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ABSTRACT
This article points to the short trajectory, but transforming of the Teatro de
Brinquedo that Alvaro and Eugenia Moreyra created in the 1920s, in Rio de Janeiro.
Anticipating key issues for the theater as an expression of art: an alternative model of
production; an innovative aesthetics; a new style of interpretation and; especially the
dramatic text absolutely unique and perplexing through his, Adam, Eve And Other
Members Of The Family. This move will echo from the Teatro de Estudante, created by
Pascoal Carlos Magno, to theater groups formed in the 1960s and 1970s, Teatro
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Ipanema and Asdrubal brought the Thrombone. It makes an objective and succinct
analysis of what was, in my opinion, the greatest revolution of the theater in the early
twentieth century. In which the understanding begins today term "staging" and brings
the theater to the Art category.
KEYWORDS 1- Teatro de Brinquedo 2- Álvaro e Eugenia Moreyra 3-
Teatro de Estudante 4- Teatro Ipanema 5- Geração Trianon
O TEATRO DE BRINQUEDO
Eu sempre cismei um teatro que fizesse sorrir, mas que fizesse pensar. Um teatro
com reticências... Um teatro que se chamasse Teatro de Brinquedo e tivesse como
única literatura uma epígrafe do velho Goethe: A Humanidade divide-se em duas
espécies, a dos bonecos que representam um papel aprendido e a dos naturais,
espécie menos numerosa de entes que nascem, vivem e movem-se segundo Deus os
criou... Um teatro de ambiente simples, até ingênuo, bem moderno, para poucas
pessoas cada noite... tal qual o Vieux Colombier, tal qual o Atelier,em Paris, o
Teatro Degli Independenti, o Teatro de Villa Ferrari, em Roma, uma chusma em
Milão, em Brescia, em Berlim, em Viena, o Kammerny, em Moscou, o Tsukiji em
Tóquio e poderia citar mais. Cito ainda o teatro Maly, que ocupa a sala do Teatro
Nacional de Varsóvia, cedida pela municipalidade. Sempre cismei uma companhia
de artistas amorosos da profissão que a não tornasse profissão... Representaríamos
os nossos autores novos e os que nascessem por influência nossa. Daríamos a
conhecer o repertório de vanguarda do mundo todo. Os espetáculos de uma peça
seriam um gênero. Seria outro gênero a apresentação de pantomimas musicadas, de
lendas brasileiras, canções estilizadas, comédias rápidas, motivos humorísticos.
Nesses programas tomariam parte poetas dizendo seus poemas, músicos tocando
suas músicas. Pois graças à boa vontade do Sr. Lopes Fernandes, que nos facilitou a
Caverna do Cassino Beira Mar, onde Luiz Peixoto e Lúcio Costa vão armar a sala, o
Teatro de Brinquedo não tarda surgir. Terá só plateia. E a plateia, cento e oitenta
lugares, apenas. A trupe é formada de senhoras e senhoritas da sociedade do Rio,
escritores, compositores, pintores. Tudo gente de noções certas. O teatro de elite
para a elite. Teatro para as criaturas que não iam ao teatro... A estreia contará uma
história em quatro pequenos atos: Adão, Eva e Outros Membros da Família...
Dória, Gustavo, 1975, pg. 27
Um grande acontecimento na época. Casou em Buenos Aires com Romola para a fúria
incontrolável de Diagihlev. O Teatro de Brinquedo infelizmente vai ter vida curta, pois
carecia de um produtor com visão. Que não necessitava ser nenhum Diagihlev; mas não
um produtor empresário, desses que só pensam no lucro fácil e explorar os pobres atores
com textos chulos. Nem isso eles tinham! Numa época em que, a noção de teatro como
profissão ainda era um tanto quanto difusa. Tivesse existido esse homem com
conhecimento e intuição do que verdadeiramente estava acontecendo ali, ao lado do
Palácio Monroe, no Passeio Público, certamente estaríamos hoje num outro patamar, no
que diz respeito às questões dentro dessa caixa preta onde a ilusão acontece. Pretendia-
se criar um teatro de elite no sentido de excelência na qualidade dos textos e espetáculos
apresentados com amadores. Atores não profissionais, artistas, amantes do teatro.
Álvaro Moreyra tinha contato direto com o Vieux Colombier e Jacques Copeau.
Isso lhe permitiu estar em sintonia com novas ideias, novos conceitos. Quero afirmar
com isso que um novo teatro poderia ter acontecido muito antes de 1943, na estreia de
Vestido de Noiva, a qual muitos críticos e teóricos definem como o começo da
encenação brasileira, com direção de Ziembinski. Álvaro e Eugênia Moreyra antecipam
de certa forma, uma consciência modernista através de suas propostas. Jamais estive
totalmente convencido de que o teatro moderno brasileiro foi inaugurado com a peça de
Nelson Rodrigues. Pois, a meu ver, mesmo não acontecendo em sua plenitude, o novo
teatro brasileiro começa com o Teatro de Brinquedo, em 10 de novembro de 1927, com
a estreia de Adão, Eva e Outros Membros da Família. Numa entrevista concedida ao A
Noite, em 24 de dezembro de 1927, dizia o escritor Abadie Rosa, conforme citado por
Gustavo Dória:
A meu ver, o ano começou mal, foi dos piores para o Teatro Nacional, entendendo-
se por teatro alguma coisa mais do que as aparatosas revistas bataclânicas (1). Em
que as nossas empresas deram, pelo menos, uma prova de coragem com suas
encenações faustosas. Devo repetir coisas já ditas e reditas. No Brasil nunca houve
teatro. É um gênero de literatura só compatível com os países que já atingiram sua
maturidade mental. Houve, apenas, entre nós, arte de representar. Representou-se,
com honestidade, peças estrangeiras, dramas românticos, e operetas brejeiras...
Quanto à produção nacional, mero diletantismo. Todos os nossos homens de letras
escreveram pelo menos uma peça. Mas dos escritores que deixaram trabalhos até
hoje representáveis só vejo Martins Pena, França Júnior, Arthur Azevedo e, mais
recentemente, João do Rio. Convenhamos: é muito pouco para um século de vida
independente. Para justificar meu ponto de vista devo ainda relembrar coisas
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Segundo Gustavo Dória, em seu livro Moderno Teatro Brasileiro, Abadie Faria
Rosa era figura de prestígio no cenário teatral carioca e membro importante da
Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), aliás, fundada por João do Rio.
Juntava-se ao coro dos que clamavam por um teatro de melhor qualidade
intelectual para atender as aspirações de uma elite que não encontrava em nossos palcos
contentamento adequado para seus anseios de qualidade.
Mesmo o conceito de plateia entre nós era bem diversificado. A arte ainda não
era compreendida como fator de transformação, mas como uma manifestação de deleite
puro e singelo.
Leopoldo Fróes era quem viajava à Europa, levando atrizes bonitas que faziam parte de
seu elenco. Em sua companhia de teatro, o ator tinha certo sotaque francês, aliado a
isso, truques infalíveis de teatro. Seu repertório girava quase sempre nos sucessos mais
inconsequentes do boulevard francês. Embora, ainda segundo Gustavo Dória, fosse o
único a manter um teatro de melhor qualidade.
O teatro na capital gravitava entre a Praça Tiradentes, com as revistas, que
justificavam o interesse popular, com a inteligência de seus diálogos, elaborados por
humoristas e escritores de qualidade, que sabiam satirizar e criticar o cotidiano sob o
aspecto político ou social, com uma plateia era pouco exigente; e a Avenida Rio Branco
com o único teatro estável de comédia, o Trianon, cujo repertório consistia em
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minutos, que ele transformou num recado de bom humor, alegria, conselho, poesia e,
sobretudo, humanismo.
Em 1958, recebeu o prêmio do melhor disco de poesia com os "Pregões do Rio de
Janeiro". Era membro da Fundação Graça Aranha, da Sociedade Felipe d’Oliveira, da
Academia Carioca de Letras e do Pen Clube do Brasil.
Eugênia Moreyra. A primeira repórter do Brasil. Foi a primeira mulher a
preparar matéria para um jornal, em 15 de maio de 1914 no jornal A Rua para cobrir um
crime. Entrou para o convento Bom Pastor e trouxe à tona, com brilhantismo, a vida
que se levava dentro daquele cativeiro. Assim, explodiu um grande êxito jornalístico.
Seu pioneirismo não parou por aí. Usou calças compridas e fumou cigarrilhas,
sentando-se em rodas de rapazes para discutir política e arte. A primeira peça encenada
no Teatro de Brinquedo foi Adão, Eva e Outros Membros da Família, de Álvaro
Moreyra, tendo Eugenia no papel principal. Nessa peça estavam presentes Pascoal
Carlos Magno, Di Cavalcanti, Alvarus e Bibi Ferreira, ainda criança . Oswald de
Andrade, o pai da dramaturgia escreveu para ela O Rei da Vela, que simboliza a
irreverência. É a síntese de uma mudança de mentalidade. Eugenia e Álvaro criaram e
comandaram O Teatro de Brinquedo, primeiro teatro ambulante do Brasil em 1927.
Na semana de Arte Moderna, em 1922, estiveram ao lado de Villa-Lobos, Di
Cavalcanti e muitos outros modernistas famosos. Moravam na Rua Xavier da Silveira
99, em Copacabana endereço que foi o berço de acontecimentos políticos, artísticos e
sociais entre os anos de 1918 e 1948 no Rio de Janeiro. Jorge Amado e tantos outros
jovens escritores lá se hospedaram armados com a audácia e o sonho. Eugenia lutou
pela libertação de Olga Benário, deportada grávida, para um campo de concentração
nazista, no governo Getúlio Vargas. Uma pessoa especial como Josue Montello,
escreveu no dia de sua morte:
Eugenia desaparece não como saudade de uma época, mas sim como a representante
física dessa época. O que se encontrava atrás de sua franja de cabelos negros, de seu
vestir especial, do seu sorriso desafiador, agora o sabemos. O que se deve a ela será
calculado um dia.
O texto de Álvaro Moreyra Adão, Eva e Outros Membros da Família começa com a
epígrafe: “Deus abençoou-os e disse-lhes: - Crescei e multiplicai-vos, enchei o
mundo”.
I Gênese cap. I (Moreyra, 1959, pag. 27).
O tripé formado entre Mulher, Um e Outro continua no desenrolar da ação apenas com a
troca de atividade da Mulher, que, a partir do segundo ato, passa ser uma atriz.
No jornal, sempre o mesmo jargão. O Escritor diz que a Mulher encheu a alma de
“cristina” a alcunha dada para cocaína, que é o pó de arroz das fisionomias metafísicas.
Teatral acha abomináveis estas mocinhas que recitam. Mais abomináveis do que
as atrizes. Secretário comenta a atitude de um escritor que queria ter seu livro
comentado de qualquer jeito. “Ataquem! O que desejo é que chamem atenção sobre a
obra. E não me oponho que estampem minha fotografia”.
Temos uma discussão sobre estética teatral que se trava entre o Teatral e Um. E
também sobre assuntos do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro no final dos anos vinte,
como a proibição do jogo, entre outras coisas. Com, ironias e farpas, entre os
personagens Um e Teatral, o ato desenvolve-se até o seu desenlace. Citando Paul Valéry
Um convida Outro ao jogo de bacarat. Outro fica engasgado de ódio.
Os dois quase vão às vias de fato e se encontram no mesmo banco de jardim do início
da peça. Um convence Outro que está ficando ridículo seu amor pela atriz e passa a
namorá-la em seguida. Como o problema é uma volta ao lugar de onde veio- o efeito
bumerangue- Mulher, que nada sabe do encontro inicial, ao vê-los naquela disputa onde
ela é o centro, reclama:
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Mulher- Por favor! Oh! Quem o visse não pensava que via dois homens de
sociedade! Francamente! Parecem um mendigo e um ladrão! Que horror!
“Com isto o texto é uma quebra de limites para abordagens temáticas depois
desenvolvidas em rumos diferentes por Joracy Camargo e Nelson Rodrigues”.
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Através da peça, Álvaro Moreyra também está questionando o mundo do teatro à sua
volta. Não à toa o texto termina com um ponto de interrogação. Esta peça é uma
pergunta que ficou sem resposta por noventa anos. Agora, talvez, com os pós-
dramáticos começamos a conseguir respondê-la. As definições que encontro sobre o
texto são insuficientes. Carece de definição! Os livros que li procuram indicar Adão,
Eva como uma peça expressionista.
Stanislavski diz sobre Tchékhov em Minha Vida na Arte: Erram, pois os que representam
Tchékhov pondo em destaque a situação e o aspecto superficial dos papéis, sem cuidar de
aprofundar a vida interior, a alma das personagens, que nele é essencial. Tchékhov às vezes
inconscientemente- produz os mais variados efeitos, e nisso é que reside sua força: mostra-se
ora impressionista, ora simbolista, senão mesmo realista, a ponto de roçar pelo naturalismo.
O crítico que escrevia estas linhas era o escritor Armando Gonzaga, autor
respeitado, com forte influência no mundo do teatro. Estas palavras tiveram significado
profundo para todo o grupo do Teatro de Brinquedo. Segundo o escritor Otávio
Quintiliano uma parte do povo que não ia ao teatro começava a frequentá-lo. O Teatro
de Brinquedo no Cassino Beira Mar passava ser ponto de encontro da elite carioca.
O que faltou ao Teatro de Brinquedo foi uma boa administração e planejamento,
dizia Gustavo Dória, pois 50% da bilheteria ficava retido para os donos do Cassino. O
restante era partilhado igualmente entre os integrantes do grupo. Mais uma vez, a trupe
de Álvaro Moreyra antecipa o que iria acontecer com vários grupos de teatro na década
de 1970, quando se criava uma alternativa para suas produções também repartindo uma
parte da bilheteria e assim num sistema cooperativado havia a possibilidade da
realização de muitos espetáculos.
Todos os atores do grupo no Teatro de Brinquedo tinham suas ocupações. Por
mais sonhos que tivessem, o teatro como profissão era apenas uma hipótese.
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Aqui se confirma sua tendência à vanguarda teatral da época, pois Copeau foi
um grande reformador, que vai reconceituar questões fundamentais sobre inúmeros
aspectos, não só para o ator no palco, mas para o texto teatral, a estética e a ética no
teatro.
Álvaro Moreyra foi beber numa fonte sagrada. Onde havia uma dimensão
espiritual na arte de representar, sobretudo, através de Artaud. Não, por acaso, o Teatro
de Brinquedo vai causar tanto impacto mesmo durando tão pouco. Embora inspirado
pelo Vieux Colombier, não criou um movimento idêntico, concretamente, e nem
poderia tê-lo feito, pois o grupo francês durou décadas, realizando transformações
fundamentais e redefinindo a noção da palavra teatro não só em Paris, mas no mundo
inteiro. Porém, apenas como inspiração, o perfume do Vieux Colombier exalou-se sobre
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Álvaro Moreyra, deixando no ar o aroma de um teatro puro, puro teatro! Mas só para os
que amam apaixonadamente esta arte.
RERFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS