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MATERIAIS DIDÁTICOS –

DESENVOLVIMENTO E
ANÁLISE
Aula 1

Prof.ª Carolina Zanella de Queiroz


CONVERSA INICIAL

Quem é professor e educador já ouviu muito falar de materiais didáticos


ou pedagógicos, mas, ao pensar sobre eles, logo vem a imagem de jogos.
Esquece-se de pensar em materiais que podem auxiliar tanto o professor quanto
o aluno no processo de ensino e de aprendizagem no contexto escolar. Os
materiais didáticos não são apenas instrumentos atuais. Eles possuem uma
história.
É nesse sentido que vamos abrir o presente capítulo, fazendo um breve
histórico para conhecer os materiais didáticos utilizados no século XX.
Você sabia que o livro didático é um material didático, um recurso que o
professor utiliza para estruturar e no qual baseia suas aulas?
Pois é. Você sabia que o livro didático é o primeiro material didático
utilizado no início do século XX e que teve e tem, até hoje, uma evolução que diz
respeito à parte visual? Vamos conversar sobre esses tópicos também.
Em seguida, abordaremos as tendências pedagógicas, focando os
recursos e materiais didáticos próprios utilizados em cada fase, para alcançar as
metas propostas.
Prosseguindo, trataremos sobre o material didático propriamente dito,
tentando revelar qual é a sua importância, fazendo uma reflexão sobre o seu uso
na sala de aula.

TEMA 1 – PERCURSO DO MATERIAL DIDÁTICO

Nasci no século XX e iniciei minha carreira como professora e pedagoga


na década de 80. Nessa época, o uso do material didático resumia-se ao livro
didático, utilizado para a alfabetização (a cartilha). Tratando-se do curso do
magistério, curso que prepara o indivíduo para ser professor, encontramos
variados materiais que tinham que ser confeccionados, em sua maioria, para se
exercer a profissão.
Os materiais empregados naquela época eram o flanelógrafo, cartazes,
cartazes de pregas e as transparências para serem utilizadas no retroprojetor, o
quadro-negro (com giz branco e colorido), mimeógrafo e, mais para o final do
século XX e início do XXI, o computador.
Flanelógrafo? Retroprojetor? Transparências? Cartazes de pregas?

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Essas palavras soam como antiguidade, mas faziam parte do processo
ensino-aprendizagem nas escolas.
Vocês conhecem ou já ouviram falar desses materiais?
Vamos então conhecê-los?

1.1 TIPOS DE MATERIAIS DIDÁTICOS NO SÉCULO XX

Iniciaremos este tema com três perguntas: o que é material didático? O


que é recurso didático? Há diferença entre eles?
Santos (2017), após vasta pesquisa em documentos oficiais e trabalhos
acadêmicos, considera que não há muitas diferenças.
Freitas (2007) lembra que “conhecidos como ‘recursos’ ou ‘tecnologias
educacionais’, os materiais e equipamentos didáticos são todo e qualquer
recurso utilizado em um procedimento de ensino, visando à estimulação do aluno
e à sua aproximação do conteúdo”.
O mesmo autor (Freitas, 2007) completa dizendo que o material didático
é “todo e qualquer recurso utilizado em um procedimento de ensino, visando
estimular e aproximar o aluno do processo ensino – aprendizagem”. Isso significa
que são recursos que têm o objetivo de facilitar e motivar o aluno a aprender.
Sendo assim, vamos ao primeiro recurso pedagógico que citamos
anteriormente: o flanelógrafo.

1.1.1 Flanelógrafo
Trata-se de uma base de Eucatex lisa, feita de madeira compensada,
papelão, cortiça ou isopor, recoberta de feltro, flanela, veludo ou tecido de lã.
Zóboli (2004, p. 59) continua descrevendo a produção:

Suas dimensões podem ser 60 x 90 cm ou então 80 cm x 1m. Ao forrar


a base do flanelógrafo, cortar o decido que irá cobri-lo, deixando 10 x
15 cm de sobre de cada lado. Passar cola própria de tecido ou madeira
em toda a sua superfície e sobre ela esticar bem o tecido, tomando
cuidado para não formar rugas. Vire as sobras laterais das bordas
prendendo no verso com tachinhas, fita adesiva ou grampos de
escritório.

Pode-se costurar também. Com ele, são utilizadas as flanelogravuras, que


são gravuras recortadas e coladas em cartolinas ou papel-cartão ou feltro. Atrás,
colam-se pedaços de lixa para fixar a gravura no flanelógrafo.

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1.1.2 Cartazes e cartazes de pregas
Segundo Zóboli (2004, p. 39), “o cartaz é um meio de comunicação de
massa de natureza visual, cuja finalidade é anunciar os mais diversos tipos de
mensagens comerciais, políticas, religiosas, educativas, de utilidade pública etc.”
Para Zóboli (2004, p. 39), “A utilização do cartaz em sala de aula é muito
limitada e tem como objetivo informar e motivar os alunos”.
A mesma autora, na comenta sobre o texto no cartaz: “o texto deve ser
simples, direto, em linguagem correta e adequada ao público ao qual se destina”
(Zóboli, 2004, p. 41).
O cartaz de pregas é um recurso visual versátil. Serve como suporte de
informações e pode ser usado em qualquer área de ensino, incluindo o ensino
da leitura e da escrita. É confeccionado pelo próprio professor (Zóboli, 2004).
Como fazer? Vamos à receita da Zóboli (2004, p. 46):

A base é uma superfície retangular de cartão, cartolina (duas folhas


grampeadas) ou madeira e sobre elas prende-se uma outra folha de
papel pardo no sentido horizontal. Para fazer as pregas, marcar a folha
de papel de 3,5 cm e 7 cm, 3,5 e 7 cm até terminar o papel e dobrar
fazendo pregas, depois prender as pregas nas extremidades usando
um grampeador. Para arrematar, usar fita adesiva. As pregas podem
ser colocadas na frente e também no verso, sendo ainda mais úteis.

Os cartões que serão usados no cartaz de pregas podem ser


confeccionados com pedaços de cartolina ou papel-cartão, com 3,5 cm a mais
abaixo das letras, ilustrações ou números para encaixar nas pregas. Podem ser
colocadas também em palitos de sorvete, que serão encaixados nas pregas do
cartaz.

1.1.3 As transparências e o retroprojetor


As transparências eram confeccionadas com papel vegetal, celuloide,
celofane, vidro ou plástico transparente.
Nela, o professor escrevia, com caneta própria, o conteúdo a ser
explanado, assim como gravuras, desenhos e outros.
Elas serviam para ser colocadas no retroprojetor, que é um aparelho que
projeta na parede o que está na transparência. Por isso, a projeção deve ser feita
numa parede branca, lisa, ou numa tela branca apropriada.
As transparências não devem ser deixadas por muito tempo sobre o
retroprojetor, pois podem ser queimadas pelo calor que sai do aparelho.

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1.1.4 O livro didático
O livro didático é um instrumento de apoio que auxilia o professor na
organização do seu trabalho pedagógico, mas não deve ser considerado o seu
plano de trabalho pronto e estruturado (Zóboli, 2004).
Continuando a linha de pensamento de Zóboli (2004), os livros didáticos
devem auxiliar os alunos no avanço dos estudos, tornando-se um elemento de
segurança e sendo uma boa fonte de consulta para estudar e tirar dúvidas sobre
o conteúdo trabalhado em sala de aula.
Zóboli (2004, p. 101) afirma que

Os livros didáticos são valiosas fontes de informações e o uso do livro


didático desperta nos alunos o gosto pela leitura. Por meio do uso do
livro didático em sala de aula, o professor irá desenvolver nos alunos o
hábito de estudar sozinho para se informar e resolver problemas, o que
os levará a adquirir independência.

Antes de adotar um livro didático, é importante o professor analisar e


seguir alguns critérios para a escolha, principalmente verificando se o livro
permite a integração das áreas curriculares.
Iremos, no próximo bloco, detalhar mais alguns aspectos sobre o livro
didático.

TEMA 2 – O LIVRO DIDÁTICO – EVOLUÇÃO

O livro didático sofreu, ao longo do tempo, mudanças quanto ao seu


aspecto visual.
No início, os livros eram exclusivos para os professores, que o utilizavam
para ditar ou transcrever trechos para que os alunos copiassem.
A partir da metade do século XIX, esse cenário começa a tomar formas
diferentes, quando foi percebido que os livros deveriam chegar às mãos dos
alunos como ferramenta no processo de aprendizagem (Santos, 2017). Com
isso, os alunos tornaram-se consumidores dos livros didáticos, fazendo com que
autores e editores modificassem e adaptassem as escritas de modo de expor o
conteúdo com o intuito de atender o novo público-alvo.
Uma das primeiras modificações foi a inserção de ilustrações. Logo em
seguida, houve a criação de novos gêneros didáticos, como livros de lições e
livros de leitura.

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Nos anos de 1960, os livros eram descartáveis. Por esse motivo, a
qualidade não era muito boa. Com o PNLD (Programa Nacional do Livro
Didático) de 1985, “que os livros descartáveis foram substituídos por duráveis”.
(Santos, 2017, p. 20)
A explicação que o mesmo autor dá é que

Inicialmente, os livros descartáveis eram produzidos para serem


utilizados durante o período letivo de um ano e para isso eram
utilizados papel de péssima qualidade, pois como o livro era
descartável a ideia era diminuir ao máximo os custos de produção e
aumentar as triagens. (Santos, 2017, p. 20)

No final de 1980, as imagens dos livros didáticos deixaram de ser


consideradas “enfeites” e começaram apresentar articulação com o conteúdo
dos textos.
Já na década de 1990, o livro didático ocupava um lugar de importância
no processo escolar, e o governo brasileiro era o maior comprador desse
material: “Iniciou um processo de avaliação que ocasionou diversas melhorias
nas coleções didáticas de todas as áreas disciplinares, incluindo o apuro da
qualidade gráfica e de impressão, e da linguagem e conteúdo utilizados pelos
autores”. (Rodrigues, 2009, p. 34)
Para o ensino fundamental, as tiragens eram em quatro cores. Para o
ensino médio, eram impressos em apenas duas cores.
Século XXI: os livros didáticos são impressos em alta qualidade, não são
mais descartáveis e a sua utilização dura mais que um ano letivo. Atualmente
eles são analisados e avaliados sob dois aspectos: a qualidade visual e a
qualidade física.

TEMA 3 – MATERIAL DIDÁTICO E AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Para não comprometer a qualidade do ensino ou prejudicar a


aprendizagem dos alunos, o material didático deve ser trabalhado em conjunto
com a corrente pedagógica presente no cenário educacional do momento.
(Santos, 2017)
Para que não haja dúvidas quanto ao uso do material didático adequado
nas aulas, vamos percorrer sobre as características de cada tendência
pedagógica.

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3.1 Pedagogia tradicional

Caracteriza-se pelo professor ser o centro do processo educativo. “É ele


que detém todo o conhecimento e o aluno é considerado como aquele que nada
sabe, tendo seu aprendizado vinculado diretamente a fala do professor”.
(Santos, 2017, p. 22)
As atividades são feitas individualmente, sendo a reprodução do conteúdo
explanada pelo professor, que, nesse plenário, é mero transmissor do
conhecimento, o detentor do saber: “Essa tendência pedagógica privilegia a
memorização dos conteúdos por parte dos alunos, pois entende que o aluno
deve treinar a mente” (Santos, 2017, p. 23)
Materiais didáticos utilizados:

 quadro-negro e giz branco, para auxiliar na aula expositiva. Os alunos


devem decorar definições e todo o conteúdo da mesma forma e ritmo
como o professor expôs. “Como se sabe, o adulto, na concepção
tradicional, é considerado como um homem acabado, ‘pronto’ e o aluno
‘um adulto em miniatura’, que precisa ser atualizado” (Mizukami, 1986, p.
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 Livro didático para o professor usar de apoio e os alunos decorarem os
conteúdos que foram repassados igual ao livro, mesmas palavras e
mesmos termos.

3.2 Pedagogia da Escola Nova

A Escola Nova surgiu para contrapor-se à pedagogia tradicional. Portanto,


essa corrente buscou compreender o aluno com suas especificidades e
diferenças dentro de uma sala de aula. Luckesi (1994, p. 58) considera que
“trata-se de ‘aprender a aprender’, ou seja, é mais importante o processo de
aquisição do saber do que o saber propriamente dito”. O mesmo autor continua
dizendo que se trata de “um ensino centrado no aluno e no grupo” (Luckesi,
1994). Isso significa que essa concepção educacional se caracteriza por um
processo interno e não externo, baseando-se nas necessidades e nos interesses
individuais de cada aluno para adaptação ao meio.
Os materiais didáticos sofreram mudanças radicais, devendo ser
atrativos, estimulando a curiosidade e o interesse do aluno, aguçando os

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sentidos para facilitar a aprendizagem e tornar as aulas mais dinâmicas,
participativas e comunicativas.
Esse foi o ponto de partida para serem introduzidas novas estratégias
pedagógicas, materiais alternativos como: jogos, filmes e brincadeiras (Santos,
2017).

3.3 Pedagogia tecnicista

Essa abordagem traz como foco principal o conteúdo. Nem o professor e


nem o aluno são os principais, tendo assim, um ponto de vista diferente das
anteriores.
Segundo Silva, Giordani e Menotti. (2009, p.10), essa tendência “propõe
uma pedagogia embasada na racionalidade, técnica, eficiência e eficácia da
produtividade”, e defende a ideia de uma escola bem equipada, com bons
laboratórios, jogos em sala de aula e outras atividades lúdicas.

Nesse sentido, o professor torna-se neutro diante dos conteúdos e a


aprendizagem do aluno deixa de ser preocupação, de maneira que a
educação se centra na capacidade de desenvolvimento econômico do
país por meio da qualificação da mão – de – obra. (Libâneo, 2006,
citado por Silva; Giordani; Menotti, 2009, p. 10)

Os materiais didáticos nessa abordagem ficam em segundo plano, pois o


que importa não é saber utilizar materiais, mas sim prepará-los. O foco dessa
corrente é a tecnologia: equipamentos, laboratórios e outros. O professor volta a
ser o transmissor dos conteúdos desses materiais para os alunos.

3.4 Pedagogia crítico-social dos conteúdos

Essa abordagem surge entre os anos 1970 e 1980, trazendo como


principal elemento o conteúdo. Mizukami (1986, p. 37) afirma que o conteúdo
deve ser confrontado “com a realidade social, bem como às relações
interpessoais e ao crescimento que delas resulta, centrado no desenvolvimento
da personalidade do indivíduo, em seus processos de construção e organização
pessoal da realidade”.
A escola aqui é parte integrante do meio social e deve ter como objetivo,
assegurar um ensino de qualidade, voltado aos interesses populares, habilitando
o aluno para enfrentar e construir uma sociedade justa. .

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Os materiais didáticos tornam-se instrumentos facilitadores do processo
de aprendizagem e devem estar conectados à realidade sociocultural da qual os
alunos fazem parte.

TEMA 4 – MATERIAIS DIDÁTICOS E A SALA DE AULA

No início desta aula já foram mencionados alguns materiais didáticos que


fizeram parte de uma sala de aula. De alguns vocês só ouviram falar, mas, na
verdade, não conhecem. Vamos agora apresentar a evolução dos materiais,
dando continuidade aos que já foram mencionados. Possivelmente alguns
continuarão sendo desconhecidos, ou já se ouviu falar deles ou se conhece, mas
com pouca familiaridade, não sabendo como manipulá-los de forma correta.
Naturalmente que a análise, a escolha ou mesmo a criação dos materiais
didáticos expressam muitas das representações que os docentes têm sobre o
que seja educação, ensino e aprendizagem, sempre tendo em vista os valores
que pretendem ensinar para seus alunos.
Comentou-se anteriormente sobre o mimeógrafo. O mimeógrafo é mais
um recurso didático, tendo como uma das principais características ser um dos
primeiros sistemas de cópias em grande escala utilizados para fins educacionais.
Foi muito utilizado durante o século XX.

Esse equipamento exigia grande mão de obra, pois era necessário


produzir uma matriz, que serviria de base para as cópias, era preciso
também uma mesa de apoio, um papel próprio, chamado estêncil,
álcool, papel sulfite ou similar, scanner do texto e ainda um molha
dedo, além de tudo isso, as cópias eram feitas uma por vez. Em
contrapartida a grande mão de obra, esse equipamento era de baixo
custo e não necessitava de energia elétrica. (Santos, 2017, p. 31)

Você já ouviu falar em álbum seriado? Trata-se de outro material didático


que pode ser usado em sala de aula atendendo desde a educação infantil até o
ensino médio, de acordo com a necessidade e os objetivos traçados.

Surge com o objetivo de transmitir aos alunos o conteúdo de uma forma


mais expositiva, por meio de figuras, desenhos e textos, expondo a
matéria para toda a turma através de um objeto visível a todos,
transmitindo os principais pontos do conteúdo trabalhado de maneira
progressiva e dinâmica (Freitas, 2007)

Continuando a falar de projeções, temos o projetor de slides, recurso que


auxilia o professor a projetar imagens. Mas, para projetá-las, é necessário um
trabalho anterior de preparo. Inicialmente, o professor deve “fotografar a figura

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ou imagem em filmes e fazer e fazer o negativo, para depois emoldurá-lo”.
(Freitas, 2007)
“Esse material didático também possui um potencial atrativo para os
alunos, pois auxilia na compreensão e estimula a concentração dos alunos”.
(Santos, 2017, p. 33) Esse recurso, hoje em dia, não é mais tão utilizado, ou não
é mais utilizado.
Atualmente, com a evolução da tecnologia, temos presentes em muitas
salas de aula a TV, o DVD, o computador e o projetor multimídia (datashow),
tornando a aula mais dinâmica, explorando o uso de imagens, textos, vídeos e
sons. Em algumas escolas, encontram-se os mais recentes materiais didáticos
em sala de aula, como a lousa digital e os softwares educativos que surgiram
com o objetivo de auxiliar o professor, mas não de substituí-lo.
Falaremos mais à frente sobre as tecnologias na educação.
Podemos ainda destacar os materiais didáticos manipuláveis utilizados no
processo de construção do conhecimento, os quais podem ser usados em
diferentes disciplinas. Como exemplo, para auxiliar no ensino da matemática,
temos: blocos lógicos, blocos algébricos, geoplano, tangram, material dourado,
ábaco e outros. Em língua portuguesa: alfabeto móvel, jogos de memória de
palavras, dominó de letras e assim por adiante.
Percebe-se, nesse rápido panorama, que foram várias as transformações
pelas quais os materiais didáticos passaram ao longo dos anos, “do quadro
negro à lousa digital, do projetor de slides para o datashow, do mimeógrafo para
as impressoras e máquinas copiadoras, e a cada dia, o mercado apresenta
outras inovações”. (Freitas, 2007). O único recurso apresentado, que venceu a
barreira da evolução e do tempo, foi o quadro-negro, muito presente e utilizado
nas sala de aula, com uma pequena variação: a cor. Temos o quadro-negro e o
quadro branco, mas a sua essência continua a mesma.

TEMA 5 – MATERIAIS DIDÁTICOS – PARA QUÊ?

Escolher os materiais didáticos a serem utilizados em uma aula,


pressupõe uma visão mais ampla do professor em relação ao seu público. E
para isso, deve ter determinada visão de pessoa, de mundo e de futuro.
Palavras, textos utilizados, gravuras refletem a ideologia de seu autor.
“O que é ideologia? É o óculos que temos atrás dos olhos. Ao encarar a
realidade, não vejo meus próprios óculos, mas são eles que me permitem
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enxergá-la. A ideologia é esse conjunto de ideias incutidas em nossa cabeça e
que fundamentam nossos valores e motivam nossas atitudes”. (Frei Betto, 2016)
Então, expressões, conceitos ou até mesmo uma simples palavra ou ilustração,
têm uma conotação ideológica. Isso significa que a leitura de um texto é tanto
mais bem compreendida quanto mais se insere o texto no contexto do autor e do
leitor. Por isso, ao escolher um material didático, escolhe-se também uma visão
de mundo.
Atualmente, não se concebe que o material didático não leve em
consideração temas pertinentes ao contexto atual do planeta, da nação, enfim,
de mundo. Nessa visão, devem estar implícitos valores em que o professor
acredita e que idealiza como ser humano.
O objetivo maior do material didático é dar apoio à ação docente. De
acordo com Justino (2001, p. 116), “Para sua elaboração e utilização, é preciso
considerar a aprendizagem significativa, pois favorece o estabelecimento de
relações com as questões cotidianas do aprendiz”.
Até agora, comentou-se de materiais didáticos prontos, como
instrumentos para o auxílio do professor. Mas existem também os
confeccionados com sucatas:

Sucata é todo material considerado inútil, que pode ser reciclado e


reaproveitado e transformado em objetos para serem utilizados com
diferentes finalidades: artesanais, decorativas, recreativas,
educacionais, etc. (Justino, 2011, p. 117)

A utilização de sucatas nas escolas traz resultados positivos quando


transformadas em material didático. O aluno, ao participar da confecção do
material, motiva-se, cria, trazendo o interesse para a atividade e o conteúdo
proposto.
Justino (2011, p. 117) acrescenta que,

Ao utilizar as sucatas para confecção de materiais, o professor


proporciona aos alunos o desenvolvimento de estruturas cognitivas
importantes para que se desenvolva a autonomia, adquirindo as
potencialidades para que possa construir seu próprio conhecimento.

A construção e a confecção de materiais didáticos com a manipulação de


sucatas estimulam e desenvolvem a percepção visual e tátil, coordenação
motora, além da linguagem oral.

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Como exemplo de sucatas para a criação de materiais educativos,
podem-se utilizar garrafas pet; tampas plásticas, caixa de leite, papelão, revistas,
jornais e outros.
Os materiais didáticos confeccionados com sucatas atendem a dois
quesitos importantes: primeiro, o baixo custo de matéria-prima; segundo,
desenvolve a consciência ecológica dos alunos, atendendo a uma necessidade
da sociedade atual.
E o uso de fantoches com material reciclável? O que acham, fazer um
teatro de fantoches?
Esse pode ser confeccionado com uma caixa de papelão, enfeitado por
materiais reciclados e retalhos de tecidos ou um pedaço de tecido para ser a
cortina. Os fantoches podem ser confeccionados com retalhos de tecidos e
aviamentos: botões, fitas, lã e outros.
E a massa de modelar? Apesar de um pouco dispendiosa, pode ser
utilizada com as crianças! Com esse material, é possível fazer diferentes
atividades e trabalhar diferentes conteúdos, como a criação de representação de
frutas, animais, bonecos, objetos... Depende do objetivo que se quer alcançar.

Saiba mais

Modo de fazer massa de modelar:

 Quatro xícaras de farinha de trigo;


 Uma xícara de sal;
 Uma xícara e meia de água e
 Uma colher de óleo.

Os ingredientes devem ser bem misturados, amassados com as mãos.


Para colorir, utilize corante comestível, o mesmo usado para confeitar bolo.
Amassa não precisa ir ao fogo.

As maquetes também são um material didático que pode ser utilizado nas
diversas disciplinas. Com esse material, o aluno tem a oportunidade de visualizar
tridimensionalmente o espaço representado.
Outro recurso é o varal didático! Trata-se de um material que consiste em
passar fios no quadro negro, parede ou outro local apropriado. Os fios servirão
de apoio para a exposição de trabalhos em cartolina ou em papel sulfite. É

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possível trabalhar a sequência lógica. As folhas podem ser penduradas no fio
por dobraduras, ganchos ou grampos de roupa.
Todo professor deve planejar sua aula, com o objetivo de saber sua meta
e se organizar com os materiais que pretende utilizar. O uso dos materiais motiva
e estimula os alunos, auxiliando o professor, e contribui para o desenvolvimento
da reflexão dos conteúdos propostos.

NA PRÁTICA

Como colocar esses materiais em prática?


Ao planejar uma aula, além dos objetivos (o que se quer alcançar com
aquela aula), temos as metodologias (como fazer) e as estratégias (o que
utilizar), ou seja, qual ou quais materiais ou recursos didáticos vão ser utilizados?
Como o próprio nome diz (material didático), o importante é propor o
entendimento dos conteúdos, de forma clara e objetiva, para que ocorra a
aprendizagem.
Como Libâneo (2008, p. 52) coloca,

A didática é, pois, uma das disciplinas da Pedagogia que estuda o


processo de ensino através dos seus componentes – os conteúdos
escolares, o ensino e a aprendizagem – para, com o embasamento
numa teoria da educação, formular diretrizes orientadoras da atividade
profissional dos professores.

Esse autor acrescenta ainda que “um meio de trabalho do qual os


professores se servem para dirigir a atividade de ensino, cujo resultado é a
aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos” (Libâneo, 2008, p. 52).
Como trabalhar ou em que conteúdo trabalhar com o flanelógrafo?
Na educação infantil e em séries iniciais, é possível trabalhar com
sequenciação de quadrinhos, recortar histórias, contar sua própria história com
gravuras prontas ou com os desenhos das crianças (oralidade), fazer ditado
ilustrado. Na matemática, pode-se empregar a sequência de numerais,
relacionar números com quantidades, trabalhar com conjuntos e outras
atividades.
O que se pode trabalhar com cartazes e cartazes de pregas?
Os cartazes podem servir para campanhas, ilustrações de várias
disciplinas, para chamar atenção a um determinado assunto, por exemplo, sobre
reciclagem de lixo, utilização da lixeira, separação dos lixos, germinação,
planetas, linha histórica do tempo e outros.

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O cartaz de pregas é muito utilizado para trabalhar o valor posicional de
um número: unidade, dezena, centena.
Já a transparência, o retroprojetor, o projetor de slides, os slides e o álbum
seriado atualmente estão sendo substituídos por materiais tecnológicos mais
atuais.
O livro didático continua sendo o carro-chefe nas escolas, nas mais
diversas disciplinas. Os blocos lógicos, o material dourado, o ábaco e outros são
atuais e muito usados nas escolas para fins matemáticos.

Saiba mais

Um livro que traz muitas atividades com blocos lógicos, que podem ser
trabalhados desde a Educação Infantil ao 5º ano é o da Úrsula Simons:
SIMONS, U. M. Blocos lógicos: 150 exercícios para flexibilizar o
raciocínio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

Agora, mãos à obra para motivar os alunos e facilitar o trabalho do


professor(a)!

FINALIZANDO

Nesta aula, percorreu-se uma linha de tempo, trazendo à tona a história e


o uso dos materiais didáticos.
Primeiramente, você deve ter percebido que materiais e recursos
didáticos são basicamente a mesma coisa: servem para auxiliar o professor e o
aluno no processo de ensino e aprendizagem.
Após, fazendo uma retrospectiva, passamos por materiais didáticos e
recursos utilizados no século passado. Descobriu-se, por exemplo, que o livro
didático foi o primeiro material criado e tinha o objetivo de apoiar apenas o
professor, mas houve uma grande evolução, e esse material sofreu muitas
transformações, inclusive em seu visual e, até hoje, é o material didático mais
utilizado em suas diferentes formas: o livro propriamente, apostilas, cadernos
com colagem e assim por diante.
Foram retomadas, ainda que rapidamente, as tendências pedagógicas e
o respectivo material usado conforme sua filosofia ou proposta educacional.

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Retomou-se e foi dado continuidade ao estudo da evolução dos materiais
didáticos ao longo do tempo, deparando-se com alguns utilizados muito
atualmente, principalmente os tecnológicos.
Finalizamos com dicas e reflexões a respeito de materiais didáticos
manipuláveis e que podem ser confeccionados com o auxílio de sucatas.

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REFERÊNCIAS

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<https://www.hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/colunas/frei-betto-
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ZÓBOLI, G. Práticas de ensino: subsídios para a atividade docente. São Paulo:


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