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TEATRO GREGO

origens da tragédia e comédia

ARTES II – 3º. Bimestre


Prof. Eduardo Machado
■ Nascimento do Teatro Grego
■ O mito na Grécia antiga
■ Tragédia (instituição social e Catarse)
■ Comédia
■ O Mito de Dionísio
■ Agamenom (Ésquilo), Édipo, Antígona (Sófocles), As Bacantes (Eurípedes), As Rãs
(Aristófanes).
William-Adolphe Bouguereau, A juventude de Baco, 1884. Óleo sobre tela, 610cm x 331 cm
Nascimento do Teatro grego
■ É difícil definir com exatidão a origem geográfica do teatro, visto que manifestações culturais
acontecem paralelamente e de formas similares em todo o mundo. Porém, o teatro ocidental,
sistematizado como conhecemos hoje, teria surgido, segundo estudiosos das artes cênicas, a
partir do ritual ditirambo.
■ Téspis foi considerado o primeiro ator de que se tem conhecimento. Ele viajava de cidade em
cidade, organizando celebrações de ditirambo, que foram aos poucos transformadas em
dramatizações com textos, acompanhados por música. Com o tempo, as celebrações foram se
organizando ainda mais em sua forma, com a criação de diálogos, a separação de funções,
criação de situações para representar histórias em devoção primeiro a Dionísio e depois a outros
deuses, até se chegar a uma estrutura mais formal, aos primeiros textos teatrais de que se tem
conhecimento e aos primeiros teatros, pela necessidade de uma estrutura física onde representar
as peças.
■ Durante a Antiguidade Clássica grega, período que vai do século VIII ao II a.C., a Grécia
experimentou o auge das produções teatrais dessa época, no século V a.C. Existiam atores,
autores e festivais organizados e patrocinados pelo estado, nos quais a participação da população,
muitas vezes, era obrigatória. Para se entender a função original do teatro na Grécia, é preciso
considerar dois pontos importantes: a sociedade grega vivia sob os conceitos de mitos para
entender a vida; e nessa época existia uma mentalidade civilizatória fundamentada na crença de
que costumes, filosofia, arte, normas sociais e a política eram pressupostos de uma sociedade
ideal. E o teatro foi parte fundamental desse processo.
O Mito na Grécia antiga
■ A palavra “mito” vem da palavra grega mithos, que significa “fábula”, acontecimentos imaginados.
A palavra mitologia é a junção de mito e do termo grego logos, que significa “estudo”. Assim,
mitologia é o estudo dos mitos. O mito é uma forma de explicar o mundo, em que o sagrado
interfere diretamente nas relações de causa e efeito, nas relações entre os seres humanos e
destes com a natureza.
■ Na Grécia antiga, os mitos eram a base fundamental de toda a formação da sociedade. Todos os
cidadãos, desde cedo, aprendiam sobre os deuses, suas relações com os “mortais” e todas as
decorrências de se enfrentar ou desobedecer as regras divinas. Não eram simplesmente
históricas, faziam parte da cultura como uma crença real, ditada por normas e regras que
deveriam ser seguidas.
■ Dada toda essa importância para a sociedade grega, a transmissão desse conhecimento era feita
de forma muito cuidadosa. Por exemplo, os primeiros narradores de mitos eram considerados
homens escolhidos pelos deuses. Tinham de ser de alta confiabilidade e seriam pessoas que
teriam testemunhado o próprio mito. Esses narradores eram os chamados rapsodos. Os rapsodos
iam de cidade em cidade narrando os mitos em forma de poesia ou música.
■ Desta forma, as artes foram se tornando importantes meios de transmissão dos mitos. E aos
poucos, o teatro aparece como uma das principais, por ter adquirido a complexidade necessária
para mostrar todos os aspectos da história: personagens, situações, lugares, relações de causa e
efeito, entre outros. O teatro era a possibilidade de fazer o público vivenciar a história e, assim,
apreendê-la de forma mais completa.
Tragédia: instituição social e catarse
■ A palavra “tragédia” vem do grego tragoedia. Tragos significa “bode”, e oidé, “ode”, “canto”. Assim, a tragédia pode ser entendida
como “canto do bode”. Existem algumas versões que tentam explicar a relação do bode com a tragédia. Uma delas diz que, em
alguns rituais, bodes eram sacrificados em homenagem aos deuses, e sua pela usada coo vestimenta; em outras que os cantos
serviam para espantar (ou atrair) espíritos silvestres em forma de homns misturados com bodes e que costumavam participar
dos ditirambos. Por isso, acredita-se que a tragédia como gênero teatral também tenha vindo desse culto.
■ Nas peças trágicas gregas, o objetivo maior era mostrar como os humanos estavam condicionados à vontade dos deuses e como
qualquer deslize, por menos intencional que fosse, levaria o personagem à desgraça inevitável. As tragédias falam de situações
sem saída, ligadas à posição do ser humano no Universo. Essas peças serviam para ensinar a moral e dar ao cidadão um sentido
de identidade, mostrando uma situação em que ele poderia se enxergar para seguir ou não o exemplo de algo que estava sendo
mostrado. O ator era considerado uma espécie de sacerdote.
■ A tragédia, nessa época, pode ser considerada muito mais do que uma manifestação teatral: representava uma instituição social,
patrocinada diretamente pelo Estado e por outros cidadãos de poder. Patrocinar o teatro era considerado um dever cívico. As
dionisíacas, festival em homenagem aos deuses, organizado pelo Estado, duravam seis dias, e a participação do povo era
obrigatória. Nelas, a principal atração eram as apresentações de teatro. A produção era bastante intensa. Os principais
tragediógrafos gregos de que se tem registro são: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Este último, por exemplo, produziu, em 50 anos,
92 peças, sendo que cerca 19 (ou 17) chegaram completas aos dias de hoje
■ Nas peças, além dos atores, um elemento muito importante era o coro, um personagem coletivo, formado por muitas pessoas,
que representavam a voz do cidadão, e que servia para difundir os pontos de vista oficiais. Discordavam e comentavam o enredo,
porém sem interferir nele ou na ação. Ao coro cabiam ações contemplativas, de comentários e reflexão, ou falas para explicar
acontecimentos anteriores à história da peça. O coro movia-se segundo um ritmo fixo, com seus membros juntos, cantando ao
som de flautas e alternando perguntas e respostas.
■ A figura do herói também aparece nas tragédias, mas não como um semideus, como na mitologia. O herói é o personagem que
desencadeia a história. Na maioria das vezes ele é o personagem principal. É ele quem sofre a falha trágica, situação em que o
personagem faz alguma coisa errada sem saber, inconscientemente, mas que depois vai viver as consequências desse infortúnio
de maneira consciente. O erro do herói trágico não é uma falha de caráter, mas uma falha por engano. O conflito na tragédia se
dá entre a vontade do herói e seu destino.
■ O público acompanha a trajetória do herói e vive com ele todos os momentos da história, culminando com a catarse, do grego
káthasis, que pode ser traduzida como “purificação” ou “purgação”. Era o nome dado à sensação que é despertada no
espectador no desfecho da peça, uma descarga emocional, a fim de causar uma relação de empatia com o personagem e a
história.
Comédia
■ A palavra “comédia” vem da junção dos termos gregos komos, que significa “rurais” ou
“campestres”; e ode, que significa “canto”: “cantos rurais”. Acredita-se que também a
comédia tenha se originado dos rituais ao deus Dionísio, mas ela teria tomado outro
rumo em relação às tragédias, tanto em características quanto em funções. As tragédias
cultuavam os deuses e suas regras sociais, já as comédias se desdobraram dos rituais
da fertilidade, celebrando a vida os assuntos mais mundanos, cotidianos, cultuando o
divertimento.
■ Os personagens eram inventados, as histórias falavam de zombaria, defeitos, vícios,
críticas sociais, sempre de forma divertida e improvisada. E os finais eram felizes. Assim
tinha-se que a tragédia era digna dos deuses, e a comédia, digna dos homens. Na
comédia, os atores improvisavam, paravam a peça para falar diretamente ao público,
fazer brincadeiras, sugerir participação. Essas pausas eram chamadas parábase.
■ Os mimos eram atores populares que improvisavam e iam de cidade em cidade levando
histórias cômicas. Esses atores, segundo dados históricos, teriam representado textos
falados e depois desenvolvido o gestual, originando o que conhecemos hoje como
mímica.
■ Aristófanes e Menandro foram os autores de comédias mais representativos dessa
época e de quem se tem mais registros até os dias de hoje. Eles participavam das
Leneias, que eram as festas de comédias realizadas durante o inverno na Grécia
O mito de Dionísio
■ Dionísio é fruto da união ilegítima entre Zeus e Sêmele, e por esta razão é constantemente
perseguido por Hera, a esposa (legítima) de Zeus. Zeus por sua vez, atua sempre protegendo o
filho dos embustes de Hera. E um dos modos encontrados por Zeus para proteger Dionísio é
conferir-lhe diversas aparências, metamorfoseando - o em vários animais diferentes. Mas quem
são Zeus e Sêmele? Zeus é o deus imortal que rege a vida dos deuses e dos homens. Sêmele é
uma princesa tebana, uma mortal cuja vida vai se esvair como a de qualquer outro (mortal).

■ Dionísio é, entre outros atributos, o deus da vida, da metamorfose, da desmedida, da morte, do


sexo, da dor e da música. Podemos chamá-lo deus da vida porque Dionísio é um deus
genuinamente agrário, originariamente relacionado ao florescer da terra, da vida em seu aspecto
mais primordial. Disso deriva o motivo pelo qual Dionísio é a expressão da vida como uma
experiência autêntica, na qual a alegria é vivida quando a situação o pede e o sofrimento não é
negado quando a dor se lhe apresenta.
■ Dionísio é o deus da morte e do sexo, e isto porque ambos são experiências da mais radical perda
de limites. Nelas não há o governo da exatidão apolínea, mas o auto - esquecimento do estado
dionisíaco. Quanto à música dionisíaca, ela não se assemelha ao caráter comedido, simétrico e
harmonioso que a arte apolínea apresenta. Assim, Dionísio faz da música uma experiência
extasiante, que toma o vivente e permite a ele perder-se nela. Dionísio é a expressão da arte não -
figurada, isto é, da música em seu aspecto fremente, nada racional e comedido.
Agamenom
(apresentada pela primeira vez em Atenas no ano de 458 a.C.)

■ faz parte de uma trilogia intitulada Oresteia, a única trilogia completa que chegou
até aos nossos dias, composta por três tragédias: Agamémnon, As Coéforas e As
Euménides. A trilogia é inspirada nas histórias do regresso dos heróis que lutaram
contra a cidade de Tróia.
■ Agamémnon teve que sacrificar a filha Ifigénia a Ártemis, no início da guerra, para
que os Exércitos gregos chefiados por ele pudessem chegar a Tróia
■ Clitemnestra jurou vingança. Tornou-se amante de Egisto, filho de Tiestes, e
começou a conspirar contra o marido durante sua longa ausência.
Agamémnon regressa vitorioso após dez anos de guerra em Tróia, mas é
imediatamente assassinado por Clitemnestra e Egisto, tal como Cassandra,
princesa troiana, que recebera por escrava.
O regresso de Agamemnon De uma ilustração de 1879 de Stories from the Greek Tragedians de Alfred Church
Édipo
(escrita em 427 a.C. por Sófocles)
■ Escrita como primeira parte de uma trilogia de peças, que também inclui Antígona e Édipo em Colono. A
obra atingiu tamanho reconhecimento que em Poética –até hoje um paradigma para as Artes -
Aristóteles considerou Édipo Rei o mais perfeito exemplo de tragédia grega.
■ Édipo é um herói trágico que não teve saída de sua própria condição de filho de Laio , rei de Tebas, e
de Jocasta e de ter concretizado a maldição de matar o pai, casar-se incestuosamente com sua mãe. O
oráculo dos deuses, o Delfos, já havia profetizado que a maldição iria ocorrer. Aconteceu. Tal
desafortúnio é de beleza ímpar porque Édipo é perfeitamente o herói humano de uma tragédia com
deuses implacáveis, ele é um homem que se equilibra entre a virtude e o vício, um herói “intermediário”,
segundo Aristóteles, que passou da felicidade à infelicidade em conseqüência de um erro, além disso,
era um príncipe em Tebas gozando de reputação, família, poder.
■ Édipo, tentando ouvir do servo da casa de Laio uma resposta para viver tranquilamente com Jocasta,
livre do destino infeliz, terá o reconhecimento de que assassinou seu próprio pai e gerou filhos de sua
própria mãe. Provocará temor e piedade na audiência (público). Édipo cai no infortúnio em decorrência
de um grave erro.
■ Édipo toma a terrível decisão de arrancar os próprios olhos para não ver o horror de seus atos nem a
morte de sua mãe/esposa, Jocasta. Ele sente compaixão por seus filhos no final da peça por saber que
cometeu o pecado pelo qual eles terão que pagar por toda a vida.
ANTÍGONA
(representada pela primeira vez em 441 a.C., em Atenas)

■ Creonte, com a morte dos dois sobrinhos Etéocles e Polinices que se envolvem numa batalha de
disputa pelo trono, torna-se rei de Tebas. A sua primeira decisão como regente foi enterrar o
sobrinho Etéocles com todas as honras funerárias e deixar o corpo de Polinices insepulto.
■ Para que se cumpra a sua decisão, decreta que a pena para desobediência é a morte.Antígona,
apesar do interdito do rei Creonte, quer sepultar o irmão Polinices evocando um princípio da lei dos
deuses.
■ Sua decisão gera um conflito entre a Lei dos Céus (dos deuses) que ela defende e a Lei da Terra
(dos homens) que Creonte precisa fazer cumprir. Cria-se assim um impasse, resultante da
contraposição entre duas esferas de poder: A Lei dos deuses e a Lei humana.
■ Todo o enredo da tragédia de Tebas gravita em torno desse dilema moral que dura mais de três mil
anos e que faz de Antígona uma das mais importantes obras que abre discussão para os
seguintes princípios: Cumpre-se a Lei do Céu ou a Lei da Terra? Antígona defende a Lei dos
Deuses e Creonte a Lei Humana.
As Bacantes
(A obra foi representada pela primeira vez em Atenas no ano de 405 a.C., um ano após a morte
de Eurípides)
■ A tragédia As Bacantes foi escrita por Eurípides, o terceiro e último dos grandes trágicos que a tradição
consagrou na Grécia (entre eles estão Ésquilo e Sófocles). O título As Bacantes significa “mulheres
adoradoras do deus Bákkhos”, e a tragédia dramatiza o mito de introdução do culto de Dioniso em
Tebas, cidade da Beócia.
■ A tragédia escrita por Eurípides contém diversas alusões mítico-rituais a religião dionisíaca,
apresentando a natureza do culto dionisíaco em antagonismo com a ordem social e com os valores
morais defendidos pelo rei tebano Penteu. As Bacantes, de Eurípides, narra a história de Dioniso de
acordo com o mito grego de adesão ao deus: Dioniso é filho de Zeus e da princesa tebana Sêmele, filha
de Cadmo. Entretanto, por mais que Dioniso seja filho do deus supremo, as irmãs de Sêmele não creem
no nascimento divino do sobrinho. Sendo assim, a família real tebana não reconhece Dioniso como deus
e maldiz os cultos dionisíacos. É por esse motivo que Dioniso planeja uma vingança contra a família real
tebana, com o intuito de comprovar a sua divindade e estabelecer os ritos dionisíacos em Tebas.
■ Para cumprir tais propósitos, Dioniso, de acordo com a sua phýsis, enlouqueceu todas as mulheres
tebanas, fazendo-as abandonar as tarefas domésticas e transformandoas em bacantes, ou seja, em
adoradoras dionisíacas. Entre as mulheres convertidas estão Ágave, mãe do rei Penteu, Autônoe e Ino –
as tias sacrílegas de Dioniso.
■ Devido a tal desordem social, o rei Penteu, herói trágico, declara guerra contra Dioniso, e planeja evitar a
propagação dos cultos dionisíacos em Tebas. É a partir desse ponto que se inicia o conflito trágico:
Penteu tentará lutar contra o deus, e Dioniso punirá o rei pelos ultrajes sofridos. Durante toda a ação
dramática, Dioniso provará sua origem divina através de milagres, e a queda do rei Penteu obedecerá
aos estágios rituais do sacrifício dionisíaco
As Rãs
(As Rãs foi apresentada para o público ateniense no ano 405 a.C)
■ Todos os grandes trágicos haviam morrido, deixando Atenas órfã de boas tragédias. Dionísio (sempre acompanhado de
seu servo Xantias), que já não se sentindo um desejo incontrolável de assistir uma tragédia fosse digna de Baco, tem
uma idéia: disfarçou-se de Hércules e vai ao encontro do mesmo para descobrir como era possível chegar ao mundo
inferior e desse modo resgatar o grande trágico Eurípedes, trazê-lo de volta a vida e a Atenas.
■ Em sua travessia na barca de Caronte, ele foi acompanhado por um coro de rãs (que dão nome a peça)
■ Ao chegar no mundo dos mortos, Dionísio é convidado por Hades a decidir, junto a ele a disputa que há entre Ésquilo e
Eurípedes pelo trono de melhor poeta trágico.
■ A segunda parte da peça é o confronto entre os dois grandes trágicos, já mortos, Ésquilo e Eurípedes no qual o vencedor
assumiria o trono da tragédia no Hades. As discussões não tinham um cunho puramente literário, elas englobavam
juntamente as visões política e social dos autores, que logo no início, foram sendo definidas.
■ Ésquilo é tido como poeta tradicional e religioso, que retrata o homem limitado, embora heróis ou nobres, sempre
subjugados ao poder divino. É defendido por Aristófanes, o que evidencia o conservadorismo do autor de As Rãs, que
visava na tragédia uma função educadora.
■ Eurípedes é o moderno, aquele que desce do Olimpo e vai retratar o homem comum, com todos os seus defeitos
profanos.
■ No final do debate Ésquilo sai vitorioso. Ele tem agora a missão de salvar Atenas do caos, orientando os cidadãos e
tornando-os mais nobres de alma. Terá que mostrar-lhes a verdade, a sabedoria dos deuses. Eurípedes nada conseguiu
com seus protestos e discurso inovador.

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