Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Teoria Bioecológica do
Desenvolvimento Humano e o
Abstract
alguma teoria do desenvolvimen-
The process of inclusion in to the school system of those children buscará suporte na Teoria Bioeco-
identified as bearers of some special need has been emphasized thoroughly lógica do Desenvolvimento Huma-
in the educational public policies. The objective of this essay is to discuss no, proposta por Bronfenbrenner,
the Bioecological Theory of the Human Development, proposed by para fazer algumas reflexões acer-
Bronfenbrenner, and to reflect on the context of inclusive education. The ca do contexto da educação inclu-
following topics are approached: the elements of the theory, the relationship siva.
between theory, the context of inclusive education and the teacher as a A opção pela teoria propos-
mediator in the process of inclusion in schools. As final remarks the text ta por Bronfenbrenner como su-
emphasizes the potencial that the Bioecological Theory of Human porte teórico para estas reflexões
Development has to deal with issues regarding public policies in the process justifica-se pelo potencial que a
1
Professor do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
periments by nature and design (Eco- os papéis. A interação desses ele- O exossistema envolve a ligação e
logia do Desenvolvimento Humano: mentos é que qualifica o potenci- os processos que têm lugar entre
experimentos naturais e por delinea- al do microssistema para instigar dois ambientes ou mais, e no míni-
em uma interação direta com a pes- contêm a pessoa em desenvolvi- ner revisou suas definições originais
ter e à personalidade. Dessa forma tos pessoais que influenciam os contexto da família, Bronfenbren-
não ficava explícito como identifi- processos proximais foi denomi- ner (1986) identificou claramente
car competências de outros domí- nado de recursos. Assim como os duas abordagens. Uma que consi-
nios que não o psicossocial. Essa atributos relativos às disposições derava o tempo apenas em relação
lacuna foi preenchida quando ele foram identificados como gerati- à pessoa objeto da investigação (um
propôs o Paradigma Bioecológico vos ou disruptivos, os atributos exemplo disso são as pesquisas que
(1995). Esse Paradigma Bioecoló- foram identificados como positi- comparavam diferenças entre ida-
gico foi renomeado como Modelo vos ou negativos. Os recursos as- des cronológicas e/ou tempo de ex-
Bioecológico, em 1998, quando sociados com competência são periência), e a outra, que enfatiza-
com Morris, The Ecology of Develo- conhecimento, destreza e as ex- po como uma variável da interação
pmental Processes (A Ecologia dos periências que a pessoa em desen- pessoa e contexto.
Nesse novo modelo, os atributos vida. Os recursos associados às Para distinguir tais investigações da-
foram subdivididos em três tipos: disfunções limitam ou rompem a queles estudos longitudinais mais
construtos do Modelo Bioecoló- ça, no padrão, nas bases do relacio- algumas indagações, para as
gico, podemos perceber que ape- namento, que mantêm o grupo quais apresentaremos algumas
unido lhe dão um caráter distinto. possíveis respostas. A primeira
nas para o processo não há uma
O status social e a estrutura são,
identificação específica de ele- questão diz respeito à dicotomia
naturalmente, interdependentes,
mentos constitutivos. Pa r a o entre a legislação e a realidade da
mas é preciso que seja dada uma
construto pessoa, esses elemen- escola onde ocorrerá o processo
atenção a essas variáveis para que o
tos são identificados como dis- de inclusão. Toda e qualquer lei
processo do desenvolvimento soci-
Para o contexto, os elementos são dido. (p. 363). lítica no Congresso Nacional, nas
rio de Educação e assim sucessi- todos os envolvidos com as crian- derá transformar-se, também, numa
vamente. Esses exemplos repre- ças criem expectativas positivas demanda negativa. O aluno que
sentam microssistemas onde são em relação a si próprios, podendo possuir uma demanda negativa será
discutidos os decretos e as dire- colaborar de forma mais significa- rejeitado ou excluído das atividades
trizes que norteiam a política na- tiva no processo da inclusão. em grupo. A mediação do profes-
onde a criança vivenciará o pro- Dentre todos os contextos gerativos poderão não estar associ-
vinculados ao processo da inclu- ados diretamente à aprendizagem
cesso da inclusão. Essas conside-
rações reforçam a idéia de que as são, o ambiente da aula é aquele de habilidades específicas. Talvez,
políticas públicas dependem dos onde o professor tem a sua ação o primeiro recurso que o professor
mais efetiva. Ao descrever os pro- deverá desenvolver em seus alunos
valores que permeiam a cultura
contextos onde elas serão imple- (1995) tomou como base os con- em atividades de grupo. Durante
ceitos de Vygotski para as três zo- essas atividades, o professor deve-
mentadas. A inclusão de uma cri-
ança na escola não diz respeito nas de desenvolvimento: real, pro- rá mediar as relações entre todos
apenas a ela e sua família, mas a ximal e potencial. Se entendermos os alunos, no sentido de assegurar
que o aluno com necessidades edu- que haja entre eles reciprocidade,
todas as crianças que conviverão
com ela no contexto da escola e cacionais especiais desenvolve-se equilíbrio de poder e afetividade.
suas respectivas famílias. de uma zona real para uma zona Em relação ao segundo
política inerente à escola inclusiva o professor será o principal medi- to às diferentes formas de comuni-
deve começar pelas relações inter- ador nesse processo. No entanto, cação, pode-se dizer que essa limi-
pessoais entre as crianças e o pro- para mediar o processo de desen- tação não inclui apenas os alunos es-
pela classe, com ênfase na recipro- tar ciente das principais dificulda- re a comunicação não apenas nas re-
cidade, equilíbrio de poder e afeti- des do aluno com necessidades lações interpessoais que se estabe-
importante enfatizar as disposições zes Nacionais para a Educação bém como uma das forças do me-
para o engajamento e a permanên- Especial (BRASIL, 2003) identifi- sossistema e do exossistema. Nesse
cam três grupos de dificuldades que caso, o professor deverá ter conhe-
cia em atividades conjuntas, gra-
dativamente mais complexas, com esses alunos apresentam: (a) difi- cimento do comportamento do alu-
a orientação de professor ou pro- culdades acentuadas de aprendiza- no com deficiência em outros am-
em níveis inferiores ao de sua zona textos em que ela adquire novas of Human Development: Experiments by
real de desenvolvimento. Nesse habilidades quanto aqueles em que Nature and Design.
po, atribuir-lhe tarefas diferenciadas avaliada por seus recursos que, por pmental Psychology, v. 32, n. 6. pp. 723-
que sejam instigadoras ao seu de- sua vez, facilitam ou dificultam a 742, 1986.
isso poderá dificultar o seu relacio- competência da criança com neces- 1992.
namento com os demais colegas. sidade educativa especial para uma BRONFENBRENNER, Urie. The Bioeco-
fortalecimento dos laços sociais é uma força que tanto pode ser ge-
ning Lives in Context: perspectives on
entre todos os alunos. Essas ativi- radora quanto disruptiva, e poderá the ecology of human development,
dades deverão enfatizar mais os determinar a significância que a cri- Washington,DC: American Psychologi-
tância de que esses contextos ofe- Referências ta Maria: Casa Editorial, 1995
reçam aos participantes a oportu- KREBS, Ruy. J., COPETTI, Fernando. &
Bibliográficas
nidade tanto de se engajarem com BELTRAME, Thais S. Uma Releitura
de observação. Para que essa tran- cação básica. 3ª Edição. Brasília: MEC/ ção Infantil. Santa Maria,RS: Kinesis,
sição se torne menos difícil, é im- SEESP, 2002. pp. 17-40, 1997.