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A EXPRESSÃO MAÇÔNICA: "DO MEIO-DIA À MEIA-NOITE"

Os rituais de Lojas Simbólicas do Rito Escocês An go e Aceito trazem, logo na abertura - e


também no encerramento dos trabalhos - perguntas acerca do horário de trabalho do Maçom.
A informação é de que eles iniciam os trabalhos ao meio-dia, se estendendo até a meia-noite.
- Mas o que significa trabalhar do Meio-Dia à Meia-Noite?
A Maçonaria, na sua passagem de Opera va para Especula va atraiu intelectuais de diversas
correntes de pensamentos, que agregaram elementos mís cos e ocul stas rados da Bíblia, da
Cabala, do herme smo, da Ordem Rosacruz (Amorc), da astrologia e de an gas religiões e
processos iniciá cos.
Por conta disso, algumas palavras, expressões e frases têm a sua lógica interpretada de acordo
com as doutrinas e o simbolismo das ciências ocultas de que tanto se u lizou a Maçonaria entre
os séculos XVIII e XIX.
No caso “Do Meio-Dia à Meia-Noite”, a citação não deve ser interpretada no seu sen do literal,
mas observado o seu sen do simbólico. Ragon, citado por Boucher (2000), aponta para a
astrologia a explicação para a significação esotérica dessa expressão. A astrologia, segundo ele,
da mesma forma em que divide o ano em 12 meses (ou signos), também divide o dia em 12
correntes astrais (ou casas). Cada uma dessas casas possui um caráter determinado. Nesse
sistema o Meio-Dia corresponde à 10ª casa. O pôr do Sol está representado pela 7ª casa e a
Meia-Noite à 4ª casa.
Ragon explica que ao Meio-Dia o Sol sai da 10ª casa (a casa dos negócios e da situação social)
para voltar à 9ª casa (da religião e do impulso espiritual). Portanto, ao serem abertos os trabalhos
de caráter filosófico, abandona-se a 10ª casa, indo para a anterior, que tem a essência da religião
e das questões espirituais.
Depois da 9ª casa, o Sol atravessa a 8ª - a da morte, da desagregação do an go e do nascimento
em um plano superior. Os astrólogos deram e esta parte do céu o sen do da ‘INICIAÇÃO’. Depois
vem a 7ª casa, a do amor não sico, da dedicação e da vida social.
A 6ª casa é a do serviço. A passagem da 7ª casa para a 6ª casa é interpretada como o indício de
que o Maçom não espera recompensa da sua ação social, mas que se prepara para encontrar os
espinhos da 6ª casa. Daí nasce a criação, síntese da 5ª casa, depois da qual o ciclo termina pela
4ª casa, cujo sen do principal é o fim das coisas.
Esta fórmula ritualís ca resume a evolução iniciá ca, lembrando que cada parte do dia possui
uma influência real sobre o ser humano.
Na tradição chinesa, a Escola de Zoroastro considera que do “Meio-Dia à Meia-Noite”, quando
cresce a influência subje va do Sol, é o período mais indicado para o estudo e o desenvolvimento
intelectual e espiritual do ser humano.
Os estudiosos do Zoroastrismo consideravam o período do Meio-Dia à Meia-Noite propício às
coisas do espírito. Possivelmente por conta dessa par cularidade a Maçonaria resolveu colocar
os seus obreiros para, simbolicamente, trabalharem durante esse período.
Mas há também a interpretação de que o Meio-Dia é o momento em que há mais luz e a Meia-
Noite é o período de maior escuridão. O início dos trabalhos ao Meio-Dia significa a hora em que
o Sol encontra-se no Zênite, na plenitude do seu poder luminoso, significando dizer que o
homem está capacitado a trabalhar pelos seus semelhantes.
O encerramento dos trabalhos à Meia-Noite significa dizer a hora em que a luz do dia já não se
faz presente, por o Sol estar no Nadir. É a hora em que não se pode mais atuar eficazmente sobre
os obreiros.
Gedalge (2000) sugere que é preciso ver nessas horas de trabalho o simbolismo do malho
batendo sobre o cinzel, no desbaste da pedra bruta, quando realizamos a árdua tarefa de lapidar
os nossos próprios defeitos e imperfeições, procurando melhorar o nosso Templo interior e
produzir em abundância sen mentos como a fraternidade, carinho, amor, compreensão,
verdade, tolerância, harmonia e desapego às coisas materiais, para podermos distribuí-los não
apenas no universo maçônico, mas também no mundo profano, entre nossos filhos, amigos,
familiares, colegas de trabalho e vizinhos.
Não poderemos repar r essas virtudes se não as pra carmos e não as produzirmos em grandes
quan dades. Quem pouco produz, pouco tem a oferecer, a repar r. É preciso ser solidário. Por
meio desse sen mento, os Maçons se unem a outros Irmãos, com os quais, a cada dia, do Meio-
Dia à Meia-Noite, trabalham material e espiritualmente para cavar masmorras aos vícios,
construir a paz e erguer Templos de virtudes e de fraternidade.

Bibliografia
ASLAN, Nicolas. Comentários ao Ritual de Aprendiz – Vade Mécum Iniciá co. Ed. Maçônica. Rio
de Janeiro. RJ. 1977, p229/232
BOUCHER, Jules. Simbólica Maçônica. Ed. Pensamento. São Paulo. 2000
FELICIANO, Alberto Henrique da Cruz. A Tradição Pagã na Maçonaria. Portal Maçônico.
h p://www.samauma.com.br
--------- Zoroastrismo. h p://www.ombhandhum.org/zoroastrismo.htm
GOPE/GOB. Ritual do 1º Grau do Rito Escocês An go e Aceito. 1998

ALEXANDRE ACIOLI
Enviado por ALEXANDRE ACIOLI em 16/12/2011
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ALEXANDRE ACIOLI
Recife - Pernambuco - Brasil
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