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O Rito Adonhiramita: História e idiossincrasias

Irm.˙. André Otávio Assis Muniz

I. Problemática do tema
Pesquisar sobre o Rito Adonhiramita é defrontar-se com uma
montanha de opiniões, teorias e idéias cristalizadas que, em geral,
correspondem-se muito pouco com a realidade histórica dos fatos.
Escrever sobre ele requer a disposição necessária para enfrentar a
oposição dos que, de uma forma ou de outra, sentem-se mais
confortáveis com a mistificação e com a lenda, em prejuízo dos fatos
e da história documentada.
Desde a década de 1970 se criou uma impressão de que o Rito seria
místico em demasia, que traria idéias muito diferentes de outros ritos
ou até, absurdamente, que seria, por essas tantas diferenças, um rito
“irregular”.
As fontes oficiais, ou seja, os rituais e os documentos expedidos pelas
instituições do Rito, não são rigorosas com os métodos de pesquisa
histórica, o que leva a um emaranhado de informações não
verificáveis e oriundas de fontes sem isenção ou sem valor para a
pesquisa dos fatos originais.
Uma rápida pesquisa pela internet revela uma verdadeira montanha
de relatos e resumos, um mais inexato e fantasioso que o outro.
Pretendemos com esse artigo fornecer pistas de pesquisa e
elementos básicos para que o pesquisador maçônico possa guiar-se e
desenvolver desdobramentos fiáveis sobre o Rito Adonhiramita,
longe das invenções e das teorias sem base que abundam sobre ele.
II. Origens do Rito Adonhiramita
II.1. O contexto histórico: A França Maçônica do século XVIII
O Rito Adonhiramita é filho da Maçonaria francesa. Para
compreender suas origens é necessário compreender como se
desenvolve a Maçonaria Francesa no século XVIII.
Na França a Franco-Maçonaria obediencial, ou seja, regulamentada
por um sistema institucionalizado, foi implantada por volta de 1725,
através de imigrantes ingleses exilados por razões políticas ou
religiosas. Em Paris é notável o número deles e sua origem, em geral,

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é Londres. Junto com suas bagagens trazem os costumes e
procedimentos maçônicos utilizados na capital inglesa daquela
época, da primeira Grande Loja de 1717. Esses primeiros costumes
sofrerão significativas mudanças em pouco tempo.
Na Inglaterra, a partir de 1725, com o desenvolvimento do Grau de
Mestre, começam a se desenvolver os Graus de Aperfeiçoamento.
Muitas Lojas os praticam e não havia nenhum regulamento em
relação a eles. Os mais antigos fazem referência à lenda do terceiro
grau e ao espírito cavalheiresco.
Obviamente que, com o trânsito de maçons entre Londres e Paris,
esses desenvolvimentos, em pouco tempo, estarão em uso no
território francês.
Em 1730, a Grande Loja de Londres introduz inovações em seus
procedimentos litúrgicos como reação ao tristemente célebre
“Masonry Dissected” de Samuel Pritchard, que seria traduzido e
reeditado na França em 1745 como “L’Ordre des Francs-Maçons
trahi”.
Com o sucesso de vendas da obra de Pritchard, e com a lenda de que
os franco-maçons se ajudam financeiramente, de que nenhum
maçom é deixado na penúria, de que sendo maçom a vida se torna
mais fácil, há verdadeira corrida de uma horda de profanos que,
tendo se apoderado dos segredos ritualísticos das Lojas através da
citada obra, apresentam-se às Lojas como maçons...
As modificações introduzidas pela Grande Loja de Londres, visando
identificar os falsos maçons produzidos pela obra de Pritchard são,
basicamente, a inversão do pé da marcha, a inversão das Colunas dos
Aprendizes e Companheiros, a mudança das palavras e a introdução
de uma palavra de passe no Grau de Aprendiz.
Em 1728 estava organizada a primeira instituição maçônica na
França, a “Grande Loja da França”. Em 1735, a Grande Loja da França
solicita da Grande Loja de Londres a autorização necessária para
tornar-se uma Grande Loja provincial, o que foi negado. Em 1743, a
autorização foi dada e uma instituição foi constituída com o nome de
“Grande Loja Inglesa da França”. Essa mesma instituição, em 1773,
mudaria seu nome para “Grande Oriente da França”.
Os rituais transplantados de Londres a Paris são, obviamente, os já
modificados 13 anos antes, ou seja, com as Colunas invertidas, a

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mudança das palavras, o pé direito iniciando a marcha e a Palavra de
Passe no Grau de Aprendiz.
As Lojas francesas praticavam tanto os 3 Graus Fundamentais
(Aprendiz, Companheiro e Mestre), quanto os Graus de
Aperfeiçoamento. Com o passar do tempo, quase em cada província
francesa haverá um sistema diferente. A criação de sistemas
ritualísticos como a “Reau-Croix”, conhecida como “Ordem dos
Sacerdotes Eleitos do Universo” (Elus Cohen) na década de 1740, a
Estrita Observância Templária (de origem alemã) e o sistema
conhecido como “Rito de Perfeição de Heredom” (1758), originado
com o discurso de Ramsay em 1738, que misturavam pretensões
políticas, valores cavalheirescos e temas alquímicos, herméticos e
esotéricos, produziram o caldo cultural necessário para uma
verdadeira explosão de Graus Maçônicos.
II.2. Adonhiram
A Constituição da Grande Loja de Londres, dita “de Anderson”, cita
Adonhiram como o chefe dos trabalhadores na Montanhas do Líbano,
em numero de 30.000, que se revezavam com os sidônios (p.10).
Na obra de Samuel Pritchard, na parte relativa ao Grau de Mestre,
aparece o nome de Hiram e não Adonhiram.
Há alguma hipóteses plausíveis para a utilização do nome
“Adonhiram” em substituição a Hiram.
Alguns rituais franceses do século XVIII, como o reproduzido no “Le
Régulateur du Maçon - 1785/1801”, falam de Hiram como aquele a
quem Salomão deu a autoridade sobre todos os obreiros a saber:
30.000 homens destinados a cortar os cedros do Líbano, 70.000
aprendizes, 80.000 Companheiros e 3300 mestres.
Fica fácil perceber aqui a causa da confusão. Se Anderson fala que os
30.000 trabalhadores das Montanhas do Líbano estavam sob as
ordens de Adonhiram, e os rituais falam que esses mesmos 30.000
homens, destinados a cortar os cedros do Líbano, estavam sob as
ordens de Hiram, então, Hiram e Adonhiram devem ser o mesmo
personagem. Só que a Constituição de Anderson, na sequência, fala
que Hiram, Rei de Tiro, enviou seu homônimo “o Maçom mais
completo sobre a Terra”, Hiram ou Huram. (“But above all, He sent his
namesake Hiram, or Huram, the most accomplish’d Mason upon
Earth”.)

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Em 1744 foi publicado o “Catechisme de Franc Maçons ou Le Secret
Des Franc Maçons” (Catecismo dos Franco-Maçons ou O segredo dos
Franco-Maçons), escrito por Louis Travenol que, utilizando o
pseudônimo de Leonard Gabanon, denominava “Adonhiram” ao
arquiteto chefe das obras do Templo de Salomão, o qual comumente
é denominado, nos dias de hoje, apenas de Hiram.
Cabe frisar que em outros rituais franceses do período aparece
também o nome Adonhiram e, inclusive, continua aparecendo em
rituais do Rito Moderno de 1788 (Recueil des Trois Premiers Grades
de La Maçonnerie – Apprenti, Compagnon, Maitre au Rite Français –
1788). Ou seja, não é uma particularidade da obra de Louis Travenol
e nem uma “irregularidade” do Rito. Trata-se de algo bastante
generalizado na Maçonaria Francesa do século XVIII.
A mim, como pesquisador maçônico, parece que houve alguma
confusão entre os personagens bíblicos Adoniram, que era chefe dos
trabalhados forçados para a construção do Templo (2Sm.20,24;
1Rs.5,14) e que acabou sendo morto a pedradas pela revoltada
população (1 Rs. 12,18), e Hiram Abif, filho de uma viúva da tribo de
Naftali e de um cidadão de Tiro, que era hábil no trabalho com
bronze (1Rs. 7, 13-22) e com muitos outros materiais (2Cr. 2, 13-14).
Essa confusão pode ter sido aumentada e reafirmada pela prática de
alguns Altos Graus onde a figura de Adonhiram reaparece.
A explicação de que se trataria da utilização do pronome de
tratamento hebraico “Adoni” (senhor) antes do nome próprio
“Hiram”, não parece muito plausível, tendo em vista que em nenhum
outro local da Bíblia se vê esse tipo de utilização. Adonías, por
exemplo, quarto filho do Rei Davi, citado nos livros de Reis e Samuel,
não era o “Senhor Onías”.
II.3. A normatização dos Graus na Maçonaria Francesa e a
“Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”
Ao longo de quase 50 anos, como podemos ver, os Graus e sistemas
se multiplicavam ao ponto de um mesmo Grau ter dezenas de versões
diferentes e variações importantes nas palavras de reconhecimento.
Em 1773, devido ao caos instalado pela enormidade de graus
praticados sem qualquer regulação, o Grande Oriente da França,
tentando introduzir alguma uniformidade nesse emaranhado, cria

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uma comissão dos Altos Graus que permanecerá com uma atividade
bastante modesta até 1782, quando será criada a Câmara dos Graus.
Em 1780, como reação à publicação do “Catechism de Franc Maçons”,
mais uma obra medíocre das tantas que abundavam (e ainda
abundam), que desagradou profundamente a um grande estudioso
maçonólogo da época, Louis Guillemain de Saint Victor, este
preparou um estudo contendo pesquisas relativas aos mistérios da
Antigüidade, e lançou dois anos depois a “Recueil Precieux de La
Maçonnerie Adonhiramite” (Compilação Preciosa da Maçonaria
Adonhiramita). A parte publicada em 1782 abrangia 4 graus, ou seja,
Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Perfeito. Em 1785 ele lança
uma segunda parte onde outros graus eram tratados. Eram eles:
- Primeiro Eleito ou Eleito dos Nove;
- Segundo Eleito ou Eleito de Perignam;
- Terceiro Eleito ou Eleito dos Quinze;
- Aprendiz Escocês ou Pequeno Arquiteto;
- Companheiro Escocês ou Grande Arquiteto;
- Mestre Escocês;
- Cavaleiro da Espada ou Cavaleiro do Oriente ou da Águia;
- Cavaleiro Rosa-Cruz.
Ao final dessa edição, constava também a tradução do alemão de um
grau denominado “Noaquita ou Cavaleiro Prussiano”, o qual era
atribuído a um autor maçônico denominado Bérage. Este “13º” foi
interpretado por alguns autores como o último grau da Maçonaria
Adonhiramita. No entanto, se bem analisado o contexto, fica claro que
não existe qualquer ligação entre os graus anteriores e esse 13º grau.
Além do mais o próprio autor, Louis Guillemain de Saint Victor,
afirmou que o grau de Cavaleiro Rosa-Cruz é o ápice e o término de
seu sistema.
O período em que Louis Guillemain de Saint Victor escreve é
extremamente significativo para a Maçonaria Francesa. Em 1° de
Fevereiro de 1782, mesmo ano em que foi lançada a primeira parte
da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” ocorre a 121ª
assembléia do Grande Oriente da França, onde os irmãos constituem
a Câmara dos Graus que se reúne para debates em 19 de fevereiro de

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1782. Em 5 de março, o Irmão Orador Roëttier de Montaleau, propõe
o estudo de todos os graus existentes praticados na França para que
se faça uma síntese dos mais importantes e se crie um sistema
ordenado, que contemple toda a filosofia maçônica.
Em 21 de fevereiro de 1783, a Câmara dos Graus apresentará o
resultado de uma pesquisa sobre 38 Altos Graus sem nenhum
resultado prático.
Em 2 de fevereiro de 1784 é publicada uma circular anunciando que
sete Lojas Capitulares Rosa-Cruz se associaram para formar o Grande
Capítulo Geral da França. Esse Capítulo Geral da França, vai analisar
nada menos de 81 Graus diferentes, onde se contavam 75 Altos Graus
só entre os chamados “escoceses” e mais de 135 sistemas ou ritos. O
Capítulo Geral tentará os resumir em 5 Ordens, que se tornarão, por
assim dizer, o fundamento da “ortodoxia maçônica” na França, que
sintetizarão os elementos fundamentais dos ensinamentos e a forma
mais tradicional da família de graus que ele representa.
Já na época de formação do Grande Capítulo Geral, depois de se
definir que todos os Graus estudados seriam resumidos em 4 Ordens,
se estabeleceu uma 5ª Ordem, chamada de “Ilustre e Perfeito Mestre”
que seria o Grau Acadêmico e administrativo destinado a conservar e
estudar todos os graus e sistemas e que também serviria para
administrar o Grande Capítulo Geral.
Em 19 de março de 1784, é publicado o ritual da 1ª Ordem – Eleito
Secreto.
Em 18 de dezembro de 1784 é publicado o ritual da 2ª Ordem,
Escocês.
Em 19 de Maio de 1785 é publicado o ritual da 3ª Ordem, Cavaleiro
do Oriente.
No segundo semestre de 1785 se publica o ritual da 4ª Ordem,
Soberano Príncipe Rosa-Cruz.
O Grande Oriente da França e o Grande Capítulo Geral da França
entrariam em conflito diversas vezes, pelo fato de haver uma certa
confusão em relação à autoridade sobre os Graus e as Lojas.

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II.4. A estrutura da “Compilação Preciosa da Maçonaria
Adonhiramita”
A estrutura apresentada pela “Compilação Preciosa da Maçonaria
Adonhiramita” se serviu da base lançada pelo Capítulo Geral da
França a partir de 1784 (tendo em vista que a segunda parte da
Coletânea sai exatamente no ano em que o Capítulo Geral da França
publica o último de seus rituais, o da 4a Ordem).
Louis Guillemain de Saint Victor apenas desenvolveu um pouco mais
a estrutura apresentada pelo Grande Capítulo Geral da França,
focalizando-se em temas que julgava importantes e desdobrando a 1a
e a 2a Ordem em 3 Graus cada uma. Vejamos a estrutura de ambos:
Comp.Pr. da Maç. Adonhiramita - Capítulo Geral da França
Parte 1 (1782)
1- Aprendiz 1- Aprendiz
2- Companheiro 2- Companheiro
3- Mestre
4- Mestre Prefeito 3- Mestre
Parte 2 (1785)
5- 1º Eleito ou Eleito dos Nove
6- 2º Eleito ou Eleito de Perignam Eleito (1a Ordem)
7- 3º Eleito ou Eleito dos Quinze
8- Apr. Escocês ou Pequeno Arquiteto
9- Comp. Escocês ou Grande Arquiteto Escocês (2a Ordem)
10- Mestr. Escocês
11- Cav. da E. ou Cav. do Or. ou da Ág. Cav. da Esp./do Or.(3aOrdem)
12- Cavaleiro Rosa-Cruz Sob. Pr. Rosa-Cruz (4a Ordem)

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II.5. A repercussão da “Compilação Preciosa da Maçonaria
Adonhiramita”
A obra de Louis Guillemain de Saint Victor teve repercussão
extremamente positiva a ponto de em 1785 (ou seja, apenas 3 anos
após o lançamento da primeira parte e no mesmo ano do lançamento
da segunda), já estar sendo publicada, em francês mesmo na
Filadélfia, EUA. Esta obra se tornou uma referência canônica do Rito
Adonhiramita, e com ela o próprio rito alcançou ampla divulgação e
expansão na Europa, chegando a se tornar o principal rito do Grande
Oriente Lusitano e sendo exportado para suas colônias na África, Ásia
e Novo Mundo, inclusive o Brasil.
Na França, tornou-se, junto com a estrutura proposta pelo Grande
Capítulo Geral, o padrão de “Ortodoxia Maçônica”.
Aliás, é sob o titulo de “Ortodoxia Maçônica” (“Orthodoxie
Maçonnique suive de La Maçonnerie Oculte”, editada em 1837), que
Jean Baptiste Marie Ragon (1781-1862) irá cometer dois erros
grosseiros que se propagarão com grande sucesso.
O primeiro erro de Ragon é a atribuição da “Compilação Preciosa da
Maçonaria Adonhiramita” ao Barão de Tschoudy (Théodore Henry de
Tschoudy). Esse erro será repetido “ad nauseam” em Portugal e no
Brasil.
Tschoudy não teve absolutamente nada a ver com o Rito
Adonhiramita. Sua obra, “A Estrela Flamejante” lançava as bases de
uma Ordem denominada de ‘Ordem da Estrela Flamejante’, de
características alquímicas.
Em 1766, Tschoudy instituiu, mais no papel do que efetivamente, sua
Ordem, baseado na lenda de que tradições alquímicas teriam sido
passadas pelos ascetas da antiga Tebaída às Ordens de Cavalaria
cristã e dessas para a Franco- Maçonaria.
Tschoudy faleceu em 1769, ou seja, 13 anos antes do lançamento da
primeira parte da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”.
Ragon confundiu as coisas e atribuiu ao Barão a autoria da
“Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”.

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O segundo erro de Ragon foi a afirmação de que o Rito Adonhiramita
constava de 13 Graus, pois, para Ragon, o Grau de Noaquita, seria o
13º Grau.
III. O Rito Adonhiramita no Brasil
III.1. Primórdios
A obra fundacional do Rito Adonhiramita, ou seja, a “Compilação
Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” veio para o Brasil através de
uma edição de 1810. Essa edição foi traduzida e publicada pela
“Typographia Austral”, no Rio de Janeiro, no ano de 1836 como
“Coleção Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” .
A primeira Loja REGISTRADA no Grande Oriente do Brasil como
praticante do Rito Adonhiramita foi a “Sabedoria e Beneficiência”, um
ano depois do lançamento da tradução à qual aludimos acima (1837).
Há a hipótese de que a Loja “Reunião” (1801) e a Loja “Distintiva”
(1812), ambas localizadas na atual Niterói, trabalhariam no Rito
Adonhiramita, mas não é possível afirmar isso com certeza.
O Grande Oriente do Brasil, à época, era uma Obediência Mista, ou
seja, trabalhava os Graus Simbólicos e os Graus Superiores, sem
divisão.
A Carta concedida para a fundação do Grande Oriente Brasílico
previa a autorização para se trabalhar em todos os Graus utilizados
na França e em Portugal, com a exceção dos pertencentes ao Rito
Escocês Antigo e Aceito que, desde 1801, exigia a concessão de uma
patente separada, patente essa que deveria ser emitida pelo Supremo
Conselho de Charleston ou por Supremo Conselho por ele
reconhecido. Justamente por isso, posteriormente (1854), o Grão-
Mestre do Grande Oriente do Brasil se tornaria também o Soberano
Comendador do REAA, pois este era o único Rito trabalhado no Brasil
(introduzido em 1829) que exigia uma autorização separada. Já em
1832 foi fundado o Supremo Conselho do REAA no Brasil que
trabalharia como uma Potência Maçônica Independente.
Tendo isso em mente, fica clara a baboseira de se falar em “patente
de regularidade” para o Rito Adonhiramita e Moderno, como se eles
fossem o REAA...
Em 1839, o GOB criaria um “Grande Colégio dos Ritos”, que era um
tipo de departamento para o governo dos Ritos Adonhiramita,

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Moderno e Escocês (de maneira irregular), já que o REAA deveria
funcionar, e de fato já funcionava, separado.
Em 1854, com a incorporação regular do Rito Escocês Antigo e Aceito
ao GOB, o “Grande Colégio dos Ritos” sofreu uma transformação.
Tendo em vista que, oficialmente, o REAA se incorporaria ao GOB e
exigia um governo separado, não poderia ser simplesmente juntado
ao “Grande Colégio de Ritos” ou fundido como era antes. Sendo
assim, em 1855 foi criado o “Sublime Grande Capítulo dos Ritos
Azuis” (i.e. Moderno e Adonhiramita), que comporia colateralmente
ao Supremo Conselho do REAA, as Oficinas Chefes dos Ritos.
Para governar as Lojas e Câmaras do REAA, o Grão-Mestre teria que
se tornar, também, o Soberano Comendador do Supremo Conselho.
O “Sublime Grande Capítulo dos Ritos Azuis” teve existência curta.
Em 1863, menos de dez anos após sua criação, ocorreu a dissidência
liderada por Joaquim Saldanha Marinho, onde foi criado o “Grande
Oriente do Vale dos Beneditinos.
No Grande Oriente “dos Beneditinos” o Rito Adonhiramita foi muito
bem sucedido. O número de Lojas trabalhando no rito suplantou
aquelas do GOB.
Foi o Grande Oriente “dos Beneditinos” que criaria o primeiro corpo
capitular do Rito Adonhiramita no Brasil, em 3 de Outubro de 1872
seria criado o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas”.
No GOB foram fundadas as Lojas “Aliança” (1869) e a “Redenção”
(1872), que perfaziam 3 Lojas (com a “Firmeza e União”) do GOB
contra 5 em funcionamento no Grande Oriente dos Beneditinos.
Com essas 3 Lojas, o GOB criou pelo decreto nº 21 de 2 de abril de
1873 o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas”, homônimo ao
seu concorrente no outro Grande Oriente. Cabe salientar que o erro
de Ragon, o de que o Rito Adonhiramita tinha 13 Graus, sendo o
último o de “Cavaleiro Noaquita”, vingou no Brasil.
III.2. Desenvolvimento
Até 1951, esse corpo seria, na prática, o departamento do GOB para o
governo do Rito Adonhiramita. Nesse ano, em 23 de maio, pelo
decreto n. 1641, o Grão Mestre do GOB, Joaquim Rodrigues Neves
promulgava a nova Constituição, onde estava claro que, a partir de
então, o GOB só regeria os 3 Graus Simbólicos, mantendo relações “da
mais estreita amizade e tratados de reconhecimento”.

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Aqui começa uma longa série de equívocos dentro da Maçonaria
brasileira, equívocos esses que se mantêm até os dias de hoje.
A separação entre Potência Simbólica e Filosófica, até por uma
questão de simples lógica, não pode admitir qualquer tratado de
“reconhecimento”. A Potência Simbólica só “reconhece” os Graus 1, 2
e 3, sendo, portanto, ilegítima sua interferência ou “reconhecimento”
em Graus que estão fora de sua competência jurisdicional. Da mesma
maneira, as Potências Filosóficas, enquanto instituição, não têm que
ser consultadas ou dar quaisquer pareceres sobre rituais ou questões
relativas aos Graus 1, 2 e 3.
Tratado de Amizade e Cooperação é muito diferente de Tratado de
RECONHECIMENTO. É um show bizarro e deprimente ouvir que tal
ou qual Potência Filosófica é “irregular” por não manter Tratado de
Amizade e Cooperação com a Potência Simbólica X ou Y.
Aos Irmãos que afirmam esse tipo de ASNEIRA, pedimos que
perguntem na secretaria da Grande Loja Unida da Inglaterra, quais
são as Potências Filosóficas ou os Graus Colaterais que são por ela
reconhecidos. A resposta será “nenhum” e “nenhuma”. A Grande Loja
Unida da Inglaterra não interfere, não autoriza ou mantém quaisquer
relações oficiais com instituições que tratem de assuntos fora dos
Graus 1, 2 e 3 incluso o Real Arco (que é apêndice do Grau de
Mestre). A Grande Loja Unida da Inglaterra não tem qualquer
interesse ou ingerência sobre se seus membros irão ou não irão
cursar quaisquer Graus colaterais ou superiores ao Grau 3 e onde
farão isso. Já no Brasil, a “misturada” é a regra...
É óbvio e ululante que um Grão-Mestre consciencioso, ao ver a
necessidade de qualquer alteração, consultará aqueles Irmãos da
Potência Simbólica (que eventualmente podem pertencer a uma
Potência Filosófica do Rito, mas não obrigatoriamente) que forem
mais eruditos e doutos nas questões históricas, filosóficas e
ritualísticas, mas nunca como uma consulta institucional que se
confunda com dependência.
Já presenciamos o absurdo de um Grão-Mestre Estadual exigir Graus
Filosóficos para a composição de Grande Secretaria de Orientação
Ritualística. Ou seja, a confissão de dependência em relação a outra
instituição para tratar de assuntos internos.

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Da mesma forma, é uma declaração de tremenda ignorância
maçônica tentar legitimar uma Potência Filosófica com
“reconhecimento” por parte de Potência Simbólica.
A Potência Filosófica, no máximo, pode exigir como pré-requisito
para a admissão em suas fileiras que o candidato seja Mestre Maçom
de uma Potência Simbólica reconhecida por um determinado grupo
de Potências. Mas isso não pode se confundir com a Potência
Simbólica “indicar” a qual Potência Filosófica o seu membro se filiará
e, muito menos, com a Potência Filosófica mendigar um
“reconhecimento” institucional de uma Potência Simbólica (que,
como dissemos, só tem legitimidade para reconhecer GRAUS
SIMBÓLICOS).
Voltemos ao nosso tema...
Em 1953, o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas” passaria a se
chamar “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros
Noaquitas para o Brasil”.
Em 15 de Abril de 1968, era assinado entre o então Grão-Mestre do
GOB, Álvaro Palmeira e o Presidente do “Muito Poderoso e Sublime
Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, Josué
Mendes, um Tratado de Aliança e Amizade.
E nesse período, de 1953 a 1968, o Rito Adonhiramita ficou
“irregular”? Respondam os defensores dos “reconhecimentos” por
Potência Simbólica...
III.3. O Grande Cisma de 1973
Em 1973, ocorre a grande “reviravolta” no Rito Adonhiramita. Neste
ano, treze Grandes Orientes Estaduais se desligam do Poder Central
do GOB. Isso, para o GOB, significa a perda da maior parte de suas
Lojas praticantes do Rito Adonhiramita e uma cisão interna dentro
do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros
Noaquitas para o Brasil”, que só poderia admitir Irmãos ligados ao
GOB.
Para recuperar o Rito Adonhiramita dentro do GOB e dentro do
“Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros
Noaquitas para o Brasil”, é necessário atrair Irmãos de outros ritos
para ele. Como fazer isso?
Essa foi a questão colocada pelos Irmãos Adonhiramitas
remanescentes. Em 1973, sob o comando do Irmão Aylton Menezes, o

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“Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas
para o Brasil” muda seu nome para “Excelso Conselho da Maçonaria
Adonhiramita” (ECMA). Restava ainda a completa reformulação do
Rito para que se tornasse mais atrativo para uma população
maçônica majoritariamente do REAA, ou seja, habituada a um
sistema de 33 Graus e que não se sentiria atraída por um rito com
apenas 13 (12 na verdade).
III.4. As influências intelectuais no processo de reformulação
Na década de 1970, a literatura maçônica no Brasil estava fortemente
influenciada pelas obras de autores como Joaquim Gervásio de
Figueiredo, Charles Webster Leadbeater e Jorge Adoum. Tais obras
eram fartamente publicadas pela Editora Pensamento. A chamada
“Escola Histórica” ou “Documental” tinha pouca ou nenhuma
influência na maior parte dos maçons brasileiros (tem hoje?).
Tanto Joaquim Gervásio de Figueiredo quanto Jorge Adoum e C.W.
Leadbeater eram ligados à Sociedade Teosófica (organização fundada
nos EUA, em 1875, por Helena Petrovna Blavatsky e Henry Steele
Olcott) e entusiastas da Co-Maçonaria (Maçonaria Mista, para
homens e mulheres).
A Co-Maçonaria nasce na França com a Iniciação de Marie Deraismes
em 1882 na Loja “Les Libres Penseurs”. Esta Loja pertencia à Grande
Loja Simbólica Escocesa e foi desligada logo que correu a notícia da
Iniciação de Marie Deraismes. A segunda Loja a adotar a Iniciação
feminina foi a “La Jérusalem Ecossaise”, onde Georges Martin foi
Venerável Mestre. Ambas as Lojas adotavam o Rito Escocês Antigo e
Aceito. Esse, obviamente, foi o rito adotado inicialmente para o
desenvolvimento da Co-Maçonaria.
A primeira Grande Loja fundada fora da França foi a de Zurich, em
1895. Ela constituía a seção no 3 da “Grande Loge Symbolique
Ecossaise Mixte de France”, e era considerada como uma das cinco
Lojas (a quinta foi fundada em 1902) do “Le Droit Humain” ainda
unicamente francês. Em 1900, a Ordem Co-Maçônica tornou-se
internacional e, para tanto, foi fundado um Supremo Conselho Misto
dito “universal”, bem como o “Le Droit Humain” Internacional.
Em 1902, a Loja no 6 “Human Duty” foi criada em Londres, sob a
impulsão de Annie Besant, importante figura dentro da Sociedade
Teosófica e autora de diversos livros ocultistas traduzidos para o

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português e consumidos por maçons brasileiros, de Francesca
Arundale e de George Arundale.
A fundação, seguida da iniciação de quatro novos membros, teve
lugar em 26 de setembro no REAA, rito de base de “Le Droit Humain”.
Mas a partir da reunião seguinte, um ritual Inglês (muito
provavelmente o de Emulação) foi implementado com a autorização
das autoridades do “Le Droit Humain”.
Os fundadores da nova Loja londrina tinham consciência da
necessidade de ter uma prática maçônica mais próxima possível da
inglesa, para que sua oficina pudesse se desenvolver em uma
Inglaterra totalmente indiferente, senão francamente hostil, à noção
de Co-Maçonaria. Era preciso adotar sem demora um ritual em
harmonia com aqueles praticados nas lojas masculinas inglesas. Se a
questão fosse simplesmente constituir uma loja co-maçônica de
franceses que, por razões profissionais ou outras, vieram a se instalar
na Inglaterra, poder-se-ia conceber de continuar a utilizar o REAA,
mas não era o caso: tratava-se de implantar e desenvolver a Co-
Maçonaria na Inglaterra.
Entre 1915 e 1925 Annie Besant, ajudada por C.W. Leadbeater
(1847-1934), outro notório teosofista e autor de livros fantasiosos
baseados em “clarividência” ou em métodos que incluíam a conversa
com uma gata, elaborou rituais específicos para a Federação
Britânica. Tais rituais misturavam alguns elementos: O ritual de
Emulação inglês, alguns usos do Rito de York (Norte Americano), o
REAA como era praticado na França, alguns elementos do Rito de
Mênfis-Misraim, procedimentos muito infuenciados por usos
eclesiásticos (Leadbeater fora padre da Igreja Anglicana e era bispo
da Igreja Católica Liberal, também ligada à Sociedade Teosófica) e as
doutrinas teosofistas.
Em 1916 a revisão dos rituais do “Craft” (Graus Simbólicos) foi
terminada. C.W. Leadbeater logo escreveu um livro de
interpretações ocultistas para o ritual - que ele mesmo tinha ajudado
a compor, e esse livro se tornou um sucesso no Brasil: “A Vida Oculta
na Maçonaria”, também editado pela Editora Pensamento.
Alguns dos membros do recém fundado “Excelso Conselho da
Maçonaria Adonhiramita” eram leitores dessas obras, sem contar o
expressivo número de maçons que também eram membros da
Sociedade Teosófica.

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A necessidade de reformulação e a possibilidade de alterar
sensivelmente os rituais em uso, utilizando a apreciação pela
doutrina teosofista de Leadbeater, caíram como uma luva. Os
procedimentos descritos na “A Vida Oculta na Maçonaria” logo
estariam figurando nos novos rituais do Rito Adonhiramita...
A divisão em 33 Graus citada por Leadbeater com acentuadas
explicações ocultistas etc., unida à necessidade de atrair Irmãos do
REAA para o Adonhiramita também veio a calhar.
Dentro de 9 anos, ou seja, em 1982, o Rito Adonhiramita no seio do
GOB e do ECMA estava completamente transformado: 33 Graus,
Cerimonial de Incensação, Cerimonial de Acendimento das Luzes,
acentuada influência ocultista e uma tendência a contínuas
modificações.
IV. A acomodação dos Graus Adonhiramitas aos Graus do REAA
Para a plena acomodação dos Graus Adonhiramitas no esquema de
33 Graus do REAA, era necessária a divisão em Câmaras Ritualísticas.
Essa divisão, obviamente, não existe na “Compilação Preciosa da
Maçonaria Adonhiramita”, que foi escrita bem antes do aparecimento
dessas divisões no seio do REAA.
O sistema de divisão em Lojas de Perfeição, Capítulos, Areópagos ou
Oficinas de Kadosh, Consistório e Supremo Conselho foi adaptado ao
Rito Adonhiramita com a manutenção dos 10 Graus “filosóficos”
originais diluídos dentre os Graus Escoceses. Todos, obviamente, com
os cerimoniais do “Ritual de Lauderdale”, levemente modificados.
Tendo em vista que o Rito Adonhiramita até então só era praticado
no Brasil, ou seja, que não havia a preocupação em se manter alguma
uniformidade com outros corpos Adonhiramitas no estrangeiro, as
modificações, invenções e teorizações desprovidas de base
documental se tornaram um hábito nos primeiros escalões do Rito.
V. As invenções místicas e os equívocos oficializados
Como tradicionalista, não tenho absolutamente nada contra os
ensinamentos herméticos ou as tradições esotéricas. Leia-se bem:
TRADIÇÕES esotéricas.
Uma Tradição é a transmissão, de forma ortodoxa, de um conjunto de
ensinamentos cuja origem se perde na noite dos tempos e cujo rastro
pode ser historicamente traçado através de escrituras, documentos,

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registros, mitos etc. que, em geral, contam com vasta fundamentação
simbólica, filosófica e até antropológica.
Bem diferente de uma autêntica Tradição Esotérica é uma invenção
baseada em uma suposta clarividência, intuição ou achismo sem
fundamentação, sem respaldo em qualquer tradição e sem uma lógica
interna que possa, sequer, justificar a sua existência dentro de um
determinado sistema de maneira coerente.
Não só o Rito Adonhiramita, mas infelizmente todos os Ritos
Maçônicos são vitimados pelo que chamamos de “iluminados”, que
tiram do bolso “descobertas”, “usos e costumes”, “melhorias”,
“adaptações” ou “interpretações” que fazem com que intelectuais não
iniciados e indivíduos externos mais qualificados, ao analisarem a
Maçonaria, acabem por considerá-la como uma imensa maçaroca de
crendices mal digeridas, recoberta com o discurso de “combate à
ignorância, à superstição e o fanatismo” para ocultar uma grande
inanição intelectual.
Como instituição que deve zelar por ensinamentos tidos por
“esotéricos”, ou seja, reservados a um grupo seleto, seria desejável
que o processo de seleção contemplasse um rigor bem maior,
especialmente no que tange a atributos intelectuais e morais, além da
adoção de critérios claros e rigorosos para qualquer tipo de alteração
em rituais.
No Rito Adonhiramita atual alguns procedimentos são invenções
puras e simples. Um exemplo é a “circulação em infinito”, que não
consta em nenhum documento histórico do Rito e nem em qualquer
outro ritual de onde poderia ter sido tirado.
Apesar da interpretação forçada para enxertar um significado, o fato
é que não há em toda a histórica litúrgica do Ocidente ou do Oriente,
a tal “circulação em infinito”.
Inventem explicações místicas, ocultistas, extraterrestres ou seja lá o
que for. Mas não chamem isso de Tradição e nem tentem obrigar os
outros a acreditar nisso.
Não contentes com a tal circulação, os “iluminados” ainda inventaram
que é necessária uma inversão em seu sentido em acordo com o Grau
trabalhado, transformando a circulação em Loja num verdadeiro
bailado e um inferno para os oficiais que necessitam se movimentar.
Pior ainda é que o sentido das circulações muda a cada reforma nos
rituais.

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A passagem obrigatória por trás da cadeira do Venerável é outra
invenção. Tentando imitar a “Ara” do Ritual de Lauderdale (que foi
imitada do Rito de York Norte Americano), sobre a qual fica a luz
perpétua ou “fogo sagrado” (imitada do Rito de Menfis-Misraim), mas
arrastando a mesma Ara para o Oriente, alguém achou bonito imitar
o uso norte-americano de não atravessar a linha entre a Ara e a mesa
do V.M. e, como a Ara está no Oriente (pois o painel tem que ficar no
meio da Loja, o que não acontece nem no Lauderdale, nem no York), a
solução foi esmagar o pobre oficial em trânsito entre a cadeira do VM
e a parede do Oriente.
Se o erudito Louis Guillemain de Saint Victor assistisse uma Loja do
Rito Adonhiramita hoje, ficaria bastante chocado por ver tantas e
tantas inovações.
Há também a longa e enfadonha história das cores de gravatas, as
discussões sobre gravatas borboletas ou comuns, uso ou não uso de
balandrau e outras muitas inutilidades completas que tomam o
tempo de quem gostaria de se dedicar a estudos mais sérios e acaba
sendo envolvido em debates sobre gravatinhas, frufrus, cor de terno
e até de meias, mas que nada trazem em matéria de compreensão de
si mesmo, do ser humano, da humanidade, do cosmos ou sequer da
história ou das autênticas tradições do Rito que está sendo praticado.
Da mesma forma, vemos com assombro notórias invenções e teorias
apócrifas sobre a história do Rito Adonhiramita (e também de outros
ritos) sendo estampadas nas edições oficiais dos Rituais, que não
apresentam fontes, bases ou elementos minimamente fiáveis sobre o
que apresentam. É lamentável ver os Aprendizes a serem
doutrinados com esse tipo de material de baixo nível.
VI. Conclusão
O presente artigo, como foi dito em sua introdução, tem por objetivo
despertar nos Irmãos, especialmente os do Rito Adonhiramita, o
gosto pela pesquisa e lhes dar elementos básicos, fiáveis e colhidos
de forma metodologicamente correta, para o desenvolvimento de
pesquisas mais acuradas e específicas.
Não temos a fantasia de, em umas poucas páginas, esgotar um
assunto tão vasto. No entanto, talvez este seja o primeiro texto sobre
o Rito Adonhiramita no Brasil que apresenta, de forma cronológica e
metódica, considerações sobre o desenvolvimento do Rito, suas

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alterações, influências intelectuais e as formas tomadas ao longo do
tempo.
Quanto mais profunda a pesquisa, menos abrangente ela deve ser.
Justamente por isso optamos pela abrangência, para que,
posteriormente, cada detalhe possa ser pesquisado com
profundidade.
VII. Bibliografia
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