Sempre. E nunca mais eu vou poder esquecer Você, esquecer o que você fez por mim. Você me conhece, sabe que eu sou assim. Cedo ou tarde a gente ia ter que separar Quando eu te conheci, tava pra completar Vinte anos, não foi? Eu nem tinha completado. Você trinta e quatro, mas era bem Conservada, a carroceria, bom molejo E a bateria carregada de desejo. Então não queria saber de idade, e nem Quero saber, porque para mim quem gosta, gosta. E o amor não vê documento e nem certidão Só que dez anos se passaram desde então E a diferença, que mal se via, a bosta Do tempo só faz aumentar.
Maicon, David, Beatriz – Escuta Joana,
Grazyella, Geovani, Victor – Vêm aqui Joana, Jaime, Isadora, Ana Laura – Joana, escuta aqui, Ligia, Keyth, Shara – Joana vem.
Joana – Pois bem, você
Vai escutar as contas que eu vou lhe fazer: Te conheci moleque, frouxo, perna bamba, Barba rala, calça larga, bolso sem fundo, Não sabia nada de mulher nem de samba E tinha um puto dum medo de olhar pro mundo As marcas do homem, uma a uma, Jasão Tu tirou todas de mim. O primeiro prato, O primeiro aplauso, a primeira inspiração, A primeira gravata, o primeiro sapato De duas cores lembra? O primeiro cigarro A primeira bebedeira, o primeiro filho, O primeiro violão, o primeiro sarro, O primeiro refrão e o primeiro estribilho, Seu aproveitador!
Jasão – Agora você vai ouvir os meus
Argumentos sem fazer rebuliço Tudo que eu fiz ou vou fazer da vida Devo a mim mesmo, ao meu modo de ser Dei-lhe dez anos, na fase em que tudo Que é mulher já ta servindo de escora Pra guerreiro cansado e barrigudo, Você tinha um homem novo ao seu lado, Renovando pr’ocê a sensação De que uma vida tinha começado. Você é viagem sem volta Joana. Agora eu vou contar pra você, sem rancor, sem sacanagem, Porque que eu tinha que te abandonar.
Joana – Fui eu, Jasão, você não se encontrou na rua
Você andava tonto quando eu te encontrei Fabriquei energia que não era tua Pra iluminar uma estrada que eu te apontei E foi assim, enfim, que vi nascer do nada Uma alma ansiosa, faminta, buliçosa, Uma alma de homem. Enquanto eu, enciumada Dessa explosão, ao mesmo eu, vaidosa, Orgulhosa de ti, Jasão, era feliz, Eu era feliz, Jasão, feliz e iludida, Porque eu não imaginava quando fiz de ti Nesses dez anos um boneco de farinha... Aproveitador!!!Gigolô!!!
Jasão – Você é merda...você é fim
De noite, é cú, é molambo, é coisa largada... Venho aqui, fico te ouvindo, porra, me humilho, Para que? Já disse que de ti não quero nada Mas todo pai tem o direito de ver seus filhos.
Joana – Meus filhos! Eles não são filhos de Jasão!
Não tem pai, sobrenome, não tem importância Filhos do vento, filhos da masturbação De pobre, imprevidência e da ignorância São filhos dum meio-fio dum beco escuro São filhos de um subúrbio imundo do país São filhos da miséria, filhos do monturo Que se acumulou no ventre de uma infeliz... São filhos da puta, mas não são filhos seus, seu gigolô!
Jasão – Sua puta, merda, pereba!
Agora você vai ouvir, juro por Deus, Sarna, coceira, cancro, solitária, ameba, Bosta, balaio. Eu te deixei sabe por quê? Doença, estupor, vaca chupada, castigo, Eu te deixei porque não gosto mais de você Não gosto porra, e não quero viver contigo. Não tem idade nem ambição, mãe do cão, Só isso, não quero e não gosto mais de ti.
Joana – Não vai Jasão. Fica mais um pouco Jasão
Não vai não. Pelo amor de Deus, volta aqui, Gigolô, quero dizer mais, não vai embora, Sacaninha, aproveitador, volta Jasão! Não, Jasão, por favor, Jasão, não vai agora Mas vou me vingar, isso não fica assim não!
Joana (música) – Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia Olha a voz que me resta Olha a veia que salta Olha a gota que falta Pro desfecho da festa Por favor Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota d'água Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota d'água Pode ser a gota d'água Pode ser a gota d'água.