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3.

A Importância da Imagem no
Ensino da Arte: Diferentes
Metodologias

ARTE NA E DUCAÇÃO NÃO É MERO


EXERCí CIO ES COlAR

Sempre me encomendam textos ou palestras com o Ululo "A


Impor tância da Ar te na Escola". Para os que tr abalham com arte
é tão óbvia a importância da art e na vida e, portanto , em qual-
quer forma de institucionalização da vida, como a escola, que fico
tentada a dizer apenas: Se a arte não fosse importan te não existi-
ria desde o tempo das cavernas, resistindo a todas as tentativas de
menosprezo.
Entretanto, para escapar à acusação de simplismo que esta
resposta poderia provocar, vamos pensar na necessidade da arte
em duas etapas fundamentais do ser hum ano em sociedade: o
momento de sua alfabetização e a adolescência.
Estes dois momentos evocam no senso comum instantanea-
mente necessidades de natureza diferente: a alfabetização como
necessidade de conqui sta de uma técnica e a adolescência como
necessidade de conquista de equilíbrio emocional.
Por ém, se pensar mos que uma tem como objetivo apenas o
domínio cognitivo ou intelectual (a alfabe tização) e a outra (a
adolescência) é uma crise de domínio afetivo estar emos come-
tendo o velho erro de dicotom izar razão e emoção.
Não se alfabetiza fazendo apenas as criança s juntarem as le-
tras.
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A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IM PORTÂNCIA DA IMA GEM NO ENSINO DA ART E... 29

Há uma alfabetização cultural sem a qual a letra pouco signi- crianças e os adultos podem transcender sua solidã o e esquecer-s e de si mesmos
fica.
atra vés do jogo ou trabalho. Por o utro lado, o adolescente , vacilante entre a
A leitura social, cultural e estética do meio ambiente vai dar infâ ncia e a juventude , fica suspe nso um instante ante a infin ita riqueza do mun-
sentid o ao mundo da leitura verbal. do. O ad olescente se assombra de ser. E ao pasm o sucede a refle xão: inclinad o
sobre o rio de sua Cons ciência pe rgunta se este rost o, que a flora lent amen te do
Por outro lado, a art e facilita o desenvolvimento psicomotor
fundo deformado pela água, é o seu . A singularidade de ser :" mera sensação na
sem abafar o processo criador. Em 1988, Maria Lucia ToralIes criança - se transforma em problema e pergunta, em co nsciência interro gante.'.
Pereira defendeu uma tese na Uni versidad e de São Paulo (ECA)
pesqui sando numa creche de crianças pobres demonstrou que o Regina M achado comenta est e texto de Octavio Paz:
grupo que trabalhou com arte desenvolveu melhor sua motricida-
de que o grupo submetido aos exercícios psicomotores usuais, e Qu e possibilidade o noss o siste ma edu cacional oferece ao adol escente de
provou isto usando testes empregados pelos especialistas cm psi- exer cer uma consciência interrogante? Ach o desnecessári o respo nder a esta
comotricidade, isto é, usando as armas do inimigo. que stão, todos sab em os o quanto uma criança, desde mais ou menos set e an os, já
está "formada" pelos padrões da lógica do certo e do errado, o quanto sua s pos-
A s art es plásticas também desenvolvem a discriminação vi- sibilidades de perguntar sobre o que pode ser est ão enquadradas em regras pre-
sual, que é essencial ao processo de alfabe tização. Para uma estabelecidas. Da í para a frente ela busca sempre acerta r, guiando-se pelo qu e
criança de seis ano s as palavras lata e bola são muito sem elhantes "pa rece estar de acordo" com o mund o adu lto, pelas exigências exteriores do
porque têm a mesma configuração gestáltica C!::Cb , isto é, uma "vencer na vida". O mo me nto da ad olescên cia me pa rece cruc ial como opo rt uni-
dade para que a escola preench a de significaç ão esta revelação da existên cia co-
let ra alta, uma baixa, seguida de outra alta e mais uma baixa. Só
mo algo particular, intransferível de que fala O ctavio Paz. É pre ciso que o ado-
Urn a visualidade ativada pode, nesta idade, diferenciar as duas pa- lescente tenha a possibilidade de se apoderar do ser único qu e ele é, das sua s ap-
lavras pelo seu asp ecto visual e esta capacidade de diferenciação tidões , son hos, angúst ias e indagações; pe nso que isto ele pode consegu ir se pu-
visual é básica para a apreensão do código verb al q ue tam bém é der EXPRESSAR ou con struir, de form a signi fica tiva, a reflexão so bre seu "as-
visual. sombrar-se de ser " . É pre ciso te r espaço e condições que me permitam, se eu te-
nho quinze anos, confro nta r-me com que m eu sou en qu a nto ind ividualidade, no
Aprend e-se a palavra visualiza ndo. O utra importante função momento em qu e eu a descubro como minha. A lém da voz, que me diz o tempo
da arte é a complementação da com unicação entre professor -alu- todo como eu devo ser , como devo vestir-me, comportar-me, o que devo dizer, o
no. Os professores, por mais iletrados que sejam, têm um uni ver- que devo escolher, é preciso que me seja permit ido escut ar uma outra voz qu e
so vocabular muito maior que a criança e, se são letrados, têm pergu nta dentro de mim o que eu PODERIA ou G OSTA RIA de se r. É pre ciso
uma linguag em muito diferente da linguag em " nós vai", "nós se- . enfim que eu possa IMAGINAR Q uero dizer , imaginar não no se ntido pejorati-
vo que esta pala vra tem cada vez ma is na nossa sociedade, ou seja, o de produzir
mo" das criança s pobres. Como é possível a com unicação verbal?
ilusões , fant asias , "go staria de se r uma prince sa" et c. Mas falo da função primor-
É como se o professor falasse grego par a um al uno imb ecili- dial da imaginação , qu e é a de possib ilitar ao ind ivíduo pergunta r-se sobre o qu e
zado pela incompreensão. pode ser , livre das am arras do certo e do errado, para que aquil o que é re al seja
A representação plá stica visual m uito ajuda a comunicação significativo para que m pe rgunta. O real deixa de ser rígido, preestabelecido para
verbal, que é restrita a urna s set enta pal avras para uma criança de se mpre e passa a ser algo que eu possa olhar de vários ângulos para encontrar a
seis ano s. melhor forma de compreendê-lo.
O que o pr ocesso de socialização faz com a imagin açã o? A criança pequena
Para a demonstração da necessidade da art e na adolescência en tra na esco la e enc ontra o olh ar complace nte do ad ulto: "que lindo o seu des e-
prefiro recorrer a textos com os quai s me identifico. nho, olhe só qu e imaginaç ão que 'cria tividade ', com o é inte ressa nte seu jei to di-
Em primeiro lugar, Octavio P az para definir a natureza da ferente de pergu ntar '. Ist o, na melh or das hipó teses, qu ando en contra um adulto
crise existencial da ad olescênci a, seguindo-se Regina Machado "sensível" ao "mundo infantil". Então aí a Imaginação está bem , afinal, dizem, a
criança ainda " não sa be pensar direito ", a fant asia estrutura o ser da crian ça, é
que nos fez imaginar a imaginação que org aniza a consciência in- sua forma de relacion am ento com o mundo. Ela preci sa brincar - quand o dei-
terr ogante do adolescente. Oct avio Paz diz no Labirin to da So- xam, é claro - tamb ém desenhar, ouvir estórias; ainda não está na hora de ES-
lidão:
T UDAR No 10 grau , tud o muda : a seri edade do s números, palavras, regiões do
mundo, do corpo humano invade os espaç os ocupad os at é então pela Imagi-
A tod os, em algum momento, se nos revel ou nossa exist ênci a com o algo nação.
part icular , instranferível e pre cioso . Qu ase sempre est a revelaçã o se situa na ad o-
lescência. O descobrimen to de nós mesmos se manifesta como um sa ber _ nós
sós; entre o mundo c nós se abre uma impalpável, transparente muralha : a de I. Octavio PaI., EI La birinto de la Soledad , México, Fond o de Cu ltura
nossa consciênc ia. l~ ce rto qu e ba sta nascermos para nos se ntirmos sós; mas as )':Conómi ca, 1')77.
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A IMPORTÂNCIA DA IM AG EM NO ENSINO DA ARTE...
30 A IM AG EM NO EN SINO DA ARTE
aprese nta, necessita não ape nas d o pen sam ento ló gico, mas ta mbé m da intuição
Ta is informaçõ es pod eri am e podem co nviver co m a Imagin ação, de muit as
formas. Mas, e m ge ral, o q ue aco ntece é qu e a razão e a imaginação são coloca- e da imaginaçã02
das em co mpa rt ime ntos separados e estanques, a té mesm o pel as tent ati vas mo-
dernas de juntá-Ias: o desenh o da carave la junta-se à mat é ria sobre o desen vol- R egina M achado nos dá, no texto acima, as razões poética s e
vimento do Brasil, ou coloca -se em d ramat ização o text o da aul a de po rt uguês . cognitivas da arte na educaçã o do adolescen te, e quer o lembrar
Mas tr ata-se de um a relação mecân ica e não o rgâ nica com o poderia ser. Ist o se também que não menos importantes são as razões catárticas e
dá por um desco nhecime nto da co mp leme ntari da de qu e existe en tr e a razão e a emocionais qu e inclu em a saúd e mental e o desenvolvimento do
imaginação em tod o processo genuíno de ap re nd izage m.
Pior do qu e isso , tal desconh ecimento gera um a des informação muit o gra ve processo criador.
na visão qu e se tem da Imaginação, relegad a aos a rt istas, aos lou cos e às crian ças.
Co mo estas [ustificaüvas da ar te na educação têm sido exaus-
Muitos autores chega m a discutir o pe rigo de incen tivar a ativi da de ima gina tiva tivamente defendidas pelos arte- educadore s, .prefiro me referir às
no se ntido de que ela po deri a impe dir a a tuação do indi vídu o no mundo: a fanta- razões pragmáticas da arte na escola par a os ad olescentes e pré-
sia " tira" a pessoa da real idad e, deixa-a "se m rec ursos" pa ra e nfre ntar os pro-
ble mas con cre tos que a vida ap rese nta . Não há d úvida qe existe m maca nismos
adolescentes.
A adole scência é o mom ent o de se testar pré-profissional-
neur6t icos, doentes , qu e isolam det erminados indivíd uos em um a fa ntasia exa-
cerba da , na qu al eles se refugi am po r se se nti re m incap azes de lida r co m a re ali- mente, é quando o jovem começa a se inte rro gar que carr eira se-
da de. guir ou, mais imediatisticamente, que vestibu lar fazer.
Mas a al ienação não se prod uz apenas pel a fantasi a. E a fan tasia não se re- Mais de 25% da s profi ssões neste país estão ligadas dir eta ou
du z à alienação. Est a apenas é um mau uso de uma faculda de humana qu e existe indiretamente às ar tes, e, seu me lhor desempenho de pende do
justam en te pa ra p rom over a afi rmaç ão do hom em e nq ua nto se r cria do r, para
conhecimento de art e que o indivíduo tem. O contato com a ar te
most rar difer en tes â ngu los possíveis, de um a realid ad e qu e a 16gi ca apresenta de
um a só form a. é essencial par a vári as profissões ligad as à pr op aganda, às edito-
An tiga mente, nos povos t radi cion ais, o momen to da adolescê ncia e ra ma r- ras, na publicação de livros e revistas, à indústr ia dos discos e fitas
cado por rit os de iniciação, que tinha m a fun ção precisa de introd uzir o indivíd uo cassetes. Não conheço nenhum b om designer de publicidade que
na SIG NI FICAÇÃO de ser ad ulto . A visão de mu ndo daquela sociedade estava desconheça a produção contemp orânea das artes plásticas, como
expressa em símbo los co mpa rt ilhados po r tod os e tal co nhecime nto era tra nsmi-
não conheço nenh um b om programa dor visual de editor a que não
tid o ao adolesce nte a través de rit uais que o faziam pa ssa m por du ras provas,
mar cavam-n o, esc revia m, às vezes no se u co rpo, na sua mente , o modo co mo
conheça a produção gráfica da Bauhaus, nem bons profissionais
aq ue le gru po humano e nte nd ia se u es ta r no mun do. que tr abalham em gravadoras que não conheçam música par a
Na nossa socie dade, o ado lescente recebe REGRAS e não SIG NIFI- melhor julgar a qu alidade do som que estão gravando.
CAÇÕ ES . E le deve acei tá- Ias pa ra po der se tra nsform a r num cidad ão bem-suce- E na televisão? T odos os tr abalh adores de TV, des de os pro-
d ido. Ed mund Burke Fe ld ma n funda me nta sua teoria e métod o da a rt e-ed ucação duto res até o comera man , seri am me lho res se conhecessem arte,
na necessidad e qu e hoje tem os de ri tual izar nossas crises de co nfro nto co m a vi·
porque est ar iam m elhor prepar ados para jul gar a quali dade e a
da , du rante várias et ap as do noss o cresci me nto . Segu ndo Feld man , só existe crise
de ado lescê ncia e m nosso mun do, po rq ue ta l crise não é RfruALIZADA por propriedade das imagens. Já há uma pesqui sa nos E stados U ni-
nenhum rito de passage m. A arte e ntão cumpriria um impo rt a nte pape l nesse dos mostrando que os comera men que tiveram cursos de apr e-
se nt ido, possi bilitan do ao indivíduo, através de sua exp ressão, con fronta r-se co m ciação ar tística são mais eficientes, escolhem melhor os enqua-
suas crises . dr ame ntos, dominam melhor a imagem que jogam em nossas ca-
Acredi to qu e a a rte tem , de fat o, uma fun ção específica nesta fase da vida
do ind ivídu o, e m qu e ele deixou de se r cria nça, e m qu e se vê com o con sciê ncia
sas.
Pensemos também na indústria têxt il, que desde a textura à
interrogan te e ai nda não é ad ulto. Co mece i fala ndo da Im aginação po rq ue ela é
indissociáve l da a tivida de a rtística, um a não e xiste se m a o ut ra . A prin cíp io co n-
padronagem, se enriquece ria com profissionais que conhecessem
side rei a imagi nação co mo p o ten cialidad e h um an a funda me nta l pa ra q ua lque r arte. O desenho de nossas cad eiras, em geral tão rui m, seria bem
idade o u ativi da de ; não exis te pe nsa me nto ge nuíno se m imaginação. Todos os re- melhorado se aq ueles que o fazem conhecessem arte.
latos do s gra ndes cie ntis tas, co mo po r exe mplo Poi ncaré o u Ei nstei n, fala ndo de Quando falo de conhecer arte falo de um conhecimento que
seu trabalh o, mostr am o q ua nto a imagi nação e a intuição es tão na base de qua l- nas artes visuais se or ganiza inter-relacionando o fazer ar tístico, a
que r investigação cie ntífica. Par a chega r a um a verda de nova, que co ntrib ua pa ra
o avanço da ciê ncia, o investigad or precisa a rris car, pe rgu ntar, tr an sgred ir o q ue
já est á dad o como certo, co mo logicam ent e poss ível.
Sc passa mos pe lo plan o dos cie ntistas, pequena pa rce lada h um an idad e, pa-
ra todos os o utros ser es h uma nos, o fenôm eno é o mesmo . U m adu lto equi libra- 2. Regina Machado, "Alie ED ASA C: um a Rdle xão sob re a Fun ção da
do, qu e seja capa z de reso lver sati sfa to ria ment e os prob lem as q ue a vida Ihc Art e no II.b~.ist éri o", 1,)88, texto ma nusrr;lo.
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apreciação da arte e a história da arte. Nenhuma das três áreas te na escola são claros. "Só uma pequena porcentagem de nossa
sozinha corresponde à epistemologia da arte. população visita nossos museus ou ass iste a concertos'".
O conhecimento em artes se dá na interseção da experimen- Só uma pequena minoria é capaz de apreciar e usufruir da
tação, da decodificação e da informação. experiência estética apresentada nestes espaços, mas através de
Arte-educação é uma certa epistemologia da arte como pres- impostos, um número muito maior de pessoas paga pelas re ali-
suposto e como meio são os modos de inter-relacionamento entre za çôes artísticas. Contudo, aos códigos da arte erudita tem acesso
a arte e o público, ou melhor, a intermediação entre o objeto de apenas uma pequena elite.
arte e o apreciador. A escola seria a instituição pública qu e pode torn ar o acesso
Nem a arte-educação como investigação dos modos pelos à arte possível para a vasta maioria dos estudante s em no ssa
quais se aprende arte, nem a arte-educação como facilitadora en- nação. Isto não só é desejável mas essencialmente civilízat ôrio,
tre a arte e público podem prescindir da inter-relação entre histó- porque o prazer da arte é a principal fonte de continuidade histó-
ria da arte, leitura da obra de arte e fazer artístico. rica, orgulho e sen so de unidade para uma cida de, nação ou
Só um fazer consciente e informado torna possível a aprendi- im pério, disse Stuart Hampshire alguma vez em algum de seus
zagem em arte. escritos.
Sabemos que a arte na escola não tem como objctivo formar Sem conhecime nto de ar te e história não é possível a cons-
artistas, como a matemática nã o tem como objetivo formar ma- ciência de ide ntidade nac ional. A escola seria o lugar em que se
temáticos, embora artistas, matemáticos e escritores devam ser poderia exercer o pr incípio demo crático de acesso à inform ação e
igualmente benvindos numa so ciedad e desenvolvida. formação estética de todas as classes sociais, pro piciando-se na
O que a arte na escola principalmente pretende é formar o multicuIturalidade br asileira uma aproximação de códigos cultu-
conhecedor, fruidor, decodificador da ob ra de arte. U ma socie- rai s de diferentes grupos.
dade só é ar tisticam ente desenvolvida quando ao lado de uma O que temos, entretan to, é o aparth eid cultural. Para o povo,
produção artística de alta qualidade há também uma alta capaci- o candomblé, o carnaval, o bu mba-meu-boi e a sonegação de có-
dade de entendimento desta produção pel o público. digos eruditos de arte que presidem o gosto da classe dominante
Desenvolvimento cultural que é a alta asp ira ção de uma so- que , por se r dominante, te m possibilidade de ser mais abrangente
ciedade só existe com desenvolvimento artístico neste duplo sen- e ta mbém dom ina os códigos da cultura popular. Basta ver o nú-
tido. mer o de teses que se escrevem na universidade sobre cultura e
É paradoxal que ao mesmo tempo em que a sociedade mo- ar te po pular, e ain da a elite eco nômica e cultural desfil an do nas
derna coloca na hierarquia cultural a arte como uma das mais al- escolas de samba no carnaval.
tas realizações do ser humano, construindo "verdadeiros palácios As massas têm direito a sua própria cultura e tam bém à cul-
que chamamos museus para expor os frutos da produção artística tura da elite, da mesma maneira que a elite já se apropriou da
e construindo salas de concerto para atingir as mais altas expe- cult ura da massa, embora quase sempre " hospedada no Hilton
riências estéticas a que podemos chegar através da música'", des- Hotel".
preza a arte na escola. O eanal de realização estética é inerente à natureza humana
Reconhecemos que a arte representa a apoteose cultural de e não conhece diferenças sociais. Pesquisadores já mostraram que
uma sociedade, mas reservamos um espaço bem pequeno para o ser humano busca a solução de problemas através de dois com-
ela na escola. por tam entos básicos: o pragmático e o estético, isto é, buscam so-
Por quê? luções que sejam mais práticas, mais fáceis, mais exeqüíveis,
Lembra Elliot Eisner que os resultados da negligência da ar- por ém, ao mesmo tempo, mais agradáveis, que lhe dêem maior
prazer.
Por isso, ao viajarmos pelo interior do Brasil, nos deparamos
às vezes com casas muito pobres, de taipa e cobertas de palha de
3. Elliot W. Eisne r, "Why Art in Edu cation and Why Art Edu cati on", in
Beyon Creating: lhe Place f or An in America's Scho ols, USA , 1. Pa ul G ctt y Trust,
]985, p. 5.
4. h lrrn, tbulrrn ,
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coqueiro, mas ao redor alguém plantou um jardim organizando as qualidade do que está sendo visto aqui e agora e em relação ao
cores das flores de maneira a lhe dar um prazer que vai trazer um passado. .
pouco de qualidade de vida à miséria. Preparando-se para o entendimento das artes visuais se pre-
Dentro de uma destas casas podemos até encontrar um jarro para a criança para o entendimento da imagem quer seja arte ou
de flores de plástico, que foi posto ali também para dar pr azer ou não.
qualidade de vida. A flor de plástico pode não ser pr azer estético Um currículo que interligasse o fazer artístico, a história da
para mim e para meu padrão de valor cultural, mas o é par a os arte e a análise da obra de arte estaria se organizando de maneira
donos daquela casa que também podem ter uma re produção da que a criança, suas necessidades, seus interesses e seu desenvol-
Santa Ceia de Leonardo da Vinci na parede. vimento estariam sendo respeitados e, ao mesmo tempo, estaria
O intercruzamento de padrões estéticos e o discernimento de sendo respeitada a matéria a ser aprendida, seus valores, sua es-
valores devia ser o princípio dialético a presidir os conteúdos dos tru tura e sua contribuição específica para a cultura.
currículos na escola , através da magia do fazer, da leitura deste Teremos assim equilíbrio entre as duas teorias curriculares
fazer e dos fazeres de artistas populares e eruditos, e da contex- dominantes: a que centra na criança os conteúdos e a que consi-
tualização destes art istas no seu tempo e no seu espaço . dera as disciplinas autônomas com uma integridade intelectual a
ser preservada.
Este equilíbrio curricular começou a ser defendido na Ingla-
A METODOLOGIA TR IAN GULAR: H ISTÓR IA DA ARTE , terra pelo "Basic Design Movement" ainda nos anos cinqüenta.
LEITURA DA OBRA DE AR TE E FAZER ARTíSTICO Em um congresso , no Brett on H all em 1956, sobre a Ex-
pressão do Ad olescente na Arte e no Artesanato, duas corr entes
No Bras il tem dominado no ensino das ar tes plásticas o tra- começaram a se degladiar. D e um lado , o grup o que passou a ser
balho de atelier, isto é, o faze r arte. chamado de rom ânti co, liderado por Barclay Russel e os discípu-
Este fazer é insubstituível para a aprendizagem da art e e para los de Marion Richardson, defendiam a intuição como or igem de
o desenvolvimento do pensamento/ linguagem present acional, toda expressão e reje itavam a idéia de pr ocessos lógicos e cons-
uma forma diferente do pensamento/ linguagem discursivo, que cientes tomando par te do pro cesso de criação em ar te.
caracteriza as áreas nas quais domina o discurso verbal, e E ste grupo falava cm termos místicos do tra balho de seus
também diferente do pensamento científico presidido pela lógica. alunos, dizendo como Vero nica Za bel que a beleza destes traba-
lhos "permanece misteriosa e além de qualquer explicação'" ,
O pensam ento presentacional das artes plásticas capta e pro-
De outro lado, o grupo liderado por Harry Thubron, do qual
cessa a informação através da imagem.
participavam Tom Hudson, Ma urice de Suasmarez, Victor Pas-
A produção de arte faz a criança pensar inteligentem ente
more e posteriorme nte Rich ard H amilton , começou neste con-
acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção
gresso a defender o dese nvclvimento do profi ssionalismo na esco-
não é suficiente para a leitur a e o julgamento de qualidade das
la e a idéia de que os adolescen tes necessitam inform ações e ba-
imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos
ses racionais sobre as quais se dá o dese nvolvimento. Maurice de
cerca.
Suasmarez chegou a dizer que a atitude denegridora da inteligên-
Este mundo cot idiano está cada vez mais sendo dominado
cia estava ten do conseqüências dan osas para a art e-educação
pela imagem. Há uma pesquisa na França mostrando que 82% da
acrescentando:
nossa aprendizagem informal se faz através da imagem a 55%
desta aprendizagem é feita inconscientemente. Free exp ress ion had played a vital ro le in fos teri ng creativity in lhe prim ary
Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Através da school , bul ali agre d lha ! at lhe ado lescent and adu lt stages, a more objective and
leitura das obras de artes plásticas estaremos preparando a crian- ratio nal appro ach was nece ssa ry"
ça para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e,
através da leitura do cinema e da televisão, a prepararemos para
5. Richard Ycornans, " Basic Design and lhe Ped agogy of Richard Hamil-
apr ender a gramática da imagem em movimento.
lon" , I ournal ofArt and Design Education, volume 7, nO2, p. 155 Lo nd res, 1988.
Esta dccodificação precisa ser associada ao julgam ent o da
c. Idem, p. 15(,.
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Richard Hamilton desenvolveu esta abordagem, acusada de tura através do tempo, elas fazem julgamento acerca de sua qua-
racionalismo, associando ao fazer artístico, os ensinamentos dos., lidade"8.
princípios do design, as informações científicas sobre o ver e o Para ele o trabalho prático de estúdio ajuda a aprender como
pensar e a ajuda da tecnologia. criar imagens que tenham poder expressivo, coerência, insight e
Seus alunos estudavam a gramática visual, sua sintaxe e seu ingenuidade. A crítica de arte desenvolve a habilidade de ver e
vocabulário, dominando elementos formais como pon to, linha, não apenas olhar as qualidades que constituem o mundo visual,
forma, espaço positivo e negativo, divisão de área, cor, percepção um mundo que inclui e excede as obras de arte.
e ilusão, signo e simulação, tranformação e projeção, e não só na A história da arte ajuda as crianças a entender algo do lugar
imagem produzida por artistas, mas também na imagem da pro- e tempo nos quais as obras de ar te são situadas. Ne nhuma forma
paganda, como na embalagem de suco de laranja, eram assunto de arte existe no vácuo: parte do significado de qualquer obra de-
de suas aulas. pende do entendimento de seu contexto. "A estética esclarece as
Nos anos sess enta, R ichar d H am ilton, com a ajuda de artistas bases teóricas para julgar a qualidad e do qu e é visto'" .
professores como R ichar d Sm ith, Joe Tilson e E d uardo Pa olozzi", Nos Estados Unidos estas áreas que compõem o con heci-
em Newcastle University, lançava as bases teórico-práticas do que mento da arte estão sendo apren did as de forma integra da ou se-
hoje os americanos denominam DB AE, isto é, Disciplincd-Ba- paradamente.
sed-A rt E ducation, a ban de ira ed ucacional do com petente traba- Acredito que a separação das ár eas vai levar ra pidamente a
lho des envolvido pelo Getty Ce nter of E ducation in the A rts. Pre- um re torn o ao acade micismo e teremos escolas onde se ensinará
cursor do DB AE foi tam bé m o trabalho desenvolvido nas "Es- so mente história da arte e talvez algo que se aproxima mais ao
cuelas ai Aire Libre", no México, depois da revolu ção de 1910. que criticamente chamamos de " história do s/ide" .
Aquelas escolas seguiam a orien tação de Best Maugard qu e pre- A gr ande conq uista do D BAE é a simultaneidade de diversas
tend ia, através do en sino da arte, levar a urna leitura do s padrõ es formas de pensar num mesmo ato de conhecimento.
estéticos da arte mexicana que aliada à hist ória destes padrões e A metod ologia de ensin o da ar te us ada no M useu de Art e
ao fazer artístico recuperariam a consciência cultur al e política do Conte mporân ea da U niversidade de São Paul o int egra a história
povo . Buscava-se, com o desenvolvim ento do fazer ar tístico, a lei- da ar te, o fazer artístico, e a leitura da obra de arte. E sta leitura
tura da arte nacional e sua história, a soli dificação da cons ciência envolve an álise crítica da materialidade da obra e princípios esté-
da cidadania do povo. Enfim, as E scuelas ai Aire Libre gerar am o ticos ou semiológicos, ou gestálticos ou iconográficos.
movimento muralista mexicano e podemos con siderá-Ias portanto A metodologia de análise é de escolha do professor, o impo r-
o movimento de arte-educação mais bem-sucedido da América ta nte é que obras de arte sejam analisadas para qu e se aprenda a
Latina . ler a imagem e avaliá- Ia; esta leitura é enriquecida pela infor-
O que é admirável no trabalho do Getty Center for Educa- mação histórica e ambas partem ou desembocam no fazer ar tísti-
tional in the Arts não é a novidade da proposta, mas a tenacidade co.
com que este centro está preparando os professores de arte em As operações acim a refe ridas se integram na busca de signifi-
todos os Estados Unidos, e até no Canadá, para um ensino que cações e o lim ite entre a história da arte e a leitura da obra é mui-
inclua produção de arte, história da arte, crítica e estética. to t ênue.
Não adotarnos um critério de história da arte objetivo e cicn-
Para Elliot Eisner que junto com Brent Wilson e Ralph Smi-
tifizante que seja apenas prescritivo, eliminando a subjetividade.
th forma o team dos arte-educadores, mais conhecidos da Getty
Sabe mos que em história da arte é importante conhecer as carac-
Trust, esta metodologia do ensino da arte corresponde "às quatro
rcr ísticas das classificações de estilo, a re lação de uma forma de
mais importantes coisas que as pessoas fazem c órn a arte. Elas a
produzem, elas a vêem, elas procuram entender seu lugar na cul-

X. Hli ol W . Eisncr, "St ru ctu rc an d M a gic in Di sci plin cd Ba se d Art E d uca -


uon", Journul o jA n (i II ii I Je.\i}; 1I Education , volum e 7, n" 2, p . l RlJ, Londres , j')RX.
7. Idem, p. 170. /), i drr 11 , il'/d l'n 1,
38 A IMAGEM NO E NSINO DA ARTE A IMPORT ÂNCI A DA IMAGEM NO E NSI NO DA ARTE.. . 39

expressão com as características sociais e com a psicologia social William Hare!', dois ano s antes do texto de Quentin Bell, es-
da época, mas analisar as características formais do objeto no seu creveu um artigo iluminador do sentido da apreciação artística.
habitat de origem não pode ser o escopo máximo da história da Começava o artigo pr ocurando distinguir os sentidos, em lin-
arte. Cada geração tem direito de olhar e interpretar a história de guagem cotidiana, da palavra " apre ciação" .
uma maneira própria, dando um significado à história que não Lembrava ele que o mai s comum, embutido na fras e: "E u
tem significação em si mesma. À esta idéia de Popper podemos apreciei o que você fez por mim", é o de gratidão , seguindo-se o
juntar Benedetto Croce que dizia: "toda História verdadeira é de admiração, encontrado na fra se: "Ele deu uma olhada aprecia-
História Contemporânea" e Ortega y Gasset com sua frase tiva para a garota". Outro se ntido com que usamos a palavra
dramática "o passado sou eu". apreciação é o de entendiment o. Em: "Eu ap reciei seus ar gumen-
A reconstrução do passado é apenas um dad o e não tem um tos" , alguém analisou e entendeu os argumentos de outro .
fim em si me sma, especialmente no que se refere à história da ar- Não são diferentes significados ma s diferentes implicações ou
te. significações.
Na hist óri a da arte o objeto do passado est á aqui hoje. Po- As difer enças estão relacionadas com a espécie de estim ação
demos ter experi ência direta com a fonte de informa ção , o objeto. feita. Eu posso admirar seu ar gumento sem ser grato a você por
Portanto, é de fun dam ental importância entender o objeto. A ele. Eu posso não admirar o argumento e ser grato a você por ele.
cognição em arte emerge do envo lvimento existe ncial e tot al do E u posso não adm irar o ar gum ento porque o estim ei com o trivial.
aluno. Não se pode im por um corpo de informações emotivam en- É mais difícil separar admiração de en tendim en to. Admi-
te neutral. raçã o pressupõe entendimen to, entretan to podem os admirar
Em palestr a que ass isti de A rn aud R eid, po uco tem po antes Einstein sem entender sua teoria da re lat ivida de por que enten-
de sua mo rte, ele dizia que o caminho do conhecimento da arte se de mos sua significação para o mundo , para as conquis tas moder-
inicia na int uição estética imedi ata do objeto , uma espé cie de nas. Admiração pressupõe en tendimento, gratidão pr essup õe es-
ilumin ação de interesse até a extrema acuida de, conseqüência do tim a, portanto adm iração e entendimento.
ver, ler , fazer again and again . D e acordo com dife rentes impli cações, nos impomos diferen -
Por isso, a história da arte não po de estar separada da quilo tes espécies de avaliaçã o, ma s a estim a do valor cap ta o significa-
que chamávamos an tes do D BAE, "apr eciação da obra". O ter mo do essencial do que se pretendia com a apreciação estética dos
"apreciação artística" caiu de moda mas esta prá tica foi tão do- anos sessenta. De acordo com este sen tido, para en tender a histó-
minant e nos ano s sessenta que os historiadores da ar te começa- ria da arte do século XVI II na Inglaterra er a imp ortan te fazer
ram a ver sua ár ea ameaçada. Q uentin Bell chegou a ser explícito uma estimativa do valor cultural dos retratistas daquela épo ca,
dizendo: era importante "apreciar " os retratos que abundaram naquele
pcríodo histórico, embora não gost ássemos deles, embora não se-
A histó ria da a rte é fre qüentemente con fundida com a apreciação da arte ja m esteticamente bons.
que consiste numa espécie de exortação est ét ica: deve-se dizer ao estudante o A apreciação artís tica não pr etendia subs tituir a história da
que é bom e o que é mau e a história tra nsform a-se numa espécie de apo logia do arte , como disse Bell, ma s complementá-Ia. E ntret anto, a crítica
boml '',
de Bcll se justifica porque, na prá tica da sala de aula, apreciação
artística passou a te r o sentido de enjoym ent, de gozo apenas.
O que Be ll esta va crit icando em 1976 era já um desvio mani-
Aquela idéia de apreciação, com o a possibilidade de ler, ana-
queísta da apreciaçã o artística que não poderia sub stituir mesmo
lisar e até recon hecer a ob ra com o um bom exemplo de um estil o
a história da arte, um a vez que par a dominar a história temos, às
ou técnica em bora não goste dela, passo u a se chamar, criticaI
vezes, que entender, ver e an alisar muita obra de qualidade duvi-
stu dies, an tes de ser dividida em est ética e crít ica, como o fizeram
dosa, como é O caso dos retratos do século XVI II, essenciais para
os te óricos da G etty Foundati on através do DBAE .
se conhecer a pintura inglesa daque la ép oca .

11. Wi llia m lI a rc, "A pp rccia tion as a G od of Ac st hct ic Educat ion", l he


10. Ouc m in Bell, Criticot Inqui re, Srrin g, 1\17(" rr . 40(,-407. I nu rna l of/1I's t}/I·ti.. r:d llco tio n , Il li no is, vo lume R, nO2, Ah ril 1')74, pr . (,·7 .
40 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE ... 41

Dois congressos, ambos na Inglaterra, foram importantes pa- uma prática problematizadora. A pr ática sozinha te m se mos tra-
ra determinar a importância dos estudos críticos da arte (criticai do impotente para for mar o apreciador e fruidor da arte.
studies), ao lado do fazer artístico e da história da arte nas estru- Nos Estados Unidos, o ensino livre expressivo da arte existe
turas de ensino da arte. nas escolas públicas, portanto par a todas as classes sociais, desde
Trata-se do congresso sobre "Art History, Criticism an d The os anos trinta, nem por isso os amer icanos são apreciad or es mais
Teacher", na Universidade de Manchester, em outubro de 1972, e argu tos da arte . P elo contrár io, a livre expressão, sem desenvol-
de outro sobre "Filosofia e o Ensino das Artes", org anizado pela vimento da capacidade críti ca para avaliar a produção, tem for-
seção de Filosofia da Associação de Professores em Escolas e mado nos E stados U nidos um consumido r ávido e acrítico de
Departamentos de Educação no Madely College of E ducation, imagens.
em julho de 1973. A ausência de con tato com pad rõ es avaliativos da arte,
Em ambos os congressos se reforçou a idéia de que " o estu- através da sua história, im pede que aquele que apenas realiza sua
do da arte contemporânea, da arte do passado, do tra balho de so- catarse emocional através da arte seja capaz de ser um consumi-
ciólogos, fil ósofos, psicólogos etc. e as atividades dos estudantes dor crítico da arte não s6 de agora m as da arte do futuro
de arte hoj e não podem ser áreas de estudos mutuame nte exclu- também.
sivas':". O conhecimento do relativismo dos padrões avalia tivos
Um problema real se colocou pa ra os par ticipantes destas atr avés do tempo flexibiliza o indivíduo para criar padrões apro-
conferências: o fato de que teoria e história da arte tinham se priados para avaliar o novo , o que ele ainda não conhece. Os de-
tornado, por seu papel descritivo e especulat ivo e sua pr eocu- fensore s da arte na escola pa ra a liberação das em oções devem
pação em fazer julgamentos esté ticos objetivos, num a função a lembrar que as emoções podem se revelar em múltiplas ex-
posteriori. Apresentavam aos jovens artistas um conju nto de re- pressões catárticas e reativas, ma s pouco aprendemos de nossas
gras e o jogo artístico mudava, mas as regras continuavam imu tá- emo ções se não somos levados a refletir acerca de nossas pró-
veis. prias re spostas.
Por outro lado, o fazer artístico contemporâneo, que não tem O subj etivo, a vida int eri or , a vida em ocional deve navegar
"produto final", veio provocar uma crise da teo ria e da históri a. mas nã o ao acaso.
Fazer julgamentos obje tivos de quê? Se a arte não é trata da como fo rma de conhe cimen to m as
Esta abordagem da contemporaneidade acerca do fazer artís- como "um grit o da alma" não esta mo s fazendo nem ed uca ção
tico obrigou a história a refazer alguns dos critérios com os quais cognitiva ne m educação emocio nal.
julgava obras anteriores. Lem bro Wordswor th que disse: "As artes tê m que ver com as
O niilismo da era pós-Duchamp exigia outra for ma de inter- em oções mas não tão profundamente para levar às lágrimas".
relacionamento teoria-prática-história apontan do para a simulta-
Por outro lado, é bom lem brar que o desenvolvimento da ca-
neidade do julgamento e não para a seqüência classificatória que pacidade criadora, tão caro aos defenso res do que se convencio-
era possível apenas depois do objeto artístico terminado. nou chamar de livre expressão no ensino da arte, isto é, aos cul-
"Um entendimento crítico de como conceitos visuais e for- tuadorcs do deixar fazer, também se dá no ato do ent endimento,
mais apareceram na arte, como eles têm sido percebidos, redefi- da compreensão, da de codificação das múltiplas significações de
nidos, redesenhados, distorcidos, descartados, reapropriados, re- uma obra de ar te.
formulados, justificados e criticados em seu processo formati-
Flexibilid ade , fluência, elaboração, todos estes processos
vo?!', necessita da contribuição simultânea da história e de teorias
men tais envolvidos na criatividade são mob ilizados no ato de de -
da arte que iluminem a leitura da obra de arte assim como de
codi ficação da ob ra de ar te.
Al iás as pr óprias teor ias da criati vidade, ainda nos anos ses-
se nta, defe ndiam a necessidade do desenvolvime nto da capacida -
12. Adler Mortimer, "What Sort of Art H istory?", The New Era, volume 55, de criadora, pro pon do que o objcto criado fosse analisa do em
nO 2, Cambridge, Mar ch 1974. fUIII.;;il1 de crit érios hcrn definidos, Samu el Mcssick c Phili p Jack-
13. David Thistlewood , "Criticai Stud ies, lhe Museum of Co ntcrnporary xun, 11< 'r exemplo. propunham que diante do ohjcto inquirissimos
Art and Social Relevance", manuscrito.
42 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE.. . 43

se ele representava uma resposta estética: surpresa, satisfação, es- condensação que implica a possibilidade do observador exercitar
timulação e saboreo.
sua capacidade de criar múltiplas interpretações.
Qual o grau de surpresa que a obra provoca? Por quê? Esta Nos anos sessenta, os arte-educadores que trabalhavam com
pergunta verificaria o grau de originalidade, de inusualidade do desenvolvimento da criatividade já exercitavam a capacidade das
objeto frente as normas conhecidas.
crianças e adultos analisarem seu próprio trabalho e o trabalho
O choque de reconhecimento elimina a poss ibilidade da ob- de artistas baseados nestes critérios, dando muita ênfase à explo-
viedade do objeto e afirma o seu poder de alterar a man eir a con- ração dos muitos significados prováveis que a condensação de
vencional do obs ervador ver e pe nsar as coisas. uma obra tornasse possíveis.
Já a pergunta pela espécie de satisfa ção que a obra dá, apon- No campo da teoria da arte-educação a idéia da educação
ta para a verificação de onde e de como ela responde ao contexto, estética ao lado da educação artística, isto é, o conhecimento e o
sendo apropriada à sensibilidad e do tempo e esp aço em que está valor da obra de arte ao lado do fazer artístico, foi muito divulga-
send o examinada. da nos escritos da Ralph Smith, Vincent Lanier, Kenneth Maran-
Surpresa e sa tisfaçã o são crit érios aparentemente opostos tz e Eiliot Eisner. Mas foi só nos anos setenta que a alfabetização
que se imb ricam dialc ticam en te. visual e estética chegou aos livros de orientação didática para os
E nquan to a surpresa dem onstra a inusualidad e do obj eto e professores. Muitos refletiam a influência da orientação que era
exige qu e o observador assimile o objcto para fazê-lo par te de seu dada em museus como a MaMA e o Cleveland Museurn, Os mu-
mundo cogn oscível, a satisfação do objet o demonstra a ad e- seus de arte moderna foram pioneiros da arte-educação pós-mo-
quação ao mundo co nhecido do observador, obrigando-o a to mar derna que enfatiza a leitura da obra de arte e até permite que a
consciência deste mundo. O crité rio de estimulação transforma- criança faça releituras gráficas expressivas de obras de arte.
dora instiga à pergunta: esta obra muda alguma coisa na forma de
representar o que ela pr etende represen tar? Esta obra muda algo
em mim? Esta obra muda algum conceito de arte? Esta obra MÉTODO COMPARATIVO DE ANÁLISE DE OBRAS DE
opera algum a mudança na arte hoje? Qual a mudança que ela ARTE
significa para a arte de outros tem pos ou para a arte em divers os
outros tempos? O primeiro livro amplamente divulgado que estabelecia para
o ensino a relação entre arte como conhecimento, e arte como
Por último, temos o crit ério ma is inusu al: a idéia de que a
performace foi de Edmund Feldman, Becoming Human Through
obra de arte deve ser saboreada, que requer para isto uma con-
Art: Aesthetic Experience in lhe School", publicado em 1970.
centração de significados que advêm de sua complexidade. A
Trata-se de uma digestão mais didática de outro livro do
obra para ter qu alid ade esté tica deve te r o poder de surnarizar
mesmo autor,AI1 as Image and Idea, não tão difundido.
múltiplos significados. D aí se conclui que uma obra de significado
Para Feldman aprender a linguagem da arte implica desen-
único, evide nte mente percebido à prim eira olhada não tem a qua -
lidade estética de saboreo par a o es pec tado r. volver técnica, crítica e criação e, portanto, as dim ensões sociais,
cuIL urais , criativas, psicológicas, antropológicas e históricas do
Ele a deglute de imediato. U m exemplo desta evidê ncia de
homem.
significado é a mão espalmad a de Oscar Niemayer no Mem orial
O des envolvimento crítico para a arte é o núcleo fundam ental
da América Latina da qual escorre san gue formando uma poç a
da sua te oria. Para ele a capacidade crítica se desenvolve através
em vermelho na base do punho. A obviedade de significado a
do ato de ver, associado a princípios est éticos, éticos e histó ricos,
constitui num statem ent e não numa obra de arte, enqu an to
ao lo ngo de q uatro p rocesso s, distinguíveis mas int erl igado s: prcs-
a Guemica de Picasso, embora tenha um enunciad o evidente, a lar aten ção ao que vê, descrição; ob servar o co mpor ta me nto do
destruição da cidade de Guernica durante a guerra civil espanho-
la, possui um intrincado de rel ações formais que propõem múlti-
plos e particulares significados, indi vidualizáveis de aco rdo com o
observa do r.
),1. b llllllnd ll ur kc l-eld rna n, II C("()lII i ll l: Human Tllm u!:" Ar! , t':ew J e rsey,
O sabo reo advêm do po da de su ma rizar da ob ra, da Sua I'r cnt uc lI a ll, I'i/O,
44 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMP ORT ÂNCI A DA IMAGEM NO ENSINO DA ART E.. . 45

que se vê, análise; dar significado à obra de arte, interpretação; Há sempre uma proposição de trabalho prático que se segue
decidir acerca do valor de um objeto de arte: julgamento. à leitura dos elementos da obra de arte.
O trabalho proposto para se r feito depois da aná lise da linha
Demonstra o quanto se pode entender o mundo, entendendo
repousa sobre o quadro de J acob Lawrence que transcrevemos".
uma obra de arte do ponto de vista da relação entre os elementos
visuais como linha, forma, claro-escuro, cor , unidade, repetição, O lhe para os tacos de bilh ar na pintura de Lawren ce. Trace-os o u cop ie-o s
equilíbrio, proporção, e do ponto de vista das características de sozi nhos num a folh a de p apel. A gora tente decidir o qu e ele s pod eri am significar
construção com predominâncias diversas como agudeza, orde- por eles mesm os. Você pod eria fazer um poem a sobre aquelas linh as se m as pes-
nação, emoção, fantasia, e também tendo em vista comportamen- soas na figura ?
tos apreciativos como empatia, distanciamento ou fusão com a Vi re se u papel para que as linh as se torn em hori zontais. Por qu e se u sign i-
ficado mudou? A lei da gra vidad e poderia ter algum a co isa a ver com isto?
obra de arte.
Meu entusiasmo por este livro de Feldman é tão grande que Para uma idéia mais clara do método de Fcldman vamo s
s6 me contentaria com o ato de tradução integral de Becom ing transcrever uma de suas aulas, sobre a leitura de imagens de pes -
Human Through Art, o que satisfar ia meu desejo de fusão absolu- soas. Vejamos a aula na qual ele propõe a leitura de obras que
ta com a obra. representam figuras humanas em duplas (Fi gs. 5, 6 e 7).
Entretanto editores ainda temem tradução de livros de arte- As obras colocadas à frente dos alunos para an álise são
educação, porque os direitos autorais e a reprodução das imagens a Madona e Criança de Jacob Epstein, O Banho de Mary Cassat e
são caras e os arte-educadores lêem pouco. É a desculpa! Um Velho e seu Neto por Ghirlan daio.
Para efeitos didáticos, ouso classificar o método de leitura da A condução da leitura das obras se faz da seg uinte man ei-
obra de arte de Feldman como comparativo. Ele nunca propõe a ra **.
leitura de uma única obra de arte, mas sempre coloca duas ou ALGUNS PRO B LEMAS: Ca da um de st es trab alhos most ra um a criança
mais obras para que o estudante tire conclusões da leitura com - com uma pe ssoa mais velha . Você pode adivi nhar q ual a at itud e da pessoa mais
parada de problemas visuais propostos de maneira similar ou di- velha em relação à criança? A cria nça parece sabe r o que a pessoa mais velha
ferentemente nas várias obras. está pen sando ? Quantos anos você acha qu e estas crianças têm ? Co mo você po-
de dizer? O que o artista está nos tentando dizer at ravés de sua util ização de
Por exemplo, para a leitura do espaço arquitet ônico e deco -
contraste entre a velhice e a ju ventud e?
rativo , nos faz comparar uma sala projetada por Lucas Sam aras ALGUMAS POSSIBILIDAD ES: Você acha qu e a mãe na esc ultura de
com os interiores da Hanna House de Frank Lloyd Wright e da Epstein es tá orgulhosa de se u filho ? Por qu ê? A mulh er est á gostan to de dar ba-
Villa Shodan de Le Corbusier, acrescentando ainda um interior nho no se u bebê na p intura de Cassa t? Co mo você pod e dizer? Na pintur a de
de uma casa am ericana dos fins do século XIX caracteristicamen- G hirlandaio, a cria nça acha que seu avô é feio? O q ue faz você acredi ta r q ue não
o u que sim ? Além de retrat ar indivíd uos , cada art ista aq ui está retra tand o um re-
te vitoriana. lacionamento. Te nte des cobrir co mo um relacion amento pode ser exp ressado
Para mo strar a diferença entre pintura e desenho, isto é, a di- sem a utiliza ção de palavras. Por exe mplo, se du as pessoas caminha m para den-
ferença entre construção por linhas (des enho) e construção por tr o de uma sal a se m d ize r coisa algu ma, nós pod em os dizer se eles são irmão e
irmã , nam orad o e namorad a, p atrão e empregad o, es tranhos o u amigos? O qu e
massa (pintura), nos faz comparar O Mon sieur Boi/eu at the Café
nos ajud a a reconh ecer as relações entre eles? Co mo os at or es utilizam seus co r-
de Henri Toulouse-Lautrec e Broadway de Mark Tobey com Ni - pos para dem onstrar rela cionament o? Ou ça Pedro e o Lob o de Pr okofie v. Com o
ghtawks de Edward Hopper e Woman I de William de Kooning. o composi to r ut ilizou o som par a descrever o men ino, o hom em e o avô? Com o
A mera visualidade comparativa impõe a evidência da diferença os artistas utiliza m form as para rep rese nta r a infân cia, ju ventude o u velhice?
dos comportam entos constru tivos através de linhas e de massas. O Q U E vocn POD E FAZ E R?: Re úna um catálo go de fo rmas ind efinidas
de tamanhos equiv alentes em se is folhas de pap el e faça um a fo rma d iferente em
Para o estu do da linha, especifica mente, Feldman propõe a cada uma. Dê um núme ro par a cada folha . E ntão peça aos membros de sua clas-
análise das diferenças e se me lha nças entre as linhas onduladas de se para ass inalar se cad a forma é jovem ou ve lha. Ju nte as resp ostas e veja se
uma cadeira de balanço Thonet e da escultura de Calder The existe alguma co nco rdância . Co mo você explica isso?
Hostess e m contraposição à angulosidade do quadro de Fam ily
Walk de Paul Klee e das linhas agudas do quadro de J acob • Trad u ção d e Sof ia I'an .
Lawrenc e, Pool Parlar (Figs. 1, 2, 3 e 4). •• T rad u,) " de S" fla 1' 01 11 .
50 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE ... 51
Faça uma exposição para sua classe de propagandas de revistas mostrando Este programa é desenhado para orientar no uso de reproduções como ins-
pares de pessoas - uma mais velha e uma jovem. Omita ou cubra o produto e o trumento de ensino que vise a educaçã o estética da criança, a percepção visual, a
material escrito . Rotule cada exemplo descrevendo a relação que você observa , acuidade espacial, a simbologia visual e verbal, as mudanças hist6ricas e a auto-
Você pode pensar em exemplos de literatura nos quais o herói é feio? C0- identificaçãolê,
pie as passagens nas quais a feiúra é descrita. O avô na pintu ra de Ghirlandaio se
encaixaria em uma destas descrições? O que faz uma pessoa ser feia? Além dis- Justifica seu método dizendo:
so, como as pessoas decidem o que é feio e bonito? Escreva um ensa io sobre este
assunto e ilustre-o com fotos de revistas.
Nós estamos mudando da cultura verbalmente orientada para uma cultura
Em conexão com a pin tura de Cassat, escreva um diálogo imaginário entre visualmente orientada ts.
a mãe e a criança e leia para a classe. Então reúna propagandas de produtos para
bebês . Agora , reescreva seu diálogo, substituindo a mensagem da propaganda Televisão , macluhan ismo, acuidade visual, o reconhe cimento da aprendiza-
pelas falas da mãe. Leia para a classe depois deles tere m ouvido seu diálogo ori- gem sens6rio perceptual e os estudos sobre os processos mentais da criatividade
ginaI.
estão tendo seus efeitos na adaptação dos nossos programas escolares às mudan-
Vá, numa viagem de fim de semana, fazendo esboços basead os na obser- ças do século XX e às necessidades futuras das crian ças de hoje q ue viverão além
vação de pais e filhos fazendo coisas juntos. Limite-se a pa res - mãe e filho ou de 200117
filha, pai e filho ou filha. Se você pre ferir, use uma máquina fotográ fica. Em se-
guida, amplie seus exemp los mais inte ressantes e os compare às quatro obras de
arte mostradas aq ui. Peça ao seu professor pa ra você conta r à classe onde você
Explica a abordagem do MuItipropósito dizendo:
coletou seu mate rial, como você trabalhou com ele e o que você acha que ele sig-
nifica. Most re seus primeiros esboços ou fotos assim como (li; resu ltados finais. Entender uma obra de arte vem com repetidos encontrosà medida que a
Não hesite em incluir algumas citações ou alguma coisa que você mesmo tenha pessoa amadurece e é capaz de observá-lo de diferentes pontos de vista. Esta ma-
escrito para explicar o materi al visual ou contar como você se sente em relaçã o a turidade perceptiva usualmente começa atravé s de alguma forma de contato com
ele. reproduções mas recebe qualidade e verificação através do cantata com origi-
naisl 8.
Acredito que estas aulas ilustram muito bem a preocupação
de Feldman com a leitura formal aliada à leitura de significado. Torna claro que as reproduções podem ser usadas para dife-
No an o seguinte à pu blicação deste livro de Feldman outra re ntes propósitos em diferentes séries. Isto é, o Vermelho Pesado
abordagem de leitura de obra de arte para as crianças chega às de Kandinsky pode ser usado a partir da quarta e da quinta séries
escolas norte-americanas. e daí em diante, em outras sé ries, não have ndo nenhum problema
em fazer uma criança analisar a mesma imagem dois anos em se-
guida. Se ela amadureceu, a leitura será diferente de um ano para
M ÉTODO D E MULTIPROPÓSITO o outro.
Recomenda que para o método ser usado com adultos é inte-
ressan te que seja completado com leitura de outras imagens e ob-
Trata-se da série Teaching Through Art de Robert Saunders.
je tos do meio ambiente construído. Acredito que ele deve ser
Constitui-se de tr ês livros par a o professor acompanhados de uma
sempre completado com a leitura arquitetônica, e do design
série de excelentes reproduções de obras de arte em pin tur a e de -
senho. mesm o com crianças (como o faz Eileen Adams) .
E m seu livro Série A , Saunders apresenta vinte rep roduções
O au tor considera os slides um recurso meno s poderoso que
cuja leitur a é mais apropriada para as classes de jardim de infân-
a boa rep rodução em papel. A homogeneizaçã o das dimensões de
cia à sexta série, mas repit o, cada uma pode se r aprese nta da no-
todas as ob ras operadas pelos slides qu e devem ser vistos de luz
apagada diminui ndo a intensida de da relação pr ofessor/al uno são vamente às mesmas crianç as ao longo de seu desenvolvim ento.
seus argumento s pa ra pr efer ir as reproduções, o mais próximo Entre as imagens estão pinturas das cavernas de Lascaux, da
possível ao tamanho e à textura das obras originais. tu mba de Nakht no Eg ito - , 1425 a.c., mo saico de Ravenna do
Saunders foi aluno de Viktor Lowenfeld , que orientou seu
105. Robert Saund ers , Teaching T ho ugh An, Série A, Ncw Yor k, Ame rican
doutoramento.
Books Company , 1971, p. 1.
São dele próprio as palavras que definem seu método, deno- 1ó. Idem, S,'ril' n, p. 1.
minado Abordagem Multipropósito: 17. Idem, S,'ric A , p. I .
IX. 111<'1/1, Scri « II, 1" "\
52 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE... 53

século VI, alguns artistas americanos do século XIX e XX como Os livros Série B e Série C ap resentam cada um , tamb ém, vin-
Edward H ivks (The Cornell Fann) , Robert Gwatrney (Soft Cra- te reprodu ções de obras que devem se r lidas seguindo ori entação
bling), Joseph Hisch (Circus), John Frederick Peto (The Old semelhan te à descrita no livro Série A.
Cremonai, Samuel Gerry (New England Homestead) , que conhe- A Série C destina-se a estudantes a partir da quarta série e o
cemos pouco, além dos mais divulgados como Winslow Homer livro Série B apresenta repro duções par a sere m usa das desde o
(The Country School) e G ilbert Stuart (77ze Skater). E ntretan to, ja rdim da infância at é a terceir a série. Par a cada reprodu ção há
as leitur as mais interessant es que ofe rece são as de obras eu- nos livros do pr ofessor sugestões para trabalhos e exercícios den-
ropéias intern acionalm ente conhecidas como a Mona Lisa de tro das quatro categorias de aprend izagem já enu nciadas.
Leonardo da Vinci, Pássaro na Gaiola de D ufy, O Banho de U ma radicaI diferença de discurso dccodificado r se estabele-
Mary Cass at, Jo vem com a Vassoura de R embrant, Jogos Infantis ce quando analisam os um quadro isoladamente. A difer enç a mais
de Bruege l, A Carta de Bonnard, O Cachorro Latin do para a Lua evidente é que a anális e isolada se prende mai s aos detalhes re -
de Miró e o Tableau I de M ondrian.
pre senta dos que a significação metafórica ou metonímica da re-
Se ria importan te que informasse em que museus ou cole çôes pre sentação.
estão os orig inais, uma vez que ele próprio reconhece que a leitu- Isto fica claro quando examinamos a leitura de O Banho de
ra de reproduções é apenas um passo para o contato insubstit uí- Mary Cassat (fig. 6) feita por Saunders e a leitura de sta mesm a
vel com os originais.
obra cm comparação com outras obras de outros te mpos feita
De to dos os livros e manu ais qu e têm sido publicados, é o por Feldm an .
mais organizado pedagogicamente, refletindo enorme influência Na an álise da obra isolad a a informa ção histórica fica ver-
da Taxonomia dos Objetivos Educacionais de Benj am in Bloom. balmente sobreposta à imagem enquanto na an álise comparativa
Divide os exercícios a serem feitos com cada reprodução em qua- o olho capta as dife renças históricas, isto é, a própria análise vi-
tro categorias:
sual organiza a info rm ação histórica.
1. Exercício de ver (descrever claramente, identificar acurada- No livro Série B, páginas 27 e 29, Robert Saunders analisa O
mente e interpretar detalhes visuais). Banho de Mary Cassat com os seguintes propósitos: levar os alu-
2. Exercício de aprendizagem (com preender as pinturas ou dese- nos a:
nhos, expressar julgamento de valor, exercitar habilidades de 1. Identificar detalhes na pintura.
fantasias e imaginação, desenvolver conceitos espaciais, desen- 2. Discutir a atividade doméstica representada na arte.
volver o sentido da ordem visual).
Propõe a extensão da aula para levar os alun os a:
3. Extensões da aula (relacionar arte com seu meio ambiente, es-
crever criativamente, fazer comparações históricas, usar sím- 1. Examinar detalhes decorativos em suas casas.
bolos visuais e verbais, investigar os fenômenos de luz e cor, 2. Fazer um desenho "Minha mãe me ajudando a pentear os ca-
fazer improvisações dramáticas, explorar relações humanas, belos".
tornar-se consciente de problemas ecológicos). O autor propicia ao professor um a descrição detalhada da
4. Produzir artisticamente (desenvolver a auto imagem através do pintur a, um a interpreta ção e informações históricas acerca da ar-
desenho, encorajar a atividade criadora grupal, experimentar tista que poderão ser usadas pelo professor para ajudar as crian-
com o espaço positivo e negativo, experimentar com represen- ças a res ponderem questões como estas que ele propõe.
tações em três dim ensões, investigar formas, texturas, cores e
1. Exe rcícios de ver:
linhas, exer citar as habilidades para recorte, colagem, mo dela-
A nálise global: O q ue você vê na pintura?
gem, desenho, pintura ctc., desenvolver a habilidad e para lidar Ra st rea mcnto a nalít ico : Q ue espécie de desenhos você vê no tapete , na cômo-
com régua , com passo e at é len tes de aum ent o) . da c na pared e? São os mesmos ou dife re ntes ? Olmo as listas do vestido da
mãe muda m de pos ição de aco rd o com a dirc ção do seu co rp o?
T udo isto pod erá ser explor ado segundo o autor relacionan- O qu e aco ntece rá qu a ndo ela se lcn van ta r?
do-se com unidad es de estud o de história da arte mas ta mbém Acuidad e vis ual: Q ual a orde m de co res nas listas do vest ido da mãe ?
com estudos de língu a, litera tur a, matem ática, geo me tria, ecolo- 2. Exe rcício de ap re nd izage m:
gia, histór ia etc. Co mo difer e este ha nho do q ue to ma mos usu alm ente?
Você pensa qu e '0"" pint ura te m algum se nt ido p o r I r{" de ape nas um ban ho?
54 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE... 55

Que outras atividades domésticas poderiam dar uma boa pintura ou constituir
2. Analisar abstrações relacionadas com a figura humana.
uma boa pintura?
Estenda a lição para:
1. Analisar seres humanos e vestuá rios por convenções abstratas.
Entre as propostas de extensão da aula para incentivar o ver
2. (quinta e sexta séries) Faze r uma colagem cu bista representando uma figura
e o fazer arte estão: para a terceira série -, pedir aos alunos uma humana.
lista de objetos decorados que tenham em sua casa e no dia se-
guinte trazer a lista com mais alguns que tenham esquecido de
mencionar. D ESCRI ÇÃO
Fazer observar o padrão da roupa de cada um e pedir para
Est a é um a das duas p inturas que Pi cass o realizo u sim ulta nea me nte no
descrever os desenhos e padrões das cortinas, paredes e móveis verão de 1921.
de sua casa é outra proposta. Ambas cha ma m-se Três Músicos e me de m apro ximadamente 1,80 m. Es ta
Para o jardim de infância o estímulo seria pedir às crianças pin tura co ntém figu ras q ue freq üen te me nte aparecem na ob ra de Picasso: o a rle-
que des enhem "Minha mãe me ajudando a pentear os cabelos". quim co m ro upas e motivos de losa ngo (à esq ue rda , com violino), o pie rrô em
traje bra nco (ao ce ntro co m c1arineta) , e o mon ge co m manto ma rrom e pre to (à
Nas sugestões de procedimento o autor, que foi aluno de
dire ita, com sa nfona). Os mús icos est ão se ntados nu ma mesa marrom on de es tá
Viktor Lõwenfeld, segue a linha didática do mestre recomendan- um livro de m úsica com urna escal a musica l simbo lizada . O arleq uim descansa
do ativar o conhecimento passivo da criança em relação à expe- seu braço esq ue rd o na mesa e segura o arc o de seu violino. Form as sim ples es-
riência de " pentea r os cabelos" através de perguntas: (Quem já te ndem as ela borações geo mé tricas das figu ras centrais at ravés do espaço e m vol-
teve problemas para pentear os cabelos? Por quê? etc.) . Ia delas. As co res são az uis suaves, marrons e prelos co m co nt rastes de bra nco
azul pá lido e os losangos vermelhos e amarelos da roupa d o arlequim. Os con -
Considero que a determinação do tema leva à predominância to rn os de algumas fo rm as e texturas indica m q ue esta é um a colagem e té cnica
do .conteúdo, acredito que as problematizações tem áticas mais mista feita co m combinações de pa pel cort ad o e formas e deta lhes pi ntados. Esta
abertas, como faça um desenho mo strando em que atividade a pint ura também cha mada, Os Três Músicos Mascarado s, es tá expo sta na A.E.
ajuda de sua mãe é mais necessária, seria indicado porque permi- G al la tin Co llet ion no Mu seu de Arte, Fi ladé lfia, Pe nsilvânia.

tiria ao aluno dar forma a uma experi ência escolhida por ele pró-
prio dentro de seu campo de referência inter-relacionando forma INTERPRETAÇÃO
e conteúdo de maneira mais dialógica.
Por outro lado, as perguntas de Saunders desde a fase de ras - A ela bo ração com plexa dos Três Músicos, o uso de fo rm as an gulares e circu-
treamento visual já conduzem o observador a ver uma relação lares , a toma uma pintura cubista. E ntre ta nto, nesta époc a, Picasso já estava de i-
xand o a escola do Cub ismo . Como G ris (Unidade 78 ) e Braque, ele n unca tra ba-
mãe e filha na representação da criança e da mulher adulta.
lhou com abstraç ão pura o u formas geométricas não obje tivas. E les insistia m em
°
É interessante, entretanto, para leitor ter urna idéia mais ma nte r alguns vestígios de representação da figu ra . O qu adro Três Músicos est á
clara do Método Multipropósito, transcrever integralmente um a tão próximo da s form as geo mé tricas p uras , não objctivas, quanto foi possível pa-
aula baseada na observação dos Três Músicos de Picasso da S érie ra Picasso.
A , páginas 65 a 67*:

SO B RE O ARTISfA
Três Músicos (fig. 8) - Abrams Artprint 86484
Por Pablo Picasso - Espanha 1881** Picasso, nasc ido em 1881, foi o art ista mais produ tivo e mais constante re-
vo lucio nário do século XX. E le progrediu do tratamento cláss ico e represe nta-
cional dos tem as para as abstra ções do cubismo, e do cubismo para as técnicas de
P RO p ÓSn "o PARA SELE ÇÃ O colagem mais ta rd e util izadas no Dadá, Picasso também usa fo rt es eleme ntos da
fa ntasia e ima gina ção em suas cerâmicas e esculturas.
Es ta pintura prop orcion ará ao aluno a oport unidade para:
1. Anali sar co lage m e aspect os p ictóri cos de uma pintur a.
EXE RC ÍC IO DE A PRENDI ZAG EM

• T rad ução de So fia Fa n. Exe rcícios int rod ut órios de a p reciação: os alunos irão descrever e idc nti fi-
•• T exto pu blicado ant es da mo rte de Picasso. oco rrida na FI';111(; a cm 1')71. ra r ,JSde l;i1 hes vixu.u» C I1l '/r.' ,· Músicos pa ra p ropó sito inte rp ret at ivo co m relaç ão
58 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A lMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO E NSINO DA ART E ... 59
ao título . O professor compõe a imagem e grupos de alunos próximos o sufi cien-
te para que cada um possa ver os detalhes clar amente. Procedimento: Primeiro passo - Esboce o desenho básico na tolha de pap el an-
tes de fazer a eolagem.
QUESTÕES SUGERIDAS Segundo passo - Distribua os materiais de colagem para complementação da
pintura.
"O que você vê nest a pintura?" Motivação : O exercício de des enho da figura poderia ser usado como mo tivação.
Exe rcício 1: Os alunos vão anali sar as formas, cores, texturas e padrões, e ca tego- Tanto o professor com o um aluno poderia posar para a class e. Um a fantasia im-
rizá-los como colados ou pintad os. provisada com chapé u, m áscara ete., ad iciona rá possibil idade ao desenho.
Prim eiro Passo - O modelo deverá se nta r-se sobre uma mesa , banquinho o u ob-
QUESTÕES SUG ERIDAS jeto semelhante para que a pose ofereça ângul os. Elementos adi cion ais tais co mo
instru mentos musicais, livros et c., acrescentariam detalh es ao desenho.
Segundo pass o - Os alunos de verão discutir as formas e ângul os que são nota -
"O lhe cuid ado sa me nte . Qu e cores o u formas têm texturas o u p adrões que
dos na pose. O fundo, mesa, cadeiras deverã o ser considerados parte da p int ura .
p arecem com pedaços de p apel ? Quais formas pa recem coladas? Q uais formas
(Observe na ob ra Três Músicos o dese nho de parede e a disp osição do mobiliá-
ou cor es parecem p intadas? Est e ca nta ta com Picasso, o que diz a você para a
criação de uma colagem?" rio.)
T erceiro passo - Os alunos deverã o es boçar a figu ra bás ica e as form as nas
Exe rcício 2: Os alunos vão anal isar a pintura relacion a ndo abstraçõ es com a figu-
ra hum ana. q uais eles irão acrescentar seus materiais de colagem. O mode lo é temporário
pa ra q ue as idéi as possam ser despe rta das. Os al unos não de vem restringir su a
Q U ESTÕ ES SU G ERI DI\ S liberdade de des enho.
Dem onstração - Quando os des enhos estiver e m pron tos , distribu a os materia is e
demo nstre os mé tod os de colagem. J unte os alunos à vol ta para que possam ob-
"Q ue art ifício usou p ara dar a cad a face um desenh o similar? T odas as fa-
se rvar detalhes e técnicas .
ces pa recem ter máscaras ? Co mo ele ao mesm o te mpo fez cada fa ce d iferente ?
Prim eiro passo - Expe rimente cores , tecidos, texturas e desenhos para cada área
Com o ele fez os bra ços de cada figura diferent es da o utra? O qu e os tr ajes acres-
cent am à p intura? Com o Picasso manteve as pernas dos ho mens e as pe rnas da do esboço pe lo método de tenta tiva e erro.
Segundo passo - Cort e form as dos materiais selecio nadas e mova-os em volta
mesa sep arados sem mist urá-los ou par ecer mo nótono? Por qu e vo cê acha q ue
Picasso adiciono u as for mas em torno dos trê s hom ens?" para um melh or efeito; perm ita sob reposições.
Te rceiro passo - ap lique pa sta o u cola no verso dos mate riais. Caso for utilizado
pape l de seda, apliq ue o ad esivo na superfície o nde se rá colado.
L \IENSÕ ES DA LIÇ Ã O
Q uart o passo - Cubra a colagem co m uma folha de papel limpa para esfregar
facilitan do a fixação .
Extensão 1: Os alunos o lharão um para o Outro e para o pr o fessor , afim de ob- Q uinto passo - Q uando se co , desenhe o u esboce os detalh es finais, ân gulos , tex-
serv ar aq uelas características da figura hu ma na e vest uári o q ue sugere m formas e turas etc.
desenh os geo métricos.

Q UESTÕ ES SU GE RIDAS
AVALIAÇÃ O

"Olhar um para o ou tro . Qu ais sã o os primeiros tip os de ângulo s e for mas Os al unas deverã o dispor os proj etas pa ra discussão cm grupo o u mantê-los
q ue você not a? Mova se us bra ços e pern as e m difer ent es posições par a p rod uzir nas suas mesa s para análise individ ua l.
outros ãn gulo s e formas. Quais roupas têm padrões, cor es, ou o utros deta lhes Pergunte: "O que você apre ndeu sob re a figura human a durante este pr ojeto ? O
que poderiam fazer uma boa pi ntura abs traia o u colagem ? Qu ais â ngulos são que você descobriu so bre as possibilidades do dese nho na figura ? O qu e você
mais importantes? M enos importantes? " descobri u sobre os difere nte s tipos de pa stas e colas e difere nças no papel e te ci-
Extensão 2: (q uinta e sex ta séries) Os alun os anal isa rão um mod elo que posa pa - dos? Em qual parte do projeto você en con trou mais dificuldade? Mais sati s-
ra eles para en contrar âng ulos e formas abstraias e geom étricas que utilizarão fação?"
numa colage m. Considere: As pe ças estão bem colocadas? As forma s evid enc iam a ap licação
Processo: Cola gem é o processo de util ização de obj ctos, papel, o u texturas junto bcm-sucedida dos alun os da anál ise geométrica ? Existe vari edade e balanço na
com o desenh o c pin tura p a ra esta be lecer uma relação visual qu e result e em re- seleção de materiais, colagem e form as? O dese nho e a pintura co ntribuem o u
pr esenta ção sim bólica , o u desenh o puro. pr ejudicam o efeito total? As part es bás icas do corp o est ão ainda reconh ecíveis?
Materiais: U ma fo lha de pap el-mad eri a (30 cm x 45 cm) deverá se r p rov ide nciada
p ara cada aluno. Pap é is sort idos (re talhos colori dos, p ape l de pr esente dec ora do ,
pap el de seda , pape l de pa red e, tecidos, p apéis texturados e tc.). REFERêNC IAS E LE rrURAS SUG E RI DAS
A desivo s; Past a, cola, cola de am ido, cola branca, cola de caseína, ou uma cola
acr ílica transpar ente médi a. Ma te riais secos de desenh o, assim como ca rv âo , pas- Wert cn ba kc r, and th e Ed ito rs of Lifc, The World o] Picasso. T ime. Inc., New
lei , crayon, g iz de ce ra oleoso, gi/. e tc . E,t es m.u c r ia is s,jo nCl'css,ír'ios. Y ork , 1'!ti7 , pp . 100-101.
60 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPO RTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE... 61

As orientações práticas referentes ao fazer artístico têm pou- gem et c., e as con seqüências destas diferenças para a mudança
co interesse. Podemos encontrá-Ias em qualquer livro de técnicas, de nuances do sig nifica do.
sempre convencionais, para arte-educadores medíocres. Se ria também o momento de comparar a atitude de Picass o
O que representou grande avanço nestes livros didáticos de bu scando diferentes so luções para o mesm o tema, isto é, dife-
Saunders foi a ênfase na leitura da obra de arte e na sua asso- rentes es tru turas sintáticas pa ra um a me sma imagem , co mo por
ciação com o fazer artístico. exe mplo , a atitude de Monet ao representar suces sivame nte a
Em geral o conjunto de perguntas se dirige à percepção de mesma imagem da Catedral de Rou en. Enqu anto um bu scava a
elementos pré-identificados, mas podem inspirar ao professor influên cia da luz no siste ma de significação, o outro bu scava a
uma investigação mais interpretativa e mais analítica. influên cia da sintax e, do rearranjo de el ementos na signific ação
Estas sugestões as vejo apenas como estímulo para que ou- da im agem .
tras perguntas possam ser construídas pelo professor a fim de Para estimular os exercícios de ver, procuraríamos fazer com
alimentar comentários individuais dos estudantes. que os alunos rastreassem um dos elementos da pintura, como
Acredito que, em vez de livros e/ou vídeos só de propostas por exemplo a cor azul; levando-os a notar em que espaço foi uti-
de leitura de obras de arte, precisamos de ma terial visual que lizado, verificando assim qual a função do azul na pintura, que
mostre também como reagem a esta proposta diferentes grupos e pode ser identificada com a função de separar as figur as do fun-
como a interpretação individual diversificada da proposta pode do. O azul é colocado em pontos estratégicos para diferenciar a
ser est endida pela ação do professor. figur a do fundo ou para acentuar as figuras.
Enfim, além de propostas de leitura devemos mostrar opera- Ainda para aprofundar a percepção das relações figura e
cionalizações desta proposta e estimular o professor e os alunos a fundo, os levaria a tr açar com o dedo o contorn o da figur a de ca-
enriquecer a leitura da obra diversificando a problematização e da músico e verificar em que pontos parecem mais clar amente
criando os seus próprios exercícios de extensão. separadas umas das outras, observando que no tórax as figur as
Um professor que orientasse seus alunos para a leitur a dos parecem mais unidas, talvez para re for çar a indicação de que
Três Músicos exatamente como sugere o texto de Saunders estar ia estão tocando a mesma música, o que é enunciado pela presença
usando uma receita única, empobrecendo a riqueza de leituras de ap enas uma par titura no meio do quadro.
possíveis e cometendo o mesmo engano que ele cometeu ao afir- Proporia questões que explorassem possíveis significados,
mar que há partes do quadro que são colagens. Certamente não como por exemplo: Por que o conjunto de três músicos é compos-
viu o original da obra e partiu para a análise ap enas através da to por um arlequim, um pierr ô e um monge?
observação de suas reproduções. Picasso foi bem-sucedido na Chamaria a atenção para a mesa, sua forma de representação
provocação da ilusão de colagens através da pin tur a, confundindo que contraria o código da per spect iva euclidiana, apontando a re -
O professor. Posteriormente o autor corrigiu este erro, em con- presentação do mundo visual, o re al mu ndo de nosso meio am-
versa pessoal. biente como o princípio construtivo do cubismo, contrário à teo-
Se o método de análise fosse mais aberto, as crianças chega- ria da representação do campo visual que dominou o impressio-
riam à interrogação: será tudo pintura ou há partes coladas?, e a rusm o,
evidência de que só vendo o original ou escrevendo ao museu on- A teo ria da representação do mundo visual supõe que não
de está a obra poderiam obter informação que a visualização de percebemos os objetos, apenas estando nosso corpo em imobili-
reproduções é incapaz de dar, mas o professor direcionou a análi- dad e, mas considerando também o meio ambiente que o cerca. A
se dos alunos a partir de sua análise visual. perspectiva euclidiana que preside os manuais de desenho sup õe
Acho imprescindível que em se tratando da leitura de Três que o indivíduo que vê o objeto esteja imóvel (teoria da represen-
Músicos de Picasso, embora concentrados no quadro que está na tação do campo visual).
Filadélfia, devíamos mostrar também reprodução da outra versão
que dele fez o próprio Picasso e que está no Museu de Arte Mo-
derna de Nova York (Fig. 9), levando as crianças a identificarem,
R
Fal and o co nc re ta me n te : na s tem dit o q ue o tam po rc ta ngu la r d e u ma mesa
cm ambos, as difer ença s de textur a visual , de tr atam ento da irna- vis ta de lad o ( 1l ~1( ) d e ri ma) , proj e ta um a ima ge m tra pe zóid e na re tina d e o lho
p.lr" u().
62 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IM AGEM NO ENSINO DA ARTE ... 63
Isto é verdade mas raramente relevante. O que é relevante é que a seqüên- quei, reclama para o ensino da ar te a coexistência dos aspectos
cia de projeções de formas variadas que surgem à med ida que mudamos nossa
posição, matematicamente, corresponde à forma retangular invariante do tampo
experienciais e cogni tivos da história da arte, da estética, da críti -
da mesa e isto é o que percebemos ao nos movemos pel a sala 19 onde está a me- ca de arte e do fazer artístico.
sa. A preocupação com a interdisciplinaridade é deixada de lado
pela prioridade de se demonstrar que a arte é uma espec ificação
Como cubista, no momento que pintou esta mesa, Picasso disciplinar do currículo e não apen as um a atividade integrad or a
representou concomitantemente várias visões possíveis da mesa de outra s atividades, disciplinas e conh ecimentos.
enquanto nos movemos ao redor dela. '
Proporia aos alunos experimentarem representar um objeto
da mesma man eira que Picasso re presento u a me sa, coloc an do na DISCIPLINED BASED A R T EDUCATIO N COM Ê NFASE NA
representação vár ios mo mentos da percepção do objet o à medida PR OD U ÇÃ O
que andamos em volta dele. Em vez de re pr esent ação da per-
cepção do objeto teríam os o que G ibson chamou de " pr óprio- U ma da s mui tas, porém das melhore s, ob ras didáticas escri-
cepção". tas em função dos princípio s do D BAE é a de M oniq ue Briêrc,
Pro poria também aos al unos que tomas sem um de seus tra- do Canadá. T rata-se da série Art Image (1988)20 que se compõe,
balhos anteriores considerado acabado e que pro curassem repre- como o tra balho de Saunders, de uma coleção de excelentes
sentar os mesmos elementos, arranj ando-os de maneira diferente, rep roduções aco m pan hadas de livros par a professor. O projeto
como fez Picasso nas dua s versões dos Três Músicos. Isto daria de Mo nique Bri õre é compost o de um conjunto de trinta re -
possibilidad e de falarmos de com o o arranjo sintático dos ele- produções e um livro do professor, para cada série (prim eira à
mentos no esp aço modifica a significa ção, dando diferentes ênfa - sexta).
ses e entonações à imagem com o um todo. D os seis manuais do pr ofessor gan hei da auto ra apenas o que
O utros professores de arte teriam outras idéias para desp er - é destinado à quinta série, onde alterna leituras de obras isoladas
tar a leitura analítica dos Três Músicos de Pica sso e um tr abalho e leituras comparativas de duas a qu atro obras.
prá tico a pa rtir desta leitura. Q ualquer material de orientaçã o pa- As propostas comparativas são temáticas, como a análise da
ra professor es na área de leit ura da obra de arte, quer sejam li- rep resentação do jogo por quatro artistas de diferentes culturas e
vros, vídeo s ou film es, de ve estim ular uma leitura cria dora, parti- diferentes te mpos : Caravaggio, Cezanne, Pippin e Utam aro; ou
cular a cada observador, embora de scortinando element os objet i- for mais, como a comparação entre a abstração geométrica de
vos, que devem se r notados por todos os observad or es ind epen- Jean D esvasne, o abs trato expression ismo de Paul Jc nkins" e o
dente me nte da significação pessoal auferida a eles, como é o caso figurativo nã o realista do The Red Studio de M atis sc ,
da representação do tam po da mesa . O com par ativismo domina o livro de Monique Briêre porq ue
Material didático que aju de a leitura da obra de ar te deve mesmo quan do se pro põe a analisar uma úni ca ob ra, como no ca-
pro por pr oblemas e nã o somente dar as sol uçõe s. so da pintura The Fortune Te/ler de Georges La T our, faz re-
Os livros de Fel dm an e de Saunders mostram uma nítida ferências e leva as crianças a verem novamente obras analisadas
preocupação com a interdisciplinar idade que se apre sentava co- anterior mente como The Cardshorps de Caravaggio, des ta Ve7.,
mo princípio orga nizador da educação am erican a nas décadas de para analisar a luz e a categoria de pinturas que con tam uma
sessenta e setenta. estória ou tê m o an edót ico como figura do discurso visua l, não
Os tr abalh os desses dois au tores sobre a leitura de ob ra de apenas para analisar um a rep resentação de jo go. Podem os dize r
arte, par a alunos do jardim de infância à escola secundár ia, são melhor: há aulas centradas em uma única ob ra mas sempre lida
anteriores ao boom do D isciplined Based A rt E ducation prov o- em compar ação com outras.
cado pelo Getty Ce nter nos Esta dos U nidos que, como já cxpli-

20. Mo niq ue Briêre, Art Image 5, New Yo rk, Art Image P ublicatio ns Inc.,
1988, pp. 101-104.
19. Erncst Go mbrich, "Distinguished D issident", Ja mes J. G ibso n, The N ew
21. Paul Jcnkins tem ob ra no Museu de Art e Co ntem po rânea da Univcrsi -
York Review of Iiooks , jan eir o 19, volume XXXV, números 21 e 22, p. 13.
dad c de São Paul o ,
64 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE

A série Art Image é primorosamente editada, traz a locali-


zação dos museus e coleções públicas onde se podem ver os ori-
ginais das obras usadas em reproduções. Há uma parte teórica
coerente e bem explicitada que ocupa um terço do livro e que
precede as sugestões dos modos de operacionalizar a leitura de
obras de arte reproduzidas de maneira a explorar o fazer artísti-
co,produzir conhecimentos de história da arte e de estética, e
provocar o amadurecimento crítico. O primeiro capítulo defende
a arte como disciplina na escola e .não apenas como atividade,
demonstrando que como todas as outras disciplinas ou matérias
de instrução, a arte tem um específico domínio, uma específica
linguagem e um específico contexto histórico.
O domínio específico compreende o ver e o fazer arte. Ao
contrário da maioria dos livros que orientam em relação ao uso
da metodologia do DBAE, o de Monique Briêre dá importância
primordial ao fazer artístico, afirmando que a primeira coisa que
um professor precisa conhecer é a fase de desenvolvimento gráfi-
co das crianças da classe com a qual vai trabalhar. Neste volume
que estou tentando resenh ar , o qual se destina à quinta série, ela
faz um estudo dos períodos: esquemático e pós-esquemático, nos
quais em geral se insere o pr ocesso de construção de imagem das
crian ças desta série. fJ g. 10. [ NS O R, Jame s, Ostcntlc, 13él glca, 1860 - 194 9 . Mas ks Confro nting
[ X ~ ~. Ca l. T he i\ l ll se ll m a r Mo dem Ar! New Y o r k ,
/.) ('(1(11,
Por outro lado, inicia a aula, quase sempre, atravé s da ativi-
dade artística da criança para dep ois introduzir propostas que le-
vam à leitura crítica, ao julgam ento esté tico e à compreensão ,
histórica das imagens produzidas por ar tistas. A produção da
criança antecede as inda gações sobre a produção de artistas, nu-
ma dem onstração da prioridade de imp ortân cia ao faze r artístico.
Na leitura das imagens criadas por ar tistas, estética, críti ca e
história são aspectos integrados de uma aula e nã o partes separa- " L

das como vem os comumente acontecer na utilização da metodo-


logia do Getty Center.
O importante não é ensinar estética, histór ia e cr ítica da arte,
mas, desenvolver a capacidade de formular hipóteses, julgar, j us-
tificar e contextualizar julgamentos acerca de imagens e de arte. .,
Para isso usa-se conhecimentos de história, de estética e de crítica
de arte.
Para se entender melhor o livro de Briêre transcreverei o
capítulo onze da parte dedicada às atividades práticas e que é
presidido pela leitura de dua s obras; um a de James E nsor, Masks
Conjronting Death (Fig. 10) e a outra já nossa conhecida, os Três
Músicos de P icasso, analisada por Robert Saunders cm seu livro,
dczessete anos atrás. Co ntu do, enqua nto Sau nders usou os Três
Músicos do Museu de Arte de Filadéllia (F ig. 8), Mo nique Briérc
......
66 A IMAGEM NO E NSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE ... 67

usa os Três Mús icos do Museu de Arte Moderna de Nova York


A IMAG EM DE ARTE
(Fig. 9).
Moniqu e Br i ére nem se quer menciona a existência de outro O professor posici on a as duas reproduções de arte na fre nte da classe e pe-
quadro de Picasso com o mesmo títul o, com as mesmas imagens, de aos alunos para se reunirem em tomo delas a fim de discut i-Ias e analisá-Ias.
pintado ao mesmo tempo nas mesmas dimensões. Saunders pelo
menos dá esta inform ação .
CENÁRIO DE UMA SAlA DE AULA

Q : Aqui estã o duas novas reproduções de ob ras de a rte. Por que vocês
Atividade Onze; Fantasia (Figs. 9 e 10) acham que estas dua s obras fora m escolh idas pa ra estarem juntas? Por que elas
Picasso, Pablo são ambas feias, Jimmy? Esta não é uma considera ção pa rticularmente construt i-
va. Você pode não gostar destas figuras, mas toda s as gravuras q ue eu estou mos-
Ensor, James
tra ndo a vocês são obras de art e. E obras de arte não são necessari am ente "boni-
tas" ou, pior, "grac iosas".
Agora , você está certo se você acha que est as duas imagens não rep resen-
A'nVIDADE DE ARTE; FAZE R tam beleza ou graciosidade, nem os desenhos que vocês fizeram representam be-
leza ou graciosidade. Os seus fora m pessoa is, originais, aud aciosos , divert idos,
Esta at ividade se rá feita em três dias . A primeira pa rte consiste num traba - assustadores, estranhos, excêntri cos etc. Sim, George, há uma pessoa usando
lho feito a partir da observação. uma máscara nesta figura e na ou tra tod o mund o está usa ndo uma máscara. Sim,
Antes de aprese ntar a pri meira pa rte da atividade o professor pede aos alu- Kim, esta imagens mostram pessoas fantasiadas.
nos para trazerem chapé us ant igos, bonés, ócu los escuros etc. Q: Vamos começar por esta, de Pab lo Picasso . Eu sei q ue todos sabem
As cria nças são so licitadas a experime ntar algun s destes chapéus e pode m quem é ou pe lo menos já ouviram falar de le! Ago ra vocês vão ap render a olhar
adicionar um aspecto original com a utiliza ção de óculos gra ndes ou bri ncos ex- pa ra um de seus trabalhos . O que vocês vêem, exatamente? Diana? Há três pes-
tra vagantes. Os tr ês mais disfa rçados se rão escolhidos para posar pa ra os o utros. soas disfar çada s. Sim, eles parecem estar toca ndo música. Eles estã o de pé? Um
Cada um posa po r qu inze min utos. Os alunos são solicitados pa ra desenhar os está de fren te para o outro? O que mais vocês vêem? Há um animal aqu i, vocês
modelos escolh idos dos omb ros para cima. podem localizá-lo?
A segu nda pa rte consistirá no desenh o de uma másca ra. Usa ndo um dos Sim, He nry, há um enorme cão marrom no fundo. Que tipos de fantasias
três traba lhos feitos a pa rtir da observaçã o, os alunos inventa rão máscar as insóli- estas pessoas estão usando? Um é um mon ge, verdade! O do meio é um arle-
tas. Eles terão uma peq ue na sele ção de cores. Cada um de les escolherá apen as quim. A pessoa à esquerda, parece um pa lhaço de preto e branco, ou PieITÔ.
cores primárias (verme lho , amarelo e azul); so me nte cores secu ndárias (verde, Pierrô e Arlequim pertencem à comédia italiana do século XVII . No ca rnaval em
laranja e roxo); ou some nte valores acromáti cos (pret o, cinza e b ranco). Veneza , que é um carnaval famoso , tão famos o quanto o do Rio de Janeiro e
Não lhes se rá permi tido usar nenhuma o utra cor além daq uelas três que fo- muito mais an tigo , muitas pessoas vestem-se como PieITÔ e Arle qu im. Nós nos
rem escolhidas e com as qua is dese nhar ão suas máscaras. fantasiamos para o carnaval aqui? Sim? A penas no dia das b ruxas (lIa lloween ).
Q: Va mos discutir o estilo desta pintura de Picasso. Sim, ela contém linhas
bastantes definidas; ela parece uma colagem. É geométrica . Agora, vocês lem-
MATERIAIS E T ÉC NICAS SUG E RI DAS bram que já falei sobre um est ilo de arte cha mado cubismo? Vocês lembram? Pi-
casso teve um forte períod o cubista . Esta é a razão porque esta pintura é tão
Primeira parte: desenh o - carvão sobre papel manilha (12" x 18"), caneta s hi- geomét rica.
drográficas pre ta sobr e o pape l cart ão (12" x 18") . Q : E as cores? Sim, Gló ria, elas são chapa das e não somb readas. Existem
Segunda parte: desenh o - pas tel oleoso sob re construç ão colorida ou papel várias cores escuras e cla ras, verdade! Sim os con trastes são fortes, Allon. Exis-
Kraft . tem texturas representadas ? Sim, o hábito do monge. Qual a cor pre dominante
aqui ? Sim, Daph ne, é o marrom. Q uantos marrons po demos identificar nesta
imagem? Va mos conferir!
AllVlDADE D E A RTE; VE R Q : E sob re a compo sição? Ela tem ritmo? As três pessoas disfarçadas estão
jus tapostas , ou seja, colocadas uma ao lado da outra em fila. Os eleme ntos pri n-
A IMA G EM DA CRIAN ÇA cipais são verticais, aind a que, os elementos musicais criem um desvio por sere m
horizontais. As três figuras fant asiadas preen chem o espa ço. Es te é um verdadei-
As máscaras estão dispostas nas par edes e os alunos são solicitados a disc u- ro espaço, vocês sabem; est a pintura é muito gra nde!
tir a origi nalidad e de seu proj eto , o u seu estilo e a função das core s escolhidas O: E a respe ito desta out ra, por Ja mes E nsor? O que você vê, Andrey? O
par a realçar a personagem de suas máscaras etc. O professo r encoraja a crítica homem no meio está vestindo uma cave ira? Sim, Ingrid, estas másca ras têm ex-
positiva. pressões ch()(·antesjaoo mináveisjpavo rosas. Você não gostaria de encontrá-los
na rua, e h ol , h 'II<" ) :'-J.I" ",' redila 'lue as pc' , o"s vestidas tão horri velme nte poso
68 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE ... 69
1. Ser introduzidos a dois grandes artistas do século XX (história da arte).
sam ser boas? Nós discutiremos como nos sentimos sobre esta imagem depois da
análise, está bem? 2. Aprender ou serem lembrados sobre movimentos artísticos como cubismo,
expressionismo e pós-impressionismo (história da arte).
Q: Descreva as cores, Roderich. Existem muitos contrastes? Texturas?
3. Discutir os elementos representacionais da arte (análise, critica, vocabulário
Q: E sobre a composição? Sim, Rachel, existem figuras justapostas na fila
artístico visual, desenvolvimento afetivo).
da frente, e há pessoas logo atrás. Existe bastante profundidade nesta figura?
4. Experimentar o uso de harmonia com três cores (imaginação criativa, expe-
Você acha que não, Denis? Todas estas pessoas parecem amontoadas juntas?
riências estéticas, habilidade).
Sim, lesse, as pessoas preenchem o espaço nesta imagem assim como na de Pi-
5. Discutir elementos de desenho como composição vertical e horizontal, distri-
casso. Verdade, Katleen, existe uma grande diferença : na figura de Picasso, as
buição e justaposição, cores primárias, cores secundárias, harmonia, critica,
três pessoas são mostradas dos pés à cabeça. Aqui, nós vemos apenas a partir do
dorso . vocabulário artístico e visual, proficiência verbal).
6. Compreender a diferença entre a arte decorativa e realista (critica e per-
Q : Agora, quais os seus sentimentos sobre as duas figuras? Sim, Lucy, o
cepção).
trabalho de Picasso é mais decorativo o de Ensor é mais realista . Há alguma coisa
7. Determinar como eles se sentem a respeito das obras de arte (desenvolvimen-
triste no trabalho de Picasso, você acha Angela? George não acha que parece
to afetivo, apreciação estética, julgamento).
triste, ele acha que é animado. Gary, você sente que o trabalho de Ensor é assus-
tador? Estas máscaras não parecem agradáveis, afinal vocês consideram o traba-
lho de Picasso mais sereno que o de Ensor? Qual pintura vocês preferem, a de Considerando o discurso didático, Monique Briêre escreve a
Picasso ou Ensor? Stewart? Graeme? Claire? Por quê? posteriore e Saunders a priori. Supõe-se que Briêre trabalha pri-
meiro com crianças suas hipóteses e depois é como se descreves-
se o que já aconteceu em alguma aula. Já Robert Saunders pare-
APRESENTAÇÃO D O PROFESSO R, DOS ARTISTAS E OBRAS
ce sugerir o questionamento a partir de suas próprias hipóteses
A pintura de Picasso intitulada os Três Músicos foi uma das suas últimas que se converterão cm aula sem deixar antever ao leitor se a ex-
pinturas cubistas como eu mencionei antes. Em certo sentido esta pintura é uma periência foi realizada an teriorm ente com crianças. Outro livro
espécie de resumo, assim como afirmação final, do interesse de Picasso na arte recente baseado no DBAE, Arttalk de Rosalind Ragans (1988)22,
cubista, na qual se iniciou através de seu interesse pela arte africana.
dá a mesma impressão que o de M onique Briere de se tratar de
O predomínio da cor marrom é identificado pelo uso de várias tonalidades
desta cor, tanto no primeiro plano como no fundo. A preferência de Picasso pe-
uma série de experiências já exploradas em sala de aula e que de-
los valores contrastantes é revelado através desta imagem, na qual os valores e ram certo. Por isto, estes dois livros dão mais segur ança ao leitor
cores diferentes estão justapostos com grande freqüência . Esta pintura, como a que os de Feldman e Saunders.
maioria dos trabalhos de Picasso, é muito ousada e forte . A partir de os Três Mú- Pode ser até uma estratégia de marketing aperfeiçoada nos
sicos, seu estilo de pintura tornou-se mais colorido e imaginativo. Aqui, era mais últimos dezessete anos que separam a publicação dos quatro li-
decorativo do que imaginativo. As sombras e cores pretendiam estar em comple-
ta harmonia. vros, dois a dois.
Muitas pessoas consideram Picasso um dos pintores mais importantes do
século XX. Ele pintou as coisas como elas nunca tinham sido representadas an- DI5 CIPLINED BA5ED ART ED UCA TION COM ÊNFASE NA
tes, ele rejeitou o passado e inventou um novo estilo . Suas explorações artísticas CRÍTI CA
e experimentos influenciaram não somente seus contemporâneos, porém ,
também, muitos artistas mais tarde . Por toda a sua longa vida - ele viveu até a O livro de Rosalind Ragans é prefaciado por Feldman que foi
idade de noventa e um anos - o desenvolvimento artístico de Picasso atravessou
mudanças e transformações constantes. Picasso nasceu em Málaga, Espanha. Ele
seu professor e que evidentemente exerce uma forte influência
passou a maior parte de sua vida na França. Num certo momento, sua fama riva- sobre a autora. É o melhor livro am ericano atual que orienta
lizou-se somente com a Torre Eiffel, verdade! Após a guerra, muitos soldados mais flexivelmente em direção à leitura da obra de arte.
americanos em Paris queriam apenas ver Picasso e a Torre Eiffel! O form ato editorial de Antalk é bem diferenciado dos livros
aos quais me referi anteriormente. O de Feldman é um livro para
Informação histórica apreciativa semelhante foi dada sobre estudantes univers itários de arte-educação. Ensina como ensinar.
Ensor também. Já os de Saunders e Briêre constituem um conjunt o de repro-
duções excelentes e caras, que no Brasil só pod er iam ser com pra-
OBJETIVOS
22. Rosalind Ragan s , Arttalk ; Miss io n Il ill, Calif órnia , Glenco c I' ublishing
Os estudantes irão: C:omrany,I')<;R.
A IMAGEM NO ENSINO DA ART E A IMPORT ÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO D A A RT E .. . 71
70

das por escolas e não pelos professores individualmente, acompa- xidade deste ent endimento de forma simples. A o explicar o
nhado por livros de ori entação didática para o professor, enquan- propósito do livro demonstra seu de sprezo pelas críticas mera-
to o de Ragans, compreende dois volumes, um do aluno e outro mente conteudísticas, afumando ao hipot ét ico leitor a quem se
do professor, como os convencionais livros didáticos que temos dirige, se mpre diretamente, que ao terminarm os de usar o livro, o
no Brasil. quadro de R aphael, São Jorge e o Dragão, cuja re produção ap re-
Entretanto seu conteúdo nã o é nada convencional e o aspecto senta na pr imeira página, nos dirá muito mais que a óbvia estória
visual do livro do aluno, uma verdadeira obra de arte gráfica com de um herói salvando uma jovem que precisa de aju da. Par a pr e-
todas as reproduções em cores. parar par a este entendimento aprofundado da obra de arte, expli-
A diagramação do livro estabelece duas narrat ivas, que em- cando pr ime iro o que signi fica crítica de arte, rese rva mais ou
bora integradas, po dem se r lidas se paradamente: a narrativa ver - menos quatro qui ntos do livro para instrumentalizar est a crítica
bal e a narrativa visual . E sta última cria um diálogo estético que at ravés do domínio da gramá tica visual e da análise da imagem.
inter-rela ciona a obra de arte consagr ada e bons tr abalh os de Estuda os element os do des enho , cm primeiro lugar. U m de-
alunos, entre meados de algu mas ima gens de arte popular e arte les, a linha, ana lisa em relação à esp écie de linhas, variações, de-
comercial de alta qualidade estética. U ma da s possfveis interpre- senho de contorn o, desenho gestual, desenho caligrá fico, linha e
tações desta narrativa visual é a afirmação da arte como ar tefato valor, levand o os alunos a ver em criticamente os trabalhos de ou-
de alta qualidade est ética, não importa se feito na escola, para a tros alunos e de grandes mestres como Durer, Roualt, John Ma-
TV, para o uso cotidiano ou para a contemplação em mus eus. rin, Juan Gris, Tintorcuo, Calder, E dward Hopper, em especial,
Quanto à narrativa verbal, Feldman afir ma no prefácio que Cabinet Maker de Jacob Lawrence. Propõe trabalhos práticos
"reflete um segu ro conhecimento do que os estu dantes podem com lã, arame, relevos etc., pa ra explorar as múltiplas possibili -
entender, do que administradores podem aprender (se eles tenta- dades de expr essões da linha.
rem) e do que os professores precisam?" . En quanto nos livros de Monique Briêre e de Feldman pre-
O livro é organizado de maneira que os estudantes entendam dom ina a leitura do significado, no de R agans predomina a leitu -
o que estão aprendendo e por quê.
ra do significante.
E m primeiro lugar, defe nde a idéia da arte como uma forma O significado e o valor são discutidos como ápice do enten-
de comunicaçã o que transpõe as barreiras de diferentes países e dimento das relações entre os elementos da arte e os princípios
que pode falar de modo a ultr apassar o simp les at o de descrever de desenho, isto é, entre linha, forma , espaço, cor , textura de um
alguma coisa ou con tar uma est ór ia, " arte expressa idéias e se n- lado, e ritmo, movimento, equilíbrio, proporção, vari edade, ên fa-
timentos que as palavras usuais não podem explicar"?'.
se e unidade de outro, assim separados para análise mas integra-
Eu diria que o núcleo central do livro é a leitura ou ent en di-
dos na crítica ace rca do valor da obra.
mento das artes visuais e da ima gem. Para isto a autora seg ue a No guia do professor Ragans, explica de maneira sucinta e
metodologia do Disciplined Based Art Education do G etty Cen-
prosaica os componentes do DBAE da seguinte maneira:
ter mais ao pé da letra que M onique Bri êre se m entretanto deixar
de imp rimir sua marca pessoal a est a metodologia que é pr ecisa- Produção de arte é a legria . Quase tod o m un do gosta de man ip ula r ma te ria l art ís-
mente fazer da crítica o elemento pr incipal e mais importante no tico .
estudo da arte. En fatiza, portanto, ao longo de to do o livro, a crí- Critica da arte é um procedim ento semelha nte a montar um qu ebra -cab eça s.
tica, tornando-a prepon derante em rela ção à história, ao fazer ar- História da arte é co m p lexo . Ela se re lacio na co m tod os os aspecto s da hist ória
dos seres h uma nos.
te e à estética, que se tornam instrumentos im por tantes mas sub- Estética é u m es t ra nho novo mist éri o . Co mo p ro fessores , se mp re tem os lidad o
sidiári os para o e nte ndimento crítico. Trata-se de um livro que com ela mas nã o sabía mos se u no mc 25.
não simplifica o entendimento da arte mas de monstr a a comple-
Para desenvolver a capacidade crítica segue os mesmos pas-
sos que Feldman. Pri mei ro a descrição e análise da obra, quando
23. Ed mund Bu rke r Feldman, "For cword" , in Ro sa lind Ra gan s, op . cit.,
p ó.
24. Rosa lind R;Jga n." op . cito - I .ÍI '!'O c/o l'm j eI .m r , p. ó. 2~ . hlrr n, 1" I,.
A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENS INO DA ART E... 73
72 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE
te não só aos tr abalhos dos grandes mestres mas ao trabalho feito
os estudantes são levados a coletar dados objetivamente, depois pelos próprios alun os.
vem a interpretação durante a qual os estudantes são estimulados Do s autores que nos ofer ecem modelos de anális e de obra de
a especular acerca de significados da obra, baseados nos dados arte é o que exige mais objetividade de leitura na fase da des-
objetivos coletados. crição, porém é o mais permissivo e flexível, na fase de interpre-
Na quarta fase do processo crítico - julgamento - os estu- tação. Por exemplo, enquanto Saunders e Feldman partem da
dantes chegam a conclusões pessoais, porém demonstráveis ou análise preconcebida por eles de que no qu adro O Banho, de
defensáveis através de evidencias formais da obra. Mary Cassat, tem os mãe e filha, ela adverte qu e se a criança nes-
Na área da estética há uma constante preocupação, de de- ta fase descreve as figur as já estabelece ndo esta relação maternal,
monstrar que não se trata de estudo da beleza, mas a autora não devemos res pon der que não há nada obje tivo que prove que se
apresenta uma conceituação aprofundada, ficando apenas na
trata de mãe e filha.
afirmação de que a arte hoje pode ser algo perturbador e feio.
Procura demarcar os territórios da crítica e da estética afirmando Deixem a interp retação para depoi s. Se vocês vêm algumas figuras e se
que: vocês não sabem se são homem e mulher simplesmente designe-os como pes-
soas 27•
Quando uma discussão sobre uma específica obra de arte se amplia para
uma discussão sobre a arte em geral é porque mudamos da crítica para a estética . Contudo, na fase de interpretações, afuma que devemos acei-
Quando seus alunos estão comparando as qualidades expressivas da música com tar interpretações, mesmo as mai s metafóricas como de "solidão
a pintura estão lidando com o domínio da estética 26.
de alguém separado da família"28 para O Banho de Mary Cassat,
dada por um de seus alunos.
Há um esforço de, em cada aula, pôr em discussão proble- Conta também que em uma de suas aulas um estudante in-
mas de crítica e estética através da leitura da obra de arte, de dar terpretou a Guemica de Picasso como um protesto contra a des-
infor mações históricas e de propor trabalhos práticos de criação truição nuclear e justificava a interpretação através da lâmpada
artística, mas o objetivo de desenvolver a capacidade crítica para no meio de um olho centrado no alto da composição.
entender e fruir arte é a dominante do livro. Cada pessoa em cada época tem direito à sua interpretação,
Há um capítulo especial sobre os empregos e carreiras pro - desde que justificável formalmente; portanto, é necessário ler cla-
fissionais que existem no campo da arte como: desenho gráfico, ramente os elementos formais e de composição prim eiro, parece
desenho editori al, ilustração, computação gráfica, desenho gráfico dizer a autora.
para televisão, o desenho industri al, des enh o de mod a, arquitetu- A melhor proposta de aula do livro é a sobre ritmo e movi-
ra, planej amen to urbano, paisagismo arquitetônico, desenho de mento que obviamente não pode ser desenvolvida em um dia,
interiores, desenho de exposições, desenho de vitrin es, fotografia, mas, pelo menos em quatro encontros.
dese nho de animação e story bords, dir eção de ar te para as artes Começa analisando ritmo na natureza e no mundo manufatu-
cênicas, televisão e cinem a, planejamento de locação, efeitos es- rado do objeto de uso cotidiano (um banco de jardim, um quilt,
peciais e cenografia, e, por último, arte-educação ou ensino da ar - uma porta de elevador de Louis Sullivan ctc.), chegando aos tra-
te, Paradoxalmente, para um livro que valoriza a crítica acima das balhos de artistas que constituem o núcleo de história da arte des-
outras áreas do DBAE falta a demonstração do quanto é impor- ta aula . São eles Calder, Andy Warhol, os futuristas como Baila e
tante ler imagem e desenvolver a capacidade de julgamento esté- Boccioni, sem esquecer o Nu Descendo a Escada de Marcel Du-
tico, através da compreensão da arte, para ser um consumidor ou champ, posto em destaque. Regularidade, repetição, deslocamen-
fruidor de toda esta gama de produção e produtos que resultam to e acaso são classificações do discurso rítmico, trabalhadas na
da atuação dos profissionais destas difer en tes ár eas das ar tes vi- prática de atelier assim como módulo, padrão, cinética etc.,
suais. atravé s de carimbos, desenhos e esculturas.
Entretant o insiste na ap licação dos princípios da crítica de ar -

27. ldrm, / ÍI'rI! "0/'m/Í'.üor , (l. 57-


2H 1.1,'" " J 1\ "0 d" /'1 0/; ' \\0,..
26. Idem , Li vro do A luno , p. 15.
74 A IMAGEM NO ENSI NO DA ARTE A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE,.. 75
Fin aliza a lição corno o faz com todas as outras do livro, pro - diz bastante a respeito de seu s sentimentos. Que parte da pintura est á mais viva,
pondo urna obra para ser lida criticamente seguindo-se os passos com ritmos dançantes? Qual é a parte mais calma ? O que ela diz a vo cê?
determinados pelo método que tornou de empréstimo a Feldman. Coloque-se na po siçã o do artista - imagine os pensam entos que estavam
corr endo através de sua mente enquanto ele pintava. Escreva palavras ou frases
A obra escolhida para ser analis ada como ápice da aula sobre
que ele devia es ta r pensando.
ritmo e movimento é A Noite Estrelada de Vincent Van Gogh>, Escreva um parágrafo explica ndo sua interpretação.
(Fig. 11). Em seguida crie um novo título que expresse seu sentimento sobre A Noite
Vamos transcrever esta aula*. Estrelada .
Julgam ento: O que vo cê pensa acerca da pintura ?
APRECIA ÇÃ O A Rl i s ll CA Você gosta do assunto de sta pintura ?
Você gosta da maneira pela qual o a rt ista o rga n izou os e le me ntos de arte ?
Aperfeiço ando sua habilidade crí tico-re flexiva Como o artista usou o princípio do ritmo ? Esta pintura toca seus se ntime ntos?
Descrição: O qu e você vê ? Use uma o u ma is te orias da arte para defender suas reaç ões a este trabalho3ú.
O bse rve os cré di tos de A N oite Estrelada por Vincent V a n Gogh (os créd i-
tos ac ima da ilustração de Vin cen t Van G ogh são: A Noite Estrelada. Óle o sobre
tel a 73,7 x 92,1 cm. Co leçã o do Mu sc u de A rt e Modema de Nova Y ork . A dqui ri- ALGUMA COISA EXTRA
da através da do ação de Lillie P. Bliss). Q ual mist ura fo i usa da para cria r es ta
pint ura? Q ual o ta ma nho desta pintura? O bse rve a ma neira como a tin ta foi Você já o uviu uma canção popular co m o mesmo nome d esta pintura ?
aplicada à te la. O qu e voc ê vê ? Obtenha uma cópia dela e ouça a letra. V ocê acha que o compositor se sen-
Ag ora de scr eva tudo o q ue você vê na pi ntura. Para aj udá-lo a or gan iza r tiria da mesma mane ira que você a respeito deste trabalho?
se us pensa me ntos, comece lista ndo as co isas qu e você re conhece no p rim eiro
plan o. E ntão liste as co isas q ue voc ê vê no plano do meio , ao fundo e no céu .
An álise: co mo a ob ra é organi zada? SOBRE O ARTISTA: Vin cent Van Gogh
A ntes de você estudar a ma nei ra que Va n Gogh utiliz a o rit mo, obse rve os
dife rentes elem en tos art ísticos q ue e le usa . Vincent Van G ogh nasceu numa pequena vila holandesa e m 1853. Ele tinha
A gora olhe a maneira com o o a rt ista a rran jou as so mb ras , formas e esp aço. apenas trinta e sete anos quando morreu em 1890. Mas sua vida tr ágica e curta
Ex iste algum esp aço nega tivo tota lment e vazio ? Qual o e feit o expressi vo das foi um marco no mundo da arte.
som b ras maiores? V ocê deve estar já fam iliarizado com a estória da vida de Van G ogh. E la ti-
A~ co res nest e trabalho são impo rt antes . Onde você e nco ntra as core s mai s nha sido ret ratada em livro , ca nção popular e nu ma peça de teatro. Você deve
bri lhante s?
saber que ele ficou louco, co rt o u fora parte de sua orelha e come te u suicíd io no
A seguir est ud e as textu ra s. Van Gogh está te n ta ndo imit a r as textu ras rea is a uge d e sua criatividade. Ainda assim ele deix ou para o mundo mil e seis centas
do s obje tos? A textura da s pince lada s é mos trad a? extraordinárias pinturas e de senhos .
A gora você está p ro nto para o bserva r os ri tmos visuais em A N oite Estre- Van Gogh nã o era int eressado em a rt e quando ele era jovem. De fato , ele
lada.
passou vinte e se le an os tentanto encont rar a si mesmo. Ele tentou vá rias ca rre i-
Q uais os ele me nt os e obj etos são usados com o motivo nest e t rabalho ? ras dif erentes, incluindo professor, pastor e missionário, mas abandonou todas
Descreva-os.
elas. Durante es tes an os , e ntreta nto, es creveu para se u irmão e melhor amigo ,
Q ue tipos de ritmos Va n Gogh ut ilizou? Theo, ilustrand o suas cartas com vá rios esboços. Theo admirava as ilustrações e
Você po d e e ncon tra r exempl os de ri tm os regulares ? se o fe rece u pa ra su st entar Vincent em sua tentativa de fazer uma carreira artísti-
Você vê a lgum ritmo alte rn a tivo ?
ca.
Va n G ogh utilizou rit mo s ao acaso ? Nos dez anos seguint e, V a n G ogh pintou e continuou a esc reve r para Theo.
Exis te m alguns e xe mplos d e ri tmo p rogressivo ? Em ma is de mil cartas ele explico u todas as pinturas em que esta va traba-
E m q ua ntos luga res e le te m usado rit mo on d ula tóri o? lhando. Es tas cartas têm ajudado o mundo a compreende r melhor o processo do
Desc reva-os.
pe nsa me nto cria tivo de um gênio.
Q ual o mo vimento rí tmico do m inan te? As p rime iras pinturas de V an G ogh eram marr o ns e pardas.
Qu e áre a ap resent a mais movimento ? E ntão , em 1886, ele mud o u-se pa ra Pa ris para esta r perto de Theo , e foi
Interpretação: O qu e est á acontece ndo ?
duran te es te pc río do q ue ele foi influe nciado pe las co res do s impression istas e
O q ue o a rt ista está te ntand o d izer?
pe los dif eren tes es tilos de gravu ras japonesas. Nã o est ava sa tisfe ito e m simp les-
O lema des ta pintura não é o ma is imp o rta nte. A ma ne ira co mo Va n G ogh
incluiu os e lementos de ar te e organ izo u-os ut iliza nd o o princíp io do ri tmo nos

29. Idem, L ivro do A IIIl/o, pp. 238-240.


} O. 1\ a utora no ra pí rulo em q ue e xplica o qu e é crítica de a rte ap rese nto u
• Trad ução de Sof ia Fan.
tr ês lc () na ~ : im it.uion ivm», Io rm al isrno , cm orio na lixmo .
76 A IM AGEM NO ENSINO DA ARTE

mente pintar uma cena. Ele tinha que expressar seus sentimentos mais profun-
dos. A pintura e ra quase uma exp ressã o religiosa para ele.
Ele estava fascinad o pelos cé us cintilantes das noites do Sul. A primeira
noite estrelada que ele pint ou foi pintada ao natural. Isto foi muit o antes da ele-
tricidade e dos postes de luz. A solução de Van Gogh para o problema de enxer-
gar suas tin tas no escuro foi fixar velas ao red or da aba do seu cha péu. Ele fIXOU ,
também, velas em tomo da tela .
Ele deve ter tido uma estra nha visão com sua cabeça in flamada num círculo
de fogo.
A Noite Estrelada des te ca pí tulo, foi pintad a de memória, mais tarde en -
q uanto ele est ava num asilo pa ra doe ntes me ntais.
Ninguém rea lme nte sabe porque Va n Go gh fico u doente.
O qu e é imp orta nte é o t ra balho e as idéias que ele deixou pa ra os artistas
que o segu iram.

A linguagem do livro de Ragans é menos coloquial que a do


livro de Briêre, o que o faz utilizável cm todas as séries do III grau
(pr imeira à oitava séries). As pr opostas ser ão aprofunda das em
função da maior possibilidade reflexiva e constru tiva da classe. A
mesma amplitude de utilização tem o livro de Fe ldm an, enquanto
os de Bri êre e Saundcrs têm prop ostas especificam ente dirigidas
a cada série ou grupo de séries.
Fi g . 11. VA N GOG H, Vi ncc nr - Z urulcrt (Brabant), Hol a nd a, 1853 - A u ver s-
Por acaso ao mesmo tempo que eu estava escrevendo este sur - O isc , Fr ança, 1 ~ 9 0 . The Sta rry Niglu (A N oite Estr elada}, 1889. Cal. T hc
texto, minh a filha, aluna de artes plásticas da Fundação Armando Muscum o f Mod em Ar! Ne w York.
Álvares Penteado estava em plena atividade de fim de semestre,
escrevendo freneticamente os trabalhos para nota.
Uma noite, passando por seu quarto, vejo-a com o projetor
de slides ligado observando atentamente A Noite Estrelada de
Van Gogh , a mesma versão que eu estava estudando no meu Fi g. 12. HOKUSAI , Kat su shi ka. Yed o , T 6quio, 1760 -1 849. The Greal wave o]
K anaguwa, s.d. CoI. V ir ória & Alber t M uscurn L ondo n.
quarto. (Fig. 11)
Quando perguntei o que estava buscando, me contou que sua
professora de estética pedira, como trabalho final, a leitura de
uma obr a da arte. Sua prim eira idéia fora fazer uma leitura com-
parativa entre um texto literário e uma obra visual, mas, que de-
pois, havia pen sado em fazer sistematicam ente o que ela acredi-
tava que todos nós, que trabalh amos com ar tes plásticas, fazemos
sempre de maneira assiste máti ca: compara r pint uras, desenhos,
esculturas até para des cobrir que influência têm, qu em imita
quem etc.
D esde criança minha filha Ana Amália é fascinada por gravu -
ra japonesa, possuindo uma boa colcção de livros sobre o assunto.
Foi guiada por suas preferências visuais que com eçou a apro-
ximar comparativam ente o slide do quadro de Van Gogh que es-
tava examinando com a Grande Gilda do japon ês Hokusai (F ig.
12) .
A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NO ENSINO DA ART E... 79
78 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE

Barcos Chegando ao Porto de Van G ogh, e gravura de du as páginas da sé rie Cem


Sem conhecer os métodos de Feldman, de Ragans, ou do VIS/as do Monte Fugi de Katsushika Ilo kusaiJ.
DBAE, dos quais já ouviu falar mas não se interessou em estudar,
percebi que intuitivamente ela estava planejando o trabalho, se-
guindo três das disciplinas da arte, consideradas pelos projetos do LEflU RA COM PA RA DA
Getty Center: história, crítica e estética.
Não interferi na sua linha de pensamento, mas pedi que me 1. As obras

mostrasse o trabalho terminado, e qual não foi minha surpresa ao As obras escol hidas fo ra m: A Noite Estrelada de V an Gogh (Sa int Remy,
junh o de 1889) e Grande Onda de Ho kusa i (m ais ou me nos 1830). ( Figu ras 14 e
ver que para a consecussão da tarefa, embora tenha interligado,
15).
crítica e estética, seguiu, também intuitivamente, os passos pro- Logo à primeira vista as du as obras parece m semelh a ntes, mas primeiro é
postos por Feldman e Ragans para o exercício da crítica, isto é, necessário olh a r cada uma ind ividu alme nte.
primeiro descrição e análise, seguindo-se interpretação e julga-
2. Descriç ão
mento.
A Noite Estrelada - Va n Gog h
Sua primeira preocupação foi histórica, isto é, reler as cartas
E m prime iro pla no, à esque rda , ve mos um eno rm e cipreste que q uase toca
de Van Gogh ao seu irmão Theo para verificar se havia referên- o alt o do q uad ro, e m segu ndo pla no , temos uma cida de co m suas casas às escuras
cia a Hokusai e como não encontrou, recolheu e citou no tópico e alguma luz ao redo r da Igrej a, e m se guida, te mos as mo nta nhas e e ntão o céu
que intitulou «Um pouco de história" as referências do pintor à em movime nto o ndu lató rio, cheio de est relas qu e criam co mo q ue uma aura
gravura japonesa entremeadas por informações biográficas. Além a mare la, ao red or e à d ireita, uma meia -lua basta nte iluminada .
disso procurou comprovações iconográficas da influência da gra- Grande Onda - llokusa i
vurajaponesa sobre a pintura de Van Gogh. E m p rim eiro plano tem os uma ond a mé d ia qu e encobre e m parte um bar-
Vejamos parte do texto dedicado a história: co, logo em se guida , à esque rda, temos uma o nda q ue quase toca a pa rte de cima
do q uadro . A o fundo, te mos um barc o ao sab o r das ondas.
Que Van Gogh tenha sido influenciado pela gravura japonesa o u por
3. Co mpa ração
Ukiyo-e nem se discute mais . Ele co meça a colecionar gravuras em Nuernern,
mas sua primeira referência a elas, nas cartas, foi em 1885 q ua nd o estava em An- A Grande Onda é dada com o te ndo sido a inspiração pa ra Debussy cria r
tuérpia: " Co loq uei algumas gravuras japonesas na parede, o que me dá enorme sua peça IA Mer (1905) e foi a gravura q ue mais impressionou o O cide nte . O
prazer. Você sabe, aq uelas figuras de pe q ue nas mulhe res nos jardins..." elemento huma no quase desapa rece, há uma influê ncia da perspectiva ocidental.
Com certeza Va n G ogh se sentia at ra ído pelo exotismo de Ukíyo-e e é soo E la faz pa rt e de sé rie Tri nta e Se is Vistas do Mo nte Fuji e é o pr óprio movim en -
esta influência que Van Gogh tem a confiança de introduzir maiores áreas de to da o nda q ue leva nossa vista ao monte, tema d o quad ro, ass im co mo é o pró-
uma só cor e clarea r suas cores e, é ele próprio que 0 06 conta em setembro de prio movimento do céu de A Noite Esrrelada de Va n Gogh qu e nos leva a ve r a
1888: "...Eu admiro as gravuras populares japonesas, com suas gra ndes áreas cidade .
cha pa das e coloridas p ela mesm a razão que admiro Veronese e R ube ns . Estou Se compararmos a estrutura das d uas obras, ambas parecem estar divididas
certo de que isso não é arte primitiva..." po r uma linha transversal mais elevad a à d ireita:
Em 1887 ele pintava Tanguy co m fundo de gravuras de Hokusao, Hiroshige,
e o utras [incluiu aqui um xerox do quadro citado].
Também copiou várias gravuras e até fez em 1887 uma exposição de Ni-
shiki-e no ca fé Le Tambourim, e essas cópias, além de impressionarem a todos
(críticos e artistas), pa recem te r-lhe ensinado como usar a cor co m seu potencial
decorativo, ou seja, que o céu , por exemplo, poderia ser vermelho sem que se li·
zesse uma afronta o u uma viol ência à natureza.
Quando Van Gogh vai a Arles escreve maravilhado: "... E as pa isa gens ne-
vadas com os cumes brancos co ntra um céu tão luminoso qu a nto a neve e ra m
exatamente como pa isagens de inve rno qu e os japoneses faze m" .
Apesa r das gra vuras terem aj udado Va n G o gh a simp lificar seu s de senhos e
a p inta r áreas de co r, à p rimeira vista , no enta nto, suas marcas , co mo po ntos al-
cançados pe las p inceladas não e ra m tã o inexist e nt es no Ja pão, pois Hokusai usa - Ta nto e m uma q uan to na o utra o q ue aco nte ce na met ad e de cima , parece
va esta técnica pa ra cri a r textu ras e d ifere nciar áreas em gravuras preto e b ra nco. ser mais impo rtante do que o que acon tece e mbaixo.
Um desenho de barcos feito em junho de 1888, cla ra me nte mostra as inú- No Va n (i,)~h, à esq ue rda, existe o cip reste que cresce e no lIokusa i é a
me ras possibi lidades desta técnica e le mb ra mui to II oku sai (incluiu aqui xe ro x de p ró pria Ilnda:
80 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE A IMPORTÂNClA DA IMAGEM NO ENSINO DA ARTE... 81

lação da história, da leitura da obra de arte e do fazer artístico, a

C?
partir dos nove anos até a idade adulta.

/\ Van Gogh Ho kusai


Pus-me, então, a investigar o atelier de Ana Amália para ver
o que ela andava pintando e desenhando, e qual não foi minha
surpresa ao ver que ela vem perseguindo há mais de um ano, in-
terpretações, representações e deconstruções, enfim, variações
sobre cadeiras.
Existe uma diagona l que cria uma tensão entre o cipreste escuro e a grand e A série começou pela observação de uma cadeira de Van
claridade da lua e, se fizermos a mesma diagonal no Hokusa i, existe um contraste Gogh, passou pela observação da cadeira da sala de jantar e che-
entre a riqueza de deta lhes à esquerda e uma nuvem quase inexistente à dire ita . gou à invenção de cadeiras de sua deconstrução quase ao nível da
Mas com cert eza o que mais chama atenção é que também há uma onda no céu
dissolução da representação.
de Van Go gh [até aqui descrição e an álise )' .
Podemos comparar tamb ém, a força de expressão dessa onda e desse cé u
Portanto, uma forma, uma imagem viajando at ravés da histó-
em contraste com o barco e a cidade represen tados , que na verdade se tomam ria, recebe o tratamento plástico contemporâneo submetido à de-
subtemas, se ndo mais impo rt ante a represe ntação dest a força, des ta tensão de construção que teoricamente é a escola crítica da pós-moderni-
um céu com ventos fort es e uma o nda que está pa ra qu ebrar [interpre tação]. dade. Esta coexistência de princípios históricos e contempor âneos
Tanto um quadro como o outro são fortes e criam um clima de qu e algo da crítica e estética influencian do no fazer dão validade ao
est á para acon tecer [julgamento].
DBAE.
A metodologia do DB AE não é usada hoje apenas na escola
CONCLUSÃO primária e secundár ia. As universidades american as estão organi-
zando seus currículos baseados na inter-rela ção da históri a da ar-
Talvez Van Gogh nunca tenha visto esta gravura, ou quem sabe viu. Não te, da crítica, da estética e da produção.
podemos te r cert eza disso, mas sabemos, com o disse Gom brich na sua int ro-
dução à História da Arte , que todo artista aprende com outros artis tas. De qual-
Cai por terra o slogan dos arte-educadores dos anos sessenta:
que r mane ira a pergunta "Será que ele viu a Grande Onda? é int rigante, não? " O que importa é o processo e não o produto". Este sl ogan co-
meça a ser substit uído pela cons ciência da importâ ncia da relação
"processo-produto", na história do indivíduo e na história cultu-
Aqui acredito que se Ana Amália dominasse a metodologia ral.
do Getty Center, que intuitivamen te uso u, estende ria seu ques- Procurei neste livro ana lisar a apreciação e leitura da obra de
tionamento explicitando mai s esta questão de ord em estética so- art e através da reprod uçã o fixa. E ntretanto, o uso de vídeos apre-
bre a influência dire ta ou indireta de ar tistas uns sobre os outros. sentando e analisando ob ras de arte é cada vez mais freq üente na
Às vezes pode não have r uma influ ência direta de um a obra me todologia do DB AE nos E stados Unidos e Canadá. Trata-se
sobre a outra, mas um artista cap ta ndo o universo plástico de ou- de vídeos feitos especialmente para o ensino da arte e não da ·uti-
tro artista po de trabalh ar coincidente mente. lização de vídeos sobre artistas em sala de aula.
De repente minha filha estava se torn ando pa ra mim um es- Todos os que examinei dão preponderância à história da arte
tudo de caso . O fracionamento das disciplinas na universid ad e cm relação aos componentes do DBAE.
nos impede de po der ver um aluno desde suas obsessões históri- Os melhores são os da série Wilton Art Apreciation que têm
cas à sua produção. O Úici lmente podemos acom pan har o proce- vários programas temáticos com o representação de cavalos, jogos
dimento de organização do conhecimento de ar te em nossos alu- e auto-retratos em obras de arte e outros acerca de movimentos
nos. artísticos como o im pressionismo, o expressionismo etc .
A observação do trabalho teórico de minha filha, uma aluna Usa m a imagem móvel para organ izar uma série de imagens
universitária adulta, comprova o que dizem os ep istemólogos de fixas das obras de art e que se sucedem. A narração é apenas ver-
arte, isto é, que o conhecimento de arte se organiza na inter-re- bal.
Os vídeos sobre artistas em geral explor am melhor as quali-
dades da imagem móvel e já come ça m a ser pro duzidos para uso
• As classi ficações entre colche tes são minh as.
didático cs pc cffico .
82 A IMAGEM NO ENSINO DA ARTE
4. Arte-Educação no Museu de
É importante ressaltar a importância do projeto Arte na Es-
cola, financiado pela Fundação Iochpe. Uma atenta pesquisa de Arte Contemporânea da USP:
vídeos sobre arte produzidos no Brasil possibilitou a organização
de uma valiosa videoteca, disponível para empréstimos aos pro-
um Estudo de Caso
fessores de arte, de início apenas em Porto Alegre, mas a se loca-
lizar também em outras cidades do Brasil. Acredito ser necessá-
rio um outro livro, no qual os participantes deste projeto descre-
vam e analisem a pesquisa sobre a utilização destes vídeos sobre
i
arte com crianças em sala de aula, que envolveu professores da
rede particular e da rede pública através de um trabalho conve-
niado entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre (Secretaria
de Educação), a Universidade Federal de Porto Alegre (Pró-Rei-
toria de Extensão) e Fundação Iochpe. A pesquisa realizada por
Denyse Alcalde Vieira e Analice Dutra Pillar sob a coordenação
de Evelyn Berg, mostrou a maior desenvoltura das crianças que
viram, comentaram e discutiram os vídeos em sala de aula, uma
desenvoltura não só da expressão plástica mas também na com-
preensão da arte ao nível da expressão apreciativa verbal.
O nível de entendimento das obras de arte foi mais aprofun-
dado e demonstrado através de conceitos visuais por aqueles alu-
nos que passaram pela experiência de ver e analisar vídeos sobre No Brasil o trabalho do arte-educador nos museus tem sido
arte e/ou sobre artistas. improvisado, desde os anos cinqüenta, quando Ecyla Castanheira
Também os professores de arte que participaram da pesquisa Brandão e Sígrid Porto de Barros começaram a organizar os pri-
mostraram um crescimento muito grande na sua capacidade de meiros serviços educativos em museus, no Rio de Janeiro.
ver e interpretar obras de arte. Antes operavam com clichês acer- Apesar de, atualmente, existirem no país setenta e oito cursos
ca de arte, passando depois da experiência no projeto Arte na Es- de educação artística, em nenhum deles há qualquer abordagem a
cola (Iochpe) a fazer análises mais pessoais, descortinando entre- respeito da preparação do arte-educador para trabalhar em mu-
tanto os elementos objetivados visualmente na obra. seus.
Em 1986, com mais cinco colegas, das mais diferentes áreas
de artes, preparei um pré-projeto para deflagrar as discussões so-
bre a possível criação do Instituto de Arte na Universidade de
São Paulo.
Propunha e delineava um Departamento de Arte-Educação
com três áreas de formação inter-relacionadas, porém distintas:
Ensino de Arte em Escolas Formais, Arte-Educação em Museus
e Arte-Educação para Ação Cultural.
Este departamento e sua conseqüente preocupação com a
formação do professor de arte para museu nem sequer figurou no
projeto definitivo do Instituto de Artes que sucumbi u nos canais
burocráticos da U niversidade de São Paulo. A oposição cerrada
do professor de teatro-educação e a oposição mais amena, porém
configurada com clareza, do professor de educação musical, que
preferiram per manecer como apên dices de outros de partamen-
tos, aliados ao disfarçado boicote de membros da comissão de
implantaç ão, dl:sl ruiu a utopia de se criar o primeiro curso de

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