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Texto 02: A radionovela na era da nuvem: o que é o – Eu estou adorando esse universo, é muito mais fácil do que

audiodrama, formato que conquista espaço no fazer vídeo para o YouTube. A gente consegue mais com
Brasil poucos recursos. Está se criando uma comunidade muito
legal, portas estão se abrindo para uma cena radiofônica –
Dramaturgia em áudio ganha corpo no país no embalo destaca Joe, também animado com a inserção do Aventuras
da popularização dos podcasts nas plataformas Bizarras na plataforma Podcastchê, rede gaúcha de
podcasters.
digitais

Irmãos Joe e Guido Guidini gravam de casa, em Caxias do Sul, audiodrama


"Aventuras Bizarras"Lucas Amorelli / Agencia RBS

Em tempo de serviços de vídeo sob demanda, audiodrama busca seu espaço Com referências que vão desde o podcast gringo Rhett &
apostando na imaginação do público. Arte de Luan Zuchi / Pioneiro Link até o brasileiro Uilame (criado pelo Cifra Club nos
primórdios dos podcasts), Joe e Guido tentam abastecer o
A era dos podcasts nas plataformas de áudio por streaming Aventuras Bizarras com informação e humor.
tem sido responsável por revigorar um formato que caiu em
desuso há anos: o das radionovelas. Os agora chamados – Queremos resgatar coisas esquecidas e misturar com as
audiodramas, ou até "podnovelas" (trocadilho com os loucuras da nossa cabeça. No teatro fazíamos muito isso,
podcasts), nada mais são do que uma versão modernizada pegávamos algum clássico e fazíamos uma adaptação em
das antigas narrativas seriadas que marcaram época no cima – diz Guido.
rádio.
Formato ideal para narrativas de fôlego
Em Caxias do Sul, o trabalho dos irmãos Joe e Guido Guidini, Apesar de trocarem os estúdios de rádio pelas gravações
de 26 e 29 anos, respectivamente, chama atenção nesse caseiras no próprio quarto, não há tanta diferença entre as
cenário. A dupla é protagonista de uma cena que ainda velhas radionovelas e os novos audiodramas. Para Danilo
engatinha no Rio Grande do Sul. O audiodrama Aventuras Battistini, produtor de áudio, sound designer e autor do
Bizarras é conduzido pelos dois, que gravam todos o audiodrama Contador de Histórias, é como um "cinema sem
conteúdo no quarto de casa, com um cobertor preso à janela imagem", com uma narrativa formada exclusivamente pela
para abafar os sons externos. composição de sons.

Mas não pense que os irmãos caxienses são menos – Uma radionovela, no fim das contas, é uma história
preparados artisticamente do que os antigos profissionais do dramatizada em áudio. O audiodrama tem esse nome mais
rádio. Joe e Guido têm experiência no teatro e conseguem, popular hoje porque passou a ter na internet muitos outros
com poucos recursos, transportar o ouvinte para cenários tão canais para ser divulgado – aponta o profissional de 29 anos,
distintos como o espaço sideral ou um acampamento na morador de São Paulo.
mata. Interpretam as dezenas de personagens em Aventuras
Bizarras – dois episódios já estão disponíveis no YouTube e Particularidades diferem os audiodramas das radionovelas.
no Spotify, e o terceiro deve estrear no último fim de semana Entre elas, a tecnologia e a comodidade para gravar com
de março. qualidade profissional sem sair de casa, facilitando a pós-
produção: inserir efeitos, modular vozes e afins. Nas
Além do teatro, a formação em publicidade e o gosto por radionovelas, populares no Brasil principalmente entre as
cultura pop contribuem para a criação das histórias. décadas de 1940 e 1950, a encenação e os efeitos sonoros
eram feitos ao vivo.
– Antes de começarmos o podcast, a gente fazia muita coisa
junto. Irmão se bate, se quebra, mas a gente era muito
parceiro, estava sempre inventando alguma palhaçadinha. – Podcast é um dos elementos importantes para renovar o
Queríamos criar um universo cinematográfico para todos os rádio. Já tivemos um boom e apagou. Aí se retomou agora
personagens que a gente tinha. Até gravamos um piloto, mas com muita força na questão ficcional. Seja musical ou
não deu certo (risos). Então a gente criou um universo jornalístico, o rádio trabalha cada vez mais na perspectiva ao
cinematográfico radiofônico – explica Joe. vivo. A rádio jovem ficou mais falada em algumas emissoras.
A profundidade de uma entrevista mais longa ou de um
Nas histórias, os irmãos se transformam em velhos, crianças debate mais longo me parece que tende a migrar para o
e até em extraterrestres, por meio de modulações na voz e podcast – aponta Luiz Artur Ferraretto, coordenador do
truques de áudio. Tudo é feito de forma simples e amadora, Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS.
mas o ritmo envolvente da narrativa e a criativa edição de
Guido chamam atenção no cenário de audiodramas.

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