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HISTÓRIA

MUNDIAL
DO
TEATRO
Material para fins didáticos elaborado pelo prof. Diego Ferreira
Espaço do Ator

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O TEATRO PRIMITIVO

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O teatro é tão antigo quanto o homem. O ato de se transformar em outro ser, fez
e faz parte da expressão humana desde sua origem. Podemos aprender sobre o teatro
primitivo com base em três fontes: as tribos aborígenes (que mantém atividades muito
semelhantes com as atividades dos primeiros povos), as pinturas em cavernas e as
tradições que se mantiveram até hoje. 
Naquela época, as atividades que vemos hoje como teatrais tinham um foco místico e
ritualístico. O homem personificava os poderes da natureza, fazia sacrifícios, danças,
cerimônias e diversos tipos de cultos à divindades. O Xamã era uma figura importante
nessas cerimônias, sendo ele que muitas vezes fazia a "preparação" que antecedia a
caçada. Esse rito, que comportava drogas, danças, música, meditação e até mesmo
ruídos ensurdecedores, fazia com que o xamã estabelecesse um "diálogo" com os
deuses. Entrando neste transe, ele se utilizava de todo tipo de meios de representação
artística, como máscaras, roupas e outros aparatos (os registros destas atividades datam
de 15.000 a 800 a.C., sobretudo na Ásia e América do Norte).
Desta forma, o xamã ao incorporar o espírito era visto como o próprio espírito
personificado. Não era mais o xamã que ali estava, mas aquele que nele habitava.
Uma interessante relação entre este teatro primitivo e a cultura atual pode ser notada ao
observarmos que o mesmo costume de dançar em torno dos sacrifícios ou dos símbolos
utilizados é visto ainda hoje, por exemplo, nas danças em volta do mastro de maio ou da
fogueira de São João.
Além da dança e dos gestos, o teatro primitivo também se utilizava de procissões
para suas celebrações, da mesma forma ricas em símbolos e aparatos, havendo
inclusive, uma divisão de tarefas durante as mesmas (por exemplo, uma pessoa
responsável pelo manejo da luz, uma espécie de diretor de iluminação).
Devido ao fato de que a ritualística era muito mais voltada à pantomima (teatro
essencialmente gestual), a rigidez com que os gestos deveriam ser executados era
seguida à risca, para que os mesmo não ficassem grotescos ou caíssem na comicidade.
Essa preocupação com a forma com que os gestos seriam executados é o primeiro
registro de características "profissionais" ou padronizadas para a atividade teatral.

TEATRO GREGO

Aristóteles

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O teatro na Grécia antiga teve suas origens ligadas a Dionísio, divindade da
vegetação, da fertilidade e do vinho, cujos rituais tinham um caráter orgiástico. Durante
as celebrações, que duravam seis dias, em honra ao deus, em meio a procissões e com o
auxílio de fantasias e máscaras, eram entoados cantos líricos, os ditirambos1, que mais
tarde evoluíram para a forma de representação plenamente cênica como a que hoje
conhecemos através de peças consagradas. Seu florescimento ocorreu entre 550
a.C. e 220 a.C., sendo cultivado em especial em Atenas. Sua tradição foi depois herdada
pelos romanos, que a levaram até as suas mais distantes províncias, e é uma referência
fundamental na cultura do ocidente até os dias de hoje.
Com o passar do tempo, as procissões dionisíacas foram ficando mais
elaboradas, e surgiram os "diretores de coro", os organizadores das procissões, já que
elas podiam reunir nas cidades até vinte mil pessoas. O primeiro diretor de coro
e dramaturgo foi Téspis, convidado para dirigir a procissão de Atenas e vencedor do
primeiro concurso dramático registrado. Téspis parece ter sido um elo importante na
evolução final do ditirambo cantado em direção ao texto recitado e dialogado, criando a
figura do "respondedor ao coro" (hypócrites) e a do personagem individualizado, o ator,
em contraste ao coro, anônimo e coletivo. Com estas inovações, é considerado o pai
da tragédia, mas possivelmente não tenha sido de fato o primeiro a usar
diálogos. Sólon parece ter escrito poemas com esta característica, e os rapsodos que
recitavam Homero também faziam uso da prosa dialogada. Também parece ter
introduzido um segundo personagem, além do protagonista, representando dois papéis
na mesma peça através do uso de uma máscara com uma face na frente e outra na nuca.
As máscaras tinham outra função, eminentemente prática, por possibilitarem às pessoas
acompanhar a ação cênica pelas expressões que mostravam, quando a voz do ator não
conseguia alcançar toda a platéia.

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Ditirambo - canto coral de caráter apaixonado (alegre ou sombrio), constituído de
uma parte narrativa, recitada pelo cantor principal, ou corifeu, e de outra
propriamente coral, executada por personagens vestidos de faunos e sátiros,
considerados companheiros do deus Dionísio, em honra do qual se prestava essa
homenagem ritualística. Ditirambo ("hino em uníssono") consistia
numa ode entusiástica e exuberante dirigida ao deus, dançada e representada por
um Coro de 50 homens vestidos de sátiro (meio homem, meio bode, uma espécie de
servo de Dionísio).
Os "sátiros" tocavam tambores, liras e flautas e iam cantando à medida que dançavam
em volta de uma esfinge de Dionísio. Há quem diga que usavam falos postiços. Mas
apesar do que se possa pensar, esta cerimônia era totalmente religiosa, uma espécie de
hino no meio de uma missa. Também se acredita que haveria o sacrifício de um animal,
provavelmente de um bode. À medida que o tempo ia passando, o Ditirambo foi
evoluindo para a ficção, para o drama, para a forma teatral, como a conhecemos hoje.

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O coro era composto pelos narradores da história que, através de representação,
canções e danças, relatavam as façanhas do personagem. Era o intermediário entre
o ator e a platéia, e trazia os pensamentos e sentimentos à tona, além de pronunciar
também a conclusão da peça. Também podia haver o corifeu, que era um representante
do coro que se comunicava com a platéia.
Os atores do teatro grego eram todos homens, e interpretavam vários papéis
durante o mesmo espetáculo. Na tragédia existiam três atores e na comédia quatro. Os
atores utilizavam máscaras e fatos que poderiam ser pesados. Na tragédia os atores
utilizavam uma túnica até aos pés, chamado quíton, e o coturno; na comédia usavam-se
roupas próximas às utilizadas pelos cidadãos e calçavam-se sandálias.

TRAGÉDIA

A tragédia é o gênero mais antigo, tendo surgido provavelmente em meados


do século VI a.C. Os temas da tragédia eram oriundos da religião ou das sagas dos
heróis, sendo raras as tragédias que se debruçavam sobre assuntos da época (um
exemplo de passada que abordava temas contemporâneos foi Os Persas de Ésquilo). A
maioria das tragédias retrata a queda de um herói, muitas vezes atribuída à sua
arrogância.
COMÉDIA

A comédia passou a integrar as Grandes Dionísias em 488 a.C., tendo tido,


portanto um reconhecimento meio século depois da tragédia. No ano de 440 a.C. a
comédia foi também introduzida nas Leneias, outro festival em honra Dioniso no
inverno. Na comédia o coro assumia uma importância maior que na tragédia e
verificava-se uma maior interatividade com o público, já que os atores dialogavam com
este.Da Comédia Antiga apenas sobreviveram os trabalhos de Aristófanes, que se
inspiram na vida de Atenas e que se caracterizam pela crítica aos governantes (Os
Cavaleiros, Os Acarnenses), à educação dos sofistas (As Nuvens) e à guerra (Lisístrata).
Um dos políticos mais criticados por Aristófanes foi Cléon, que teria levado Aristófanes
aos tribunais por se sentir ofendido.

AUTORES

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Embora sejam registrados muitos autores especialmente na época áurea do teatro grego,
somente de quatro nos chegaram peças integrais, todos eles de
Atenas: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes na tragédia, e Aristófanes na comédia. Suas
criações, e mais referências de fontes secundárias como Aristóteles, são a base para o
conhecimento do teatro da Grécia Antiga.

Ésquilo (525 a 456 a.C.. aproximadamente)

Principal texto: Prometeu acorrentado.


Tema principal que tratava: contava fatos sobre os deuses e os mitos.
Ésquilo foi um dramaturgo da Grécia Antiga. É reconhecido freqüentemente como o
pai da tragédia, e é o mais antigo dos três trágicos gregos cujas peças ainda existem (os
outros são Sófocles e Eurípedes). De acordo com Aristóteles2, Ésquilo aumentou o
número de personagens usados nas peças para permitir conflitos entre eles;
anteriormente, os personagens interagiam apenas com o coro. Apenas sete de um total
estimado de setenta a noventa peças feitas pelo autor sobreviveram à modernidade; uma
destas, Prometeu Acorrentado, é tida hoje em dia como sendo de autoria de um autor
posterior. Apenas sete de suas tragédias sobreviveram intactas até os dias de hoje: Os
Persas, Sete contra Tebas, As Suplicantes, a trilogia conhecida como A Oresteia, que
consiste das três tragédias Agamenon, As Coéforas e As Eumênides, além dePrometeu
Acorrentado, cuja autoria é questionada.

Sófocles (496 a 406 a.C. aproximadamente)

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Filósofo grego, escreveu “A Poética”

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Principal texto: Édipo Rei.
Tema principal que tratava: as grandes figuras reais.
Foi um dos mais importantes escritores de tragédia ao lado de Ésquilo e Eurípedes,
dentre aqueles cujo trabalho sobreviveu. Suas peças retratam personagens nobres e da
realeza. Filho de um rico mercador nasceu em Colono, perto de Atenas, na época do
governo de Péricles, o apogeu da cultura helênica.
Suas primeiras peças foram escritas depois que as de Ésquilo e antes que as
de Eurípedes. De acordo com a Suda, uma enciclopédiado século X, Sófocles escreveu
123 peças durante sua vida, mas apenas sete sobreviveram em uma forma completa. Por
quase 50 anos, Sófocles foi o mais celebrado dos dramaturgos nos concursos dramáticos
da cidade-estado de Atenas, que aconteciam durante as festas
religiosas Leneana e Dionísia. Sófocles competiu em cerca de 30 concursos, venceu 24
e, talvez, nunca ficou abaixo do segundo lugar; em comparação, Ésquilo venceu 14
concursos e foi derrotado por Sófocles várias vezes, enquanto Eurípides ganhou apenas
quatro competições.
Em suas tragédias, mostra dois tipos de sofrimento: o que decorre do excesso de paixão
e o que é conseqüência de um acontecimento acidental (destino). Reduziu a importância
do coro no teatro grego, relegando-o ao papel de observador do drama que se desenrola
à sua frente. Também aperfeiçoou a cenografia e aumentou o número de elementos do
coro de 12 para 15, porém esse número pode variar de acordo com o poeta que define a
tragédia. Sua concepção teatral foi inovadora e elevou o número de atores de dois para
três. Suas peças "sobreviventes" são: Ájax; Antígona; As Traquínias; Édipo Rei;
Electra; Filoctetes; Édipo em Colono.

Eurípides (484 a 406 a.C.aproximadamente)


Principal texto: As troianas
Tema principal que tratava: dos renegados, dos vencidos (pai do drama ocidental)

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Foi um poeta trágico grego, do século V a.C., o mais jovem dos três grandes
expoentes da tragédia grega clássica, que ressaltou em suas obras as agitações da alma
humana e em especial a feminina. Tratou dos problemas triviais da sociedade ateniense
de seu tempo, com o intuito de moderar o homem em suas ações, que se encontravam
descontroladas e sem parâmetros, pois o que se firmava naquela sociedade era uma
mudança de valores de tradições que atingiam diretamente no modo de pensar e agir
dos homens gregos.
Eurípedes foi o último dos três grandes autores trágicos da Atenas clássica (os
outros dois foram Ésquilo e Sófocles). Ele foi autor do maior número de peças trágicas
da Grécia que chegaram até nós: dezoito no total (de Ésquilo e Sófocles sobreviveram,
de cada um, sete peças completas).
Tragédias
Medeia (431 a.C.); Andrômaca (c. 425 a.C.); Hécuba (c. 424 a.C.); As Suplicantes (c.
423 a.C.); Electra (c. 420 a.C.), Héracles (c. 416 a.C.); As Troianas (415 a.C., segundo
prêmio); Ifigênia em Táuris (c. 414 a.C.); As Fenícias (c. 410 a.C.); Orestes (408 a.C.);
As Bacantes e Ifigênia em Áulis (405 a.C.)

Aristófanes (445 a.C.? – 386 a.C.)

Dramaturgo grego considerado o maior representante da comédia grega clássica.


Nasceu em Atenas e, embora sua vida seja pouco conhecida, sua obra permite deduzir
que teve uma formação requintada. Escreveu mais de quarenta peças, das quais apenas
onze são conhecidas. Conservador, revela hostilidade às inovações sociais, políticas e
aos deuses e homens responsáveis por elas. Seus heróis defendem o passado de Atenas,
os valores democráticos tradicionais, as virtudes cívicas e a solidariedade social.
Violentamente satírico, critica a pomposidade, a impostura, os desmandos e

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a corrupção na sociedade em que viveu. Seu alvo são as personalidades influentes:
políticos, poetas, filósofos e cientistas, velhos ou jovens, ricos ou pobres.
Comenta em diálogos mordazes e inteligentes todos os temas importantes da
época – a Guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta, os métodos de educação, as
discussões filosóficas, o papel da mulher na sociedade, o surgimento da classe média.
Em "Lisístrata" ou "A Greve do Sexo" (411 a.C.), as mulheres
fazem greve de sexo para forçar atenienses e espartanos a estabelecerem a paz. Em "As
vespas" (422 a.C.), discute a importância da verdade e seus benefícios, revelando sua
preocupação com a ética. Na peça "As nuvens" (423 a.C.),
compara Sócrates aos sofistas, mestres da retórica, e acusa o filósofo grego de exercer
uma influência nefasta sobre a sociedade. Na comédia "Os Acarnianos" ou
"Acarnenses", representada no ano 425 a.C., ele ridiculariza os partidários da guerra
com Esparta.
Suas outras obras são Os cavaleiros (424 a.C.), A paz (421 a.C.), As aves (414
a.C.), As tesmoforiantes ou As mulheres que celebram as Tesmofórias (411 a.C.), As
rãs (405 a.C.), As mulheres na assembléia ou Assembléia de mulheres (392 a.C.)
e Pluto ou "Um Deus Chamado Dinheiro" (388 a.C.)

TEATRO ROMANO
O teatro romano, apesar de não deixar relevante legado para a História posterior,
teve diferentes gêneros. Os romanos tinham uma forma embrionária de teatro, de
influência etrusca, espécie de representações religiosas de caráter sério ou satírico
(curiosamente de forma semelhante ao aparecimento do teatro grego), que eram
apresentadas em ocasiões especiais, como cerimônias e casamentos. Quando entraram
em contato com a Grécia, o evento significou a morte do primitivo teatro romano, que
imediatamente copiou as formas gregas (tragédia, comédia).
Começaram por traduzir peças gregas (séc. III AC); depois, estrangeiros
radicados em Roma e romanos escreveram peças, adaptando temas gregos, ou
inventando mesmo temas romanos (normalmente baseados na História); o apogeu do
teatro romano se dá no séc. III-II a.C., com Plauto e Terêncio.
Em sua maior parte, o teatro romano foi inteiramente calcado na tradição grega.
Seu declínio, que causou um vácuo de quatro séculos na produção teatral, parece ter
sido mais significativo para a história da cultura ocidental do que sua própria existência.
 No ano 240 a.C. foi apresentada pela primeira vez uma peça traduzida do grego
durante os jogos romanos.
 O primeiro autor teatral romano a produzir uma obra de qualidade, que estreou
em 235 a.C., foi Cneu Nevius. O teatro histórico foi a primeira criação original

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desse autor, que incorporou às suas peças, mordazes e francas, críticas à
aristocracia romana, pelo que parece ter sido preso ou exilado.
 Desde o início, no entanto, o teatro romano dependeu do gosto popular, de uma
forma que nunca havia ocorrido na Grécia. Caso uma peça não agradasse ao
público, o promotor do festival era obrigado a devolver parte do subsídio que
recebera.
 Por isso, mesmo durante a República, havia certa ansiedade em oferecer à
platéia algo que a agradasse, o que logo se comprovou ser o sensacional, o
espetacular e o grosseiro.
 Principalmente durante o declínio do Império, os imperadores romanos fizeram
um uso perverso desse fato, provendo "pão e circo", segundo a famosa frase do
satirista Juvenal, para que o povo se distraísse de suas miseráveis condições de
vida.
 O grandioso Coliseu e outros anfiteatros espalhados por todo o império atestam
o poder e a grandeza de Roma, mas não sua energia artística. Não há razões para
crer que tais construções se destinavam a outra coisa que não espetáculos banais
e degradantes.

 Coliseu - Roma

 Os romanos construíram vários teatros (especificamente para representações),


mas, na maioria dos casos, nas pequenas cidades, direcionavam os edifícios para
vários outros usos (anfiteatros), como espetáculos de gladiadores, corridas,
representações.
 As arenas foram totalmente ocupadas por gladiadores em combates mortais,
feras espicaçadas até se fazerem em pedaços, cristãos cobertos de piche usados
como tochas humanas.
 Não é de se admirar que tanto os escritores, quanto o público de outra índole,
passassem a considerar o teatro como manifestação indigna e aviltante.

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 Dedicar-se ao teatro era muito mal visto: os atores eram, normalmente, escravos
ou ex-escravos; raramente mulheres representavam, tendo má reputação as que o
faziam (os papéis femininos eram feitos por homens).

TEATRO MEDIEVAL
Na Idade Média, o teatro não era escrito, era uma produção literária de natureza
dramática. Havia representações cênicas, mas estas eram, principalmente, figurativas.
Não havia o texto dramático, que é o que interessa à Literatura. Deixaram também de
representar as tragédias e comédias que expressavam o teatro clássico greco-romano.

As encenações litúrgicas

Sob a influência da Igreja Católica e da visão teocêntrica do mundo, o teatro


medieval foi basicamente um teatro litúrgico, articulado com os ritos, as celebrações e
o culto da religião católica. Essas formas dramáticas primitivas, das quais não há
registro literário, eram encenações realizadas nas igrejas e abadias, por ocasião do
Natal, da Páscoa e do Corpus Christi, sob a forma de autos, jogos e representações,
com pastores e reis magos adorando o Presépio, apóstolos, santos e figuras alegóricas de
anjos e demônios. Entre as modalidades dessas encenações litúrgicas, destacam-se:

A – os mistérios: encenações de passos da vida de Jesus Cristo extraídos do Novo


Testamento e de passagens do Antigo Testamento consideradas “prefigurações” do
advento de Cristo. Envolviam centenas de figurantes em inúmeros episódios que
reproduziam, de forma mais ou menos realista, a Natividade de Jesus, sua vida e seus
milagres e a Paixão de Cristo, encenada no ritual da Semana Santa. Os autos natalinos
que ainda se encenam no interior do Brasil, a representação da Via-Sacra, as procissões
do Senhor Morto e do Encontro, descendem dessa tradição litúrgica medieval, comum a
toda a Europa católica romana e que os colonizadores trouxeram para o Novo Mundo;

B – os milagres: representações da vida dos santos, dos mártires e apóstolos ou de


intervenções miraculosas da Virgem Maria;

C – as moralidades: peças mais curtas, cujas personagens eram alegorias (abstrações


que personificavam ideias, instituições, tipos psicológicos, vícios e virtudes), postas em
cena com finalidade didática ou moralizante. A Trilogia das Barcas, de Gil Vicente,
descende, em parte, dessa tradição, tanto que o Auto da Barca do Inferno traz, no
próprio título, a designação “Auto de Moralidade“. O teatro catequético do Pe.
Anchieta — os autos que fazia encenar para índios e colonos, destinados à educação
religiosa e à edificação moral dos espectadores — incorporava ao teatro litúrgico
medieval e às moralidades elementos da cultura nativa, para facilitar a compreensão dos
mistérios da fé e dos valores cristãos. Essas raízes ibéricas medievais dos mistérios,
milagres e moralidades, assimiladas pela cultura popular nordestina, continuaram a
fecundar o teatro brasileiro até nossos dias: O Auto da Compadecida, de Ariano
Suassuna, e Morte e Vida Severina (Auto de Natal Pernambucano), de João Cabral de
Melo Neto, são dois exemplos notórios dessa permanência.

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TEATRO RENASCENTISTA
Teatro Renascentista - A humanização da arte
Renascimento foi um movimento que marcou a Europa no de 1330 a 1530 e teve
como berço a Itália. Consistiu na retomada da cultura clássica, ou seja, a cultura greco-
romana. Entre suas principais características está a ruptura com os valores medievais e a
busca pelo novo. Nasceu na Itália, onde o desenvolvimento do comércio acabou
financiando artistas e cientistas, que também tinham a proteção da igreja e dos homens
de posse. O movimento atingiu todos os campos intelectuais existentes na época – a
filosofia, a ciência, a literatura, a pintura, a escultura e, claro, o teatro. Diferentemente
do que acontecia no mundo medieval, os artistas que aderiram ao Renascimento
possuíam extrema preocupação com o corpo humano, buscavam a beleza ideal, a
perfeição da forma, simetria. O homem renascentista acredita que tudo se explica pela
razão e pela ciência. Nesta época a arte passou a ser mais racional. O ser humano, e não
Deus, como acontecia no teocentrismo da Idade Média, passa a ocupar o centro do
universo, ocorre a glorificação do homem, chamado antropocentrismo.
O Renascimento choca-se com os dogmas e proibições da Igreja Católica a partir do
momento em que passa a criticar o mundo medieval e enfrenta a Inquisição.
O teatro renascentista vai do século XV ao XVI e, em alguns países sobrevive até o
século XVII. Com o início do movimento o teatro passa a misturar tradições medievais
com temas da tragédia grega e da comédia romana. É um teatro erudito, acadêmico,
com linguagem pomposa e temática pouco – ou nada – original, onde o ser humano é o
centro das preocupaçãoes. O palco é improvisado e o cenário simples. Com o passar do
tempo, mais precisamente no século XVII, a linguagem acaba se tornando solene e os
temas passam a ser os mitos e lendas do mundo antigo. 
Com o Renascimento, na Itália, surge a commedia dell´arte, gênero teatral onde
os atores improvisam os textos e especializam-se em personagens fixos, entre eles a
Colombina, o Polichinelo, o Arlequim, o capitão Matamoros e o Pantalone. As
encenações baseiam-se na criação coletiva e os cenários são simples, geralmente um
telão pintado com a perspectiva de uma rua. A novidade são as mulheres que passam a
representar personagens femininos e os atores que são todos profissionais. As peças são
baseadas na improvisação e no uso de máscaras. É um gênero rigorosamente
antinaturalista e antiemocionalista.
Os atores deveriam ter uma intensa preparação técnica vocal, corporal e musical.
Geralmente representavam o mesmo personagem por toda a vida, criando assim uma
codificação precisa do tipo representado. Mesmo tendo como base o improviso, os

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atores representavam seguindo a estrutura de um roteiro que orientava a sequência das
ações. Estes roteiros não variavam muito em termos de trama e relação entre
personagens.
A primeira companhia de commedia del´arte que surge é a I Gelosi – Os
Ciumentos – dos irmãos Andreini, fundada em 1545, em Pádua, com oito atores, que
dura até 1546. Esta foi a primeira vez que uma companhia teatral era caracterizada por
construir um grupo de atores que viviam exclusivamente de sua arte.
Como autor deste período destaca-se Maquiavel, com a peça Mandrágora – uma das
melhores comédias italianas. O autor e ator Angelo Beoloco (1502 – 1542), mais
conhecido como Ruzante, personagem que representava e que se caracteriza por ser um
campônes guloso, grosseiro, preguiçoso e gozador. Suas comédias são documentos
literários considerados os precurssores das máscaras do gênero.
Na Inglaterra, o teatro elizabetano tem seu auge de 1562 a 1642. As peças
caracterizam-se pela mistura do sério e do cômico, pelo abandono das unidades
aristotélicas clássicas, pela variedade na escolha dos temas – tirados da mitologia, da
literatura medieval e renascentista e da história – e por uma linguagem que mistura o
verso mais refinado à prosa mais descontraída.
O espaço cênico elizabetano, de forma redonda ou poligonal, possui palco em
até três níveis, assim várias cenas podem ser representadas ao mesmo tempo. As
galerias para os espectadores mais ricos circundam o edifício em nível mais elevado, os
mais humildes ficam em pé, quase que se misturando aos atores no nível inferior do
palco. Uma cortina ao fundo modifica o ambiente.

Shakespeare
Entre os maiores nomes está William Shakespeare (1564-1616), escritor das
tragédias ( Romeu e Julieta , Macbeth , Ha mlet, Rei Lear , Otelo ), comédias ( A
tempestade , A megera domada , Sonhos de uma noite de verão ) ou dramas
históricos ( Henrique V), tornando-se o maior dramaturgo de todos os tempos. 
Shakespeare é considerado um dos mais importantes dramaturgos e
escritores de todos os tempos. Seus textos literários são verdadeiras obras de arte e
permaneceram vivas até os dias de hoje, onde são retratadas freqüentemente pelo
teatro, televisão, cinema e literatura.
Nasceu em 23 de abril de 1564, na pequena cidade inglesa de Stratford-
Avon. Nesta região começa seus estudos e já demonstra grande interesse pela
literatura e pela escrita. Com 18 anos de idade casou-se com Anne Hathaway e,
com ela, teve três filhos. No ano de 1591 foi morar na cidade de Londres, em busca
de oportunidades na área cultural. Começa escrever sua primeira peça, Comédia

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dos Erros, no ano de 1590 e termina quatro anos depois. Nesta época escreveu
aproximadamente 150 sonetos.  
Embora seus sonetos sejam até hoje considerados os mais lindos de todos os
tempos, foi na dramaturgia que ganhou destaque. No ano de 1594, entrou para a
Companhia de Teatro de Lord Chamberlain, que possuía um excelente teatro em
Londres. Neste período, o contexto histórico favorecia o desenvolvimento cultural e
artístico, pois a Inglaterra vivia os tempos de ouro sob o reinado da rainha
Elisabeth I. O teatro deste período, conhecido como teatro elisabetano, foi de
grande importância. Escreveu tragédias, dramas históricos e comédias que
marcam até os dias de hoje o cenário teatral. 
Os textos de Shakespeare fizeram e ainda fazem sucesso, pois tratam de
temas próprios dos seres humanos, independente do tempo histórico. Amor,
relacionamentos afetivos, sentimentos, questões sociais, temas políticos e outros
assuntos, relacionados a condição humana, são constantes nas obras deste escritor.
No ano de 1610, retornou para Stratford, sua cidade natal, local onde escreveu sua
última peça, A Tempestade, terminada somente em 1613.  Em 23 de abril de 1616
faleceu o maior dramaturgo de todos os tempos, de causa ainda não identificada
pelos historiadores.

Bibliografia: BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. 4 ed. São Paulo:


Perspectiva. 2010.
Dramaturgia Cômica: razões platônicas para apreciar Aristófanes, por Luísa Severo
Buarque de Holanda. Anais de Filosofia Clássica, vol. V nº 10, 2011. ISSN 1982-5323

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