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História do Teatro - Cronologia

É comum haver divergências entre as enciclopédias a respeito da origem do teatro.


Entretanto, uma coisa se sabe: esta forma de arte surgiu na Grécia Antiga, no século VI
a.C. A maioria dos historiadores concorda que o teatro surgiu como uma evolução dos
rituais e cultos festivos a Dionísio, deus do vinho e da fertilidade. Estas festividades
ocorriam todo ano no período da primavera e eram muito intensas. Durante as procissões,
havia recitais, danças e música.

Foi por meio de um homem  chamado Téspis que o teatro surgiu. Em uma destas
celebrações, o mesmo resolveu usar uma máscara humana enfeitada com cachos de uva e
passou a afirmar que era o próprio deus Dionísio. Era clara a intenção de Téspis em
apenas representar o deus, e não em se passar por ele, o que não faria nenhum sentido. O
importante foi sua ousadia em representar um deus, algo inimaginável até então. Téspis é
considerado o primeiro ator da história do teatro ocidental.

Com o passar do tempo, as celebrações ao deus Dionísio ficaram cada vez mais
elaboradas. Desta forma, nestes rituais, os gregos começaram a representar cenas da vida
do próprio deus. Nesta época, todos os papéis eram interpretados por homens, já que não
era permitida a participação de mulheres nas representações. Até então, todas as
encenações ocorriam em grandes círculos. Com o amadurecimento do teatro na Grécia,
foram construídos enormes prédios teatrais, com uma boa infraestrutura para o
desenvolvimento da arte. Aos poucos, o teatro foi se consolidando, até se transformar em
um dos aspectos mais importantes da cultura grega.

Cronologia
534 a.C. – Instituição do teatro, na Grécia, pelo tirano Pisístrato, que cria concursos trágicos
em Atenas. Três autores de tragédias ganham importância. Ésquilo, considerado o
verdadeiro criador da tragédia, das quais a primeira de que se tem notícia é Os Persas.
Sófocles, autor de Édipo Rei, e Eurípedes, de As Troianas. Na comédia destaca-se
Aristófanes, que escreve Lisístrata.

364 a.C. – Tem início, em Roma, os ludi scaenici –jogos cênicos. Onde antes havia apenas
espetáculos de circo (corridas de cavalo e lutas) passam a se apresentar num palco
(scaena) músicos e dançarinos.

Séc.III a.C.-I a.C. – Introdução das representações teatrais em Roma (240 a.C.), com a
encenação de tragédias e comédias gregas traduzidas para o latim. Logo a comédia se
destaca. Baseadas no erro e no engano, ela é uma cópia da comédia nova do teatro grego
(dos séculos IV a.C. e III a.C.). Destacam-se Plauto e Terêncio nas comédias e Sêneca
nas tragédias.

Séculos X-XII – Nascimento do teatro medieval, com os primeiros dramas litúrgicos e as


peças de Hrotsvitha, abadessa alemã que reelabora a dramaturgia clássica para temas
edificantes. Escritos em latim, os dramas litúrgicos dos conventos passam para as igrejas.
A partir do século XII, o teatro vai para a cidade, por iniciativa das confrarias e dos
saltimbancos, que escrevem as peças. Convivem então textos profanos e sacros. O teatro
profano, apresentado nas festas de Carnaval, representa farsas e sotties.

Século XVI – Na Itália surgem as primeiras experiências teatrais em língua nacional. A


comédia passa a apresentar costumes cotidianos. O homem está no centro das
preocupações. Na Espanha, em razão do grande desenvolvimento alcançado pela
literatura e pelo teatro, os séculos XVI e XVII recebem a denominação de Siglo de Oro
(Século de Ouro). Os dois grandes dramaturgos espanhóis do período são Lope de Veja e
Calderón de la Barca, considerado o maior autor dramático espanhol da época.
1508-1509 – As primeiras comédias de Ariosto, La Cassaria e I Suppositi, marcam o
nascimento do teatro erudito. Maquiavel, com A Mandrágora; Aretino, com A Cortesã; e
Ruzzante, com La Moscheta, são ácidos comentaristas de seu tempo.

1540 – Começam a ser construídos, na Itália, os primeiros teatros, com a divisão palco-
platéia como a conhecemos hoje, que utiliza a noção de perspectiva nos cenários.

1545 – Nasce a commedia dell’arte, quando, em Pádua, na Itália, oito homens assinam um
contrato para formar uma companhia de atores. Sua origem estaria nos atos representados
por mascates e charlatães para vender seus remédios e elixires. Os atores apresentam-se
improvisando roteiros preestabelecidos (canevas) ao ar livre ou nas cortes. Em 1762, o
gênero adquire status oficial, quando a trupe de Ricoboni se funde com a Opéra Comique,
em Paris.

1558 – Início do chamado teatro elisabetano inglês durante o reinado de Elisabeth I.


Surgem novas formas dramatúrgicas e cênicas. As primeiras salas de espetáculo são
construídas e consolida-se o teatro profissional. Os autores mais notáveis são Christopher
Marlowe, Ben Jonson e William Shakespeare, considerado o maior poeta dramático de
todos os tempos. Suas peças, tradicionalmente divididas em obras históricas, comédias e
tragédias, fazem não só a crônica de seu país como também descrevem com rara
compreensão da condição humana as relações entre indivíduos e estes com a sociedade.
Essa fase se encerra com o fechamento dos teatros por ordem do Parlamento em 1642.

TEATROS ELISABETANOS – São construídos de madeira, com formato circular ou


poligonal e sem teto. O palco pode ter até três níveis para que várias cenas sejam
representadas simultaneamente. Ele avança até o meio do edifício, de modo que o público
o cerque por três lados e tenha boa visibilidade. Ao fundo, uma cortina modifica o
ambiente. Aos espectadores mais abastados e aos representantes da nobreza são
destinadas as galerias.

Século XVII – Sob proteção oficial, desenvolve-se na França intensa atividade teatral. A
dramaturgia é baseada na verossimilhança e escrita em versos de métrica rigorosa e de
acordo com o gosto da classe alta. Essas exigências cabem à tragédia; para a comédia
elas são mais flexíveis. O teatro de Pierre Corneille, Jean Racine e Molière destaca-se por
sua beleza literária e pelo alcance de sua temática. As comédias de Molière, além de fazer
crítica feroz à burguesia ascendente, retratam com extrema perspicácia as características
humanas.

Século XVIII – Com o declínio da tragédia clássica nasce o drama burguês, que se volta
para o realismo e apela ao patético. Seus temas, contemporâneos, oscilam entre o social e
o familiar. No gênero cômico cresce a "comédia lacrimosa" nascida no século anterior
(1696), com O Último Estratagema do Amor, de Cibber. Na Alemanha floresce, entre 1770
e 1784, o movimento estético e literário denominado Sturm und Drang (Tempestade e
Ímpeto), cujas idéias definem o pré-romantismo, defendendo um estilo livre e individualista,
movido pelo impulso irracionalista, em oposição às normas clássicas. Os autores que se
destacam nesse século são Voltaire, Pierre Marivaux, Beaumarchais, Lessing, Goethe,
Schiller e Kleist.
Século XIX – Alguns autores, com obras bem particulares, já mostram características do
teatro moderno. Georg Büchner faz a articulação entre o romantismo e o realismo social. É
também precursor do expressionismo. Ibsen funda o teatro norueguês e é o autor mais
representado do século XIX e do início do XX. Seu teatro parte da observação da
sociedade e de seus problemas. Strindberg atinge o ponto máximo de seu talento na peça
Senhorita Júlia.

1827 – No prefácio de seu drama histórico Cromwell, Victor Hugo lança um manifesto pela
liberdade do teatro, contra a rigidez da forma clássica, a favor de uma visão histórica e do
emprego do grotesco como categoria estética. Paradoxalmente, o romantismo teatral, que
se desenvolve na Alemanha em reação ao teatro francês, firma-se por meio deste após a
encenação de Hernani, também de Victor Hugo. Com o drama romântico, o enredo passa
ao primeiro plano. O verso não é mais obrigatório e o gênero se caracteriza por situações,
sentimentos, grandes feitos romanescos, adultério e dilemas morais.

A Batalha de Hernani – Durante a temporada da peça Hernani, de Victor Hugo, senhores


de perucas oitocentistas e trajes sóbrios vaiam sem tréguas o espetáculo. Como
defensores da obra estão os jovens "bárbaros shakespearianos", cujos longos cabelos
naturais e coletes de tons fortes contrastam com a elegância então reinante. Às vezes, a
confusão é tanta que os atores não conseguem representar. Esse clima perdura de
fevereiro a junho de 1830. O que está em jogo são duas escolas literárias: o classicismo e
o romantismo. Este último sai fortalecido da batalha.

1831 – Com a montagem de Antony, primeiro drama de tema contemporâneo, Alexandre


Dumas balança Paris. Escreve também peças históricas, das quais a mais conhecida é A
Torre de Nesle. Seu filho, Alexandre Dumas Filho, adapta em 1849 seu romance A Dama
das Camélias para o palco, porém a censura só permite que ele seja representado em
1852. Durante trinta anos, Dumas Filho será o autor mais representado na França.

1887 – A partir das idéias de Émile Zola, que preconiza o teatro que exiba "uma fatia de
vida", André Antoine funda seu Théâtre Libre. Nele, o naturalismo busca reproduzir a
realidade com grande fidelidade. Na encenação de Os Açougueiros, o sangue pinga das
peças de carne. O Théâtre Libre marca também o advento da encenação moderna e da
figura do diretor ou encenador.

1895 – Publicação das reflexões e dos esboços do cenógrafo, encenador e teórico suíço
Adolphe Appia sob o título de Encenação do Drama Wagneriano. A partir de suas
experiências com a cenografia de óperas e da ginástica rítmica de Jacques-Dalcroze,
Appia lança as idéias que norteiam todo o teatro do século XX: recusa da cenografia
ilusionista (telão pintado), uso da luz como expressão dramática, valorização da presença
física do ator no espaço tridimensional, por meio do uso de volumes e planos, escadas e
praticáveis (elementos cenográficos móveis e tridimensionais como plataformas, estrados
etc), em zonas de luz e de sombra.

1898 – Constantin Stanislavski e Nemirovitch-Dantchenko fundam o Teatro de Arte de


Moscou, onde acontecem revoluções cênicas fundamentais. Ator e encenador, Stanislavski
cria um sistema de atuação no qual propõe uma interpretação natural e viva, que escape
aos estereótipos e à mera imitação. Pela primeira vez se recorre ao psiquismo como fonte
criadora. Sua teoria está reunida nos livros A Preparação do Ator e A Construção do
Personagem. Seus ideais cênicos e interpretativos encontram maior expressão na
dramaturgia de Tchecov, o mais perfeito retratista de uma Rússia em transição para um
novo tempo.

Século XX – A figura do encenador detém hegemonia de um teatro até então dominado
pelo dramaturgo, e Stanislavski influencia toda a cena européia. A dramaturgia chama a
atenção em casos como os de Luigi Pirandello ou do Teatro do Absurdo. As montagens
invadem espaços não convencionais, como galpões, fábricas e circos. A iluminação
adquire novas funções, explorada até o limite pela tecnologia. A diversidade é a tônica do
século.

1900 – Edward Gordon Craig torna-se encenador após trabalhar como ator. Encena em
maio de 1900, em Londres, a ópera Dido e Aeneas, de Purcell, revolucionando o uso da
luz, dos cenários e dos figurinos no teatro europeu. Cria a revista The Mask, que circula de
1908 a 1929. Nela publica os dois textos que contêm suas idéias básicas: Os Artistas do
Teatro do Futuro e O Ator e a Supermarionete. Para ele, a cena arquitetônica deve
substituir a pictórica, ou seja, o telão pintado no fundo do palco deve ser abandonado e o
encenador deve recorrer a telas ou biombos articulados, de proporções variáveis, cuja
mutação coincida com as metamorfoses do drama. Craig é, ao lado de Appia, o profeta das
grandes modificações que o teatro e o espaço cênico experimentariam no século XX.

1902 – O ator e encenador Meyerhold, discípulo de Stanislavski, funda a própria


companhia. Afasta-se do realismo e, empreendendo constantes pesquisas espaciais e
corporais – seus atores passam por intensa preparação física, dentro de um método que
ele chamará de biomecânica –, passa pelo simbolismo e recorre a formas cênicas
populares, como teatro de feira, circo, music-hall, cinema e pantomima para conquistar a
desejada teatralidade. Em suas montagens, a linguagem cênica é tão importante quanto a
narrativa. O exemplo mais acabado disso é sua montagem de O Inspetor Geral, de Gogol.

1907 – O austríaco Oskar Kokoschka escreve Assassino a Esperança das Mulheres, peça
considerada, juntamente com A Estrada de Damasco, de Strindberg, e O Despertar da
Primavera e A Caixa de Pandora, de Wedekind, obra precursora do expressionismo. O
drama expressionista desenvolve-se sobretudo na Alemanha, até 1922. Ele se define por
oposição ao naturalismo e usa visões simbólicas e abstratas para expressar a angústia e o
êxtase. A encenação trabalha a deformação no cenário, no jogo de luz e sombra da
iluminação e no corpo do ator, que deve traduzir os sentimentos. O mais famoso
encenador dessa corrente é Leopold Jessner, e dentre os dramaturgos estão Georg Kaiser
e Ernst Toller.

1913 – Abertura do teatro Vieux Colombier, em Paris, por Jacques Copeau. A partir de
contatos com Craig, Dalcroze e Appia, Copeau empreende uma renovação cênica baseada
na valorização do texto e na nudez da cena. Zelando pela preparação do ator, ele cria uma
companhia regida tanto pela estética quanto pela ética, o que leva a uma vida comunitária
que passa por intenso trabalho corporal, de improvisação e estudo de textos. Suas idéias
influenciam por muito tempo o teatro francês, desde o famoso Cartel, constituído por seus
discípulos Gaston Baty, Charles Dullin, Louis Jouvet e Georges Pitöeff, até o Théâtre
National Populaire (TNP), de Jean Vilar.
1916 – Eugene O'Neill, autor norte-americano de origem irlandesa, é encenado pela
primeira vez pelo Provincetown Player (Na Estrada de Cardiff e Sede). Classificado
simultaneamente como um dramaturgo realista, naturalista, expressionista e simbolista,
pelos diversos aspectos de sua obra, O’Neill abre caminho para a expressão lírica dos
homens em luta contra seu destino e se torna o grande clássico do teatro dos Estados
Unidos (EUA). Somente dois autores norte-americanos alcançam tanta repercussão quanto
ele: Tennessee Williams e Arthur Miller.

1920-1921 – O alemão Erwin Piscator funda o teatro proletário para difundir a idéia da luta
de classes, colocando o teatro a serviço do movimento revolucionário. Seguidor de
Meyerhold, paulatinamente modifica a cena até chegar às construções geométricas, em
plataformas, multiplicando os planos de ação e pontuando a representação com projeções
cinematográficas e cartazes. É precursor de Brecht.

1922 – Simultaneamente à estréia em Munique de Tambores na Noite, é publicada Baal,


as duas primeiras peças de Bertolt Brecht. Teórico, poeta, dramaturgo e encenador, Brecht
adere ao marxismo e cria o teatro épico, que se opõe à concepção dramática (aristotélica)
de teatro. A narrativa não é mais linear. O recurso do distanciamento, isto é, do não
envolvimento do ator com o personagem, é usado para a conscientização política. Esse
distanciamento é reforçado pelo uso de cartazes, projeções e canções.

1932 – O primeiro manifesto do Teatro da Crueldade é lançado por Antonin Artaud. Ele
reivindica o uso do corpo, do grito e do encantamento para despertar as "forças
subterrâneas" do homem. Este e seus principais escritos sobre teatro são reunidos, em
1938, em O Teatro e Seu Duplo. Artaud pretende um teatro concebido como ritual, com
perspectiva metafísica. Para ele, o espetáculo precisa ser total e não deve haver a
separação palco-platéia. Apesar de malsucedido em suas tentativas de encenação, em sua
época o teatro de Artaud influencia toda uma geração a partir de 1960. Suas Obras
Completas são publicadas em 1956.

1944 – Tem início a carreira do encenador inglês Peter Brook, com Doutor Fausto, de
Marlowe. Brook monta um repertório que vai de Shakespeare a comédias ligeiras e
trabalha com grandes atores como sir John Gielguld, Laurence Olivier e Paul Scofield. Em
1955 circula pela Europa com Titus Andronicus. Em 1962, sua montagem de O Rei Lear
marca o início do que ele chama de "espaço vazio": ausência de cenário e concentração do
espetáculo no ator.

1947 – Elia Kazan, Cheryl Crawford e Robert Lewis fundam o Actor’s Studio, em Nova York.
Em 1951, Lee Strasberg passa a dirigi-lo, após lecionar durante dois anos. Strasberg aplica
nessa escola seu método inspirado livremente em Stanislavski. Muitos grandes atores
americanos se formam aí: James Dean, Marlon Brando, Paul Newman, Elizabeth Taylor,
Dustin Hoffman, Robert de Niro.

1947 – Giorgio Strehler e Paolo Grassi criam o Piccolo Teatro de Milão, que se torna o mais
importante teatro da Itália. Considerado o encenador do grande espetáculo, Strehler dirige
mais de 200 encenações dramáticas e mais de 50 líricas. Sua montagem mais marcante é
Arlequim, Servidor de Dois Amos, de Goldoni. Durante mais de 40 anos, Arlequim passa
por seis versões, a última em 1987.

1950 – Estréia de A Cantora Careca, de Eugène Ionesco, considerada a peça inaugural do


teatro do absurdo, cuja origem está no existencialismo e no mal-estar do pós-guerra. Os
personagens do teatro do absurdo são seres desenraizados e imóveis, representantes de
uma humanidade em escombros. Além de Ionesco, são enquadrados no movimento
Samuel Beckett, considerado um dos maiores dramaturgos do século XX, Arthur Adamov,
Jean Genet, Harold Pinter, Edward Albee e Arrabal.

1958 – O Living Theatre, fundado em 1947 por Judith Malina e Julian Beck, torna-se o
centro da vanguarda cultural nova-iorquina. Um dos mais importantes grupos ligados à
criação coletiva, faz uma série de turnês pela Europa a partir de 1961. O grupo, que se
inspira em Artaud e vive em comunidade, submete-se a intenso treinamento físico. Nos
espetáculos não há cenários nem figurinos e os atores criam um ritual de iniciação que
deve envolver o espectador. O Living é o mais legítimo representante da contracultura no
teatro e seus espetáculos mais importantes são: The Connection (1959), de J. Gelber, The
Brig (1963), Frankenstein (1968), baseado em Mary Shelley, Antígona (1967), adaptado de
Brecht, e Paradise Now (1968). Em 1970, o grupo encerra sua carreira, mas seus líderes
continuam apresentando espetáculos em todo o mundo.

1962 – Fundação do Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski, que, em 1965, passa a ser,
oficialmente, o Instituto de Pesquisa para a Interpretação do Ator, em Wróclaw, Polônia.
Suas pesquisas enxergam o ator como foco criativo e derivam para o teatro pobre, no qual
o que interessa é uma nova relação entre ator e espectador que crie uma experiência
compartilhada. Das montagens vale citar Caim e Doutor Fausto (1960), Akropolis (1962), O
Príncipe Constante (1965 e 1969) e Apocalypsis cum Figuris (1968-1969). Os atores fazem
um treinamento que visa não torná-los hábeis mas sim livrá-los de estereótipos. Com base
nisso, o ator elabora seu próprio repertório de signos, que Grotowski denomina "partitura".
Nos anos 70 faz experiências de "cultura ativa", em que o ator não mais se distingue do
espectador e a noção de processo substitui a de representação.

1964 – Eugenio Barba, diretor italiano discípulo de Grotowski, cria o Odin Teatrat, em Oslo.
Em 1966, se transfere para Holstebro, na Dinamarca. Além da criação de espetáculos,
desenvolve intensa pesquisa sobre a arte do ator, a pedagogia e a comunicação teatrais. O
trabalho dá grande ênfase ao treinamento físico, que varia dos exercícios de Grotowski a
técnicas orientais e improvisação.

1966 – Peter Brook monta Marat-Sade, de Peter Weiss. Neste mesmo ano, na linha do
teatro-documentário, realiza US, sobre a Guerra do Vietnã. A partir dessa época, seu
trabalho se centra no corpo, na voz do ator e na improvisação.

1969 – Estréia The Life and Times of Sigmund Freud, de Robert (Bob) Wilson, primeira
encenação de porte do diretor. Bob Wilson é criador de uma linguagem teatral inédita, feita
de imagens ou visões nas quais as palavras se tornam massa sonora. Influenciado pelo
trabalho de um jovem surdo-mudo, Raymond Andrews, monta o espetáculo O Olhar do
Surdo (1971). Em 1972, no Festival de Shiraz, Irã, apresenta Ka Mountain Gardenia
Terrace, nas montanhas, ao ar livre. O espetáculo, que tem a duração de uma semana,
conta com a participação do jovem autista Christopher Knowles. Em 1974 monta Uma
Carta para a Rainha Vitória.

CRIAÇÃO COLETIVA – Nos anos 60, trupes de jovens atores põem em questão o modo
de produção até então utilizado e revêem a distribuição de tarefas e responsabilidades
propondo a criação coletiva do espetáculo teatral. As expressões maiores desse processo
são o Living Theatre e o Théâtre du Soleil. Também o discurso é refeito, passando a
expressar o universo e os anseios desses artistas, que refletem as grandes mudanças
pelas quais o mundo passa. Essa é a época da criação da pílula anticoncepcional, da
revolução sexual, dos movimentos de minorias. Politicamente, a Guerra Fria divide os
países em dois blocos antagônicos.

1970 – Estréia 1789, marco da criação coletiva do Théâtre du Soleil, grupo criado em 1964
e dirigido pela francesa Ariane Mnouchkine. As primeiras montagens do grupo são Os
Pequenos Burgueses (1964), de Gorki, Capitaine Fracasse (1965), A Cozinha (1967), de A.
Wesker, Sonhos de uma Noite de Verão (1968) e Les Clowns (1969), fase em que
empreende pesquisa na linha do teatro popular. Após a filmagem de Molière (1976-1977),
o grupo passa por uma crise e abandona a criação coletiva. Mnouchkine assume o controle
dos espetáculos.

1970 – Peter Brook monta seu último espetáculo na Inglaterra: Sonho de uma Noite de
Verão, com técnicas circenses e da Ópera de Pequim. Nesse mesmo ano se instala em
Paris, fundando o Centro Internacional de Pesquisas Teatrais (Cirt). Em 1974 inaugura o
teatro Bouffes du Nord, em Paris, antigo galpão que passa a sediar o Cirt. Brook monta aí
os antológicos Timon de Atenas (1974), Os Iks (1975), Ubu aux Bouffes (1977), A
Conferência dos Pássaros (1979).

1970 – Peter Stein e seu grupo assumem, a convite do governo de Berlim Ocidental, o
teatro Schaubühne, em que o coletivo chega à gestão da casa de espetáculos. Todos os
colaboradores tomam todas as decisões sobre as questões administrativas e artísticas.
Das assembléias participam do diretor ao mais simples técnico. Stein se demite do cargo
de diretor artístico do Schaubühne em 1986, mas sempre retorna ao teatro como diretor
convidado. Suas principais montagens nesse teatro são: A Mãe (1970), de Brecht-Gorki;
Peer Gynt (1971), de Ibsen; Os Veranistas (1974), de Gorki; Como Quiserdes (1977), de
Shakespeare; Trilogia do Reencontro (1978), de Stein/Botho Strauss; Os Negros (1984), de
Genet; Oréstia (1980), de Ésquilo; Fedra (1987); e Roberto Zucco (1990), de Koltès.

1970-1979 – O grupo de Eugenio Barba se desloca bastante, apresentando seus


espetáculos em diferentes países. Troca experiências com outras culturas, como pequenas
aldeias européias e tribos indígenas da América do Sul. Esse trabalho de teatro
antropológico leva à fundação da Escola Internacional de Antropologia Teatral (Ista) (1979),
que promove encontros no mundo todo.

1976 – A montagem de Einstein in the Beach, criado juntamente com a coreógrafa Lucinda
Childs, marca o início da colaboração entre o encenador Bob Wilson e o músico Philip
Glass. A música minimalista integra perfeitamente seus espetáculos, em que a repetição
faz parte da linguagem. A simultaneidade de ações também marca as encenações de
Wilson, como em I Was Sitting in My Patio..., de 1977. Em 1979 cria, com a companhia de
Peter Stein, na Schaubühne de Berlim, Morte, Destruição e Detroit.

1978-1982 – Jerzy Grotowski evolui para o que chama de "teatro das fontes". Trabalha com
base nas culturas primitivas e de tradições ancestrais.

1982 – A montagem da ópera Medea mostra Bob Wilson mais próximo de uma narrativa
mais tradicional. Nessa linha estão The Civil Wars (1983), Alcestis, de Eurípedes, Hamlet-
Machine (1987), de Heiner Müller. Nos anos 90, seu trabalho segue essa mesma linha com
montagens como Orlando, de Virgina Woolf, Hanjo Hagoromo, Hamlet, a Monologue e A
Doença da Morte, de Marguerite Duras.

1985 – O Mahabharata é montado por Peter Brook e apresentado numa pedreira


abandonada no Festival de Avignon, na França. Sua concepção de teatro, essencial e
econômica, encontra aí a expressão máxima. Posteriormente, ele transforma Mahabharata
em filme. Seu trabalho no Cirt reúne atores do mundo inteiro.

1985 – O Théâtre du Soleil monta os espetáculos A História Terrível porém Inacabada do


Príncipe Norodom Sihanuk e, dois anos mais tarde, Indiade, ambos escritos em
colaboração com Hélène Cixous. Neles abordam as grandes tragédias do mundo
contemporâneo. As mais recentes montagens do grupo, a trilogia grega denominada Os
Átridas (Ifigênia em Áulis, As Coéforas, As Eumênidas), de Ésquilo, e O Tartufo, de
Molière, fazem uma reflexão sobre a intolerância. Desses espetáculos, já na década de 90,
participa a brasileira Juliana Carneiro da Cunha.

1986 – Jerzy Grotowski passa a dirigir, em Pontedera, Itália, um centro de experimentação


e pesquisa. Lá recebe para aprendizado profissionais do mundo todo.

1992 – O diretor irlandês Declan Donnellan dirige Angels in America, um épico sobre a
Aids, escrito pelo americano Tony Kushner. A peça de sete horas de duração foi dividida
em duas partes: Millennium Approaches e Perestroika. Também desenvolvem temáticas
sobre a violência nas grandes cidades o canadense Brad Fraser (Unidentified Human
Remains) e o inglês Jim Cartwright (The Rise and Fall of Little Voice).

1993 – Com base em uma obra do neurologista Olivier Sacks, Peter Brook monta o
espetáculo L’homme Qui...eu mais recente trabalho é Je Suis un Phénomène, de sua
autoria e de M. Hélène Estienne, montado em 1998.

1995 – A peça Art, de Yasmina Reza, francesa nascida no Irã, alcança projeção mundial e
recebe prêmios em Paris, Londres e Nova York. Por meio da conversa entre três amigos, a
autora trata da disputa de poder no mundo masculino. A peça é montada no Brasil em
1998, com direção de Mauro Rasi.

1996 – Martin McDonagh é considerado um dos novos autores da dramaturgia inglesa após
a montagem da peça The Beauty Queen of Leenane, em Londres. Filho de irlandeses,
McDonagh escreve comédias realistas, cheias de ironia e violência. A crítica social também
norteia o trabalho do inglês Mark Ravenhill, autor de Shopping and Fucking.
1998 – Bob Wilson cria, em parceria com Philip Glass, Monsters of Grace, espetáculo
multimídia que junta filme, música, imagem e texto. Com a utilização de tecnologia digital,
as imagens são geradas em computador e projetadas em telão de 70 mm.

2000 – Estréia The Producers, com texto de Mel Brooks. O roteiro ganhou Oscar em 69. A
Broadway recebeu bem o musical e o consagrou com 11 prêmios. O protagonista é Max
Bialystock que faz as vezes de produtor que convence mulheres endinheiradas a investir
em teatro, sem saber que ele planeja dar um golpe. No ranking do teatro nova-iorquino, em
que a audiência é o termômetro para medir sucesso, destaca-se Proof, estrelada por Marie
Louise Parker, sobre uma jovem estudante e seu pai doente, um professor de matemática.
O espetáculo Tambour Sul La Digue, do grupo Théâtre du Soleil, obtém boa repercussão
junto à crítica e ao público. Com texto de Hélène Cixous e montagem da francesa Ariane
Mnouchkine, conta uma fábula épica sobre as relações de poder, baseada em lendas da
tradição chinesa. O novo texto do dramaturgo norte-americano Donald Margulies, Dinner
With Friends, recebe o Prêmio Pulitzer de teatro na categoria drama. Margulies já havia
alcançado grande sucesso com Collected Stories, apresentado no Brasil com o título de
Estórias Roubadas e estrelado por Beatriz Segall. Outro destaque é a peça Spinnning Into
Butter, dirigida por Hope Davis e apresentada fora do circuito da Broadway. A jovem e mais
promissora dramaturga inglesa de sua geração, Sarah Kane, suicida-se, aos 29 anos no
hospital onde estava internada para tratar de uma crise de depressão.

2001-2003 – O musical Mamma Mia! é considerado um dos marcos da Broadway. Dirigida


por David Grindrod, a peça baseia-se nas músicas do quarteto vocal Abba, grupo de
grande sucesso na década de 1970. A história aborda a vida de Donna, uma mãe solteira
que se lembra de seus tempos de juventude, e de sua filha Sophie, que sonha com um
casamento nos moldes convencionais. O encenador alemão Peter Stein estréia, em Berlim
e Viena, a montagem integral de seu Fausto. Criado originalmente para a Expo 2000, de
Hannover, o espetáculo foi apresentado pela primeira vez com suas duas partes e duração
de 21 horas. O artista norte-americano Robert Wilson encena na Ópera de Zurique, pela
primeira vez, a tetralogia dos anéis de Richard Wagner. As quatro óperas: O Anel do Reno,
As Valquírias, Sigfried e Crepúsculo dos Deuses. O próprio Robert Wilson encena, com
produção dinamarquesa, Woyzeck, de Büchner, para turnê mundial.

2004 – Peter Brook faz turnê européia, com Michel Piccoli e Natasha Parry no elenco, com
Ta Main dans la Mienne, sobre a correspondência amorosa entre o dramaturgo Antonin
Tchekhov e a atriz Olga Knipper. Brook também estréia Tierno Bokar, de Amadou Hampaté
Bâe com adaptação de Marie-Hélène Estienne. A peça, que foi apresentada no Brasil, trata
da opressão e da intolerância religiosa contra um líder espiritual africano.
Auto, Obra Teatral de Caráter Religioso
A designação auto é específica do espanhol e do português, referindo-se de início a toda
obra teatral, mas especialmente às de caráter religioso. Do século XV em diante a palavra
se limita às peças em versos, em geral sem divisão em atos e sobre temas religiosos,
servindo-se de alegorias e símbolos, personagens que encarnassem abstrações ou idéias
puras (e até atributos divinos), para serem representadas em solenidades cristãs. Com
seus grandes autores, o auto transcendeu essa finalidade, tornando-se gênero autônomo e
de alto significado literário.

A partir de seu caráter inicial religioso, associado às procissões e ao misticismo popular, o


auto tornou-se, tanto em Portugal como na Espanha, um extraordinário gênero dramático,
às vezes de alta profundidade crítica ou filosófica.

Os autos começaram ligados às procissões de Corpus Christi na Espanha, que contavam


com a colaboração das autoridades civis e tinham carros com motivos alegóricos,
inspirados em temas dos Evangelhos e da história da igreja, percorrendo as principais ruas
das cidades. Na capital, os cortejos festivos eram encerrados pelo próprio rei e pelos
homens da corte, que seguiam a pé o Santíssimo, com cabeças descobertas e círios nas
mãos. Os carros transportavam atores imóveis, formando quadros vivos. Nos primeiros
tempos apareciam também figuras de gigantes e um monstro espantoso, espécie de
dragão, o Tarrasca. Elementos da tradição popular profana eram assim mesclados aos
componentes cristãos.

A procissão fazia paradas (as chamadas estações) diante dos palácios senhoriais, onde
encontrava altares ricamente ornados com flores e imagens sagradas. Não se sabe
exatamente quando os atores quebraram a imobilidade e começaram a representar cenas
curtas, a princípio certamente mudas, pequenos mimos, episódios e esboços
dramatizados. Depois se acrescentaram os versos, nascendo assim um teatro sem os
esquemas rígidos da herança greco-latina.

Ideologia e espetáculo - Os autos são uma forma particular de representação sacra e


constituem gênero literário típico da realidade ibérica. Impõem-se como arma da Contra-
Reforma e de análise escolástica do catolicismo. A alegoria e os símbolos são amplamente
utilizados, assim como personagens abstratos (a fé, a alma etc.). Os temas saem quase
sempre da Bíblia ou da vida dos santos. Para o espanhol Menéndez y Pelayo, o auto é o
único tipo de teatro verdadeiramente simbólico. As duas modalidades mais representadas
foram os autos do nascimento (sobre o nascimento do Cristo) e os autos sacramentais
(sobre a Eucaristia).

Séculos XV e XVI - Os primeiros autos são anônimos e o mais antigo que se conhece, o
Auto de los reyes magos, remonta ao século XII ou XIII. Nos séculos XV e XVI surgem os
primeiros autores importantes, como os espanhóis Juán de Encina, Lucas Fernández, que
escreveu o Auto de la Pasión, e Lope de Rueda.

No entanto, o grande nome do gênero nessa época foi Gil Vicente, ator e autor, fundador
do teatro português. Entre suas numerosas peças há pastorais, tragicomédias, farsas
(como a Farsa de Inês Pereira), mas a maioria são autos como o Auto da alma, Auto de
Mofina Mendes, Auto da barca do inferno. Pela crítica social e humana, Gil Vicente
transcende as finalidades do gênero. É visto, atualmente, como um dos antecessores do
teatro épico atual, pelo tipo de narração e de ousadia moral de suas peças. O Auto de el-rei
Seleuco, de Camões, deve-lhe boa parte das qualidades.

Século XVII e adiante - No chamado Século de Ouro, quase todos os escritores dramáticos
espanhóis escrevem autos, agigantando-se o trabalho de Lope de Vega. Em sua obra
imensa, entre cerca de 400 autos, sobressaem La madrina del cielo (A madrinha do céu) e
El colmenero divino (O apicultor divino).

Calderón de la Barca é o nome máximo dos autos sacramentales. Requintou o gênero em


termos de teatro e literatura, imprimindo-lhe profundidade filosófica nunca antes atingida,
aliada a uma força poética poderosa e ao diálogo rebuscado, intelectualizado e barroco,
mas forte e conceituoso. Sacerdote aos cinqüenta anos, não deixou o teatro: durante muito
tempo foi o autor exclusivo dos autos sacramentales que se representavam no dia de
Corpus Christi em diversas cidades espanholas.
Teatro Kabuki

O kabuki é um espetáculo popular japonês que combina brilhantemente realismo e


formalismo, música e dança, mímica, encenação e figurinos. Em geral as peças de kabuki,
intensamente líricas, são vistas  menos como literatura do que como veículos por meio dos
quais os atores exibem variadas habilidades, em desempenho visual e vocal.

A palavra kabuki indica por si só a variedade e as múltiplas formas dessa arte. Em japonês
moderno, o vocábulo se escreve com três caracteres: ka, bu e ki, que significam canção,
dança e habilidade.

Tradicionalmente, o kabuki implicava uma constante interação entre os atores e a platéia.


Como a programação durava da manhã à noite, o ir e vir do público no teatro era constante
e as refeições se serviam ali mesmo.

A origem do kabuki remonta ao início do século XVII, quando a dançarina Okuni, à frente
de uma companhia de atrizes, realizava uma representação que parodiava temas
religiosos, com cenas de caráter burlesco que se alternavam com danças de ousada
sensualidade. Em 1629 esse tipo de kabuki foi proibido pelo governo. O espetáculo passou
a ser montado com rapazes vestidos de mulher e, mais tarde, como ainda fosse reprimido,
com homens maduros, solução que se manteve definitivamente.

O kabuki incorporou elementos tradicionais do drama japonês, como o nô e o joruri, teatro


de marionetes. Estabeleceu-se nas cidades de Quioto, Osaka e Edo (atual Tóquio), onde
se aperfeiçoou. De 1688 em diante se fixaram oito tipos de personagens que aparecem em
todas as peças, como os arquétipos da commedia dell'arte. O ator Sakata Tojuro e o
dramaturgo Chikamatsu Monzaemon foram personalidades decisivas na evolução do
kabuki, assim como o diretor Ichikawa Danjuro. Do século XVIII ao XIX sobressaíram
Takeda Izumo, Tsuruia Namboku e sobretudo Kawatake Mokuami. No fim do século XVIII,
o kabuki decaiu, mas um século depois apareceu renovado e consagrado como clássico da
cultura japonesa.

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