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Nos primórdios da dramaturgia 

mundial encontramos a tragédia ática encenada na Grécia


Antiga, que tinha produções embasadas nos antigos mitos de criação, com conflitos entre o mal
que induz o ser humano e a sua vontade consciente, além da poética de Aristóteles.
Em solo brasileiro as primeiras manifestações culturais aconteceram no século XVI com os
jesuítas que, com o intuito de catequizar, escreviam e apresentavam peças teatrais em praças,
colégios e igrejas, em especial os autos consagrados à vida dos santos, destacando-se o padre
José de Anchieta. Após um século XVII escasso de manifestações teatrais, o século seguinte
trouxe um teatro regular, com o surgimento das casas de espetáculos, além de empresas e
elencos estáveis, porém com grande impacto do teatro italiano e francês, destacou-se Antônio
José que com suas comédias e tragicomédia teria grande relevância na formação do teatro
brasileiro. No século XIX alguns fatos políticos influenciaram a busca por uma identidade
brasileira no teatro, em 1833 foi criado o primeiro elenco dramático brasileiro e a primeira
regulamentação teatral, o que de contrapartida trouxe a primeira censura no teatro com o
Conservatório Dramático sendo implantado em 1843.
O Romantismo trouxe um teatro deliberado e intensamente nacionalista, iniciado com a tragédia
de Antônio José, de Gonçalves de Magalhães e também com Martins Pena que trouxe a
comédia de costumes brasileira.
Com a diversidade de gêneros; comédia, drama e tragédia se sobressaiu Gonçalves Dias, houve
então uma renovação e uma nacionalização da dramaturgia, quando foi eliminada das peças
teatrais a fala portuguesa e diretrizes de representação foram fixadas, principalmente pela
dedicação do ator João Caetano. Dois grandes autores do Romantismo passaram a escrever para
o teatro a partir de 1850, José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo, que com um apelo à
uma estética e uma essência brasileira na temática e na produção, começaram a disputar o gosto
do público com as produções estrangeiras.
A experiência realista surgiu em 1855 até os anos iniciais do século XX com os “dramas de
casaca” e a preocupação com a “verdade” na arte, a Ópera Lírica Nacional foi fundada em 1857,
além da primeira Escola de Arte Dramática em 1861 no Rio de Janeiro e a comédia de costumes
continuou presente e forte e tinha em França Júnior um novo e grande autor. Muitos autores e
obras apareceram também em outros gêneros, com destaque ao produtivo Coelho Neto, mas a
nacionalização e a criação de uma estética brasileira chegou ao seu ápice com Artur Azevedo,
com o crescimento da comédia e do gênero “revista” com o lançamento em 1884 de “O
mandarim”, e muitas outras vieram depois, o que trouxe ao teatro um público popular.
Entre 1900 e 1930, a comédia de costumes continuou forte com o “teatro ligeiro”, que por não
ter uma definição estilística e formal, levou os críticos falar em decadência da dramaturgia
nacional. Em São Paulo a crescente industrialização trouxe o teatro anarquista, com a
influência dos imigrantes italianos, se tornaram representante das lutas políticas entre 1917 e
1920.
Na Europa aconteciam movimentos estéticos de renovação que reverberavam na literatura e nas
artes plásticas aqui no Brasil como por exemplo: “A Semana de Arte Moderna” em 1922, porém
o teatro se mantinha distante deles e dos acontecimentos políticos da implantação da República,
retratados na literatura com “A Guerra de Canudos” de Euclides da Cunha e em “A vida dos
marginalizados” de Lima Barreto.
É necessário ressaltar o esforço individual por renovação de Joracy Camargo com ^Deus lhe
pague”, que trazia uma ideia marxista, de Renato Viana com “Sexo, que incorporava teses
freudianas e também Oduvaldo Vianna que trouxe “Amor”, que apontava um tema um tanto
quanto polêmico para a época, o divórcio.
Flávio de Carvalho com seu Teatro de Experiência trouxe a controversa peça “ O baile do deus
morto” em 1933, que criticava o poder e suas implicações, à moral e à religião, foi fechado pela
polícia na terceira apresentação, mesmo assim influenciou “ A morta” e “ O rei vela” de Oswald
de Andrade em 1937.

O teatro crescia no Brasil com os grupos amadores e com as formas de teatro experimental,
após a criação do órgão governamental “Serviço Nacional do Teatro em 1937º número de
escolas de arte dramática se multiplicou em todo o país.

O “Estado Novo” (uma ditadura civil) foi implantado por Getúlio Vargas entre 1937 e 1945,
nesse período um grupo formado por profissionais liberais e personalidades da sociedade
encenou “ O vestido de noiva” de Nelson Rodrigues em 1943, que tinha a direção de Brutus
Pedreira e Santa Rosa e essa peça foi considerada o início da modernidade e algum tempo
depois em São Paulo um grupo de italianos montou O Teatro Brasileiro de Comédia em 1946
(TBC), que alternou entre montagens clássicas e comerciais com um elenco fixo de 15 atores, o
que iniciou a moderna indústria do espetáculo e contribuiu para a renovação técnica do teatro.

Durante um seminário de dramaturgia em 1953 surgiu o Teatro de Arena com uma nova estética
que lançou vários novos autores, entre eles estão: Vianninha, Roberto Freire, Guarnieri,
Benedito Rui Barbosa, Chico de Assis, além de um Laboratório de Interpretação, que trabalhava
as características brasileiras dos personagens na cena, incluindo uma nacionalização de
clássicos. O Teatro de Arena repercutiu em um grupo amador de estudantes da Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (USP), que criou o o Teatro Oficina em 1958, que tinha a
preocupação de estudar a formação cultural do país e investigar a estrutura do capitalismo e suas
repercussões socioculturais.

Com a ditadura implantada com o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart em
1964, aconteceu um episódio chamado de “o palco amordaçado”, que era o título de um livro de
Yan Michalski, não só por causa da censura, mas também devido ao fechamento de teatros,
além das prisões, torturas e “desaparecimento” de autores, atores e diretores. As obras que
conseguiam chegar ao palco recorriam ao grotesco, à hipérbole, às metáforas, ou apenas
refletiam a passividade e conformismo de uma classe burguesa que se distraía com a própria
reprodução degradada de seus valores.

Naa década de 1980, após a chamada “abertura política”, o experimentalismo e a investigação


fizeram surgir uma nova onda de diretores, gerando uma fragmentação estética de múltiplas
direções, mas com uma saudável preocupação com a linguagem teatral dramática e cênica e não
só no eixo Rio-São Paulo, mas por todo o Brasil.

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