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KOUDELA, INGRID DORMIEN. JOGOS TEATRAIS.

SÃO PAULO:
PERSPECTIVA, 2001.

Ingrid Dormien Koudela é professora livre-docente de Didática e Prática de Ensino em Artes


Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Dedica-se ao
desenvolvimento de projetos educacionais, ligados ao teatro, junto à Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo e Faculdade de Educação da USP. Koudela também é escreveu “Jogos
Teatrais e Brecht: Um Jogo de Aprendizagem”, além de ter traduzido importantes obras no
campo teatral e ter introduzido, no Brasil, os métodos de Viola Spolin. Atualmente, no
desenvolvimento de pesquisa que envolvem teatro e educação, destaca-se o trabalho de
Koudela, relativos aos jogos teatrais. Em Jogos Teatrais, trabalho publicado pela editora
Perspectiva, baseando-se nos pesquisadores Spolin, Piaget e Languer, a autora apresenta uma
sistemática de trabalho de importante aplicabilidade no processo didático, pois visa servir de
orientação aos professores que desejam reinventar os seus meios de ensino a partir de bases
estruturais.
SÍNTESE DA OBRA
Segundo informações de KOUDELA (2001), a década de 1960 marca o início da reinvenção
do teatro. Diversos grupos se colocaram a desenvolver novas técnicas de comunicação a partir
de workshops. Deste processo experimental surgiu as técnicas de “Jogos Teatrais”, de Viola
Spolin. O sistema de Spolin é apresentado em Improvisation for the Theater (1963) e Theater
Game Files (1975), este último escrito em forma de fichário cujas partes podem ser estudadas
de forma independe e em diferentes sequências. Enquanto Improvisation ainda traz muito do
teatro formal (preparações para montagens), Theater Game é totalmente voltado ao jogo da
improvisação, sendo que o objetivo é transmitir um sistema de atuação que pode ser
desenvolvido por todos aqueles que desejem se expressar através do teatro. Em Improvisation,
a organização de cada jogo é apresentada de forma sistemática e a explicação classificada em:
preparação; descrição do exercício; instrução; avaliação; notas; áreas de experiência. Já o
corpo dos Theater Game está dividido em: seleção de jogos teatrais e jogos tradicionais;
seleção de jogos teatrais acrescido de estrutura dramática; seleção adicional de jogos teatrais.
KOUDELA (2001) informa que Spolin tinha por intenção atingir professores e leigos em
teatro, com o objetivo de promover a utilização do jogo em qualquer situação de
aprendizagem. A nova didática, desenvolvida por Spolin, pode oferecer uma contribuição
importante, pois permite libertar-se da preocupação de organizar as exposições somente com
base na sequência de informações a serem transmitidas dentro de uma ordem sucessiva. Para
Spolin, com base no conceito de Foco, voltado para os pontos essenciais a serem
comunicados aos alunos, é possível alterar a própria organização da matéria, pois por meio do
envolvimento criado pela relação com o jogo, desenvolve-se liberdade pessoal dentro do
limite de regras estabelecidas e cria-se técnicas e habilidades pessoais. “À medida que
interioriza essas habilidades e essa liberdade ou espontaneidade”, o indivíduo “se transforma
em um jogador criativo”. (KOUDELA, 2001, p. 43) A autora ressalta ainda que os jogos
possuem caráter social e baseiam-se em problemas a serem solucionados, ou seja, é o próprio
objeto do jogo. “As regras do jogo incluem a estrutura (onde, quem, o que) e o objeto (foco)
mais o acordo de grupo”. (KOUDELA, 2001, p. 43) Destacando as palavras de Spolin, a
autora esclarece a diferença entre jogo dramático e jogo teatral: “Como o adulto, a criança
gasta muitas horas do dia fazendo jogo dramático subjetivo. Ao passo que a versão adulta
consiste usualmente em contar estórias, devaneios, tecer considerações, identificar-se com os
personagens da TV etc., a criança tem, além destes, o faz-de-conta onde dramatiza
personagens e fatos de sua experiência, desde cowboys até pais e professores. Ao separar o
jogo dramático da realidade teatral e, num segundo momento, fundindo o jogo com a
realidade do teatro, o jovem ator aprende a diferença entre fingimento (ilusão) e realidade, no
reino do seu próprio mundo. Contudo, essa separação não está implícita no jogo dramático. O
jogo dramático e o mundo real frequentemente são confusos para o jovem e - ai de nós – para
muitos adultos também”. Já nas palavras de KOUDELA (2001, p. 44), “o processo de jogos
teatrais visa efetivar a passagem do jogo dramático (subjetivo) para a realidade objetiva do
palco”. Entende-se, portanto, que o jogo teatral é um processo que tem por objetivo gerar uma
nova realidade. A autora conta que para Spolin a criança, dos sete/oito anos de idade em
diante, já conta com capacidades que lhes permitem expressar-se através da linguagem
artística do teatro. Desta forma, a transição entre o jogo dramático infantil (ou jogo de faz-de-
conta) para o jogo teatral é comparável à “trans formação do jogo simbólico (subjetivo) no
jogo de regras (socializado)”. No jogo teatral, se busca pela solução do problema de atuação,
ou seja, é realizado um esforço para se atingir o estado de acomodação. Assim, “a
improvisação de uma situação no palco tem uma organização própria, como no jogo, pois se
trabalha com o problema de dar realidade ao objeto”. (KOUDELA, 2001, p. 44) KOUDELA
(2001) destaca as palavras de Hans Furth para explicar a passagem do jogo dramático para o
jogo teatral: “A principal diferença entre o jogo simbólico da primeira infância e a
representação improvisada está na aplicação controlada de esquemas cognitivos no exercício
de todas as partes do corpo, em cada movimento e em cada sequência de comportamento. As
próprias crianças são as primeiras a perceber a diferença entre a brincadeira fantasista e a
representação intencional. Da mesma forma como nos exercícios de pensamento as crianças
não brincavam de pensar, mas estavam seriamente empenha das na tarefa de pensar, também
na representação não simulam mas dão vida aos objetos”. (FURTH APUD KOU DELA,
2001, p. 45) No sistema de jogos teatrais, através do Foco, ou ponto de concentração do ator,
nota-se a possibilidade de se trabalhar com o significado do gesto, uma vez que a delimitação
do campo de jogo leva ao nível de concentração que, por sua vez, garante o envolvimento do
participante. Desta forma, a função que o jogo cumpre pode ser entendida como uma
estratégia para se atingir objetivos específicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações de KOUDELA (2001) podem ser complementadas pelos estudos de SLADE
(1987) e de BRUHNS (1993). O primeiro, em sua obra, apresenta as conclusões de seus
estudos relativos ao teatro infantil e trata justa mente da transição entre o jogo dramático
infantil e o jogo teatral entendido pelos adultos. Já BRUHNS (1993) dispõe--se a analisar as
relações entre o jogo e os fatores de ordem social e cultural

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