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Juan de Acelga reuniu em seu livro traçados que vão desde as roupas
masculinas e femininas, até roupas para sacerdotes e comandantes militares. Os
desenhos não indicam necessariamente a construção de cada uma das peças, mas
demonstram as formas e o posicionamento sobre o tecido para se obter o melhor
aproveitamento da peça a ser confeccionada. Em seu livro, Alcega sugere indicações
de encaixe, número de partes a cortar, além de códigos que indicam valores a serem
executados. Esses valores dizem respeito a uma espécie de tabela de medidas que
eram aplicadas a fim de se obter o valor total do tecido a ser empregado, uma vez que
havia na época até quatorze possibilidades de larguras de tecido.
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quer mais comprida e larga, o que significa que muitas peças de vestuário são
desperdiçadas, e o alfaiate deve permitir isso (1985, p.35)
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fazer todo tipo de roupa usada por homens e mulheres” (Waugh, 1985). A partir desse
ano, durante um século, os alfaiates controlaram a confecção de vestimentas e
administraram todos os ofícios ligados ao vestuário (Roche, 2007).
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Tanto para os alfaiates como para as costureiras, agora devidamente
registradas e reconhecidas por meio das guildas, não havia um tipo de padrão de
medidas que os orientassem. Essa padronização só ocorreu a partir de 1830 quando o
alfaiate francês Guglielmo Compaign, pioneiro da antropometria moderna,
estabeleceu critérios e técnicas de mensuração do corpo humano. Até esse momento,
para o registro das medidas, os alfaiates utilizavam uma fita de papel ou ainda de
couro marroquino para cada um de seus clientes. Em cada uma das fitas escreviam o
nome, as observações necessárias e assinalavam os valores por meio de piques de
tesoura. Porém, essas fitas apresentavam o inconveniente de enrolar, enrugar ou
ainda apagar facilmente as anotações que eram registradas (Ormen, 2011).
Para cada cliente, os alfaiates mantinham uma única fita métrica com seu nome
inscrito nela, marcada com indicações denotando o comprimento de seu antebraço, o
diâmetro de seu pescoço, a largura de seus ombros ou o que quer que fosse
necessário para o feitio de sua roupa. O traje do cliente seria cortado de modo
apropriado, alterando-se um padrão muito geral para coincidir com as indicações da
fita individual (Hollander, 2003, p.133).
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Essa maneira de vestir consolidou-se no século XIX com o movimento do
Dandismo7, que na figura de George Beau Brummell encontrou seu principal
representante. O inglês Beau Brumell, conhecido como o Dândi (D’ Aurevilly, 2009)
corporificava um novo “tipo de herói” feito pela alfaiataria, em que o heroísmo de um
homem era ser simplesmente ele mesmo (Hoolander, 2003).
Brummell provou que o ser superior essencial não era mais um nobre
hereditário. Sua excelência era inteiramente pessoal, sem o apoio de brasões
heráldicos, salões ancestrais, vastas extensões de terra [...] Sua roupa tinha de ser
perfeita apenas em sua integridade de ser feita por um alfaiate, isto é, apenas na
forma, sem a sobrecarga de quaisquer indícios superficiais do valor atribuído ao nível
social (Hollander, 2003, p.119).
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as costureiras da França” (Hollander, 2003, p. 113). Ainda de acordo com a autora, os
casacos em lã eram originários do “grosseiro casaco campestre” inglês e davam
destaque ao corpo do homem agora evidenciado. As costuras e as tramas aparentes
do tecido faziam o vestuário parecer honesto, bem como o homem que o vestia.
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A alfaiataria artesanal, por sua vez, é formada por mão de obra altamente
especializada. Ela apresenta-se ao universo masculino assim como a Alta Costura se
apresenta ao universo feminino (Hopkins, 2013). De acordo com Roche, ela
“representa o monopólio masculino na esfera do vestuário, uma herança do antigo
passado medieval e do começo da Idade Moderna” (2007, p.302).
É a mais pessoal e essencial de todas as artes aplicadas, pois o artista que cria
usando roupa, seda e outros materiais tem sempre de lidar com o elemento humano
para a formação bem como para a visualização de sua arte. É uma arte que é ainda
mais complicada pelo fato de, além de ser incômodo em termos de forma o seu
modelo nunca é estático e o produto acabado. O que deverá parecer de forma
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agradável e elegante para um espectador, também deve ser flexível e confortável para
o usuário ao mover-se (Waugh, 1985, p. 34).
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As regras impostas pelas guildas, que regulamentavam as condições de ingresso
no ofício, bem como a hierarquia das organizações, demonstravam o caminho que o
aprendiz de alfaiate percorreria até alcançar o título de mestre dentro das oficinas.
Conforme Roche, [...] dez mestres admitidos por ano, não incluindo os filhos de
mestres; três anos de aprendizado e outros tantos na condição de jornaleiro; uma obra
prima obrigatória, podendo ser substituída no caso de meninos nascidos dentro do
ofício; as viúvas de mestres podiam continuar o negócio de seus maridos (Roche, 2007,
p.304).
Havia ainda outras condições para que um alfaiate obtivesse o título de mestre,
como a cobrança de 500 libras na Inglaterra no ano de 1660. Este era o custo médio
exigido pelas Guildas pelas cartas de mestrança, às quais eram acrescidos os “direitos
reais, os alfinetes da guilda, o preço do banquete de recepção, o custo de uma loja e o
estoque de insumos, além da disponibilidade financeira de indenizar possíveis
credores” (Roche, 2007, p.305).
Fonte:
Por Juliana Barbosa e Eloisa Helena Santos.
http://historiapt.info/a-evoluco-histrica-da-alfaiataria-trajes-saberes-mtodos-e-rela.html?page=5
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O LIVRO SOBRE GEOMETRIA, PRÁTICA E PADRÕES
A obra de Alcega é estruturada em três partes, através das quais ele pretende
passar seu conhecimento, embora, como ele informa ao leitor no prefácio, várias vezes
esteve prestes a desistir, ou "porque eu considerei demais os custos e os diversos
padrões que eram necessários" ou porque "havia muitas contradições e disputas a
enfrentar no Conselho Real para imprimir este livro".
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A primeira parte explica a origem da "vara para medir que usamos nestes
reinos de Castela", que é dividida em "décimo segundo, oitavo, sexto, quarto, terceiro
e metade de uma vara". Em seguida, ele menciona como se reduz a medida do tecido
de "duas varas de largura" para qualquer outro tamanho.
Usando frações, Alcega dedica 22 capítulos a este tema, de modo que qualquer
um pode pedir corretamente o traje, a seda ou outro tecido necessário para
confeccionar roupas masculinas e femininas sem qualquer desperdício ou falta de
pano.
Na segunda parte, Alcega apresenta 135 traças (padrões) usados para fazer
roupas para homens, mulheres, sacerdotes, comandantes de ordens militares, trajes
para combates e jogos de lança e até mesmo para bandeiras de guerra. A qualidade
dos desenhos é digna de nota e contrasta com o descaso visto na redação dos textos
explicativos que acompanham.
Fonte: https://www.wdl.org/pt/item/7333/
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