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1927
1938
Como grande incentivador da atividade teatral, Paschoal Carlos Magno cria o Teatro
Duse no porão de sua casa, no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Pelo pequeno
teatro de cem lugares, passa boa parte dos grupos de estudantes e amadores da época.
Paschoal Carlos Magno escreve sobre a criação do TEB: "Eu tinha chegado da Europa e
via aqui a situação melancólica do teatro brasileiro, um teatro sem muita orientação
técnica, representado por atores e atrizes sem a menor preparação. Digo melancólico,
porque havia uma crescente ausência de público e um número cada vez maior de
companhias que multiplicavam seus frágeis esforços, suas energias, sem encontrar eco
por parte da platéia e da imprensa. (...) percebendo que nada se pode fazer nesse país
sem o apoio dos estudantes, apesar da má vontade de algumas autoridades de ontem, de
hoje e de sempre, percebendo que nada se pode fazer aqui sem a participação dos
moços, (...) reuni, na casa de minha mãe, dezenas de jovens planejando criar o Teatro do
Estudante do Brasil".
1943
Um ano depois, Vestido de Noiva, de estrutura mais complexa, iria revolucionar o teatro
brasileiro. A montagem foi realizada sob a direção do polonês Zbigniew Marian
Ziembinski, que chegara ao Brasil cerca de dois anos antes. Experiente encenador,
Ziembinski deu forma ao texto de Nelson. Seu rigor na encenação, com a exigência de
ensaios constantes, levou a concepção brasileira de teatro a novos níveis.
A grande tensão que permeia a peça não se mostra apenas no antagonismo entre Alaíde
e Lúcia, mas nas relações conflitantes entre todos os personagens. Nas cenas, a angústia
da culpa supera sempre os tons de ternura amorosa com que geralmente são
apresentados os laços familiares. As relações de desejo são também relações de ódio.
A peça configura uma crítica cáustica a determinada classe da sociedade carioca. Tal
como ressalta o crítico Ronaldo Lima Lins: “Vestido de Noiva movimenta seu drama
dentro de um círculo fechado. Ali está uma peça cujos problemas se passam no nível da
pequena burguesia, que a aplaudiu e lhe deu notoriedade”. Nessa maneira velada de
ação, está o êxito do teatro de Nelson Rodrigues: agradar a sua plateia, ao mesmo tempo
em que a insulta.
Após a montagem de uma peça amadora de sua autoria, em 1945, o empresário italiano
Franco Zampari aproxima-se cada vez mais do movimento amador existente em São
Paulo. Como havia escassez de salas disponíveis para as apresentações, ele toma a
iniciativa de fundar o Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, alugando um edifício no
bairro da Bela Vista e transformando-o em confortável teatro, estruturado em moldes
industriais de produção. No mesmo espírito são criados o Museu de Arte de São Paulo
Assis Chateaubriand (Masp), num empreendimento de Ciccillo Matarazzo (1898-
1977) e, logo a seguir, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
A estréia do TBC dá-se em 1948, com as apresentações de La Voix Humaine, de Jean
Cocteau, por Henriette Morineau (1908-1990), em francês, e A Mulher do Próximo,
de Abílio Pereira de Almeida (1906-1977), pelo Grupo de Teatro Experimental (GTE),
dirigido por Alfredo Mesquita (1907-1986). Seguem-se outras produções de amadores
até que, em 1949, o conjunto se profissionaliza, lançando Nick Bar...Álcool,
Brinquedos, Ambições, de William Saroyan, sob a direção de Adolfo Celi (1922-1986).
A contratação do encenador italiano, formado pela Academia Nacional de Arte
Dramática de Silvio D'Amico, é decisiva para o futuro da companhia. Com Celi, o
elenco permanente inicia um longo aprendizado técnico e artístico, submetendo-se às
exigências de uma montagem moderna, esteticamente sofisticada.
Em 1952, a montagem mais bem acabada é Antígone, uma versão de Adolfo Celi que
une a tragédia clássica de Sófocles e a versão moderna de Jean Anouilh num programa
duplo.
No ano seguinte, são montadas Divórcio para Três, uma comédia de Victorien Sardou,
sob a direção de Ziembinski, e Treze à Mesa, de Marc-Gilbert Sauvajon, que marca o
retorno de Ruggero Jacobbi à direção de espetáculos na casa e a estréia do
jovem Antunes Filho (1929), como assistente de direção da montagem. Assim É.(Se Lhe
Parece), de Luigi Pirandello, direção de Luciano Salce, reconduz o conjunto ao sucesso
e é considerado pelo crítico Décio de Almeida Prado (1917-2000) como "o melhor
espetáculo que o TBC apresentou até hoje". Com Uma Certa Cabana, que marca a
entrada de Tônia Carrero (1922) no conjunto, Franco Zampari tenta atrair um público
mais amplo para suas realizações. Ao término de 1953, o TBC é um empreendimento
artisticamente consolidado, mas amarga dívidas e registra alguns afastamentos, como os
de Madalena Nicoll, Leonardo Villar (1923), Ruy Affonso e Elizabeth Henreid. O casal
Sergio Cardoso e Nydia Licia sai para fundar sua própria companhia, a Companhia
Nydia Licia-Sergio Cardoso.
Ainda nesse ano, Cacilda Becker sai do conjunto, levando consigo Walmor Chagas,
para fundar o Teatro Cacilda Becker (TCB).
Integram o GTE, entre outros, Maurício Barroso, Abílio Pereira de Almeida, Caio
Cayubi, Marina Freire, Nydia Licia, Irene Bojano, Ruy Affonso, Carlos Vergueiro,
Paulo Magalhães, Lygia Fagundes Telles e Jean Meyer, nas várias fases do grupo.
Sobre a dedicação integral do diretor artístico ao GTE, recorda o ator Carlos Vergueiro:
"É impressionante como, trabalhando com um grupo bastante indisciplinado, sem
conhecimento algum da arte teatral, Alfredo conseguia transmitir estilo de
representação, ritmo de falas e de espetáculo, sempre à testa de tudo, desde a escolha
das peças, 'leituras de mesa', marcações, tudo. Ia pessoalmente verificar a execução das
roupas, ensinava os rapazes e moças a andar, a sentar, a gesticular à antiga ou à
moderna, enfim, era o 'faz-tudo' do GTE. Com Alfredo Mesquita, embora trabalhando
com amadores, o teatro brasileiro ganhou dignidade. Em 1946 conseguiu montar nada
mais nada menos do que Shakespeare! As Alegres Comadres de Windsor - mais uma
tradução de Esther Mesquita, foi levada à cena no Teatro Municipal, sempre, não se
pode dizer 'direção geral' mas 'direção total' de Alfredo Mesquita".1
Grupo criado dentro da Universidade de São Paulo sob a direção artística de Décio de
Almeida Prado, é uma das raízes do Teatro Brasileiro de Comédia, juntamente com
o Grupo de Teatro Experimental, de Alfredo Mesquita.
Evidenciando sua irreverência para com Décio de Almeida Prado e Lourival Gomes
Machado ligados à revista Clima, Oswald de Andrade comenta: "Os chato-boys estão de
parabéns. Eles acharam o seu refúgio brilhante, e sua paixão vocacional, talvez. É o
teatro. Funcionários tristes da sociologia, quem havia de esperar desses parceiros dum
cômodo sete-e-meio do documento aquela justeza grandiosa que souberam imprimir
ao Auto da Barca de Gil Vicente, levado à cena em nosso teatro principal? Honra aos
que tiveram a audaciosa invenção de restaurar no palco um trecho do Shakespeare
lusitano, com os elementos nativos que possuíam. Os Srs. Décio de Almeida Prado,
Lourival Gomes Machado e Clóvis Graciano, secundados pela
pequena troupe universitária, ficam credores de nossa admiração por terem realizado
diante do público um dos melhores espetáculos que São Paulo já viu".1
1953
Fundação do Teatro de Arena de São Paulo, por José Renato. A princípio apenas uma
tentativa de inovação espacial, acaba sendo responsável pela introdução de elementos
renovadores na dramaturgia e na encenação brasileiras. A montagem de Eles Não
Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1958, introduz a luta de classes como
temática. Sob a liderança de Augusto Boal, o Arena forma novos autores e adapta
textos clássicos para que mostrem a realidade brasileira. Chega à implantação do
sistema curinga, no qual desaparece a noção de protagonista, em trabalhos como
Arena Conta Zumbi (1965) e Arena Conta Tiradentes (1967), que fazem uma revisão
histórica nacional. O Arena termina em 1970.
1958
Década de 60
Uma vigorosa geração de dramaturgos irrompe na cena brasileira nessa década. Entre
eles destacam-se Plínio Marcos, Antônio Bivar, Leilah Assumpção, Consuelo de Castro
e José Vicente.
Plínio Marcos de Barros (Santos, São Paulo, 1935 - São Paulo, São Paulo, 1999).
Autor. Renovador dos padrões dramatúrgicos, através de enfoque quase naturalista que
imprime aos diálogos e situações, sempre cortantes e carregados de gírias de
personagens oriundas das camadas sociais periféricas, torna o palco, a partir dos anos
1960, uma feroz arena de luta entre indivíduos sob situações de subdesenvolvimento.
Fervoroso defensor dos seus direitos, Plínio envolve-se em agudo debate, transmitido
pela TV, com a deputada Conceição da Costa Neves, no qual advoga pela sua liberdade
de expressão. Já é um nome nacional e, como articulista do jornal Última Hora, dispõe
de uma tribuna para arremeter contra a censura e a ditadura.
Sua vida insubmissa, seus textos desbocados e cheios de fúria, sua teimosia em não
aceitar cortes, em não negociar com a Censura, levam à proibição de toda sua obra.
Proclama-se um "autor maldito", sempre que tem a oportunidade de fazer
pronunciamentos públicos.
Plínio deixa grande número de obras inéditas, como O Bote da Loba, 1997, além de
peças infantis (As Aventuras do Coelho Gabriel, 1965; O Coelho e a Onça,
1988; Assembléia dos Ratos, 1989). É o autor dos roteiros cinematográficos Rainha
Diaba, filme de Antônio Carlos Fontoura realizado em 1971, e Nenê Bandalho, filme de
Emílio Fontana, de 1970. Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja ganham
versões cinematográficas de Braz Chediak, em 1969 e 1970, respectivamente. Em 1997,
Neville de Almeida volta a filmar Navalha na Carne e José Jofilly prepara uma nova
versão para as telas de Dois Perdidos, ainda em processo de produção. Em 1968, com
sua atuação na novela Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, Plínio alcança projeção
nacional como ator. Recebe o Prêmio Molière de melhor autor por Navalha na
Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja, nos anos em que são lançadas, além do
Golfinho de Ouro como personalidade, em 1971. Casa-se com a atriz Walderez de
Barros e é pai do também dramaturgo Léo Lama
Como outros artistas brasileiros exilados, viaja em 1970 para a Inglaterra. A experiência
é retratada no livro Verdes Vales do Fim do Mundo (1984).
De volta ao Brasil, trabalha como diretor musical em shows de Maria Bethânia (1946)
e Rita Lee (1947). Em parceria com Alcyr Costa, escreve Gente Fina é Outra
Coisa (1976), encenada no Teatro de Arena. Redige Quarteto (1977) para celebrar os
50 anos de carreira do ator e encenador polonês radicado no Brasil, Ziembinski (1908-
1978).
O principal assunto tratado em suas peças é a mulher e sua situação na sociedade. Suas
obras exploram a falta de questionamento feminino por parte da própria mulher, além de
criticar a composição da sociedade moderna e capitalista, onde o mais importante é o
dinheiro e as aparências.
Sua estreia dá-se em 1969, em São Paulo, com a peça Fala Baixo Senão Eu Grito,
dirigida por Clóvis Bueno, e premiada com o Prêmio Molière e o da APCT (Associação
Paulista de Críticos Teatrais). O material permite a Marília Pêra brilhar no papel de uma
solteirona perpassada por recalques e frustrações que empreende libertária, divertida e,
às vezes, cruel viagem existencial, guiada por um homem que invade seu quarto. A peça
teve, desde então, dezenas de montagens no Brasil e no exterior. Sua segunda
criação, Jorginho, o Machão, novamente com direção de Clóvis Bueno, em 1970, traz
um protagonista masculino. Não possui os méritos da obra anterior, mas confirma
qualidades, destacando, através de monólogos interiores, a fuga para a evasão onírica.
Avaliando o conjunto da produção de Leilah Assumpção, o crítico Yan Michalski diz:
"uma das personalidades mais fortes da geração de autores que veio à tona no fim dos
anos 60 - e também uma das mais censuradas, nos anos do regime autoritário -, Leilah
tem preservado, na sua trajetória, uma apreciável coerência, criando alguns dos mais
fortes personagens femininos da dramaturgia nacional dessas duas décadas; personagens
que defendem altivamente os seus direitos e a sua condição de mulheres, através de uma
linguagem na qual a veemência, o colorido coloquial e o humor se fundem para criar
uma poética muito pessoal".
O seu segundo texto, primeiro a ser encenado, é À Flor da Pele, de 1969, agudo debate
que confronta uma jovem atriz e seu professor envolvidos num caso de amor
tumultuado. Ela emotiva e libertária; ele ranzinza e conservador. Em três atos, evidencia
invejável poder de concentração nos diálogos e na situação conflituosa criada. A peça
ganha várias montagens em todo o Brasil, recebendo o Prêmio da Associação Paulista
de Críticos Teatrais (APCT).
Na década de 1980, a autora parte para novos formatos dramáticos, menos realistas e
socialmente empenhados, como havia realizado na produção anterior. Louco Circo do
Desejo coloca em posições antagônicas e conflituosas uma jovem prostituta e um rico
empresário, na qual o sexo não aplaca as diferenças entre eles, mas permite-lhes o sonho
de uma momentânea escapada. Na inédita Script-Tease, de 1985, Consuelo almeja uma
espécie de autocrítica, num complexo e ambicioso painel que coloca uma personagem
de 20 e outra de 40 anos envolvidas com a redação de uma tenebrosa novela de TV. A
frustração afetiva, de um lado, e as duras exigências de sobrevivência, de outro,
fornecem alento para o debate, sempre denso mas muito ágil. Igualmente inéditas
permanecem suas obras mais recentes, Marcha à Ré, escrita com o coreógrafo Emílio
Alves, de 1989, uma versão muito pessoal do mito de Orfeu e Eurídice, que aprofunda
uma incursão mais poética e abstrata do que um enredo convencionalmente construído;
e, na seqüência, surge Mel de Pedra, texto curto e inédito, em que a autora busca
sintetizar o abismo existente entre sonho e realidade. Para a bailarina Clarice Abujamra
escreve roteiro de dança-teatro, Uma Caixa de Outras Coisas, espetáculo de 1987,
dirigido por Antônio Abujamra (1932-2015).
José Vicente de Paula (Alpinópolis MG 1945 - São Paulo SP 2007). Autor. Dramaturgo
síntese dos anos 70, retrata a rebeldia e poesia intrínsecas à geração da contracultura.
Hoje É Dia de Rock, mais uma direção de Ivan de Albuquerque produzida, em 1971,
pelo Teatro Ipanema, torna-se o maior sucesso do grupo, em cartaz por dois anos com
lotação esgotada. Essa peça, verdadeira celebração coletiva que, no dizer de Mariângela
Alves de Lima, propunha indiretamente "a utopia de um reino livre, o reino interior de
cada ser humano onde é possível exercer-se",1 José Vicente faz uma espécie de
autobiografia lírica. No estilo do realismo fantástico de Gabriel García Márquez, fala de
uma terra paradisíaca e da desagregação da comunidade que lá vivia, trazendo ecos de
sua própria infância. O texto lhe propicia o segundo Moliére. Com grande empatia pela
dramaturgia de José Vicente, o Teatro Ipanema ainda encenará Ensaio Selvagem,
dirigido por Rubens Corrêa, em 1974, e A Chave das Minas, novamente com direção
de Ivan de Albuquerque, em 1977.
1964
Surge o grupo ¨Opinião¨ no Rio de Janeiro. Grupo carioca que centraliza, nos anos
1960, o teatro de protesto e de resistência, núcleo de estudos e difusão da dramaturgia
nacional e popular.
Imediatamente após o golpe militar de 1964, um grupo de artistas ligados ao Centro
Popular de Cultura da UNE - CPC (posto na ilegalidade) reúne-se com o intuito de criar
um foco de resistência à situação. É então produzido o show musical Opinião, com Zé
Kéti, João do Vale e Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia), cabendo a
direção a Augusto Boal, do Teatro de Arena paulistano. A iniciativa conhece o sucesso
instantâneo, que contagia diversos outros setores artísticos (uma exposição de artes
plásticas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ,
denominada Opinião 65, surge em decorrência), e aglutina artistas dispersos ligados aos
movimentos de arte popular. O show se apresenta no Rio de Janeiro, estreando em 11 de
dezembro de 1964, e marca o nascimento do grupo, que virá a se chamar Opinião.
Entre 1966 e 1967, o grupo dedica-se a um seminário interno de dramaturgia, na
tentativa de encontrar novos modelos dramatúrgicos para flagrar a nova realidade
instaurada pelo regime militar. Nele, são discutidas obras como Moço em Estado de
Sítio, de Oduvaldo Vianna Filho, Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, de Ferreira Gullar
e Dias Gomes e O Último Carro, de João das Neves, montadas posteriormente em
contextos diversos.
Década de 70
Com o acirramento da atuação da censura, a dramaturgia passa a se expressar por
meio de metáforas. Apesar disso, Fauzi Arap escreve peças que refletem sobre o
teatro, as opções alternativas de vida e a homossexualidade. Surgem diversos grupos
teatrais formados por jovens atores e diretores. No Rio de Janeiro destacam-se o
Asdrúbal Trouxe o Trombone, cujo espetáculo Trate-me Leão retrata toda uma
geração de classe média, e o Royal Bexigas Company, com a criação coletiva O Que
Você Vai Ser Quando Crescer; o Pessoal do Vítor, saído da EAD, com a peça Vítor, ou As
Crianças no Poder, de Roger Vitrac; o Pod Moninga, constituído por alunos de Naum
Alves de Souza, que se lançam profissionalmente com a montagem coletiva Follias
Bíblicas, em 1977; o Mambembe, nascido sob a liderança de Carlos Alberto Soffredini,
de quem representam Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu; e o Teatro do Ornitorrinco,
de Cacá Rosset e Luís Roberto Galizia, que inicia sua carreira nos porões do Oficina, em
espetáculos como Os Mais Fortes e Ornitorrinco Canta Brecht-Weill, de 1977.
1974
Após a invasão do Teatro Oficina pela polícia, Zé Celso parte para o auto-exílio em
Portugal e Moçambique. Regressa ao Brasil em 1978, dando início a uma nova fase do
Oficina, que passa a se chamar Uzyna-Uzona.
1978
Gerald Thomas Sievers (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1954). Diretor. Polêmico
encenador, criador de uma estética elaborada a partir do uso diferenciado de cada um
dos recursos teatrais e orientada pelo conceito de "ópera seca", Gerald Thomas renova a
cena brasileira nas décadas de 1980 e 1990.
A carreira de Gerald Thomas tem início em Londres. Depois vai para Nova York e
trabalha no La MaMa, espaço dedicado a encenações experimentais de todo o mundo,
onde produz três espetáculos consecutivos, com textos de Samuel Beckett. Desde o
primeiro projeto, Thomas visa uma proposta teatral na qual a identificação emocional
seja suprimida, dedicando-se a mostrar o pensamento como processo, e o processo
como tempo e espaço da cena.
Elemento recorrente de suas produções, a voz gravada do diretor comenta, em off, a
ação. Em alguns espetáculos, essa função se duplica, o protagonista funciona como um
porta-voz do diretor. A trajetória de Gerald Thomas como diretor está também marcada
por longas parcerias, com a cenógrafa Daniela Thomas, criando ambientes hipotéticos e
mutáveis, como a biblioteca da Trilogia Kafka, e com a atriz Bete Coelho, protagonista
de seguidas encenações, admirada por sua capacidade de sintetizar em sua atuação o
exagero e a crítica, a dramaticidade e o distanciamento, princípios cênicos da
interpretação valorizados pelo diretor. A Trilogia Kafka, 1988, uma interpretação livre
dos textos do escritor tcheco Franz Kafka, encenada em São Paulo, confere ao diretor o
Prêmio Molière. A pesquisadora Sílvia Fernandes analisa o papel preponderante da luz
na encenação, segundo o qual "a iluminação transformava o espaço cênico num lugar
mutante, onde as cenas curtas eram decupadas pela rapidez dos cortes bruscos,
resultando em imagens intermitentes que lembravam filmes do princípio do século".1
Para o filósofo Gerd Bornheim, Gerald Thomas representa, no campo das discussões
teatrais, mais do que um propositor de estéticas, mas "um pensador prático criador de
uma Poética, ou seja, de um modo de produzir o novo
Ponkã
Boi Voador
O primeiro núcleo do grupo Boi Voador surge dentro do Centro de Pesquisa Teatral,
CPT, de Antunes Filho, reunindo Ulysses Cruz, Luis Carlos Rossi, Charles Roodi, Adão
Filho, Antonio Calloni, Jayme Compri, Angela Barros, Alexandre Borges, Luis Tomas,
Helio Cicero, Charles Lopes, Domingos Quintiliano, Fernanda Guerra, Silvana Funchal,
Letícia Teixeira, Wladimir Mafra, Leal Baiolin e Domingos Fuschini, entre outros. E
juntos montam Velhos Marinheiros, baseado na obra de Jorge Amado, em 1985.
Esse coletivo de artistas multiexpressivos voltados sobretudo, para a pesquisa da
linguagem cênica, disseminadores do conceito de teatro imagético (que se exprime por
imagens, que revela imaginação) nas décadas de 80 e 90.
A boa acollhida do empreendimento leva seus integrantes a se desligarem do CPT e a
incorporar outros artistas, originando uma nova formação. Desde sua fundação, o grupo
orienta-se pela pesquisa da linguagem cênica, escolhendo preponderantemente materiais
não dramáticos para fornecer a base das encenações. A montagem seguinte, O Despertar
da Primavera, de Frank Wedekind, com direção de Ulysses Cruz, ocorre em 1986,
novamente privilegiando as características imagéticas inerentes à obra. O grupo declara:
"(...) Não queremos reproduzir: nossa arte sempre implicou em criação e recriação. A
apropriação de sentidos interiores e exteriores, nacionais e internacionais, e
posteriormente sua transformação em matéria-prima para nossos artistas e técnicos
caracterizam essa não-reprodução do já-estabelecido, que julgamos fundamental em
busca de um caminho próprio".
Em 1990, mais uma vez sob o comando de Ulysses, é criado Pantaleão e as
Visitadoras, adaptação do texto de Mario Vargas Llosa, outro autor latino-americano
que recria o clima feérico que marca a equipe.
Sobre a trajetória do grupo, o crítico e teórico Edelcio Mostaço avalia: "O Boi Voador
foi um celeiro de talentos e projetos. Guardando a inquietação originária do CPT,
voltou-se para uma nova teatralidade, calcada quer sobre o realismo mágico latino
americano quanto o forte imaginário brasileiro, não se intimidando diante de formas
novas ou limites inexplorados. Mestre de efeitos cênicos inesperados e surpreendentes,
Ulysses Cruz tirou partido tanto de um jorro d'água em Velhos Marinheiros, ao som
de It's a Long Way, com Caetano Veloso, quanto de carretéis de fios elétricos à guisa de
corcéis em Corpo de Baile. Sua imaginação desenfreada - transferida ao grupo sob o
formato de instigantes desafios a serem vencidos - levou-os a interpretações mediadas
pelo simbólico e o arquetípico, calcadas na fusão do lúdico com o rigor formal.
Gregário por excelência, Ulysses foi um disseminador, colocando o boi para voar.
Forjou sub-grupos, incentivou talentos, explorou potencialidades, tornando a década de
80 um dos pródigos períodos da cena brasileira"
1987
Década de 90
Outros nomes de destaque são Bia Lessa (Viagem ao Centro da Terra) e Gabriel Villela
(A Vida É Sonho).
Para a Companhia, o teatro político não se restringe a abordar temas políticos, mas sim
a uma atitude de se politizar a partir do contato com setores avançados e críticos da
sociedade. "E também politizar as nossas relações de trabalho dentro da Companhia, no
sentido de buscar o trabalho não especializado, não alienado. Cada um tem a sua
função, no Latão elas são bem claras, direção, dramaturgia... Mas todos acompanham o
que está sendo feito. Você, como ator, acompanha o trabalho do dramaturgo, do diretor,
você não é um cara que vai receber ordens e cumprir uma função alienada", enfatiza a
atriz Helena Albergaria, que atua na companhia desde sua fundação
1993
O diretor Zé Celso reabre o Teatro Oficina, com a montagem de Hamlet, clássico de
Shakespeare. Zé Celso opta por uma adaptação que enfoca a situação política,
econômica e social do Brasil.
“Ham-Let” é uma orgia. Tudo é festa, catarse dionisíaca, subversão da estética cênica
em favor de um ator em estado bruto e, portanto, mais espontâneo naquilo que ele e seu
corpo realmente comunicam. Tudo é surpresa, ritual. Desde a entrada no galpão da rua
Jaceguai, na Capital, até depois de mais de cinco horas de espetáculo, há sempre o
impacto.
O ator de Zé Celso é tal qual o próprio: se deixa levar por uma espécie de “santo” que
baixa no palco. Em “Ham-Let”, várias são as cenas em que personagens berram e
correm em disparada. Essa sensação de porra-louquice, uma entrega às cegas, é
interessante até certo ponto; depois, causa estranhamento e incomoda porque sua
sistemática fica, sem novidades.
Mas essa é a cara do Oficina. Os impulsos do ator merecem respeito e são incorporados
a cada momento. É como que um improviso combinado. Se um introduz uma fala nova
e sarcástica, o outro ri sem descaracterizar a situação. Na sexta-feira, uma mulher que
estava sozinha e havia bebericado além da conta, cruzava o palco a todo instante.
Marcelo Drummond (Príncipe Hamlet) não a ignorou. E a sempre segura, Denise
Assunção, não fez por menos: jogou a mulher dentro da pequena queda d’água do
cenário. E o estorvo assentou o facho.
1999
Antunes Filho apresenta Fragmentos Troianos, baseada em As Troianas, de Eurípedes.
Século XXI : A ênfase nesse inicio do século fica com a performance, gênero
que nasce em 1960, e influencia a segunda metade do século, mas explode no
século XXI.