grécia através da Frigia e Trácia, lá se associando à vindima e ao ciclo das estações do ano, ou se
implantando por toda a região de Atenas e todo o Mediterrâneo Oriental, sobre resquícios de antigos cultos da
mesma natureza.

Por ocasião destas datas específicas de colheita e celebração da vindima, davam-se as grandes
dionisíacas, festas em hora a Dioniso. Nessas ocasiões entoava-se o ditirambo, hino de louvor ao deus, que tomou
o nome de tragoidia (canto do bode, uma das imagens do deus), quando era acompanhado de sacrifício de um
animal, sendo o bode o animal sagrado de Dioniso. Esse ditirambo, inicialmente improvisado, veio depois a ter uma
forma escrita, vindo a se tornar um importante gênero lírico.

Na cerimônia do ditirambo, os elementos que o faziam, naturalmente homens designados especialmente para
isso, cantavam e dançavam ao redor do altar (thyméle), entoando o ditirambo; ambos traziam em si elementos
essenciais à arte teatral: canto, dança e mímica. Posteriormente, o Estado vai se aproveitar desses elementos para
incentivar a criação de peças, através dos concursos dramáticos anualmente realizados. Assim, o teatro na Grécia
passa a ser subvencionado pelo governo, atendendo também aos seus interesses de dominação ideológica.

Dentro desse contexto um homem surge, quase como uma lenda, para se colocar como possivelmente o
primeiro ator da História: Téspis, que ao dialogar com o coro (forma básica de representação teatral da época),
introduziu na representação o hypokrités ou o respondedor, uma figura que se destacava para responder as
perguntas do coro, que declamava os versos das tragédias sempre de forma ritmada e grandiloquente, acompanhado
de instrumentos de percussão e de sopro.

Quanto aos gêneros literário / dramáticos que se desenvolveram no século V a.C., época de maior glória do
teatro grego, dois são mais importantes: a Tragédia e a Comédia. Haviam também gêneros menores, entre eles o
Drama Satírico, este originado do primitivo ditirambo, que se dividia em ritual e não-ritual (literário). O drama
satírico, na sua forma original, é ainda mais antigo do que a própria tragédia. Através de danças antigas em honra a
Dioniso, a imitação dos sátiros, seguidores mitológicos da divindade, como se apresentavam os celebrantes
masculinos (mulheres não participavam), se definia uma ação na forma de uma farsa mitológica em que os sátiros se
defrontavam com os heróis e divindades privativos da tragédia.

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A tragédia era um misto de espetáculo dramático e composição musical, reunindo diálogos, canto e dança,
distribuídos entre os atores propriamente ditos e o coro, este acompanhado por instrumentos musicais, ora intervindo
no jogo cênico, ora participando isoladamente em passagens líricas ou coreográficas. Havia, portanto, todo um
aparato para a realização dessas representações, às quais o público assistia, participando, por vezes, durante dias
seguidos, enquanto duravam os festivais.

Como em Atenas se dava muita importância ao desenvolvimento das artes e das ciências, o Governo
realizava anualmente os Concursos Dramáticos, que davam oportunidade aos escritores da época para
apresentarem suas tragédias e comédias, que eram, portanto, divulgadas e apreciadas pelo público. Esses
concursos se realizavam durante as Dionisíacas, na primavera, e para eles acorriam pessoas de diversas regiões da
Grécia. No início a admissão dos assistentes era gratuita. Quando os espetáculos se tornaram dispendiosos, fez-se
necessário cobrar um pequeno ingresso. Porém, no governo de Péricles um fundo público chamado therikón
possibilitou a entrada dos pobres nos teatros. Além disso, os concursos davam aos atores prestígio, privilégios e
honrarias, concorrendo também para o aperfeiçoamento dos autores, através das corporações de autores, dos
colégios dionisíacos e dos incentivos do Estado na produção cultural.

Os concursos fizeram surgir vários autores. Porém o tempo não nos possibilitou conhecer a todos. Os mais
conhecidos e estudados, pela força de sua obra, são Ésquilo, Sófocles e Eurípides, que cada qual a seu modo
trataram de escrever sobre os homens, sua relação com os deuses e com a natureza que os criou.

 Ésquilo – maior teor literário. Além da introdução do segundo ator (antagonista), credita-se a ele a adoção
da máscara, da indumentária trágica e do coturno (espécie de tamanco de madeira, que servia para aumentar
a altura dos atores), bem como inovações na decoração e nos mecanismos cênicos. Suas peças mais
conhecidas são: A Orestíada, Os Persas, Prometeu Acorrentado, Agamenon, As Eumênides;
 Sófocles – tentativa de decifrar os mistérios do homem, fuga á medidas divinas dos personagens de Ésquilo;
importa mais o que acontece com o filho da Terra do que as punições divinas. Ájax, Antígona, Édipo Rei,
Édipo em Colono são sua peças mais importantes;
 Eurípides – espírito crítico, utilizava o mito mais como matéria-prima para a livre elaboração, dando um novo
sentido à estrutura trágica. Humanizou os seus personagens, tornando-os mais próximos do cotidiano; em
particular, as figuras femininas, de nítido perfil psicológico em sua obra. Suas peças mais famosas são:
Alceste, Hércules Furioso, Medéia, As Suplicantes, As Troianas, Electra e As Bacantes.

Ao lado das Tragédias, que lideravam os concursos dramáticos, se formaram também as Comédias,
originadas também das cerimônias dionisíacas, mas de festividades que se realizavam desde tempos remotos em
Atenas e na Ática. Nessas festividades eram realizadas procissões – phalliká ou kómos (canto do kómos), ato
burlesco, mas ainda assim religioso, relacionado com os ciclos da agricultura e com a idéia de reprodução. O coro,
numeroso, representava animais, à moda da Tragédia, só que de forma satírica. Suas danças e cantos eram vivazes
e picantes, conforme o que deles se conhece através da Poética de Aristóteles, em contraste com a ação lenta e
solene do coro trágico. A Comédia se divide, evolutivamente, em três fases básicas.

a) Comédia Antiga – de 500 a 400 a.C. – sátira política e a ataques pessoais violentos aos autores trágicos;
teve além de Aristófanes, seu autor mais conhecido e importante, outros autores: Crátino, Êupolis, Crates,
Ferécrates, Magnes;
b) Comédia Intermediária – de 400 a 330 a.C. – sua característica mais marcante é o desaparecimento do
coro, dando aos atores uma liberdade maior, dentro da ação. Seus maiores expoentes são Aléxis e
Antífanes;
c) Comédia Nova – período iniciado em 330 a.C., responde por profundas mudanças nas características do
gênero. A fixação de tipos e costumes substituiu a sátira, dando maior consistência à ação. Sua duração
corresponde à supremacia macedônica na Grécia. A fixação de tipos e costumes foi uma forma encontrada
para garantir a sobrevivência do teatro, já em decadência pela irregularidade dos concursos públicos, pela
instabilidade da liberdade política e da prosperidade ateniense, impacto da crise causada pela derrota de

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Atenas por Esparta nas guerras do Peloponeso. Teve em Menandro seu autor mais difundido, sendo também
encontrados alguns fragmentos de textos cômicos de Dífilo e Filémon.

Já naquela época o teatro contava com alguns recursos técnicos, que serviam, se não para dar realismo às
cenas, mas para intensificar e ou dinamizar a ação dramática, que iam desde as vestimentas até o aparato
cenográfico. Descreveremos, a seguir os mais importantes recursos utilizados no teatro grego do século V a.C.:

 Chitón ou Quiton – veste principal dos atores, consistia numa túnica de mangas largas e cintura
muito alta, usada de modo geral pelos atores, com diferenciações por classe social ou importância
dentro da ação;
 Kóthornos ou Coturno – sapato de solas altas, criando dimensões fora dom normal para o ator,
favorecendo a sua visibilidade por parte da platéia, ou sua “divinização”, dependendo do caso;
 Chlâmýs ou Clâmide e Himátion – mantos que se dispunham um para o ombro esquerdo e outro
para o direito respectivamente.

As cores tinham um valor simbólico, que caracterizava a posição social e econômica da personagem, cada
cor correspondendo a uma classe ou tipos de personagens específicos. Na Comédia, as roupas eram curtas, de
aspecto ridículo, satirizando as roupas austeras e solenes das tragédias. Havia também o uso de máscaras, que
proporcionavam a criação de tipos, facilitando a identificação do aspecto da personagem; algumas ainda ajudavam a
aumentar a sonoridade da voz dos atores, pois contavam com uma espécie de amplificador próximo ao orifício bucal,
em forma de cone, que favorecia a projeção da voz. Na Tragédia, essas máscaras traduziam a solenidade e
gravidade das expressões trágicas; já na comédia, exibiam aspectos de feição que reforçavam o grotesco e o ridículo
das situações.

 Edifício Teatral – construções em encostas, aproveitando o relevo das montanhas e a acústica proporcionada
por este. Suas partes mais importantes são: a orchéstra, ou espaço cênico, o kóilon, ou a arquibancada, a
skené, espécie de camarim e o proskénion, extensão da orchéstra. A área de representação figurava sempre a
fachada de um palácio, com uma porta e colunas, onde ocorriam as apresentações. No centro desse espaço,
entre a orchéstra e o kóilon, era colocado um altar com a estátua de Dioniso, que presidia as apresentações. Já
apareciam aspectos de cenários pintados, cenários móveis, aberturas por onde subiam fantasmas ou
personagens desciam ao inferno (escada de Caronte). Outros elementos se faziam presentes, como a
ekkýclema, ou enquíclema, uma plataforma móvel que possibilitava ver episódios não testemunhados, ocorridos
à revelia do público (assassínios e outras cenas chocantes) e o theologueión, um mecanismo que fazia subir ou
descer os heróis e os deuses, crê-se, mediante um jogo de polias (roldanas).

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