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DA COMÉDIA GREGA

AO TEATRO MEDIEVAL

Marta Yü Belo
ESQUEMA CRONOLÓGICO - módulo 1
ESQUEMA CRONOLÓGICO - módulo 2

. 486 a.C. (século V a.C.)


Dá-se o primeiro concurso de escrita de
Comédia; Grécia Antiga.
. 450 a.C. (século V a.C.)
Nascimento de Aristófanes; Atenas.
. 411 a.C. (século V a.C.)
É encenada a peça As Tesmoforiantes, de
Aristófanes; Atenas.
. Fim do século V a.C.
Fim da idade de ouro da tragédia; Grécia Antiga.
. 380 a.C. (século IV a.C.)
Morte de Aristófanes; Atenas.
. 342 a.C. (século IV a.C.)
Nascimento de Menandro; Atenas.
. 292 a.C. (século III a.C.)
Morte de Menandro; Atenas.
ESQUEMA CRONOLÓGICO - módulo 2

. 240 a.C. (século III a.C.)


Dá-se a ascenção do teatro romano; Roma
Antiga.

. Século III a.C.


Obra de Lívio Andrónico e Plauto; Roma
Antiga.
. Século II a.C.
Obra de Terêncio; Roma Antiga.

. 80 d.C. (século I d.C.)


Termina a construção do Coliseu de Roma.

. 195 d.C. (século II d.C.)


A peça De Spetaculis, de Tertuliano sobe a palco;
Roma.

. 312 d.C. (século IV d.C.)


O imperador Constantino converte-se ao Cristianismo;
Império Romano.
ESQUEMA CRONOLÓGICO - módulo 2

. 410 d.C. (século V d.C.)


São encerrados os teatros do Império Romano.
. Século V d.C.
(Re)surge o Teatro Religioso, ainda
itinerante; Império Romano.
. Século IX d.C.
Começam a haver mais registos teatrais; Império
Romano.
. Século IX d.C.
O teatro divide-se em Teatro Religioso e Profano;
Império Romano.
GLOSSÁRIO

”Agaton“
poeta contemporâneo a Aristófanes, sendo criticado pelo
mesmo numa das suas comédias por mostrar uma imagem
demasiado feminina para um homem da época.

”antítese“
momento que se dá após o herói cometer a hamartia. durante
a antítese pode-se dar (e normalmente acontece) o conjunto
de erros contínuos do herói, devidos à hybris.

”aristotélico“
todo o teatro construído a partir do modelo de Aristóteles
(a lei das três unidades).

”Aristófanes" (450 a 380 a.C.)


autor que mais se destacou na velha comédia, conhecido
pelas suas sátiras cruéis a personalidades do poder
ateniense, como As Vespas, As Nuvens e As Tesmoforiantes.
GLOSSÁRIO
”catarse“
elemento da tragédia — fenómeno no qual, a partir da
empatia do público perante o erro (e as suas
consequências) cometido pelo heró, propositadamente
escrito para que o público se identifique com ele, para
que seja influênciado a não cometer o mesmo erro
(característica da moralização ma tragédia da antiguidade
clássica); também pode ser um termo utilizado para o
clímax da tragédia (momento sintetizado por Aristóteles,
na Poética).

”comédia“
proveniente do komos (cortejo barulhento sempre presente
nas festas em honra de Dioníso). Segundo Aristóteles, esta
vai de encontro aos ideais das tragédias, zombando do
sagrado e refletindo o presente e o mundano; género
teatral original da Grécia Antiga, apresentado no festival
primaveril das Leneias, com um público mais reduzido, que
possibilitava um espetáculo mais crítico, sendo dividido
em Comédia Velha, Média e Nova.

”Constantino"
primeiro imperador romano a converter-se cristianismo,
marcando assim o começo da transição para o teatro
religioso.
GLOSSÁRIO
”De Spetaculis“
peça de Tertuliano que, ao ser apresentada, ficou
conhecida como a peça que mais marcou o descontentamento
do povo romano face aos espetáculos cruéis que eram
característicos daquela altura.

”drama“
definido na Poética, de Aristóteles, como o termo
utilizado para "representação teatral", sendo também o
conceito do texto escrito para teatro.

”drama litúrgico"
momentos sagrados em que os textos religiosos eram
recitados, de uma forma dramática, pelos monges.

”epítase“
o conflito, na estutura da narrativa, segundo Aristótele

”escravo ladino“
primeira personagem-tipo da história do teatro, criada por
Menandro.
GLOSSÁRIO
”farsa“
comédia romana, apresentada em italiano arcaico (para a
compreensão do povo romano), satirizando assuntos
quotidianos. quando esta ressurge, séculos depois, passa a
pertencer ao teatro profano.

”hamartia“
erro do herói de uma tragédia, que o leva a sofrer as
consequências das suas ações.

”herói trágico"
herói da tragédia. escrito com qualidades ideais, para que
sirva como um exemplo e para que o público o admire e
sinta o pathos quando este comete a hamartia e tem de
sofrer as suas consequências.

”história“
conjunto de ações, oalavras, comportamentos, etc. que
foram significativos o suficiente para serem relevantes
até aos dias de hoje, marcando ou mudando alguma
realidade, influênciando o percurso de vidas, ensinando
lições a quem os analisa.
GLOSSÁRIO
”hybris“
característica do herói, que persiste no erro que cometeu
(a hamartia) e continua a errar e sofrer com as
consequências desses erros.

”jogral“
"ator" do teatro profano, que tocava música, cantava e
contava histórias.

”Leneias"
festival Ateniense celebrado entre dezembro e janeiro,
impossibilitando a presença de um público grande e de fora
de Atenas, o que trazia um espetáculo crítico de
personalidades importantes de Atenas.

”Lívio Andrónico“
autor que destacou na escrita de melodramas romanos.

”melodrama“
tragédia romana, apresentada em latim (para a compreensão
exclusiva das classes mais altas e eruditas romanas),
tendo como objetivo a ostentação e o poder militar romano
(ou seja, a tragédia foi sendo adaptada do mitológico
grego para os ideais da sociedade romana).
GLOSSÁRIO
”Menandro“ (450 a 380 a.C.)
autor que mais se destacou na comédia (entre a médiae a
nova), conhecido pelo seu humor quotidiano e pela criação
da personagem-tipo.

”milagre“
tipo de teatro religioso do século XI ao XIV, que
representava episódios da vida dos santos.

"Minerva"
deusa romana da sabedoria, que substituiu Dioníso como a
divindade do teatro na transição do teatro grego para o
romano.

”mistério“
tipo de teatro religioso do século XIV, que representava
cenas bíblicas e episódios da vida dos santos, sendo
apresentado ao longo de vários dias.

”melodrama“
tragédia romana, apresentada em latim (para a compreensão
exclusiva das classes mais altas e eruditas romanas),
tendo como objetivo a ostentação e o poder militar romano
(ou seja, a tragédia foi sendo adaptada do mitológico
grego para os ideais da sociedade romana)
GLOSSÁRIO
”mito“
história com uma moral que procura justificar ou explicar
o estado de uma realidade/acontecimentos que não podem ser
controlados, através de personagens extraordinárias e do
simbolismo.

”moralidade“
tipo de teatro religioso do século XV, que representava o
ideal do bem e do mal, tendo uma função moralizante

”nómada“
história com uma moral que procura justificar ou explicar
o estado de uma realidade/acontecimentos que não podem ser
controlados, através de personagens extraordinárias e do
simbolismo.

”pantomima“
arte da representação através do gesto, (muitas vezes,
exagerado) — a mímica

”pathos“
sentimento empático do público deterror/pena em relação às
consequências do erro do herói.
GLOSSÁRIO
”personagem-tipo“
personagens de teatro (inventadas por Menandro na Grécia
Antiga, mas prevalecendo até aos dias de hoje) que, mais
do que se representarem a si mesmas como pessoa,
representam um todo (classe social, pessoas com as mesmas
características, etc.)

”prótase“
”prótase“
a introdução da narrativa, segundo Aristóteles.

”profana“
que contraria a igreja; no caso do teatro medieval, o
teatro religioso.

”rito“
acontecimento constiduído por rituais e atos
performativos; conjunto de repetições. 'Um rito é um
conjunto de rituais.' - por Mafalda Marques, na aula de 9
de novembro, 2022.

”ritual“
acontecimento baseado na repitição, possivelmente também
em atos performativos que, ao ser executado, leva a uma
forma de estabelecer a identidade (de quem o realiza) e,
por norma, é sempre diferente (independentemente de ser
repetido)
GLOSSÁRIO
”sistema das três unidades“
sistema de Aristóteles, que indica três conceitos base: as
unidades de ação, tempo e lugar, que por sua vez indicam
que a narrativa d euma tragédia ocorra toda em torno de
uma ação principal, que se dê dentro de um intervalo de 24
horas e que não inclua deslocações que a façam ultrapassar
o intervalo de tempo (em tempo na realidade).

”síntese“
novo momento de 'normalidade', que se dá após a antítese
(e após o momento em que se dá o pathos, por parte do
público), pode também acontecer a síntese de uma tragédia
tornar-se a tese de outra dentro de uma tetralogia, em
alguns casos.

”Tertuliano“
autor de De Spetaculis, que era cristão e escreveu
críticas à crueldade dos espetáculos de gladiadores
característicos da cultura romana

”Terêncio“
autor romano que se destacou, tal como Plauto, na escrita
de farsas (comédia romana) inspiradas nas comédias
quotidianas de Menandro
GLOSSÁRIO
”tese“
situação inicial de uma tragédia, como descrita de acordo
com o esquema dialético, de Aristóteles.

”Tesmofórias“
festivais em honra de Deméter e Perséfone, que inspiraram
a comédia de Aristófanes — As Tesmoforiantes, na qual o
autor crítica tanto a feminidade de Agaton (poeta da
altura) e a forma como Eurípides representa as mulheres
nas suas peças. As Tesmoforiantes é muitas vezes
caracterizada como a peça menos política de Aristófanes

”tragédia“
a palavra tragédia vem do grego trágos (bode) + oldé
(canto) e é o género de teatro associado aos ritos
sagrados característicos da Grécia Antiga.
REFLEXÃO
Certamente, a transição da Comédia Grega até ao Teatro Medieval foi algo contínuo e
demorado (tendo atravessado não só quilómetros, mas também séculos), mas foi também
um processo sobre o qual vale a pena refletir, devido ao humano que há nestas
mudanças - desde revisitações ao passado à escolha do entretenimento em favor àsartes
eruditas.
Havendo uma transição da capital da cultura da Grécia para a Roma, o começo do
trabalho teatral partindo de obras já existentes gregas traz o começo da Comédia
Romana (de Plauto e mais tarde Terêncio), que mais tarde se torna na Farsa, sendo
esta baseada no humor quotidiano de Menandro, que se mostra ser mais relevante -
tanto por ser mais atual, quanto por ser mais facilmente intrudido na cultura romana
(mais focada no poder militar e na ostentação do que no sagrado). No entanto, a
tragédia grega não é esquecida, influenciando o trabalho de Lívio Andrónico como
escritor de tragédias - e mais tarde Melodramas - romanas, dirigidas às classes
superiores, as únicas com a capacidade de compreender aspeças, já que eram escritas
em latim.
Naturalmente, o trabalho do ator de comédia vai evoulíndo e passa a focar-se
bastante mais no circense do que no artístico, sendo imediatamente aceite por uma
sociedade menos focada no conhecimento e na cultura do que os gregos. Esse processo
de evolução continua até chegar a um ponto em que o movimnto do Cristianismo e o seu
impacto na sociedade romana chocam e um passa, de certa forma, a controlar o outro.
Com o ideal do religioso a voltar, o ator passa a ser cada vez mais julgado e os
teatros são encerrados, à exceção do teatro sagrado - tal como fora na Grégia Antiga.
REFLEXÃO
O teatro de caráter religioso (dos dramas litúrgicos às moralidades) começa com os
momentos sagrados em que era pregada a religão bíblica de uma forma cantada e
dramática. Estes momentos vão evoluíndo e sendo transformados, passando a incluir
cada vez mais a comunidade e o movimento em cena, bem como representando cada vez
mais episódios davida dos santos cristãos. Contemporâneo a este processo é o
surgimento do teatro profano, que sendo itinerante e produzido para o público com o
intuíto de entreter e divertir. Característico do profano é o ator multifacetado,
dançando, cantando e contando histórias quotidianas através do movimento exagerado
(dando-se também um ressurgimento da mímica).
É importante comentar também na influência que o teatro religioso teve na sociedade
medieval (alguns aspetos tendo permanecido até aos dias de hoje), já que foi o
espalhar das lições bíblicas e o moralizar atitudes consideradas erradas pela cultura
cristã o que mais influênciou a sociedade medieval - tendo o Deus Cristão no centro
da cultura, bem como o Clero como uma das classes mais elevadas na época (não é
difícil traçar semelhanças entre a forma como um Imperador e um Papa se apresentam,
por exemplo). Para além disso, era imposta uma cultura religiosa que se alimentava do
medo da ideia de Deus e de contrariar os seus ideais e poder, o que serviu como uma
forma de moldar a sociedade através do teatro, mostrando assim o humano deste
processo todo - o retorno aos objetivos do Teatro Grego. Ou seja, mesmo tendo havido
uma evolução importante na sociedade e na religião desde a Idade de Atenas até ao
Império Romano, voltou a haver um movimento de ascenção do teatro como algo sagrado,
mais tarde sendo um fator controlador da sociedade por parte das classes elevadas.

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