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ESTEVAN GRABOSKI CASANOVA

PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA NO ENSINO DE TEATRO

TEORIAS DO TEATRO

1. A origem do Teatro

A origem do teatro está ligada às primeiras sociedades primitivas, uma


forma embrionária de expressão que provinha da dança imitativa, que o
homem primitivo acreditava ser providencial e controlava os fatos para a
sobrevivência (fertilidade da terra, dentre outros), além de exorcizar as más
entidades. A conclusão de estudiosos aponta que o teatro teve sua origem a
partir dessa prática.

2. O Teatro grego

O Teatro na Grécia surge a partir das festas populares em homenagem ao


deus do vinho, Dionísio, nas festas, que eram realizadas, em forma de
procissão, conhecidas por Ditirambos, após a colheita da uva. Os participantes
cantavam, dançavam e encenavam diversas situações relacionadas à Dionísio.
Nessas procissões existia o Coro, formado pelos narradores da história, que
não só representavam a história, como cantavam, dançavam e relatavam a
história dos personagens, fazendo-se como o intermediário entre o ator e
plateia. A atuação, nesse sentido, deu-se através de Téspis que certa feita
subiu ao tablado se fez passar por Dionísio, respondendo ao Coro, introduzindo
o diálogo na encenação. Considera-se que Téspis tornou-se o primeiro ator
grego. Outro fato importante era que somente os homens podia participar das
encenações, já que as mulheres não eram consideradas cidadãs. Esse
advento trouxe par a cena o uso de máscaras.
É na Grécia que surge também os gêneros tragédia e comédia. As
tragédias abordavam temas ligados às leis, justiça e destino, além das paixões
e dos interesses humanos, tendo como objetivo a moralização do povo. Nesse
gênero normalmente a final da história terminava com a morte do herói. Os
autores de tragédia grega mais famosos foram Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.
Já a comédia visava o riso dos espectadores, das formas engraçadas de ver a
vida, o ridículo da humanidade e os maus comportamentos da sociedade,
caracterizando o surgimento das sátiras. O principal autor de comédia grega foi
Aristófanes. É na Grécia que o teatro se torna parte essencial da vida em
sociedade – e um dos pilares da democracia! –, passando a ter um conjunto de
regras formais e estéticas que o guiava. A Poética de Aristóteles, é o texto-
chave que virá a permanecer no desenvolvimento dessa arte por séculos.
O termo teatro (theatron), do grego, significa “local onde se vê” ou “lugar
para olhar”. Surge, também na Grécia, as primeiras edificações teatrais, tendo
como principal característica, as construções ao ar livre, chamadas de teatro de
arena. Consistia numa arquitetura em forma de meia lua com arquibancadas,
construídas sobre o declive das montanhas e era destinada para plateia. A
construção facilitava a questão da acústica.
3. Teatro Romano

O teatro romano foi marcado por diversas formas: performances de rua,


acrobacias e às encenações das comédias de Plauto e Terêncio e das
tragédias de Sêneca. Apesar de ter sua própria tradição, a helenização cultural
no séc.III a.C teve um profundo efeito no teatro dessa civilização, o que
estimulou o desenvolvimento de alta literatura para atuação. O historiador
Romano Lívio escreveu que a primeira experiência com teatro romano ocorreu
no século IV a.C., na performance de atores etruscos.
Nas encenações, quer a comédia, quer a tragédia romana, tinham
diferenças com os seus modelos gregos: insistiam mais no horror e na
violência no palco que era representada, grande preocupação com a moral,
discursos elaborados; mesmo do ponto de vista formal existiam diferenças (na
divisão em atos, no coro, etc). Nessa época também surgem as pantomimas e
os mimos, levando ao quase abandono das formas tradicionais do teatro.
As edificações teatrais de Roma apesar de seguir algumas
características do teatro Grego possuíam acessórios mais aperfeiçoados:
existia uma cortina de cena, trajes suntuosos e a machina que permitia fazer
descer dos céus os deuses e heróis.

4. Teatro Medieval

O teatro medieval foi produzido na era medieval (século V ao XV). O teatro


medieval pode ser classificado em duas vertentes: o teatro sacro, relacionado
aos temas religiosos, e o teatro profano, tal qual as farsas e os jograis, com os
temas de caráter popular, cômico e moralizante. Depois da queda do Império
Romano, a Igreja Católica controlava a vida dos cidadãos e o teatro foi
considerado uma arte profana e satírica e, por esse motivo, foi banido pela
Igreja até o século XII, quando ele começa a ressurgir na Europa. O modelo
teocêntrico define o teatro religioso nesse período.
Gil Vicente impulsionou a produção literária de sua época, revolucionando a
forma como assuntos religiosos e sociais eram tratados até então. Por sua
escrita inovadora, esse autor é considerado o pai do teatro moderno, uma vez
que só conhecemos o teatro como ele é hoje em razão da criatividade desse
português que abriu caminho para as novas produções literárias que surgiriam
com o Renascimento em Portugal. Os antecessores da produção vicentina são
as produções teatrais do período medieval, que se dividiam em Encenações
Litúrgicas e Encenações Profanas. As litúrgicas possuíam influência direta da
igreja e traziam como tema os ritos, o culto da religião católica e todas as
celebrações, sendo classificadas em mistérios, milagres e moralidades. Já as
profanas eram as encenações realizadas fora do templo religioso, tendo como
temas festas e vida popular, e eram classificadas em Farsas, soties, momos,
entremezes, sermão burlescos e éclogas. A obra de Gil Vicente é divida entre
Autos Pastoris, Autos de Moralidade, Farsas, Autos Cavalheirescos e Autos
alegóricos do tema profano. Por ser um autor que viveu no momento de
transição entre a Idade Média e o Renascimento, seu teatro era composto por
características medievais e também características modernas, trazendo para
as terras portuguesas a escrita teatral, característica moderna que não existia
na era medieval, já que o teatro era figurativo.
5. Teatro renascentista

O teatro renascentista surge no século XV até estende-se ao século XVI ou


até mesmo XVII e vem seguindo a decadência do teatro medieval pela perda
da força do teatro ligado à religião. As encenações eram cheias de ação e vigor
e o homem ocupava o lugar central na história. Neste período temos destaque
para a figura do bobo da corte, que articula as dúvidas e incertezas num
momento de transformação ideológica. Já o teatro erudito, imitando modelos
greco-romanos, era muito acadêmico, com linguagem pomposa e temática sem
originalidade.
A Commedia Dell’arte foi uma vertente popular do teatro renascentista.
Além de seu caráter popular ele era também itinerante, Seus atores se
apresentavam em locais públicos, sejam nas ruas ou praças. Os palcos eram
improvisados e o esquema de apresentação estava baseado na improvisação e
espontaneidade de seus atores.

6. Teatro Elizabetano

O teatro elisabetano ou isabelino (como é conhecido na Espanha) se refere


às obras dramáticas de autores ingleses, escritas e interpretadas na Inglaterra
durante a segunda metade do século XVI (1558) e o início do século XVII
(1603). o autor inglês não tinha a obsessão de buscar temas clássicos greco-
latinos, como assunto para suas peças (o que era natural na dramaturgia da
época), pois sabia que seu público estava interessado nos assuntos oriundos
da história da Inglaterra. Além disso, não havia uma separação entre o teatro
sério, de inspiração clássica, e o teatro popular. Grandes autores ingleses
trabalhavam com obras que deviam satisfazer gostos diversos.

7. Classicismo Francês

Nos anos 30 do século XVII, o teatro francês conheceu um período de


transição, pois sentiu-se a necessidade de voltar a cultivar o gosto clássico e
de afirmar uma elegância estética. As regras do teatro clássico nasceram,
assim, no seio da Academia Francesa, cujo primeiro objetivo passava por
verificar se os textos dramáticos apresentavam, efetivamente, essa elegância
da língua francesa e se obedeciam às regras do bom gosto, proporcionando
uma prática de literatura de e para uma determinada elite. Uma outra regra
basilar assentava na regra das três unidades, que outrora tinha sido criada por
Aristóteles na sua «Poética», ou seja, os textos tinham de obedecer à unidade
tempo, à unidade espaço e à unidade ação, conjugando nas suas obras uma
parte de fruição e de estética com uma ética que instruísse os leitores. Os
expoentes máximos deste período clássico foram Molière, Jean Racine e
Madame de La Fayette.

8. Teatro Romântico

O drama romântico, ou teatro romântico, refere-se a um movimento teatral


nascido no início do século xix, em oposição aos princípios da tragédia
clássica. É Victor Hugo que codifica no prefácio de Cromwell (1827) a estética
do teatro romântico na França. Ele divide a história literária em três grandes
períodos: tempos primitivos (harmonia entre homem e natureza, assim poesia
lírica), antiguidade (violência e poesia épica) e cristianismo (mistura de
gêneros). Victor Hugo baseia a estética romântica em cinco pontos cruciais:
reprodução da vida real (mistura de gêneros), rejeição do carcan clássico
(domínio de três unidades, propriedade, probabilidade), busca de uma grande
liberdade criativa, manutenção da versificação e pintura cor local (artificialismo
do teatro clássico).

As representações das peças do teatro romântico deram origem a


confrontos entre o “moderno” e o “clássico”. A figura de William Shakespeare é
reavaliada e uma maior liberdade criativa é proclamada. Neste contexto, um
novo gênero, o drama romântico, é criado. Isso finge ser um espelho no qual
toda a sociedade pode ser refletida. São obras que apresentam grandes
possibilidades cenográficas, que demandam novos efeitos cênicos e novos
maquinários.

9. Teatro Realista e naturalista

O teatro naturalista é um estilo teatral que surgiu na França no final do


século XIX e que se baseia na ideia de reproduzir a realidade de maneira fiel e
verdadeira, sem adicionar elementos artísticos ou estéticos. O teatro naturalista
busca representar a vida cotidiana de maneira precisa e realista, com atores
que se parecem com as personagens e cenários que reproduzem fielmente os
ambientes da vida real.
Já o teatro realista é um estilo teatral que também surgiu na França no
século XIX e que busca representar a realidade de maneira verdadeira e
precisa, mas adotando uma abordagem mais crítica e política. O teatro realista
também busca representar a vida cotidiana de maneira realista, mas com o
objetivo de denunciar as injustiças sociais e os problemas da época.

10. Teatro de Vanguarda

Expressão que designa todo o teatro que em determinada altura foi contra
as convenções vigentes da época, inovando dessa forma. O termo vanguarda
aparece no século XIX. Caracteriza-se como um fenómeno puramente burguês
do capitalismo e da situação socio-económica por ele criada. A vanguarda põe
em causa os valores, mas dentro de um grupo restrito de letrados, não sendo o
conjunto da sociedade considerado e dessa forma não participando nela. É
importante lembrar que toda a arte é um fenómeno social. Este é um termo
militar que deriva do francês avant-garde e significa a dianteira de um exército,
ou seja, a parte do exército que marcha à frente do grosso das tropas, na
primeira linha. É feito um uso metafórico dessa palavra, ao aplicá-la a uma
escrita que mostre evidentes inovações no estilo, forma e assunto. Em todas as
épocas, a vanguarda é como que um ataque frontal, muitas vezes organizado,
às formas e tradições literárias estabelecidas no seu tempo. Ela visa a
destruição do adversário, tornando irreconhecíveis os traços que o especificam.
No século XX, a mudança mais importante acontece na figura do
encenador. Este é a figura central, ultrapassando em importância, a figura do
dramaturgo. É possível ver a inovação nos cenários e palcos, passando estes a
ser em locais pouco convencionais, como é o caso de circos e fábricas. Há um
maior destaque para a iluminação, sendo esta explorada até aos limites, pela
tecnologia.
As primeiras peças a serem consideradas como teatro de vanguarda,
foram, no entanto, as dos artistas russos das três primeiras décadas do século
XX. Esta vanguarda artística acreditava que poderia criar um local onde as
suas utopias pudessem existir. Procuravam novas formas que expressassem
as novas realidades da vida soviética e faziam-no em todos os ramos da arte.
O teatro era, sem dúvida, o melhor meio para estes artistas realizarem a sua
visão de síntese de todas as artes. Isto é, em parte, devido à forte ligação que
os russos sempre tiveram com o teatro. Os palcos, as cortinas e os fatos
utilizados eram muitas vezes criados em colaboração com produtores como
Vsevolod Meyerhold, utilizando ideias construtivistas. É com a companhia
teatral de Meyerhold, e o seu afastamento do realismo, que se começa a
pesquisar inovações teatrais ao nível corporal e espacial. Há uma preparação
física intensa por parte dos actores, dentro de um método que Meyerhold
denominará de biomecânica. Além desta inovação, ele vai também recorrer ao
simbolismo e às formas cénicas populares (teatro de feira, music-hall, circo,
pantomina) de forma a produzir uma nova e desejada teatralidade. Cria
cenários que sugerem engrenagens de máquinas, andaimes, trapézios e,
também, um guarda-roupa apropriado a tais inovações. Meyerhold parte do
princípio que toda a relação humana e consequente conduta, expressa-se
através de olhares, passos e atitudes e não de simples palavras. Assim, o
corpo seria a “linguagem” por excelência, nas suas encenações. Esta
introdução de novos e absurdos elementos, criando quebras lógicas, tinha o
objetivo de reestruturar e reorientar a realidade.
É só mais tarde, após a segunda guerra mundial, que volta a estar em
voga o chamado teatro de vanguarda. O autor de vanguarda é avançado em
relação ao tempo em que se insere, é revolucionário pela sua forma de pensar
e escrever, e é sobretudo revolucionário pela sua concepção de teatro. Sabe
que as suas peças não serão aceites por todas as pessoas, mas ele escolhe o
seu próprio público. Ele é uma excepção no movimento artístico e intelectual do
seu tempo. O problema desta nova vanguarda reside no facto de se ter limitado
a um público específico (os intelectuais). Porém, Sanguinetti afirma que a nova
vanguarda é um problema de mercado e não um problema político ou de
classes. É necessário que haja uma política cultural que seja capaz de
propiciar o encontro entre massas e arte. As massas não entendem esta
vanguarda porque estão imersas numa sociedade de alienadas ideologias. É
por essa razão que não se reconhecem na obra que pretende representar a
sua própria condição. Assim, teatro de vanguarda em vez de abrir caminhos,
cria apenas labirintos pois não fornece indícios para a sua interpretação.

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