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PERVERSOS

LIVRO 1

O inferno nos espera.


Copyright © 2016 by Sil Zafia
Publicado independente por Sil Zafia
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de qualquer processo
eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa da autora.

ISBN: 9781520720340

Diagramado e editado por Silmara Záfia.

Revisado por Bruna Brito, Gerciane Martins, Karine Medeiros e Suélen Guering.

Capa por Silmara Záfia.

Ilustração: Haila Sant.

Primeiro livro da Trilogia PERVERSOS

O livro foi publicado, inicialmente, na plataforma Wattpad, pelo user Contos perversos. Uma versão de
rascunho que já conquistou mais de meio milhão de leituras.

A história passou por uma nova edição e ganhou trechos e até capítulos inéditos para a publicação física.

A autora tem os direitos legais registrados e assegurados pela Biblioteca Nacional.

Silmara Záfia,
Itai, SP – 17830-000 – Tel: (14) 99728-8673, Email: silzafia@gmail.com, que se reserva a propriedade de
todos os direitos desta edição.

Conheça outros livros da autora em Wattpad.com - User: @Silmarazafia

A história retratada aqui é fictícia e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Nada descrito no livro é real. Não me baseei em experiências minhas ou de conhecidos. É tudo resultado da
imaginação.
Não apoio as práticas e relacionamentos descritos no texto.
Não perca tempo refletindo sobre “de onde tirei isso ou aquilo”, em quem me inspirei para criar
personagem A ou B. Todos os créditos reservados apenas a imaginação.
Para todos os meus leitores do Wattpad,
com todas as emoções que pude colocar nessas linhas.
Agradeço especialmente as pessoas que fizeram desse sonho uma realidade possível.
Mel Souza, Valquíria Gonçalves, Lauriete Ferri, Katiani Martins, Sofia Castro, Iasmin Freitas, Karen Alice,
Luana Mendes, Vitória Souza, Josefa Gomes, Ingrid Oliveira, Gerciane Martins, Bruna Brito, Haila Sant e
Karine Medeiros, obrigada, de todo coração, por confiarem nesse trabalho e por fazerem por mim e por O
desejo de Valentina mais do que eu poderia retribuir.
Serei eternamente grata.
Prólogo

Vamos conversar sobre família. Iremos falar sobre laços sanguíneos. Em


muitas linhas dessa história você irá me compreender, mas, na maioria das vezes,
não passarei de alvo dos seus julgamentos moralistas.
Você deve estar se perguntando o que tenho para contar. Enquanto
escrevo, algumas vezes me arrependo do que fiz, outras sinto orgulho por ter me
libertado de todas as correntes que a sociedade usa para nos aprisionar.
Mas arrependimento não cabe a mim. Estou percorrendo uma estrada de
apenas uma via; um caminho sem volta. Um dia, quem sabe, terei que prestar
contas de todos os meus erros. Se isso for mesmo verdade, se existe de fato um
julgamento final, o inferno me espera. Não irei sozinha. Ele também estará lá.
Um
C resci num lar agradável, de classe média. Nunca fui agredida fisicamente na
infância nem sofri bulliyng na escola. Só tinha uma pequena queixa na vida: não
conhecia meu pai. Sequer seu nome me disseram.
Minha mãe não me criou sozinha. Morávamos na casa dos meus avós
maternos, por isso, ela tinha total flexibilidade para curtir a vida, a juventude da
qual ela foi privada quando engravidou de mim, aos quinze anos.
Sempre perguntei pelo meu pai: onde ele morava, o que fazia, como ele
era. Como respostas só recebia insultos.
“Ele é um crápula!” “Você é uma criança muito doce, não merece um pai
como ele.” “Não darei a ele o gostinho de saber que é pai de uma filha tão
maravilhosa”. Desse modo, mamãe desconversava.
A verdade é que eu não ligava se ele tinha feito minha mãe sofrer, se ele
não tinha escrúpulos. Não ligava para as coisas ruins que ela me falava. Só
queria conhecê-lo, pedir um abraço, ter alguém para chamar de pai.
Mesmo que ele não quisesse me conhecer, não sentiria mágoa, afinal ele
foi privado todo esse tempo da informação que possuía uma filha.
Passei todo o ensino médio persuadindo meus avós a me ajudarem. Sabia
que eles tinham pelo menos uma vaga ideia de quem era meu pai.
Mamãe não poderia saber. Ela não os perdoaria.
Então, quando estava prestes a fazer dezoito anos, recebi uma boa
notícia.
— Valentina, querida — vovó disse quando entrei em sua biblioteca —,
conseguimos localizar seu pai.
O jeito que ela falou, sem cerimônia, quase me fez desmaiar.
— Está falando sério? — murmurei apoiando a mão em uma das
poltronas de veludo cor de vinho.
— Será seu presente de aniversário — vovó explicou.
— Como o encontraram? Ele sabe de mim? Como se chama? — as
perguntas saiam apressadas, sedentas por respostas. — O que faz? Quantos anos
ele tem? Quando poderei vê-lo?
— Calma, querida! — vovó me repreendeu. — Sua mãe não pode sonhar
que fizemos isso, caso contrário, fará picadinho de nós.
— Juro que não abrirei a boca — dei minhas garantias. — Só quero
conhecê-lo.
— Ele não mora no Brasil, vive no Canadá, mas seu avô fez um
excelente trabalho para localizá-lo.
— Então não poderei vê-lo? — minha voz saiu rouca, as esperanças
diminuindo com o caroço que crescia na garganta.
— Claro que poderá. Conversamos durante alguns dias até termos
certeza de que era o mesmo homem que engravidou Lua. Ele foi muito receptivo
com a notícia da sua existência. Ficou muito empolgado para conhecê-la.
— Ele vem?
Mal conseguia segurar a animação. Era o sonho de quase dezoito anos se
tornando realidade. Preencheria a lacuna da minha vida. Caso minha mãe
desconfiasse, se sentiria traída, mesmo assim, não ligaria de ocultar isso dela.
— Semana que vem. Ele ficará pouco tempo no Brasil. Veremos como
vocês se darão. Ele quer reconhecer sua paternidade.
— Esse é o melhor presente que eu poderia ganhar! — gritei me jogando
contra vovó.
Dois
M
amãe tinha muitos conhecidos na cidade, que não era muito grande. Meus avós
acharam prudente não marcar o encontro em um local público. Não queriam
correr o menor risco de serem descobertos.
No caminho da minha casa havia uma rodovia que ia dar em outra
cidade. Num determinado ponto, aquela estrada asfaltada fazia uma curva
fechada para a esquerda, e uma estrada de terra batida começava na direita.
Ao virar o carro na bifurcação, pegando o caminho de terra, vovô marcou
no computador de bordo a quilometragem. Dali a dez quilômetros meu pai
estaria nos esperando. Era impossível controlar a ansiedade. Sentia que estava
vivendo uma experiência fora do corpo.
A dezena de quilômetros foi percorrida com cautela, pois a estrada era
muito esburacada. Logo paramos diante de um utilitário sedam de cor preta com
os faróis acesos.
— É ele! — quase gritei no banco de trás.
Sabia que corria um grande risco de me decepcionar, afinal, se mamãe
tinha escondido de mim quem ele era, deveria ter bons motivos. Mas nada disso
me importava naquele momento.
Desci do carro às pressas. Estava usando uniforme da escola quando o vi
pela primeira vez.
Fechei a porta atrás de mim e fiz sinal para que meus avós permanecem
com os vidros fechados, na esperança de ter alguma privacidade com papai.
Continuei ali parada por alguns segundos, que para mim pareciam horas,
até que ele saiu de dentro do carro.
Tratava-se de um homem alto, cerca de 1,85m. Não consegui ver com
muita clareza suas características, pois já era noite e só havia os faróis dos carros
nos iluminando.
Meu pai vestia uma calça jeans escura, uma camisa clara e um terno por
cima. Tinha cabelo curto e escuro. Quando me viu, abriu um sorriso e estendeu
os braços para me cumprimentar.
Era como eu sempre tinha sonhado. E para minha surpresa, papai era um
homem muito bonito.
Não hesitei em correr até ele. Fui abraçada com firmeza e meus All Stars
deixaram o chão quando papai me ergueu. Ele me segurou em seus braços por
um tempo significativo. Pude sentir seu coração batendo contra meu peito, e
aposto que era reciproco.
Queria dizer a ele o quanto estava feliz por encontrá-lo, e pela firmeza do
seu abraço, arriscaria o palpite que ele também tinha muito a dizer. Mas por
enquanto só estávamos “conhecendo o terreno”.
— Você é tão linda, meu bem — ele sussurrou perto do meu ouvido,
quebrando o silêncio.
— Puxei ao senhor — arrisquei brincar, sem saber como ele reagiria.
Papai me colocou de volta no chão e me analisou dos pés à cabeça.
— Não me chame de senhor! Não sou tão velho assim — ele me
repreendeu, mas sem agressividade.
— É que não sei como devo lhe tratar — falei acanhada. — Esperei a
vida inteira por esse momento e agora não sei como agir.
Apesar do nervosismo, o coração batendo com violência, aquele era o dia
mais feliz da minha vida.
— Pode me chamar de Heitor, se não ficar à vontade para me tratar de
pai — ele explicou gentilmente, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha.
— Posso mesmo te chamar de papai? — perguntei surpresa. Era meu
maior sonho ter alguém para tratar daquela forma.
— Claro, meu bem. Não se acanhe. Acredite, teria vindo antes se
soubesse da sua existência.
— Mamãe nunca me disse sequer seu nome — sussurrei como quem se
desculpa.
— Não tivemos um relacionamento saudável. Não a culpo de nunca mais
querer me ver, mas eu tinha direito de saber da sua existência. Olha, os
desentendimentos entre sua mãe e eu não são relevantes agora. Quero aproveitar
cada minuto conhecendo você, sua personalidade. Preciso que me conte como é
sua vida, seus gostos, passatempos.
— Tudo bem. Também quero conhecer você, papai — nunca me cansaria
de pronunciar aquela palavra.
— Mas o meio do nada não é local adequado para fazermos isso. Por
mais que seus avós estejam com medo do que sua mãe irá pensar, tenho direito
de te encontrar. Você é minha filha.
— Concordo.
Cada vez me sentia mais empolgada com a presença dele, a ponto de nem
ligar mais em magoar mamãe. Eu precisava daquilo. Ele também. Era o sangue
dele que corria nas minhas veias. Sem meu pai eu não existiria. Tínhamos todo o
direito do mundo de passarmos um tempo juntos.
— O que acha de pegarmos um cinema na cidade vizinha? Podemos sair
para jantar depois — papai sugeriu —, só você e eu.
— Não sei se posso...
— Caso não se sinta à vontade comigo, seus avós podem nos
acompanhar. Mas eu adoraria passar o máximo de tempo com você. Como só
vou ficar uma semana...
— Vou falar com eles — garanti. — Quero aproveitar cada segundo da
sua estadia no Brasil.

Meus avós concordaram em me levar até a próxima cidade, tendo em vista que
mamãe estava no plantão médico naquela noite. Eles arriscavam muito, mas
faziam isso por mim. Até concordaram em fazer uma atividade diferente
enquanto papai e eu estivéssemos no cinema.
Fizemos uma parada em casa para que eu me livrasse do uniforme da
escola e tomasse um banho.
Sequei os cabelos loiros e lisos, que caiam um pouco abaixo da minha
cintura, vesti uma saia de renda preta e uma blusa branca de mangas compridas.
Usei um pouco de máscara para cílios, um par de brincos que pertenciam a
mamãe, e uma sapatilha dourada. Estava pronta para encontrá-lo.
Nesse momento, quero deixar bem claro que, prestes a completar dezoito
anos, era exatamente daquele jeito que eu me comportava, de acordo com minha
idade; bem como me vestia. Nunca pareci ser mais velha ou mais nova. Tudo
dentro dos padrões.
É importante ressaltar também que mamãe e eu éramos muito parecidas,
mesma cor de cabelo — só que o dela agora estava mais curto —, olhos, altura,
sorriso. Até o furinho no queixo herdei dela.
Era fácil imaginar como mamãe e papai tinham sido um lindo casal na
adolescência.
Três
C
hegamos ao shopping da cidade vizinha e vovô estacionou o carro em uma vaga
próxima à saída. Tínhamos combinado de encontrar papai na entrada do cinema.
Precisei me apoiar em vovó enquanto seguíamos para lá, porque a ansiedade não
passava e meus batimentos cardíacos não diminuíam. Eu não conseguia parar de
sorrir, e seria eternamente grata aos meus avós por tudo que fizeram por mim ao
longo desses dezessete anos, mas principalmente por terem realizado meu maior
desejo.
Ele estava de pé próximo à fila para comprar ingressos.
Com a iluminação do shopping o achei ainda mais bonito. Fiquei
pensando se o coração de mamãe não amoleceria caso o visse novamente. Ela
passou a vida procurando alguém que a completasse, e lá estava aquele tremendo
gato que poderia muito bem fazê-la feliz dessa vez. Consequentemente, eu seria
a pessoa de mais sorte no mundo caso meus pais voltassem a ficar juntos.
Me diga: qual garota que nunca conheceu o pai, já não sonhou, pelo
menos uma vez na vida, em ter uma família constituída pelos dois progenitores?
Mas era muito cedo para nutrir esse tipo de esperança. Sequer sabia se
ele era casado, se tinha filhos. Ó meu Deus, ele pode ser gay! Talvez fosse isso
que tivesse causado tanto ressentimento em mamãe. Ele a tinha trocado por
outro homem.

Meus avós me deixaram aos cuidados de papai, seguindo para um restaurante, ali
mesmo no shopping.
Queria abraçá-lo novamente, expressar com palavras e ações o quanto
estava feliz por tê-lo conhecido, mas fiquei com receio de parecer muito
desesperada, então só sorri para ele quando ficamos sozinhos.
— Já comprei os ingressos. Temos vinte e sete minutos até o filme
começar — papai constatou ao afastar a manga do terno para verificar as horas
no relógio. — Está com fome? Quer alguma coisa?
— Talvez um sorvete — respondi timidamente.
— Tudo bem.
Ele me ofereceu o braço e aceitei. Enrosquei meu braço no seu e ele
sorriu. Papai tinha um sorriso torto e dentes bem alinhados.
— Tenho irmãos? — perguntei enquanto caminhávamos para a praça de
alimentação.
— Da minha parte não. Pelo menos, não que eu saiba.
— Tem esposa? — questionei sem querer perder a oportunidade de um
diálogo.
— Nunca me casei. E sua mãe?
— Ela também não. Acho que sou a única filha dos dois.

Chegamos à sorveteria. Pedi apenas uma casquinha e ele fez o mesmo. A


moça do caixa tentou flertar com papai, e posso jurar que o flagrei piscado para
ela. Mas, no fim das contas, ele não deu muita bola. Pagou pelo sorvete e
voltamos ao cinema.
Terminamos de tomar o sorvete no caminho, enquanto conversávamos.
Ele queria saber tudo da minha vida; assim como eu, da sua.
— Sua mãe era exatamente igual a você quando nos conhecemos. Era o
primeiro ano do ensino médio. Eu tinha quinze anos. Estudávamos na mesma
sala.
Fiz a conta rapidamente.
— Você tem trinta e três agora.
— Isso mesmo — ele confirmou.
— Os pais das minhas amigas não são tão jovens assim — comentei. —
Acho que você é o pai mais bonito que já conheci.
Ele riu olhando diretamente para minha boca. Ergueu a mão e esfregou o
polegar direito sobre meu lábio inferior, em seguida o levou até sua boca.
Consegui ver um pouquinho de sorvete na ponta do seu dedo antes de papai
chupá-lo. Ele tinha tirado o resto do sorvete da minha boca e colocado na sua.
Achei um pouco estranho, mas não estava certa a respeito de como eram as
relações entre pais e filhas, logo, não era ninguém para julgá-lo.
— Seus lábios estão muito vermelhos — papai comentou, ainda olhando
minha boca.
Os mordi de leve e sorri.
— É por causa do sorvete — expliquei me enroscando em seu braço
novamente. Dessa vez fiquei mais próxima dele, estava me sentindo cada vez
mais à vontade com sua presença.
— O filme vai começar, meu bem. Vamos?
— Claro!
Apoiei minha cabeça no seu ombro quando caminhamos para a entrada.
Me sentia a pessoa mais completa do mundo por ter ele ali comigo.
Por se tratar de uma quarta-feira, não havia muita gente para ver o filme
que papai tinha escolhido.
Ele pegou na minha mão com firmeza e, assim que entramos na sala de
cinema, me levou para a última fileira de cima, nas duas poltronas do canto.
Sentou no acento encostado na parede e eu me acomodei ao seu lado.
Não demorou muito para os trailers começarem a ser exibidos.
— Venha, meu bem — papai disse ao me puxar para junto dele.
Me aninhei em seu peito. Nunca me cansaria de dizer o quanto me sentia
feliz. Seria até difícil esconder isso da minha mãe. Estava na cara que algo
grandioso havia acontecido.
Sempre fui muito carente de afeto — não por que mamãe ou meus avós
não supriam essa carência —, era um defeito meu. Então, quando ele começou a
acariciar meus cabelos, me senti como se estivesse nas nuvens.
Era a primeira vez que recebia carinho de uma figura paterna.
Fechei os olhos, implorando em pensamentos que ele não parasse, e
fiquei ouvindo os sons dos trailers, sem prestar muita atenção.
Seu coração batia muito forte. Meu ouvido estava bem em cima do seu
peito esquerdo, e eu conseguia ouvir o: tum-tum, tum-tum.
Sua mão escorregou para meu braço e ele começou a deslizar os dedos
por cima da minha blusa, cada vez com mais firmeza. Senti que meu coração
também batia forte. Alguma coisa estava diferente dentro de mim. As bochechas
começavam a arder, e a pele de trás do meu pescoço queimava.
Logo ele acariciava meu antebraço. Abri os olhos e vi as pontas dos seus
dedos raspando por cima da minha blusa, fazendo o tecido subir e descer. Eu
estava adorando o carinho, só não gostei muito de como minha respiração ficou
difícil.
Quando o filme já tinha começado, papai me pediu licença, segurando
meus ombros e me afastando do seu peito. Me senti perdida e murcha ao perder
o contato com seu corpo. Mas ele só queria tirar o terno. O jogou sobre o acento
ao meu lado e me puxou novamente.
Dessa vez cheguei mais perto. Dobrei as pernas sobre a poltrona e deixei
meus joelhos em cima da coxa esquerda de papai. As demonstrações de afeto
continuaram.
Sua mão demorou alguns minutos me acariciando, do cotovelo até o
pulso, até que os dedos escorregaram para minha mão.
Não voltei a fechar os olhos. Mesmo com a respiração pesada, pude
aspirar seu perfume. Era uma mistura de ervas muito cheirosa. Seu corpo era
quente.
Os dedos passeavam devagar sobre minha mão. Era tão delicioso que eu
poderia passar o resto da noite sentindo.
De repente, sua mão deslizou para minha coxa, tocando a pele exposta.
Senti algo contrair-se dentro de mim, uma sensação violenta. Mordi o lábio com
força e arfei. Não podia acreditar que ele estava alisando minha coxa. Então o
ouvi engolir a saliva. O tum-tum do seu coração estava mais rápido. Talvez ele
quisesse mais.
Arriscando tudo, resolvi erguer um pouquinho a saia, a puxando
discretamente para cima, com sutileza, mas deixando ele perceber o que eu fazia.
Se ele recuasse, fingiria que estava coçando minha pele, se continuasse a me
acariciar... Bem, era preciso testá-lo para ver até onde aquilo iria.
Quatro
E
u não estava imaginando coisas. Heitor queria mais. Sua mão estava pegando
fogo quando apertou a região que eu tinha descoberto ao levantar a saia. Seus
dedos eram longos e, com a mão espalmada, avançaram na minha pele. Estava
explodindo por dentro. O calor aumentava cada vez que ele subia a mão. Seu
coração batia forte demais, de um jeito preocupante. Minha boca estava seca.
Tentei umedecer os lábios, mas não resolveu nada. Comecei a ficar inquieta.
Até aquele ponto, não tinha conseguido sequer olhar para a tela do
cinema. Seu peito subia e descia. Ele tinha dificuldades para respirar, assim
como eu. Seu toque me queimava, ainda assim, era delicioso. Arrisquei levantar
a cabeça do seu peito, com movimentos lentos e preguiçosos, alcancei seu
pescoço. A ponta do meu nariz tocou na pele abaixo do seu maxilar. Aspirei seu
perfume e, involuntariamente, mordi o lábio. A barba estava começando a
nascer, era áspera. Ergui a cabeça um pouco mais, até que a boca estivesse na
altura do seu ouvido.
— Seu coração bate muito forte — sussurrei.
Heitor se encolheu no acento. Talvez meu hálito tivesse causando-lhe
cócegas. Retirou a mão da minha coxa e me encarou.
Fitei seus olhos esverdeados, o rosto iluminado pela luz da tela. Papai
tinha pequenas sardas em volta do nariz. Consegui ver a veia pulsando no seu
pescoço. Quase dava para ouvir sua pulsação.
Com minha visão periférica capturei um movimento. A mão que ele usava para
me acariciar discretamente foi parar sobre seu colo, onde ele a apertou por cima
do jeans, mais ou menos na altura do zíper.
— Meu bem — sua voz soou rouca —, fisicamente não temos nada em
comum, mas por dentro somos iguais.
— Você também gosta de joguinhos, papai? — perguntei trazendo a mão
que estava apoiada no acento para sua coxa.
— Adoro jogar — ele respondeu.
As pontas dos meus dedos se enfiaram por baixo da mão que ele
mantinha sobre a calça, até ficar por baixo da sua mão. Senti o que ele estava
apertando. Era quente, firme. Pude ver seus dentes inferiores quando ele soltou
um gemido com os lábios semiabertos. Seus olhos continuaram me observando,
oscilando entre meus lábios e olhos. Pressionei a mão por cima do seu jeans, os
dedos deslizando sobre toda a extensão do volume comprido.
Heitor sorriu, um sorriso torto. Continuei o massageando, desejando que
não existisse aquela calça entre minha mão e ele. O fogo me consumia
lentamente, as bochechas ardiam feito brasas. Seus lábios estavam bem
próximos. Ele respirava pela boca, arfando a cada movimento meu. Sua língua
aparecia na pequena brecha entre os lábios, umedecendo o inferior. Eu queria
que ele a colocasse na minha boca. Estava tão perto!
Quando ele debruçou a cabeça no meu ombro, pude sentir seu peso, seus
lábios roçando na pele do meu pescoço. O calor ficou ainda mais violento.
Parecia que havia um vulcão entre minhas coxas. Heitor gemeu e, percebendo
que ele estava gostando, fiz mais rápido, esfregando o volume com firmeza, que
ficava cada vez mais duro. Para suportar seu peso, apoiei as costas no encosto da
poltrona, agradecida pelo braço entre os acentos ser flexível e estar levantado.
— Meu bem — ele murmurou.
Notei algo macio e úmido deslizando para baixo do meu pescoço. Papai
estava me lambendo.
— Gosta desse jogo? — cochichei.
Ele estava praticamente deitado sobre mim. Dava para sentir seu quadril
se contorcendo. Balbuciou um som parecido com “sim”. Com os lábios, Heitor
afastou a gola da minha blusa e sua mão quente pressionou a parte mais carnuda
do meu quadril, por baixo da saia. Ele mordeu minha clavícula. Senti o vulcão
explodindo dentro de mim, o fogo consumindo tudo por dentro, até me fazer
latejar. Doía. Mas previ que ele seria capaz de dar um jeito naquilo.
Três fileiras abaixo da nossa, alguém levantou da poltrona. Heitor voltou
rapidamente para seu lugar. Fiquei de olhos arregalados, as costas ainda apoiadas
no encosto, e o coração ameaçando explodir. Senti como se acordasse de um
sonho. Vi um homem descer as escadas. Ele poderia ter nos visto.
Ideias paranoicas inundaram minha mente. Corremos o risco de vovô e
vovó aparecerem naquela sala de cinema e nos flagrar. O que eles fariam?
Eu nunca mais veria meu pai.
Se alguém tivesse visto e chamado o segurança, aquilo terminaria num
terrível desastre.
Levantei da poltrona e, sem avisá-lo, desci as escadas. Precisava pensar
com clareza, mas na presença dele ficava impossível. Deslizei a mão pelo
corrimão da escada. Estava gelado. Aproveitei para diminuir o calor que estava
sentindo. Ao sair da sala, coloquei a mão sobre o coração, apoiei as costas na
parede e tentei me acalmar. A respiração não voltava ao normal, muito menos os
batimentos.
Precisava de água, de um banho gelado. Não sabia o que pensar sobre o
que acabara de acontecer. Não queria pensar.
Segui para o banheiro feminino e entrei numa cabine. Tranquei a porta,
abaixei a tampa da privada, me sentei e fiquei alguns minutos ali dentro, me
abanando com as mãos, verificando se a ardência na pele amenizava. Mas nada
consolava aquele latejar entre as pernas e a vontade de voltar até Heitor. Sentia
meu coração subir pela garganta sempre que recordava seu rosto.
Após um longo momento, deixei a cabine e caminhei a passos lentos até
a pia, os olhos fixos nos pés. O banheiro estava deserto. Estava com medo de
encarar meu reflexo. Eu tinha... Não! Não! Não podia nem pensar.
Devagar, levantei o rosto e me olhei. Estava toda vermelha. Afastei a
gola da blusa e vi a marca que ele tinha deixado na minha pele. Arfei
novamente. Por que estava tão desesperada para voltar até lá?
Abri a torneira e molhei meu rosto. Prendi o cabelo e comecei a molhar a
nuca, deixando que os pingos gelados escorressem por minhas costas e
abaixassem minha temperatura.
— Valentina? — a voz sexy de Heitor me chamou. Pelo espelho o vi
parado na entrada do banheiro, a mão de dedos longos apoiada na parede de
mármore. — Está se sentindo bem?
Ele parecia preocupado. Observei que as mangas de sua camisa estavam
dobradas até o cotovelo. Papai tinha um emaranhado de tatuagens nos dois
braços. O calor aumentou.
Me virei na sua direção.
— Só estou um pouco quente — expliquei, sem conseguir desviar os
olhos das tatuagens.
— Espere um pouco, meu bem — ele pediu, sumindo atrás da parede de
mármore.
Ouvi um barulho e dei alguns passos naquela direção, curiosa com o que
poderia estar acontecendo. O flagrei colocando uma cadeira embaixo da
maçaneta da porta. Em seguida voltou-se para mim. Deu um sorriso que exibia
todos os dentes. Seus olhos brilhavam com algum pensamento pervertido. Meu
coração disparou com um solavanco. A ideia de estarmos sozinhos em um local
público fazia tudo parecer um sonho. Sorri de volta e mordi o lábio para que ele
entendesse que podia vir.
Heitor deu um passo para frente, e dei um para trás. Recebi dele o sorriso
mais safado que já tinha visto, incluindo em filmes. O vulcão voltou a ficar
ativo, dessa vez, ainda mais devastador. Corri de volta até as pias com medo, e
ao mesmo tempo ansiosa para saber o que ele pretendia fazer.
Antes que alcançasse meu destino, ele já tinha me pegado, agarrando
minha cintura. Me empurrou direto para a parede oposta à entrada. Seu corpo
pressionou o meu contra o mármore gelado. Arfei. Adorei seu jeito rude de me
tocar. Enquanto ele abria um botão da minha blusa, acariciei as tatuagens em
seus braços.
— Quero vê-las — sussurrei. O latejar entre as minhas pernas pulsava
em sincronia com o coração.
— Agora não — ele respondeu, abrindo mais dois botões. Foi o espaço
suficiente para conseguir descobrir meus ombros sem abrir completamente a
blusa. Heitor puxou uma taça do meu sutiã para baixo e beijou meu seio,
chupando meu mamilo, enquanto apalpava o outro com a mão.
Um gemido saiu da minha boca. Perdi as forças das pernas. Minhas
costas escorregaram pela parede, mas ele me segurou, erguendo meu quadril e
levantando minhas coxas, colocando-as em volta da sua cintura. Onde quer que
ele me tocasse, deixava a pele formigando, carente e querendo mais. Mais. Mais!
— Você é tão branquinha — ele murmurou. — Preciso tomar cuidado
para não deixar marcas.
— Sem provas — falei colocando minhas mãos em cima do seu peito.
Senti a consistência dos seus músculos. Ele era magro, ainda assim, gostoso e
atlético. Quente.
— Sem provas — papai repetiu.
— Faz parte do jogo.
Apertei seu peitoral, desejando abrir os botões da camisa social, ver seu
abdômen, mas ele não queria que eu visse as tatuagens agora. O jogo que papai
gostava de jogar era muito tentador.
— Irão notar se eu deixar essa boca ainda mais vermelha? — ele quis
saber.
— Posso usar um batom para disfarçar — eu disse aos sussurros. Daria
uma desculpa qualquer. Não ficaria sem aqueles beijos. Estava desesperada para
tê-los.
— Posso? — perguntou mordendo o lábio inferior sem tirar os olhos da
minha boca.
Sentia que meu coração ia sair pela boca. Seu corpo entre as minhas
pernas queimava mais que o último nível do inferno.
Se o inferno era daquele jeito, eu não estava interessada em experimentar
o paraíso.
Heitor pressionou sua pélvis contra a minha, me fazendo sentir o volume
dentro do seu jeans, duro e quente.
— Por favor — implorei antes dele colocar a língua para fora e lamber
meu queixo.
Alguma coisa se contraia dentro de mim, me beliscava. Ele iria me matar
com aquela agonia, lambendo meu pescoço, ombros, mordendo meu mamilo que
ainda estava exposto. Ele fez pressão contra meu quadril, enquanto passeava
com a língua sobre meus ombros. Esfregou-se em mim lentamente e grunhiu
baixinho. Eu iria entrar em combustão, num incêndio que o queimaria também.
Não soltaria seu corpo nem quando estivesse ardendo dentro das chamas.
Sua pélvis deslizou novamente, com mais força dessa vez, de baixo para
cima. Encostei a cabeça na parede, ergui o queixo e fechei os olhos. Afastei os
lábios e gemi. Estava prestes a desmaiar.
Quando os abri novamente, Heitor estava me encarando. Os olhos
faiscavam. Ele parecia satisfeito. Se aproximou e enfiou a língua na minha boca.
Me apressei em chupá-la, estava morrendo de vontade de fazer aquilo. Sua
língua era macia, apetitosa e tinha gosto de homem.
Ele começou a recolhê-la e suguei mais desesperada, tentando adiar a
separação, mas Heitor era mais forte. Quando conseguiu se desvencilhar de mim,
abriu sua boca. Era minha vez de deixá-lo sentir meu gosto. Coloquei a língua na
sua boca e ele a sugou.
Papai era muito bom naquilo.
Suas mãos apertavam meu quadril e seios. Ele esfregava a mão
espalmada contra meu mamilo, o deixando rígido. Demorei mais que ele a puxar
a língua de volta, mas quando fiz isso, mordi seu lábio inferior, o esticando.
Deve ter doido, mas ele sorriu com satisfação. Um pouquinho de dor não fazia
mal. Certamente ele pensava como eu.
Seu sorriso ainda estava aberto quando senti seu corpo vibrar, um zunido
baixinho tomou conta do banheiro. Sua mão saiu do meu seio e desceu até seu
bolso, apanhando o celular lá dentro.
Tive um lampejo de consciência. O que estávamos fazendo de novo? Ele
era meu pai!
— Você é tão imprudente quanto eu — comentei enquanto ele olhava o
visor.
— Isso não é ótimo, meu bem? — ele perguntou, ainda segurando o
celular. — Mais uma coisa em que somos parecidos.
Fiz que sim com a cabeça. O zunido do vibrador continuava.
— Não vai atender? — perguntei.
Ele fez que não com a cabeça, enfiou o celular entre nossos corpos e,
afastando sua pélvis da minha por alguns centímetros, o colocou em cima da
minha calcinha. Meus olhos se arregalaram quando senti a vibração entre as
pernas. Todo o universo se reduziu àquela sensação de êxtase e a Heitor, que
dava o sorriso torto à medida que esfregava o telefone contra o tecido molhado
da minha calcinha.
— Ainda quer que eu atenda, meu bem? — ele quis saber. Seu olhar
safado predominava.
— Não! — exclamei. — Por favor, papai! Não!
A pessoa que estava ligando devia ser muito insistente. Nem bem a
vibração foi interrompida e já começou outra vez. Puxei sua nuca na minha
direção, alcançando seus lábios, os beijando entre gemidos.
Ouvimos um barulho. Alguém tentava abrir a maçaneta, empurrando a
porta. Heitor guardou o celular e me empurrou para a cabine mais próxima.
Usei a mão para tapar seus lábios, porque ele arfava quando fechou a
porta e me apertou contra seu peito.
A porta continuava sendo empurrada.
— Vão nos pegar! — murmurei contra seu pescoço, o coração
ameaçando parar de tanto medo.
— Se acalme — ele pediu ao retirar minha mão da sua boca e colocá-la
no seu peito.
A pessoa finalmente conseguiu abrir a porta. Ouvi passos entrando no
banheiro.
— Esses malditos adolescentes! — uma mulher reclamava para outra.
— Como conseguiram bloquear a porta daquele jeito? — a segunda
perguntou.
— Eles assistem muitos vídeos. Podem aprender qualquer coisa na
internet.
Olhei pela fresta da porta, mas não consegui vê-las. Supus que estavam
imaginando que a porta tinha sido fechada por alguém que saiu, e não por quem
ainda estava lá dentro.
Meu coração batia tão forte que tive medo de elas conseguirem ouvir.
Senti a pele em volta dos meus lábios ficar gelada. Estava apavorada com receio
de alguém descobrir que eu estava no banheiro com papai fazendo aquelas
coisas. Minhas mãos estavam geladas, mas ele deu um jeito de esquentá-las.
Heitor levou minha mão até seu jeans, fazendo sinal com os lábios para
que eu permanecesse em silêncio. Me encarou com olhos de quem implorava,
mordendo uma pontinha do lábio inferior.
Ele gostava do perigo. Adorei saber disso. Eu também gostava.
As mulheres continuaram conversando e, antes que eu começasse a
massageá-lo, ele puxou meus dedos para dentro do cós da calça. Notando qual
era sua intenção, rapidamente enfiei a mão mais para baixo, por dentro da cueca.
Deslizei os dedos por todo o comprimento. Estava muito rígido e quente, minha
mão logo se aqueceu. Seu sexo pulsava como o meu.
Apoiei minha cabeça no seu peito, beijei seu pescoço e comecei a
acariciar seu membro. Papai se contorceu todo, trincando os dentes com a boca
aberta e fechando os olhos com força. Ele queria gemer, mas não podia. As
mulheres iriam ouvir. Devia ser uma tortura estar morrendo, explodindo,
queimando, e não poder soltar um único gemidinho. Descobri que eu adorava
torturar.
Fiquei na ponta dos pés, o apertando com mais intensidade, mas não o
suficiente para machucá-lo, e alcancei o lóbulo de sua orelha.
— Está gostando? — sondei para saber se estava fazendo certo.
Papai fez que sim com a cabeça.
— Posso melhorar — sugeri.
Antes que ele sussurrasse alguma coisa em resposta, tirei a mão das suas
calças, apoiei no seu peito e me agachei. Fiquei de joelhos na frente da sua
pélvis e comecei a beijá-lo por cima do jeans, passando meus dentes sobre o
contorno do seu membro. Ele agarrou meu cabelo com as duas mãos. Ergui a
cabeça e encarei seus olhos. Não estou exagerando quando digo que o sorriso
pervertido de Heitor mexia com cada célula do meu corpo.
Comecei a abrir o botão da sua calça, mas fui interrompida pelo barulho
de alguém entrando na cabine do lado. Me levantei e subi em cima dos seus pés,
para o caso de alguém olhar por baixo da porta e ver dois pares de sapatos.
Ficamos imóveis até a pessoa ir embora.
— O filme vai acabar em poucos minutos — papai disse contra meu
ouvido. — Precisamos voltar antes disso.
— Tudo bem — murmurei. Pelo menos um de nós usava a cabeça.
Queria continuar ali, mas se eu fosse embora agora, poderia tê-lo depois.
Se perdêssemos a hora, como castigo, talvez nunca mais nos víssemos.
— Vá na frente — ele pediu. — Saio depois.
Fiz que sim enquanto fechava os botões que ele tinha aberto da minha
blusa. Tive vontade de perguntar se repetiríamos aquilo. Não precisei, Heitor me
puxou pela cintura e me beijou antes de sairmos.
— Me espere lá — ele pediu. — Ainda temos alguns minutos até o filme
acabar.
A parte de dentro das minhas coxas se contraiu como se levasse um
choque.
Cinco
S
ubi as escadas da sala de cinema com as pernas bambas. Encontrei minha bolsa e
o terno de papai em cima da minha poltrona. Sentei no lugar que ele havia
ocupado e me envolvi em seu terno, sentindo seu perfume.
Eu tinha consciência que deveríamos ter passado esse tempo
conversando a respeito de nossas vidas, que seria questionada sobre isso depois,
mas não existia uma única pontinha de arrependimento em mim. Na verdade,
faria de novo se tivesse oportunidade.
Mal podia esperar para ficarmos sozinhos de novo. Poderiam ser apenas
alguns minutinhos. Sei que ele faria cada segundo ser intenso.
Me arrepiei inteira só com a ideia de repetir.
Mordi a gola do seu terno ao recordar o que ele tinha feito com o celular,
esfregando entre as minhas pernas; as vibrações me causando choques. Um
gemido escapou da minha boca ao contrair as coxas, mas consegui abafá-lo.
Olhei para a tela, esperando absorver alguma coisa a respeito do filme
em exibição, mas avistei Heitor subindo os primeiros degraus das escadas e meu
interior voltou a ficar em chamas. Por dentro, me senti feliz como um
cachorrinho que vê seu dono depois de um longo dia de espera. Mordisquei a
ponta do dedo indicador, enquanto ele se acomodava na poltrona. Parecia
inquieto e preocupado.
— Meu bem — disse ao se aproximar do meu pescoço —, digite seu
número.
Olhei para baixo e vi sua mão me oferecendo o celular, o mesmo que ele
tinha esfregado em mim.
— Ok — falei pegando o aparelho e digitando rapidamente os números
do meu telefone.
— Preciso que preste muita atenção no que vou dizer. — Sua voz era só
um silvo baixo ao pé do meu ouvido.
— Pode falar. Estou ouvindo.
— Você entende que o que fizemos é errado? — O hálito de papai fazia
cócegas na minha orelha. — Muito errado.
Antes de abrir a boca para responder, alcancei sua mão e entrelacei
nossos dedos, me virando para encará-lo.
— Pode parecer errado para os outros, mas para mim não — respondi e
ele deu aquele sorriso torto. — Acho que não gosto muito do certo;
— Que bom, meu bem.
— Quero continuar jogando. Eu adorei a forma como você joga.
Sua mão livre apertou minha coxa, perto da virilha, e as pontas dos dedos
roçaram no tecido da calcinha. Mordi o lábio com força para não gemer.
— Meu sangue é grosso, quente, e ele corre nas suas veias, Valentina.
Mas preciso saber se você compreende que papai ficará muito encrencado se
alguém descobrir. Eu disse muito, muito, muito encrencado.
Ele falava como se estivesse lidando com uma menininha de sete anos.
— Ei! Não sou mais criança. Sei muito bem o pecado que cometemos.
Não sou mais uma menininha influenciável. Também não sou tapada. Se está
com medo que eu conte isso para alguém, não tenha! Sei que pais não beijam
nem tocam suas filhas desse jeito. Todo mundo teria nojo disso. Mas nós nãos
somos todo mundo, e não senti nojo, nenhum pouco.
— Tenho orgulho de você, Valentina — Heitor sussurrou. — Se sonhasse
que tinha uma filha como você, já teria saído pelo mundo à sua procura, meu
bem.
As pessoas começaram a levantar das poltronas. Reparei que os créditos
rolavam pela tela.
— Preste atenção — papai pediu. — Seus avós farão perguntas sobre o
filme, o que conversamos... invente o que quiser, mas lembre-se de todas as
respostas que der. Mais tarde vou te ligar, então você me contará tudo o que
disser a eles, assim saberei mentir se for necessário.
Heitor colocou a mão na minha cintura e descemos as escadas. Engoli em
seco com a proximidade dos nossos corpos, mas era preciso me controlar para
encarar meus avós.
Da saída do cinema, pude vê-los sentados num banco.
— Aja naturalmente, meu bem — papai me lembrou enquanto
caminhávamos até eles.
Andávamos perto um do outro, mas sem contato físico.
— Pode deixar.
Abri um sorriso tímido e feliz, procurando não pensar nos lábios de
Heitor chupando meus seios.
— Como foi o filme? — meu avô foi o primeiro a falar quando os
alcancei.
— Muito bom — papai se antecipou. — Vimos um filme sobre política e
guerra. Pensei que Valentina fosse achar chato, até cochilar, mas ela prestou
atenção em tudo.
— Me interesso muito pelo assunto — respondi animada.
— Valentina é muito estudiosa, sempre tira as melhores notas — vovó se
gabou de mim.
Me sentei no banco junto deles e, quando não estava mais no campo de
visão dos meus avós, pisquei para papai.
Ele fingiu não ver, mas seus olhos brilharam.
— Ela é ótima em inglês — ele acrescentou. — Conseguia entender as
falas mesmo sem ler as legendas. Parece ter muita facilidade com línguas.
Não acredito que Heitor estava fazendo aquele tipo de trocadilho. Uma
centelha de fogo do vulcão voltou para me lembrar do que ele era capaz de fazer.
Senti o rosto esquentar. Como papai era gostoso!
— Não precisa ficar tímida, meu bem — ele comentou quando me viu
corada. Mas eu não estava vermelha de vergonha, e sim, de desejo. — Estou
orgulhoso de você. Foi muito bem criada.
— Ensinamos nossos princípios a Valentina — vovô falou todo
pomposo, estufando o peito.
— Notei. Ela é uma menina descente e educada — papai mentiu. Ele era
incrível na hora de contar mentirinhas.
— Está com fome, querida? — vovó perguntou gentilmente.
Eu deveria sentir remorso por estarmos mentindo para ela, mas,
sinceramente, esse sentimento não me abateu.
— Um pouco — respondi.
— E você, Heitor — ela se dirigiu a papai —, está com fome? Nós já
jantamos, mas vocês podem comer alguma coisa por aqui ou em outro lugar da
cidade.
Meu corpo inteiro entrou em choque. Devo ter ficado amarela. O coração
bateu tão forte que meu corpo vibrou. Respirei pela boca, tentando disfarçar a
sensação de estar pegando fogo. Só papai e eu?
— Vou acordar cedo amanhã — vovô explicou —, precisamos voltar
para casa, mas vocês podem ficar mais.
Senti o sangue ferver e não tive como controlar.
— Heitor te leva para casa depois, querida — vovó comentou. — Se não
for incomodo para você, Heitor.
— Não é — papai falou naturalmente. — Só posso ficar alguns dias no
Brasil. Preciso aproveitar ao máximo. Vocês disseram que Lua não pode saber
que estou aqui e que encontrei Valentina; como hoje ela está de plantão, não
podemos desperdiçar a oportunidade.
Ele era um ótimo ator. Meus avós jamais desconfiariam de nada. Além
do mais, eu já estava habituada a dormir na casa das minhas amigas, ir a festas,
esse tipo de coisa. Eles confiavam em mim para me deixarem sair sozinha desde
os treze anos.
Mesmo sendo liberais, iriam me colocar de castigo para o resto da vida se
soubessem que eu beijei meu pai. Não dava nem para supor o que fariam com
ele.
— Trouxe a chave de casa? — vovó perguntou antes de partir.
— Sim — respondi ansiosa para vê-los indo embora.
Seis
H
eitor passou em uma dessas lojas que vende de tudo, comprou uma lanterna
grande e um par de meias brancas. Fiquei curiosa para saber qual o motivo
daquela compra, mas talvez ele só estivesse precisando de uma lanterna e um par
de meias novas. Não fiz questão de abrir minha boca para perguntar sobre
aquilo.
Caminhei ao seu lado com o braço enroscado no seu. Papai agia
naturalmente, como se nada demais houvesse acontecido.
Fomos até a praça de alimentação do shopping e pedimos algo para
viagem num restaurante italiano. Ele parecia apressado enquanto esperávamos o
pedido, e eu batucava com minhas unhas contra a mesa, pensando em algum
assunto produtivo para puxar conversa.
— Essa empresa que você é sócio...
— É uma multinacional — papai me corrigiu.
— Isso. Você precisa trabalhar duro ou já pulou essa etapa da vida?
— Vou ao escritório algumas vezes por semana e quando tem reuniões —
ele explicou. — Não preciso estar lá todos os dias.
— Você é um homem de negócios bem-sucedido. — Tirei minhas
próprias conclusões.
— Não sou o acionista majoritário, mas ganho o suficiente para bancar a
vida que gosto de ter.
Ia dizer que ele estava sendo modesto, mas nosso pedido ficou pronto e
nos levantamos.
— Comeremos no carro — papai disse.
— Onde iremos? — eu quis saber.
— Já caçou alguma vez, Valentina? ― O olhar de papai estava cheio de
insinuações quando me fez a pergunta.
— Já tive um namorado que gostava de caçar — confessei. — Ele
costumava ir com seu pai.
Esse garoto se chamava João, foi um dos meus primeiros namorados.
Sempre o invejei por ter um pai que o levasse para fazer atividades diferentes,
inclusive caçar.
Agora não sentia mais inveja de nenhum dos meus amigos por eles terem
pai e eu não.
— Ele te levou alguma vez? — Heitor insistiu.
— Não. Jamais saí para caçar.
A ideia nunca tinha me passado pela cabeça.
— Mas já acampei com meus amigos — acrescentei.
— Vou te levar para caçar, meu bem.
Franzi o cenho fitando seus olhos cheios de incógnitas.
— O que vamos caçar? — perguntei.
— Você verá — ele disse dando aquele sorriso torto e sexy.

Minha respiração ficava cada vez mais difícil conforme Heitor dirigia.
Estávamos indo em direção a minha cidade, mas ele virou na bifurcação da
estrada de terra onde nos encontramos mais cedo.
Fiquei tentada a perguntar para onde estávamos indo, apesar disso, eu gostava de
suspense. E ainda tinha a história de caçar que eu não tinha entendido.
— Você é virgem, meu bem?
A velocidade do carro tinha sido reduzida por causa dos buracos na
estrada. Eu não estava no seu campo de visão quando ele perguntou isso,
portanto, não pôde ver minha reação. Pensei em várias alternativas para
responder aquela pergunta indiscreta, milhares de caras e bocas para fazer
enquanto bancava a difícil, mas não usei nenhuma delas.
— Sou — simplesmente falei.
Pela luz do painel vi Heitor sorrir e morder o lábio inferior.
— Vou tirar sua virgindade — ele disse com a voz sexy.
Engoli em seco. Até minhas sobrancelhas se arrepiaram. O calor
começou nos pés e foi subindo, me consumindo. As mãos ficaram suadas e
trêmulas. Agarrei o terno de papai, levei até meu rosto e abafei um
aimeudeusdoceu!
Ele conseguiu ouvir e riu. Permaneci em silêncio porque era a melhor
opção naquele momento.
Havia plantações de feijão em ambos os lados da estrada que, a
determinada distância, intercalavam com aglomerados de pinheiros. Muitos
quilômetros foram percorridos. Percebi que não passava uma alma viva naquele
caminho. Por que estávamos indo tão longe? O que ele pretendia fazer comigo?
A ideia de estar em suas mãos me fazia ter contrações deliciosas no meu interior.
Borboletas malvadas estavam em êxtase dentro da minha barriga. Imaginei que
Heitor também estava nervoso, mas sabia disfarçar como ninguém.
Ele virou numa pequena estrada entre os pinheiros e o roçado de feijão.
Após vários metros, guiou o carro para dentro de uma mata fechada, desviando
das árvores. Não existia nenhum sinal de gente por perto. Só papai, eu e a noite.
Estacionou em um ponto qualquer e desligou o motor, mas deixou os faróis
acesos.
— Está na hora de caçar — Heitor murmurou ao abrir os botões da
camisa social. — Tem medo do escuro, Valentina?
— Um pouco — sussurrei. Minha voz mal saia de tanta ansiedade. Não
fazia ideia do que ele tinha em mente. Deveria ter medo? É claro que deveria.
Invés disso, estava adorando todo o mistério.
— Ainda quer jogar? — ele quis saber acabando de tirar a camisa.
Pelo claro dos faróis, vi o emaranhado de tatuagens que começavam nos
pulsos e subiam pelos braços, costas, peito. Papai era incrivelmente gato.
— É claro que quero — falei com determinação.
— Então tire os sapatos e as roupas — ele ordenou. — Está na hora de
começar a jogar o meu jogo.
Encolhi os ombros decepcionada. Pensei que ele é quem fosse tirar
minhas roupas, mas estava pedindo para que eu fizesse.
— A hora de ter medo ainda não chegou — ele sussurrou ao me ver tão
séria. — Só quero que tire suas roupas e vista minha camisa, para evitar que elas
se sujem ou rasguem. Como vai explicar se chegar em casa com a renda da saia
toda rasgada ou o sapato sujo de barro?
Fiz que sim com a cabeça, abri a porta e saí. A noite estava quente. Tirei
a blusa, vesti a camisa que papai tinha me dado — ela cobriu até a metade das
minhas coxas — e tirei a saia. Seu perfume tomou conta do ar a minha volta,
envolvendo-me.
O que ele pretendia fazer que poderia destruir minhas roupas? E por que
estávamos tão longe? Uma pessoa cautelosa no meu lugar estaria apavorada, só
que eu tinha espírito aventureiro, do tipo que arrisca a vida por uma boa dose de
adrenalina.
Heitor saiu do carro. O vi passar na frente dos faróis. As tatuagens eram
lindas e seus músculos muito bem definidos. Suspirei quando ele se aproximou
de mim.
— Você é corajosa, meu bem? — ele perguntou ao me analisar.
— Sou — respondi sem hesitar. Por ele, eu daria um jeito de ser.
— Tire os sapatos e calce as meias para não arranhar seus pés nem
tornozelos — falou me entregando o par de meias que tinha comprado.
Obedeci. O coração parecia não caber dentro do peito. Queria que ele me
beijasse novamente, que colocasse suas mãos em mim.
— O que vem depois? — minha voz saiu rouca. Estávamos tão próximos
que dava para sentir o cheiro do seu hálito.
— A caça.
— Caçar o que? — insisti em saber.
— Vou caçar você.
— Puta merda!
Arregalei os olhos, perplexa. Havia algo de animalesco no seu timbre de
voz que me deixava entorpecida, derretendo por dentro.
— No sentido figurado ou literalmente? — cochichei porque era incapaz
de falar mais alto.
— No sentindo literal da palavra. Você será minha caça — papai tinha
aquele brilho nos olhos —, e hoje é dia do caçador.
Arfei. Não conseguia entender como ele iria me caçar se eu estava bem
ali, parada na sua frente.
— Te darei alguns minutos de vantagem — continuou enquanto
desafivelava o cinto de couro e o puxava. — Você vai correr na mata e vou te
procurar. As regras do jogo são as seguintes: caso consiga alcançar o carro e
entrar antes que eu te pegue, você vence e não farei nada de mal contra você.
Minha pele formigava. O medo e a excitação eram uma mistura muito
intensa.
— E se você me pegar antes...?
— Eu ganho — Heitor disse com o sorriso mais pervertido possível.
Bateu o cinto contra a palma da mão, me fazendo entender o que aconteceria
caso eu perdesse.
Jamais sofri nenhum tipo de agressão física. Meus avós ou mamãe nunca
me bateram. De repente, eu estava no meio do nada com um homem que
pretendia me dar uma surra de cinto. Não sabia como era apanhar. E o barulho
que o couro do cinto fez ao se chocar contra da sua mão não foi muito
estimulante.
— Se você ganhar... — murmurei observando seu tórax. — Vai usar isso
daí em mim?
— O cinto? — ele quis saber e confirmei com a cabeça. — Sim. Caso te
capture, eu vou fazer tudo que quero com você, e terá que aceitar. São essas as
regras. Vou perguntar outra vez. Ainda quer jogar, Valentina?
— Sim, Heitor — respondi. É claro que eu queria. Na verdade, acho que
seria fácil voltar para o carro antes que ele me pegasse. — Quero jogar.
— Prefiro que me chame de papai — ele me repreendeu.
Pisquei os olhos algumas vezes. Era fácil esquecer que aquele homem era
meu pai. Parecíamos mais dois estranhos psicopatas que tinham acabado de se
conhecer e, logo, descobriram o quanto eram semelhantes. Meu coração se
agitava e as borboletas demoníacas queriam arrancar o melhor de mim.
— Ok, papai ― tentei soar naturalmente.
Ele abriu a porta de trás do carro e pegou a lanterna.
— Leve com você — disse me entregando o objeto. — Pode usá-la, mas
ficará mais fácil de te localizar pela luz.
Ele não sabia o quanto eu era boa em correr. Estava confiante demais
achando que ia me pegar.
— E se eu pisar em algum espinho no meio desse mato? — perguntei. —
Essas meias não vão me proteger tanto assim.
— Não é problema meu. Você aceitou jogar. É minha presa, caso se
machuque só facilitará as coisas para mim. Um animal machucado é mais fácil
de ser capturado.
Ele ia me caçar como se fossemos animais? Estava chocada! Papai
gostava do proibido tanto quanto eu.
Se mamãe não tivesse escondido de mim quem ele era, e quais os
motivos, talvez eu não me interessasse tanto em conhecê-lo. Mas fui proibida de
vê-lo, de saber sequer seu nome. Isso aguçou minha curiosidade.
Agora eu entendia porque ela tinha feito tudo para me proteger dele.
Papai era completamente maluco, pervertido, descarado e manipulador. E eu
adorava ser parecida com ele.
— Corra, Valentina!
Sete
V
ocê pode me achar jovem demais, inexperiente, e mais o que ousar pensar,
mesmo assim, não sou tão ingênua quanto pensa.
Estava com medo? É claro que estava. Apesar disso, fui em frente.
Agarrei a lanterna com força e a liguei. Era assustador dentro da floresta,
longe dos faróis do carro, mas eu tinha um plano.
Iluminei o caminho com o feixe de luz. Qualquer barulho ou murmurinho
de pássaros espantados com a claridade me deixavam em alerta.
Naquela ocasião, não pensei no calor, no desejo, nas palpitações em
lugares errados, eu só queria ganhar e sair o mais rápido possível dali.
Juntei alguns gravetos e os apoiei embaixo do braço, apanhei algumas
pedras pesadas rapidamente, colocando o que podia dentro do bolso da camisa
de Heitor.
Ele disse que me daria alguns minutos de vantagem. Era tudo que eu
precisava.
Tinha que fazê-lo sair de perto do carro, o atraindo à direção errada. Ele
pensaria que eu estava apavorada e ligara a lanterna; papai não me conhecia
direito. Uma armadilha já estava na minha mente.
O silêncio da noite e a distância da cidade me permitiam ouvir o menor
ruído possível. Respirando fundo e sentindo o aroma das árvores, adentrei ainda
mais na mata.
Sentia a terra úmida de orvalho tocando minhas meias, as folhas secas, os
fragmentos de madeira, tudo.
Ainda usava a lanterna. Meu coração batia forte. Algo mais barulhento
caia de uma árvore ou um galho se partia ao ser pisado. Tudo mexia com meus
nervos. Me senti exatamente como um animalzinho sendo caçado pelo pior
predador. Só que eu era um animal racional, não poderia deixar o medo me
dominar.
Desliguei minha lanterna.
Heitor não iria me procurar com um feixe de luz. Viria no escuro. Se eu
quisesse escapar, teria que enxergar como ele. Depois que estivesse sã e salva
dentro do carro, e ele aparecesse, constatando que tinha perdido o jogo, eu o
consolaria.
Já sabia exatamente o que fazer. A mão em cima do seu jeans, o
cariciando com cuidado, depois outra mão abrindo botão e zíper. Papai ficaria
derretido. Pegaria sua mão e colocaria mais ou menos na altura da minha costela;
ele não demoraria a tocar meus seios, chupá-los novamente. Só o pensamento
fez o desejo voltar com força.
Eu ganharia e ainda o teria nas mãos; mas não ia perder aquele jogo para
levar uma surra.
Aos poucos meus olhos foram se adaptando a escassa iluminação que
infiltrava a copa das árvores.
Pretendia montar alguns montinhos de gravetos onde, posteriormente,
jogaria pedras para derrubá-los. O barulho atrairia papai até eles, e o caminho até
o carro ficaria livre.
Só precisava fazer isso.
Andei mais alguns metros, à procura de um lugar adequado, quando
percebi a terra abaixo dos meus pés ficar mais úmida. As meias que papai me
deu já estavam encharcadas.
Apertei os olhos e consegui enxergar uma pequena construção dali a
aproximadamente quinze metros. Havia uma casa; provavelmente estava
abandonada.
Eu queria ir até lá. Por quê? Não sei. Mas alguma coisa anormal parecia
me chamar.
Esqueci a caçada. A curiosidade era maior que tudo.
Mas havia o medo, e aquela terra ficando mais úmida. Precisava ligar a
lanterna e verificar o que tinha no caminho entre a casa e eu. Olhei para trás e
prestei atenção nos barulhos por alguns segundos.
Muito longe, uma cigarra cantava — foi tudo que pude ouvir.
Talvez Heitor tivesse ido em outra direção. Se eu ligasse a lanterna por
alguns segundos será que ele veria?
— Vai ficar tudo bem — sussurrei acendendo a lanterna.
Consegui visualizar a casa, era uma construção deteriorada de madeira,
mas para chegar ali era preciso atravessar um pequeno córrego — menos de dois
metros de largura. Se me equilibrasse bem não escorregaria no solo lamacento.
Me aproximei até a margem da água, que corria tão devagar que sequer fazia
barulho.
Procurei algum sinal de bichos ou espinhos, mas não vi nada de
traiçoeiro. Coloquei o pé direito na água. Estava fria.
Parecia ridículo ir até aquela casa estando nas minhas condições. Ainda
assim, algo me puxava para lá.
— Vai ficar tudo bem — repeti ao atravessar o córrego.
Pouco antes da casa, existia uma árvore. Joguei o feixe de luz contra ela
para verificar se havia algum pássaro dormindo nos galhos, quando vi algo
entalhado no tronco.
Cheguei mais perto, mantendo a luz na árvore, e vi as letras esculpidas,
como uma ferida que nunca cicatrizou.
Arrepios subiram pela coluna e se espalharam por todo o meu corpo,
eriçando os pelinhos do braço, quando consegui ler os nomes.
Heitor não tinha parado em um ponto qualquer da mata, ele sabia
exatamente onde estava me levando.
Sua mão tapou minha boca. Ele tinha ganhado.
Senti meu corpo desfalecer, mas não consegui processar tudo. Meus
olhos permaneceram fixos nos nomes dos meus pais gravados na árvore. Não
estavam dentro de um coração. Não creio que Heitor fosse sentimental e
romântico o suficiente para esculpir um coração.
Meus batimentos cardíacos chegaram ao clímax. Duvido que um dia
bateria mais rápido.
Sua outra mão agarrou minha coxa, deslizando para cima, passando pelo
quadril, por baixo da camisa, encontrando minha calcinha. Sua barba roçou
contra meu pescoço, raspando minha pele, e seu hálito quente me deixou
submersa dentro das larvas do vulcão.
— Você encontrou, meu bem, mas perdeu o jogo — ele sussurrou, os
dentes mordendo o lóbulo da minha orelha, soltando minha boca.
— Era aqui que se encontravam — sibilei, a voz saindo de acordo com o
que eu sentia, só um gemido. Não foi uma pergunta.
— Bem aqui. E você é exatamente igual a ela, pelo menos fisicamente —
a voz de papai também saiu fraca, sussurrada. — Porque você é um milhão de
vezes mais valente e divertida. Prefiro você a sua mãe.
Suas mãos apertaram meus seios, por cima do sutiã. Meu corpo tremia. A
cabeça estava apoiada no seu peito. As palpitações, o latejar entre as pernas e o
calor me envolveram como uma música muito sexy. Fechei os olhos, joguei os
braços para trás e alcancei a cintura de papai. Meus dedos curiosos queriam
sentir cada quadradinho do seu abdômen.
— Você perdeu o jogo, Valentina — ele me lembrou, sua voz me
destruía, me quebrava em mil pedaços, me puxando para mais perto. Muito
quente.
— Eu sei, papai — não sei como consegui dizer.
Numa fração de segundos ele levou as mãos até a gola da camisa, ainda
por dentro, e a puxou, fazendo-a abrir e arrancando alguns botões. O resto do
tecido foi tirado dos meus braços com brutalidade.
Me senti ainda mais frágil e vulnerável usando apenas calcinha e sutiã.
Engoli em seco. A lanterna acesa estava caída no chão, perto dos meus
pés. Vi as meias completamente sujas de lama, com algumas folhas grudadas.
Heitor me empurrou para frente e cambaleei até que meu corpo ficou
apoiado na árvore. Ele puxou meus pulsos para trás, em seguida começou a
prendê-los com alguma coisa. O cinto!
— O que vai fazer comigo? — perguntei. Não estava apavorada, e sim
extasiada.
— Você perdeu, meu bem — ele não cansava de dizer isso.
Puxou meus ombros, me girando na sua direção. Heitor parecia perverso
agora, sem camisa, com aquele sorriso torto e as tatuagens. Agachou-se e passou
os braços por trás dos meus joelhos, pegou a lanterna e me ergueu.
Fui jogada contra seu ombro, de um jeito que só tinha visto nos filmes.
Minha cabeça pendeu nas suas costas e meu cabelo escorreu abaixo dos seus
quadris. Teria me agarrado a ele se não estivesse imobilizada.
Ele me deu uma palmada barulhenta na bunda e apertou a carne. Soltei
um grito ao sentir a ardência.
Vi quando ele subiu os degraus de acesso à varanda da casa. Parou diante
da porta e a empurrou com o ombro livre. Ela não cedeu, mas Heitor não
desistiu. Continuou fazendo pressão até arrombá-la.
Estava morrendo de agonia. O sangue tinha descido para a cabeça e mal
conseguia respirar. E, só de pensar que ele entraria dentro de mim, não conseguia
sequer imaginar algo para dizer. Eu era a caça capturada; e ele, o predador que
me devoraria.
Oito
E
ntramos na casa. Lá estava completamente escuro e, para ajudar, Heitor desligou
a lanterna. Seus passos faziam o assoalho ranger.
Não tinha ideia do que esperar, não sabia o que ele faria. Me sentia como
uma boneca em suas mãos. Aquele homem poderia fazer qualquer coisa comigo,
estávamos longe de tudo, e eu completamente vulnerável. Apesar disso, a ideia
era muito atraente.
Ele me colocou sobre algum móvel que reclamou meu peso com um
estalo. Era macio e cheirava a coisa guardada. Parecia uma cama. Fiquei deitada
sobre meus pulsos amarrados. Apenas ouvia os meus batimentos e a respiração
acelerada.
Heitor sumiu. Eu não conseguia enxergar nada. Contei um minuto, dois,
três, quatro...
A angústia estava me matando, corroendo tudo por dentro.
Notei um calor próximo a minha barriga e ouvi uma respiração ofegante.
Ele estava passando a mão em cima da minha pele, mas sem tocá-la.
— Papai — sussurrei —, estou com medo. Está muito escuro.
Menti. Não sentia medo, só queria tê-lo logo. Todo meu!
— Você aceitou jogar, meu bem — ouvi seu murmúrio e o calor se
afastou. — Essas são as regras.
Fez uma pausa, só para aumentar meu desespero.
— Sua mãe já esteve aqui, deitada nessa mesma cama — papai
continuou murmurando.
— Você a deixou no escuro também? — perguntei. Talvez fosse por isso
que mamãe o detestava tanto. Ela não era corajosa como eu.
— Ela nunca veio à noite. Não gostava do escuro. Não gostava de ser
caçada. Não gostava de jogar — o timbre de sua voz ficou diferente, parecia um
menino falando, um menino muito triste.
— Mamãe tinha medo de você — concluí.
— Lua achava que eu tinha que procurar ajuda, um tratamento — ele
resmungou. Parecia tão chateado. Eu queria acariciar seu cabelo e dizer que
estava tudo bem, mas estava de mãos atadas. — Você acha que preciso de
tratamento psiquiátrico, Valentina?
— Não, papai — falei. Os arrepios agora estavam no meu rosto. Aquilo
parecia um sonho muito louco.
— Eu me lembro dela dizendo que nunca me deixaria sozinho, mas ela
ficou com a melhor parte de tudo, e foi egoísta o bastante para nunca me contar.
Você não é só dela, é minha também — papai ofegava ao falar.
Senti sua mão fechada em punho bater sobre minha coxa direita. Doeu.
— Ela me deixou e ainda ganhou você — ele continuou. — Sua mãe é
muito egoísta, Valentina. Lua acha que sou louco, mas ela é quem esteve errada
o tempo todo.
— Eu sei disso — cochichei. Meus pulsos doíam e o sangue lutava para
circular até meus dedos que ficaram gelados. — Mas isso não importa mais.
Posso te pedir uma coisa, papai?
— O que? — sua voz saiu esganiçada. Ele tinha sentimentos muito
intensos, feridas profundas no coração, que só deixava transparecer ali no
coração da floresta deserta, no escuro.
— Me mostra como você fazia com ela — pedi. O peito subia e descia,
inalando a poeira do lugar, mas não importava.
Heitor respirou profundamente. Ouvi suas articulações estalando quando
ele se moveu para mais perto de mim.
Ele tinha me deixado entrar na sua cabeça, no coração, agora era minha
vez de deixá-lo entrar no meu corpo.
— Você ainda é minha caça, Valentina. Não esqueça.
Suas mãos pegavam fogo quando tocaram meus joelhos, deslizando para
baixo até encontrarem as meias. Ele as tirou devagar, uma por uma. Logo senti
seu hálito quente acima do peito do meu pé, onde ele cravou os dentes.
Cheguei a pensar que Heitor arrancaria um pedaço da minha carne, mas
ele fez o caminho de volta com os dentes até meus joelhos. Suas mordidas
doíam? É claro que doíam.
Queria vê-lo, saber como estava o brilho do seu olhar, o sorriso torto e
perverso, mas a escuridão era demais.
De repente ele me girou, deixando-me de bruços. Meus braços e costas
estavam doloridos, a pele ardia sob o cinto afivelado nos meus pulsos.
O que era provável ser uma cama rangeu, Heitor estava subindo ali.
Ele montou nas minhas costas e uma de suas mãos juntou meu cabelo na
nuca, puxando. Meu coro cabeludo ardeu. A cabeça foi forçada para cima. Papai
era violento.
Com a outra mão ele puxou meu quadril para cima, até minhas costas
tocarem sua pélvis. A única coisa que eu conseguiria mover eram os pés, o resto
estava imobilizado.
Heitor me deu uma palmada na bunda, o som ecoou no silêncio escuro,
enchendo o lugar. Soltei um gemido. No fim da ardência causada por sua mão
vinha uma deliciosa sensação de prazer.
Ele puxou ainda mais meu cabelo e inclinou-se para baixo, até sua boca
alcançar meu pescoço. Lambeu a pele abaixo da minha nuca, vindo para os
ombros, onde deslizou os lábios de leve, me deixando agoniada.
Doía, era prazeroso, quente, frio, assustador e delicioso, todas as
sensações juntas.
Depois de outra palmada, ele amenizou a pressão no meu cabelo, até que
me deixou deitada novamente. Arfei.
Ele saiu de cima das minhas costas e quase reclamei por isso. Agora
eram seus lábios que me tocavam, roçando no meu quadril, a língua se enfiando
por baixo da calcinha.
Outra palmada. Outro estalo. Outro gemido.
Sua língua lambia a curva entre minha bunda e coxa, os dentes
abocanhavam a parte mais carnuda, mordendo a polpa, enquanto as pontas dos
dedos acariciavam meus braços.
Podia imaginar a melodia de uma música bem envolvente, como as
batidas do coração machucado de Heitor.
Ele parou o que fazia e me puxou, me colocando de pé. Senti seus lábios
no meu maxilar. A pele comichava de tanto desejo. Por mais que Heitor me
tocasse em várias partes, ainda não era o suficiente. Ele sabia disso. Sabia que
estava me matando com aquele joguinho lento. E queria mais.
Suas mãos abriram o fecho do meu sutiã e puxaram as alças, mas elas
ficaram presas nos meus braços atados às costas.
Heitor beijou meu pescoço devagar, descendo para os seios. Era como se
sua língua fosse uma chama, me queimando por onde passava. Quando atingiu
meus seios, sem pensar, me inclinei oferecendo meu mamilo esquerdo para que
ele chupasse.
A sensação era única, devassa. Só me fazia pensar em como queria que
ele tirasse minha virgindade. Sua língua sobre meu mamilo, úmida, quente,
vorás, sugava um, depois o outro, com fome.
Meus gemidos se misturavam aos seus grunhidos, formados no fundo de
sua garganta, secos e rudes.
Sua boca desceu pela minha barriga, até parar em cima da calcinha. Meu
coração deu um solavanco e minhas coxas se espremeram com o latejar que
senti, era uma mistura de quente como o fogo, gelado como o metal, e me
puxava para baixo. Era perverso, mas me fazia muito bem.
Meu cenho estava franzido, minha cabeça jogada para trás, a boca
entreaberta. Ele era tão mal com sua língua entrando devagar através da lateral
da calcinha!
Os tambores batiam forte, eu me balançava devagar, fazendo
semicírculos com o pescoço. Apesar da escuridão, meus olhos se fecharam. Não
eram tambores. Apenas nossos batimentos.
— Pap... papai — murmurei lentamente quando sua língua afastou o
tecido da lingerie e me tocou.
— Assim, meu bem — papai disse. — Gema.
Então ele lambeu.
A cabeça tombou para frente, apertei meus dedos contra as palmas das
mãos que formigavam, mordi os lábios e gemi de novo. Meu corpo se contorcia,
mas as mãos de Heitor estavam agarradas a minha bunda, me deixando bem
perto.
Uma de suas mãos desceu, segurou por trás do meu joelho mais próximo
a cama, e ele o ergueu, colocando meu pé sobre o colchão.
O vulcão estava feroz entre as coxas. Queimava tudo.
Ele puxou a calcinha de lado e começou a lamber lá embaixo, a língua
macia deslizando para cima.
Meu corpo estava totalmente aceso. Eu sentia cada lufada de ar que
tocava minha pele, as sensações eram maiores onde Heitor tinha me dado
palmadas.
— Papai está fazendo direito, meu bem? — o safado perguntou.
— Sim, papai — respondi de olhos fechados. Estava tão envolvida
naquele jogo que não me dominava mais. Ouvi o som da minha própria voz
pedindo para ele continuar.
Senti sua cabeça entre as minhas coxas. A ponta da sua língua se enfiou
lá embaixo, me invadindo, forçando a entrada. Cravei as unhas nas palmas das
mãos e gritei. Mal conseguia ficar de pé. Meu coração não batia mais, vibrava,
assim como meu sexo.
Lentamente, ele retirou a língua de dentro. Senti seus dentes naquela
região, sem mordê-la, apenas roçando a pele ultrassensível.
Através das pálpebras percebi um foco de luz. Abri os olhos e constatei
que a lanterna estava acesa.
Heitor estava se levantando. Não vestia nada além das tatuagens.
Ah, não! Ele está parando!
E eu pude ver todo seu corpo. Firme, duro.
Heitor deu a volta, indo para minhas costas, então desatou a fivela do
cinto, libertando meus pulsos.
Flexionei as articulações e movimentei os dedos várias vezes, feliz por
sentir o sangue fluir normalmente. As alças do sutiã escorregaram para o chão.
Ele voltou à minha frente. Fiz menção de abaixar a perna de cima da
cama, mas papai segurou meu joelho. Pegou um dos meus pulsos avermelhados
e começou a beijá-lo devagar. A sensação dos seus lábios na pele machucada
fazia meu corpo se arrepiar daquele jeito que causava espasmos.
Agora eu conseguia vê-lo. Não estava sorrindo. Apesar do brilho no
olhar, estava sério, o rosto tomado por algum tipo de hipnose. Ou quem sabe era
eu quem estava hipnotizada pelo calor, as palpitações, a luz fraca e aquele
homem perfeito.
Aproximando o corpo do meu, ele inclinou-se para baixo e seus lábios
tocaram meu queixo, subindo, até me beijar na boca. Minhas mãos desesperadas
tentavam tocá-lo em todas as partes.
Senti seu sexo espremendo-se contra minha barriga. A pele macia fervia
e dava pequenas convulsões. Abaixei uma das mãos e o toquei, segurando firme
e fazendo movimentos de vai e vem. Queria colocá-lo na boca, mas a língua de
papai estava lá dentro, esfregando-se na minha. Ele se contorcia cada vez que
minha mão chegava mais perto da base, voltando em seguida ao ponto mais
extremo, o centro de todo o calor.
Então papai estava descendo. Ainda segurava o cinto em uma das mãos.
Ele sabia ser rude, mas quando beijava minha pele com delicadeza, parecia ainda
melhor.
Sua boca passeou entre meus seios. Ele estava de olhos fechados. Se
ajoelhou e eu perdi contato.
Ele pegou o cinto e o posicionou entre as minhas pernas, fazendo uma
espécie de alça, segurando a ponta onde estava a fivela na minha barriga, e a
outra parte nas minhas costas.
Não fazia ideia do que Heitor faria dessa vez, até a fricção do cinto
começar roçando entre as minhas pernas.
Ficou de pé novamente e me encarou.
— Gosta disso, Valentina? — perguntou, a voz rouca, as mãos puxando o
cinto, o fazendo deslizar em mim.
— Gosto — respondi.
— Vá mais rápido, meu bem. — pediu.
Obedeci instantaneamente, intensificando a massagem no seu membro.
Ele grunhiu de olhos fechados, os lábios entreabertos, fazendo aparecer os
dentes trincados.
Mesmo se deliciando com o prazer, ele voltou a mover o cinto entre as
minhas pernas. Era tão quente que cheguei a imaginar que o couro estava me
queimando.
— Você é tão grande, papai — sussurrei enquanto movimentava a mão
mais rápido. — Acho que não caberia dentro de mim.
— Não se preocupe — o som que suas cordas vocais produziam era
apenas um silvo baixo —, papai faz caber.
Engoli em seco. Sua voz já tinha um som muito familiar. Me enxia por
dentro, completando as partes que antes estavam vazias e congeladas.
— Quer mais rápido, meu bem?
— Sim, papai, por favor.
Então ele aumentou a velocidade. Eu não conseguia distinguir mais o que
era pulsação, respiração, dor, prazer, quente ou frio. Tudo tinha pegado fogo, até
meu coro cabeludo estava incendiando.
— Isso, meu bem, desse jeito — ele sussurrou.
— Mais rápido, papai. Me devore.
Ele pareceu adorar aquilo, abocanhou meu pescoço e os lábios subiram
para minha boca. Não foi um beijo comum, porque não tinha sincronia nem
preocupação; apenas línguas se lambendo e lábios sendo mordidos num
desespero insano.
O calor era perverso. Pensar que estava sentido aquele prazer pelo cinto
de papai era... nem dava para raciocinar.
Heitor gemia como um animal enquanto devorava meus lábios. Eu podia
sentir o fim começando, me puxando para baixo, me fazendo gritar.
Nossas mãos trabalhavam no corpo um do outro, muito rápidas, quase
como um borrão. O couro roçava deliciosamente com força no meu sexo, o
membro de papai em combustão na minha mão. Nossas bocas sussurravam
coisas desconectas, pervertidas e imorais.
A loucura nos quebrava, destruía nossos sentidos. Gemíamos como
animais.
— A... ah, pa...pai — balbuciei quando senti todas as sensações se
concentrando num único ponto.
Heitor estava mordendo meus ombros, mastigando a pele sobre os ossos.
Um milhão de arrepios. Ele parecia uivar. Então tudo explodiu dentro de mim,
cada prazer, arrepio, chama. Senti como se tivesse saído daquele inferno e
estivesse flutuando.
Um jato quente molhou minha mão quando papai largou o cinto e se
agarrou no meu corpo, segurando-se em mim. Ele se contorceu e grunhiu; depois
tudo ficou calmo, fraco, novo.
Ele me puxou para cima, agarrei seus ombros sem muita força e ele
passou os braços embaixo do meu quadril. Me colocou sobre a cama, ainda
ofegando, e caiu ao meu lado.
Nossos corpos estavam suados e cansados. Ele enroscou uma perna na
minha e a boca tocou minha bochecha. Seu braço estava sobre minha barriga.
Virei minha cabeça e encarei seus olhos. O interior das minhas pernas
ainda pulsava, mas não causava mais agonia, era apenas delicioso.
Os olhos de Heitor estavam com um brilho que eu não tinha visto ainda;
o rosto muito sério. Ele parecia preocupado, talvez angustiado.
— Por que está preocupado, papai? — perguntei.
— Não quero que tenha medo de mim — ele lamentou.
— Não tenho medo. Topei jogar, não topei? Não tenho medo de você.
— Não quero que você me deixe, meu bem.
— É você quem vai embora, papai. Vai partir. Eu vou estar sempre aqui,
esperando que um dia você volte. Que sinta minha falta.
— Diga que não vai me fazer promessas e depois correr assustada, como
ela fez.
— Eu não corri até agora — falei com firmeza.
— Mas você ainda não viu nada, meu bem — ele disse e engoli em seco.
Nove
—C
omo sabia que essa casa ainda estaria aqui, que não haveria ninguém morando?
— perguntei sem querer pensar nas suas últimas palavras.
— Porque é minha — ele respondeu.
— Essas terras? — Fiquei perplexa.
— Sim.
Meu pai tinha terras na cidade e eu sequer o conhecia.
— Eram dos meus pais, mas eles morreram. Há uma casa maior aqui, não
muito longe. Preciso arranjar um jeito de te levar lá. Tem uma cama que aguenta
muita pressão. Dá para fazer muita coisa nela.
— O que por exemplo? — quis saber.
— Prefiro mostrar — ele disse e mordeu o lábio.
— Sabe que horas são? Preciso ir embora.
Estava começando a levantar, mas ele me segurou.
— Acha que trouxe você até aqui para te deixar ir embora virgem? Ainda
não terminei de te comer.
Com um impulso, Heitor levantou-se da cama. Antes que eu percebesse o
que ele fazia, puxou o colchão comigo em cima. Me segurei nas bordas para não
cair, enquanto ele escorregava para o chão.
— O que está fazendo? — perguntei de olhos arregalados.
— A cama é muito velha. Não aguentaria — ele explicou ao me agarrar,
puxando meu corpo para seu colo.
Cedi.
Sua boca, língua, dentes, estavam por toda a parte. A canção voltou a ser
tocada. Tum-tum. Tum-tum. Minhas mãos estavam em seus cabelos, seu gosto na
minha boca.
Me movi lentamente em cima do seu quadril, com minhas pernas em
volta. Heitor tombou a cabeça e sugou um dos meus seios, mordendo o mamilo
com força. Gemi de dor, mas meus protestos só o faziam apertar mais forte.
Suas mãos estavam na minha bunda, dando palmadas e as abrindo.
— Ainda vou te fazer queimar — ele murmurou.
— Já estou queimando — sussurrei.
— Está só começando, meu bem.
Com uma das mãos, Heitor ergueu meu quadril do seu colo, e com a
outra ele posicionou-se em mim.
Fechei os olhos com força, segurando em seus ombros, quando ele
começou a empurrar para dentro, me forçando para baixo. Trinquei os dentes.
— Olhe para mim, Valentina — ele ordenou.
Abri os olhos e o encarei.
— Dói — gemi.
Seu membro estava entrando, mas era muito grande, muito firme. Meu
corpo reclamava, querendo se afastar, querendo mais de papai. Não é louco? Ele
me machucava e dava prazer ao mesmo tempo.
A cada centímetro vencido, Heitor parava. Após a sensação de estar
sendo rasgava, vinha o fogo, a agonia, a vontade de mais. Então ele me abaixava
mais um pouco, devagar, porém rude. Eu não parava de gemer. Seu membro me
dilacerava, me partia ao meio, fazendo-me esquecer de todo o resto, só pensar
naquilo.
Cheguei mais perto do seu rosto e mordi seu lábio inferior, puxando. Ele
gemeu, então se enfiou mais fundo, mais bruto.
Soltei seu lábio e gritei contra seu pescoço. Queria pedir que ele parasse,
porque estava me destruindo de dor, mas eu sabia que depois seria
recompensada.
— Obrigada por ter me esperado, meu bem — ele disse observando meu
sofrimento, assistindo meus olhos se arregalarem.
Minhas paredes internas queimavam. Heitor moveu o quadril para baixo,
depois para cima, entrando e saindo. Meu corpo custou a se acostumar com ele
dentro de mim, mas papai não parou. Abaixava o quadril devagar, em seguida
subia. Forte e duro.
Mordi o lábio quando voltei a gostar, tanto da dor quanto do prazer. E
quando ele se ergueu novamente embaixo de mim, fui eu quem me apertei contra
seu corpo.
Então acabou. Ele tinha me penetrado por completo. Esperou alguns
segundos, se contorcendo com o menor movimento que eu fazia.
Uma das suas mãos segurou minha cintura, e a outra, minha nuca.
— Mexa-se, meu bem — ele disse. — Você sabe o que fazer.
Sacudi a cabeça em sinal positivo. Comecei devagarinho, erguendo o
quadril, as mãos agarradas em seu cabelo, descendo. Mordi o lábio, ainda doía.
Mas, além da dor, havia uma coisa nova, diferente de quando ele tinha feito
aquilo com o cinto. Era uma sensação mais profunda, algo que só dava para
sentir com ele dentro de mim.
Heitor puxou meu cabelo para baixo quando eu estava descendo, fazendo
com que o movimento ficasse mais rápido. Fiz como ele queria, subindo,
descendo, e aquela sensação pedia mais, mais, mais.
Seus lábios começaram a beijar meu pescoço, os dentes mordiam
milímetros da minha pele, como beliscões, depois lambia. Sua mão largou minha
nuca e desceu, puxando os fios nas minhas costas, forçando minha cabeça para
trás, deixando meu pescoço livre para sua boca faminta.
— Rebola, meu bem — papai pediu.
Ouvir sua voz naquele instante era como cair de uma montanha russa, o
frio na barriga.
Obedeci seguindo o balanço de uma melodia sexy, soltei seus cabelos e
deixei as mãos escorrerem por suas tatuagens.
Heitor apertou minha bunda, depois a puxou, beliscando, separando-a,
esfregando o dedo indicador lá dentro.
Após conseguir o equilíbrio, não precisei mais me apoiar nele, só
continuei fazendo como ele queria. Meus cabelos estavam jogados nos meus
seios e costas e, conforme me movia, eles acariciavam minha pele com muita
suavidade, contrastando com as palmadas que Heitor estava me dando.
Nossos sons deixaram a noite menos solitária. O atrito entre nossos
corpos, o assoalho rangendo, nossos gemidos, o barulho da mão espalmada de
papai batendo contra meu bumbum.
Ele pegou meus pulsos, interrompendo as palmadas, e os segurou contra
as minhas costas, apertando os dedos contra meus tendões, causando dores secas.
Em seguida, subiu pelos meus braços e pescoço. Um dos polegares abriu meus
lábios, alcançando minha língua. Ele a puxou para fora e a segurou, deixando-a
imóvel, então exibiu a sua e começou a lamber. A outra mão estava apertando
meu pescoço, me impedindo de respirar.
Sem ar.
Meu coração bateu pesado, o sangue concentrando-se na minha cabeça.
Sei o que Heitor queria: me ver pedindo para que ele parasse, mas eu não faria.
Sabia que não me mataria. Pelo menos o coração achava que não.
Ele sorria agora. Eu ainda rebolava, só que bem devagar. Papai estava
mostrando os dentes, dando pequenas dentadas no ar de um jeito muito perverso.
Eu perdia forças. Via tudo em câmera lenta. Ele não podia me matar, podia?
Meus olhos começaram a queimar. A garganta estava espremida entre os dedos
longos de papai.
— Ainda gosta dos meus jogos, filha? — perguntou.
Tentei sacudir a cabeça positivamente, mas ele me mantinha presa. Quis
falar algo. Foi impossível.
— Ainda quer jogar assim, Valentina? — insistiu, o olhar divertido. Ele
adorava me ver sofrendo, gostava da minha agonia.
Resisti sem me debater o quanto pude. O peito queimando, implorando
por ar. Então ele soltou a mão, dando um tapa contra meu maxilar. Aspirei o ar
com desespero, mas Heitor não deu chance para me recompor. Suas mãos
estavam no meu cabelo, os puxando para cima, se desencaixando de mim.
Me empurrou até a cama sem colchão, me colocando de joelhos. Heitor
forçou minha cabeça para baixo, até que meu tronco estivesse sobre as grades da
cama, então apoiou-se nas minhas costas, beijando minha pele, seu peso em
cima de mim, esmagando meu corpo contra a cama. Logo veio outra palmada,
dessa vez violenta, como se ele estivesse com raiva.
Suas mãos abriram minhas coxas e ele entrou dentro de mim novamente,
sem a menor delicadeza. Os movimentos recomeçaram. Não havia mais a dança
sensual, só forte e duro. Meus mamilos raspavam na madeira da cama, me
deixando ainda mais presa naquela sensação de dor e prazer.
Me agarrei a borda da cama e apertei meus dedos quando papai enfiou a
mão por baixo do meu corpo, alisando minha barriga, descendo até encontrar
meu sexo; começou a acariciá-lo com a ponta dos dedos enquanto entrava e saia
de dentro de mim.
Perdi o controle, comecei a gritar. Heitor estava me levando ao clímax da
loucura. Ele enterrava e puxava de volta, bem rápido, grunhindo como um
animal, mas me tocando deliciosamente entre as pernas. Seu hálito estava nas
minhas costas, os dentes na carne, queimando, me levando, me quebrando.
Quando ele vinha, eu erguia a bunda para receber sua pélvis, desejando
que entrasse todo dentro de mim, que me comesse, que acabasse comigo. Me
matasse com aqueles movimentos.
Suas palavras contra meu pescoço eram devassas, imorais, mas eu
adorava ser tratada daquela forma. Papai me chamava de filhinha e dizia o que
estava fazendo comigo, o que pretendia fazer, o jeito que queria me ouvir gemer.
E eu gemia, me jogando contra ele, segurando nas tábuas da cama que começava
a balançar.
Ele dizia que era daquele jeito que os animais se comiam, naquela
posição, então mordia meu pescoço, abafando novas perversidades. Seus dedos
escorregavam em mim, queimando, pulsando, ainda melhores que o cinto.
Então toda a dor, a pele queimando, os mamilos raspando na tábua, os
puxões de cabelo e as mordidas, tudo sumiu. Me concentrei apenas no toque
entre as minhas pernas e no membro de papai indo e vindo. Era muito mais
gostoso do que sou capaz de descrever. Meu mundo explodiu de novo, as pupilas
dilataram. Gemi feito uma louca, pensando que não ia escapar dali com vida,
mas Heitor não parou, não tinha gozado ainda.
A cama começou a estalar muito, chacoalhando. Ele estava indo mais
rápido, seu suor molhava minha pele. Foi ainda mais delicioso dessa vez, depois
do meu clímax, a dor tinha sumido completamente, só o prazer recomeçando,
crescendo puxando-me para dentro do tornado.
Ele disse meu nome antes do grunhido final, me enchendo por dentro,
soltando seu peso sobre minhas costas.

Meu corpo estava cansado, maltratado e moído, mesmo assim, eu precisava


levantar. Papai estava vestindo a calça.
— Vai querer fazer de novo, meu bem? — perguntou ao colocar o cinto.
— Aqui? Desse jeito? Jogando? — eu quis saber. Comecei a vestir a
camisa de papai, mas faltavam alguns botões.
— Não aqui. Temos muitos lugares para ir, muitos jeitos diferentes de
fazer — ele disse. — Já sei aonde vou te levar depois que você sair da aula.
— Aonde? — As contrações voltaram por dentro, despertando aquele
fogo. Mas não sabia se seria capaz de andar novamente, muito menos voltar a
jogar com Heitor.
— É surpresa, filha.
Ele piscou antes de me pegar no colo, me apertando contra seu peito
cheio de tatuagens.
— Está cansada demais para andar, meu bem? — perguntou com aquele
sorriso ao me ver ficando corada em seus braços.
— Você não está, papai? — sussurrei, me aproximando, passando as
mãos na sua nuca.
— Não me canso fácil — explicou encostando a ponta do seu nariz no
meu. O coração disparou.
Olhos nos olhos. Ele veio bem devagar, a boca entreaberta. Só quando
estávamos prestes a nos beijar, é que ele fechou os olhos.
Ele era tão lindo, e movia sua língua tão bem.
Me colocou no chão de novo, me empurrou até a parede de madeira e
voltamos a nos beijar. Heitor esfregou o corpo contra mim — deu para notar que
ele já estava pronto para jogar novamente.
— É difícil te levar embora — ele murmurou no meu pescoço. —
Poderíamos fazer isso até o sol raiar.
— Meus avós colocariam a polícia atrás de mim — brinquei. — Não
avisei que ia dormir fora.
— Se tivesse avisado, eles teriam deixado? — ele questionou curioso.
— Talvez, se déssemos uma ótima justificativa. Sempre durmo na casa
das minhas amigas. Eles confiam em mim e gostaram de você. Além disso, já
tenho quase dezoito anos. Sou praticamente dona do meu nariz.
— Por que não me disse antes? Vou te levar para passar a noite na minha
casa, fica localizada aqui mesmo — ele falou, traçando um caminho com a
língua do meu pescoço até a orelha. — Você vai conhecer minha cama.
— É assim tão convidativa? — perguntei me encolhendo com os arrepios
causados pela sua barba.
— Verá. Se gostou daqui, do que fizemos, com certeza vai gostar de lá.
— Adorei aqui. Só teremos que esperar um dia que mamãe durma fora,
assim não precisarei obrigar meus avós a mentirem. Quando você vai embora?
A pergunta que não queria calar. Quando Heitor voltaria para o Canadá?
Eu já estava com saudades.
— No domingo — ele respondeu. — Precisamos dar um jeito de nos
encontrarmos todos os dias. Tem muita coisa que gostaria de te mostrar.
Queria perguntar se ele voltaria para me ver, se sim, quando; mas fiquei
com medo da resposta. Papai me colocou no colo novamente, e me levou de
volta para o carro; enquanto ele dirigia, vesti minhas roupas e calcei as
sapatilhas, tentei fazer o cabelo ficar comportado e usei um corretivo que estava
na bolsa para disfarças as marcas dos seus beijos.
Dez
E
stavam conversando sobre um acontecimento na escola. Um homem mais velho
havia dado em cima de uma das minhas melhores amigas, Cecília, através de
uma rede social. Elas o chamavam de sugar daddy. Parece que ele era bonito e
tinha dinheiro. Não dei muita atenção.
Estava de olho no relógio acima do quadro. O professor explicava a
matéria que eu já tinha estudado pela internet uma semana antes. Os segundos se
espreguiçavam um a um. Borboletas perversas estavam travando um duelo
dentro do meu estômago.
Meus avós tinham ligado para a escola e autorizado o senhor Heitor a me
pegar durante os quarenta minutos de almoço.
Era engraçado pensar daquele jeito “me pegar durante quarenta minutos”.
Mordi o lábio e ri sozinha.
Quando a hora chegou, saí às pressas para o portão da escola, segurando
a autorização em uma das mãos e a mochila na outra. Três das minhas amigas —
Ana, Gabriela e Cecília — me seguiram, elas sabiam que havíamos nos
conhecido — não que tínhamos trepado como animais, sequer nos beijado. As
garotas só queriam conhecê-lo.
De longe, através das grades do portão da escola, vi um carro sedam
estacionado ali. Havia um homem encostado no capo, usava uma calça jeans
clara, rasgada nos joelhos, uma camiseta branca que deixava a vista as tatuagens,
e óculos escuros; estava concentrado no celular. Arfei, ele parecia muito novo
vestido daquele jeito.
Freei instantaneamente e fiz sinal para as amigas se controlarem.
Caminhei normalmente, como se não estivesse desesperada para vê-lo.
— É aquele, Vale? — Cecília perguntou.
— Aquele gato? — Ana também exigiu saber.
— É ele, se comportem! — as repreendi. — Não pareçam desesperadas!
— Nos apresente a ele, Vale! — Gabriela pediu.
— Ele é meu pai! — falei com escarnio. — Tem idade para ser pai de
vocês.
Sacudi a cabeça num gesto de reprovação e franzi o cenho, mas por
dentro me sentia nas nuvens. Mostrei a autorização para o porteiro e ele me
deixou passar.
Heitor ergueu a cabeça quando ouviu o estalo do portão. O sorriso torto
apareceu logo que ele me viu.
— Olá, pai da Vale — as garotas o cumprimentaram como umas idiotas
enquanto ele se aproximava. Revirei os olhos.
— Ele se chama Heitor! — sibilei.
— Tanto faz! — Ana disse.
— Ele poderia ser meu sugar daddy — Gabriela comentou como a voz
melosa.
— Sonhe! — foi a última coisa que falei antes de sair da escola.
Papai tinha tirado os óculos e estava apanhando minha mochila, deu um
beijo no meu rosto e cumprimentou as garotas. Ele era tão simpático e educado,
ninguém imaginaria as coisas que era capaz de fazer com a própria filha.
Com a mão apoiada na base da minha coluna, ele me guiou para a porta
do carona, a abrindo. Entrei, ele a fechou e deu a volta para seu lugar. Estava tão
cheiroso que parecia uma vitrine de perfumes masculinos.
O jeans rasgado, as tatuagens sobre a pele clara na luz do dia... Ah, meu
pai era uma delícia. O cabelo ainda estava úmido, dava para sentir que ele tinha
tomado banho há pouco tempo. Talvez tivesse acordado tarde.
— O que quer comer, meu bem? — perguntou antes de dar partida.
— Me diga você, papai, o que gostaria de almoçar? — arqueei a
sobrancelha.
— Quero comer você, filha.
— Eu preciso voltar para a escola e realmente estou com fome —
murmurei com um tom de voz sério. Heitor podia ser um gato super gostoso,
mas eu não gostava de pular as refeições.
— Estou brincando, meu bem — ele disse com o sorriso torto. — Vou te
levar para almoçar.
Esticou-se para o banco de trás e pude ver um pouquinho do seu
abdômen. O fato de estarmos na frente da escola deixava a coisa mais atraente.
Eu queria brincar com papai.
Passei as pontas dos dedos na sua barriga, deixando o indicador entrar no
cós da calça, e umedeci o lábio inferior bem devagar.
— Ainda vamos nos ver a noite? — especulei quando ele voltou à
posição com uma sacola de papel preto enorme nas mãos, a colocando no meu
colo.
Era pesada, provavelmente estava cheia.
— Não sabia o que comprar para você, então... — ele deu de ombros, o
rosto tímido. — Se não gostar, pode jogar fora, não ficarei ofendido.
— Isso tudo é para mim? — perguntei perplexa com peso do pacote.
— Só isso não, meu bem — papai esticou-se para o banco de trás
novamente, voltando em seguida com outra sacola —, isso daqui também. Seu
aniversário é em poucos dias e, como não vou poder estar presente na sua festa,
gostaria muito de te dar alguma coisa que você realmente queira.
― Você é o melhor presente que já ganhei ― sussurrei encantada com as
emoções que aqueciam meu coração.
― Você também, Valentina. Te conhecer foi a melhor coisa que já me
aconteceu ― ele disse me olhando nos olhos. ― Dê uma olhada, veja se gosta
de alguma coisa!
No primeiro pacote havia vários tipos de estojos de maquiagem
importados, latas vintage recheadas de acessórios, perfumes, óculos e outras
coisas que estavam em embrulhos fechados no fundo da sacola.
Na segunda, encontrei eletrônicos, como tablet e celular.
É claro que adorei ganhar presentes, ainda mais vindos do Canadá.
— Obrigada! Adorei tudo — falei —, mas não comprei nenhum presente
para você.
— Isso não é nada, meu bem! O melhor presente vou te mostrar à noite.
Engoli em seco. O que poderia ser melhor que aquilo? Ah, sim! Melhor
que qualquer mimo era sentir o membro de papai dentro de mim. Me encolhi
com os pensamentos pervertidos que povoaram a mente.
— Só estou um pouco dolorida — sussurrei mentindo. Não era “um
pouco”. Os músculos internos das coxas doíam, além do meu interior. Estava
literalmente fodida, mas não ligava. Heitor podia fazer comigo do jeito que ele
bem entendesse, a seu gosto, que eu aguentaria. Só tínhamos uma semana —
menos que isso. Depois que ele voltasse para o Canadá, eu ficaria de molho e
iria sarar.
— Hoje papai não vai te machucar, prometo — ele garantiu dando
partida no carro.
Não sei se fiquei aliviada ou triste. Gostava que papai me desse umas
palmadas.
— Não vamos jogar? — sondei preocupada.
— Claro que vamos. Só não vou te ferir — ele explicou —, mas você vai
gostar.
— Hum... — Apertei as coxas, já sentindo a pulsação nos lugares
impróprios, me inclinei até seu acento e sussurrei no seu ouvido. — Quero
chupá-lo, papai. Você deixa?
Sua mão voou rapidamente para o meio das minhas pernas, as afastei e
ele tocou meu sexo. Poderia ter algum professor ou pai de aluno passando por ali
naquele instante. Isso só fazia a palpitação aumentar.
— Deixo sim, meu bem — ele murmurou por entre os dentes, enquanto
minha mão avançava para seu jeans.
— Tomara que eu saiba como fazer, que você sinta prazer.
O toquei discretamente enquanto verificava se ninguém nos flagrava.
O segurança estava no portão, olhava para nosso carro, mas eu tinha
certeza que ele não podia ver onde estavam nossas mãos. Engoli em seco, meu
coração batia muito forte. Tentei fingir uma cara de quem não estava fazendo
nada de errado ao ouvir Heitor gemer.
— Eu sei que vai fazer direito — ele disse.
— Comporte-se, papai, o segurança está olhando — o repreendi
esfregando mais rápido e firme.
Ele retirou a mão de mim, sorrindo torto e, meneando a cabeça
negativamente, deu partida no carro.
— Vamos almoçar antes que você me induza a fazer alguma besteira aqui
na frente da escola — sussurrou.
Me recompus.
Queria dar uma boa olhada em todos os presentes que Heitor me deu,
mas era impossível desviar a atenção dele. Fiquei observando como os gomos do
seu abdômen apareciam quando ele expirava o ar e a barriga murchava, como os
músculos dos braços de destacavam por baixo das tatuagens quando precisava
girar o volante para fazer uma curva. Vê-lo dirigindo mexia com muitas
emoções dentro de mim, principalmente no interior das coxas.
Heitor estacionou na frente de um restaurante onde eu costumava ir com
meus avós desde pequena.
Uma dúvida momentânea me perturbou. Será que papai gostava de levar
minha mãe ali quando namoravam? Se sim, o que pretendia me trazendo no
mesmo lugar? Será que ele planejava reviver comigo tudo que fez com ela, só
que, dessa vez, do jeito que considerava certo?
Centenas de borboletas rebeldes levantaram voo quando ele abriu a porta
do carro para mim.
Enrosquei a mão no seu cotovelo e o segui pela calçada do restaurante
em silêncio, não conseguia pensar em nada para falar, a ideia de representar para
ele uma nova versão de mamãe estava me consumindo. Não sabia como me
sentir em relação a isso — era frio e quente ao mesmo tempo, convidativo e
perturbador.
Papai empurrou a porta e me guiou para dentro. O ar condicionado estava
ligado numa temperatura razoável. Várias famílias almoçavam. Pensei em dizer
que aquela não havia sido uma ótima escolha, que podíamos encontrar
conhecidos, porém não consegui. Estava nervosa.
Fui levada para uma mesa na parte mais distante da entrada e só os vi
quando paramos diante das cadeiras.
Meus avós estavam sentados um de frente para o outro. Vovó sorria,
enquanto meu avô, certamente, a presenteava com um galanteio típico de alguém
que namorou em outro século.
Engoli a saliva. Por que ele tinha me levado para almoçar com eles?
Além de todas as emoções e perguntas que me abatiam, seria preciso fingir. Os
jogos estavam começando muito cedo naquele dia.
— Precisamos muito conversar — papai anunciou após sentar ao lado do
meu avô. Me acomodei na sua frente e olhei desinteressadamente para o
cardápio.
— Sobre o que? — vovó quis saber ao beber um gole de vinho.
Suco de laranja foi pedido para mim, assim como uma salada e uma
porção de camarões ao molho branco.
— Sobre Valentina — Heitor informou com segurança, a postura ereta, o
queixo levantado. — Tem muita coisa que precisamos discutir. A pensão que
deixei de pagar, as férias que nunca tive com ela...
Engoli em seco de novo. As férias... comigo?
— Lua não sabe... — vovó começou a argumentar.
— Lua precisa ser informada. Diga que eu descobri sozinho. Valentina é
minha filha, eu tenho todo direito de passar um tempo com ela, de recuperar o
que me foi tirado.
Papai era um homem de negócios e falava como tal. Não tinha medo.
Mas eu não era tão fria quanto ele, meu coração estava disparado.
— Vamos com calma, Heitor — meu avô pediu. — Antes de tomar
qualquer decisão, precisamos conversar direito. Valentina mal o conhece. Lua
nunca quis te procurar. Outra coisa: não precisamos do seu dinheiro.
— O dinheiro não é para vocês; é para minha filha — papai rebateu.
Estava confusa. Não conseguia escolher um lado. É claro que eu gostaria
de recuperar cada minuto perdido, mas não enfrentaria meus avós agora.
Precisaria deles depois.
— Heitor tem razão — vovó interveio com sua voz doce. — Faremos
uma poupança. Pensamos nisso depois. Nos dê um tempo para encontrar uma
forma de contar a Lua que você apareceu.
— Antes das férias de verão — papai impôs. — Quero que ela fique um
tempo comigo assim que se formar no ensino médio. Pelo menos até a
faculdade.
Quase cuspi um gole de suco que acabara de colocar na boca.
Iria me formar em pouco tempo. Papai queria me levar para o Canadá?
Só nós dois em um país diferente? Só papai e eu? No Canadá?
Como a filha obediente que eu era, permaneci em silêncio enquanto
minha opinião não era pedida, debatendo comigo, em pensamentos, as centenas
de coisas que Heitor e eu poderíamos fazer durante algumas semanas juntos. Ele
iria acabar comigo.
Não consegui mais prestar atenção na conversa. Estava imaginando se
ele me levaria para sua casa, seu quarto, sua cama! O coração batia tão forte que
parecia me balançar para frente e para trás. Eu na cama de Heitor a noite inteira.
Acordados. Jogando.
Senti algo cutucar minha perna. Levantei o olhar e o vi me observando
com seriedade, mas, quando meus avós desviaram a atenção de nós por alguns
segundos, ele piscou para mim.
A ponta do seu sapato subiu pela minha perna, roçando por cima da
legging.
— Gostaria de passar as férias comigo, meu bem? — papai quis saber.
Era só impressão minha ou ele estava soando todo sexy na frente dos
meus avós? Tudo que ele fazia era sensual, seria impossível pronunciar aquele
convite de outro jeito. Ainda assim, eu percebi toda a tenção sexual tatuada nas
entrelinhas.
— Seria muito bom — respondi mordendo o lábio discretamente.
Afastei os joelhos e deslizei para a frente na cadeira, afastando as pernas
para que seu pé entrasse entre elas.
Peguei o guardanapo e puxei para meu colo, aproveitando a oportunidade
de enfiar a mão embaixo da mesa. Vovó estava bem do meu lado. A qualquer
momento, ela poderia olhar para baixo e perceber aquele sapato me acariciando
entre as coxas. Porque diabos isso não me amedrontava?
Puxei a borda da toalha da mesa até cobrir todo meu colo, então toquei
no pé de papai, o esfregando contra meu sexo que queimava.
Parecia a coisa mais errada do mundo ficar excitada ao lado dos avós,
mesmo assim, isso não me desanimou. Excitar-se com o pai era muito pior. Eu
estava adorando o “pior”.
Ele olhava para o prato — respondendo perguntas que meu avô fazia e
que eu não era capaz de dar ouvidos —, mas vi seu sorriso discreto quando
coloquei meus dedos por baixo da barra da sua calça e raspei minhas unhas na
sua perna.
— Tem muita coisa para fazer no fim de ano no Canadá? — perguntei
ignorando os protestos de vovó sobre eu me ausentar das festas de natal e ano
novo.
— Sim — ele riu ao me encarar. — Tenho uma coleção de jogos na
minha casa que talvez você queira conhecer. Gosta de jogos, Valentina?
— Não costumava jogar muito, mas estou começando a adorar —
respondi. — Acho que vou gostar da sua casa, pai.
— E quanto a sua mãe, querida? — vovó sondou. — Acha mesmo que
ela vai ficar bem com tudo isso?
— Veremos, vovó. Só não quero ficar sem meu pai novamente.
Olhei na sua direção e sorri.
Eles me levaram de volta assim que peguei meus presentes no carro de
Heitor. Ele me deixou com a promessa de que nos veríamos a noite, mas seria
outro encontro duplo.
Estava morrendo para saber que presente ele tinha para mim.
Depois do colégio tomei o banho mais demorado da história. Escolhi um
vestido que me fazia parecer ter quinze anos, a idade que mamãe tinha quando
engravidou de mim. Prendi o cabelo numa trança embutida, usei máscara para
cílios e um batom cor de rosa, calcei botas de cano curto e deixei um centímetro
das meias brancas aparecendo. Só isso, nada de calcinha ou sutiã; queria facilitar
as coisas.
Mamãe perguntou onde estávamos indo e vovô explicou que estavam me
levando ao parque de diversões. A convidei para ir junto, rezando para que
recusasse. Por sorte, ela disse que sairia com as amigas.
Onze
E
nquanto viajávamos para uma cidade vizinha, sentia o demônio crescendo dentro
de mim, impulsionando meu ser a fazer coisas pecaminosas. Insignificantes no
início — mentirinhas contadas a meus avós —, terminando em ações perigosas
— como Heitor me algemando e me jogando em seu porta-malas, dirigindo para
o topo de uma montanha, onde comeria minha carne. Tão malvado!
A parte do parque de diversões era verdade. Meus avós conversavam a
respeito de papai estar me tratando como criança, como se não entendesse que eu
já era quase adulta. Adorei saber que eles pensavam daquele jeito. Era mais
seguro assim.
Vovô estacionou o carro. Comprávamos os ingressos quando Heitor
mandou uma mensagem informando que já estava lá dentro.
— Quer apostar que ele comprará algodão doce para Valentina? — vovó
perguntou com deboche.
— Não vou apostar em uma causa perdida — meu avô devolveu com um
risinho.
— Deixem ele em paz! — os repreendi tentando disfarçar que estava
adorando aquilo.
Entramos no parque de diversões, com todos os tipos de brinquedos,
montado sobre um terreno arenoso e fofo. Agradeci por estar calçando botas.
A noite estava quente.
Logo o vi perto da entrada. As mangas da camisa social estavam
dobradas até os cotovelos, usava calça jeans escura e sapatos pretos. Seu cabelo
escuro estava penteado para cima. Meu pai era mais gostoso que qualquer outro
cara da minha cidade. Para a vitória dos meus avós, ele segurava um grande
algodão doce cor de rosa, levando um pedaço aos lábios e lambendo os dedos
em seguida.
Imaginei onde sua língua já tinha estado e queimei como uma tocha.
— Parem! — os avisei antes de nos aproximarmos dele.
Heitor sorriu quando me viu. Dessa vez não foi aquele sorriso torto e
sexy, parecia mais um simpático vendedor. Entregou-me o algodão doce e beijou
minha bochecha.
— Eu não disse? — ouvi minha vó sussurrar. Revirei os olhos para ela.
— Ainda vai me dar aquele presente que você falou mais cedo? —
cochichei perto do ouvido de papai quando me enrosquei em seu braço.
Ele fez que sim com a cabeça.
— Quer ir na montanha-russa, meu bem? — perguntou.
— Claro! — respondi entusiasmada, sabia que meus avós não nos
acompanhariam.
Eles se ofereceram para segurar o algodão doce e minha bolsa. Então,
Heitor me levou para as grades que formavam a fila.
— Quero meu presente! — falei assim que estávamos longe dos ouvidos
dos meus avós. Eu ficava descontrolada quando sabia que ganharia presentes.
Papai mordeu o lábio e o sorriso torto apareceu.
— Você não pode levar esse presente para casa, Valentina — ele disse.
— É uma parte do seu corpo? — questionei sentindo as coxas
queimarem.
— Exatamente.
— Posso vê-la hoje?
— Está aqui. — Enquanto falava, Heitor pegou minha mão e colocou
sobre suas costelas direitas.
Franzi o cenho sem entender.
— Quero ver!
Ele olhou em volta, certificando-se de que ninguém prestava atenção em
nós, enquanto a fila estava parada, e começou a abrir os botões da camisa, na
altura do seu abdômen, fazendo uma abertura. Em seguida, afastou o tecido até
exibir as costelas.
Meus olhos se arregalaram diante do que vi.
Protegido com um pedaço de plástico filme estava meu nome. A fonte
serifada era grande e elegante.
Com o queixo caído, deslizei meus dedos em cima da tatuagem.
— Deus fez a mulher a partir de uma costela de Adão. Tatuei seu nome
bem aqui para nunca esquecer que você é parte de mim.
Fiquei sem palavras. Tudo bem que pessoas viciadas em tatuagens
deviam estar acostumadas a tatuar o que viesse na cabeça, mesmo assim, me
senti lisonjeada. O corpo de Heitor era lindo, e ter meu nome ali era... eu não
saberia descrever com palavras. Só conseguia pensar no coração inquieto e na
vontade de abraçá-lo.
— Não gostou? — ele perguntou deslizando as costas do dedo indicador
pelo meu queixo.
— Claro que gostei! — Levantei a cabeça e o encarei. — Só não sei
como retribuir.
— É um presente, não uma troca — Heitor sussurrou fechando os botões
que tinha aberto. — Mesmo assim, há vários jeitos de me compensar.
— Diga um — incitei, mas a fila estava andando.
O portão de metal tinha sido aberto pelo funcionário do parque. As
pessoas entravam para se acomodar nos acentos.
Papai segurou minha mão e me guiou até o banco da frente. Havia muitos
adultos por ali, não sei por que meus avós o julgavam daquele jeito, dizendo que
ele me tratava como criança.
— Tem medo da montanha russa, meu bem? — ele perguntou enquanto
nos acomodávamos.
— Tenho um pouco, mas vou segurar sua mão — respondi.
— Não, filha, minha mão estará ocupada com outra parte do seu corpo.
Fiquei sem palavras, imóvel, então seus dedos deslizaram sutilmente pelo
meu joelho, entrando por baixo do vestido. Afastei as pernas e respirei fundo,
lembrando que estava sem lingerie e que papai descobriria em pouco tempo. As
pessoas ainda estavam se acomodando nos acentos atrás de nós, mas ele já
estava brincando. Os dedos quentes subiam preguiçosos pela parte interna da
coxa, me deixando vermelha.
Pensei que qualquer um poderia ver o que ele fazia, mas a mão de papai
estava bem escondida. As travas desceram sobre nosso peito, me deixando
imobilizada. Um momento depois de o funcionário verificar as travas, os
carrinhos começaram a subir pelos trilhos.
— Já andou na montanha russa, meu bem? — Heitor perguntou.
— Sim, mas ela era menor — respondi afastando as coxas o máximo que
consegui. Sua mão estava na metade do caminho. Eu hiperventilava de medo da
descida, ansiosa pelo que viria. — Papai, posso dizer uma coisa?
— O que quiser, meu bem — ele falou ao me encarar, os olhos
esverdeados se estreitando.
Me aproximei dele o quanto a trava permitiu, ouvindo os murmurinhos
das outras pessoas nos bancos de trás. Abaixei o tom até minha voz se tornar
apenas um silvo.
— Não estou usando lingerie.
Sua mão apertou forte minha coxa. Heitor passou a ponta da língua nos
lábios e depois mordeu o inferior, arfando como se minha mão estivesse o
tocando. Assim eu fiz, escorregando sem pressa para sua calça, os dedos
percorrendo o contorno do membro.
Heitor gemeu baixinho.
— Acha que alguém pode perceber lá de baixo? — o questionei.
— Não. Você pode gemer e gritar que, quando estivermos caindo,
ninguém vai notar.
Papai soltou minha perna e rapidamente abriu o zíper, em seguida pegou
minha mão e a colocou no espaço aberto. Afastei sua cueca e deslizei os dedos
em cima da pele macia, quente e pulsante. Ele mordeu o lábio inferior outra vez,
com uma expressão que queria dizer: me faça chegar lá, meu bem!
Acelerei o movimento quando ele voltou sua mão para mim. Dessa vez,
não deslizou pela coxa, ela se enfiou rudemente lá no meio, afastando os grandes
lábios, adentrando os pequenos.
Perdi o folego, mas não deu tempo de recuperá-lo. Os carrinhos tinham
chegado ao ápice dos trilhos e, em questão de segundos, desceriam a toda
velocidade.
Agarrei a mão livre na trava de proteção e abri bem as pernas no
momento em que papai empurrou um dos dedos para dentro de mim. De início,
me incomodou, pois ainda estava dolorida da noite passada, mas a palma da sua
mão começou a esfregar por cima do meu sexo, enquanto o dedo entrava e saia.
Era o momento mais erótico, explícito e insano da minha existência.
Além de Heitor ser meu pai, estávamos em um parque de diversões! Papai
gostava de exibicionismo?
Por mais que fosse arriscado, errado, sujo e o que mais você possa usar
para insultar esse nosso momento, era impossível parar.
Trinquei os dentes e gritei, sentindo a pressão no estômago.
O dedo entrava e saia, forte, quente, bruto. Cada célula do meu corpo se
aqueceu, o sangue fluía rápido pelas veias. A mão continuava me esfregando. Os
balanços e as curvas faziam com que o dedo de Heitor entrasse mais fundo e
veloz.
Continuei o massageando, cada vez mais rápido, e esqueci de tudo. Vi as
luzes lá embaixo passarem como um borrão. Fechei os olhos, os apertando com
força, me concentrando na sensação. Os arrepios na superfície da pele
começaram nos calcanhares, e foram se erguendo como uma língua me
lambendo.
Ouvi papai dizer algo, mas era impossível distinguir sua voz em meio ao
caos de gritos dos outros passageiros. Quando os arrepios atingiram a parte
interna das coxas, senti uma coisa quente molhar minha mão, a enchendo.
Depois disso, não consegui perceber mais nada, aquela coisa devassadora tinha
me levado da terra para outra dimensão, o melhor lugar em que já estive. Foi a
experiência sexual mais efêmera que provei.
Doze
Q
uando o carrinho parou, eu estava sem saber o que fazer com aquela coisa na
minha mão. Papai tirou um lenço do bolso e me entregou.
— Jogue fora — falou.
Ele me ajudou a sair do brinquedo e ofereceu o braço para que eu me
agarrasse. Limpei a mão e descartei o lenço sujo em uma lixeira.
Caminhamos até onde meus avós se encontravam.
— Gostou do brinquedo, querida? — vovó quis saber.
— Adorei — respondi empolgada, lançando um olhar de cumplicidade
para Heitor. — Fiquei com medo, mas papai segurou minha mão e consegui
relaxar.
Pisquei para ele, que riu timidamente.
— Quer experimentar a roda gigante? — Heitor perguntou com uma das
sobrancelhas arqueadas. Fica do outro lado do parque.
Sozinhos! Se papai já me fazia ter um orgasmo com meus avós nos
vendo, imagine o que faria estando distante.
Concordei e ele me levou para longe dos meus avós antes que eles
pudessem nos acompanhar. Andou a passos apressados para o lado oposto do
parque, onde o público não estava concentrado. Quase precisei correr para não
ser arrastada por ele. Ali, perto da grade de proteção, havia banheiros químicos,
uma cabana de maquinários e algumas tendas.
Mal pude olhar em volta, constatando que ninguém importante estava por
perto, antes de ser levada para trás da cabana. Ele me empurrou contra a
estrutura e me beijou ferozmente, a língua entrando desesperada na minha boca.
Fervi por dentro; por fora também.
— Queria te jogar no chão e devorá-la — Heitor sussurrou contra minha
boca —, mas não posso sujar seu vestido.
— Eu quero chupá-lo e posso — rebati com um sorriso.
Deslizei as costas pela parede da cabana, as mãos procurando o botão da
calça.
— Filha... — ele gemeu quando toquei sua barriga. — Você é o melhor
presente que sua mãe poderia me dar.
— Você tatuou meu nome, papai. Preciso retribuir de algum jeito —
disse antes afastar sua cueca boxer. Minha boca salivava de vontade.
Heitor apoiou a testa contra a parede e segurou meu cabelo com as duas
mãos, enquanto eu lambia seu membro bem devagar. A pele era macia, mas ele
estava incrivelmente duro, dando espasmos contra minha língua.
Arrisquei colocar um pouco dentro da boca, com cuidado para não
encostar os dentes. Papai se contorceu e remexeu o quadril conforme meus
lábios foram descendo. Além de ele ser totalmente gostoso, delicioso e enorme,
saber que estava dando prazer a ele era sexy demais. A cada som que Heitor
fazia, grunhindo por entre os lábios, minha vontade de satisfazê-lo só
aumentava. Não estava mais ligando de ele ser meu pai.
Agarrei sua bunda com as duas mãos por dentro da calça e suguei até
onde consegui, depois tirei a boca devagar. Chupei até o fim bem rápido,
envolvendo a língua por onde passava, tirei devagar. Chupar e tirar, chupar e
tirar, aumentando a velocidade e a pressão da sucção, sem deixar os dentes o
tocarem.
Heitor estava delirando, chamando meu nome, gemendo, pedindo mais.
Eu tinha o controle.
Parei o que fazia repentinamente e ele pareceu não acreditar que eu tinha
interrompido o momento.
— Me penetra? — pedi o encarando.
Num piscar de olhos, Heitor me colocou de pé, me tirou do chão, me
erguendo e apertando meu corpo contra a parede. Minhas pernas estavam
afastadas. Revirei os olhos e mordi o lábio quando ele se encaixou entre minhas
coxas, procurando a entrada.
Antes da penetração, papai vasculhou o bolso à procura de algo. Retirou
dali uma embalagem quadrada, a rasgou com os dentes e, com habilidade,
colocou o preservativo.
Ri e mordi o lábio ao sentir cheiro de morango. Será que a camisinha
também tinha sabor?
Então ele começou a forçar para entrar. Doeu um pouco, mas logo
passou. Papai tinha pressa. Ia e vinha bem rápido, gemendo contra meu pescoço.
Seu membro, além de ser grande, era grosso, por isso estava bem espremido
dentro de mim. A sensação era deliciosa e me fazia pensar em coisas muito
devassas. Aquele era meu pai! Mal o conhecia e estávamos fazendo sexo atrás da
cabana de maquinários de um parque de diversões!
Transar com o pai no parque de diversões! Isso era muito sujo, errado,
pervertido, ainda assim, eu não me arrependia. Ele era lindo, gostoso, sexy,
tentador demais. Até sua respiração era erótica, me fazia queimar, palpitar nas
partes intimas.
Como todo esse fogo, quando ele puxou o decote do meu vestido e beijou
meu colo, descendo à procura dos meus seios, meus pés deslizaram na parede.
Me contorci inteira. As mãos agarrando a cintura e nuca de papai.
— Como você aperta gostoso, filha, continue fazendo isso.
Entendi que ele não estava se referindo a apertar sua cintura, e sim, seu
sexo. Mordi o lábio, enquanto ele voltava a sugar meus seios, e contrai mais
forte, espremendo seu pênis dentro de mim. Papai ergueu a cabeça e revirou os
olhos.
— Meu bem... — gemeu, estocou bem forte, em seguida parou e se
desencaixou de mim.
Me preparei para o que poderia vir a seguir, quase sem conseguir respirar.
Ele me colocou de pé e puxou meus ombros, me fazendo virar de costas. Apoiei
as mãos na parede e senti quando suas mãos escorregaram até meus tornozelos.
Papai se agachou aos meus pés, segurou meu quadril com uma das mãos e, com
a outra, empurrou a base da minha coluna, obrigando-me a empinar o quadril na
direção do seu rosto.
— É muito sexy chupar após penetrar — ele murmurou acertando uma
palmada violenta contra meu bumbum.
Remexi o quadril e soltei um gritinho involuntário de dor. A pele ficou
ardida.
— Não grite! — ele me repreendeu. — Menina levada, precisa levar
mais palmadas para aprender a respeitar os mais velhos.
— Desculpe, papai — sussurrei prendendo a respiração e trincando o
maxilar, me preparando para receber calada a nova punição.
Ele bateu uma, duas, três, quatro, cinco vezes. A pele estava em chamas,
mas que diabos, aquilo só aumentava minha vontade de fazer tudo que ele
queria. Heitor poderia me jogar na lama que eu ainda desejaria satisfazê-lo.
Estava perdida.
Após a última palmada, ele apertou minha bunda com as duas mãos,
fincando as unhas na pele dolorida. Como alguém poderia estar completamente
molhada, sentido a excitação escorrer pelas coxas, só de levar umas boas
palmadas do pai?
O inferno nos esperava.
Acabando de maltratar minha bunda com beliscões, Heitor puxou as
nádegas, as abrindo para ter uma visão do meu sexo — pelo jeito violento como
ele fez, era possível ver até o útero —, então enfiou a língua lá dentro, a
movimentando com muita rapidez, entrando, saindo, alternando com chupadas
nos pequenos lábios.
Ele estava me comendo viva, e ainda mordia o clitóris. Mantive as mãos
apoiadas contra a estrutura da cabana. Minhas unhas raspavam a parede na
tentativa de controlar a vontade de gemer, gritar, dizer palavrões.
Era uma tortura não poder soltar gemidos. Me enlouquecia ainda mais.
Então ele ficou de pé. Eu estava num estado de êxtase tão intenso que
mal segurava o peso do próprio corpo, não sabia como faria para disfarçar
quando voltasse para meus avós.
Papai me agarrou pela cintura com os braços, encostou a boca no meu
pescoço, chupando e lambendo o suor que se formava ali, e penetrou de uma
vez, causando uma dor aguda. Umas das mãos desceram e começaram a
acariciar lá embaixo. Completamente envolvida por ele — por tudo — ergui uma
das coxas, apoiando o joelho contra a parede, e facilitei o acesso para os dedos
de papai.
— É possível morrer de tanto prazer? — perguntei com o pouco de
forças que me restava. — Estou falando de morrer de verdade.
— É possível sim — ele respondeu como a voz de macho alfa
dominando sua fêmea no cio.
— Acho que estou morrendo — declarei e mordi o lábio bem forte,
controlando o grito quando ele acelerou os movimentos dos dedos contra meu
clitóris.
— Se você morrer, filhinha, nunca saberá como é passar uma noite
inteira sob meu domínio — Heitor murmurou contra meu pescoço.
— Papai — lamentei baixinho —, acho que não vou aguentar!
— Aguente firme, meu bem — ele sussurrou de forma macia e gentil,
mas o toque de seus dedos contra meu sexo, a fricção maluca e intensa, era rude
e grosseira. As pontas dos dedos eram ásperas, e o atrito provocava uma
sensação escaldante, me fazendo contorcer contra a parede, enquanto ele entrava
e saia de dentro de mim, como um animal enlouquecido.
Foi mais violento que das outras vezes.
— Você não deve gemer agora, alguém pode ouvir — papai me
repreendeu ao tapar minha boca com a mão esquerda, mantendo a direita lá
embaixo. — Quando for à minha casa, vou te amarrar. Não vai escapar enquanto
eu estiver te devorando com a boca e enfiando objetos que vibram dentro de
você.
Caramba, era meu pai! Ele queria enfiar objetos dentro de mim! Objetos
que vibram! Eu podia imaginar várias cenas a partir daquela informação. E
Heitor continuou a dar detalhes do que faria comigo, enquanto minha
imaginação criava asas (rabo e chifres).
Pelo timbre da sua voz, pude notar que ele estava chegando no clímax,
que aquele jogo o deixava louco. Me concentrei em contrair meu interior, o
apertando dentro de mim. Apertando, soltando. Apertando, soltando. Então ele
afundou a boca na minha clavícula e seu corpo tremeu violentamente.
Se ele não fosse meu pai, caso não fosse completamente errado e sujo,
duvido que meu orgasmo teria sido tão intenso. Era o fato de ser proibido que
mexia e bagunçava tudo.

Tive que voltar a realidade e perceber que nem tudo era brincar de casinha.
Encarar meus avós com a cara mais lavada do mundo não era tão simples assim.
Mas era preciso disfarçar e voltar. Eles nos esperavam despreocupadamente,
ainda olhavam para Heitor daquele jeito — julgando que ele me tratava como
criança. Ah, se eles soubessem!
Tentando ignorar a sensação perversa que ele havia deixado em mim,
continuamos nosso passeio pelo parque. Mas me pegava sonhando com o
momento de visitar sua casa de fazenda. As entranhas se contorciam ao
relembrar o que ele tinha dito sobre "objetos que vibram". Chegava a ficar
ofegante.
Perto da hora de irmos embora, ele tocou no assunto que fez tudo em
mim congelar de medo de ser descoberta.
— Deem um jeito de enrolar Lua — Heitor falou a meus avós com
aquele tom de voz que me fez apertar as coxas. — Valentina vai passar o fim de
semana comigo.
Era um ponto final. Meus avós teriam que enganar mamãe por um final
de semana inteiro, caso contrário ele apareceria lá em casa, e todas as paredes
seguras do nosso lar iriam ruir.
Será que mamãe suspeitaria de algo, caso ficasse sabendo que finalmente
eu tinha encontrado meu pai? Será que ela o odiava tanto a ponto de pensar
coisas tão sujas a seu respeito?
Não! Não! Mamãe confiava em mim o suficiente para saber que eu
jamais faria esse tipo de coisa.
Despedindo-se de mim com um beijo na testa, papai se foi.
No caminho de volta para casa, vovó ligou para minha mãe, informando
que eu passaria o final de semana com eles num hotel fazenda de uma cidade
qualquer da região.
— Olha em que situação você fez a gente se meter, querida! — ela disse
após desligar.
— Vocês passarão o final de semana em um hotel fazenda, vovó! Será
perfeito! — rebati. — Mamãe suspeitou de algo?
— Não, Lua achou uma ótima ideia.
— Deve ter uma festa para ir e ficou aliviada — vovô comentou com
sarcasmo.
— Graças a Deus ela tem uma vida social agitada — agradeci em voz
alta, sentindo borboletas bipolares e malvadas fazendo uma rave no meu
estômago.
— Aposto que ele mandou decorar algum quarto da casa com bonecas e
ursinhos para te receber — minha vó brincou.
— Adoro bonecas — resmunguei por entre os dentes.
Senti o celular vibrar com uma nova mensagem e abri imediatamente ao
ver que papai era o remetente.
Li o conteúdo com os lábios entreabertos e o coração disparado.
“Espero que seja uma filhinha muito obediente amanhã. Papai tem um
chicote para te dar uma surra, caso você mereça.”
Respondi rapidamente.
“Ai, ai, papai!”
— Mensagem do seu pai? — A voz macia de vovó me puxou de volta
para o carro.
— Sim. Estava perguntando se eu gosto de pizza — menti com um
risinho fingido.
Treze
O
s pensamentos mais obscenos ocupavam minha mente durante a aula de sexta. O
membro de Heitor, macio e quente, escorregando na minha língua, vibrando,
dando espasmos. Pensava no quanto me esforçaria para ser sexy e chupá-lo
direito, o deixando louco. Imaginava a sensação devassa que era quando ele se
posicionava para me penetrar, me abrindo até estar por completo dentro de mim,
em seguida saindo, entrando, saindo, forte, entrando com violência, saindo,
entrando... Seus uivos de macho dominante, as mãos me apertando, me levando
para cima, para baixo, a boca sugando meus seios, os tapas.
Estava desesperada para que as horas passassem rápido, e quando o dia
letivo finalmente acabou, ergui minha mochila pesada, cheia dos vestidos mais
inocentes possíveis, além dos meus cosméticos e perfume. Fui até o banheiro e
me troquei, escolhendo uma saia de pregas azul, uma blusinha de mangas curtas
— que mostrava alguns centímetros do meu abdômen —, e meus tênis casual.
Passei uma camada de máscara para cílios, escovei os dentes e usei um pouco de
perfume. Enfiei o uniforme da escola em um dos compartimentos da mochila e
deixei o banheiro apressada.
— Me leva com você, Vale! — Gabriela me surpreendeu na saída da
escola, implorando com as mãos postas sobre os lábios. — Juro que não vou
entrar sorrateiramente no quarto do seu pai de madrugada. Por favor, me leva.
— Só no seu sonho! — respondi revirando os olhos.
Tentei andar com calma quando o vi através das grades do portão. O
carro estava estacionado em frente à escola, papai encostado no capo, calças
jeans escuras, camiseta branca sem mangas — exibindo o emaranhado de
tatuagens afrodisíacas —, o cabelo escuro apontando para cima, um pouco
despenteado nas laterais da maneira mais sexy e pretensiosa possível, mascando
chiclete.
Heitor sorriu ao me ver se aproximar, fiquei corada quando percebi como
ele mordeu o lábio discretamente, uma fração de segundos antes de dar um
sorriso torto. Abaixei a cabeça, fitando os tênis, e mordi o lábio com força. Ao
passar pelo portão, encarando o chão, me dei conta de uma terrível verdade: eu
estava apaixonada pelo meu pai.
Ergui a cabeça e cumprimentei algumas mães divorciadas que se
demoravam ao redor da entrada da escola, observando Heitor com curiosidade.
Queria dizer que ele era meu, que tirassem o olho, mas me limitei a fingir.
Com uma calma minuciosamente calculada, completei os passos até
Heitor. Ele tirou a mochila dos meus braços, a pegando como se não estivesse
pesada, e nossos corpos quentes se encontraram em um abraço público, afetuoso,
entre pai e filha. Aproveitei para passar a língua em seu pescoço, o fazendo
estremecer.
— Está pronta, meu bem? — ele perguntou ao me soltar.
— Sim, papai.
Heitor abriu a porta do lado do carona e entrei. Senti o peso da batida da
porta sendo fechada diretamente no meu coração. Éramos só nós agora. Seria
preciso duas vidas para esquecer o que se passaria naquele fim de semana.
Havia um milhão de motivos sensatos para não fazermos novamente,
mas o corpo e o coração queriam tudo errado. Eu sabia que não existiria um final
feliz, mas não conseguia me arrepender de nenhum momento.
— Queria parar o carro no acostamento nesse instante — Heitor
murmurou assim que saímos da cidade, já estava escurecendo —, e te devorar
aqui mesmo. Mas eu quero comer primeiro, quero que você coma também.
Preciso de você forte esta noite.
Ficou impossível respirar dentro do carro. Cruzei as pernas e apertei as
coxas. Senti a calcinha ficando molhada.
— Tudo tem sua hora, papai — sussurrei com dificuldade, entre uma
lufada de ar e outra. — Seja paciente.
— Estou sendo paciente demais. Essa saia de pregas... — Pelo canto do
olho o vi sacudir a cabeça. — Vai deixar eu te alimentar, te dar comida na boca
como devia ter feito quando era pequena?
— Te deixo colocar qualquer coisa na minha boca, principalmente seu
pênis duro — provoquei. — Ele está duro agora, não está, papai? Só de você
imaginar como vai ser.
Heitor jogou o carro para o acostamento e freou bruscamente. Adorei a
sensação que senti quando meu corpo roçou no banco, sendo jogado para frente.
Ao estacionar, os faróis foram apagados. Senti a tensão que o escuro
trazia e, pelo tempo de uma batida do meu coração, suas mãos estavam em mim.
Puxaram meu corpo para seu colo, me induzindo a sentar-me com as coxas
afastadas sobre sua pélvis. Senti as estrelas pegarem fogo e o céu derreter sobre
o carro, nos consumindo, enquanto eu deslizava devagar sobre ele.
Meus olhos reviraram quando percebi como era delicioso sentir o tecido
da calcinha úmida e quente roçando.
— Está duro o suficiente para você? — sua voz perguntou, rouca,
enraivecida, faminta. — É assim que gosta de me ver?
Fiquei paralisada, o rosto ficando corado, enquanto absorvia sua raiva.
Heitor estava tirando o cinto, o puxando com força.
Afastei os lábios e respirei pela boca, com medo, excitada.
— Você não está se comportando direito, Valentina! — ele ralhou, e não
parecia teatro.
— Sinto muito, papai. Prometo que farei o possível para não o
decepcionar — sussurrei voltando a me esfregar sobre ele, mas suas mãos me
interromperam.
— Devia levantar sua saia e te dar umas boas palmadas agora mesmo —
Heitor grunhiu. — Pensa que pode fazer isso comigo? Acha que aguento?
Fechei a cara e o fitei muito séria. Puxei o cinto das suas mãos e enrolei
em torno do seu pescoço, fazendo uma leve pressão.
— Volte para a estrada. Dirija! — murmurei baixo, mas com firmeza,
enquanto me esfregava uma última vez sobre ele. — Estou com fome. Estou
faminta. Se não chegarmos nessa casa logo, vou ficar muito nervosa!
Afrouxei o cinto, até senti-lo deslizar para baixo, desci do seu colo e
voltei para meu lugar. Heitor levou um instante para se recuperar da cena.
Quando deu partida e acendeu os faróis, ouvi o silvo baixo do seu
sussurro.
— O mesmo demônio que me persegue está possuindo você.
Pensei em dizer que não havia nenhum demônio o perseguindo, que ele
era seu próprio mal, e que eu tinha herdado isso, mas evitei mexer mais com seu
psicológico. Não queria estragar seus planos.
O carro parou sobre um pequeno trecho de cascalho.
A fazenda estava iluminada, mas era completamente diferente do que
imaginei. A casa principal estava à nossa frente após um trecho gramado, de
aproximadamente quinze metros, ladeado por arbustos aparados em estranhos
formatos de espirais.
Logo à frente do trecho de cascalho havia duas colunas de concreto com
cerca de um metro de altura, uma de cada lado da entrada, ornamentadas com
duas estátuas de cães pretos e antiquados.
Engoli em seco. Pela visão periférica, vi que ele estava pegando minha
mochila no carro.
Analisando a fachada da casa, entendi porque papai não morava ali. O
lugar era assustador. Se acreditasse em fantasmas, certamente não entraria na
fazenda. O que não era meu caso.
— Meu bem, os caseiros da fazenda não podem saber o que acontece
entre você e eu, entendeu? — Heitor pronunciou as palavras pausadamente.
— Serei cuidadosa — respondi quando ele segurou minha mão, me
induzindo a passar entre os cães negros demoníacos.
Tentei disfarçar a decepção por saber que não estaríamos sozinhos.
— A mulher que toma conta da casa me conhece desde que eu era bebê
— papai continuou. — Ela não pode suspeitar de nada.
— Ela vai dormir aqui? — sondei apreensiva.
— Não, na casa dos fundos. Só ficará tempo suficiente para serem
apresentadas. Ela está ansiosa para lhe conhecer.
Me limitei a sacudir a cabeça. Enquanto caminhávamos pelo trecho de
grama, notei que alguns dos arbustos representavam figuras que me lembravam
garras. Cheguei mais perto de Heitor, tentando conter um arrepio.
— Você foi criado aqui? — murmurei quando estávamos bem perto da
casa, reparando que todas as dezenas de janelas estavam trancadas. Pouca luz
podia ser notada lá dentro.
— Nascido e criado — ele respondeu com orgulho.
Isso explicava aquela história de ser perseguido pelo demônio. Se
morasse ali, também enlouqueceria.
— Meu Deus, Heitor, ela é igualzinha à mãe! — a senhora exclamou
logo após abrir a porta da frente, como se já estivesse nos espreitando através
das frestas. — Como era mesmo o nome dela?
— É Lua. Minha mãe se chama Lua — procurei falar dando ênfase ao
tempo presente, sem conseguir disfarçar a petulância. — Não está morta.
— É muito linda — ela elogiou ignorando meu comentário. — Você deve
estar se sentindo com quinze anos de novo, não é, filho?
— Sim, ela me faz voltar no tempo. — Heitor sorriu gentilmente para a
senhora parda de cabelos grisalhos. — O quarto onde Valentina ficará está
pronto?
— Ah, claro! — ela gesticulou com as mãos, em seguida nos guiou pela
sala. Era tão sombrio quanto lá fora. Paredes escuras, decoradas com objetos
fora de moda, portas duplas, sofás antigos e tapetes obscuros.
Papai não combinava com aquele lugar.
Imaginei que a cor do carpete pudesse disfarçar manchas de sangue.
— O que houve com seus pais? — perguntei baixinho, mas a mulher
conseguiu ouvir.
— Foi uma tragédia! Uma tragédia! Meu pobre menino cresceu aqui tão
solitário!
Ela tinha uma audição bem aguçada, o que não era muito legal para os
planos. Dramática demais — também observei.
Me guiaram até um quarto grande e pouco mobiliado. Havia apenas uma
cama de casal com lençóis de seda cor de vinho, uma cômoda de madeira de lei
e uma porta que dava para um banheiro.
— Vou terminar o jantar. Fiquem à vontade — a senhora informou, logo
nos deixando sozinhos.
A mochila foi atirada no chão. A porta do quarto ainda estava
escancarada, mas as mãos de Heitor estavam na minha cintura, me empurrando,
fazendo com que eu cruzasse o cômodo de costas, o encarando, até esbarrar na
cama, onde me sentei.
— Se ela nos flagrar, estou perdido — ele sussurrou, mas não parecia dar
tanta importância a isso.
Uma de suas mãos alcançou meu joelho direito. Ele se ajoelhou na minha
frente e aquela mão tatuada começou a deslizar na pele da minha coxa, entrando
por baixo da saia.
— Você deveria ter fechado a porta — murmurei sentindo o corpo
queimar à medida que seus dedos encontravam o centro do meu calor.
— Aprecio o risco, você não?
Fiz que sim com a cabeça.
Abri bem as pernas enquanto ele afastava minha calcinha. Comichões me
lambiam dos pés à cabeça. Nossos olhares não se desgrudavam.
— A paixão queima, não é? — papai perguntou, a voz rouca, os dedos
passeando devagar na minha intimidade.
— Sim, está queimando — concordei.
Fiquei curiosa para saber se ele também estava apaixonado.
Me inclinei para a frente, alcancei sua mão audaciosa e a tirei da minha
calcinha, a levando até sua boca.
— Chupe — cochichei. — Esse é seu aperitivo.
Vi quando a ponta da língua os tocou. Desejei que fossem os meus
lábios. Movi o quadril inquieta.
— O jantar está pronto! — a voz feminina chegou até nós como o
barulho de uma ventania, interrompendo nosso momento.
Heitor puxou minha mão e fiquei de pé. Nos encaramos por alguns
instantes, enquanto ele me apertava contra seu peito. Parecia querer dizer algo.
— Vai me deixar dormir aqui sozinha, papai? — perguntei com os lábios
bem próximos aos seus.
— Ah, filha, você não dormirá essa noite! — Ele sorriu sacudindo a
cabeça em negação, os olhos verdes brilhando. — Um milhão de perversões,
meu bem.
Sentia minhas entranhas vibrarem ao ouvi-lo me chamar de “meu bem”.
Queria dizer algo a mais, só que ele estava me deixando nervosa e
ansiosa, ainda mais com sua mão quente deslizando na parte de trás da minha
coxa, subindo, entrando por baixo da saia.
Gostaria de saber se Heitor lembraria de mim depois que fosse embora.
Voltaria? Ele era tão alto, tão tatuado, tão absurdamente maluco e estranho! Meu
pai! Será que essas lembranças o perseguiriam até o Canadá?
— Estou com fome — sussurrei um segundo antes de outro grito chegar
até nós.
Catorze
A
refeição não foi bem como eu pensava. A sala de jantar transmitia uma sensação
de hostilidade, e Heitor se sentou do outro lado da mesa — uma mesa realmente
muito longa.
Eu mordiscava a comida e observava atentamente os detalhes dos móveis
entalhados, as porcelanas centenárias, o papel de parede em tons de vinho, o
lustre dourado pendendo sobre a mesa, a moldura oval do espelho que lembrava
objetos fúnebres, os castiçais sobre o balcão, e a pintura sombria pendurada na
parede sul — no quadro, três demônios tentavam agarrar uma garotinha loira
envolvida em um manto vermelho.
Além de tudo, a senhora estava por ali, trazendo e retirando pratos. Meu
coração batia muito forte.
— Pode ir descansar — Heitor declarou a ela quando me viu terminar o
prato —, comeremos a sobremesa depois. Quero mostrar uma coisa para
Valentina.
Ele ficou me encarando sem desviar o olhar durante pelo menos dez
minutos, enquanto ouvíamos o som da mulher terminando de arrumar as coisas
na cozinha, depois deixando a casa.
— O que tem para me mostrar? — sondei apreensiva com medo que
papai aparecesse com um álbum de fotografias de pessoas mortas; nossos
antepassados.
— Meu quarto.
O segui pelo longo corredor ornamentado por uma dúzia de quadros em
tons de cinza esfumaçados, que formavam figuras fantasmagóricas ou animais
deformados. Engoli em seco sentindo calafrios.
Heitor abriu a penúltima porta do corredor e segurou minha mão. Parecia
extasiado por me levar ali. A porta rangeu alto demais. Ou era apenas minha
audição aguçada pelo êxtase do momento?
Percebi sua empolgação, o quanto aquilo era importante para ele.
— Mamãe já esteve aqui? — perguntei antes de olhar o interior do
quarto, mantendo os olhos fixos em Heitor, nas sardas do seu rosto, no verde
escuro das íris. Ele mal respirava.
— Sim — respondeu. Estávamos parados na porta, nos encarando.
— E aí? — eu quis saber.
— Foi um erro. Um erro terrível — ele declarou.
— Por quê? — insisti em ir mais a fundo.
— Ela não merecia estar aqui. Não era como você, meu bem. Primeiro te
levei para a caçada na floresta escura, e você não me desapontou em nada. Agora
te mostro meu quarto, a minha intimidade. Quer algo mais pessoal que isso?
Primeiro trouxe Lua aqui, depois a levei para caçar, ela não gostou. Devia tê-la
testado antes, saber se ela merecia estar aqui. Acha que sou louco, Valentina?
— Acho que você é intrínseco, peculiar. Se você é louco, eu também sou.
Adoro sua loucura. Quero pertencer a ela. Quero que a descarregue em mim.
As palavras simplesmente saíram da minha boca, e quando me calei, foi a
boca de papai que se abriu, mas não para falar. Ele a colou na minha, invadindo
com a língua macia.
Me agarrei ao seu corpo sem medo, me grudando nos braços nus e
tatuados. A rigidez do cinto e da sua virilha se chocaram contra minha pélvis,
antes de ele nos afastar repentinamente.
— Calma, meu bem — disse tão baixo, tão aveludado, que fez meu corpo
relaxar e querer mais da sua voz.
— Estou calma — murmurei em resposta. — Muito calma.
Era mentira; meu corpo sentia fome daquela carne, daquele pedaço de
pecado que ele colocava dentro de mim.
Então estávamos afastados um do outro.
Eu pude ter uma ampla visão do seu quarto, da parte mais íntima e
particular da casa obscura.
Me senti em outro século. A riqueza de detalhes esculpidos e entalhados
na madeira de lei, a posição de cada móvel, as formas arqueadas, os tons escuros
e profundos presentes em tudo, o lustre de velas pendendo no teto, nada daquilo
poderia ser uma réplica. Tudo parecia original, feito à mão.
Aquele cômodo sombrio e dramático era emocionante, sensacional. Dava
para ter uma ideia de como Heitor era único e complexo.
Por mais que eu fosse uma garota cheia de energia, feliz e otimista, me
encaixei rapidamente ali, me senti em casa. Não exatamente segura, mas
disposta a encarar todas as consequências sem medo.
Senti vontade de andar até o balcão de pedra, à luz do abajur de lâmpada
incandescente (nada de luzes florescentes, tudo era iluminado por luzes
amareladas) e ver de perto as miniaturas minimamente detalhadas de baús feitos
de madeira e ferro; queria abri-los, descobrir o que havia lá dentro. Desejei tocar
o ferro forjado das peças decorativas, senti-lo frio entre meus dedos.
Pensei em caminhar até a cama de dossel, toda feita em madeira, com
milhares de fissuras e desenhos, arcos pontiagudos e convidativos. Cortinas
pendiam abaixo do dossel, colocadas ali para esconder o que poderia se passar
sobre o colchão.
Imaginei fechar as cortinas em volta da cama, nos ocultando lá dentro, só
papai, eu e a escuridão. Ele me deixaria sozinha por alguns minutos, se
mantendo afastado do meu corpo, no silêncio quebrado apenas pelo som da
minha respiração descontrolada, ansiosa. Suas mãos me encontrariam, então;
quentes, fortes, duras. Haveria gemidos e uivos. A fera devorando a presa com a
qual brincou o dia inteiro.
Minha mente cogitou tudo isso, ainda assim, fiquei lá parada, observando
tudo.
— É tão sombrio e sexy — cochichei com medo que, se fizesse barulho
demais, poderia fazer aquele castelo de contos de terror desaparecer.
— Estilo gótico — Heitor explicou. — Gosta?
— Acabei de descobrir que gosto — confessei.
— É bonito. Quero que você aproveite tudo. Vai obedecer, meu bem?
— Farei tudo que pedir — garanti de forma objetiva.
— Ótimo. Comece tirando a calcinha. Apenas isso. Quero você vestida,
por enquanto.
Meus dedos subiram pelas coxas, encontrando as laterais da calcinha. A
puxei devagar enquanto o encarava, mordendo o lábio inferior. Quando acabei,
Heitor segurou minha mão e me puxou para perto da cama.
Os batimentos se elevaram quando nos aproximamos, mas não era ali que
ele queria me levar. Passamos direto, seguindo até um divã de veludo que
possuía braço apenas em uma das laterais.
— Suba.
Obedeci de prontidão, ficando de joelhos e esperando a próxima ordem.
Engoli em seco ao vê-lo tirar a camiseta. Como alguém podia ser tão
lindo?
Meus olhos passearam rapidamente pelos desenhos gravados na pele. A
águia, o tubarão, o crucifixo, meu nome em cima da costela, além de várias
outras tatuagens. O corpo esguio, ainda assim, com cada músculo definido, a
pele macia... Todo o conjunto se moveu enquanto ele chegava mais perto,
subindo no divã.
Esqueci como respirar.
— Já cavalgou, Valentina? — papai quis saber. Sua respiração quente
batia contra minha boca. Ele era sexy e hot demais.
— Sim, já cavalguei — sussurrei a resposta tentando me segurar,
implorando para ser forte, mas acabei fraquejando e deixando as mãos subirem
até seus cabelos escuros.
Ele se contorceu com meu toque, fechando os olhos e deixando o ar
passar pelos lábios entreabertos.
Muitas vezes, como agora, ele parecia só um menino carente de afeto.
Arrastei os joelhos sobre o divã, me aproximando, e alcancei seu peito,
beijando o lado esquerdo, sentindo as batidas violentas do seu coração. Heitor
ficou imóvel quando minha boca subiu lentamente, tocando as tatuagens,
alcançando o pescoço, roçando nos pelos da barba que começavam a nascer.
Antes de encontrar sua boca, ele me deteve, empurrando meus ombros.
— Me mostre como você cavalga — falou com o tom de voz mandão.
Pensei que Heitor estivesse pedindo para cavalgar em cima do seu corpo,
mas não era bem assim.
— Veja como o veludo é macio — ele sussurrou ao tocar o tecido sobre o
braço do divã. — Experimente.
Fiz como ele disse, deslizando a mão no veludo escuro.
— Assim não, meu bem! — papai me repreendeu. — Você precisa
montar aqui em cima. Não é com sua mão que eu quero que você sinta.
Uma das sobrancelhas estava arqueada, o olhar perverso me examinando.
Fiquei corada. Ele queria que eu cavalgasse no braço do sofá! Ele...
Arfei, em seguida mordi o lábio.
— Só estamos nós dois aqui — Heitor murmurou com o tom de voz
convidativo. — Você sabe meu segredo, eu sei o seu. Vamos lá, filha!
Suas mãos me puseram de costas para ele. Uma delas apertou a base da
minha coluna para baixo, a outra afastou minha coxa, a passando sobre o braço
aveludado. Apoiei as mãos onde pude, antes de papai se debruçar sobre mim.
Sua boca ofegava quando alcançou meu pescoço. Ele afastou meu cabelo
e chupou a pele, a abocanhando. Uma das mãos estava nas costas, escorregando
para baixo, passando por minha barriga, encontrando um dos meus seios, o
apertando com voracidade por cima do tecido.
O peso do seu corpo, assim como o calor, estava sobre mim, e Heitor
deslizava devagar, escorregando no meu quadril, me pressionando sobre o braço
do móvel.
Arregalei os olhos quando entendi o que ele estava querendo dizer com
cavalgar.
Senti sua boca no meu ombro, a saliva molhando o tecido da blusa, os
dentes fortes raspando na pele ainda vestida.
Uma mão agarrou meu cabelo, e papai se ergueu, saindo de cima das
minhas costas, me puxando para si pelos cabelos.
— Comece — ele ordenou.
Apoiei as mãos na frente e fiz o primeiro movimento. Era estranho, só
que os dedos de papai ainda estavam na minha nuca, as pontas massageando o
couro cabeludo.
— É macio? — ele quis saber.
Fiz que sim com a cabeça.
— Se aqueça. Você precisa se esquentar contra o veludo. A fricção vai te
incendiar. Vá em frente.
De onde ele tirava aquelas ideias? Era tão incomum, mas com Heitor ali,
o incomum parecia fascinante.
Ainda corada, fiz de novo, deslizando em cima do braço, deixando meu
sexo roçar. Para minha surpresa, a fricção era prazerosa.
Então apertei mais forte, a coluna arqueada, a cabeça se movendo com o
toque de seus dedos.
— Assim, meu bem — ele sussurrou. — Papai está aqui te ensinando a
cavalgar. Como se sente?
Ele queria saber como eu me sentia? Me sentia pervertida me esfregando
contra um móvel inocente, como uma fêmea no cio que não aguenta esperar um
macho para copular.
— Está gostoso — cochichei, minha voz saindo rouca.
— Ótimo, quero que sinta prazer, que descubra como você mais gosta.
Agora feche os olhos, imagine que sou eu aí embaixo, que você está cavalgando
sobre mim.
Cerrei as pálpebras, deixando as palavras de Heitor me levarem.
— Vá um pouco mais rápido, filha — ele sussurrou, o hálito quente
contra meu pescoço. — Desse jeito é mais gostoso?
— Sim — respondi soltando um gemido.
Na minha mente, eu estava sobre sua pélvis, nossos corpos encaixados,
seu sexo dentro do meu. Papai estava me olhando enquanto eu escorregava sobre
ele, me apertando com força, morrendo de prazer.
Ele sabia como invadir e dominar minha mente.
Eu estava molhada, no ponto para que ele me penetrasse, queimando,
sentindo as coxas formigarem, arfando.
Papai me agarrou, encostando o corpo no meu, passando os braços em
volta da minha cintura, me empurrando com muita força para baixo, para a
frente, para trás. Frente e atrás; rápido, forte, contra o veludo.
— É assim que você deve fazer, meu bem — ouvi seu murmúrio, quase
um grunhido, e eu sabia que ele também estava com tesão, pois, a cada vez que
me puxava para trás, minha bunda era espremida contra sua pélvis. — Quando
estiver sobre mim, é com força que você tem que cavalgar, muita força.
Sentia meu interior queimando, as chamas lambendo a pele. Eu estava
muito espremida contra o divã, sentindo o clitóris escorregar na minha
lubrificação e no veludo; era indecente, tão indecoroso quanto transar com o
próprio pai, mas quem não gosta um pouquinho de libertinagem? Só um
pouquinho...?
— Ainda está gostoso? — ele questionou.
— Muito! Está delicioso — respondi rápido, a voz entrecortada, meus
nervos abalados com o nível da sem-vergonhice.
— Mas não quero que acabe aqui, quero que goze na minha boca — dito
isso, Heitor me puxou, obrigando-me a sair do divã.
Estava quase lá, bastavam pouquíssimos movimentos e eu teria
explodido.
Saí dali cambaleando, sem noção de espaço, com movimentos bruscos,
enquanto ele me levava até a cama.
Meu corpo foi empurrado sobre o colchão macio.
— Feche os olhos, meu bem. Não ouse abrir.
— Eu não ousaria — garanti me deliciando com o conforto de estar
deitada.
— Imagine que papai foi a uma reunião na sua escola — Heitor começou
enquanto subia na cama, as molas rangendo com o novo peso. — Fui chamado lá
porque você se comportou mal.
Agora ele estava afastando minhas coxas, os dedos passeando pelo
interior delas, subindo.
— Papai estava muito ocupado, mas precisou sair do trabalho porque
você é um caso perdido.
Senti a ponta de um dos dedos na minha entrada. Precisei ser forte para
não me jogar contra ele. Estava morrendo de vontade, de tesão, e Heitor ainda
ficava inventando historinhas, brincando com minha imaginação.
— A diretora me disse que não sabe mais o que fazer com você,
Valentina! — ele murmurou, parecia chateado.
Agora eram dois dedos pressionando minha entrada, invadindo bem
devagar. Cerrei os dentes e, na minha cabeça, soltei um gemido longo.
— Eu disse que não vou mais tolerar seu comportamento, que você vai
aprender o que é certo! ― Heitor continuou.
Seus dedos — provavelmente o indicador e dedo médio — estavam
fazendo aquele movimento de vai e vem. O polegar pressionando lá atrás, na
minha outra entrada, mas sem invadir, apenas tocando com sutis movimentos
circulares.
Cerrei os dentes, incapaz de controlar as reações do corpo. Minha coluna
arqueou, enquanto o quadril se movia devagar.
— O que você acha que merece?
— Ser castigada! — respondi extasiada.
Meus pés buscavam seu corpo. Quando encontraram, se enroscaram nas
suas costas.
— De que jeito? — papai insistiu, os dedos indo mais rápido. Eu já
estava excitada demais antes, era questão de míseros movimentos para retomar a
loucura.
— Me prenda em casa, não me deixe sair — murmurei, os calcanhares
esfregando suas costas.
— Muito pouco — ele disse e senti sua língua lamber meu clitóris. Foi
fatal. Ergui o quadril na tentativa de prolongar o contato. — Te proibir de gozar
é o maior castigo. Uma punição digna de uma filha perversa como você.
Quinze
Q
uase implorei para ele não fazer aquilo comigo, afinal, eu não tinha feito nada de
errado. Não merecia aquele castigo.
Mas, quando se tratava de Heitor, eu não tinha o controle sobre nada. Se quer
podia ter um orgasmo sem que ele concordasse, ainda mais ali no seu quarto
particular e sombrio.
— Por favor — pedi inutilmente após abrir os olhos.
— Depois, meu bem.
— Malvado!
— Vamos jogar primeiro.
— Que tipo de jogo? — perguntei mal-humorada enquanto abaixava a
saia.
— O jogo em si não é importante. Complexas são as recompensas para
quem ganhar.
— O que serão?
— Se você ganhar, sou todo seu, faço o que quiser durante o final de
semana inteiro. Rastejo a seus pés, te sirvo, serei seu escravo. Mas se você
perder, ah, Valentina! Meu bem, se você perder, seu corpo, sua mente, sua alma,
tudo será meu. Posso te amarrar, colocar uma coleira, te deixar nua, te pendurar,
te chicotear, qualquer coisa que eu tiver vontade.
— Uma coleira com seu nome? — questionei curiosa.
— Exatamente.
— E enfiará objetos que vibram dentro de mim, papai?
— Muitos! Pense bem se aceita jogar ou não. Posso te levar para
conhecer os cachorros da fazenda, eles vão querer lamber você inteira, e eu não
farei nada para impedir.
Arregalei os olhos, dessa vez, muito espantada.
— Zoofilia? — cochichei.
— É uma possibilidade. Só estou deixando claro o que posso fazer caso
você perca.
— Sexo normal não te agrada? — sondei ainda assustada.
— Muito chato, meu bem. Somos pai e filha, já estamos com nossas
passagens compradas para o inferno, por que nos condenar por fazer o que todos
fazem? Se é para ser condenado, é preferível que seja por algo que valha a pena.
De certa forma, ele tinha razão, não tinha?
— E qual é o jogo dessa vez? — perguntei curiosa.
— Muito, muito simples. Você irá se esconder em algum lugar da casa,
eu terei até a meia noite para te encontrar. Se não conseguir nesse tempo, você
ganha, se eu te encontrar...
— Serei punida — completei.
— Isso mesmo. Nós dois somos dominadores, é preciso jogar para
decidir qual será o submisso.
Eu não sabia se queria ser submissa. Não estava certa sobre a parte dos
cachorros. Ele não poderia estar falando sério. Mas eu só precisava ficar
escondida até meia noite para tê-lo sob meu domínio.
— Vai me obrigar a comer alguma coisa nojenta? — investiguei.
— Isso não, meu bem.
— Então eu topo.
O sorriso torto e perverso apareceu. Ele estava de pé ao lado da cama, me
observando levantar.
— Está bem alimentada? — perguntou quando me aproximei.
— Sim. Pena que você não pôde colocar comida na minha boca —
comentei apoiando as mãos sobre seu peito.
Heitor me girou rapidamente, me empurrando contra uma das colunas do
dossel da cama, pegando meus pulsos e esticando meus braços para cima,
prendendo os pulsos acima da minha cabeça com uma das mãos.
Por um segundo, não queria que ele fosse meu pai. Me senti melancólica.
Aquilo não iria muito longe. Só que ele era tão perfeito, a sua maneira, que eu
desejava tê-lo cada vez mais. Gostaria de continuar provando dele, conhecendo
seu mundo, seu psicológico afetado.
Sua testa estava encostada na minha. A mão livre segurou meu joelho
esquerdo, o levando até seu quadril. Então ele me tocou por cima da roupa,
deslizando sobre todo o meu corpo.
Meu coração batia descompassado. Seus olhos fitavam os meus e
pareciam muito escuros com as sombras do quarto; fazia silêncio.
— Você vê? — papai sussurrou. — Você consegue ver?
— O que? — respondi com outra pergunta. Míseros centímetros
separavam nossos lábios, sua respiração se chocava contra minha pele. Os
braços estavam ficando gelados, por causa da posição na qual se encontravam. A
pele por baixo da saia queimava em contato com o jeans de papai.
— Eu vejo — ele disse sem responder a pergunta.
— O que? — insisti.
— Seus olhos... você... nossas peles... Só fique assim, imóvel — ele
falava devagar, cochichando. — Somos como espelhos. Não consegue ver, meu
bem? Você é meu reflexo.
Meu corpo inteiro se arrepiou com aquelas palavras. Incapaz de me
controlar, forcei os pulsos para me libertar da sua mão. Conseguindo, abaixei os
braços e empurrei o peito de Heitor com toda a força que consegui juntar,
fazendo com que ele caísse no chão.
Fui para cima de Heitor sem pestanejar. Montei sobre seu quadril, e ele
ergueu as costas, apoiando-se nos cotovelos. Minhas mãos agarraram seu
pescoço, os dedos tocando sua nuca. O encarei por alguns segundos, dominada
por tantos sentimentos que não seria capaz de descrever; eles pareciam línguas
quentes e úmidas lambendo minha pele, deixando todos os pelos eriçados.
Era como se uma música — feita sob encomenda para nós dois —
estivesse tocando distante, com batidas fortes e ritmadas. Me movi sobre sua
pélvis no embalo da canção, só que não havia som algum, exceto pelas batidas
dos nossos corações.
Queria arranjar um jeito de demonstrar a paixão que estava sentindo, mas
não tinha ideia de como fazer isso. Ele estava imóvel me encarando, permitindo
que eu continuasse me aproveitando, deslizando sobre ele.
— Sim, eu vejo — murmurei após um gemido, e meu coração quase
explodiu.
“Estou apaixonada por você... papai...” me imaginei murmurando essas
palavras. Melhor “Estou apaixonada por você, Heitor”.
— Você se parece com Lua, mas é meu reflexo que vejo quando olho nos
seus olhos — ele confessou.
Poderia um coração bater tão rápido?
— Somos iguais — falei.
— Não — ele negou. — Somos metade. Não se sentia pela metade antes
de me conhecer?
— Sim... — murmurei tão baixo que não tive certeza se Heitor ouvira.
Eu estava entrando em colapso. Parei de me mover, era difícil até respirar.
Engoli em seco. Ele sabia exatamente como eu estava antes de encontrá-lo.
Ainda comigo sobre seu colo, ele sentou-se e passou os braços em volta
da minha cintura, as mãos encontrando meu cabelo e percorrendo todo o
comprimento.
— Seu coração não bate mais forte agora que tem a mim? — meu pai
perguntou.
— Sim, ele bate.
Na verdade, não batia mais forte, ele estava padecendo em explosões.
— O meu também. Você é a parte que faltava, aquela que aceita o que
vem de mim. Foi difícil quando não deu certo com ela, mas fui recompensado
com algo bem melhor — você.
— Papai, você me quer como queria minha mãe? — arrisquei perguntar.
— Claro que não, meu bem. Eu te quero muito mais — ele confessou.
— Estou tentando dizer... Você queria ficar com ela, suponho eu.
Desejava que ela lhe amasse, que dessem certo. Estou falando de para sempre.
Estava arriscando demais ao falar, mas não tinha certeza se seria capaz de
esconder aquilo dele por muito tempo.
— Eu te quero para sempre — ele respondeu, e eu não precisei ouvir
mais nada.
O beijei apressada, puxando os fios dos seus cabelos entre meus dedos.
Notei quando ele me girou, fazendo com que eu caísse no chão, se debruçando
por cima de mim, os joelhos afastando minhas coxas.
Sem jogos, toquei seu abdômen, descendo para encontrar o botão da
calça, com uma das mãos ele erguia minha saia, me tocando em seguida.
Consegui abrir o zíper da calça, a puxando para baixo junto com a cueca boxer.
Heitor parou de me beijar, mas continuou me encarando, colocou apenas a
glande do pênis entre as minhas pernas, e começou a massageá-lo contra mim,
esfregando em cima do meu clitóris.
Tentei ficar calma. Foi inútil. Tudo queria explodir: coração, pulmões,
corpo.
Então ele puxou para baixo, posicionando na minha entrada e
empurrando. Penetrou alguns centímetros e parou, retirando de dentro.
— Corra, meu bem — papai alertou enquanto subia a calça, a fechando,
me deixando livre e morta de desejo.
Ainda tonta, levantei e corri, passando pela porta e a fechando.
Parei no corredor com a mão apoiada na parede. Observei um dos
quadros fantasmagóricos enquanto tentava recuperar o controle da respiração.
Onde iria me esconder?
Pense, Valentina!
Qual era o lugar mais óbvio para se esconder?
Heitor não me procuraria num lugar óbvio. Ele iria me caçar nos cantos
mais obscuros da casa.
Tentei relembrar os detalhes e móveis dos cômodos por onde passei. A
sala! Havia um armário de madeira escura com vidros na parte superior das
portas — os vidros eram pintados de um jeito que lembravam janelas de igreja.
Não dava para ver o que tinha lá dentro através deles.
Ainda apoiada na parede, tirei os tênis, dei alguns passos, abri uma porta
aleatória no corredor e os joguei dentro do cômodo, voltando a fechar a porta
com uma pancada.
Na ponta dos pés, me dirigi à sala. Encontrei o armário localizado na
parede ao leste da porta de entrada da casa. Caminhei até lá na esperança de que
não houvessem prateleiras.
O abri devagar. Os batimentos cardíacos faziam meu corpo vibrar. Havia
cobertores e casacos ali dentro, e algumas prateleiras, mas logo constatei que
eram removíveis. Testei a do meio para saber se ela aguentaria meu peso.
Imaginando que sim, retirei a única prateleira que estava na parte superior,
afastando os cobertores, e a coloquei — com todo cuidado — em uma das
divisórias inferiores; em seguida, entrei, me sentando sobre a do meio, puxando
as portas para fechá-las.
Consegui fazer tudo em silêncio. Sorri. Heitor não iria começar por ali.
Era fácil demais. Que horas seriam? Faltava muito para meia noite?
Estava muito quieto.
Comecei a prestar atenção nos sons, forçando a audição.
Onde ele estava?
Precisava desacelerar os batimentos, mas o jogo era excitante demais.
Um barulho. Um motor. Engoli em seco.
Ao longe, ouvi um ruído como um motor de carro, mas estava distante
demais. Talvez fosse um automóvel passando pela estrada.
Onde papai estava?
O armário era claustrofóbico e, poucos minutos depois, eu queria sair
dali. Mas não me renderia. Ele só podia estar brincando quando citou os
cachorros. Não é mesmo? Heitor não faria aquilo comigo. Não é mesmo?
Diabos! É claro que ele faria, assim como faria qualquer coisa! Mas... cachorros?
Eu não iria deixar. Sairia correndo ou gritaria. Aquela mulher viria me
salvar, então estaria tudo acabado. Papai não confiaria mais em mim, pensaria
que éramos diferentes, afinal. E eu o perderia. Era isso ou aceitar tudo.
Qual era a intensidade do meu sentimento? Quão apaixonada estava? Até
onde iria minha curiosidade? Em que ponto eu começaria a sentir repulsa das
suas atitudes? O que me assustava era pensar que eu jamais sentiria nojo, que eu
iria aceitar e adorar tudo.
Um latido me fez estremecer, me puxando daquela onda de pensamentos.
Em seguida, três batidas na porta da frente.
Quem estava batendo?
O som dos passos cruzando o corredor me deixaram abalada.
“Quem poderia ser?” Minha mente gritava.
Através do vidro, vi quando papai surgiu na sala. Heitor não poderia me
ver lá dentro, mas senti como se estivesse nua na sua frente. Atravessando a sala,
ele foi até a porta.
Meu coração não aguentava mais.
Heitor abriu a porta e, antes que eu pudesse respirar novamente, alguém
entrou.
Tratava-se uma mulher. Ela era loira, corpo bonito, usava um vestido
preto e saltos. Muito evasiva, empurrou meu pai até o sofá, fazendo com que ele
caísse deitado, e partiu para cima dele.
Arregalei os olhos. Quase saí do esconderijo e interrompi os dois.
— Por que não avisou que estava na cidade? — ela perguntou passando
os dedos pelo seu abdômen despido.
— Eu não vim para isso — papai respondeu. Seu corpo estremecia nas
mãos dela. — Vim ficar com minha filha.
— Que filha? Nunca me disse que tinha filha!
— Ela está no quarto. É muito ciumenta. Você precisa ir embora. — Ele
parecia nervoso ao falar.
— Quando posso voltar? — A loira era insistente.
— Nos falamos depois, Bia. Só vá embora. Ela é uma adolescente difícil.
Raramente ficamos juntos...
— Talvez, um dia, você me ligue e eu esteja ocupada demais para atendê-
lo — dito isso, ela levantou-se e foi embora.
Heitor ficou de pé, passando a mão pelos cabelos e sorrindo. Ele não
sabia que eu estava ali. Ficou alguns minutos encarando o nada, pensativo.
Depois, se dirigiu ao corredor, parando no portal com as mãos apoiadas, se
balançando devagar, mexendo o pescoço com movimentos circulares.
— Filhinha? — ele gritou repentinamente.
Assustada, quase gritei também.
— Meu bem, onde você está?
Sua cabeça estava virada na direção da cozinha. Tolo! Iria me caçar por
horas. Ele sumiu no corredor e eu sorri, mordendo os nós dos dedos. Tinha sido
muito fácil.
Angustiante era ficar esperando até à meia noite. Talvez adormecesse.
Se eu ganhasse, o que faria com ele? Eram tantas possibilidades, e eu não
era capaz de pensar em nenhuma.
Quem sabe, fazê-lo deitar pelado sobre a mesa da cozinha e queimar os
pelos das suas coxas com a chama de alguma vela. Sentar no seu rosto e obrigá-
lo a me chupar, enquanto beliscava seus mamilos. Proibi-lo de gozar.
Eu não sabia o que fazer, como agir. Não conhecia seu histórico. Não
fazia ideia do que Heitor considerava...
A porta do armário foi aberta com violência, me fazendo sobressaltar
espantada. Como não vi que ele se aproximava?
Lá estava papai, parado diante do móvel, o sorriso torto e perverso com
os dentes expostos
— Te peguei! — ele disse com satisfação.
— Não! Não! Não! — murmurei inutilmente enquanto papai me tirava a
força do armário, jogando meu corpo sobre seu ombro direito.
O sangue desceu para minha cabeça. Tonta, senti o cômodo girar a minha
volta.
Dezesseis
M
eu corpo foi jogado contra o sofá. Uma música muito sexy começava a tocar em
algum ponto da casa. Ele estava de pé admirando minha cara de espanto, ainda
com aquele sorriso.
— Papai está em casa, meu bem. Por que está emburrada?
Não respondi. Havia uma coisa peluda e cor de rosa pendendo do seu
bolso, parecia uma calda.
— Por que está emburrada? — ele repetiu a pergunta aos berros. O
semblante mudou. Agora papai parecia furioso.
Me encolhi no sofá, calada, alimentando sua fúria.
Heitor se agachou, segurou meu maxilar com força e o puxou, me
forçando a sentar. Doeu. Estava só começando.
— Por que. Está. Emburrada? — perguntou devagar, com tanta raiva que
cheguei a acreditar no seu teatro.
— Não gosto de perder — sussurrei o fazendo rir.
— Levante, meu bem. Seja boazinha, e papai não vai te machucar...
muito.
— O que vai fazer? — perguntei. Pela primeira vez desde que o conheci,
estava com medo de verdade.
— Enfiar uma coisinha dentro de você.
Levantei imediatamente. Era arriscado demais deixar o lobo raivoso,
ainda mais quando ele colocaria coisas no meu interior.
Heitor sentou no sofá, segurou meu quadril e me girou, fazendo com que
eu ficasse de costas para ele.
— Tire a saia — ele ordenou.
Obedeci.
Enquanto passava o cós pelo quadril, ele dava tapas na minha bunda,
quase me derrubando.
— Agora se incline para baixo — pediu quando acabei. — Toque os pés
com as mãos.
Fiz como ele pediu, sentindo a pele esquentar como se seu olhar fosse
capaz de me queimar.
— Meu bem — Heitor gemeu antes de lamber entre minhas nádegas, as
afastando, me enchendo com sua saliva.
Gemi também, ficando arrepiada. Ele passava a língua em tudo, cada
centímetro de pele, se demorando na entrada de trás. Não imaginava que fosse
tão gostoso ser chupada ali.
— Senta no meu colo — ele sussurrou. Que voz sexy era aquela?
Me apoiei nas suas coxas e sentei.
— Boa menina!
Ele pegou meus tornozelos e colocou cada um dos meus pés sobre seus
joelhos afastados, me deixando de pernas abertas. Eu vestia apenas a blusa.
Então ele enfiou dois dedos na minha vagina, bem devagar. Estava com as costas
apoiadas em seu peito, a cabeça debruçada no seu ombro, sentindo sua
respiração contra meu pescoço. O corpo começou a dar espasmos com os dedos
me invadindo.
Mordi o lábio, sabia que não adiantava me empolgar demais, ele só iria
me torturar. Foi até o fim e manteve lá por alguns instantes, então puxou
lentamente e ergueu os dedos, observando e brincando com a liga que se
formava do líquido que saía de mim.
Eu estava ofegante nos seus braços. Não era tão ruim assim ter perdido.
Pelo menos até agora.
— Tenho uma surpresa, meu bem. Procure no meu bolso esquerdo.
— Sim, papai.
Enfiei a mão no bolso onde a calda rosa estava pendurada. Senti um
objeto frio lá dentro. O puxei, e o analisei. Era prateado, com uma extremidade
pontuda, e na outra havia a calda.
— O que é isso? — perguntei.
— Um plug anal — Heitor explicou.
— Para que serve?
— Para enfiar no seu ânus, meu bem.
Arregalei os olhos.
— Vai doer!
— Papai vai colocar e você não vai sentir dor.
Heitor pegou o objeto da minha mão e passou os dedos, que havia
enfiado dentro de mim, em volta do metal, o deixando molhado com minha
lubrificação. Então ele posicionou o lado pontiagudo lá e, enquanto o empurrava
para dentro, esfregava o polegar contra meu clitóris. Me contraí quando senti o
plug entrando. Não conseguia relaxar. Sabia que não adiantava protestar.
— Abra a boca — ele pediu segurando meus cabelos, virando minha
cabeça na direção do seu rosto, a deixando imobilizada.
Afastei os lábios e ele enfiou a língua na minha boca, lambendo a minha,
passando a ponta nos meus lábios, mas sem permitir que eu o beijasse. Aquilo
me fez enlouquecer. Queria chupar sua língua, só que ele não deixava. O objeto
continuava entrando, mas agora eu estava perdendo os sentidos, enquanto ele
fazia aquilo e me tocava. As coxas formigaram, esquentando.
— Coloque tudo — pedi implorando para que ele não interrompesse
dessa vez. — Eu fui boazinha, não seja tirano, papai.
Gemi. Relaxei. Contraí. Ele não tirou o dedo, ainda estava massageando
lentamente, e eu queria que fosse rápido. Heitor soltou meus cabelos e abriu o
zíper da calça, colocando o pênis para fora. Senti seu calor contra a pele da
minha bunda, ele pulsava.
Sem paciência, levei meus dedos para baixo, me tocando, esfregando
com força contra meu clitóris, chamando por ele entre os gemidos. Seu polegar
acompanhou o ritmo. Apertei sua coxa com a mão livre e mordi sua língua. Meu
interior foi contraindo, contraindo, contraindo. Senti os mamilos ficarem duros.
O líquido escorria da minha vagina. Aí aconteceu. Arrebatador. Me encolhi e
depois relaxei, sentindo os espasmos no meu canal, o corpo entorpecido. Tentava
recuperar a respiração, quando ele me colocou deitada no sofá, arrumando a
calda do plug entre minhas pernas abertas.
— Rebole, meu bem — Heitor disse ficando de joelhos no meio das
minhas coxas, inclinando-se sobre mim, apoiando as mãos no braço do sofá atrás
da minha cabeça. — Assim poderá senti-lo dentro de você.
— Como quiser, papai — sussurrei mordendo o lábio inferior. Ele não
parecia mais com o Heitor dominador. Estava entregue, o semblante perplexo,
chocado enquanto me assistia mover o quadril. Gemi e mordi o lábio novamente.
— É gostoso, papai — murmurei e ele grunhiu.
Heitor estava sobre mim, mas nossos corpos não se tocavam, o pênis
duro se agitando em espasmos sobre minha barriga.
— Colocou isso em mim porque vai me comer por trás, papai? —
perguntei e ele urrou, ejaculando sem sequer tocar o pênis, despejando leitinho
quente na minha barriga. Os olhos verdes reviravam.
Seu corpo caiu pesado sobre mim e eu o agarrei com meus braços e
pernas.
Dezessete
—V
á tomar banho — Heitor ordenou levantando de cima de mim. Minha blusa e
barriga estavam sujas de sêmen, assim como o abdômen de papai.
— Vem comigo? — perguntei.
— Não. Papai precisa resolver uma coisa agora.
Considerei fazer outras perguntas, mas era melhor ser obediente e não
teimar com ele.
Me dirigi ao quarto onde estavam minhas coisas, tirei a blusa, retirei o
plug e fui para o banho. Quando estava acabando, através do box embaçado de
vapor, notei uma silhueta entrando no banheiro. Limpei o vapor e vi Heitor se
aproximando do vidro.
Fiquei imóvel o observando chegar. O chuveiro ainda estava ligado, a
água escorria na minha cabeça.
Ele sorriu quando encontrou meu olhar, fazendo aparecer uma covinha
em uma das bochechas. Colocou a mão sobre o vidro e seu sorriso ficou torto.
Era como se alguém tivesse colocado a cena em câmera lenta. Devagar, ergui a
mão e a posicionei na frende da sua no vidro.
Não podia ser melhor. Não tinha como um sentimento ser maior que esse.
Abri os lábios e sussurrei “vem”, movimentando o dedo indicador, o
chamando.
Ele mordeu o lábio inferior e olhou para nossas mãos, movendo os dedos
como se estivesse me acariciando.
Me aproximei mais do vidro, colocando a outra mão, respirando
profundamente, quando ele posicionou a outra na frente da minha, as observando
como se nossas mãos juntas fossem uma obra prima.
Por causa do box e o barulho do chuveiro, ele não poderia ouvir o que eu
iria dizer.
— Te amo — murmurei para o homem do outro lado do vidro. Nesse
instante, ele ergueu a cabeça e me encarou, movendo os lábios, dizendo algo.
Não consegui entender o que era, mas não importava. Eu me sentia mais
viva do que nunca. A pele arrepiada, coração batendo forte.
Heitor abriu a porta do box, esticou o braço e desligou o chuveiro. Saí e
ele enrolou uma toalha em volta do meu corpo, me puxando para mais perto,
esfregando a toalha na minha pele. Quando acabou de me secar, ele me levou até
o espelho, alcançou uma escova e começou a pentear meus cabelos.
Investiguei seu reflexo. Heitor estava atrás de mim, passando a escova
devagar, com firmeza. Ela era de madeira, assim como suas cerdas, e provocava
arrepios no meu corpo inteiro quando passava pela nuca.
— Se vista, meu bem — ele disse quando acabou de me pentear —,
depois vá até meu quarto. Vou te deixar escolher entre duas coisas.
Antes de me deixar sozinha, Heitor pegou o plug, que eu tinha deixado
em cima da bancada da pia, e o levou.
Me dirigi ao quarto e encontrei, sobre a cama, a camiseta regata que
papai estava usando quando foi me pegar na escola. Apressei o passo e a
alcancei, levando-a até o rosto para aspirar seu perfume. Ele tinha a deixado ali
porque queria me ver vestindo-a.
Sem pensar duas vezes, a coloquei. Ela caiu até metade das minhas
coxas, mas, como papai era magro, não ficou muito folgada. Apertei as coxas
imaginando o que se passara em sua mente quando Heitor fantasiou me ver com
sua camiseta.
Meu interior começou a pulsar. Será que algum dia essa vontade insana
cessaria?
Fui até a mochila e a revirei procurando um par de meias 5/8 cinzas. As
calcei, respirei fundo e segui meu destino.
Ele estava de pé próximo ao balcão de pedra, de costas para mim,
coberto apenas por uma tolha enrolada em volta do quadril. Era difícil não
perder a compostura na sua presenta, com todo aquele corpo perfeito e as
tatuagens. E eu o tinha só para mim, tanto o corpo quando a alma.
— Papai? — chamei, ainda na porta, sem saber se deveria entrar.
— Meu bem — ele disse ao se virar, o olhar esverdeado encontrando o
meu, descendo pela camiseta, parecendo satisfeito, e ficando perplexo quando
visualizou as meias que iam até acima dos meus joelhos. Com passos largos, ele
cruzou o quarto na minha direção, a toalha foi jogada no meio do caminho.
— Valentina, meu bem — Heitor
murmurou um segundo antes de me agarrar, uma das mãos apertando meu seio
esquerdo, a outra puxando algumas mexas do meu cabelo.
— Sim, papai — sussurrei, sabia que aquilo o provocava.
— Você me enlouquece, filha — ele admitiu enquanto se ajoelhava aos
meus pés, beijando meus joelhos por cima das meias. Parecia me idolatrar.
— Você também está me deixando louca — confessei; seus lábios
subiam, beijando minhas coxas, uma de cada vez, depois se enfiando entre elas,
por baixo da camiseta.
Segurei o portal com as pontas dos dedos e mordi o lábio. Mas ele não se
demorou ali. Logo ficou de pé.
— Você entende o que acontece entre nós? Consegue compreender? Você
descende de mim. Eu fiz sexo com sua mãe, ejaculei dentro dela... ela teve
você... Você cresceu... E agora é em você que estou entrando... Pequena, mal
comporta meu tamanho... Quando eu te penetro... Não é louco? Estou comendo
alguém que eu concebi. Isso não te excita?
— Sim — pronunciei sem ar. — Isso me enlouquece. Somos tão
parecidos! Eu não sinto culpa, não me importo de você ser meu pai. Só de ouvir
sua voz, já estou molhada. Agarrei sua cintura. Sentia tanto desejo que doía, não
conseguia enxergar direito, como se uma nevoa tivesse se apoderado do quarto.
― Me coma, papai — continuei. — Já que você não cuidou de mim quando
precisei, ao menos me coma agora, alivie esse desejo que nunca cessa. Estou
implorando.
— Sim, meu bem. Vamos apagar esse fogo — ele disse, mas eu sabia que
o fogo nunca seria apagado, eu só ficaria mais viciada nele. — Só que antes você
precisa escolher.
— Diga!
— Prefere ser comida na minha cama ou lá fora. Tem uma surpresa
esperando por você nas duas opções. Escolhendo uma, você perde a outra.
— Aqui! — quase gritei, consciente de que ele não traria cachorros para
dentro do quarto. — Por favor, aqui! Na sua cama. Quero deixar meu cheiro
onde você dorme.
Papai estava sorrindo agora. Ele mordeu os lábios colocando minhas
mãos dentro das suas, me puxando devagar.
— Vai entrar dentro de mim? — perguntei. Não aguentaria outra tortura.
Ele apenas alargou o sorriso, o fazendo ficar torto. O coração batia
furioso. Cada partícula de mim estava apaixonada por Heitor.
Movi os pés, o seguindo enquanto ele me puxava.
— Vamos brincar, querida.
— Brincar de que, amor? — arrisquei chamar, sentindo os nervos à flor
da pele.
— Isso, me chame de amor. Vamos brincar de sermos papai e mamãe.
Quero te mostrar como tirei a virgindade da sua mãe.
Parei de andar, incerta sobre como me sentir em relação a isso. Meu
sorriso se desfez. Se ele percebeu, fingiu muito bem. Continuou me puxando, e
quase tropecei nos próprios pés. Senti um nó se formando na garganta, minha
língua ficou com um gosto amargo. Ele dizia que gostava mais de mim, só que...
— Essa cama já estava aqui há dezoito anos? — sondei.
— Sim, querida. Comi sua mãe nessa mesma cama.
Não queria que ele me tratasse assim. Queria que voltasse a me chamar
de “meu bem”, “filhinha”. Percebi que adorava ser tratada como filha.
— Era assim que você a chamava? “Querida”?
— Sim. Se importa de fingir ser ela?
O encarei por alguns segundos. Ele parecia estar a ponto de uivar. Droga!
Papai ainda a amava. O que fazer?
Heitor estava mordendo o lábio agora.
— Por quê? — eu quis saber.
— É só um jogo, meu bem. — Ele parecia não dar importância aquilo. —
E você perdeu.
— Perguntou se eu me importava. Eu me importo — falei com seriedade.
Ele estava me tratando como um mero objeto. Algo para aliviar as tensões
emocionais e sexuais.
— Mas você topou jogar. E você perdeu.
Adiantava discutir? Era isso ou encarar os cachorros.
— Só queria que você focasse em mim, não nela — murmurei.
— Estou focado em você, Valentina.
— Então, por que essa coisa de fingir ser ela?
— Apenas um jogo. Mantenha os olhos em mim, meu bem, você vai
perceber como é fácil entre nós dois.
Heitor pegou uma das minhas mãos e a levou até seu peito esquerdo, a
deixando ali. Em seguida, ele colocou a outra sobre meu coração, sem apalpar
meu seio, apenas sentindo.
— Qual deles bate mais forte? — ele perguntou com a voz sexy, de
causar arrepios.
— Eu não sei — sussurrei incapaz de raciocinar com aquela mão no meu
peito, sua pele quente por baixo dos meus dedos, as batidas frenéticas.
— Diga que me quer. Devagar. Sussurrando. Sinta como meu coração vai
reagir.
Suspirei. As emoções faziam tudo tremer. Que tipo de homem era ele?
Engoli em seco.
— Eu te quero, Heitor — fiz como ele pediu. Devagar. Sussurrado. A
pulsação contra meus dedos adquiriu novas proporções. Foi insano como seu
coração reagiu às minhas palavras. Meu corpo havia esquentado novamente, e
estávamos muito perto. — Só não sei se você realmente me quer ou só quer
minha aparência... porque me pareço com ela...
Deixei a voz morrer e mordi o lábio. Papai estreitou os olhos e me
investigou por um instante, parecia desacreditado.
— Você pensou mesmo isso, meu bem? — ele quis saber, a voz saindo
rouca. — Olha para mim, veja todas essas tatuagens. Há algum nome além do
seu? Acha que eu faria isso se você não fosse a pessoa mais importante do
mundo para mim?
— E sou...? — Era preciso ouvir com todas as letras.
— Não há outro nome, porque nunca conheci alguém que mexesse tanto
comigo como você fez. E foi de repente. Juro que nunca cobri nenhuma
tatuagem, se quiser, te deixo examiná-las. Não tem outro nome no meu corpo. Só
o seu. Eu te amo como filha, te amo como mulher. É muito confuso, mas é a
verdade. Acho que você consegue me entender. Talvez você sinta algo parecido.
Era fácil conversar com Heitor quando ele me deixava enxergar sua
alma. Ou ele só estava me enganando?
Por que enganaria? Não fazia sentido.
— Meu bem, mantenha seus olhos nos meus — ouvi seu sussurro depois
de algum tempo no qual fiquei em silêncio. Seu dedo indicador tocou meu
queixo e o impulsionou para cima, me induzindo a encará-lo. Agora ele parecia
apreensivo. Eu não havia dito nada depois das suas declarações.
Umedeci o lábio. Ele disse que me amava. Foi tão forte que me tirou o ar
dos pulmões.
— Eu te amo — cochichei tão baixo que nem eu ouvi. Mas ele sim;
talvez tenha feito leitura labial. Os olhos verdes e escuros brilharam, seu
semblante mudou, o sorriso torto apareceu. — Estava com medo de você não me
amar, de só querer a parte de mim que te faz lembrar minha mãe, de você...
Não pude terminar de falar, papai me girou fazendo com que meu corpo
rodopiasse pelo quarto. Pude ver seus dentes brancos e alinhados sorrirem
quando ele me puxou de volta para seu peito. Estávamos nos afastando da cama.
Heitor me balançava para um lado e para o outro no ritmo de uma música que
tocava em algum ponto da casa. Ele parecia o homem mais feliz do mundo
comigo entre seus braços.
— Você está ocupando o vazio que machucava meu coração — declarei.
Fui girada novamente e, dessa vez, Heitor me puxou de costas para seu
peito, então, com apenas um braço, prendeu meu corpo, em seguida, tapou meus
olhos com a mão livre. Fui levada de volta à cama, mas permanecemos de pé.
Meu coração batia ainda mais forte na escuridão.
Heitor me soltou e rapidamente vendou meus olhos com um tecido
macio.
— Ainda temos nosso jogo — a voz sexy me lembrou enquanto ele
tirava minha blusa —, e você perdeu.
Não o ouvi mais. Após prender meus pulsos com uma corda, papai
colocou um headphone nos meus ouvidos. A mesma música que tocava distante
agora enchia minha mente, relaxando meu corpo à medida que eu era levada
sabe Deus para onde.
Meus passos o acompanharam vacilantes. Pensei em dizer que eu tinha
escolhido a opção de ficar dentro do quarto, ao invés de ir lá fora com os
animais. Só que, depois de toda nossa conversa, senti que Heitor não me serviria
de bandeja para os cachorros. Então, sem protestar, eu o segui na escuridão da
venda.
Paramos após alguns passos e um ranger de porta. Percebi que
entrávamos em outro cômodo. A expectativa fazia meus nervos vibrarem. Engoli
em seco quando senti ele me empurrar contra algo.
Me deitei sobre uma superfície fria, porém, macia. Lembrava um sofá de
couro, mas não havia encosto. Logo notei as cordas sendo enroladas nos meus
pulsos que foram puxados para cima da minha cabeça.
Era escuro. A música agora vibrava; afastava o medo, mas não a
expectativa do que viria.
Quando meus pulsos estavam totalmente imobilizados, minhas pernas
foram suspensas, as coxas afastadas e erguidas até a altura da minha cintura. Eu
estava sem calcinha e ele teria uma visão completa do meu sexo. O imaginei
mordendo o lábio, encarando minha intimidade, a boca enchendo de saliva, o
sorriso torto aparecendo.
Então as cordas envolveram minhas coxas e barriga, me deixando presa,
sem opções de movimento.
Minhas entranhas congelavam só de pensar que minhas pernas estavam
abertas daquela maneira para papai e que, em questão de instantes, ele colocaria
sua boca bem ali.
O volume da música aumentou, mas não o suficiente para incomodar.
Segurei a corda com as pontas dos dedos e mordi os lábios.
Só o escuro e a música, nada mais. Foi assim por alguns minutos. Ele
estava me testando — eu sabia — esperando que sua filhinha gritasse. Mas não é
o escuro que nos assusta, é o que se esconde nele que nos põe medo e,
francamente, não tinha mais medo de Heitor.
Veio o primeiro toque. Sem suavidade, ele tapou minha boca e meu nariz,
impedindo minha respiração, como se fosse para mostrar que, sim, eu deveria ter
medo dele. Suas mãos deslizaram dos meus ombros para baixo, parando em uma
das minhas coxas.
A música, que antes falava sobre amar profundamente, mudou. Agora
uma mulher gemia na introdução, dizendo coisas sobre ficar em silêncio, pegar
fogo, ficar louca, mais gemidos. A batida envolvia todo meu corpo.
As pontas dos seus dedos acariciaram meu joelho. A língua lambeu meu
pé suspenso e desceu pela parte interna da perna, devagar e suave. Quando
chegou próximo a virilha ele mordeu a pele, depois se afastou. Permaneci quieta,
ainda que morrendo de ansiedade.
Sem aviso, após um longo momento, sua boca encontrou meu sexo. Se
movia devagar, depois me sugava com força, fazendo a agonia doce crescer
naquele escuro.
Houve uma pausa.
Algo caiu sobre meu púbis, era frio, gelado. Gelo! Heitor estava
colocando gelo sobre mim.
Tentei me encolher para aliviar a sensação e os arrepios, mas as cordas
não me permitiam movimentos, então mordi o lábio com força e gemi. Cada
pedacinho de mim tremia.
Junto com o gelo, veio algo duro posicionado contra minha entrada.
Quando as vibrações começaram, foi delirante. Ele estava deslizando as pedras
de gelo entre os grandes lábios, enquanto esfregava o vibrador bem ali.
— Por favor, papai — gemi, implorei. Começou outra música e era tão
sexy que eu soube que teria um orgasmo quando a ouvisse de novo. — Não seja
malvado...
Eu queria aquela vibração dentro de mim, mas ele não tinha pressa. Meus
dedos se agarravam as cordas, meu peito se agitava rápido com a respiração e os
batimentos. Movia a cabeça enquanto minha boca revezava entre gemer e
morder.
A batida diminuiu, e a mulher cantando soltou um risinho debochado no
instante em que ele começou a empurrar o vibrador, aumentando a intensidade.
— Mais — pedi. Queria que papai colocasse todo dentro de mim.
Sua língua estava me chupando de novo, o gelo derretia sobre meu púbis
escorria pela virilha, o aparelho entrava e saia bem rápido, e havia algo mais.
Senti a maciez da calda deslizando na parte interna da coxa. Usando a mão livre,
Heitor estava posicionando o plug anal na minha entrada de trás. Com todos
aqueles estímulos, não me importei. Ele podia preencher todos os meus orifícios,
me comer dos pés à cabeça, e eu não ligaria. Estava chegando lá. Nunca
imaginei sentir prazer desse jeito, lá atrás, e agora queria mais.
— Mais rápido — murmurei entre os gritos. Se ele parasse agora eu
jamais o perdoaria.
A nova música soava como batimentos cardíacos, a mulher implorava
para que seu amado não a deixasse. Ela estava enlouquecendo, assim como eu,
mas estava consciente que aquilo não duraria. Era como um sonho, ainda assim,
ela não podia evitar se entregar.
Cerrei os olhos por baixo da venda, viajei na música, deixando aquele
formigamento crescer delicioso entre minhas coxas, torturando e pulsando sob a
língua de papai. O prazer tinha tomado conta do meu mundo, estava até nos
ossos, como se eu fosse uma chama. A pele tremia, meus lábios gemiam,
imploravam por mais, e eu estava tentando segurar mais um pouco, me
concentrando para prolongar a sensação.
Perder foi a melhor coisa.
Meu corpo se contraiu inteiro, os membros forçando as cordas. Não me
importei com a ardência na pele onde estava presa, só contraí ainda mais, afastei
os lábios e gritei quando o clímax chegou. Foi longo e, quando acabou, fez meu
corpo relaxar. Quando os gemidos cessaram e a convulsão parou, ficou apenas
aquele rastro, o latejar sutil e delicioso no meu sexo.
Percebi que Heitor não estava mais ali. Só havia o plug ainda encaixado
dentro de mim.
O sangue circulava rápido pelo corpo. Minha boca estava seca. O volume
da música abaixou devagar a ponto de eu poder ouvir outros sons. Uma porta foi
trancada.
— Te amo, papai — sussurrei quando senti sua barba no meu pescoço,
seus lábios no meu maxilar.
— Também te amo, meu bem — ouvi sua voz se sobressaindo a música,
sua respiração estava acelerada. — Papai tem uma surpresinha. Se você for tão
parecida comigo como penso que é, vai adorar.
— O que é? Abra meus olhos!
— Ainda não, filha. Por favor, não tenha inibições.
Mordi o lábio. O que poderia ser dessa vez?
— Quão profundamente você me ama? — ele quis saber.
— Até o fim — respondi.
— Eu a amo mais do que ninguém jamais te amou. — Sua voz era
apenas um sussurro perto do meu ouvido. — Aqueles que te criaram, que dizem
te amar tanto, jamais iriam querer te dar o prazer que eu tenho para você. Sentir
tanto prazer a ponto de pensar que vai desmaiar. Eu faço isso porque te amo mais
que qualquer outro.
— Somos o que somos. Eu sou sua e eu quero que você sinta prazer
comigo, papai.
— Estou sentindo, meu bem. — Houve uma pausa seguida de um longo
suspiro. — Sua mãe te amamentou?
— O que? — respondi com outra pergunta.
— Sua mãe te amamentou? — Heitor repetiu. — Ela deixou você mamar
nos seios dela?
Que pergunta era aquela?
— Não — confessei. — Mamãe não me amamentou.
— Então você não sabe como é provar os seios de uma mulher?
— Não! — respondi chocada com aquilo. Mesmo que ela tivesse me
amamentando, eu não lembraria.
— Te privaram de muita coisa, filha! — Pelo timbre de sua voz, percebi
que ele estava chateado. — Não posso voltar no tempo e concertar tudo.
— Está tudo bem, papai — tentei consolá-lo. — Agora que te conheci,
me sinto completa.
— Eu quero que você saiba como é — ele disse e ouvi a porta abrindo e
se fechando.
Fiquei paralisada. Alguém além de Heitor estava no quarto.
Quem? Minha mente gritava. Eu estava nua, vendada, amarrada, e tinha
mais alguém no quarto!
Dezoito
—S
em inibições, meu bem — ele repetiu. — Vamos te soltar.
Dois pares de mãos estavam deslizando pelo meu corpo, soltando os nós das
cordas. Reconheci um par como sendo de Heitor, mas o outro... Quem? As unhas
eram compridas e roçavam da minha pele. Quem?
Eu queria gritar “Quem está aqui, papai?”, mas não sabia se poderia
chamá-lo assim agora. Quem?
Meus braços e pernas estavam livres. Os movimentei devagar,
flexionando as pernas e, logo, as mãos de papai seguraram meus pulsos sobre
minha barriga.
— Me ama até o fim? — Heitor perguntou.
— Sim. Quem...
— Shiii — ele cochichou interrompendo minha pergunta. — Não tenha
medo, papai está aqui, e tudo que acontecer essa noite será nosso segredo. Só
quero que sinta prazer, meu bem. Ainda há espaço no seu coração para isso?
— Sim, papai! — Como eu poderia negar alguma coisa com ele falando
desse jeito, dizendo que queria me dar prazer?
— Me dê sua mão — ele pediu segurando minha mão e a erguendo.
Guiada por ele, alcancei uma pele a minha esquerda. Era macia. Heitor me
induziu a subir, entrando por baixo da blusa e alcançando a curva do seio. Meu
coração bateu descompassado. Era tão macio que não resisti a apertá-lo, sentindo
o mamilo na palma da minha mão. Minha pele se arrepiou e um suspiro escapou
dos meus lábios.
Estava queimando de novo. Heitor puxou minha mão de volta e, após um
instante, senti a proximidade. Ela estava sobre mim, seus cabelos escorregando
na minha pele.
— Chupe, meu bem — ele disse antes do mamilo encostar nos meus
lábios. Um calor gostoso de espalhou entre as coxas; meu clitóris inchou,
latejando com a excitação. Jamais pensei que ia sentir vontade de fazer isso, mas
estava louca para fazer. Sabia que ele estava assistindo, e isso o excitava.
— Sim, papai — repeti minha frase clássica.
Primeiro, passei a língua no bico. A textura era incrível. O chupei com
vontade, deixando meus dentes rasparem com suavidade. As mãos quentes e
suaves cercaram um dos meus seios, então ela também estava chupando meu
seio.
Aquilo era tão erótico, tão inesperado, que meu cérebro não conseguia
processar, não via nada de errado. Não estávamos fazendo mal a ninguém. Que
crime estávamos cometendo?
Meu corpo fervia de novo. Senti a barba de Heitor na minha barriga,
subindo para o seio livre. Os dois me chuparam ao mesmo tempo. Aliviei aquela
agonia no seio dela, o abocanhando com vontade.
Ela saiu de cima e voltou para o meu lado. Seus dedos deslizaram para
meu sexo, que pulsava deliciosamente. Com a outra mão, ela pegou minha mão e
a colocou por baixo da sua blusa, em cima do seu peito.
— Quer tirar a venda? — papai quis saber.
Arfei. Vê-la? Quem poderia ser? E se eu não gostasse do que visse?
Mas eu tinha que olhar, não tinha?
— Sim, por favor — murmurei. Não sabia que estava tão nervosa até
ouvir minha voz trêmula e vacilante. Ofegava.
Minha mão ainda estava no seio dela quando Heitor tirou a venda. Tive
que piscar diversas vezes até meus olhos pararem de arder com a claridade.
Virando a cabeça para o lado, eu a vi.
A blusa preta estava erguida acima dos seios, e minha mão tapava um
deles, o mamilo aparecia entre meus dedos. A cintura era fina e dava para ver as
costelas, pele morena clara, os cabelos escuros e grossos caiam até o quadril.
Estava sem calcinha, e me surpreendi com a vontade de tocá-la, passar os dedos
naquela fenda.
Abaixo do quadril, vi o par de coxas, ela usava meias 5/8, como as
minhas. Engoli em seco, tomando coragem de encará-la. Levantei a cabeça
devagar e me surpreendi. Era apenas uma adolescente, assim como eu. Não
poderia ter mais de dezenove anos.
A garota sorriu para mim, os olhos negros brilhando. Abaixando a cabeça
até encostar o queixo no peito, ela chupou um dos meus dedos bem devagar, sua
língua fazendo cócegas na minha pele.
É alguém da minha escola? Minha mente gritou com medo de ser pega,
mas jamais tinha visto aquele rosto antes. Eu lembraria.
Me ergui devagar, me apoiando em um dos cotovelos. Vi Heitor nos
admirando, parecia encantado, hipnotizado. Tinha vestido calças. Ele sorriu para
mim e eu corei. Sentei sobre o que parecia ser uma maca de couro. O movimento
fazia o plug anal se mexer dentro de mim, causando sensações inquietantes.
Ele sorriu, aquele tipo de sorriso torto e pervertido.
— Quer ir para minha cama, meu bem? — papai quis saber.
Fiz que sim com a cabeça. Levantei e observei as marcas nos pulsos onde
a corda os machucou.
— Vocês são lindas — Heitor sussurrou nos pegando pelas mãos.
No corredor, ele nos empurrou contra a parede, perto de um dos seus
quadros sombrios e, segurando nossas nucas, aproximou nossas cabeças. Era
hora de beijá-la, mas eu nunca tinha feito isso — beijar uma garota. Só que ela
era linda, e papai queria que eu a beijasse.
Deixei que ela se aproximasse. Meus lábios se abrirem como reflexo. Sua
boca encostou na minha de leve, então sua língua percorreu todo o meu lábio.
Senti outra língua no canto da minha boca. Era ele. E aquilo virou uma confusão
de lábios e línguas se chupando ao mesmo tempo.
Meus seios roçavam nos dela. Eu não sabia o que fazer com o desejo que
crescia novamente, só que dessa vez era muito maior, por sermos três.
Agora era só minha boca e a de Heitor. Ela estava descendo. Eu ainda
estava contra a parede, papai me segurando, mordendo meu pescoço. A garota se
ajoelhou entre nós e abriu a calça dele.
Sua cabeça e os cabelos tocavam entre as minhas pernas enquanto ela
lambia meu pai e, apesar de isso ser sujo e esquisito, afastei as coxas para que
tocasse mais fundo com os movimentos de chupar e soltar.
Heitor parou de me beijar e apoiou as mãos na parede, uma de cada lado
dos meus ombros. Logo se abandonou com o prazer, os olhos reviraram
lentamente, os lábios entreabertos, os dentes cerrados e os gemidos baixinhos.
Eu queria que aquele prazer aumentasse. Queria fazê-lo delirar. Me
abaixei devagar, deixando minha língua percorrer seu tórax até me agachar e me
juntar a garota. Duas línguas lambiam seu membro agora. Papai agonizava. A
cabeça encostada na parede, os olhos queimando ao nos assistir.
Enquanto ela abocanhava até o fim, passei a língua com cuidado nos seus
testículos, delicada para não machucá-lo, chupei um, depois o outro. Continuei
ali ao perceber que seus gemidos ficaram mais altos.
Umas das mãos da garota estava entre suas pernas, ela se tocava ao
chupar Heitor.
Bem ali, entre as chamas, não havia nada que eu não pudesse fazer, não é
mesmo? E eu queria.
Sem tirar os lábios dele, deixei uma das mãos deslizarem pela sua
barriga, encontrando sua mão, e coloquei meus dedos por baixo dos seus,
empurrando para baixo, até tocar a fenda. Era quente e molhada. Ela se
contorceu e gemeu quando meus dedos tocaram o clitóris, mas não me demorei
ali. Desci até encontrar a entrada. Meu dedo deslizou para dentro. Era ainda mais
quente. Gostei de senti-la se contraindo ao redor do meu dedo.
A garota também gostou daquilo. Fiz um movimento de vai e vem, e ela
gemeu com o pênis do meu pai dentro da boca. Fui mais rápido. Mais gemidos.
Os dois deliravam com aquele pecado.
Arrisquei mais um dedo. Ele coube. As contrações do seu sexo
aumentaram quando brinquei mais rápido, enterrando mais fundo. Ela estava se
perdendo na loucura, assim como papai.
Logo eram três dedos lá dentro. Ela estava louca, chupando... chupando
não, mamando no pênis que vibrava com o êxtase. Posicionei meu polegar em
cima do seu clitóris e o acariciei lentamente; primeiro analisando suas reações,
em seguida, acelerando.
A garota começou a gemer muito alto. Papai estava tendo um ataque,
uma das mãos segurava a moldura de um quadro como se fosse estraçalhá-la, a
outra estava no cabelo dela, o puxando.
Seu sexo apertou meus dedos, apertou, apertou, contraiu, então relaxou
em um grito. Sem tirar minha boca de Heitor, observei a garota tendo um
orgasmo. Mordi o lábio, a sensação de que eu tinha causado aquele prazer era
indescritível.
Mas papai ainda estava gemendo. Agarrou meu cabelo com voracidade e
empurrou minha cabeça contra a parede. Tirando o pênis da boca dela, soltou
meu cabelo e o massageou com força, mirando na minha direção. O leite
espirrou contra meus seios, estava quente. Antes que ele terminasse de se
derramar em mim, ela estava lambendo tudo, cada gota, sua língua encontrando
meus mamilos, me fazendo gemer também.
Após alguns míseros segundos, ainda ofegando, Heitor nos pegou pelos
cabelos, nos fazendo ficar de pé, e nos empurrou pelo corredor até a porta do seu
quarto.
Foi difícil chegar até a cama nos beijando daquele jeito, mas
conseguimos. Fui jogada contra o colchão pela garota. Não me importava mais
quem era ela ou o que estava fazendo ali.
Em poucos segundos as poucas peças de roupa foram tiradas. Só ficaram
nossas meias 5/8.
A garota montou em mim, fazendo uma espécie de tesoura com nossas
virilhas, encaixando nossos sexos, segurando uma das minhas coxas com ambas
as mãos. Meus olhos se arregalaram quando ela começou a se mover. Uau! O
que era aquilo?
— Papai? — chamei desesperada. Quando ele se aproximou, me
encarando com os olhos esverdeados brilhantes, agarrei sua nuca e puxei as
mexas curtas do seu cabelo escuro.
— Estou aqui — ele disse.
— Isso... Isso é muito bom! — consegui dizer entre gemidos.
— Gostou da surpresa, meu bem?
Não fui capaz de responder. Passei os braços em vota do seu pescoço e o
puxei, mordendo seu lábio inferior enquanto ele passava a língua no meu
superior.
— Descreva para mim, filhinha, diga como é senti-la se esfregando em
você?
Soltei um palavrão com ele falando assim, a voz mais sexy do universo
sussurrando contra meus lábios.
— É delicioso, papai. Você não faz ideia!
— Diga, meu bem. Seja boazinha. Me conte como é sentir o clitóris dela
no seu.
— Papai pervertido! — falei alto demais, entre os gemidos. O encarei
com mais intensidade, e expliquei baixinho. — É muito macio, papai. A coisa
mais macia que já senti. E ele pulsa contra mim...
— Você também está pulsando, meu bem? Latejando?
— Sim! Muito! É muito quente. Pulsa tanto que dói. Mas é muito
gostoso, e eu quero que dure para sempre.
— Quando lateja assim, é a melhor dor, não é? — ele quis saber.
— Sim...
— Quer que ela se esfregue mais rápido?
— Acho que não aguentaria, papai! — Meu corpo inteiro vibrou com a
ideia. A menina estava gemendo de olhos fechados. As molas do colchão
reclamam os movimentos.
— Por que não?
— Eu morro!
— Vá mais rápido, docinho — ele pediu para a garota morena. — O mais
rápido que você conseguir. E com muita força. É uma ordem.
— Malvado!
— Onde quer que papai coloque a boca? — me perguntou.
— Chupa meus peitos, pap... Ai! — Estava morrendo, sabia disso. E o
plug lá dentro me fazia delirar.
Antes de fazer o que pedi, ele tirou minha mão do seu pescoço e a levou
até seu membro.
— Papai também quer gozar, meu bem — Heitor murmurou por entre os
dentes quando o acariciei. — Aperta forte. Gosto com força...
Quando obedeci, ele se contorceu todo, grunhindo baixinho, antes de
alcançar um dos meus seios.
Entrei em combustão com aquele homem chupando gostoso, de olhos
fechados, mordendo, sugando, urrando. Atingi o limite. O orgasmo chegou pela
frente e por trás, e devastou tudo.
Senti o líquido quente na lateral da minha barriga quando ele
praticamente uivou. A menina se desencaixou de mim e caiu ao meu lado. Vi
quando ela abriu as pernas e enfiou os dedos, fazendo movimentos rápidos,
arqueando as costas, sua cabeça oscilando. Não consegui me mover. Meu corpo
estava relaxado e eu fiquei perplexa assistindo ela se masturbar.
Heitor ainda gemia quando ela soltou o último grito. Então ela virou para
me olhar, mordendo o lábio inferior e sorrindo. Era muito bonita. Ficou de
quatro e se virou, com a bunda na direção da minha cabeça, se debruçando sobre
mim.
— Não! — gritei ao perceber o que ela ia fazer. Estava sensível demais
para aguentar o toque.
— Sim, papai quer ver vocês se chupando — ele disse e segurou minhas
coxas com força, me obrigando a abrir as pernas. Então ela subiu em mim,
prendendo meus ombros com suas coxas. Dava para sentir o cheiro do seu sexo
molhado.
Ela abriu meus lábios com os dedos e passou a ponta da língua em cima
do meu clitóris. Meu corpo sacudiu inteiro. Até meus dentes se arrepiaram.
— Retribua — ele mandou.
Passei meus braços em volta do seu quadril e a puxei para encontrar
minha boca. O gosto era perfeito, escorregadio e quente. Eu tentava lamber cada
centímetro de pele, enquanto ela fazia o mesmo comigo, e ainda brincava com
meu plug, me deixando curiosa com aquela sensação que vinha de trás.
Heitor se levantou, ficando de joelhos sobre a minha cabeça.
— Ajuda o papai a encaixar — ele murmurou se inclinando sobre a
garota.
Peguei seu pênis e o coloquei na entrada dela. O assisti entrar rápido,
deslizando.
Agora eu chupava os dois, os testículos dele e o clitóris da menina.
Quanto mais eles gemiam, mas vontade eu tinha de lamber.
Papai meteu com muita força e o corpo deles pesou sobre mim, só que
não machucava. Logo escorreu leitinho de dentro dela. Mas ele não desencaixou
nem parou de foder, e eu bebi tudo. Acho que ele teve um monte de orgasmos. A
garota também.
Aí ela virou de lado na cama, ainda me chupando. Me virei também,
prendendo minhas coxas ao redor do seu pescoço. Estávamos deitadas de lado
agora. Papai saiu de dentro da menina e veio para as minhas costas.
— Me come, papai — pedi baixinho, o som da minha voz se abafou
contra o sexo dela.
— Peça com educação.
— Por trás, papai, por favor. Eu fui boazinha.
Juro que ouvi ele uivar quando puxou o plug de dentro de mim e
encaixou seu membro.
Imagine a sensação de ter um pênis grosso e duro feito pedra te
penetrando — pôs trás —, enquanto uma garota lambe seu clitóris como se fosse
uma gatinha bebendo de um pote de leite.
Foi insano, perturbador. Senti cada milímetro me invadindo, se
encaixando. Seu membro tocando todo meu canal, provocando sensações em um
monte de lugares, me preenchendo.
Só parava de chupá-la para olhar para trás e beijar meu pai, deixando ele
sentir o gosto dela nos meus lábios, então voltava a chupar de novo. A cama
rangia, mas nós gemíamos mais alto. Os gemidos mais sexys de se ouvir.
Não sei quanto tempo durou assim. O prazer era intenso demais para
prestar atenção. E meu mundo se movia depressa, como um borrão, com papai
me fodendo tão rápido.
Ela colocou os dedos dentro de mim, e eu fiz o mesmo, sentindo os
resquícios do leitinho de papai lá dentro.
Estava tão envolvida que aquilo levou o resto das minhas forças,
resumindo minha vida inteira àquele sexo perverso.
Eu o amava e amaria quem ele trouxesse para jogar conosco, assim como
amava os jogos.
Quando o último clímax me pegou, estava tão cansada que não sei se
adormeci ou desmaiei, mas quando abri os olhos novamente, o sol entrava pela
janela.
Heitor ressonava baixinho, dormindo de conchinha comigo. O rosto da
menina foi a primeira coisa que vi, os olhos de cílios grossos dormindo na minha
frente, os lábios bem próximos aos meus. Seu braço estava em cima da minha
cintura. As pernas enroscadas nas minhas e nas de papai.
Me senti nas nuvens por ela não ter ido embora. Por ter ficado ali e
dormido com a gente. Ela era minha bonequinha, aquele quarto era nossa
casinha, e eu queria brincar de papai, mamãe e filhinha. Para tentar mostrar o
quanto estava grata por ela estar ali, lambi seu lábio inferior, carnudo e macio,
bem devagar. Em seguida o chupei, acariciando seu mamilo com uma das mãos,
e a outra enfiei entre suas pernas.
Ela acordou preguiçosa, mas me beijou assim que sentiu meus dedos a
penetrando.
Não me interessava quem era aquela menina. Só me interessava o fato de
ela estar ali e ser toda minha.
— Não faça barulho, amor — cochichei a encarando, a ponta do meu
nariz roçando no dela —, papai não pode nos ouvir.
Dezenove
P
apai acordou cedo também, mas tudo que fizemos naquele dia, depois do café da
manhã, tinha cheiro de melancolia. Ele voltaria para o Canadá no dia seguinte,
assim que me devolvesse em casa.
E não havia planos de regressar. Pelo menos ele não tinha tocado no
assunto. Meu aniversário de dezoito anos era na próxima semana e ele não
poderia vir. Sentia um caroço se formando na garganta só de pensar em
comemorar sem ele.
Quem era aquela garota? Papai me explicou, depois que ela se foi. Ele
era sócio de um desses clubes secretos que mais parecem lendas urbanas. Foi
tudo que disse sobre ela. Não insisti em mais detalhes, aquilo não me
interessava.
Após dispensar a garota que tinha sotaque de Portugal, ele me veio com
uma surpresa inusitada. Disse que havia convidado meus avós para aproveitar o
dia de sol na piscina e que, posteriormente, teríamos um almoço “em família”.
Não conversamos sobre isso, mas Heitor parecia ser sozinho no mundo.
Talvez a ideia de passar um tempo com meus avós lhe agradasse muito, pelo fato
de ele sentir falta dos seus pais.
Eu, apesar de não querer dividi-lo com ninguém naquele sábado, o
entendia perfeitamente. Sabia como era ter um doloroso buraco no peito causado
pela falta de um ente querido. Percebi que talvez eu representasse para Heitor
muito mais do que parecia. Eu não era apenas uma filha para ele. Isso já estava
claro. Eu era a namorada que ele deveria ter encontrado na adolescência. Era a
pessoa que o compreendia e o aceitava do jeito que ele era, com seus defeitos e
peculiaridades. Amor incondicional, como o amor de uma mãe que ama seu filho
apesar de tudo.
Filha, namorada, mãe. Todas as mulheres que deveriam ocupar sua vida
representadas em uma única pessoa: eu.
— O que foi, meu bem? — ele quis saber ao analisar meu semblante
pensativo, mas não esperou por minha resposta. — Ainda teremos tempo para
ficarmos juntos. A sós. Só quero passar um tempo com seus avós, ganhar a
confiança deles. Não pretendo dar a impressão de que sou o inimigo da família.
— Só estou preocupada com as marcas que você deixou em mim
— murmurei me levantando e indo até a cabeceira da mesa onde ele estava
acomodado.
— Não se preocupe. Comprei uma coisinha que vai esconder isso
facilmente, e é a prova d’água.
— Você pensa em tudo, papai! — comentei me sentando no seu colo,
passando os braços em volta dos seus ombros e beijando delicadamente sua
testa.
Senti seus ombros relaxarem e comecei a esfregar as pontas dos meus
dedos contra sua nuca. Heitor fechou os olhos e sorriu com o rosto sereno.
Parecia ter encontrado a paz depois de um longo período de tormenta.
— Não conte a ninguém, mas estarei aqui na sua formatura e te levarei
para passar as férias comigo no Canadá — ele disse quando abriu os olhos. —
Até lá, espero que seus avós já tenham conversado com Lua.
Pisquei os olhos algumas vezes. A notícia de que ele voltaria era tudo que
eu queria ouvir.
— Você já terá dezoito anos, meu bem. Será dona do seu nariz — ele
acrescentou quando eu fiquei paralisada com o rosto perplexo. — Poderá decidir
se quer viajar comigo ou não.
— Você vem mesmo? — perguntei aos sussurros. — Na minha
formatura?
Heitor pegou meus pulsos e colocou minhas mãos sobre meu colo, em
seguida acariciou meus braços com gentileza.
— Meu bem, é claro que eu virei!
— Pensei que, depois de amanhã, talvez eu nunca mais fosse vê-lo
— confessei com a voz baixa, com medo que qualquer barulho quebrasse o
momento. — Saber que você virá é a melhor notícia!
— Como você se sentiria se passasse a vida escondendo suas
particularidades e segredos, sem ninguém para compartilhar as coisas que mais
gosta, com medo de ser rejeitado novamente e, de repente, você encontrasse
alguém que te aceitasse exatamente como você é? Alguém para dividir a vida
que você gosta de levar. Você não iria desejar ficar perto dessa pessoa?
— Sim. O tempo todo! — respondi empolgada. — Eu sou essa pessoa?
— Claro, Valentina! Eu jamais me sentiria tão bem com outra ao meu
lado.
Ele não precisou dizer mais nada. Nem eu. Nossos lábios e línguas
selaram aquelas promessas de outra maneira.

Heitor havia comprado uma maquiagem específica para pernas em spray que
escondeu todas as marcas que a noite passada tinha deixado no meu corpo. Então
eu estava de biquíni numa cadeira branca de piscina, relaxando com minha avó
debaixo de um guarda-sol que nos protegia de um lindo céu sem nuvens.
— Como ele era quando namorava mamãe? — perguntei observando
meu pai pular na piscina só de sunga. Vovô estava envolvido no seu passatempo
preferido: fazer churrasco. Heitor havia lhe dado carta branca para usar uma das
churrasqueiras da fazenda e qualquer corte de carne do freezer.
— Fisicamente ele era muito diferente. Magro e com um corte de cabelo
sem graça. Me admirou Lua se envolver com ele — vovó me confidenciou a
surdina. — Acho que ela foi a primeira namorada que ele teve. A primeira garota
que se interessou por ele. Heitor não tinha muitos amigos.
Franzi o cenho pensativa. Não conseguia imaginar papai “sem graça”.
Mas se mamãe tivesse sido mesmo seu primeiro amor, não era de se estranhar
que ele ficasse com uma ferida no coração. Finalmente ele tinha encontrado um
amor que confiava o suficiente para lhe contar seus segredos, e ela o
decepcionou.
Pobre papai.
— Ele não tinha tatuagens nem essa postura que tem hoje — vovó
continuou. — Foi uma surpresa quando o vi desse jeito.
— Agora ele está muito bonito — não pude deixar de comentar.
— Muito! — Vovó suspirou. — Deve ter dezenas de garotas interessadas
nele.
Nesse momento, Heitor emergia da água azul. Se apoiou nos antebraços
na beirada da piscina e abriu um sorriso desconcertante. As gotículas de água
escorriam do seu cabelo, passando pelas sardas em seu rosto e se jogando contra
as tatuagens.
— Não vai entrar na água, meu bem?
— Acho que não — respondi.
— Está com vergonha que ele te veja de biquíni? — vovó perguntou aos
sussurros e torci o nariz. — Não fique constrangida, querida.
Respirei fundo e me levantei. A verdade é que queria ouvir o que minha
vó ainda poderia me contar sobre Heitor. Mas isso podia esperar. Com um pulo,
mergulhei e me mantive no fundo da piscina enquanto atravessava sua extensão.
— Está satisfeito agora? — perguntei ao me aproximar dele que ainda
estava apoiado na beirada da piscina.
— Só quero que você se divirta — Heitor disse.
— Posso subir nos seus ombros? — Fiz cara de inocente. — Quando eu
era criança, os pais das minhas amigas sempre faziam isso com elas nas festas da
piscina. Eu nunca tive ninguém para brincar comigo.
— Sua infância já passou, querida — vovó se intrometeu —, e
certamente pesa muito mais que uma criança.
— Eu aguento. Pode subir, meu bem — papai me autorizou.
Quando me ergui na beirada da piscina, vovô acabava de chegar com
uma bandeja de churrasco apetitoso.
Heitor ficou de costas e ergueu as mãos para que eu me apoiasse nelas
enquanto colocava um pé de cada vez em seus ombros fortes.
Depois de me equilibrar, soltei suas mãos e abri os braços. Ele segurou
minhas canelas e perguntou se eu estava pronta. Após meu comado, papai deu
alguns passos para o centro da piscina. A fazenda era cheia de árvores e
gramados de um lindo verde, o sol brilhava, a natureza parecia comemorar o
lindo dia, nos presenteando com uma gama de cores vivas.
Pisquei os olhos emocionada. Parecia a coisa mais boba do mundo —
ficar de pé sobre os ombros de papai, de braços abertos enquanto ele caminhava
—, mas era algo que eu desejava muito fazer desde criança. Me senti como se
estivesse realizando um pequeno sonho. Passei os olhos nas cores à minha volta
e me permiti rir, a risada mais leve e espontânea que eu já dei. Meu peito estava
cheio de amor. Fechei os olhos, respirei fundo, aspirando o perfume das flores do
canteiro que havia por ali, e deixei que a gravidade me puxasse de costas para
dentro da piscina.
Quando emergi, Heitor estava esperando para me acolher em seus braços.
— Está feliz, meu bem? — ele perguntou com o sorriso torto.
— Sou a garota mais feliz que você já conheceu — falei e beijei seu
rosto, deixando que ele me apertasse contra seu peito. — Te amo.
A voz do meu avô perguntando algo sobre criações de gado encerrou
nosso momento.
Heitor voltou para se apoiar na beirada da piscina, dando atenção a vovô,
e eu mergulhei novamente. Comecei a atravessar a piscina diversas vezes até ter
certeza de que ninguém prestava atenção em mim, e mergulhei fundo, me
enfiando entre a parede e as coxas de Heitor. Afastei sua sunga para baixo e o
acariciei. Seu membro despertou com meu toque. Eu daria tudo para ver a cara
que ele fez quando comecei a chupá-lo.
O imaginei engasgando ao responder alguma pergunta de vovô. Mas não
podia ouvi-lo debaixo d’água.
Confesso que não fiz isso por muito tempo. Eu não era boa em segurar a
respiração por mais de um minuto.
Quando me apoiei na beirada, papai me lançou um olhar de advertência.
Mordi o lábio e sorri. Tinha conseguido deixá-lo chocado.

Meus avós foram embora quando o sol ainda brilhava no céu, me deixando a sós
novamente com Heitor, exceto pela senhora que veio preparar o jantar e estava
sempre por perto para verificar se precisávamos de algo. A melancolia me abatia.
Era nossa última noite juntos.
Eu estava encarando meu reflexo do outro lado da mesa — papai —, que
devorava um enorme pedaço de bife para repor as energias gastas. Precisava ser
muito forte. Por mais que ele ainda estivesse ali, ocupando um espaço próximo
de mim, o buraco já estava crescendo no meu coração.
— No Canadá, será desse jeito, com seus jogos? — perguntei e mordi o
lábio esperando a resposta.
— O que passamos aqui não é nem a ponta do iceberg, Valentina. Tem
tanta coisa que quero ver você experimentar que precisaríamos de um ano, no
mínimo.
— Vou adorar passar as férias com você, mas mamãe morrerá quando
souber que te conheci.
— Ela vai ter que se acostumar. Você é minha filha. Aposto que você tem
muito mais coisas em comum comigo do que tem com ela.
— É verdade. Mas não sei como contarei a ela que nos encontramos —
murmurei timidamente.
— Não se preocupe com isso, meu bem. Não é problema seu. Você não
tem culpa. O assunto é entre ela e eu. Daremos um tempo. Quando suas férias se
aproximarem, ela será informada.
— E se desconfiarem que você e eu...? — perguntei assustada. Ele
poderia ser preso ou sei lá o quê. Eu nunca mais o veria.
— Por que razão alguém desconfiaria, meu bem? Só nós dois sabemos.
Eu não vou contar, e você também não deveria.
— Claro que não vou. Só tenho medo de alguém suspeitar... — Fiz um
bico.
— Sou seu pai, por que alguém iria imaginar que eu te fodo, meu bem?
Engoli em seco sentido o corpo vibrar.
— Você está certo. Não há motivos para ficar preocupada.
Exceto que ele estava indo embora.

— Pegou tudo, meu bem? — Eram nove horas da manhã de domingo quando ele
perguntou.
— Sim — respondi baixinho.
— Então vamos.
Heitor vestia um jeans rasgado nos joelhos, camiseta branca e coturnos.
Parecia um astro do rock mascando chiclete. Não dava para acreditar que aquele
gato era meu pai.
Viajamos em silêncio. Eu ainda não tinha chorado. Talvez fosse por isso
que me senti tão mal. O sentimento de perda estava dentro do peito, me
sufocando, fazendo pressão no coração. Talvez se eu chorasse, a dor diminuísse.
— Que horas sua mãe chega? — ele sondou quando estávamos perto da
minha casa.
— Ela só vem amanhã — falei vagamente, olhando através da janela,
pensando que, em breve, quando ele partisse, tudo pareceria um intenso sonho.
Será que ele queria encontrá-la? Fitei seu rosto, mas não pude decifrar o
olhar.
Chegamos em casa.
— Meus avós já devem ter voltado — expliquei enquanto abria a porta.
— Quer cumprimentá-los?
— Posso entrar na sua casa?
— Mamãe não está — respondi pegando a chave na mochila, enquanto
ele me acompanhava. — Pode entrar.
Gritei por minha vó quando passamos pela porta. Olhei para trás e notei
os olhos curiosos de Heitor percorrendo toda a sala, parando numa moldura que
continham uma foto grande de mamãe e eu, tirada há dez anos.
Os olhos dele faiscaram. Eu sabia o porquê. Ele encarava a imagem dela.
Engoli em seco e gritei novamente, chamando vovó e, de repente eu não queria
mais Heitor ali, vendo todas aquelas fotos da minha mãe em porta-retratos. Se
ele precisava mesmo ir, poderia partir agora.
— Você era uma criança muito linda — ele murmurou se aproximando
da foto. Seus dedos acariciaram minha bochecha de menina. — Adoraria ter
acompanhado seu crescimento.
Não existia traço algum de perversão na sua voz. Ele só parecia triste,
assim como eu estava.
Então ele encarou outra fotografia, uma mais recente da minha mãe.
— Ela mudou muito desde a última vez em que se viram? — perguntei
tentando disfarçar a irritação.
Heitor apenas deu de ombros e continuou olhando outras fotos.
— Vou levar a mochila para o quarto. Meus avós devem ter saído —
informei e me dirigi as escadas. O peito ameaçava se partir com a dor. Subi os
primeiros degraus e ouvi seus passos me seguindo escada acima. Arfei. Só
estávamos nós dois. Se acontecesse agora, na minha cama... Mordi o lábio com
força. Isso era muito mais sujo. Meu pai na minha cama! Era como trazer o
personagem do seu livro preferido para dormir com você.
— Quer conhecer meu quarto, papai? — perguntei sem olhar para trás,
tonta com a enxurrada de sentimentos complexos e profundos.
— Claro, meu bem.
As cortinas do cômodo estavam fechadas. Joguei a mochila no chão e
segurei a porta para que ele entrasse. Mas não a tranquei. Deixei entreaberta.
Abri as cortinas e me virei para flagrá-lo encarando a foto gigante dos
meus quinze anos.
— Não tenho nenhuma foto sua — ele disse enfiando a mão no bolso da
calça, tirando o celular e se aproximando de mim enquanto desbloqueava a tela.
Heitor me puxou para a frente do espelho de corpo inteiro, me abraçou
por trás e tirou uma foto nossa. Seu sorriso era a coisa mais bonita que existia.
Então ele segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos, e roçou a
barba nos meus ombros, encarando meus olhos através do espelho.
— Pensei que não existisse essa coisa de outra metade — ele sussurrou.
— Até conhecer você. E é tão perfeita...
— Vou sentir sua falta — lamentei.
Respirar normalmente tinha se tornado impossível.
— Quando estiver com saudades, é só olhar no espelho, me verá te
encarando do outro lado.
— Porque somos reflexos — sussurrei. — Eu vou ficar tentando puxá-lo
para meus braços.
Ele riu e me soltou, dando alguns passos para perto da escrivaninha. Seus
dedos deslizaram pelo touchpad do meu notebook, ativando a tela.
— É por aqui que vou te ver todos os dias? — papai perguntou e eu sorri,
animada com a ideia de ele querer manter contato. Todos os dias!
— Sim, papai!
— Ótimo.
Heitor começou a mexer nos programas abertos, encontrando o
reprodutor de músicas e clicando no play para ouvir a última canção que eu tinha
escutado. Corei. Geralmente, os pais das minhas amigas não gostavam das
mesmas bandas que elas. Mas ele sorriu, virando o pescoço para me encarar,
balançando a cabeça ao som do rock indie. A batida da música encheu o quarto
de vida. Heitor mordeu o lábio, ainda sorrindo, e voltou para perto de mim,
cantarolando a letra da música.
Arregalei os olhos. Meu queixo caiu e levei a mão até a boca para cobri-
la.
— Você conhece essa banda! — o questionei surpresa.
— “Ele virá te pegar!” — papai continuou a cantar enquanto agarrava
meus antebraços e me puxava para dançar.
Deixei que Heitor me girasse, em seguida deslizou as mãos da minha
cintura até minhas coxas, me puxando para seu peito. Nossos corpos giravam no
ritmo da música. Ele nos fazia balançar.
— “Papai precisa trabalhar fora todos dos dias. Ele chega em casa
cansado, mas traz um presente para sua garotinha...” — Heitor cantou esse
trecho bem perto do meu ouvido, e eu ia beijá-lo, mas a porta do quarto foi
aberta. Nos largamos.
Papai tinha sido pego de surpresa pela primeira vez. Com pressa, ele
abaixou o volume da música no notebook.
— Estava no jardim — vovó falou despreocupada —, não ouvi vocês
chegarem.
— É... Eu te chamei... — eu disse nervosa.
— Venham me contar como passaram o resto do dia — ela pediu nos
deixando.
Papai segurou minha mão e descemos as escadas, encontrando minha avó
lá embaixo. Ele se encarregou de contar as mentirinhas. Me limitei a sorrir e
concordar com tudo. Ainda atribuí a dor nas coxas a ter andando de cavalo.
Não era completamente falso. Eu tinha cavalgado muito, só não tinha
sido num cavalo.
— Que horas você precisa estar no aeroporto? — vovó quis saber.
— Uma hora da tarde — papai explicou.
— Então almoçará conosco — dito isso ela se retirou para a cozinha, nos
deixando sozinhos no sofá da sala.
Peguei o controle remoto da TV e procurei por um filme qualquer. Havia
uma manta estendida nas costas do sofá, a alcancei e cobri nossas pernas. Heitor
entendeu rápido o que eu queria com aquilo: a privacidade para que nossas mãos
acariciassem nossos corpos pela última vez antes de ele partir.
Ele puxou a manta até nossas cinturas e, sem enrolação, sua mão estava
entre minhas pernas, os dedos afastando minha calcinha.
— Meus avós podem ver — sussurrei perto do lóbulo da sua orelha.
— Por isso é tão perverso. Por que eles estão atrás de nós. Ponha sua
mão no papai, meu bem.
Eu coloquei. Até o acariciei por alguns instantes, mas a porta da sala
abriu de repente, escancarada.
Mamãe deixou a mala cair das suas mãos, os olhos chocados indo de
Heitor para mim.
Vinte
S
eus olhos quase saltarão das órbitas.
— Heitor? Por que diabos está na minha casa? Com a minha filha!
O grito de mamãe ecoou pela casa. Ouvi o barulho de vidro se quebrando
na cozinha, enquanto tirávamos nossas mãos um do outro. Por sorte ela não
notou esse detalhe.
— O que é isso? — minha mãe continuou a gritar, o rosto vermelho.
— Pai? — sussurrei para que ele acordasse do choque. Estava perplexo a
encarando.
Vovô e vovó correram até nós, seus semblantes assustados. Minhas
pernas perderam as forças. O ódio que ela sentia por ele era visível.
— Lua, se acalme! — vovô tentou manter a voz firme.
— É você quem tem que se explicar, Lua — papai disse se levantando do
sofá.
— Por que diabos eu te deveria explicação, seu cretino?
— Mãe! — berrei. — Não o chame assim!
Fui ignorada.
— Se afasta da minha filha! Agora! — Ela estava dominada pela raiva.
— Como tem a cara de pau de entrar na minha casa?
— Aqui também é meu lar, eu o convidei!
— Fica quieta, Valentina! — mamãe me repreendeu.
Então, todos estavam gritando, e dedos eram apontados contra a cara um
do outro.
— Ele é meu pai, droga! — gritei mais alto que as vozes. — Ele tem o
direito de me encontrar!
— O que? — mamãe perguntou com espanto, os gritos cessaram. — Ele
não é seu pai, Valentina. E ele sabe muito bem disso!
Encarei o homem parado ao meu lado. Milhares de pensamentos
invadiram minha cabeça. Era tudo mentira? Ele não... Ele sabia?
— Do que você está falando, Lua? — ele perguntou lentamente.
— Do que vocês estão falando? — ela perguntou com escárnio. — Que
história é essa de você aparecer aqui e dizer a minha filha que é pai dela? Como
você tem a cara de pau? Depois de tantos anos, ainda quer me destruir?
Eu estava soluçando, tomada pela sensação de ter sido usada, traída.
Senti a punhalada no estomago, o coração sendo pisoteado. Meus avós também
estavam perplexos.
O homem — que agora eu já não sabia mais quem era — olhou para
baixo, encarando os coturnos, e levou alguns segundos assim. Ele estava
pensando em mais mentiras para dizer?
— Eu quero que você saia da minha casa agora! — mamãe falou com
autoridade. — Não se aproxime da minha família novamente.
Heitor ainda estava de cabeça baixa, olhava para o chão como se
procurasse algo. Pelo menos ele não tinha acusado meus avós de terem o
procurado.
— Ela tem a idade certa, Lua — ele disse com o tom controlado. —
Acrescentando a idade aos nove meses dará exatamente a época em que
namorávamos. Como eu não sou o pai?
Meu coração deu um solavanco.
— Não se faça de inocente. Toda a escola sabia. É claro que você sabia!
— minha mãe gritou.
— Sabia do que? — Heitor insistiu. Eu tinha consciência de que seus
nervos estavam desmoronando. Dava para notar a veia saltando no seu pescoço.
Eu já não fazia mais ideia do que pensar. As lágrimas estavam
escorrendo, mas ninguém olhava para mim.
— Ele era seu namorado, Lua! — vovó comentou chocada. — Você o
trazia aqui.
— Foram vocês então? — ela acusou meus avós. — Vocês armaram tudo
isso?
— Sabia do que? — Heitor deu um berro que me fez estremecer. — O
que eu deveria saber?
— Que eu te traia — ela declarou com um olhar desafiador. Vi no seu
rosto que ele estava se despedaçando. Não poderia ser fingimento. — Eu te traia
e todo mundo sabia. A escola inteira. Eu pensei que esse fosse o motivo de você
ter ido embora.
— Eu fui embora para trabalhar! Nunca soube de nada! Com quem você
me traia?
— Quem é meu pai? — perguntei entre os soluços.
— Suba — ela ordenou —, isso não é assunto para você.
— Quem é meu pai? Você vai me dizer quem é ele! — gritei o mais alto
que pude.
— Olha o que você faz com ela? — Heitor grunhiu com mamãe
enquanto me puxava para seus braços tentando apanhar minhas lágrimas. Seu
peito quente era tudo que eu precisava no momento.
— Tira suas mãos dela, cretino! — ela vociferou dando sinal de que iria
se aproximar para me arrancar dos braços dele.
— Você não tem direito de chamar ele de cretino! — gritei. — E não
encosta em mim!
— Por que esconder isso? — meu avô perguntou. — Ela merece saber
quem é o pai.
— Você não precisa disso, Valentina — mamãe abaixou o tom. — Nunca
te faltou nada.
— Você nunca entenderia. — Revirei os olhos.
— Se não sou eu, quem é? — Heitor exigiu.
— Não é da sua conta! — ela respondeu malcriada.
— Como tem certeza de que não sou eu? — ele insistiu, me fazendo ter
uma pontinha de esperança.
— Não é da sua conta — mamãe repetiu. — Esse assunto não é problema
seu. Você saiu da minha vida há mais de dezoito anos. Não venha se achar no
direito de me questionar.
— Eu quero o exame de DNA — Heitor declarou. Seu coração batia
violentamente contra minha bochecha.
— Não seja ridículo! — ela revirou os olhos. — Suma da minha frente.
— Eu quero o exame — ele falou com firmeza, em seguida, afagou meu
cabelo e abaixou o tom. — Aceita fazer, meu bem?
— Claro! — respondi.
— Se poupe disso, minha filha.
— Nós vamos fazer esse exame — a encarei deixando que ela visse todo
ódio que eu sentia —, e até que se prove o contrário, ele é meu pai!
— Ele não é seu pai! — ela berrou. — E saia da minha casa!

Eu estava trancada no quarto desde a hora em que Heitor foi embora. Ele não
havia partido exatamente, só tinha dado o fora da minha casa e de todos os
insultos de mamãe.
Acho que, caso ele se demorasse aqui, teria partido para a agressão física.
Aí a coisa tinha perdido o controle de vez.
Decidiu não voltar para o Canadá. Não até ter em mãos o resultado do
exame de DNA. Mamãe não queria que eu fizesse, só que ela não poderia me
impedir. Meus avós eram meus responsáveis legais, eles também queriam a
verdade.
Estava agarrada ao travesseiro, pensando em tudo, quando meu celular
vibrou com uma nova mensagem.
"Sinto muito, meu bem."
Corri os dedos pela tela digitando uma resposta.
"Estou bem." Menti. "Desculpa por mamãe."
"Quero te ver ainda hoje. Acha que pode sair comigo?"
"Se alguém tentar me impedir, eu fujo!" Respondi. A porta do quarto se
abriu. "Já falo com você, Heitor."
Escondi o celular embaixo do travesseiro e fechei a cara. Mamãe
atravessou o quarto e sentou na cama comigo. Cruzei os braços.
— Precisamos conversar — ela sussurrou tentando se aproximar para
acariciar meu rosto. O olhar raivoso que lhe lancei a fez recuar.
— Vai me contar quem é meu pai? — perguntei.
— Não posso.
— Então não temos o que conversar — dei o assunto por encerrado. —
Pode me deixar sozinha?
— Eu não posso te contar quem é seu pai, Valentina. Tente entender.
— Como vou entender se você não explica? — Eu já estava chorando de
novo.
— Querida, acha que eu nunca quis te dizer quem é? Acha que gostei de
te ver sofrer todos esses anos? Mas... Existem coisas que você ainda não pode
entender. Você é muito inocente.
Revirei os olhos.
— Não temos mais nada para conversar. Saia!
— Valentina...
— Me diz a verdade ou nunca mais te chamo de mãe — ameacei com
sinceridade. — Eu não sou mais criança.
— Mas ainda é nova, ainda é inocente.
— Saia do meu quarto — exigi.
— Filha, não faça isso comigo. Você não sabe...
— Isso mesmo! Eu não sei!
— Tudo bem, eu vou explicar! — Ela fez uma pausa e respirou fundo. —
É muito vergonhoso.
— Eu aguento — respondi ansiosa, o coração disparado.
— Nunca te contei quem é seu pai... — Ela respirou algumas vezes,
estalando os dedos das mãos e encarando a parede norte do quarto, sem ter
coragem de me olhar nos olhos. — Por que eu não sei quem é. Eu nunca soube.
Engoli a saliva. Meu corpo tremia. Ela tinha razão, eu não estava pronta
para ouvir aquilo.
— Fui para a cama com muita gente naquele ano — ela prosseguiu —,
mais precisamente na época em que engravidei. Esse negócio de que a mãe
sempre sabe é bobagem. Pelo menos não funcionou para mim. Entende por que
eu não poderia te contar? Como eu ia te dizer que não sabia?
— Você é uma vadia — cuspi as palavras enquanto as lágrimas
escorriam. — Chamou ele de cretino, mas você é muito pior.
Pensei que minha mãe fosse me bater. Não aconteceu. Ela concordou
com a cabeça.
— Não quero você com Heitor.
— Não está em condições de exigir nada — murmurei a encarando.
— Ele é um...
— Heitor também transava com todo mundo? Ele te traia?
— Não, ele sempre foi fiel.
— Por que tem tanta raiva dele? — perguntei. — Exijo saber.
— Filha, isso é muito forte...
— Chega, mãe! Só fala a verdade!
— Heitor era um bom namorado, quer dizer, me dava toda a atenção do
mundo, mas ele era estranho — ela começou a contar e eu engoli em seco. —
Perdemos a virgindade juntos; a partir daí, comecei a conhecê-lo. Ele tinha um
quarto sombrio, cheio de móveis antigos, e adorava me levar lá. Ele curtia...
Como eu posso dizer... Ele adorava me dominar, me assustar. Eu não gostava
daquilo. Estava ficando traumatizada, então eu ficava com outros caras, mas
continuava namorando com ele. Alguns meses depois... Isso é muito sinistro...
Foi a gota d'água. Você não precisava ouvir essa parte do nosso relacionamento.
— Conta! — Meu coração batia descompassado.
— Heitor me amarrou numa árvore e me vendou. Era noite e estava frio
na fazenda. Ele começou a fazer sexo oral em mim, só que... Valentina, não...
— Conta logo! — berrei. Não entendia como ela não gostava daquelas
coisas. Se fosse eu...
— Não era ele. A língua não pertencia a ele! Consegui tirar a venda.
Heitor tinha colocado um cachorro para fazer sexo oral em mim, enquanto ele
assistia tudo. Até hoje aquela imagem me assombra.
Ficamos nos encarando por alguns minutos. Cachorros — como ele disse
que faria comigo. Não sabia o que dizer.
— Aquele cara é assustador. Nos afastamos. Quando descobri que estava
grávida, por sorte, ele já tinha ido embora.
Vinte e um
“A
inda quer me ver?"
Enviei a mensagem para Heitor e rapidamente veio a resposta.
"Sim"
De certa forma, ainda conseguia sentir um pouco de alívio por Heitor não
saber a história toda. Para ele, mamãe tinha o traído apenas com um cara,
quando, na verdade, foram vários. Como ela teve coragem de traí-lo?
"Se eu te pedisse uma coisa, ficaria chateada?" Heitor quis saber.
Respirei fundo. Mais mistérios.
"Peça"
"Pode se vestir hoje para parecer mais velha? Talvez uma maquiagem
mais pesada..."
O coração doeu no peito. Depois de tudo, ele ainda não tinha superado
minha mãe. Queria que eu me vestisse para parecer como ela era agora.
"Por que?" O interroguei.
"Não posso explicar pelo telefone. É importante, sério."
"Me pegue em uma hora"
"Na frente da sua casa?" Heitor quis saber.
Considerei o quanto mamãe ficaria furiosa quando soubesse. Sorri com a
cena que desenhei na minha cabeça.
"Sim, aqui em casa" enviei a mensagem.
"Te ligo quando chegar."
"Aonde vamos?" Procurei saber.
"É surpresa."
— Vou sair com Heitor — informei meus avós ao passar pela sala. —
Não tenho hora para voltar.
— Só no seu sonho! — mamãe berrou. — E por que está vestida dessa
maneira?
— Não estou pedindo permissão — expliquei de má vontade. — Estou
apenas avisando. Não tente me impedir.
Abri a porta e sai. O carro já estava estacionado na calçada. Dei uma
última olhada no espelho da varanda. Usava uma blusa preta de renda, calça
preta e justa, sandálias de salto alto, batom escuro, várias camadas de rímel,
olhos marcantes. Nunca tinha saído assim. Sempre usei vestidos claros,
coloridos, saias rodadas. Desse jeito, parecia ter mais ou menos vinte e um anos.
Caminhei até o portão, o fechei quando passei, ignorando minha mãe na
varanda, e entrei no carro.
Heitor usava jeans escuro e um irresistível terno azul marinho. Seu cheiro
tomava conta do carro.
— Uau! — ele sussurrou ao me analisar dos pés à cabeça. — Você está
perfeita.
— Obrigada. Você também — respondi sem sorrir e fui direta. —Fiz
como você pediu, agora explique.
— Pode parecer estranho no começo, mas depois entenderá — Heitor
começou. — Quero que você esqueça tudo que aconteceu entre nós.
O encarei tentando controlar a expressão facial. Engoli em seco. O
choque era grande demais.
— Pode fazer isso? — ele acrescentou.
Meus olhos piscaram várias vezes, arderam. Pensei em toda maquiagem
que estava usando. Não podia borrá-la com lágrimas.
— Acho meio impossível esquecer — murmurei com a voz rouca. Um
caroço crescia na garganta. Tentei engolir a saliva, mas não consegui me livrar
do incômodo.
— Eu preciso que faça isso. — Heitor parecia desesperado, mas estava
tentando se controlar.
— Por quê?
— Há uma chance muito grande de eu não ser seu pai. E... — ele fez uma
pausa enquanto fitava o para-brisas. — Não quero dizer adeus. Não quero te
perder. E não sei se você vai querer me ver novamente. Não sei como você está
se sentindo. Não sei o que pensa sobre toda essa confusão. Então... Sabe... Eu
pensei que poderíamos apertar o botão de reset. Começar o jogo do zero, como
se ainda não nos conhecêssemos. Sem toda essa história de pai e filha. Imagino
que... Acho que temos algo muito mais forte que isso tudo... Que esses laços de
sangue. Pelo menos, eu imagino que temos. E não quero, não quero de jeito
nenhum, perdê-la. Sinto muito por te pedir isso tão cedo, pedir que esqueça. Só
quero que você dê uma oportunidade para nós dois. Não papai e filhinha. Apenas
Heitor e Valentina.
Engoli em seco. Respirei fundo. Engoli em seco outra vez. Meu corpo
inteiro estava arrepiado. Era mais do que eu poderia ter suspeitado. Heitor me
queria como eu sempre desejei que ele quisesse — como mulher.
Meus olhos estavam arregalados. Não sabia o que dizer. Ainda não.
— Não sei se estou conseguindo explicar, expressar meus pensamentos
com as palavras certas — ele prosseguiu. — Talvez você nunca me viu dessa
maneira. Como homem. É difícil não saber o que você está pensando.
— Por que pediu que me vestisse assim? — eu quis saber, ainda
desconfiada. — É algum tipo de jogo?
— Sim, meu bem — Heitor sorriu —, é aquele tipo de jogo sobre contar
mentirinhas e fingir ser outra pessoa.
— E quem você quer que eu finja ser?
— Minha namorada.
Perdi o fôlego. Estava tão feliz que não sabia o que dizer. Ser sua
namorada era... Era... Mais do que eu poderia desejar!
— Esse sorriso é um sim? — Heitor perguntou enquanto deslizava as
costas do dedo indicador pelo meu maxilar, provocando uma onda de sensações
pelo meu corpo.
— Por que preciso me vestir assim e usar maquiagem para parecer sua
namorada?
— Porque vou te levar para sair, e você precisa aparentar ser maior de
idade. Você tem dezessete anos, eu tenho trinta e três, já pensou no problema que
poderia ser?
Dei uma risada nervosa. Meu coração não cabia mais dentro do peito.
— É só isso? — questionei. — Não quer que eu pareça minha mãe ou
outra mulher?
— Foda-se a sua mãe! Eu quero você. Só você sendo você mesma. Quer
dizer, um pouquinho mais velha, o suficiente para não me fazer ir para a cadeia.
Consegui uma identidade falsa. Você tem vinte anos agora. Podemos ir a
qualquer lugar. E aí?
— O que?
— Você não disse nada sobre isso. Quer sair comigo desse jeito?
— É claro que eu quero! — quase gritei. — Eu só estou perplexa por
você querer isso. Me pegou de surpresa. Também não quero que acabe aqui,
Heitor.
— Então você topa? Aceita esquecer tudo e começar do zero? — ele quis
saber.
Abri a porta do carro e coloquei uma perna para fora.
— Aonde vai? — ele perguntou segurando meu antebraço, o olhar
preocupado.
— Vamos começar do zero — respondi. — Eu vou voltar para dentro, e
você vai me esperar encostado no carro. Esse é nosso primeiro encontro. Você
precisará me seduzir, eu sou uma jovem adulta bem difícil.
Ele abriu aquele sorriso torto. Seus olhos brilhavam.
— Tudo bem. Vamos esquecer todos os problemas, pelo menos por hoje.
— Ainda somos como espelhos? — sussurrei a pergunta. — Não quero
esquecer essa parte.
— Sim, meu bem. Você ainda é meu reflexo no espelho.
Dei um aceno de cabeça, mordi o lábio e desci do carro, fechando a porta
atrás de mim. Ao passar pelo portão, vi mamãe espiando pela janela. O muro era
feito de grades, e ela podia ver que o carro de Heitor ainda estava lá fora.
Atravessei o jardim e fui até a varanda, abria bolsa e peguei a máscara para
cílios, a fim de retocar a maquiagem.
Mamãe abriu a porta da frente.
— O que você está fazendo?
— Passando rímel, mamãe — respondi com ironia.
— Filha, ele não é seu pai! Por que continuar se iludindo desse jeito?
— Me deixa! Se você se intrometer, conto para essa cidade inteira a
vadia que você era — ameacei, o que fez com que ela recuasse, a mão sobre o
peito.
Guardei a máscara na bolsa e mordi o lábio novamente. Olharia para
minha outra metade a noite inteira; não poderia ser melhor.
Ergui o queixo, tentei ficar séria e treinei um andar sexy. Precisava
parecer uma adulta independente, não a menina inocente que sempre aparentei
ser.
Abri o portão e lá estava Heitor encostado no carro, os braços cruzados.
Passei devagar pelo portão, tentando um olhar sexy. Ele mordeu o lábio
enquanto sorria. Corrigi a postura — peito para a frente, bunda empinada — e
caminhei até ele, que abriu a porta para que eu entrasse no carro.
— Onde vamos? — perguntei quando ele entrou também.
— Jantar.
— E o que vamos jantar?
— Comida japonesa. Se não gosta, é melhor aprender a gostar — ele
disse dando partida.
— Você é sempre mandão desse jeito? — sondei como se não o
conhecesse.
— Sim, meu bem. Eu dito as regras — ele murmurou com a voz mais
sexy que um ser humano poderia ter. — Sempre.
Era nosso novo começo. Meu coração não cabia mais dentro do peito.

Heitor abriu a porta do carro para mim quando chegamos ao restaurante de uma
cidade vizinha. Joguei o cabelo de lado, corrigi a postura, me enrosquei no seu
braço e o segui até o interior do estabelecimento.
Ele havia reservado uma mesa mais ao fundo. Tiramos os sapatos e
sentamos à mesa, que era baixinha. Haviam divisórias em todas as mesas, de
modo que tínhamos um pouco de privacidade.
Um atendente trouxe chinelos — para usarmos se fossemos ao banheiro
—, hashis, shoyu, e toalhas quentes.
A decoração do lugar era tradicionalmente oriental, simples e chique.
Não havia janelas.
— É tudo maravilhoso, limpo, discreto — sussurrei para Heitor assim
que o funcionário nos deixou a sós para que decidíssemos o pedido.
— Gosta de estar aqui? — ele perguntou orgulhoso.
— É adorável — respondi. — Alguém da minha idade me levaria para
comer em uma rede de fast food lotada e cheirando a gordura.
— Ainda bem que não tenho sua idade.
Só depois que ele respondeu é que me dei conta que aquilo poderia soar
como uma ofensa. Tentei amenizar.
— Adolescentes são uma droga — falei e bebi da taça de água que estava
sobre a mesa. O encarei analisando suas reações. Ele sorriu, parecia orgulhoso de
si mesmo.
— Você não é uma droga — comentou.
— Não pareço uma adolescente. Pareço? — flertei.
— Não. Você é linda demais para ser uma simples colegial.
— Gosta de colegiais? — Eu estava repetindo aquele olhar sexy. Seu
sorriso se alargou. Ele sacudiu a cabeça e mudou de assunto.
— O que vai pedir? — perguntou.
— Vou te deixar escolher por mim. — Mordi o lábio. — Imagino que
você gosta de tomar as decisões, de dar as ordens.
— Esse sou eu. — Heitor parecia estar adorando o jeito como eu flertava
com ele. — Gosta de ser dominada, meu bem? Gosta de receber ordens?
Bebi outro gole de água. Quando ele estava falando naquele tom sexy,
meu corpo queimava.
— Posso ser submissa... De vez em quando. Desde que você não me
coloque em uma situação comprometedora.
— Jamais faria isso, meu bem.
Por favor, vamos transar! Agora! Minha mente gritou, mas tudo que fiz
foi beber mais um gole de água.
Heitor pediu duas cervejas e alguns sushis quando o atendente veio até
nós. Ele não se importava de eu beber álcool. Adorei isso.
— Precisa me falar sobre a sua vida — sussurrei.
— Quer fazer parte dela? — ele me sondou com uma das sobrancelhas
arqueadas.
— Eu preciso saber com quem estou lidando.
— Digo o mesmo. Que carreira pretende seguir?
Ele estava tomando as rédeas.
— Quero cursar Direito — respondi.
— Em que área quer atuar?
— Quero ser juíza criminal — falei e ele ficou sério por alguns segundos.
— É uma profissão perigosa — comentou pensativo.
— Por que diz isso? — questionei ao vê-lo mudar de humor.
— Meu irmão era juiz criminal.
— Você tem um irmão? — perguntei perplexa enquanto o garçom servia
nossas cervejas. — O que aconteceu com ele?
— Ele não é mais juiz — Heitor disse.
O encarei, estudando seu rosto.
— Me fale sobre ele — pedi. Estava surpresa por eu ter um possível tio.
— Não somos muito próximos. Isso não é relevante — murmurou
bebendo alguns goles da cerveja. — Gostaria de ter um irmão ou uma irmã,
Valentina?
— Não. Prefiro ser o centro das atenções — respondi experimentando a
cerveja sem desviar do seu olhar. A bebida era amarga, um sabor muito forte e
marcante. Fingi gostar.
— Sua sinceridade é adorável — ele comentou.
— Faço o possível. — Dei de ombros.
— Posso ser sincero com você, meu bem?
— Absolutamente.
— Eu queria arrancar sua roupa. Agora. Não tirar. Falo sobre arrancar
com minhas mãos e dentes. Rasgar tudo. Jogar seu corpo sobre a mesa, abrir
suas pernas e enfiar minha língua dentro de você, enquanto beliscaria seus
mamilos.
Ai.
Prendi a respiração.
— Hum — foi tudo que consegui sussurrar. Senti a pele queimar, a
calcinha ficou úmida. Bebi vários goles de cerveja até conseguir encarar seu
olhar de macho alfa dominante.
— Isso te deixa nervosa, meu bem? — ele perguntou com um sorriso de
lobo mau.
— Pelo contrário — menti. — Adoro sinceridade.
— Gosta das coisas esclarecidas de forma explícita?
— Sim. Quanto mais explícito, melhor.
— Tem uma coisa no meu bolso, Valentina. Gostaria que usasse durante
o jantar.
O atendente chegou com nossos pratos de porcelana escura. Precisei
esperar ele ir embora, enquanto tentava manter a calma.
— Seja mais explícito — exigi assim que voltamos a ficar sozinhos.
— Tem um vibrador no meu bolso. É pequeno. Quero que vá até o
banheiro e o introduza dentro de você. Eu tenho o controle remoto...
— Me dê — pedi o interrompendo com a palma da mão aberta.
Heitor tirou alguma coisa do bolso e me entregou. Levantei sem estudar
o objeto, o escondi entre as mãos, calcei os chinelos e tentei caminhar sem
pressa.
Dentro da cabine, abri a nécessaire e encontrei um item um pouco
bizarro. Era roxo e de silicone. Tratava-se de uma borboleta, um pouco menor
que a palma da minha mão, com um pequeno pênis. A glande era bem marcada,
e várias veias salientavam no corpo.
Sem pensar no que estava fazendo, abaixei a roupa e enfiei o pênis lá
dentro. A borboleta ficou para fora. Tinha duas antenas firmes que ficaram
posicionadas no meu clitóris. Quando aquilo começasse a vibrar, seria uma
loucura.
Mordi o lábio e sorri. Mesmo com toda a confusão em que estávamos
metidos, ele ainda tinha cabeça para perversões.
Vesti a roupa e saí do banheiro. Adorei a sensação que o pênis causava ao
caminhar.
Quando voltei à mesa, Heitor estava comendo com a cabeça abaixada,
concentrado nos hashis. Ao começar a me sentar, uma onda de vibrações atingiu
meu interior. Arregalei os olhos. Ele tinha ligado o vibrador com o controle
remoto. O vi esconder um sorriso perverso. Tentei disfarçar o fogo que acendeu
dentro da minha calcinha, ergui a cabeça e me sentei com dignidade.
Heitor ficou me observando enquanto eu tentava não gemer. Minhas
mãos tremiam.
— Está vermelha, meu bem — ele murmurou com um olhar sacana.
— Estou ótima — respondi. — Continue comendo!
Ele fez como eu pedi, só que as vibrações aumentaram. As anteninhas da
borboleta massageavam meu clitóris e me faziam arder de excitação. Não ia
conseguir disfarçar.
Quando o atendente voltou com outra rodada de cervejas, eu estava
mordendo o lábio com muita força, agarrando os hashis, torcendo para não soltar
um gemido. Abaixei a cabeça, deixei meu cabelo escorregar e encobrir boa parte
do rosto, e procurei dar o máximo de mim para controlar as reações do corpo. A
sensação era maravilhosa e intensa.
Heitor se divertia.
— Não vai comer, Valentina? — me sondou com interesse.
— Perdi a fome.
— Você deveria comer...
— Não insista! — murmurei o interrompendo. — Nesse momento, só
preciso ficar a sós com você.
— Por que tem tanta urgência, meu bem? — ele quis saber. Como podia
ser tão pervertido?
— Tem um fogo que você precisa apagar — sussurrei a resposta.
Ele largou os hashis sobre a mesa e se levantou bruscamente.
— Vou pagar a conta — explicou. — Venha.
Cambaleei atrás dele, feliz da vida por sair dali. Heitor pagou tudo e
pediu para que embrulhassem os sushis que não comi. Quando nos entregaram o
embrulho, deixamos o restaurante.
No estacionamento, nos acomodamos no carro, e ele deu partida. Dirigiu
até um local afastado. Minha mão o acariciava o tempo todo. O velocímetro
denunciava nossa pressa.
Percebi que estávamos na área industrial. Todas os barracões estavam
fechados. Não se via uma alma viva onde o carro estacionou.
Numa batida de coração, ele estava tirando meu cinto de segurança,
abaixando o encosto do meu banco. Segurando nos meus cabelos sem o menor
cuidado, Heitor me fez girar, me deixando de bruços. Apoiei minhas mãos no
encosto enquanto ele vinha para as minhas costas.
— O que vai fazer? — perguntei mordendo o lábio. As vibrações
aumentaram de intensidade.
— Te devorar, meu bem.
— Ai — gemi revirando os olhos enquanto ele abria o botão da minha
calça, a puxando para baixo em seguida.
Ainda nas minhas costas, ele abaixou o banco mais um pouco, até deixá-
lo quase deitado. Ergueu minha blusa, descobrindo minha pele, e passou a língua
na base da minha coluna.
— Fique quietinha, meu bem — ele advertiu enquanto puxava minha
calcinha até metade das minhas coxas.
— Sim, senhor — respondi ao ouvir o barulho do seu zíper sendo aberto.
Heitor abriu minha bunda e me penetrou por trás de uma vez. Eu estava
tão perdida com a sensação de ter algo vibrando dentro de mim, que não senti
dor; pelo contrário, adorei quando ele se moveu para cima, tirando, depois
enterrando de volta. Soltou o peso sobre minhas costas e encontrou meu
pescoço, mordendo a pele.
— Contraia, meu bem — ele pediu.
— Assim? — perguntei apertando seu membro dentro de mim. Ele arfou.
— Yeah — Heitor cochichou soltando um grunhido animal.
Estômago, pulmões, coração, tudo virou um só dentro de mim, numa
mistura de frio e fervendo. Os movimentos aceleraram e o carro balançou no
mesmo ritmo, os vidros ficaram embaçados.
O prazer de sentir os dois dentro de mim — pênis e vibrador — era
insano. Meus olhos reviravam, minhas unhas arranhavam o couro do banco e
meus dentes mordiam o encosto num desespero avassalador. Pensei que ia
desmaiar. Pensei que ele ia desmaiar em cima de mim. Quanto mais eu me
contraia, mais ele gemia, chegando a uivar contra meu pescoço.
Eu sabia o que aquele desejo animal significava. Era nossa despedida.
Heitor não podia mais ficar no Brasil, independente do resultado do exame.
Precisava trabalhar.
Vinte e dois
E
stava exausta no fim, faminta. Por sorte, ele pensava em tudo. Devorei as sobras
dos sushis com pressa, enquanto ele seguia para uma boate. Minhas pernas ainda
tremiam quando saí do carro.
O segurança não desconfiou — ou simplesmente não se importava —
quando viu minha identidade falsa. Nos deixou entrar sem problema algum.
Havia muita gente bebendo e dançando. A música alta e as luzes me
envolveram rapidamente. Heitor segurou minha mão bem forte enquanto me
guiava no meio das pessoas.
Reconheci a canção que tocava ali, era a mesma que tocou quando eu
estava amarrada com os headphones. Era aquele tipo de música que ele curtia. A
batida era perfeita; o vocal, sexy.
— Sabe quanto tempo um exame de DNA demora para ficar pronto? —
Heitor perguntou quando paramos. Seus braços estavam agarrados a minha
cintura, ele nos movia no ritmo da música.
— Não faço a menor ideia — respondi perto do seu ouvido.
—Demora cerca de um mês. Acha que aguento esperar tanto tempo?
— O que faremos?
— Vou pagar o quanto for preciso para que eles entreguem o resultado no
fim da tarde de amanhã.
Engoli em seco. Meu coração batia forte.
— E depois? — perguntei.
— Quero você, quero que seja minha, independente do resultado.
— Já sou sua — declarei. Independentemente de qualquer resultado, eu
seria para sempre dele.
— O que você prefere? Que eu seja seu pai ou não?
— Será mais fácil se você não for — respondi e engoli em seco. — Mas
eu continuarei sem saber quem é ele. E você, o que prefere?
— Não sei, meu bem. Não sei o que pensar.
O abracei muito forte. Por mais que o lugar fosse agitado, me senti
melancólica o resto da noite. O que havia entre nós estava por um fio. Eu só
queria ser uma coisa pequena que ele enfiava na mala antes de partir. E não
poderia nem pensar na quantidade de mulheres gostosas que se atiravam nele.
Será que ele tinha amiguinhas coloridas? É claro que tinha! Mas era meu nome
que estava tatuado nas suas costelas.
Quando cheguei em casa, Lua estava acordada. Ignorei seus apelos para
uma conversa amigável e subi as escadas. Adormeci ouvindo a música que papai
e eu dançamos no meu quarto, rodopiando como se tudo não estivesse prestes a
mudar.
Tive que acordar muito cedo na segunda. Meu corpo ainda estava
dolorido, mas precisava ignorar isso, o assunto que tinha para resolver era sério
demais. Vesti o uniforme da escola e prendi o cabelo numa trança. Parecia errado
voltar ao colégio depois de tudo. Eu não era a mesma garota do início da semana
passada. Heitor tinha mudado meu corpo e minha mente, até a alma.
Ergui o queixo e tentei fazer uma cara de quem não se importava ao
sentar na mesa para tomar café. Mamãe se acomodou na minha frente.
— Não se rebaixe a ir até aquela clínica, Valentina — ela tentou me
persuadir. — Ele não é seu pai. Disso eu tenho certeza.
Pensei em dizer que precisaríamos repetir aquele exame com todos os
homens da cidade, ainda assim, preferi ficar calada.
Não eram nem sete horas da manhã quando chegamos à clínica. Heitor já
estava lá nos esperando. Ele parecia muito mais ansioso que eu, o olhar perdido.
Será que ele estava se culpando por tudo?
— Que horas sai seu voo, Heitor? — vovó perguntou quando acabaram
de recolher nossas amostras de saliva.
— As sete e meia da noite — ele respondeu com a voz rouca.
— Não vai esperar o resultado? — meu avô quis saber.
— Paguei uma fortuna para o resultado ficar pronto até o fim da tarde.
— Quero estar aqui quando você for abrir — murmurei. — Quero ser a
primeira a saber.
— Sua mãe disse que não é ele... — vovó sussurrou como se pedisse
desculpas.
— Não estou me iludindo, vovó. Sei que esse é só um degrau da escada,
que eu ainda estou longe de encontrar meu pai de verdade, ainda assim, quero
estar aqui para ter absoluta certeza que minha mãe falou a verdade.
— Nos vemos mais tarde — Heitor disse enquanto deixávamos a clínica.
Ele não resistiu e me puxou para seus braços. Meu nariz encontrou seu pescoço e
aspirei seu cheiro. Queria ter o poder de nunca mais soltá-lo. Ele lamentou. — É
uma pena você precisar passar por isso.
— Ter que te dizer adeus é a pior parte — cochichei bem perto do seu
ouvido.
— Sinto muito, meu bem.
Senti o peso do drama. Ele iria embora à noite, e eu desperdiçaria todo
meu dia presa na escola. Era ridículo, mas fui obrigada a fazer. Os minutos se
arrastaram, o passar das horas era quase impossível de suportar.
Minhas amigas queriam saber como foi o fim de semana, só que eu não
estava com ânimo para conversas. Também não tive coragem de contar que ele,
certamente, não era meu pai, que mamãe era tão vadia a ponto de não saber
quem a engravidou.
Eu era uma consequência, um acidente de percurso. Um efeito colateral
da vida pecaminosa que Lua levou quando era adolescente.
O que se poderia esperar de mim, sabendo de onde vim? Coisas boas?
Duvido muito.
Assim que as aulas acabaram, corri para o portão da escola sem olhar
para trás. Sabia que meus avós já estavam esperando.
Fiquei em silêncio no caminho para a clínica. Meu coração tinha
murchado, meus ombros estavam caídos. Só percebi que estava chorando
quando senti as lágrimas escorrerem pelo pescoço.
— Querida, não fique assim — vovó pediu.
— Não diga nada, por favor — pedi. — Você não sabe como é a
sensação. Só... Eu imploro, não diga nada.
— Tudo bem — ela respondeu.
Como sempre, Heitor já estava lá.
— Você usava esse uniforme na primeira vez que te vi — ele comentou
ao me abraçar. — Nunca esquecerei disso.
Só consegui forçar um sorriso como resposta, o caroço na garganta me
impedia de falar.
Enquanto a recepcionista nos pedia para aguardar, eu estava recordando a
primeira vez que Heitor tocou meus lábios, a maneira como sussurrava no meu
ouvido, a batida do seu coração. Ele disse que me amava, mas agora estava indo
embora.
— Está pronto — a mulher atrás do balcão nos informou.
Me levantei sem saber como caminhar. Vovó me ajudou.
Eu podia ver o sol se pondo através da janela quando Heitor pegou o
envelope. Seus dedos longos e apressados romperam o selo. Ele tirou uma folha
cheia de letras lá de dentro.
Engoli em seco. Respirei fundo. Engoli em seco novamente.
Os olhos esverdeados oscilaram enquanto ele lia.
— Sim... — Heitor sussurrou encarando o nada.
Arranquei o resultado das suas mãos. Meus olhos se perderam nos
números da tabela. Meu coração não batia mais. Tinha parado de respirar.
Encontrei a linha vermelha e a li em voz alta.
— O suposto pai tem no mínimo 99,99% de ser o pai biológico do filho
— foi tudo que consegui dizer.
Ergui os olhos da folha. A clínica havia desaparecido; junto com ela,
meus avós.
E aquele maldito espaço, aquele buraco dolorido no coração... ele estava
preenchido.
Meus olhos encontraram meu reflexo.
Meu reflexo de olhos verdes e barba por fazer estava olhando de volta
para mim. Os braços tatuados envolveram minha cintura, me apertando,
congelando em volta de mim. Meus tênis all star deixaram o chão.
— Você é o amor da minha vida — sussurrei o mais baixo que pude,
sentindo seus braços me esmagarem contra seu peito.
— Te amo, meu bem — ele declarou. — Preciso ir agora.
— Vou sentir sua falta — eu disse. — Você vai voltar, papai? Será meu
padrinho de formatura?
— Com prazer. Eu não quero te perder, não quero perder... você sabe,
meu bem.
— Eu estarei aqui todo o tempo em que estiver longe — garanti.
— Prometa que não vai se apaixonar por mais ninguém — ele pediu. —
Prometa, e será muito fácil voltar.
— Eu prometo.
Não liguei se alguém estaria ouvindo.
— Me ajude a lutar por você, meu bem. Eu quero te levar para minha
casa.
— Eu quero ir, papai. Eu vou! — falei com convicção.
— Tenho que pegar aquele maldito avião. Tenho que ir agora.
— Vou sentir saudades — choraminguei o apertando mais forte.
— É só colocar a mão no espelho, eu estarei do outro lado, tentando te
puxar para mim.
— Te amo, papai— repeti.
— Eu também — ele disse ao me colocar no chão, os olhos verdes
brilhavam como fogueiras. Eu queria beijá-lo, mas não iria tão longe.
— Vou esfregar esse papel na cara da minha mãe — falei vingativa. Ele
riu, a covinha apareceu na sua bochecha.
— Preciso ir agora. Nos veremos em breve, meu bem.
Heitor

— Ainda não consigo acreditar que a ideia de te convidar foi minha — a


mulher de voz forçada murmurou no banco do passageiro de um Toyota alugado.
— Eu sou o melhor presente que Valentina poderia ganhar essa noite, e
teria vindo mesmo se não fosse convidado — falei com segurança, tentando
disfarçar a ansiedade e manter presa a fera que queria se soltar de dentro de mim.
Lua olhou através do para-brisas. Seus braços caídos ao lado do seu
corpo denunciavam as emoções que ela sentia em dividir um espaço tão pequeno
comigo. A sós. Eu também me sentia incomodado. Só queria ver Valentina,
abraça-la, arrancar sua roupa festiva e dar o melhor presente que alguém poderia
lhe dar. Aquela sensação de quase morte quanto temos um orgasmo violento. Era
disso que minha Valentina precisava.
E eu queria olhar em seu rosto e ver a saudade torturante se dissipar em
felicidade. Sei que eu deveria ter lhe contado que apareceria na festa, mesmo que
Lua e seus avós me pedissem para guardar segredo. Eu poderia ter prolongado
sua alegria. A cada dia, ela se sentiria mais empolgada com minha chegada. Mas
isso foi tirado dela por um simples capricho meu: eu queria ver o choque em seu
rosto.
— Fui uma boa mãe — a mulher comentou. — Deus sabe o quanto me
esforcei para dar a Valentina tudo que ela precisou. Nunca lhe faltaram roupas,
calçados, bonecas. Ela jamais passou vontade de comer alguma coisa. Eu
trabalhei duro e lhe dei tudo. Com a ajuda dos meus pais, ela cresceu muito bem,
foi educada da melhor forma possível, teve a nossa confiança, liberdade, e fez
por merecer tudo que recebeu de nós.
— Ela só queria ter um pai. Um nome — falei com a voz rouca.
— Todo mundo sente falta de algo, tem uma queixa da vida. É claro que
ela arranjaria alguma coisa para reclamar, já que tinha tudo.
— Um pai não é apenas “alguma coisa”, Lua! — falei um pouco
alterado. — Todo mundo tem o direito de saber quem é o pai, e você não poderia
suprir essa ausência com presentes.
— Você morava no Canadá! E sim, eu supri sua ausência! Fui a melhor
mãe que alguém poderia ter. Ela ia a todas as festas e passeios com as amigas e
sempre voltou intacta, porque lhe ensinamos o que era certo e o que era errado.
Posso apostar que hoje, no seu aniversário de dezoito anos, Valentina ainda é
virgem.
Engoli a bile amarga que insistia em subir pela minha garganta.
Eu não poderia negar isso: que Valentina tinha sido bem-criada e era
virgem, até me conhecer. Lua tinha feito um bom trabalho. Na verdade, eu
duvidava que tivesse sido ela, tão egoísta, a educar Valentina. A boa menina era
resultado da educação dada pelos avós.
— Nada que você possa dizer vai me fazer te perdoar — falei para
concluir a conversa. O demônio dentro de mim uivava com o desejo feroz de ver
minha menina.
— Me perdoar, Heitor? Você acha que me deve perdão? — a mulher
perguntou com sarcasmo. — Você me deve muita coisa, mais nenhuma delas é
perdão. Devia ser eternamente grato por ter me conhecido, por eu ter te amado.
Tremi por dentro. Vibrei. Queria estrangula-la. Como ela tinha a audácia
de falar do passado?
— Eu te quis quando ninguém mais te queria — Lua continuou enquanto
eu agarrava as mãos no banco para não agredi-la.
— Não vamos falar disso.
— Você não era ninguém. Um antissocial que sentava no canto mais
afastado da sala. Eu te dei amor, carinho, atenção, te dei amigos, te levei a festas.
Parte do homem bem-sucedido que é hoje você deve a mim.
Tudo que eu me recordava era da garota juntando as roupas e correndo,
como uma covarde, fugindo com todos os meus segredos. Meu coração tinha se
despedaçado e ela estava me traindo.
— Nunca contei a ninguém o motivo da nossa separação. Nunca falei
sobre o que você fazia comigo. Aqueles jogos obscuros. Jamais conversei com
alguém sobre isso, dos traumas que você deixou em mim. Meus pais não sabem.
Ninguém sabe.
Minhas mãos tremiam. Eu só queria me afastar e ficar calmo. Não
suportava ser julgado por alguém como ela. Uma pessoa que se achava no direito
de condenar os outros porque ela vivia uma vidinha normal e miserável. A vida
que a sociedade impõe. O conforto e a segurança da normalidade tediosa. Eu não
merecia vê-la remexendo meus segredos como se não existisse sentimentos
dentro de mim.
— Espero, do fundo do meu coração, que você tenha mudado, que tenha
amadurecido — ela baixou o tom de voz. — Algumas das coisas que você me
obrigava a fazer é crime!
— Nunca te obriguei a nada — minha voz saiu tão rouca que imaginei
que minha garganta fosse se partir. — Tudo que fez foi por vontade própria.
— Você me induzia, Heitor! Você me fazia dependente. Se mostrava a
melhor pessoa do mundo e, em seguida, me amedrontava. Eu te amava. Eu
queria pertencer a você. Te dei minha inocência, minha ingenuidade, e fiz tudo
que você queria, até que não deu mais para suportar. Você ultrapassou todos os
limites!
— Só quero ver Valentina. Quero entregar um buquê de rosas a ela e lhe
desejar feliz aniversário.
A mulher se esticou para olhar o banco de trás onde havia uma infinidade
de presentes.
— Você precisa se tratar, Heitor! — Lua revirou os olhos. — Não
estrague a menina adorável que eu levei dezoito anos para moldar.
Quase cuspi na cara dela. Valentina não era uma boneca de barro que ela
podia moldar. Ela era um ser humano com vontade própria, com personalidade
única. E eu não ia permitir que Lua continuasse moldando meu bem mais
precioso.
Saí do carro segurando o buquê em uma das mãos e entrei no salão de
festas. Não foi difícil encontrá-la. Possuía a silhueta mais bonita, o cabelo mais
brilhoso, e exalava um perfume que eu podia farejar à distância.
A fera dentro de mim estava tão sedenta que um grunhido animal
escapou da minha garganta ao ver suas costas nuas.
Respirei o mais fundo que pude e caminhei até ela. Tapei seus olhos com
uma das mãos e soprei em seu ouvido. Senti o choque no seu corpo, a dúvida e a
curiosidade, quando ela arrancou minha mão do seu rosto e se virou para me
encarar.
A emoção de vê-la tão bonita me fez cambalear um passo para trás. Seu
vestido possuía um decote que ia até seu umbigo, os cabelos estavam presos de
lado e ela parecia uma deusa.
Ela era uma deusa. A minha Deusa.
— Papai! — Seus lábios pronunciaram.
— Você está tão linda, meu bem — murmurei como um bobo
apaixonado, ciente que minha vida inteira pertencia a ela. — São para você —
falei entregando o buquê de flores antes que ela se atirasse em meu pescoço.
Valentina agarrou as rosas com um sorriso iluminado, as empurrou para
alguém que estava ao seu lado, e me abraçou com voracidade. A proximidade e
maciez do seu corpo contra o meu fez o demônio rugir e a excitação se espalhar
pelo meu corpo.
— Trouxe alguns presentes, meu bem. Estão no carro. Quer ir até lá
comigo? — perguntei.
— É claro, papai — ela respondeu entendendo minha urgência em tirá-la
daquele salão. — Você me fez a garota mais feliz do mundo só por aparecer. Eu
jamais imaginei que viesse.
— Desmarquei alguns compromissos e peguei o avião.
Mal acabamos de atravessar a porta, e a puxei para o estacionamento.
Longe dos convidados, destranquei o Toyota e a joguei sobre o banco, onde
nossos corpos, desejos e segredos se fundiram numa única peça — uma obra
prima
.
Continu
Uma espiada em:
O PECADO DE
Valentina
A preocupação domina até meus ossos. O voo de 10h e 55min só piora a
angustia.
A vontade de vê-la e tocar seu corpo me arrasa. Preciso saber o que
diabos está acontecendo.
Eles haviam me ligado — seus avós —, indo contra a vontade da mãe, é
claro.
Não era para eu estar viajando hoje. Só deveria partir semana que vem
para sua formatura. Mas algo aconteceu. Uma coisa tão séria que foi preciso
solicitar minha presença.
— Aceita alguma bebida, senhor? — a comissária de bordo me sonda
com seus olhos grandes e esverdeados. Noto que o botão do seu decote está
aberto. Sei que foi proposital.
“Um oral está no cardápio? ” Me imagino perguntando.
— Estou bem — respondo e ela parece decepcionada. Sei que planejava
debruçar-se sobre mim e roçar os seios em alguma parte do meu corpo. Isso não
me impressiona; eu estive em todos os clubes de sexo possíveis e já vi de tudo.
Ela precisaria ser um pouco mais evasiva para conseguir uma foda rápida
no banheiro da primeira classe.
Não estou sendo esnobe, só não tenho cabeça para isso. Valentina, minha
Valentina, a melhor parte de mim, está no hospital. Tudo que sei é que uma coisa
grave aconteceu, algo que só deve ser dito pessoalmente.
Batuco meus dedos contra o apoio para copos, o que chama a atenção da
mesma comissária. Ela volta, disposta a me oferecer uma bebida novamente.
Preciso me controlar, ou chegarei bêbado ao Brasil.

O avô me espera na recepção. Os batimentos fazem eco nas extremidades do


meu corpo. A boca está seca e amarga quando o sigo pelo elevador. Preferiria ir
de escadas, mas não quero demonstrar o pânico que estou sentindo.
Meu coração para e para e para repetidas vezes enquanto os números
passam pelo painel do elevador. Os segundos mais angustiantes da minha vida. E
eu grito e grito e grito dentro da minha cabeça. Por fora sou apenas um homem
preocupado na medida certa. Por dentro, estou lutando contra as grades do meu
próprio corpo, desesperado para correr até ela.
— Preciso adiantar o assunto — o avô diz ao parar diante da porta do
quarto. A avó também está ali com o rosto angustiado. Lua não. Deve ter coisas
mais importantes para fazer.
Engulo em seco. A besta dentro de mim está encolerizada. Sangue dos
próprios lábios escorre da boca enquanto exibe os dentes para o avô. Quem é ele
para adiar o encontro de um pai com sua filha ferida? Planejo matá-lo, em
seguida arrombar a porta do quarto e rastejar até os pés da minha Valentina.
Respiro fundo.
— Diga — consigo soar controlado. Me daria bem como ator.
— Prometa que não irá insultá-la — a avó me pede. — Valentina está
muito sensível. Já foi muito pressionada. Não queremos...
— Diga — repito. Dessa vez é a besta falando, gritando de dentro de
mim. Engulo em seco novamente tentando silenciá-la.
— Valentina engravidou — o avô conta sem mais rodeios.
Meu coração para e explode. Engulo em seco. A besta fica quieta,
acuada. O homem que represento por fora olha para os próprios pés escolhendo
as palavras que deve dizer. Ele não as encontra.
Eu devo perguntar alguma coisa? Não consigo sequer juntar os
fragmentos de pensamentos que foram espalhados pelo chão do meu inferno.
Limpo a garganta. Se... Não! Não posso cogitar a ideia.
— Essa não é a pior notícia — a avó murmura. Se ainda houvesse
coração dentro do meu peito, ele teria subido pela garganta em chamas.
O homem sensato que habita dentro de mim, aquele que mascara as
emoções, tateia a mão trêmula até encontrar o celular no bolso do terno. Planejo
ligar para meu advogado caso seja preciso. Está decidido. Se Valentina me traiu,
se ela me denunciou, mesmo depois de eu ter lhe dado todo o meu amor e o que
mais consegui sentir, só falarei na presença de um advogado.
“Eu não a forcei” — as palavras voltam a se formar na mente.
Sei que estou ferrado. Sempre fodido pelas pessoas que amo. Sempre
traído, julgado. Cuspido. Por que ainda amo?
Então percebo que ela nunca foi como fantasiei, como fingiu ser. Não é
só na aparência que se parece com a mãe. É Lua que ela reflete e não eu, como
pensei tantas vezes.
Fodido por ela.
“Ela é só uma criança” — eles vão dizer. Me chamarão de monstro,
animal. Ninguém vai se preocupar com a ferida aberta no meu coração. As
pedras serão pesadas.
— Heitor — a avó sussurra meu nome enquanto desliza a mão pelo meu
braço —, estamos tão chocados quanto você...
@silzafia

@silzafia

@silzafi

silmarazafia
Table of Contents
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Heitor
Continu
Valentina

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