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Barbosa
Apresentação
A arte-educadora Ana Mae Barbosa identificou, através de pesquisas, vários problemas que
surgiram em sala de aula desde a criação do ensino de Educação Artística no Brasil, no ano de
1971. A partir deste olhar e de suas experiências educacionais no Museu de Arte Contemporânea e
como professora/diretora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP),
ela tentou prever os rumos da Arte-Educação nas escolas brasileiras.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer as pesquisas de Ana Mae Barbosa a partir de
seu artigo “Arte e Educação no Brasil: Realidade Hoje e Expectativas Futuras” (1989) e seus
desdobramentos através de seu método conhecido como Abordagem Triangular.
Bons estudos.
Boa leitura!
METODOLOGIA DO
ENSINO DE ARTES
ISBN 978-85-9502-112-9
Introdução
Neste capítulo você irá conhecer as pesquisas da arte-educadora per-
nambucana Ana Mae Barbosa com base em seu estudo, intitulado “Arte
e Educação no Brasil: Realidade Hoje e Expectativas Futuras”, de 1989.
Ana Mae identificou por pesquisas vários problemas que surgiram
em sala de aula desde a criação do ensino de Educação Artística no
Brasil, em 1971. A partir desse olhar, e de suas experiências no Museu de
Arte Contemporânea e como professora da Escola de Comunicações e
Artes da USP (Universidade de São Paulo), ela tentou prever os rumos da
arte-educação nas escolas brasileiras.
sonho. Na época, mulher deveria ser professora primária ou esposa. Ela optou
pelo magistério, apesar de achar o modelo vigente de sala de aula algo muito
opressor, coisa que ia contra seus princípios. No estudo do magistério, entre-
tanto, acabou por ser aluna de alguém que pensava nas possíveis mudanças do
ensino formal, ensinando-lhe – não somente ela, mas educadores do mundo
inteiro – que a educação pode ser libertadora. Seu nome? Paulo Freire.
Ela começa sua formação em arte pela Escolinha de Arte de Recife e,
para fugir da ditadura civil-militar, muda-se para São Paulo, e de lá para os
Estados Unidos, de onde retorna como a primeira Doutora em Arte-Educação
do Brasil, começando a comandar pesquisas na Escola de Comunicação e Arte
da USP (Universidade de São Paulo).
Quando escreveu o artigo Arte e Educação no Brasil: Realidade Hoje e
Expectativas Futuras (BARBOSA, 1989), completava 17 anos da criação
do ensino de Educação Artística. No ano de 1971 – durante o governo do
ditador Emílio Garrastazu Médici e do Ministro da Educação e Cultura,
Jarbas Passarinho –, em uma iniciativa do projeto MEC-USAID – em que o
ensino brasileiro deveria se adequar ao aplicado nos Estados Unidos –, são
abolidos vários conteúdos (como Filosofia e História) e é incluída a atividade
de arte nas escolas brasileiras (Lei Federal n° 5.692/71 – Lei de Diretrizes
e Bases da Educação). Apesar da conquista por parte dos arte-educadores,
a Arte se torna a única disciplina das humanidades dentro da sala de aula,
com professores sem nenhuma formação para o conteúdo além do ensino do
desenho geométrico e de observação. Seu principal objetivo prático era de ser
apenas uma atividade recreativa entre os conteúdos, já que nem avaliações
poderiam ser efetuadas. Até hoje, esse olhar sobre a disciplina permanece,
mesmo após as mudanças ocorridas na legislação.
Movimentos como o das Escolinhas de Arte, que iniciaram em 1948, já
trabalhavam a autoexpressão da criança e do adolescente, mas só havia 32
escolas particulares (em 1971) por todo o país, e elas tinham o intuito de
formar artistas, não professores de arte. Nas escolas públicas, somente eram
admitidos professores com formação universitária. O primeiro curso de Li-
cenciatura em Educação Artística surge em 1973, com duração de 2 anos, no
qual o futuro professor aprendia a lecionar sobre música, teatro, artes visuais,
desenho, dança e desenho geométrico, tudo ao mesmo tempo, para turmas
de 1ª a 8ª série (Ensino Fundamental) e, em alguns casos, para turmas do 2º
grau (Ensino Médio). Imagine a situação do jovem educador tentando dar
todo esse conteúdo na época. Em 1989, já havia 78 cursos de Licenciatura
em Educação Artística nas universidades brasileiras que seguiam os mesmos
moldes de currículo instituídos durante a ditadura.
Arte e educação no Brasil – Ana Mae Barbosa 39
Avanços educacionais
O pioneirismo na formação de arte-educadores pode ser marcado pelo Festival
de Campos de Jordão, em 1983, organizado por Claudia Toni, Gláucia Amaral
e Ana Mae Barbosa. O festival conectava análise de obra, história da arte e
trabalho prático. Foram oferecidos cursos para 400 professores, que poderiam
escolher 4 entre 25 práticos e 7 teóricos. Alguns cursos ministrados foram:
Arte e educação no Brasil – Ana Mae Barbosa 41
Apesar desses avanços, Barbosa (1989) enfatiza a resistência por parte dos
próprios educadores de arte em suas iniciativas, principalmente as professoras
de 1ª a 4ª série (em 1983, basicamente todas eram mulheres, e 50% destas
professoras primárias estudaram somente até a 4ª série). O perfil dessas edu-
cadoras era de limitar os alunos a atividades como folhas para colorir em datas
especiais, como no Dia das mães ou da Independência, sendo o conteúdo de
42 Arte e educação no Brasil – Ana Mae Barbosa
A abordagem triangular, sistematizada por Ana Mae, traz como referências conceituais
o movimento inglês Critical Studies (que utilizava a crítica de arte no ensino como
forma de apreciação da obra), o movimento norte-americano Discipline Based Art
Education (DBAE) (cuja proposta para o ensino de arte era a necessidade da inclusão
de disciplinas de produção artística, crítica de arte, estética e história da arte) e o
movimento mexicano Escuelas al Aire Libre (que propunha o ensino da arte mexicana
a partir da inter-relação entre arte e expressão).
Amparada por essa efervescência conceitual, a abordagem de Ana Mae — antes
chamada, erroneamente, de metodologia triangular, depois de proposta triangular e,
atualmente, de abordagem triangular — propõe que a composição de o programa
de ensino de arte brasileiro deve se pautar a partir de três ações básicas: ler obras de
arte, contextualizar e fazer arte.
Como dito anteriormente, ela sofreu muita resistência com esse método
nas palestras que deu para arte-educadores por todo o Brasil, principalmente
na questão das releituras de obras de arte, vista pelos que seguem a tendência
expressionista (autoexpressão, laissez-faire) como limitador para o aluno.
Nesse caso, ela apresentou vários artistas que criaram suas obras a partir de
outras obras de períodos anteriores ao seus, as várias leituras da “Vênus de
Giorgioni” (de Ticiano a Manet).
Sua ideia era convencer seus críticos de:
Com olhar pessimista, ela encerra acreditando que essas linhas garantiriam
que o país se tornasse um grande transmissor de valores estéticos e culturais,
nos moldes de um país de Terceiro Mundo.
Arte e educação no Brasil – Ana Mae Barbosa 45
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Na prática
Acompanhe o relato de um professor de Educação Artística do Ensino Fundamental na rede
municipal da região metropolitana de Porto Alegre (RS), no ano de 2016, colocando em prática a
Metodologia Triangular para alunos de 9° ano, para ensinar o Movimento Cubista. Aproveite essa
ideia para adaptar, de forma criativa, possibilidades de construção de planos de aula em artes:
“Segundo a Metodologia Triangular de Ana Mae Barbosa, precisamos dar a possibilidade de o aluno
compreender o conteúdo de Artes através da contextualização, da análise e da prática. Para que os
meus alunos de 9° ano do Ensino Fundamental pudessem aprender sobre os vários movimentos
artísticos do início do século XX, me vi obrigado não somente a entender suas diversas técnicas e
poéticas, mas também a pensar em como os alunos poderiam efetuar desses processos criativos
dentro da sala de aula.
Para a outra aula, reservei a parte prática, na qual convidei os alunos a escolher uma imagem e –
através da técnica do desenho – fragmentar/geometrizar a figura. O trabalho foi efetuado
individualmente. Por fim, na semana seguinte, solicitei que formassem pequenos grupos e
novamente escolhessem outra imagem e realizassem a mesma tarefa, só que desta vez deveriam
aumentar as dimensões do desenho e colorir através da colagem de recortes de imagens de
revistas.
A experiência foi tão positiva que culminou em uma exposição (não prevista) dos trabalhos
produzidos durante o ano sobre os outros movimentos (Dadaísmo, Cubismo, Concretismo,
Neoconcretismo e Op-Art), além de produções fotográficas. Já estamos na quarta edição!”
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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