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ISSN 2318-3462

Recebido: 21/02/2014
Aprovado: 29/03/2014

RITUAL DOS MAÇONS DO ELUS COHEN DO UNIVERSO

Autores: Luiz Franklin de Mattos Silva¹


Antônio Alberto de Pina Júnior 2
Eduardo Cezar Cândido Xavier Ferreira 3

Resumo
O presente artigo visa apresentar as principais características do Ritual estabelecido por Martinéz de Pas-
qually na Ordem dos Elus Cohen do Universo, desenvolvido em bases maçônicas, com fortes elementos de
magia e teurgia, que buscava a reintegração dos seres com as hostes angélicas. Perdendo-se a continuidade
regular, reaparece em 1943 em Paris, durante a ocupação nazista e, em 1945 e 1946, essa sistematização é
conferida por Lagresse a Robert Ambelain, “Sar Auriefer”.
Palavras-chave: Elus Cohen; Magia; Teurgia; Pasqually; Martinismo.

Abstract
This article presents the main features of Ritual established by Martínez Pasqualis the Order of Elus Cohen of
the Universe, developed in Masonic bases, with strong elements of magic and theurgy, which sought the
reintegration of beings with the angelic hosts. Regular continuity losing himself, reappears in 1943 in Paris
during the Nazi occupation and, in 1945 and 1946, this systematization is conferred by Lagresse Robert Am-
belain, "Sar Auriefer".
Keywords: Elus Cohen; magic; Theurgy; Pasqually; Martinism.

1
Mestre Instalado, MRA, SEM, KT, 32º REAA, Rosacruz, Martinista, Arcebispo da Igreja Templária Antiga. E-mail: franklinde-
mattos@gmail.com
2
Mestre Maçom, Rosacruz, Martinista, Bispo da Igreja Templária Antiga. E-mail: pinajunior@gmail.com
3
Mestre Maçom, MRA, SEM, KT, 10º REAA, Martinista, Rosacruz, Bispo da Igreja Templária Antiga. E-mail: eduar-
do.ccxf@gmail.com

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Apresentação (1) a Estrita Observância Templária no Norte da Ale-


manha, (2) os Eleitos Cohens em Lyon, (3) os Ilumina-
Embora não seja o escopo deste artigo, preci- dos de Avignon e da Baviera, ou em direção ao libera-
samos abordar a complexa e não estruturada história lismo político do (4) Grande Oriente e (5) Grande Loja
das “origens da maçonaria”, uma vez que nesta épo- da França (STEVENSON, 2005).
ca, as lojas maçônicas eram parecidas com simples
confrarias de construtores e cortadores de pedra. Durante este tempo, a Inglaterra, orangista e
Elas erguiam catedrais e castelos, tinham seus segre- mais tarde hanovriana, criava suas próprias oficinas,
dos de ofício e seus regulamentos internos (Old Char- mais modestas; sendo reunidas em 1717 em uma só
ges) expostos em dois manuscritos principais: Obediência (federação de lojas) que foi, a partir de
o Poema Regius (1380) e o Cooke (1410) 1725 regida pelas Constituições de Anderson. Cabe-
(CAVALCANTE, 2012). nos destacar que nem todas as Obediência da maço-
naria especulativa, como por exemplo, o Pasqually,
As origens da Maçonaria em sua fase atual, que nunca tocou nesse ponto e sempre ignorou tal
seja surgimento ou ressurgimento são extremamente constituição.
complexas, contraditórias, confusas, muito fragmen-
tadas e repletas de verdades individuais, repetidas
aqui e acolá, tornando-se, muitas vezes, verdades Maçonaria Especulativa e a Maçonaria Operativa
institucionais quase dogmáticas. Ora, na França, a maçonaria tem três obedi-
Na Escócia, os Stuarts os protegiam e, a partir ências principais: o Grande Oriente de França,
de 1600, isso lhes permitiu aceitar gentlemen- a Grande Loja de França, a Grande Loja Nacional
masons, tais como Boyle e Ashmole; o que acabou Francesa. O Grande Oriente, fundado em 1773 rom-
por transformar o espírito da confraria e introduziu peu em 1877 com a Grande loja Unida da Inglaterra e
preocupações esotéricas, herdadas dos movimentos as obediências anglo-saxãs, visto que não exigia mais
da Renascença, entre eles os alquimistas, cabalistas, de seus membros a obrigação de crer em Deus. De
Rosacruzes, neoplatônicos etc. Paralelamente, as no- tradição progressista, o Grande Oriente sempre teve
ções de humanismo, de tolerância e filantropia torna- influência sobre a vida política francesa. Atualmente
ram-se ordem do dia nas lojas; perseguidas por Cro- possui cerca de 500 lojas e 30.000 membros. Ordem
mwell, elas contribuíram para a restauração dos Stu- Maçônica Mista Internacional "Le Droit Humain" fun-
arts (papel do general Monk), incitaram Charles II a dada em 1893, surgiu de uma separação da Grande
promulgar sua Declaração de Indulgência (1672) e se Loja Simbólica Escocesa após a Loja Les Libres Pen-
multiplicaram por todo o Reino Unido. seurs ter iniciado uma mulher, a feminista Maria De-
Após a revolução de 1688, os jacobitas exila- raismes. Muitos maçons da época se juntaram e fun-
dos importaram a maçonaria para o continente, prin- daram a Grande Loge Symbolique Ecossaise "Le Droit
cipalmente na França (por exemplo, as lojas de Saint Humain". Onze anos depois foi fundado o Supremo
Germain e d’Aubigny onde foi iniciado, em 1737, o Conselho do grau 33, mudando para o atual nome
primeiro Grão Mestre francês). Os adeptos afluíram e Ordem Maçônica Mista Internacional "Le Droit Hu-
como o recrutamento se fazia, sobretudo na aristo- main". Conta com Lojas em 60 países e aproximada-
cracia, os Escoceses no exílio acharam interessante mente 28.000 membros. A Grande Loja de França,
constituir um grande número de altos graus, onde a fundada em 1894, está bastante próxima o Grande
lenda templária servia de cobertura para as aspira- Oriente, mas é mais espiritualista contando com
ções do Pretendente e de seus artesãos. Após a der- aproximadamente 490 Lojas e cerca de 19.700 mem-
rota de Culloden, em 1745, os jacobitas deixaram de bros em 1990. A Grande Loja Nacional Francesa fun-
controlar as lojas, que evoluíram sozinhas em direção dada em 1913 e reconhecida pela Grande Loja Unida
a um misticismo transcendente, como por exemplo, da Inglaterra se dividiu em 1959 em Grande Loja Na-

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cional Francesa Bineau com aproximadamente 700 “Proibimos todos os mestres e compa-
lojas e cerca de 15.000 membros em em 1990 e nheiros, operários e aprendizes do direito
Grande Loja Tradicional e Simbólica Operativa cerca de formar associações, ou mesmo assem-
de 1.650 membros. É preciso, ainda, mencionar a bleias entre eles, sob qualquer pretexto.
Em consequência, suprimimos todas as
Grande Loja Feminina de França fundada em 1945
confrarias que possam ter sido estabeleci-
com mais de 7200 Irmãs, a Grande Loja Independen-
das tanto pelos mestres dos corpos e co-
te e Soberana dos Ritos Unidos fundadas em 1976 e a munidades, como pelos companheiros e
Grande Loja Ecumênica Feminina do Oriente e Oci- operários, das artes e ofí-
dente fundada em 1980. Na Bélgica, a principal obe- cios” (Fonte: Recueil Général des Ancien-
diência é o Grande Oriente, muito próxima do Gran- nes Lois Françaises. 1774-1776).
de Oriente de França, enquanto que na Suíça a Gran- Leis como essa foram o tiro de misericór-
de Loja Suíça Alpina se aproxima da maçonaria ingle- dia para as poucas Lojas Operativas que
sa (DACHEZ, 2003). ainda tentavam sobreviver aos primeiros
Citamos o pequeno trecho de Kennyo Ismail anos da Revolução Industrial. Dessa for-
do site No Esquadro: ma, a Maçonaria Operativa desapareceu
de vez, ficando a Maçonaria Especulativa
como única e legítima herdeira de sua es-
O que exterminou a Maçonaria Operativa sência, responsável por preservar e passar
não foi a Especulativa, nem mesmo um adiante seus ensinamentos.4
processo de evolução cultural. O que pôs
fim à Maçonaria Operativa foi… a Revolu-
ção Industrial. A mudança no processo
produtivo, originada pelas invenções de Martinez de Pasqually
máquinas e impulsionada pelo surgimento
das indústrias, pôs fim à era de produção Não podemos iniciar essa abordagem sem ci-
manual baseada nas guildas. O trabalho tarmos como referência Martinez Pasqually, cujo no-
estritamente manual foi substituído pelo me completo era Jacques de Livron Joachin de la Tour
trabalho de controle de máquinas. A inici- de la Casa Martinez de Pasqually.
ativa inglesa rapidamente se espalhou Como a maioria dos grupamentos ocultistas
pela Europa, promovendo um êxodo rural
do século XVIII, a sociedade secreta iniciática e místi-
e o abandono dos ofícios artesanais e ma-
ca fundada por Martines de Pasquallys tomou, desde
nuais para atender a demanda por mão-
de-obra industrial. Ao fim do século XVIII, sua constituição, a forma de um rito maçônico. Marti-
o maçom operativo não teve outra esco- nez foi um grande homem que tentou durante toda a
lha a não ser se tornar operário fabril e sua vida, infundir a espiritualidade na Maçonaria.
trabalhar uma média de 80 horas por se- Existem muitas versões sobre as origens de
mana. Pasqually, a ponta de existir um dose significativa de
Muitos dos países europeus, preocupados mistério, vários aspectos míticos e com dose se as-
em consolidar o novo modelo econômico, pectos esotéricos e cabalísticos. Alguns afirmam ter
chegaram a adotar leis proibindo a Maço- nascido em 1727, na França. Seu pai tinha uma pa-
naria Operativa. Esse foi o caso do famoso tente maçônica emitida por Charles Stuart, Rei da
Ministro Turgot, da França, que determi-
Escócia, Irlanda e Inglaterra, datada de 20 de maio de
nou que:
1738, outorgando-lhe o cargo de Grande Mestre De-

4
Disponível em: <http://www.noesquadro.com.br/2012/03/historia-da-maconaria-para-adultos.html#sthash.1UpmXr9w.dpuf>
Acessado em: 22 de agosto de 2014, às 14h32
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legado, com autoridade para levantar novos templos de desejo que considerava dignos de receber a sua
e para transmitir a referida Carta Patente a seu filho iniciação.
primogênito, desaparecido durante revolução fran- Fundamentadas em minucioso ritual, essas
cesa. Atualmente escritos encontrados por Papus operações permitiam ao discípulo colocar-se em con-
comprovam que seus sucessores na Ordem dos Elus tato com as entidades angélicas, que se manifesta-
Cohen tenham sido Caignet de Lestère, sucedido de- vam na câmara teúrgica apresentando caracteres ou
pois por Sébastien de Las Casas (RAMOS,2006) hieróglifos luminosos, que eram os sinais dos espíri-
tos evocados pelo operador, de modo a comprovar a
A Doutrina de Pasqually e a Ordem dos Elus Cohen veracidade das manifestações e reforçar a senda da
do Universo reintegração.

A base do trabalho iniciático dos Elus Cohen Essa doutrina prática e operativa era destina-
era a reintegração do homem mediante a prática te- da a uma “elite espiritual”, reunida sob o nome de
úrgica. Essa Teurgia, em última instância, apoiava-se “Elus Cohen” (Sacerdotes Eleitos), conhecendo um
no relacionamento do homem com as hierarquias grande êxito nos círculo esotéricos da época, mas as
angélicas, única via, segundo Pasqually, para sua re- operações teúrgicas permaneceriam sempre reserva-
conciliação com a Divindade. das. Até hoje pairam dúvidas sobre a autenticidade
desses rituais.
Sua doutrina, cujo caráter cristão não deixa
nenhuma dúvida, se apresenta como a chave de toda De 1754 até sua morte, em 1774, Martinez de
cosmogonia escatológica: Amadou (2011) Ambelain Pasqually trabalhou na construção de seu Templo
(1959), Baader (1900) e Papus (1976) nos permitem Cohen, utilizando a Maçonaria como apoio ao seu
apresentar os postulados básicos: próprio sistema. Até 1761 ele circulva por Montpelli-
er, Paris, Lion, Bordeaux, Marselha, Avignon. Nesse
Deus, a unidade principal, dá vontade própria mesmo ano constrói seu Templo particular em Bor-
aos seres “emanados” d’Ele. Mas Lúcifer, querendo deaux, onde residiu até 1766. Nessa época, a Ordem
exercer por si mesmo a potência criadora, cai vítima dos Elus Cohen se apresentava como um sistema de
de sua própria falta, arrastando determinados espíri- altos graus, colocados por sobre os graus da Maçona-
tos em sua queda. Ele se encontra aprisionado na ria Azul.
matéria, destinada por Deus para lhe servir de cárce-
re, visando sua evolução da matéria para o divino. O Após os três graus simbólicos, eram acrescen-
retorno ou a sua regeneração. tados o do Mestre Perfeito Eleito; em seguida temos
os graus Cohen propriamente ditos: Aprendiz Cohen,
A divindade gerou um ser andrógino e em um Companheiro Cohen, Mestre Cohen, Grande Arquite-
corpo glorioso, dotado de poderes imensos: o Adão to, Cavaleiro do Oriente, Comandante do Oriente e,
Kadmon. Mas ele pecou achando que poderia ter os finalmente, o último dos graus, a suprema consagra-
mesmos poderes de deus. Por isso ele caiu desse pa- ção, o de Réau-Croix.
raíso para o mundo material convertendo-se em
mortal fisicamente. Em 1766, em Paris, Martinez de Pasqually ins-
trui a Bacon de Chevalerie e retorna a Bordeaux. Em
Ele não pode fazer outra coisa se não tentar 1768, Willermoz recebe a iniciação do grau Réau-
elevar-se ou reintegrar-se ao mundo divino, transmu- Croix de Bacon de Chevalerie. Saint-Martin, iniciado
tando-se a si mesmo e a matéria que o envolve. Mas nos primeiros graus em 1765, se torna Comandante
isto só pode ser feito tendo o exemplo de Cristo, pela do Oriente em 1768. Martinez de Pasqually deixa no
esforço constante da busca da perfeição interior e futuro “Filósofo Desconhecido” uma magnífica im-
que é facilitada mediante operações teúrgicas que pressão.
somente Martinez de Pasqually ensinava aos homens

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Nos anos de 1769 e 1770 multiplicam-se os maio de 1760 foi eleito presidente da “Grande Loja
grupos de Elus-Cohen por toda a França. Saint-Martin dos Mestres Regulares” de Lyon e com o Ir-
deixa, então, seu regimento, no início de 1771, para mão Grandon recebeu do Conde de Clerment, o reco-
permanecer ao lado de Pasqually, como seu secretá- nhecimento da Grande Loja da França com o direito
rio partcicular, substituindo nesse posto ao Abade de realização de estudos dos Altos Graus Escoceses.
Fournié. Data desta mesma época o aperfeiçoamento Willermoz torna-se Grão Mestre da Grande
dos rituais, bem como a redação do livro “Tratado da Loja de Lyon em 1761 (aos 31 anos). Em 1764 junta-
Reintegração dos Seres”, base doutrinal da teosofia e mente com seu irmão Pierre-Jaques, funda “Capítulo
teurgia martinistas. dos Cavaleiros da Águia Negra”, onde seleciona os
Em 1772, Saint-Martin recebe o grau de Réau- mais aplicados irmãos das Lojas de Lyon. Neste perío-
Croix, mas Martinez de Pasqually parte, no mesmo do ele foi iniciado na "Ordem dos Cavaleiros Elus Co-
ano, para Santo Domingo [Haiti] a fim de receber hen do Universo” ou “Ordem dos Cavaleiros Maçons,
uma herança, morrendo naquela cidade em 1774. Sacerdotes Eleitos do Universo”, complementava os
Com sua morte a Ordem se desfaz. A partir de 1776 tradicionais três graus maçônicos (Aprendiz, Compa-
os Templos Cohen de La Rochelle, Marselha e Libour- nheiro e Mestre), com um sistema de Altos Graus que
ne se integram à Grande Loja da França. Em 1777 as buscava a reintegração do homem mediante a práti-
cerimônias parecem estar em desuso, conservando- ca teúrgica. Essa Teurgia era a de Pasqually.
se em apenas alguns cenáculos, como em Paris, Ver- Em face de uma dispersiva disparidade de Ri-
salhes e outros. tos e Sistemas Maçônicos na altura existentes Jean
Não se conhece muito das atividades maçôni- Baptiste Willermoz absorveu parte dos ensinamentos
cas de Martinez de Pasqually. Mas existem registros dos Elus Cohen, de seu Mestre Martinez de Pas-
de que instruiu maçons franceses de diversas Obedi- qually. Associando-os com os ensinamentos maçôni-
ências, que vagavam de sistemas filosóficos em siste- cos do Rito da Estrita Observância Templária,
mas filosóficos, vivenciando os aspectos exteriores de do Escocismo, e “mais suas próprias inspirações e sa-
Ritos Maçônicos. Promoveu um verdadeiro sistema bedoria acumulada ao longo de toda uma vida dedi-
de ensinamentos iniciáticos, suscetível e capaz de cada a Maçonaria e lançou então as bases do R.E.R. -
assumir aspectos de uma teologia, de uma cosmogo- Rito Escocês Retificado - em plena época da Revolu-
nia, de uma gnose e de uma filosofia muito restrita ção Francesa, um Rito que reflete todas essas ten-
nessa época (AMBELAIN, 1946). dências” e em 1782, os ensinamentos de Martinès
de Pasqually foram incorporados aos graus de Profes-
so e de Grande Professo. (RAMOS, 2007)
Jean-Baptiste Willermoz
Willermoz iniciou-se na maçonaria em 1750 Louis-Claude de Saint Martin
com 20 anos de idade e já em 1752 era Venerável
Mestre de sua loja e um ano mais tarde fundou a sua “O Filósofo Desconhecido” nasceu a 18 de ja-
loja “A Perfeita Amizade”, onde permaneceu Venerá- neiro de 1743 em Amboise, Tourraine, no centro da
vel por oito anos. Em 21 de novembro de 1756 obte- França, no seio de uma família nobre, mas pouco
ve a filiação de sua loja na Grande Loja da França. abastada e desconhecida. Logo depois do nascimento
de Saint-Martin, sua mãe faleceu, e ele foi criado pe-
Em 1760, com 30 anos de idade, fundou uma lo pai e por uma madrasta, pessoa amável e de bom
segunda loja: “Os verdadeiros Amigos”, juntamente coração, que o iniciou na leitura de Jacques Abbadie,
com o Venerável da sua primeira loja: “A Amizade”, o ministro protestante de Genebra. Com esse autor,
Irmão Jacques Irenée Grandon. Com as três lojas apreendeu a conhecer a si mesmo, relegando a um
agregadas ele funda então uma obediência. Em 04 de plano secundário a análise decepcionante dos filóso-

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fos em voga na época. sas e ultrapassadas. Acreditava que com o advento


Reiteramos aqui que a base de formação de do Cristo o homem poderia ter acesso ao Reino Divi-
Saint-Martin era a Ordem Elus-Cohen. Ele não fundou no sem intermediários. Evocar ao invés de invocar.
ou constituiu uma Ordem, mas algo semelhante a um Dentro e não fora. Interior e não exterior. A ascese
Círculo de Íntimos. O Martinismo, contudo, não é interior é o caminho, e, nesse sentido, é no Coração
uma extensão da Ordem dos Elus-Cohen, pois com o do homem que tudo deve acontecer.
falecimento de Pasqually, em 1774, seus ensinamen- Saint-Martin optou pelas iniciações individu-
tos tomaram caminhos distintos, uma vez que os dis- ais, distanciando-se das práticas teúrgicas complexas
cípulos de Pasqually sobressaíram-se e impuseram e rituais maçônicos, aceitando mulheres e homens
orientações esotéricas específicas para o pensamen- em condições de igualdade. Ele preferiu um caminho
to original de seu Mestre: Jean-Baptiste Willermoz que intitulava de a “Via Cardíaca” e afirmava:
(1730-1824) e Louis-Claude de Saint-Martin (1743-
1803) conhecido sob o Nome Iniciático de Phil… Inc…
A única iniciação que prego e que procuro
(Philosophe Inconnu).
com todo o ardor de minha alma é aquela
Ao descobrir os escritos de Jacob Boehme, que nos permite entrar no coração de
aprende alemão para ler no original as obras deste Deus e fazer entrar o coração de Deus em
Místico Cristão. Saint-Martin toma-o como seu se- nós, para aí fazer um casamento indissolú-
gundo Mestre, se considerando inclusive “indigno de vel, transformando-nos no amigo, irmão e
desatar-lhe as sandálias”. A sensibilidade narrativa de esposa do Divino Reparador. Não existe
outro mistério para chegar-se a essa santa
Boehme “trouxe a essência do puro cristianismo mís-
iniciação a não ser este: penetrar cada vez
tico que varreu o Renascimento e influenciou pensa-
mais nas profundezas de nosso ser até
dores pós-iluministas, principalmente devido à sua aflorar a viva e vivificante raiz; porque,
facilidade de entendimento, atingindo dos mais sim- então, todos os frutos que deveremos
ples dos homens até as altas classes aristocráti- portar, segundo nossa espécie, irão se
cas.” (MARQUES, 2013). É a partir dessa influência, produzir naturalmente em nós e fora de
conjungado com os ensinamentos de Martinez de nós, como aqueles que vemos nascer em
Pasqually, que Saint-Martin desenvolve a via cardía- nossas árvores terrestres, porque são ade-
ca. rentes à sua raiz particular e porque não
cessam de sugar seu sumo (SCHAUER;
Já Louis-Claude de Saint-Martin renunciou à CHUQUET, 1862).
Teurgia - senda externa segundo seu entendimento -
em proveito da senda interna. Considerava a Teurgia
perigosa e temerária, pois exigia uma forte disciplina As reuniões, reservadas aos membros muito
e dedicação que poucos poderiam praticar. Reputava, espiritualizados, eram consagradas à oração coletiva.
igualmente, arriscada a invocação angelical quando Os iniciados davam o nome de Filósofo Desconhecido
operada pela via externa, que para que tivesse o efei- ao ser invisível com o qual se comunicavam. Foi ele
to verdadeiro, o operador tinha de estar totalmente quem ditou, em parte, o livro Dos Erros e da Verdade
purificado. O caminho interior que Saint-Martin pro- de Saint-Martin, que somente adotou esse pseudôni-
punha era seguro, pois a alma se elevaria aos mun- mo mais tarde, por ordem superior. A mais alta espi-
dos angélicos e divino à medida que se purificava, ritualidade, a mais intensa submissão às vontades do
evitando os riscos da via externa. Céu.
Apesar de ser um dos principais colaborado- A Iniciação transmitida por Saint-Martin per-
res de Pasqually, como dito anteriormente, Saint- petuou-se até o final do século XIX. Mas não foi ele
Martin desaprovava suas práticas. Achava-as perigo- próprio o fundador de uma associação com o nome

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de Ordem Martinista. Havia, entretanto, uma Socie- quicamente, a Egrégora da Obediência, a


dade dos Íntimos (Círculo Íntimo) formada de discípu- alma, oculta e invisível que verdadeira-
los que recebiam a Iniciação diretamente de Saint- mente anima e vivifica, mesmo reagindo
Martin (AMBELAIN, op.cit). No final do século XIX, automaticamente, e sem a qual seria ne-
cessário realizar a cerimônia contra os
dois homens eram os depositários desse conheci-
falsos companheiros uma vez mais.
mento e dessa Iniciação: Gérard Encausse e Pierre-
Augustin Chaboseau. Foram esses dois homens que Isto explica porque traidores, maus ir-
em 1888, decidiram transmitir a Iniciação de que mãos, perjuradores das Obrigações, ocasi-
onalmente os adversários da Franco-
eram depositários a alguns buscadores da verdade e
Maçonaria, tiveram todos um fim trágico,
fundaram a Ordem Martinista. É a partir dessa época
mesmo sem intervenção humana direta!
que se pode efetivamente falar em uma espécie de Ligados antecipadamente a este destino,
Ordem Martinista. por um voto muito claro, livremente acei-
Em 1891 a Ordem Martinista foi dotada de taram a sorte que os esperaria caso vies-
um Conselho Supremo, e Papus foi escolhido Grande sem a trair, e estão, por esta razão, expos-
Mestre da Ordem. O Coração do Martinismo fixou-se tos às forças vingativas da Egrégora. E se,
pelo seu comportamento, eles se expõe a
em Paris, e, imediatamente, foram criadas quatro
essa lei inexorável, eles despertam auto-
Lojas: Esfinge, Hermanubis, Velleda e Sphinge. Cada
maticamente o choque de retorno, de
uma com características específicas, mas todas fiéis vingança e punição. Essa é a razão de exis-
ao pensamento de seu inspirador Louis-Claude de tir dos "ritos de vingança" e seus motivos
Saint-Martin. ocultos (AMBELAIN, op. cit).

Rito do Elus Cohen do Universo Sobre os Graus ditos de "Templo", podemos


Os Graus de Pórtico, (Aprendiz-Cohen, Com- dizer que eles constituíam aquilo que convém se cha-
panheiro-Cohen e Mestre-Cohen), continuaram a mar de "altos graus". Os Rituais dos "Grandes-
manter a característica maçônica externa. Todavia, Arquitetos" e dos "Grandes-Eleitos de Zorobabel"
eles eram entrelaçados com alusões, expressões, en- conservam ainda os emblemas e o simbolismo maçô-
sinamentos, enigmas e ambiguidades, destinados a nico (aventais, cordões, joias, a própria forma da ritu-
fazer entrever a Doutrina secreta – cedo e por lampe- alística, etc...). Mas seus catecismos transportam o
jos – reservada aos Graus superiores. Candidato para o pleno esoterismo místico, e mais
especialmente no da Doutrina Geral (RAMOS, op.cit).
Ao grau de "Grande-Arquiteto", o Irmão ne-
Com efeito, todos os regimes maçônicos
acreditavam que era uma boa idéia inter- cessitava purificar-se por meio de um específico regi-
calar em sua hierarquia um grau dito de me ascético da Ordem (abstinência de certas carnes,
"vingança". Lá, o candidato, aprende o de certas partes de animais autorizados, de gorduras,
destino reservado aos maus irmãos, aos etc... no espírito do Antigo Testamento – regime dos
maus companheiros, aos traidores e per- levitas). Era sua missão expelir os Poderes das Trevas,
juradores. Ainda melhor, fazem-no viven- os quais haviam invadido a aura terrestre, por suas
ciar – em uma espécie de jogo simbólico, cerimônias mágicas efetuadas em grupo, ou separa-
o "Mistério", no sentido medieval da pala- damente; e cooperar "simpaticamente", e sob uma
vra – a simbólica condenação à morte dos forma especial, com aquelas Operações especiais efe-
referidos traidores. Este ritual, sem moti-
tuada pelo “Mestre Soberano” em pessoa. Este gran-
vo aparente, não tem outro objetivo se-
de estado era equivalente ao de Réau+Croix, este era
não "recarregar", magneticamente e psi-

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o papel devolvido aos "Cavaleiros do Oriente", defini- meio de exorcismos mágicos, o grau de "Reau+Croix"
do pelos arquivos recolhidos por Papus5 (VIVENZA, ensinava os meios de se evocar as Potências Celestes,
2006). e de lhes atrair "simpaticamente" para esta mesma
O grau seguinte, "Grande-Eleito de Zoroba- aura terrestre. Mais além, elas permitiam, ao Re-
bel" (ou "Comendador do Oriente"), era equivalente au+Croix, por suas manifestações (auditivas ou visu-
ao "Companheiro Reau+Croix". Como todos os graus ais) aparentes, de julgar o grau de progresso que o
de Companheiro de vários "regimes" maçônicos, era evocador adquiriu, e de ver se ele se encontrava
tanto neutro como ambíguo, mal definido, mas pleno "reintegrado em seus poderes originais", segundo a
de mistério e de enigmas em sua ritualística. É um expressão do Mestre (BAADER, op.cit).
Grau no qual o equivalente Cohen se baseava sobre a Os Elus-Cohen tinham em seu Mestre, Marti-
lenda de Zorobabel, explicada em um nível superior. nez de Pasqually, o grande agente responsável pela
Estava relacionada com uma ponte, análoga à erigida sua comunicação com o invisível. Segundo os histori-
sobre o Rio Céfiso, a qual os iniciados deviam atraves- adores, eles se reuniam para invocar La Chose ou A
sar no retorno de Elêusis (CAILLET, 2011). Coisa (em tradução literal). Muitos acreditam até ho-
Neste grau, o afiliado tinha uma trégua das je que La Chose era uma inteligência planetária, ou-
"Operações" cerimoniais. Ele se recolhia, meditava tros dizem que era um ser espiritual chamado Metra-
por certo período, retornava às suas teorias funda- ton Sarphanim. La Chose quando se manifestava, não
mentais, e se preparava, através de um tipo de in- precisava de um corpo para sua manifestação; ela
trospecção (verdadeira acumulação, restrição psíqui- materializava-se. Ora, mas para isso precisava de vá-
ca), à sua futura ordenação de Reau+Croix. rios elementos Mágicos para facilitar esse processo e
dado o poder destas sessões, muitos discípulos de
A "Classe Secreta" era a dos Réau+Croix. Ela Pasqually cobriam os olhos temendo o fenômeno
compreendia, segundo dizem todos os historiadores (JOLY, 1938).
da Ordem, (BAADER, op.cit) somente um grau. Mas
certos comentários abreviados que encontramos nas Arthur Edward WAITE (1911, 1922, 1923)
cartas de Louis-Claude de Saint-Martin, na época em apresenta outra escala de graus diferente da sugerida
que ele era secretário do Mestre, (em lugar de P. Bul- por Ambelain no que se refere aos estudos dos
let, já desaparecido), fazem-nos acreditar que esta "Sacerdotes Eleitos" ou "Elus Cohen":
classe compreendia dois graus: Em efeito, é um grau
abreviado em duas letras: G. R., do qual fala Saint- Quinto Grau Aprendiz Eleito Cohen: a ins-
Martin em algumas cartas. E isto nos faz questionar trução deste grau divide o conhecimento
se talvez atrás do grau secreto de Reau+Croix, teria sobre a existência do Grande Arquiteto do
existido outro ainda mais secreto chamado "Grande Universo e sobre o princípio da emanação
Reau+Croix" ou "Grande Reau" (G. R.) (AMBELAIN, espiritual do homem. Mesmo a Ordem é
op.cit). emanada do Criador e tem sido perpetua-
da até nossos dias por Adão, de Adão para
O propósito desta classe, por seus ensinamen- Noé, de Noé para Melquizedeque, portan-
tos esotéricos, era o de colocar os dignitários em co- to a Abraão, Moisés, Salomão, Zorobabel e
munhão com os mundos do Além, aqueles dos Pode- Cristo. O sentido desta transmissão dog-
res Celestes, isto feito pelas Evocações da Alta Magia. mática é que sempre tem existido uma
Enquanto o grau de "Grande-Arquiteto" ensinava a Tradição Secreta no mundo, e que sucessi-
expelir os Poderes Demoníacos da aura da Terra por vas épocas a tem manifestado com suces-

5
Documentos manuscritos recolhidos por Phillipe Encause, filho de Papus, na sede da Gestapo de Paris, em 1944, após a liberta-
ção da cidade pelas forças aliadas.

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sivas custódias. È com este sentido que a Décimo Primeiro Grau Cavaleiro Reaux
Ordem diz ter o propósito de manter o Croix: sem dados. Supõe-se que simboliza
homem e sua virtude primitiva, com seus a realização de Cristo.
poderes espirituais e divinos.
Sexto Grau Companheiro Eleito Cohen: o
O Ritual Cohen
estudante aprende a Caída do Homem. Ele
é passado da perpendicular ao triângulo, O Ritual é bastante assemelhado a abertura
ou da união do Primeiro Princípio ao da de loja maçônica simbólica, num diálogo instrutivo
triplicidade das coisas existentes. O grauentre o Venerável Mestre e os Vigilantes, com sinais,
de Companheiro tipifica essa transição. Aotoques e palavras, além de batidas específicas para
Candidato desfazer a Queda, na qual seu cada grau. Apesar disso, Martinès de Pasqually, em
próprio espírito se acha submerso.
suas instruções aos seus discípulos alertava categori-
Sétimo Grau Mestre Eleito Cohen: simboli- camente:
camente o Candidato passa do triângulo
ao círculo. Trabalha nos círculos de expia-
ção que dizem ser seis, em correspondên- Apenas a precisão da Cerimônia não bas-
cia com as seis concepções utilizadas pelo ta. É necessária uma grande exatidão e
Grande Arquiteto na construção do Tem- santidade, de conduta de vida, uma pre-
plo Universal. Se explica o simbolismo do paração espiritual feita pela prece, retiro,
Templo de Salomão. Estimula-se os mem- jejum e meditação... (M. Pasqually, Discur-
bros deste Grau a caridade, aos bons so de Iniciação de um Reau-Croix, Ma-
exemplos e a todos os deveres da Ordem, nusc. do Séc. 18. In: AMBELAIN, op.cit).
para a reintegração de seus princípios indi-
viduais, simbolizados no Mercúrio, o Enxo-
fre e o Sal. Martinès de Pasqually entendia que a ascen-
são do homem só poderia se operar pela Teurgia, ou
Oitavo Grau Grande Mestre Eleito Cohen:
o candidato entra no círculo da reconcilia-
seja, por um conjunto complexo de práticas ritualísti-
ção. Estimula-o a abraçar a causa da luta cas, visando obter sua reintegração com a Divindade
contra o mal sobre a terra, que tenta des- com intermediação angélica. Para isso salmos eram
truir a Lei divina. Devem ser soldados do recitados, nomes divinos, sinais cabalísticos, dese-
Reconciliador, o Cristo. Se adverte o candi- nhos em tapetes mágicos ou operativos eram dese-
dato a não ingressar em ordens secretas nhados especificamente para cada tipo de operação
que pervertem os ensinamentos recebi- (LE FORESTIER, 2003 e 2011).
dos. Simbolicamente o candidato tem 33
anos.
Caillet (op.cit) descreve detalhadamente os
rituais de Aprendiz Simbólico, Companheiro Simbóli-
Nono Grau Grande Arquiteto ou Cavaleiro co, Mestre simbólico, Mestre Elu Cohen, Grande
do Este: simbolicamente o candidato tem
Mestre Elu Cohen, Grand Elu de Zarobabel, Coman-
80 anos. É um Grau de Luz e o Templo se
abre com todas as luzes acesas. Existem
dante do Oriente e Réau-Croix. Em cada grau, há
quatro Guardiões, que representam aos sempre um procedimento para que todo o material
quatro ângulos dos quatro pontos cardeais ritualístico, decorativo, as vestes e o próprio templo
do céu. Se estudam os mistérios das Tá- passavam por rituais de exorcismo, purificação e con-
buas Enoquianas de John Dee. sagração, individualmente. Letras hebraicas e ou no-
Décimo Grau Grande Eleito de Zorobabel mes de seres angélicos e divinos são citados em mui-
ou Comandante do Este: o Candidato tra- tas fases do processo.
balha sobre a Redenção. É muito pouco do Ressalta ainda que todos os graus “são iniciá-
que se pode dizer desse Grau.
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ticos, perpetrados e conduzidos unicamente por um tualmente, erradicarem - as manifestações do mal e


Réau-Croix, não se permitindo a transmissão por co- aliviar o seu jugo sobre a humanidade.
municação”. Caillet ressalta também que exigia-se Esta combinação de Orações, Conjurações e
severa disciplina de seus membros, que deveriam Exorcismos constituía uma espécie de “CULTO” ou
realizar rituais diários pela manhã e antes de deitar- ritual cabalístico que incluía dez diferentes opera-
se, além de recitar salmos e realizar operações em ções, que corresponde aos dez atributos Divino da
um “oratório” pessoal e privado, em ambiente restri- árvore Sefirótica ou Árvore da Vida: 1 . KETHER - Con-
to, para evocações. Essas cerimônias são chamadas sagração anual de todas as operações de Deus. 2 .
de “Rituais” de Proteção, de Acoplamento à Cadeia HOCKMAH – Manifestação absoluta do Espírito San-
Oculta de Apolônio, Diário, de Equinócio, de Evoca- to. 3 . BINAH - Operação para o fortalecimento da fé
ção dos Anjos, Meditações em Símbolos, dos 22 No- e da estabilidade no caminho espiritual. 4 . HESSED -
mes, dentre tantas outras fórmulas mágicas usadas. Operação de atração do Espírito Santo e aceitação de
Pode-se dizer que o uso do ritual e de algu- seus dons. 5 . GUEBURAH - Operações contra ações
mas parafernálias não são essenciais para o sucesso humanas e as ideologias que os que são contra a Lei
de uma operação chamada de teúrgica, entretanto Divina. 6 . TIPHERET - Operação contra a guerra. 7 .
esse material serve como meios de indução à soleni- NETSAH - Operação contra magos negros e seus par-
dade e a concentração, o que beneficiaria o operador ceiros espirituais. 8 . HOD - Operação contra demô-
e todos os presentes. Para ele existia mais um fator nios. 9 . IESOD - Influência da Providência para a hu-
importante: tudo o que acontece no mundo físico, manidade em geral. 10 . MALKUTH - Expiação na ma-
possui inevitável repercussão na parte invisível do téria, rumo aos céus.
universo, neste caso, a contraparte astral da terra,
que possui a sua própria população e forças atuando
sobre si, ambos estão proximamente conectados a Regularidade da Transmissão da Ordem Elus Cohen
cada momento e em cada lugar, as nossas atividades Ambelain (1946b) faz referência a um manus-
atraem ou repelem os seres desejáveis ou indesejá- crito de sua própria autoria para tenta explicar a re-
veis do outro lado. gularidade da cadeia de transmissão sucessória desde
Um Cohen deveria procurar seguir fielmente Pasqually até Lagrèsse. Esta explicação também é en-
três coisas: a primeira, se subtrair a toda e qualquer contrada, com variações tanto em Amadou (op.cit)
sociedade secreta que trate e ensine doutrinas con- como em Le Forestier (op.ci):
trárias à Lei Espiritual e à Ordem dos Cohen; a segun- Pensamos que, se falta a regularidade ma-
da afastar-se de todo lugar de profanação ou de pros- çônica administrativa à organização Marti-
tituição tanto das coisas espirituais como de si mes- nista operativa moderna, recriada em 1943
mo, corporal ou intelectualmente; a terceira jamais (e isso se pode admitir facilmente), com
esquecer a Ordenação que ele recebeu, observar es- uma existência legal após 1945, sob o no-
me de Ordem dos Elus Cohen, ela possui
crupulosamente a maneira de viver como membro da
pelo menos uma filiação iniciá-tica regular
Ordem. e incontestável, que se pode provar, desde
Ainda devemos destacar que o sistema preco- J. B. Willermoz e, antes dele, Martinez de
nizava Orações para as três Pessoas da Santíssima Pasqually, pelo canal dos Cavaleiros Benfei-
Trindade, a fim de atrair a Providência Divina. Conju- tores da Cidade Santa, e ela possui, ade-
rações para os Anjos e os Santos, para a cooperação mais, pelos pode-res da ordem conferidos
a certos de seus altos dignitários pela Igreja
do operador com eles, o avanço da Opus Magnus da
Gnóstica, a possibilidade de criar novos
Reintegração Universal. Exorcismos contra as entida-
Professos e Grandes Professos, isto é, orde-
des espirituais demoníacas, a fim de aliviar - e, even- nar, em virtude da sucessão apostólica,

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SILVA; PINA Jr.; FERREIRA. RITUAL DOS MAÇONS DO ELUS COHEN DO UNIVERSO

mem-bros rigorosamente escolhidos, como depositada nos arquivos do Supremo Con-


aqueles do século 18, e de torná-los Teúr- selho do Rito Escocês, na Grande Loja da
gos, pois não esque-çamos que esta suces- França.
são uniu simultaneamente o Sacerdócio de 3. O mesmo doutor Savoire, desde quando
Melchizedec e o Sacerdócio se-gundo Aa- soube por Lagrèsse do ressurgimento dos
rão. Cohen e a utilização (em especial) da filia-
E se, no século 18, a mudança de denomi- ção dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade
nação que o Convento de Lyon de 1778 Santa, nos orde-nou que não cometêsse-
deu aos Cavaleiros do Templo da Estrita mos imprudências (estávamos na época
Observância, transformando-os em Cava- sob ocupação alemã e o governo de Vichy),
leiros Benfeitores da Cidade Santa, impon- acrescentando: “Após a Guerra, eu vos re-
do-lhes uma mística secreta, estranha à gularizarei...” Ele aprovava, assim, nossa
maçonaria regular, não lhe fez perder sua designa-ção por Lagrèsse.
regularidade, pode-se então admitir que o 4. A prova desse derradeiro ponto é dada
mesmo ocorre hoje. Eles realizam então facilmente se lembrarmos que ele aceitou
um verdadeiro retorno à forma primitiva, figurar na declaração oficial da Ordem dos
uma verdadeira “peregrinação às ori- Elus Cohen, feita na Prefeitura de Polícia de
gens” ... Paris, no Setor de Associações, no fim de
Ora, existem certos fatos que, desde a ori- 1944, como Grão-Mestre de Honra, e que
gem do ressurgimento de 1943, vieram con ele contra-assinou nossa designação por
-firmar o bem-fundado e o valor (senão a Lagrèsse, de Grão-Mestre Substituto da
regularidade) desta filiação Willermozista Ordem.
no seio dos Elus Cohen assim reconstituí- 5. Ele se empenhou em seguida em consti-
dos: tuir ele mesmo, assistido por dois outros
1. Foi o Irmão Georges Lagrèsse que esteve Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, em
na origem deste renascimento da ordem. Fevereiro de 1945, uma Loja Escocesa Reti-
Ora, ele era: (a) Cavaleiro Benfeitor da Ci- ficada, de-nominada Arca da Aliança, loja
dade Santa, membro do Grande Priorado de São João, que deveria servir de base aos
das Gálias (a fotografia de seu Diploma graus azuis da ordem dos Elus Cohen. Ele
existe em nossos arquivos); b) Cavaleiro do nomeou os oficiais ad vitam e nos designou
Templo (Rito Primèval Sueco), membro da assim como Venerável vitalício da referida
Grande Loja da Dina-marca; c) Reau-Croix Loja.
da filiação afirmada por J. Bricaud, e que é 6. Ele aceitou o cargo de Venerável de Hon-
infelizmente duvidosa, como explicamos ra desta mesma Loja e assistiu a todas as
em nosso opúsculo pré-citado; d) Rosa- reuniões de 1945 nesta qualidade. Seu co-
Cruz do Oriente. Esta Ordem teria estado lar de Venerável de Honra (azul claro, orla-
na origem dos Elus Cohen do século 18 e do em prata) lhe foi oferecido pela Loja, e
da Companhia dos Filósofos Incógnitos des- deve atualmente encontrar-se, com as ou-
sa mesma época. tras lembranças deste ilustre Ma-çom, nos
2. O Doutor Camille Savoire, Grande Prior arquivos da Grande Loja da França.
das Gálias, Prior dos Cavaleiros da Cidade De todas essas coisas, testemunhos ma-
Santa para a França, aceitou, em 1943, des- nuscritos, documentos oficiais e indiscutí-
de o ressurgimento da Ordem dos Elus Co- veis, permanecem, sem com isso omitir-se
hen, o cargo de Grão-Mestre de Honra des- o testemunho oral dos sobreviventes desta
ta Ordem. Por ocasião de sua morte, o di- época, que tem igualmente o seu valor.
ploma afirmando esta qualidade foi, com Por todas essas razões, a Ordem dos Elus
suas demais Cartas e Patentes maçônicas, Cohen, assim reaberta, estima-se autori-
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SILVA; PINA Jr.; FERREIRA. RITUAL DOS MAÇONS DO ELUS COHEN DO UNIVERSO

zada a reivindicar, sem com isso negar a ris, France: Èditions Dervy. 2011
validade de outros ramos de espírito dife-
AMBELAIN, R. La Franc-maçonnerie occultiste et mys-
rente, a filiação misteriosa que J. B. Willer-
moz desejou e chegou a incluir na Ordem tique (1643-1943). Le Martinisme, histoire et doctri-
Interior dos Cavaleiros Benfei-tores da Ci- ne. Paris: Editions Niclaus, 1946.
dade Santa. ___________ (b) Le Martinisme. Paris: Editions Ni-
claus, 1946
Conclusão ___________ Martinez de Pascuallis et le Martinis-
me, Meaux, 1959. Extrait de la revue L'Initiation,
Trata-se de um ritual de bases maçônicas re-
« Cahiers de Documentation Esotérique Tradition-
pleto de ações mágicas, esotéricas, teúrgicas e feno-
nelle», 33e année, n° 2, juillet-décembre, 1959.
mênicas, que se perdeu e foi sistematizado em 1943
por Robert Ambelain. Muitos questionam a validade __________ L’ Alchimie Spirituelle, Techinique de la
dessas operações em nossa sociedade outros questi- Vie Intérieure. Editions Bussier, 2000.
onam sua viabilidade prática. Como sistema maçôni- BAADER, F. Von. Les Enseignements Secrets de Marti-
co, foge a toda a estrutura da maçonaria contempo- nez de Pasqually. Paris: Bibliothec Charcornac, 1900.
rânea, mantendo apenas algumas semelhanças ritua-
CAILLET, S. Les Sept Sceaux des Élus Coëns. Paris: Edi-
lísticas.
tions Le Mercure Dauphinois, 2011.
Os defensores da viabilidade desse sistema
CAVALCANTE, S. Antigos manuscritos: As Origens da
teúrgico alegam que faltam elementos morais e éti-
Francomaçonaria, Ediado pelo Autor, João pessoa,
cos aos atuais praticantes que não seguem os precei-
PB, 358pp.
tos fundamentais de Pasqually, tais como a abstinên-
cia de álcool, carnes, fumo e um regime celibatário, DACHEZ, R. Histoire de la franc-maçonnerie française.
conjugados as práticas diárias, longas e repetitivas, Paris: PUF, 2003.
principalmente as individuais que requerem grandes FAIVRE, A. L’Ésotérisme au XVIIIº siècle, Paris:
espaços físicos e reservados. Seghers, 1973.
Outros alegam que existem caminhos mais LE FORESTIER, R. La Franc-Maçonnerie Templière et
eficientes, menos exteriores e mais interiores de co- Occultiste. Archè Milano, 2003. 1116 p.
munhão divina, a chamada via cardíaca, proposta por
_________ La Franc-Maçonnerie Occultiste au XVIIIº
Saint-Martin e os martinistas contemporâneos.
Siècke et l’Ordre des élus Coëns. Archè Milano, 2010.
Não existem rituais originais disponibilizados.
GALTIER, G. Maçonnerie Egyptienne Rose-Crioix et
Na maioria dos casos e com o advento das grandes
Neo Chevalerie. Paris: Editions du Rocher, 1989.
mídias virtuais e a disponibilização desse material na
internet, muitos dos seguidores têm usado arquivos JOLY, A. Um Mystique Lyonnais et les Secrets de la
virtuais, de fonte e tradução duvidosas, para todos os Franc-maçonnerie. Paris: Protat, 1938.
fins. Acreditamos que com a disponibilização de ma- MARQUES, A.J. Introdução ao Pensamento de Saint-
nuscritos originais, muitas das informações e achis- Martin e Jacob Boehme. Sapere Editora, 2013.
mos possam ser corrigidas evitando-se problemas de
RAMOS, W, S. (Ir. Montecristo). Um Mistério Chama-
toda a sorte, quer materiais, autorais, mentais e psi-
do Dom Martinez de Pasqually. Campinas: Edições
cológicos.
Hermanubis, 2006.
___________ Jean Baptiste Willermoz lly. Campinas:
Referências Bibliográficas Edições Hermanubis, 2007.
AMADOU, R. Les Leçons de Lyon aux Élus Coëns. Pa- SCHAUER, L.; CHUQUET, A. Correspondência Inédita

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SILVA; PINA Jr.; FERREIRA. RITUAL DOS MAÇONS DO ELUS COHEN DO UNIVERSO

de L-C de Saint-Martin
Chamado O Filósofo Desconhecido e Kirchberger, Ba-
rão de Liebstorf. Editions Des Nombres E L'éclair Sur
L'association Humaine, 1862.
STEVENSON, D. As Origens da Maçonaria: o Século
da escócia, 1590-1710. São Paulo: Madras, 20—.
VIVENZA, J-M. Le Martinisme – L’enseignement Secret
des Maîtres Martinès de Pasqually, Louis-Claude de
Saint-Martin et Jean-Baptiste Willermoz, foundateur
du Rite Écossais Rectifié. Paris: Editions Le Mercure
Dauphinois, 2006.
WAITE, A. E. The secret tradition in Goëtia, The book
of ceremonial magic including the rites and mysteries
of Goëtic theurgy, sorcery and infernal necromancy,
by Arthur Edward Waite. London: W. Rider & son, ltd.
1911.
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story of modern Martinism. London: W.Rider, 1922.
_________ The occult sciences: a compendium of
transcendental doctrine and experiment, embracing
an account of magical practices; of secret sciences in
connection with magic; of the professors of magical
arts; and of modern spiritualism, mesmerism and the-
osophy. London: K. Paul, Trench, Trubner & co. ltd.,
1923.
________ The book of ceremonial magic / by Arthur
Edward Waite. London: Kegan Paul, 2005.

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