Você está na página 1de 14

Por que 1804?

O nome Rito Escocês Antigo e Aceito foi anunciado para o mundo maçônico após a
criação do primeiro Supremo Conselho em Charleston, Estados Unidos, em 31 de maio de
1801.

Em 4 de dezembro de 1802, uma circular levou ao conhecimento dos maçons,


principalmente europeus, a criação do Conselho-Mãe em Charleston, na Carolina do Sul,
denominado Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspetores Gerais, 33º e último Grau
do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Antes de 1801, fora fundado pelo Conde de Grasse-Tilly, um Supremo Conselho nas
Índias Ocidentais Francesas, com 33 graus. Entretanto, esse Supremo Conselho foi ignorado e
abafado pelo Supremo Conselho norte-americano, que conseguiu fazer-se constar como o
Supremo Conselho-Mãe do Mundo.
Nos três primeiros anos de vida do Supremo Conselho norte americano, o Rito
Escocês Antigo e Aceito permaneceu sem ritual próprio. Os Altos Graus funcionaram com os
Graus de Perfeição do Rito de Heredom, acrescentados dos oito novos graus que totalizavam
os 33. Os novos graus não eram Iniciáticos e ganharam conteúdo mais administrativo que
litúrgico. Os Graus Simbólicos, na época conhecidos como Maçonaria Azul, foram os da
ritualística norte americana.

O segundo Supremo Conselho criado foi o de France, em 1804, quando também foi
confeccionado o primeiro ritual dos graus simbólicos do Rito, o “Guide des Maçons Écossais”.
Foi idealizado pelos maçons franceses, apelidados de “escoceses”, que fundaram nesse
mesmo ano, 1804, uma nova Obediência Maçônica em Paris: a “Grande Loja Geral Escocesa”,
mais uma Loja-Mãe do Rito Antigo Aceito, um modelo ritualístico recebido dos maçons
integrantes da Grande Loja dos “Antigos” de Londres. A Grande Loja Geral Escocesa de Paris
uniu particularidades do Rito Antigo Aceito, de origem operativa, praticado na Escócia, com a
natureza hebraica do Rito de Perfeição e organizou um ritual para os graus ditos simbólicos do
Rito Escocês Antigo e Aceito.

Lojas-Mãe Escocesas na França

Assim como no presente se associa naturalmente Supremo Conselho com Rito


Escocês Antigo e Aceito, pode-se considerar a mesma associação no passado entre
maçonaria azul e as Lojas-Mãe Escocesas. Na França, a primeira Loja-Mãe Escocesa foi a de
Marselha, criada em 1751, coincidindo com a fundação da segunda Grande Loja em Londres,
que se declarou dos “Antigos Maçons”. A segunda Loja-Mãe na França foi a de Avinhão e a
terceira, a Grande Loja Geral Escocesa, já referida, criada em Paris, em 1804, para organizar o
ritual que serviu para os três graus básicos dos 33 da vertente latina do Rito Escocês Antigo e
Aceito.

Rito Escocês Antigo e Aceito nasceu sem graus simbólicos próprios

O Supremo Conselho fundado em 1801, nos Estados Unidos, veio para organizar a
maçonaria praticada nos chamados Altos Graus, entre os quais estavam os do Rito de
Heredom, criado a partir de 1758 e usado como referência para a criação do Rito Escocês
Antigo e Aceito. O novo Rito se constituiu literalmente de 33 graus. Na prática, dos 33 graus, o
Supremo Conselho de Charleston interessou-se em comandar do 4 ao 33, não se envolvendo
com os três primeiros para evitar conflito com a maçonaria norte americana das Lojas Azuis.
Desistiu de qualquer tipo de ingerência nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre do Rito
Escocês Antigo e Aceito. E com essa mesma concepção, o Rito chegou na França, em 1804,
através do Supremo Conselho fundado em Paris, dentro do Grande Oriente de France, que
tinha o Rito Moderno, ou Francês, como oficial. Inicialmente, o Supremo Conselho de France
manteve o mesmo modelo de seu precursor americano: deixou os graus simbólicos para a
Grande Loja Geral Escocesa, criada também em 1804, para organizar os graus simbólicos do
Rito Escocês Antigo e Aceito, que funcionou, ao exemplo do Supremo Conselho, dentro do
Grande Oriente de France. A partir de 1816, com o desaparecimento da Grande Loja Geral
Escocesa, o Grande Oriente assumiu as atribuições do simbolismo escocês antigo na França
e, ao faze-lo, diminuiu a autoridade do Supremo Conselho sobre o número de graus, criando,
sob sua jurisdição, as Lojas Capitulares, que trabalham dos graus 1º ao 18º do Rito Escocês
Antigo e Aceito. Nessa ocasião, lançou um novo ritual para as Lojas Capitulares, em 1820,
implantando diversas alterações no ritual de 1804.

O ritual de 1804, em linhas gerais, reproduz os procedimentos praticados pelos


maçons da Grande Loja dos “antigos” de Londres. Algumas diferenças foram inevitáveis para
conciliarem a ritualística da maçonaria azul dos “antigos” com o simbolismo fundamental dos
Altos Graus. Por isso, o Primeiro Vigilante foi deslocado do centro do Ocidente, em frente ao
Venerável Mestre, para junto da Coluna do Norte e o Segundo Vigilante trazido do meio da
Coluna do Sul para a ponta da mesma Coluna, ambos lado a lado no Ocidente. A nova
distribuição das Luzes no Templo compatibilizou-as com a encontrada nos graus acima do 3,
os Graus de Perfeição recolhidos do Rito de Heredom.

As duas vertentes de influência no Rito

A idéia de um rito maçônico originário do movimento de criação dos Supremos


Conselhos a partir dos Estados Unidos da América, que ganhou o nome de Rito Escocês
Antigo e Aceito, se apoiou na certeza de que o importante no arcabouço do Rito seriam os
Altos Graus. A maçonaria azul teria o papel apenas de base do edifício, servindo de
arregimentadora de pretendentes. O primeiro Supremo Conselho concebeu o Rito com 33
graus, mas deu aos três primeiros importância mínima, não lhes revestindo da roupagem
própria do escocesismo. Aproveitou o que já existia no país e sobre eles montou a estrutura
principal do 4º ao 33º. Presentemente, considera-se que essa foi a vertente anglo-saxã do Rito
Escocês Antigo e Aceito, que permanece sem rituais próprios para Aprendiz, Companheiro e
Mestre. Nos Estados Unidos o Rito existe do grau 4º para cima. Não há Loja especializada em
trabalhos simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.

A existência de duas influências ritualístico-institucionais foi materializada após a


chegada do Rito na França. Até 1813, as Lojas-Mãe Escocesas lideraram a maçonaria azul na
França e mantiveram a ritualística sem alterações. A fusão das duas Grandes Lojas inglesas, a
dos “modernos” e a dos “antigos”, na atual Grande Loja Unida da Inglaterra, enfraqueceu a
posição das Obediências que preservavam a ritualística dos “antigos”, como foi o caso das
Lojas-Mãe Escocesas, que desapareceram nos anos seguintes. Quando o Grande Oriente de
France assumiu os Graus Simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito e criou as Lojas
Capitulares, estabeleceu um segundo modelo de funcionamento e jurisdição para o Rito. Os
Altos Graus se constituíram do 19º ao 33º sob a hegemonia do Supremo Conselho e os graus
abaixo desses ficaram sob a autoridade do Grande Oriente. As divergências entre o Supremo
Conselho de France, de um lado, e os Supremos Conselhos dos Estados Unidos e da
Inglaterra, de outro, dividiram o Rito Escocês Antigo e Aceito em duas vertentes; uma ortodoxa,
a anglo-saxônica, e uma heterodoxa, latina ou francesa. Foram alterados alguns
procedimentos ritualísticos, símbolos e até a concepção interna do Templo. Uma das principais
modificações foi a implantação de um desnível que passou a caracterizar o Oriente como uma
região geográfica delimitada e não mais constituída apenas pelo Venerável Mestre. A cor
igualmente foi trocada. O azul da maçonaria azul cedeu lugar para o vermelho do Grau Rosa-
Cruz, o mais elevado da Loja Capitular, e os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre
passaram a fazer parte de uma denominação nova; o simbolismo, que recebeu o vermelho. O
simbolismo substituiu a maçonaria azul. Assim se formou a vertente latina do Rito Escocês
Antigo e Aceito. Mais tarde, os Supremos Conselhos do mundo inteiro reivindicaram o retorno
para o sistema inicial, ou seja, com poderes sobre o conjunto de graus a partir do 4º e se
estendendo até o 33º, ocasionando o desmantelamento das Lojas Capitulares. No entanto, as
cores permaneceram as duas, dependendo da vertente e a ritualística também, pois o
simbolismo da vertente latina é diferente da vertente anglo-saxã.

Bibliografia:

ABRINES, Frau e ARDERIU, Arus. Diccionário Enciclopédico dela Masonería. Kier


S/A, Buenos Aires, Argentina, 1962.

GOULD, Robert Freke. The History of Freemasonry. Thomas C. Jack, London,


1887.
GRANDE ORIENTE DE FRANCE. Prólogo do Ritual Rite Écossais Ancien &
Accepté. Paris, 2000.

HORNE, Alex. O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. Pensamento, São


Paulo, 1999.

LANTOINE, Albert. Histoire de la Franc-Maçonnerie Française. Slatkine Reprints,


Genéve-Paris, 1981.

NAUDON, P. Histoire, Rituels et Tuiler des Hauts Grades Maçonniques. Dervy


Livres, Paris, 1984.

PALOU, Jean. A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática. Pensamento, São Paulo,


1998.

PROBER, Kurt. História do Supremo Conselho do Grau 33º do Brasil. Livraria


Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981.

STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria – O Século da Escócia (1590-1710).


Madras Editora, São Paulo, 2005.

Os 33 graus originais do Rito Escocês Antigo e Aceito

O primeiro conjunto de trinta e três graus do Rito Escocês Antigo e Aceito aparece,
com algumas diferenças dos atuais, no conteúdo da Constituição redigida em 1º de maio de
1786.

O Rito Escocês Antigo e Aceito é uma prática ritualística estabelecida em 1802, nos
Estados Unidos da América do Norte, com 33 graus, sendo 30 oriundos do Rito de Perfeição e
do Rito Antigo e Aceito e 3 das Lojas azuis da maçonaria norte americana. O Rito de Perfeição
foi criado em Paris, em 1758, com 25 graus, no Conselho dos Imperadores do Oriente e do
Ocidente. O Rito Antigo e Aceito com 33 graus originou-se do Rito de Perfeição, em Bordéus,
em 1786, no Conselho de Grandes Inspetores, que elaboraram a Constituição, os estatutos e
regulamentos do Conselho e do rito.

Em breve resumo, o Rito de Perfeição atravessava um período de obscurecimento


quando os 25 graus eram vendidos a quem pudesse e desejasse comprá-los. Em Charleston,
1783, Isaac da Costa, Deputado do Inspetor nomeado por Moisés Hayes, liderou campanha de
combate à propaganda negativa desenvolvida contra a maçonaria. Dizia-se que era sustentada
pelo dinheiro de judeus vinculados a empresas internacionais. Foi nesse período de sombras
que nasceu, entre os maçons judeus, o mito do rei Frederico, o Grande, dentro da maçonaria.
Os cinco judeus fundadores do Supremo Conselho do grau 33º do REAA, em Charleston, em
1801, - John Mitchell, Federico Dalcho, Emílio de la Motta, Abraham Alexandre e Isaac Auld -,
anexaram os documentos constitucionais produzidos em 1786 à circular distribuída em 31 de
maio de 1802 ao mundo maçônico, anunciando a criação do primeiro Supremo Conselho. A
chamada Constituição de 1786 foi assim publicada, trazendo dezoito artigos e a assinatura de
Frederico II. A apresentação do documento teve aparências para indicarem o rei da Prússia
chefe do Conselho de Grandes Inspetores do rito, como as atas da Grande Loja de Perfeição
de Nova York, fundada em 1767, em que constava a solicitação, a 3 de setembro de 1770, a
remessa a Berlim dos relatórios das atividades da entidade.

Notícias complementares informaram que Frederico II, em seu leito de morte, tivera
condições de ratificar a grande Constituição de 1786, cujo original estava redigido em francês.
A vinculação da pessoa do rei Frederico, o Grande, com a Constituição de 1786, na opinião de
analistas, foi intencional para valorizar a maçonaria na América e estancar a queda de
credibilidade que a venda de graus provocara na Europa.

Apesar do testemunho da grande Constituição que dá o Rito Antigo e Aceito com 33


graus como definitivamente organizado em 1786, demonstrou-se também plenamente que isso
se conheceu muito tempo depois dessa data. Esse documento assinado pelo rei Frederico II
suscitou acaloradas discussões entre os defensores da autenticidade da assinatura e os
céticos na participação do monarca prussiano na elaboração da grande Constituição de 1786.
Os divergentes afirmam que Frederico não participou dos trabalhos ativos das Lojas nos seus
últimos quinze anos de vida por ter a saúde debilitada. Além disso, Frederico mostrou-se
intransigente opositor à prática dos chamados altos graus, os quais considerava o centro da
corrupção na confraria maçônica na época. É inegável que o conjunto-base do sistema
escocês antigo e seus trinta e três graus constam nos estatutos e regulamentos redigidos em
Bordéus, em 1786, e cujo texto completo e oficial está no Recueil des Actes du Suprême
Conseil de France, de Letier, Paris, 1832, assim como as constituições, estatutos e
regulamentos para o Governo do Conselho de Grandes Inspetores, com a assinatura, legítima
ou não, de Frederico, o Grande.

O conjunto do sistema de trinta e três graus de 1786 está listado a seguir:

1º - Aprendiz

2º - Companheiro
3º - Mestre

4º - Mestre Secreto

5º - Mestre Perfeito

6º - Secretário Íntimo

7º - Preboste e Juiz

8º - Intendente dos Edifícios

9º - Mestre Eleito dos Nove

10º - Mestre Eleito dos Quinze

11º - Sublime Cavaleiro Eleito

12º - Grande Mestre Arquiteto

13º - Real Arquiteto

14º - Grande Escocês

15º - Cavaleiro do Oriente ou da espada

16º - Grande Príncipe de Jerusalém

17º - Cavaleiro do Oriente e do Ocidente

18º - Soberano Príncipe Rosa-cruz

19º - Grande Sacerdote ou Sublime Escocês

20º - Venerável Grão-Mestre ad-vitam

21º - Noaquita ou Cavaleiro Prussiano

22º - Príncipe do Líbano

23º - Chefe dos Tabernáculos

24º - Príncipe dos Tabernáculos


25º - Cavaleiro da Serpente de Aço

26º - Príncipe da Graça

27º - Grande Comendador do Templo

28º - Cavaleiro do Sol

29º - Escocês de Santo Antonio

30º - Cavaleiro Kadosch

31º - Grande Inquisidor Comendador

32º - Príncipe do Real Segredo

33º - Soberano Grande Inspetor Geral

ORIENTE COM DESNÍVEL GEOGRÁFICO E OS MESTRES INSTALADOS

Em 12 de outubro de 1804, foi criado em Paris o Supremo Conselho de França, o


segundo no mundo, para difundir na Europa o Rito Escocês Antigo e Aceito. Concebido,
inicialmente, como Rito para Altos Graus, chegou dos Estados Unidos sem ritual próprio para
os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. No dia 22 de outubro, uma Assembléia Geral do
Supremo Conselho de França fundou, também em Paris, a Grande Loja Geral Escocesa para
organizar o ritual francês das Lojas Azuis ( Blue Lodges) do Rito Escocês Antigo e Aceito
(ainda não havia sido cunhado o termo simbolismo para os três primeiros graus), tendo por
base o Rito Antigo Aceito, praticado pela Grande Loja de Londres de 1751, a Grande Loja dos
auto-proclamados "antigos" maçons.

Na França, o Grande Oriente tinha como rito oficial, o Rito Escocês dos Modernos, ou
Rito Francês, semelhante ao rito praticado pelas Lojas da Grande Loja de Londres de 1717, a
primeira Grande Loja no mundo e denominada, pejorativamente, pelos seus adversários,
como sendo dos "modernos"( os que inventaram ritual novo ).
Quarenta dias depois, um acordo entre Grande Oriente e Supremo Conselho viabilizou a
prática do Rito Escocês Antigo e Aceito dentro do Grande Oriente de França.

COMEÇO DA CONTURBADA TRAJETÓRIA DOS GRAUS SIMBÓLICOS DO REAA


O Grande Oriente fez misturas entre os dois ritos, em vários graus, principalmente
porque praticou o Rito Escocês Antigo e Aceito no seu templo adornado para o Rito Francês.
No ano seguinte, 1805, os maçons do Supremo Conselho afirmaram que o Grande
Oriente havia violado a combinação. Retiraram-se do Grande Oriente e passaram a trabalhar
sozinhos. Por carência de membros preparados adequadamente, o Supremo Conselho, junto
com a Grande Loja Geral Escocesa, ambos liderados pelo conde Alexandre de Grasse-Tilly,
convidaram Oficiais do Grande Oriente para dirigirem os Altos Graus. Esses maçons oriundos
do Rito Francês, não conheciam bem o Rito Escocês Antigo e ainda, muitos, desdenharam o
direito do Supremo Conselho comandar o Rito, na França.
Sob o abrigo do primeiro Grão-Mestre Adjunto, o Príncipe Cambaceres, que havia
aceitado ser Grão-Mestre de cada um dos sistemas escoceses, ou mesmo, a presidência de
honra, a Grande Loja Geral Escocesa e o Supremo Conselho se entregaram com intensidade
em toda a atividade que suas lideranças puderam realizar. No entanto, o Grande Oriente
manteve com vigor o funcionamento do Rito Moderno e, ao mesmo tempo, lutou,
ostensivamente, contra as tentativas das diversas autoridades do Supremo Conselho e da
Grande Loja, de fazerem firmar-se o Rito Escocês Antigo e Aceito, como fora inicialmente
organizado.

ESFACELAMENTO DO SUPREMO CONSELHO E DO REAA NA FRANÇA

O período não estava favorável ao novo rito, surgindo como agravante às pretensões
do Supremo Conselho, a queda do governo francês, em 1814. Em 1804, quando o REAA
chegou à França, Napoleão Bonaparte fora coroado Imperador e teve promulgado o código
civil napoleônico. Em 1814, Napoleão foi derrotado pelos aliados formados por Inglaterra,
Rússia, Áustria e Prússia. Napoleão se exila em Elba. O Grande Oriente, pela sua força
política, não teve que cessar totalmente as atividades, mas o Supremo Conselho e a Grande
Loja Geral Escocesa sofreram com a resistência que enfrentavam do Grande Oriente e pouco
realizaram. O Rito Escocês Antigo e Aceito praticamente desapareceu na França, nesse
período. Outro fator que muito contribuiu para o enfraquecimento do rito foram as divergências
entre os próprios integrantes, divididos em Supremo Conselho de França e Supremo Conselho
de América. A história dessas divergências internas mostra que não houve unidade no
Supremo Conselho francês, além de mal estruturado, para enfrentar a campanha do Grande
Oriente. O resultado foi a decisão do Grande Oriente, em 1814, declarando, unilateralmente,
que, em virtude de diferentes acordos datados de antes e depois da revolução francesa, ele
retomava todos os direitos sobre os ritos Moderno e Escocês Antigo e Aceito.

PRIMEIRA IDÉIA DE LOJA CAPITULAR

Em 1816, o Grande Oriente assumiu a jurisdição de parte do Rito Escocês Antigo e


Aceito, decidindo que ficaria com o poder sobre o conjunto dos graus 1 ao 18. Essa escolha
baseou-se na intenção de dirigir o Rito Escocês Antigo e Aceito na mesma abrangência
simbólica que já fazia com o Rito Moderno, ou seja, do grau de Aprendiz ao Rosa-Cruz. No
Rito Moderno, o Rosa-Cruz é o 7º e no Escocês Antigo, o 18º. Em 1820, o Grande Oriente
organiza um ritual do REAA voltado para o funcionamento seqüencial do grau de Aprendiz ao
grau Rosa-Cruz. A esse conjunto de graus, sob a mesma direção, foi atribuída a denominação
de Loja Capitular, presidida preferencialmente por um Cavaleiro Rosa-Cruz.

O TERMO SIMBOLISMO

Com o surgimento das Lojas Capitulares na França, a denominação Lojas Azuis


desapareceu, passando a ser empregado o termo "simbolismo" para representar o conjunto de
graus - Aprendiz, Companheiro e Mestre - dentro da então nova concepção obediencial no Rito
Escocês Antigo e Aceito: Lojas Simbólicas, Lojas de Perfeição, Capítulos ( obedientes ao
Grande Oriente de França ), Conselhos Kadosh, Consistórios, Supremo Conselho ( obedientes
ao Soberano Supremo Conselho do Grau 33). Da França, o Rito Escocês Antigo e Aceito foi
difundido para os países de língua latina, em maioria. Os países anglo-saxônicos, no entanto,
não se submeteram às decisões do Grande Oriente de França e seguiram o modelo inicial. O
Supremo Conselho norte-americano continuou administrando o Rito Escocês Antigo e Aceito
dos graus 4 ao 33, servindo-se das Lojas Azuis americanas, obedientes às Grandes Lojas,
para perfazer o total de 33 graus.

AS LOJAS CAPITULARES NO BRASIL

O Supremo Conselho fez tratado de condomínio com o Grande Oriente do Brasil nas
condições definidas na França: o GOB assumiu os graus 1 ao 18, constituindo as Lojas
Capitulares e o Supremo Conselho os graus 19 ao 33. Permaneceu essa estrutura até 1927,
quando o Supremo Conselho denunciou o tratado com o Grande Oriente do Brasil e recuperou
seu poder sobre o Rito, do grau 4º ao 33º, reencontrando-se com o que acontecera em 1801,
em Charleston, nos Estados Unidos. A tendência mundial entre os Supremos Conselhos com
reconhecimento mútuo, no início do século vinte, era de padronizar a divisão: graus de
Aprendiz, Companheiro e Mestre com jurisdição de Grandes Lojas ou Grandes Orientes e os
30 graus superiores com jurisdição dos Supremos Conselhos.

RITUAIS DESCARACTERIZADOS DO SIMBOLISMO

Devido à ruptura do tratado com o Grande Oriente do Brasil, o Supremo Conselho do


Brasil providenciou a criação das Grandes Lojas estaduais, que tiveram a incumbência de
organizarem e coordenarem a prática dos graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Nessa oportunidade, o Supremo Conselho repetiu o que já acontecera em 1820, na França,
deixou o simbolismo atirado à sua desventura funcional, com ritualismo confuso provocado ora
pelas influências do Rito Moderno, ora dos Altos Graus do próprio Rito Escocês Antigo e
Aceito.

As modificações produzidas pelo Grande Oriente de França, em 1820, com o ritual que
criou as Lojas Capitulares, não foram desfeitas, sendo incorporadas aos graus simbólicos do
rito, definitivamente.

ORIENTE ELEVADO E COM ÁREA DELIMITADA

O piso do templo no ritual de 1804 é plano em toda a sua extensão. As colunas do


norte e do sul se estendem de oeste a leste. O Oriente é constituído pelo Venerável Mestre,
que fica no Trono num plano elevado. Não havia área demarcada do Oriente, como
conhecemos hoje. O fundo do Oriente era um semicírculo e todos os Irmãos presentes,
inclusive Oficiais, estavam incluídos em uma das colunas; norte ou sul. A exceção se fazia
quando da presença de autoridade maçônica, dos Altos Graus do Rito ou de outros Ritos.
Nessa ocasião, o Venerável Mestre mandava sentar próximo e abaixo do Trono,
acompanhando a curvatura da parede de fundo, de frente para o oeste. O tratamento era
pessoal, sendo concedida a palavra nominalmente, após a mesma circular nas colunas, por
iniciativa do Venerável Mestre, sem, contudo, anunciar a palavra no Oriente, como
presentemente.
O Oriente elevado, em comparação com o restante do templo, surgiu com as Lojas
Capitulares, na França, no ritual de 1820. Um terço da área do templo foi cercada por uma
balaustrada com uma abertura no centro para a passagem dos Irmãos, que separou Oriente
do Ocidente. O acesso ao oriente se dá através de quatro degraus. O Oriente elevado e
cercado foi idealizado para simbolizar o Santuário do Grau Rosa-Cruz, onde está a direção da
Loja, representada pelo Sapientíssimo Príncipe Rosa-Cruz. Os Irmãos iniciados no grau 18º e
acima, sentam-se no Oriente durante o desenvolvimento dos trabalhos da Loja.

ORIENTE PROIBIDO PARA APRENDIZES E COMPANHEIROS

Durante o período em que os graus simbólicos estiveram incluídos na seqüência


ininterrupta até o 18º das Lojas Capitulares, os Aprendizes e Companheiros não tinham
permissão para ingressarem no Oriente. Nessa fase, os maçons ainda aspirantes ao grau de
Mestre, não desempenhavam cargos ritualísticos. Nas cerimônias de Iniciação nos dois
primeiros graus, Aprendizes e Companheiros não subiam ao Oriente para passar atrás do
Trono e bater no ombro do Venerável Mestre, como se faz presentemente. Nessa etapa, o
Sapientíssimo Mestre descia do Oriente e lhe era apresentado o candidato no Ocidente, junto
aos degraus de acesso ao Oriente. Esse procedimento alerta para o fato de que o Oriente
elevado e circunscrito nunca fez parte da ritualística dos graus simbólicos e, portanto, não
devia ter permanecido na descrição do Templo, após o desaparecimento das Lojas
Capitulares, porque contribuiu para desinformar a respeito do Templo adequado para as Lojas
Simbólicas.

MESTRES INSTALADOS NO ORIENTE DOS CAVALEIROS ROSA-CRUZ

Está salientado e explicado que o Oriente elevado em relação ao Ocidente,


permaneceu indevidamente nos Templos dos graus simbólicos por negligência da orientação
dos Supremos Conselhos, a começar pelo de França. No surgimento das Grandes Lojas
brasileiras, o Templo das Lojas que se transferiram do Grande Oriente do Brasil, antes
ajustado para os graus capitulares, não foi readaptado para o modelo original do Rito Escocês
Antigo e Aceito, anterior a 1820, ou seja, o piso plano em toda a extensão. Não bastasse essa
influência capitular no simbolismo do REAA, foi acrescentada a novidade que viria transformar
o REAA das Grandes Lojas num conjunto de procedimentos que representaram a presença
parcial de vários Ritos em um. A figura do Past Master (o Mestre Instalado) da Grande Loja,
dentro do REAA, foi outro lance que, junto com o ritual criado em 1928, deformou ainda mais o
REAA antes conhecido. A ritualística de Instalação do Mestre de Loja é mais antiga que o grau
de Mestre Maçom e faz parte das duas únicas cerimônias formais que os ingleses realizavam
desde a época em que foi fundada a primeira Grande Loja, em Londres, em 1717. A iniciação
do profano era feita sem encenações. Tinham maiores formalidades a passagem ao Grau de
Companheiro e a posse do Companheiro Eleito na presidência de uma Loja Maçônica. A
cerimônia de Instalação faz parte da história cultural da maçonaria inglesa.
Da outra parte, os primeiros rituais das Lojas Azuis (mais tarde, Lojas Simbólicas), do
REAA, em 1804, foram feitos pela Grande Loja Geral Escocesa, com cultura original de caráter
operativo. O cerimonial pomposo para a posse do Respeitável Mestre eleito foi sempre um
reflexo da concepção inglesa de Maçonaria Real, não influenciada pelo período operativo. A
Inglaterra não teve Lojas operativas conhecidas. As posses, nas Lojas Simbólicas do REAA
foram em rito mais administrativo.
O surgimento da figura do Mestre Instalado no meio do espaçamento natural entre o
Mestre Maçom (grau 3) e o Mestre Secreto (grau 4), encontrou no Oriente elevado e
circunscrito um ótimo local para fortalecer nova categoria de Mestre Maçom no REAA. Não
havendo Loja Capitular nas Grandes Lojas brasileiras, o Oriente, lugar antes reservado para os
iniciados nos Graus Capitulares, foi ocupado pelos Mestres Instalados. Com seus segredos
diferentes dos Mestres Maçons, os Mestres Instalados são considerados Mestres Maçons
diferenciados e a eles é designado o Oriente elevado, região do Templo também diferenciada
em comparação com o Ocidente. Dessa forma, os Mestres Instalados lembram nos graus
simbólicos, os Cavaleiros Rosa-Cruz da antiga Loja Capitular.
As Lojas Simbólicas do REAA que presentemente trabalham em Templo que possui o
piso da parte oriental mais elevado, não estão contribuindo para mostrar como foram
concebidos os três primeiros graus do REAA na França, em 1804. Por outro lado, se essas
mesmas Lojas reservam o Oriente para a localização dos Mestres Maçons que têm a dignidade
de Mestre Instalado, estão, as Lojas, praticando uma irregularidade ritualística, pois
reconhecem uma categoria superior à de Mestre Maçom, mas que não é a do Mestre Secreto.
A superioridade hierárquica do Mestre Instalado sobre o Mestre Maçom está caracterizada e
confirmada na cerimônia de Instalação, no momento em que todos os Mestres Maçons não
Instalados são obrigados a cobrirem o Templo. Nessa condição, estão também os Mestres
Maçons do REAA que tenham sido iniciados no grau 4, 5, 6, etc... que não tenham sido eleitos
Venerável Mestre. São tratados como os do grau 3 e não permanecem no Templo, no
momento de Instalação do Mestre Maçom eleito para dirigir a Loja.

A dignidade do Mestre Instalado é compatível tão somente com Ritos anglo-


americanos, como o Craft e o York, que permitem no ritual a supremacia hierárquica do Mestre
Instalado sobre o Mestre Maçom não instalado, embora, oficialmente, a Grande Loja Unida da
Inglaterra não reconheça essa supremacia. O Mestre Instalado não tem lugar no REAA com 33
graus seqüenciais. Serve, sim, para o REAA que conta apenas 30 graus próprios, embora
considere toda a cadeia com 33, como nos Estados Unidos.
O PAST MASTER (MESTRE INSTALADO) DO SANTO ARCO REAL

O Ritual Emulação tem uma extensão do terceiro grau, que não é considerada
oficialmente um novo grau, chamado Santo Arco Real. Embora não seja admitido pela Grande
Loja Unida da Inglaterra como um grau superior, tem, porém, uma ritualística própria, na qual,
em dada passagem, o Mestre Maçom é retirado do Templo e só permanecem os Past Masters.
Não deve o Santo Arco Real inglês ser confundido com o corpo de Graus Superiores do
sistema americano, conhecido como Real Arco, que tem vários graus.
A história de que o Santo Arco Real inglês não é um grau, não é assim entendida pela
maioria dos maçons ingleses. Essa arrumação foi imaginada para contentar correntes
antagônicas que se debatiam em defesa de suas idéias e crenças ritualísticas, durante as
reuniões de negociações que prepararam a união das duas Grandes Lojas inglesas rivais, a
dos "modernos" e a dos "antigos", na Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1813. A Grande Loja
Unida, apesar de inflexível na observância dos critérios de reconhecimento de outras Potências
Maçônicas, não proíbe, não faz tratados com Obediências dos Altos Graus, não interfere nos
assuntos relativos a esses Graus Superiores. Simplesmente, ignora-os.
Os praticantes do Santo Arco Real, surgido por volta de 1751, apregoavam serem
detentores dos segredos da palavra sagrada que foi perdida, segundo a lenda do terceiro grau.
Isso, despertava grande curiosidade naquela época e muitos maçons desejavam ser exaltados
no Santo Arco Real. Para que o ato de união entre as Grandes Lojas inglesas rivais se
efetivasse, foi encontrada essa solução que a cultura inglesa demonstrou ter assimilado bem;
incluir o Santo Arco Real como um complemento do terceiro grau, mas sem se constituir no
quarto grau. O Santo Arco Real é fundamentado no relato bíblico que descreve o retorno do
povo judeu da Babilônia, em 538 a.C. e na antiga lenda surgida durante a construção do quarto
Templo, em torno de 400 D.C., que descreve a descoberta de uma cripta, de um altar e da
palavra sagrada.
Assim, a estrutura da Franco-maçonaria inglesa considerou, em dado momento da
história, 1813, que a Maçonaria Pura e Antiga consiste de apenas três graus, mas que se inclui
nesses o Santo Arco Real. É, verdadeiramente, coisa para inglês ver.

Para administrar o Santo Arco Real, os ingleses têm o Supremo Grande Capítulo que
concede "Brevê Constitutivo" para a fundação dos Capítulos do Arco Real que funcionam
anexo às Lojas Simbólicas inglesas. A dignidade de Past Master (Mestre Instalado) adotada
pelas Grandes Lojas brasileiras tem origem nessa maçaroca inglesa que manteve os quatro
graus do Santo Arco Real, todos sob a denominação de um desse graus, o de Past Master,
sem considerá-lo grau superior. O Rito Escocês Antigo e Aceito ganhou, através das Grandes
Lojas, uma hierarquia formal entre os graus 3 e 4, sem considerá-la grau superior ao de
Mestre. Foi a continuação da maçaroca.

Bibliografia:

1- http://www.oficina-
reaa.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=48:porque1804&catid=38:trabal
hos0&Itemid=2

2- http://www.oficina-
reaa.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=63:os-33-graus-originais-do-
rito-escoces-antigo-e-aceito&catid=38:trabalhos0&Itemid=2

3- http://www.oficina-
reaa.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=53%3Adetalhes-dos-rituais-
azuis-do-reaa&catid=38%3Atrabalhos0&Itemid=2&showall=1

Você também pode gostar