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Esquetes cômicos
de
Luis Alberto de Abreu
AÇÃO ACONTECE NO INTERIOR DE UM ÔNIBUS URBANO.
ENTRA UM APRESENTADOR
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impossível de despressurização vocês estarão todos fer-
rados por que não dispomos de máscaras de oxigênio
que caiam do teto como nos aviões. Pedimos que não
fumem dentro deste coletivo, não cuspam no chão, não
peidem mesmo em caso de necessidade porque não te-
mos ar condicionado. Se se sentirem mal pedimos enca-
recidamente que não vomitem sobre o vizinho, não batam
nos atores nem xinguem a progenitora das atrizes se não
gostarem do espetáculo. Tudo bem que nós não temos
vergonha na cara mas ninguém entrou aqui forçado nem
amarrado. Qualquer reclamação procurem o Montanha na
saída (dois metros de altura, um e oitenta de largura) mas
verifiquem bem se ele está de bom humor, o que é bas-
tante raro. Um bom divertimento, se conseguirem!
APRESENTADOR Logo vocês vão ver uma atração trazida a peso de ouro
para o Largo 13!
BÊBADO Está sim. Todo mundo está sempre tirando o seu da se-
ringa!
APRESENTADOR Depois do show você conta está bem. Com vocês, a incrí-
vel, a incomparável...
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com o cu de um estranho na mão, tinha a comprovação
de minha própria existência porque o meu roscofe, entre
os de cinco bilhões de pessoas que existem no mundo,
era o único que eu podia ter certeza de não estar perdido.
Mas eu fiquei ali tentando resolver aquele mistério absur-
do. E lembrando de expressões igualmente absurdas re-
lacionadas com aquele chamado músculo anal. Alguém
sabe a lógica de se dizer cu de boi para designar confu-
são? Ou cu de judas para indicar um lugar distante?
Quem era a mãe joana para designar coisa em que todo
mundo se mete? E que lógica tem a expressão popular
“amarrar o cu com embira pra ver o lucro que tira? É lógi-
co que existem expressões ditadas pela lógica como cu
da agulha que é o buraco por onde passa a linha, cu de
ferro que é sujeito comportado que não sai do banco es-
colar, cu de breu indica buscapé, cu de foca é bebida ge-
lada, vagalume é tambem chamado cu de lume e cu de
galinha é aquele bolinho de linha que a gente faz para ar-
rematar uma costura. Cu do mundo é um lugarzinho dis-
tante e muito do desgraçado isso eu entendo, mas porque
cu de conde tem o mesmo significado? Cu é algo tão
presente em nossa vida, em nossa cultura e, ao mesmo
tempo, tão absurdo. Cu é um mistério. E eu estava ali, re-
fletindo, olhando meio desconfiado quando, de repente, o
esfíncter teve um estremecimento, uma convulsão saltou
exatos vinte centímetros para o alto e voltou a pousar em
minha mão. E não é que percebi uns cabelinhos tentando
sair daquele orifício?! E não eram simples pelos, não. E-
ram cabelos bem cuidados, encaracolados e sedosos,
cheirando a banho de xampu e creme rinse. Encafifado
com aquilo comecei a puxar os cabelos com cuidado e lo-
go tinha em minha mão, saída do cu uma farta cabeleira.
Puxei com mais força porque agora a resistência era mai-
or, torci, tentei alargar as bordas do anel muscular e, ai,
gritei e recuei horrorizada. O cu caiu no chão e sobre ele
uma cabeça de um homem de aproximadamente quaren-
ta anos, moreno, bonito até, de olhos verdes. Minha pri-
meira atitude foi sair correndo e gritar por socorro mas a
boca da cabeça movimentou-se e pediu minha ajuda com
a voz sufocada. “Socorro, esse cu tá apertando o meu
pescoço!” E na verdade o pescoço da cabeça estava co-
mo que estrangulado pela força compressora do músculo
anal. Meu Deus, eu estremeci ao imaginar como nos fil-
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mes de terror, a possibilidade real de haver soltos no
mundo, cus devoradores de gente como Tubarão ou Pi-
ranhas. Felizmente a solidariedade foi mais forte que o
medo e com as duas mãos e depois com os pés me pus
em luta contra a tensão daquele cu, tentando alargar seu
diâmetro. Com tempo e muito esforço fui conseguindo até
que, com um impulso para cima o homem conseguiu libe-
rar os ombros, depois um braço, outro e aos poucos foi-se
saindo daquela argola. Quando liberou os pés, o cu do
homem, como um elástico, retornou à posição e ao lugar
natural. Olhei para o homem e ri porque ele era o primeiro
caso conhecido de autofagia anal, um cu comedor de ho-
mem. Esperei que o homem se ajeitasse e me desse as
devidas explicações para o caso tão maravilhoso que pre-
senciei. E a explicação não demorou. Por causa da maior
prisão de ventre de que se tem notícia - havia três meses
que o homem não se aliviava – ele tomou a dose mais
cavalar de purgante que um homem já ingeriu de uma
vez, desde que o mundo é mundo. Em decorrência lhe
sobreveio a mais aguda cólica intestinal que liberou numa
explosão contínua as inúmeras camadas de alimentos
que havia ingerido nos últimos três meses. Saíram de
chorrilho pelo seu reto, primeiro, uma porção de feijão, ar-
roz, ovo, salada de almeirão e farinha o que deve ter sido
o bate-entope anal. Após, deslizou rego abaixo, não ne-
cessariamente na ordem que descrevo, uma dobradinha,
sete tutu à mineira, cinco feijoadas, quatro estrogonofes
de frango, seis de carne, três buchadas de bode, quinze
rabadas, quatro picanhas – duas com alho -, treze frangos
a passarinho, três paellas, cinco churrascos à gaucha
completos, treze moquecas à baiana, além de porções
variadas de cuscus à mineira, batatas fritas, na manteiga,
sotê, acarajés e pudins e sobremesas várias. Depois de
tudo escorrido a pressão intestinal continuou sem controle
forçando a saída dos intestinos, tubo digestivo, duodeno,
pâncreas, figado e outros orgãos com o cu se tornando
num sumidouro, um ralo engulindo, sugando músculos,
tecidos e por fim o próprio homem! Afastei-me completa-
mente parvo e não acreditaria em nada do que o homem
me contou se não tivesse visto com os próprios olhos e
ter ajudado, inclusive, aquele homem a sair de volta de
seu próprio cu. E não andei nem cinquenta metros quan-
do bati o olho em algo roliço e cilíndrico na calçada. Vo-
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cês já advinham. Um pênis. Solto, perdido, sem dono, vi-
vo e com uma certa e agradável rigidez, bom peso e ta-
manho. Curioso abaixei-me e vi – acreditem! – que sua
parte oposta terminava num espiral de rosca. E entendi,
então, que aquele órgão sui generis se prendia à virilha
de quem o tinha perdido, rosqueando-se como uma lâm-
pada! Percebi, num exame mais atento que a rosca de
sua base estava espanada. Não, não conto o que depois
aconteceu.. (PARA O APRESENTADOR) Agora manda
entrar a francesa, moço!
APRESENTADOR Por favor, meu amigo, você que já nos deu a história do
cu, nos dê agora a história do pênis!
SAI.
FIM