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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE


HISTÓRIA DAS ARTES – TEATRO / PROFESSORA HELENA PEDRA

8 - Naturalismo e Realismo

O naturalismo Francês logo influenciou o resto da Europa, possibilitando o


surgimento de grandes nomes do teatro mundial. O realismo francês teve início após
a encenação de “A Dama das Camélias” de Alexandre Dumas (1852). Essa peça
conta à história de uma cortesã que é regenerada pelo amor, dando ao público a
constatação de um mundo real, observado, sem fantasiosas e lúdicas vivências, e
sim, do dia a dia que explica o comportamento dos personagens apresentados. A
concepção realista de que o homem é fruto do meio começou a ser explorada no
teatro francês e logo ganhou o mundo.

Um dos mais aclamados artistas dessa época é o polêmico Marquês de Sade, que,
com uma temática picante e extremamente ousada, rebelou-se contra os
paradigmas sociais da burguesia francesa, tornando-se um sério problema para a
corte do imperador, que mandou prendê-lo num sanatório para não mais propagar
suas magistrais e insanas obras.

O sueco August Strindberg (1849 – 1912) foi autor dos primeiros dramas desse novo
gênero, entre eles: “Senhorita Júlia” e “O Pai” . Esse autor também escreveu outros
clássicos, porém adotando outros estilos literários: “O Sonho” é uma peça
expressionista e “O Caminho de Damasco” tem um estilo simbolista.

Na Rússia, surgia Nicollai Gógol (1809 – 1852), que foi substituído à altura
Por Anton Tchekhov (1860 – 1904), médico e dramaturgo que tinha em outro
naturalista, o seu compatriota Dimitre Grigorovitch, um famoso romancista, sua fonte
de inspiração e de reconhecimento. Em uma carta, Dimitre diz ao ainda jovem
Tchekhov: “... desde que li seu primeiro conto na Gazeta de Petersburgo, fiquei
surpreendido pelos sinais de uma originalidade bem particular, pela verdade das
personagens e pelas descrições da natureza”. Tchekhov escreveu pérolas como “A
Estepe”, “Tio Vânia”, “As Três Irmãs”, entre outros.

No fim do século XIX, surgiu a concepção do ator personalista, isso é, o ator que
representa a força dramática do espetáculo teatral. Assim, as obras teatrais
começaram a correr o mundo, tendo como grande objeto de marketing a fama e a
credulidade de grandes estrelas, como o mito Sarah Bernhardt na França e o ator
romântico João Caetano (1808 – 1863) no Brasil. Foi no começo do século XX que o
diretor começou a ser visto como o coordenador geral do espetáculo, cabendo a ele
a supervisão dos atores, dos elementos cênicos, a escolha da peça a ser encenada
e seu público alvo. A função do diretor é manter o equilíbrio de todos os elementos
cênicos, preocupando-se com o ritmo do espetáculo, esclarecendo suas concepções
a respeito da peça teatral e a forma de se abordar o tema.

E foi à partir das concepções inovadoras de Émile Zola (1840 – 1902), que propôs a
exploração da realidade nos textos artísticos, que surgiram no cenário mundial
vários teatrólogos que, buscavam preencher os vazios deixados por Aristóteles em
sua Poética. Dessa forma, nasceram várias teses teatrais que se propunham a
criticar, analisar a sociedade pelo viés dramático e expor para o público não apenas
uma peça de teatro, mas uma obra psicológica, filosófica, que buscavam elaborar
um conhecimento científico a respeito da realidade. O norueguês Henrik Ibsen (1828
– 1906), inspirado na filosofia naturalista foi quem propôs pela primeira vez que
certos traços realistas fossem inseridos nos teatro da época. Nicolai Gógol propôs o
realismo nas concepções teatrais russas, sendo que essa prerrogativa foi aceita por
Tchekhov trinta anos após a morte de Gógol. Foi nos Estados Unidos, porém, que o
Realismo viveu seus momentos áureos, com dramaturgos geniais, como Tennessee
Williams e Arthur Miller, que condicionavam a cultura americana e o cotidiano de sua
gente ao Realismo crítico.

No Brasil, o maior defensor do realismo foi Machado de Assis, que, aos vinte anos
de idade, escrevendo num jornal de grande circulação do Rio de Janeiro lançou
“Idéias Sobre Teatro”, onde criticava abertamente o Romantismo e referia-se ao
Realismo com grande admiração, defendendo um encontro maior da massa com o
teatro, argumentando que o teatro não deveria ser somente um objeto de
entretenimento e sim um local para ampla discussão a respeito das questões sociais
do país: “O teatro é para o povo o que o Coro era para o antigo teatro grego, uma
iniciativa de moral e civilização”, elucidou o escritor.

No Brasil, o Realismo foi muito bem representado por José de Alencar com “O
Demônio Familiar” e “As Asas de um Anjo”, Joaquim Manuel de Macedo com “Luxo
e Vaidade” e Pinheiro Guimarães com “História de uma Moça Rica”. Esse gênero
resgatou a razão dentro do processo naturalista, endossando que o homem é fruto
de seu meio. O detalhe é fundamental nas concepções realistas, além da visão do
homem como um ser comum, ou seja, parte da natureza. A crítica é uma marca das
obras realistas, que abordam os temas de maneira sempre objetiva, buscando ao
máximo elucidar o receptor.

O Realismo, dentro de seu contexto histórico, rebateu as conotações românticas,


que propunham a super valorização do herói, do índio e do homem mitológico, além
de refutar o teocentrismo barroco que propunha um cultismo cego em relação à
religiosidade. O Realismo porém seria desnudado no auge do modernismo, que
trouxe no Brasil uma visão mais democratizada de sua gente, quebrando com os
padrões estéticos europeus característicos no Realismo. Os dramaturgos realistas
brasileiros buscavam compreender sua burguesia à partir de seus atos, revelando
mazelas como prostituição, cobiça e traição, com temáticas moralistas, que
procuravam ditar regras de bons costumes para as tradicionais famílias no país.

O realismo brasileiro foi intensamente influenciado pelo realismo francês, o que


acarretou em duas idas de Sarah Bernhardt ao país. O teatro realista francês era
composto por um grupo seleto de dramaturgos que buscavam descrever a vida nas
ruas de Paris e buscar soluções para os problemas existentes, como a prostituição,
tema abordado em “Les Filles de Marbre” (“As Mulheres de Mármore”), de Théodore
Barrière e Lambert Thiboust, peça que busca racionalizar a vida social do país, além
de sugerir um caminho considerado ideal para o combate do lenocínio. Desses
mesmos autores, as famosas peças “A Herança do Sr. Plumet” e “Os Hipócritas”
estrearam no Rio de Janeiro em 1855, causando grande furor por parte do público,
com o texto traduzido para o português.

Nessa mesma década, passaram pelos teatros do Rio ainda peças de Feuillet, como
“Dalila” e de Augier, como “As Leoas Pobres”. Ziembinski, que muito contribuiu para
o teatro brasileiro, ficou famoso por adequar o realismo em seus espetáculos
expressionistas. Sobre Ziembinski, elucida Décio de Almeida Prado após ter
assistido Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, montada pelo famoso diretor : “As
cenas desenroladas no plano da alucinação são jogadas num estilo francamente
expressionista, que viola deliberadamente a realidade, para conseguir maior efeito
plástico e dramático, em contraste com as cenas de memória, já mais próximas do
quotidiano, e, ainda mais, com as cenas no plano da realidade, que chegam até o
naturalismo perfeito...”
 

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