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A REGRA PRIMITIVA DOS TEMPLÁRIOS –

BERNARDO DE CLARAVAL
Bernardo de Claraval (1090 – 1153)

Em 1115 Bernard Fontaines-les-Dijon ou São Bernardo funda um Mosteiro a uns


cinco quilómetros a leste de Troyes numa área doada por Hugo de Champagne,
que mais tarde se tornaria um Cavaleiro do Templo; a comunidade foi chamada de
Clairvaux ou Vale da Luz. Bernardo é o Abade desta nova comunidade. Torna-se
uma personalidade importante e respeitada na Cristandade, intervém em assuntos
públicos, defende os direitos da Igreja contra os príncipes seculares e aconselha
papas e reis.

A então recém fundada Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo de Jerusalém


necessitava da confirmação da igreja católica, para isso precisava de um “porta
voz” junto à igreja em favor deles. Afim de atrair o apoio de Bernardo, Hugo de
Payns escreveu-lhe de Jerusalém pedindo-lhe ajuda para obter a confirmação
apostólica e da redacção de uma Regra de Vida, pedido este enviado por dois
cavaleiros, Godemar e André, este ultimo era possível que fosse tio de Bernardo
que aceitou o pedido e fez a defesa dos cavaleiros durante o concilio apresentado
a Regra que deveriam seguir.

Hugo de Payns, acompanhado de cinco membros da ordem, Godofredo de Saint-


Omer, Archambaud de Saint Armand, Geoffroy Bisot, Payen de Montdidier e
Rolando, descreveu a ordem e apresentou a sua Regra ao Concílio de Troyes em
1129, concílio este que Bernardo fazia parte. Examinada e revisada pelos padres,
foi transcrita por Jean Michel num documento de setenta e três artigos.
Legitimada pela igreja em 1129 e confirmada por meio do Papa Honório II no
concilio de Troyes a ordem obteve o seu reconhecimento.

A REGRA PRIMITIVA DOS TEMPLÁRIOS


Esta tradução do original, ou primitiva, Regra dos Templários está baseada na
edição de 1886 de Henri de Curzon, A Regra do Templo como Manual Militar, ou
Como Desempenhar um Posto de Cavalaria. Representa a Regra dada aos recém
originados Cavaleiros do Templo pelo Concílio de Troyes, 1129, embora

“não se deva esquecer que a Ordem já exis a durante vários anos e desenvolvido as suas
próprias tradições e costumes antes da aparição de Hugues de Payens no Concílio de
Troyes. Portanto, até certo ponto, a Regra Primi va é baseada em prá cas já existentes”.

(Upton-Ward, p.11)
AQUI COMEÇA O PRÓLOGO À REGRA DO TEMPLO

1 – Dirigimo-nos, em primeiro lugar, a todos aqueles que com discernimento


rechaçam a sua própria vontade e desejam de todo o coração servir ao seu rei
soberano como cavaleiro; levar com supremo afã, e permanentemente, a mui
nobre armadura da obediência. E, portanto, nós os convidamos a seguir os
escolhidos por Deus entre a massa perdida aos quais propiciou, em virtude da sua
subtil misericórdia, defender a Santa Igreja, e que vós ansiais abraçar para sempre.

2 – Sobre todas as coisas, quem quer ser um cavaleiro de Cristo escolhendo essas
sagradas ordens na sua profissão de fé, deve unir simples diligência e firme
perseverança, que é tão valiosa e sagrada e se revela tão nobre, que se se mantém
impoluta para sempre, merecerá acompanhar os mártires que deram as suas almas
por Cristo Jesus. Nesta ordem religiosa floresceu e se revitaliza a ordem de
cavalaria. A cavalaria, apesar do amor pela justiça que constitui o seu dever, não
cumpriu com os seus deveres para com os pobres, viúvas, órfãos e igrejas
defendendo-os, antes se aparelharam para destruir, despojar e matar. Deus, que
actua conforme para connosco, e o nosso salvador Cristo Jesus, enviou os seus
seguidores, desde a cidade Santa de Jerusalém aos quartéis da França e Borgonha,
para nossa salvação e exemplo da verdadeira fé, pois não cessam de oferecer as
suas vidas por Deus em piedoso sacrifício.

3 – Ante isto nós, em deleite e irmanados, por requerimento do Mestre Hugues


de Payens, por quem a mencionada ordem de cavalaria foi fundada com a graça
do Espírito Santo, nos reunimos em Troyes, dentre as províncias mais além das
montanhas, na festa de São Hilário, no ano da encarnação de Cristo Jesus de 1128,
no nono ano após a fundação da anteriormente mencionada ordem de cavalaria.
Da conduta nos princípios da Ordem de Cavalaria escutamos em capítulo comum
dos lábios do anteriormente citado Mestre, Irmão Hugues de Payens, e de acordo
com as limitações do nosso entendimento, o que nos pareceu correcto e benéfico
elogiamos, e o que nos pareceu erróneo rechaçamos.

4– E tudo o que aconteceu naquele Conselho não pode ser contado nem
recontado e para que não seja tomado por precipitação nossa, senão considerado
com sábia prudência, desejamos a discrição de ambos, o nosso honorável padre o
Senhor Honório e do nobre Patriarca de Jerusalém, Esteban, que conhece os
problemas do Leste e dos Pobres Cavaleiros de Cristo; por conselho do concilio
comum o aprovamos unanimemente. Embora um grande número de padres
religiosos reunidos em capítulo aprovou a veracidade das nossas palavras, não
obstante não devemos silenciar os verdadeiros pronunciamentos e juízos que
emitiram.

5 – Portanto, eu, Jean Michel, a quem foi encomendado e confiado tão divino
serviço, pela graça de Deus, servi de humilde escriba do presente documento por
ordem do conselho e do venerável padre Bernardo, abade de Clairvaux.
O NOME DOS PADRES QUE COMPARECERAM AO CONCÍLIO

6 – Primeiro foi Mateo, bispo de Albano, pela graça de Deus, legado da Santa
Igreja de Roma; R[enaud], arcebispo de Reims; H[enri}, arcebispo de Sens; e os
seus clérigos: G[ocelin], bispo de Soissons; o bispo de Paris; o bispo de Troyes; o
bispo de Orlèans; o bispo de Auxerre; o bispo de Meaux; o bispo de Chalons; o
bispo de Laon; o bispo de Beauvais; o abade de Vèzelay, que posteriormente foi
arcebispo de Lyon e legado da Igreja de Roma; o abade Citeaux; o abade de
Pontigny; o abade de Trois-Fontaines; o abade de St. Denis de Reims; o abade de
St-Etienne de Dijon; o abade de Molesmes; ao anteriormente mencionado
B[ernard], abade de Clairvaux: cujas palavras o anteriormente citado elogiou
abertamente. Também estiveram presentes o mestre Aubri de Reims; mestre
Fulcher e vários outros que seria tedioso mencionar. E dos outros que não se
mencionaram, é importante assentar, neste assunto, de que são amantes da
verdade: eles são o conde Theobald; o conde de Nevers; André de Baudemant.
Estiveram no concílio e actuaram com perfeito e cuidadoso estudo seleccionando
o correcto e descartando o que não lhes parecia justo.

7 – E também estava presente o Irmão Hugues de Payens, Mestre de Cavalaria,


com alguns dos irmãos que o acompanharam. Estes eram Irmão Roland, Irmão
Godefroy, e Irmão Geoffroi Bisot, Irmão Payens de Montdidier, Irmão Archambaut
de Saint-Amand. O próprio Mestre Hugues comos seus seguidores anteriormente
citados, expuseram os costumes e observâncias dos seus humildes começos e um
deles disse: ‘Ego principium qui est loquor vobis’, que significa “Eu que falo a vós
sou o princípio” segundo a minha lembrança pessoal.

8 – Agradou ao concílio ordinário que as deliberações e o estudo das Sagradas


Escrituras, que se examinaram profundamente com a sabedoria de meu senhor
H[onorius], papa da Santa Igreja de Roma, e do Patriarca de Jerusalém, se fizessem
ali em conformidade com o capítulo. Juntos, e de acordo com os Pobres Cavaleiros
de Cristo do Templo que está em Jerusalém, deve-se pôr por escrito e não
esquecido, zelosamente guardado, de tal forma que para uma vida de observância
se possam referir ao seu criador como mais doce que mel e em conformidade com
Deus, cuja piedade parece óleo e nos permite ir a Ele a quem desejamos servir ‘Per
infinita saecula saeculorum. Ámen’.

AQUI COMEÇA A REGRA DOS POBRES CAVALEIROS DO TEMPLO

9 – Vós, os que renunciais à vossa vontade, e vós, os outros, os que servís a um


rei soberano com cavalos e armas para salvação de vossas almas e por tempo
estabelecido, atendereis com desejo virtuoso ao ouvir as matinas e ao serviço
completo, segundo a lei canónica e aos costumes dos mestres da Cidade Santa de
Jerusalém. Oh vós, veneráveis irmãos, que Deus esteja convosco, se prometeis
desprezar o mundo por perpétuo amor a Deus, desterrar as tentações de vosso
corpo, sustentado pelos alimentos de Deus, beber e ser instruído nos
mandamentos de Nosso Senhor, ao final do ofício divino nenhum deve temer
entrar em batalha se, por fim, usais a tonsura.

10 – Mas se qualquer irmão for enviado para o trabalho da casa e pela


Cristandade no Leste – algo que cremos ocorrerá frequentemente – e não puder
ouvir o divino ofício, deverá dizer em lugar das matinas treze pai-nossos; sete por
hora e nove às vésperas. E todos juntos ordenamos que assim o faça. Mas aqueles
que foram enviados e não puderem voltar para assistir ao divino ofício, se lhes for
possível às horas estabelecidas, que não deverão ser omitidas, render a Deus a
sua homenagem.

A FORMA COMO DEVEM SER RECEBIDOS OS IRMÃOS

11 – Se qualquer cavaleiro secular, ou qualquer outro homem, deseja deixar a


massa de perdição e abandonar a vida secular escolhendo a vossa comunidade,
não consintais em recebê-lo imediatamente, porque segundo disse meu Senhor
São Paulo: ‘Probate spiritus si ex Deo sunt’. Que quer dizer: “Prove-lhe a alma para
ver se vem de Deus”. Sem embargo, se a companhia dos seus irmãos lhe deve ser
concedida, deixai que a ele seja lida a Regra, e se deseja explicitamente obedecer
os mandamentos da Regra, e compraz tanto ao Mestre quanto aos irmãos o
receber, deixai-o revelar o seu desejo perante todos os irmãos reunidos em
capítulo e fazer a sua solicitação com coração digno.

SOBRE CAVALEIROS EXCOMUNGADOS

12 – Onde saibais que se concentram cavaleiros excomungados, aí os obrigamos


a ir; e se alguém se deseja unir à ordem de cavalaria proveniente de regiões
distantes, não devereis considerar tanto o valor terrenal como o valor da eterna
salvação da sua alma. Nós ordenamos que seja recebido condicionalmente, que se
apresente perante o bispo da província e o comunique da sua intenção. E, quando
o bispo o houver escutado e absolvido, o enviará ao Mestre e irmãos do Templo,
e se a sua vida for honesta e merecedora da sua companhia, se parece justo ao
Mestre e irmãos, deixai que seja piedosamente recebido; e se morrer durante esse
tempo, pela angústia e tormento que sofreu, deixai que se lhe outorguem todos
os favores da irmandade, dados a cada um dos Pobres Cavaleiros do Templo.

13 – Sob nenhuma outra circunstância deverão os irmãos do Templo


compartilhar da companhia dos indiscutivelmente excomungados, nem que se
fiquem com os seus pertences; e isto deve ser encarecidamente proibido porque
seria terrível que fossem assim mesmo repudiados. Mas, se só lhe foi proibido
escutar o Divino Ofício, é certamente possível permanecer na sua companhia,
assim como ficar com seus pertences, entregando-os à caridade com a permissão
do seu comandante.
SOBRE NÃO ACEITAR MENINOS

14 – Embora a regra dos santos padres permita receber meninos na vida


religiosa, nós o desaconselhamos. Porque aquele que deseje entregar o seu filho
eternamente na ordem de cavalaria deverá educá-lo até que seja capaz de usar as
armas com vigor e liberar a terra dos inimigos de Cristo Jesus. Então, que a sua
mãe e pai o levem à casa e que a sua petição seja conhecida pelos irmãos; e é
muito melhor que não tome os votos quando menino, senão ao ser maior, pois é
conveniente que não se arrependa disso, do que o faça. E em seguida que seja
posto à prova de acordo com a sabedoria do Mestre e irmãos, conforme a
honestidade da sua vida ao solicitar ser admitido na irmandade.

SOBRE OS QUE ESTÃO DEMASIADO TEMPO DE PÉ NA CAPELA

15 – Foi-nos feito saber, e o escutamos de testemunhas presenciais, que de


forma imoderada e sem restrição alguma, vós escutais o divino ofício de pé. Nós
não ordenamos que comportais dessa forma, ao contrário o desaprovamos.
Dispomos que, tanto os fortes quanto os debilitados, para evitar desordens,
cantem o salmo chamado Venite com a invitatória e o hino sentados, e digam as
suas orações em silêncio, em voz baixa não vociferando, para não perturbar as
orações dos outros irmãos.

16 – Mas ao final dos salmos, quando se canta o ‘Gloria Patri’ em reverência à


Santíssima Trindade, vos poreis de pé e vos inclinareis frente ao altar, enquanto
os debilitados ou enfermos só inclinarão a cabeça. Portanto, mandamos que,
quando a explicação dos Evangelhos seja lida, e se cante o ‘Te Deum laudamus’, e
enquanto se cantem os louvores, e as matinas terminam, vós estejais de pé. Desta
mesma forma determinamos que permaneceis de pé durante as matinas e em
todas as horas de Nossa Senhora.

SOBRE A VESTIMENTA DOS IRMÃOS

17 – Dispomos que todos os hábitos dos irmãos sejam de uma só cor, quer seja
branco, negro ou marrom. E sugerimos que tanto no Inverno como no Verão, se
for possível, usem capas brancas; e a ninguém que não pertença à mencionada
cavalaria de Cristo lhe será permitido ter uma capa branca para que aqueles que
hajam abandonado a vida em obscuridade se reconheçam uns aos outros como
seres reconciliados com o seu criador pelo símbolo dos seus hábitos brancos: que
significa pureza e completa castidade. A Castidade é certeza no coração e saúde
no corpo. Porque se um irmão não toma votos de castidade não pode aceder ao
eterno descanso nem ver a Deus, pela promessa do apóstolo que disse: ‘sectamini
cum omnibus et castimoniam sine qua nemo Deum videbit’. Que significa: “Luta para
levar a paz a todos, mantem-te casto, sem o qual ninguém pode ver a Deus”.
18 – Mas essas vestimentas dever-se-ão manter sem riquezas e sem nenhum
símbolo de orgulho. E assim, nós exigimos que nenhum irmão use pele nas suas
vestimentas, nem qualquer outra coisa que não pertença ao uso do corpo, nem
tão sequer uma manta que não seja de lã ou cordeiro. Concordamos em que todos
tenham o mesmo, de tal forma que possam se vestir e se despir, e por e tirar as
botas com facilidade. E o alfaiate, ou quem faça as suas funções, deverá se mostrar
minucioso e cuidar que se mantenha a aprovação de Deus em todas as coisas
mencionadas, para que os olhos dos invejosos e mal intencionados não possam
observar que as vestimentas sejam demasiado compridas ou curtas; deverá
distribuí-las de tal maneira que sejam da medida de quem as há de usar, segundo
a corpulência de cada um.

19 – E se algum por orgulho ou arrogância deseja ter para ele um melhor e mais
fino hábito, dai-lhe o pior. E aqueles que recebam vestimentas novas deverão
imediatamente devolver as velhas para que sejam entregues a escudeiros e
sargentos, e com frequência aos pobres, segundo o que considere conveniente o
encarregado desse mister.

SOBRE AS CAMISAS

20 – Entre outros assuntos sobre os que regulamos, devido ao intenso calor


existente no Leste, desde a Páscoa até Todos os Santos, graças à compaixão e de
nenhuma forma como de direito, uma camisa de linho será entregue ao irmão que
assim o solicite.

SOBRE A ROUPA DE CAMA

21 – Ordenamos por unanimidade que cada homem tenha a roupa e lençóis de


acordo com o juízo do seu Mestre. É nosso propósito que um colchão, um
almofadão e uma colcha são suficientes para cada um; e àquele que lhe falte um
desses pode usar uma coberta e uma colcha de linho que seja sempre de fio fino,
e dormirão sempre vestidos com camisa e calça, sapatos e cinturões, e onde
repousem deverá sempre haver uma luz acesa até a manhã. E o Alfaiate assegurar-
se-á que os irmãos estejam tão bem tonsurados que possam ser examinados tanto
de frente como de costas; e nós ordenamos que vós adirais a essa mesma conduta
no tocante a barbas e bigodes para que nenhum excesso se mostre nos seus
corpos.

SOBRE SAPATOS PONTIAGUDOS E CADARÇOS

22 – Proibimos os sapatos pontiagudos e os cadarços e condenamos que um


irmão os usem; nem os permitimos àqueles que servem na casa por tempo
determinado; melhor, proibimos que os usem em qualquer circunstância. Porque
é manifesto e bem sabido que essas coisas abomináveis pertencem aos pagãos.
Também não deverão usar nem o cabelo nem o hábito demasiado compridos.
Porque aqueles que servem ao soberano Criador devem surgir da necessidade
dentro e fora mediante a promessa do próprio Deus que disse: ‘Estote mundi quia
ego mundus sum’. Que quer dizer: “Nasça como eu nasço”.

COMO DEVEM COMER

23 – No palácio, ou o que se deveria chamar refeitório, devereis comer juntos.


Porém, se estais necessitado de algo, pois não estais acostumados aos utilizados
pelos religiosos, em voz baixa e em particular devereis pedir o que necessitais na
mesa com toda a humildade e submissão. Porque o Apóstolo disse: ‘Manduca
panem tuo cum silentio’. Que significa: “Come teu pão em silêncio”. E o Salmista:
‘Posui ore meo custodiam’. Que quer dizer: “Eu reprimi a minha língua”. Que
significa que “Eu creio que a minha língua me trairia” o que vem a ser “Calei para
não falar mal”.

24 – Sobre a Leitura da Lição 24. Sempre, durante a refeição e ceia no convento,


que se leiam as Sagradas Escrituras, se isso for possível. Se amamos a Deus, as
suas Santas palavras e os seus Santos Mandamentos desejaremos escutar
atentamente; e o leitor do texto exigirá silêncio antes de começar a ler.

SOBRE RECIPIENTES E CÁLICES

25 – Devido à escassez de recipientes os irmãos comerão aos pares, de tal forma


que um possa observar de mais perto o outro para que nem a austeridade nem a
abstinência em segredo sejam introduzidas na refeição da comunidade. E nos
parece justo que cada irmão tenha a mesma quantidade de vinho na sua taça.

SOBRE COMER CARNE

26 – Deverá ser suficiente comer carne três vezes por semana, excepto no Natal,
Todos os Santos, Assunção e na festividade dos doze apóstolos. Porque se
entende que o costume de comer carne corrompe o corpo. Porém, se num jejum
em que se deve suprimir a carne cair numa terça-feira, no dia seguinte será dada
uma grande porção aos irmãos. E nos Domingos todos os irmãos do Templo, os
capelães e clérigos receberão dois ágapes de carne em honra à santa ressurreição
de Cristo Jesus. E os demais da casa, que inclui os escudeiros e sargentos, dever-
se-ão contentar com uma refeição e ser agradecidos ao Senhor por ela.

SOBRE AS REFEIÇÕES DURANTE A SEMANA

27 – Sobre os outros dias da semana, que são segunda-feira, quarta-feira e


inclusive Sábados, os irmãos tenham duas ou três refeições de vegetais ou outros
pratos comidos com pão; e nós cremos que seja suficiente e ordenamos que assim
seja, de tal maneira que aquele que não comer numa refeição o faça na outra.
SOBRE A REFEIÇÃO DE SEXTA-FEIRA

28 – Às Sextas-feiras, que se ofereça à toda a congregação refeição quaresmal,


oriunda da reverência pela paixão de Cristo Jesus; e fareis abstinência desde a
festividade de Todos os Santos até a Páscoa, excepto no dia de Natal, da Assunção
e da festividade dos doze apóstolos. Porém, os irmãos debilitados ou enfermos
não deverão ser obrigados a isso. Desde a Páscoa até a festa de Todos os Santos
podem comer duas vezes, conquanto não seja abstinência geral.

SOBRE DAR GRAÇAS

29 – Sempre depois de cada refeição ou ceia todos os irmãos deverão dar graças
a Deus na igreja e em silêncio se essa se encontra no lugar onde fazem a refeição,
e se não estiver no mesmo lugar onde hajam tomado a refeição, com humildade
deverão dar graças a Cristo Jesus, que é o Senhor que Provê. Deixai que os
pedaços de pão rompido sejam dados aos pobres, e os que estejam em rodelas
inteiras sejam guardados. Embora a recompensa dos pobres seja o reino dos céus,
oferecer-se-á aos pobres sem qualquer dúvida, e a fé Cristã os reconhecerá entre
os seus; portanto, concordemos que uma décima parte do pão seja entregue a
vosso Esmoleiro.

SOBRE A MERENDA

30 – Quando cai o sol e começa a noite escutais o sinal do sino ou a chamada à


oração, segundo os costumes do país, e acudis todos ao capítulo. Porém, dispomos
que primeiro merendeis, se bem que deixamos a tomada desse refrigério ao
arbítrio e discrição do Mestre. Quando quiserdes água ou ordenais, por caridade,
vinho aguado, que se lhes dê com comedimento. Certamente, não deverá ser em
excesso, senão com moderação. Porque Salomão disse: ‘Quia vinunfacit apostatare
sapientes’. Que quer dizer: “que o vinho corrompe os sábios”.

SOBRE SE MANTER EM SILÊNCIO

31 – Quando os irmãos saírem do capítulo não devem falar abertamente,


excepto numa emergência. Deixai que cada um vá para a sua cama tranquilo e em
silêncio, e se necessita falar ao seu escudeiro, deverá dizer em voz baixa. Mas, se
por casualidade, à saída do capítulo, a cavalaria ou a casa tem um sério problema
que deve ser resolvido antes da manhã, entendemos que o Mestre ou o grupo de
irmãos maiores que governam a Ordem pelo Mestre, podem falar
apropriadamente. E por esta razão obrigamos que seja feita desta maneira.

32 – Porque está escrito: ‘In multiloquio non effugies peccatum’. Que quer dizer:
“O falar em demasia não está livre de pecado”. E em algum outro lugar: ‘Mors et
vita in manibus lingue’. Que significa: “A vida e a morte estão sob o poder da
língua”. E dentro deste entendimento nós conjuntamente proibimos palavras vãs
e ataques estrondosos de riso. E se algo se disse durante essa conversa que não
deveria ter sido dito, ordenamos que ao recostar-vos rezeis um pai-nosso com
bastante humildade e sincera devoção.

SOBRE OS IRMÃOS CONVALESCENTES

33 – Os irmãos que, devido aos trabalhos da casa, padeçam de enfermidade,


podem levantar-se às matinas com o consentimento e permissão do Mestre ou
daqueles que se encarreguem desse mister. Deverão dizer em lugar das matinas
treze pai-nossos, assim fica estabelecido, de tal forma e maneira que as suas
palavras reflictam o seu coração. Assim o disse David: ‘Psallite sapienter’. Que
significa: “Canta com sabedoria”. E igualmente disse David: ‘In conspectu
Angelorum psallam tibi’. Que significa: “Eu cantarei para ti ante os anjos”. E deixai
que isso seja sempre assim e à discrição do Mestre ou daqueles encarregados de
tal mister.

SOBRE A VIDA EM COMUNIDADE

34 – Lemos nas Sagradas Escrituras: ‘Dividebatur singulis prout cuique opus erat’.
Que significa: “A cada um lhe será dado segundo a sua necessidade”. Por essa
razão nós decidimos que nenhum estará acima de vós, senão que todos cuidareis
dos enfermos; e aquele que está menos enfermo dará graças a Deus e não se
preocupará; e permitireis que aquele que estiver pior se humilhe mediante a sua
debilidade e não se orgulhe pela piedade. Desse modo todos os membros viverão
em paz. E proibimos a todos que abracem a excessiva abstinência, antes que
firmemente mantenham a vida em comunidade.

SOBRE O MESTRE

35 – O Mestre pode, a quem lhe apraza, entregar o cavalo e a armadura e o que


deseje de outro irmão, e o irmão cuja coisa pertencia não se sentirá vexado nem
aborrecido: por que se se aborrece irá contra Deus.

SOBRE DAR CONSELHOS

36 – Permitir só àqueles irmãos que o Mestre reconhece que darão sábios e bons
conselhos sejam chamados para a reunião; e assim os ordenamos, e que de
nenhuma outra forma alguém possa ser escolhido. Porque quando ocorrer que se
deseje tratar de matérias serias como a entrega de terra comunal, ou falar dos
assuntos da casa, ou receber a um irmão, então, se o Mestre o desejar, ser
apropriado reunir a congregação inteira para escutar o conselho de todo o
capítulo; e o que considere o Mestre melhor e mais benéfico, deixar que assim se
faça.
SOBRE OS IRMÃOS ENVIADOS AO ULTRAMAR

37 – Os Irmãos que sejam enviados a diversos países do mundo deverão


observar os mandatos da Regra segundo a sua habilidade e viver sem
desaprovação no que diz respeito a carne e o vinho, etc., para que recebam elogios
de estranhos e não macular por feitos e palavras os preceitos da Ordem, e para
ser um exemplo de boas obras e sabedoria; acima de tudo, para que aqueles com
os quais se associem e em cuja pousadas repousem, sejam recebidos com honra.
E a ser possível, a casa onde durmam e se hospedem que não fique sem luz
durante a noite, para que os tenebrosos inimigos não os conduzam à maldade,
dado que Deus assim o proíbe.

SOBRE MANTER A PAZ

38 – Cada irmão deve assegurar-se de não incitar outro à ira ou aborrecimento,


porque a soberana piedade de Deus vê o irmão forte de forma igual que a um
debilitado, em nome da Caridade.

COMO DEVEM ACTUAR OS IRMÃOS

39 – A fim de levar a cabo os seus santos deveres, merecer a Glória do Senhor e


escapar do temível fogo do inferno, é concorde que todos os irmãos professos
obedeçam estritamente ao seu Mestre. Porque nada é mais agradável a Cristo
Jesus que a obediência. Por esta razão, tão logo seja ordenado pelo Mestre ou em
quem haja delegado a sua autoridade, deverá ser obedecido sem dilação como se
o Cristo o tivesse imposto. Por isso Cristo Jesus pela boca de David disse e é certo:
‘Ob auditu auris obdevit mihi’. Que quer dizer: “Obedeceu-me tão pronto me
escutou”.

40 – Por esta razão rezamos e firmemente damos como ditame aos irmãos
cavaleiros que abandonaram a sua ambição pessoal e a todos aqueles que servem
por um período determinado, a não sair por povoados ou cidades sem a permissão
do Mestre ou de quem o haja delegado, excepto pela noite ao Sepulcro e outros
lugares de oração dentro dos muros da cidade de Jerusalém.

41 – Lá, os irmãos irão aos pares, e de outra forma não poderão sair nem de dia
nem de noite; e quando se detiverem numa pousada, nenhum irmão, escudeiro ou
sargento pode acudir aos aposentos de outro para vê-lo ou falar com ele sem
permissão, tal como foi dito. Ordenamos, por unânime consentimento, que nesta
Ordem regida por Deus, nenhum irmão deverá lutar ou descansar segundo a sua
vontade, senão seguindo as ordens do Mestre, a quem todos se devem submeter,
para que sigam as indicações de Cristo Jesus, que disse: ‘Non veni facere voluntatem
meam, sed ejus qui meset me Patris’. Que significa: “Eu não vim para fazer a minha
própria vontade, senão a vontade de meu pai, quem me enviou”.
COMO DEVEM POSSUIR E INTERCAMBIAR

42 – Sem a permissão do Mestre ou de quem em seu lugar ostente o cargo, que


nenhum irmão intercambie coisa alguma com outro, nem mesmo peça, a menos
que seja de escasso valor ou nulo.

SOBRE FECHOS

43 – Sem permissão do Mestre ou quem o represente, nenhum irmão terá uma


bolsa ou sacola que possa ser fechada; mas os directores de casas ou províncias e
o Mestre não observarão isso. Sem o consentimento do Mestre ou o seu
comandante, que nenhum irmão tenha carta dos seus parentes ou outras pessoas;
mas se tem permissão, e assim o quer o Mestre ou comandante, essas cartas
podem ser lidas.

SOBRE PRESENTES DE LEIGOS

44 – Se algo que não se pode conservar, como a carne, for presenteado em


agradecimento a um irmão por um leigo, este o apresentará ao Mestre ou ao
Comandante de géneros alimentícios. Porém se ocorre que algum dos seus amigos
ou parentes deseje presentear só a ele, que não se aceite sem a permissão do
Mestre ou seu delegado. E mais, se o irmão recebe qualquer outra coisa dos seus
parentes, que não o aceite sem permissão do Mestre ou de quem ostenta o cargo.
Especificamos que os comandantes ou mordomos, que estão a cargo desses
ofícios, que não se atenham à citada regra.

SOBRE FALTAS

45 – Se algum irmão, falando ou em tropa indisciplinada, ou de algum outro modo


comete um pecado venial, deverá voluntariamente dize-lo ao Mestre para se
redimir com o coração limpo. Se não se costuma a se redimir desse modo, que
receba uma penitência leve, mas se a falta é muito séria, que se alije da companhia
dos seus irmãos de tal forma que não coma nem beba na mesa com eles, senão
sozinho; e submeter-se-á à piedade e juízo do Mestre e irmãos, para que seja salvo
do Juízo Final.

SOBRE FALTAS GRAVES

46 – Acima de tudo, devemos assegurar-nos que nenhum irmão, poderoso ou


não, forte ou debilitado, que deseje promover gradualmente reivindicações
orgulhosas, que defenda o seu próprio crime e permaneça sem castigo. Porém, se
não quiser se submeter por isso, que receba um castigo maior. E se misericordiosas
orações do conselho se rezam por ele a Deus, e ele não quiser se emendar, senão
que se orgulha mais e mais disso, que seja erradicado do rebanho piedoso,
segundo o que o apóstolo disse: ‘Auferte malum ex vobis’. Que quer dizer: “Aparta
os malvados dentre os teus”. É necessário para vós separar as ovelhas perversas
da companhia dos irmãos piedosos.

47 – E mais, o Mestre, que deve levar nas suas mãos o báculo – e bastão de
mando que sustenta as debilidades e fortaleza dos demais, dever-se-á ocupar
disso. Mas também, como meu senhor St. Máxime disse: “Que a misericórdia não
seja maior que a falta, nem que o excessivo castigo conduza o pecador a regressar
às suas más acções”.

SOBRE A MALEDICÊNCIA

48 – Mandamos, por divino conselho, o evitar as pragas da inveja, maledicência,


despeito e calúnia. Portanto, cada um deve guardar zelosamente o que o apóstolo
disse: ‘No sis criminator et susurro in populu’. Que significa: “Não acuses ou
prejudique o povo de Deus”. Mas quando um irmão saiba com certeza que o seu
companheiro pecou, em privado e com fraternal misericórdia, que seja ele mesmo
quem o admoeste secretamente, e, se não quiser escutar, outro irmão deverá ser
chamado, e se os recusa a ambos, deverão dizê-lo publicamente perante o
capítulo. Aqueles que depreciam os seus semelhantes sofrem de terrível cegueira
e muitos estão cheios de grande tristeza já que não desarraigam a inveja que
sentem dos outros; e por isso, serão arremessados para a imemorável
perversidade do demónio.

QUE NINGUÉM SE ORGULHE DAS SUAS FALTAS

49 – As palavras vãs se sabe serem pecaminosas, e as dizem aqueles que se


orgulham do seu próprio pecado frente ao justo juiz Cristo Jesus, o que fica
demonstrado pelas palavras de David: ‘Obmutui est silui a bonis’. Que significa:
“Deveria inclusive refrear-se de falar bem e observar o silêncio”. Também prevenis
falar mal para evitar a desgraça do pecado. Ordenamos e firmemente proibimos
que um irmão conte a outro irmão, ou a qualquer outro, as acções de valentia que
desempenhou na sua vida secular e os prazeres da carne que manteve com
mulheres imorais. Deverão ser consideradas faltas cometidas durante a sua vida
anterior e se sabe que foi expressa por algum outro irmão, deverá silenciá-lo
imediatamente; e se não consegue, abandonará o lugar sem permitir que o seu
coração seja maculado por essas palavras.

QUE NINGUÉM PEÇA

50 – A este costume, entre outros, ordenamos que adoptais firmemente: que


nenhum irmão explicitamente peça o cavalo ou a armadura de outro. Será feito da
seguinte maneira: se a enfermidade de um irmão ou a fragilidade dos seus animais
ou a armadura for conhecida e portanto não puder fazer o trabalho da casa sem
perigo, que vá ao Mestre e exponha a situação a respeito, solicite fé e fraternidade,
e se atenha à disposição do Mestre ou de quem ostente o seu cargo.

SOBRE ANIMAIS E ESCUDEIROS

51 – Cada irmão pode ter três cavalos e nenhum mais sem a permissão do Mestre
devido a grande pobreza que existe na actualidade na casa de Deus e no Templo
de Salomão. A cada irmão permitimos três cavalos e um escudeiro; e se este último
serve por caridade, o irmão não deveria castigá-lo pelos pecados que cometa.

QUE NENHUM IRMÃO POSSA TER UM BRIDÃO ORNADO

52 – Nós proibimos enfaticamente a qualquer irmão que lustre o ouro ou prata


dos seus bridões, estribos e esporas. Isto se aplica se forem comprados. Porém, se
forem presenteados por caridade, os arreios de prata e o ouro, que fiquem tão
velhos que não reluzam, que a sua beleza não possa ser vista por outros nem ser
sinal de orgulho; então poder-se-á ficar com eles. Porém, se são presenteados
novos, que seja o Mestre quem disponha deles como creia oportuno.

SOBRE ALJAVAS DE LANÇA

53 – Que nenhum irmão traga uma aljava nem para a sua lança nem para seu o
escudo, pois não traz nenhum benefício, ao contrário, pode ser muito prejudicial.

SOBRE BOLSAS DE COMIDA

54 – Este mandato que estabelecemos é conveniente para todos e por esta razão
exigimos seja observado de agora em diante, e que nenhum irmão possa portar
uma bolsa para comida de linho ou lã, ou de qualquer outro material que não seja
de “profinel”.

SOBRE A CAÇA

55 – Proibimos colectivamente. Que nenhum irmão cace uma ave com outra.
Não é adequado para um religioso sucumbir aos prazeres, senão escutar
voluntariamente os mandamentos de Deus, estar frequentemente orando e
confessar diariamente implorando a Deus nas suas orações o perdão dos pecados
que haja cometido. Nenhum irmão pode ter a presunção de ser um homem que
caça uma ave com outra. Ao contrário, é apropriado para um religioso agir de
modo simples e humildemente, sem rir e falar em demasia, com ponderação e sem
levantar a voz. E por esta razão dispomos especialmente a todos os irmãos que
não adentrem os bosques com lanças nem arcos para caçar animais, nem que o
façam em companhia de caçadores, excepto movidos pelo amor de preservá-los
dos pagãos infiéis. Nem devereis ir com cachorros, nem gritar, nem conversar, nem
esporear vosso cavalo só pelo desejo de capturar um animal selvagem.

SOBRE O LEÃO

56 – É verdade que haveis entregue vossas almas por vossos irmãos, tal como o
fez Cristo Jesus, e defender a terra dos incrédulos pagãos, inimigos do filho da
Virgem Maria. Esta célebre proibição de caça não inclui de forma alguma o leão.
Dado que vem sorrateiro e envolvente para capturar a sua presa com as suas
garras contra o homem, ide com as vossas mãos contra ele.

COMO PODEM TER PROPRIEDADES E HOMENS

57 – Esta bondosa nova ordem a cremos emanar das Sagradas Escrituras e da


divina providência na Sagrada Terra do Leste. O que significa que esta companhia
armada de cavaleiros pode matar os inimigos da cruz sem pecar. Por esta razão
julgamos que deveis ser chamados Cavaleiros do Templo, com o duplo mérito e o
garbo da honestidade; que podeis possuir terras e mantê-las, vilarejos e campos e
os governais com justiça, e imponhais vosso direito tal e como está
especificamente estabelecido.

SOBRE OS DÍZIMOS

58 – Vós haveis abandonado as sedutoras riquezas deste mundo e vos haveis


submetido voluntariamente à pobreza; e por isso resolvemos que vós que viveis
em comunidade possais receber dízimos. Se o bispo da localidade, a quem o dízimo
deveria ser entregue por direito, deseja dá-lo por caridade com o consentimento
do capítulo, pode doar esses dízimos que possui sua igreja. E mais, se um plebeu
guarda os dízimos do seu património para si, em desfavor da igreja, e deseja cede-
los a vós, o podeis aceitar com a permissão do prelado e o seu capítulo.

SOBRE FAZER JUÍZOS

59 – Sabemos, já que o vimos, que os perseguidores e amantes de lutas e


dedicados cruelmente a atormentar os fiéis da Sagrada Igreja e os seus amigos,
são incontáveis. Pelo claro juízo do conselho, ordenamos que se alguém, nos
lugares do Leste ou em qualquer outro sítio, os solicita parecer, porque crentes e
amantes da verdade, deveis julgar o facto se a outra parte concorda. Este mesmo
mandato se aplicará sempre que algo lhes seja roubado.

SOBRE OS IRMÃOS IDOSOS

60 – Dispomos, por se tratar de um conselho compassivo, que os irmãos idosos


e debilitados sejam honrados com diligência e recebam a atenção de acordo com
a sua fragilidade, e cuidados pela autoridade naqueles ofícios necessários para seu
bem-estar físico, e que de forma alguma se sintam aflitos.

SOBRE OS IRMÃOS ENFERMOS

61 – Que os irmãos enfermos recebam a consideração e os cuidados e sejam


servidos segundo os ensinamentos do evangelista e de Cristo Jesus: ‘Infirmus fui
et visitastis me’. Que significa: “Estive enfermo e visitastes”, e que isso não seja
esquecido. Porque aqueles irmãos que estão doentes deverão ser tratados com
doçura e cuidado, porque por tal serviço, levado a cabo sem titubear, ganhareis o
reino dos céus. Portanto, pedimos ao Enfermeiro que sábia e fervorosamente
proveja o necessário aos diversos irmãos enfermos, como carne, legumes, aves e
outros manjares, que o devolvam à saúde, segundo os meios e possibilidades da
casa.

SOBRE OS IRMÃOS FALECIDOS

62 – Quando um irmão passar da vida à morte, algo de que ninguém está


excluído, digais missa por sua alma com misericordioso coração, e que o divino
ofício seja executado pelos curas que servem ao rei. Vós que servis a caridade por
um tempo determinado e todos os irmãos que estiverem presentes frente ao
cadáver rezareis cem pai-nossos durante os sete dias seguintes. E todos os irmãos
que estão sob a ordem da casa do irmão falecido, depois de tomarem
conhecimento da morte, rezarão os cem pai-nossos, como se falou anteriormente,
pela misericórdia de Deus. Também pedimos e rogamos, por nossa autoridade
pastoral, que um mendigo seja alimentado com carne e vinho durante quarenta
dias em memória do finado irmão, tal como o fizesse se estivesse vivo. Nós
explicitamente proibimos todos os anteriores oferecimentos que costumavam
fazer por vontade própria e sem sensatez os Pobres Cavaleiros do Templo frente
a morte de irmãos na celebração da Páscoa ou outras festas.

63 – E mais, deveis professar vossa fé com pureza de coração de dia e de noite


para que se possam comparar, nesse aspecto, com o mais sábio dos profetas, que
disse: ‘Calicem salutaris accipiam’. Que quer dizer: “Eu beberei do cálice da
salvação”. O que significa: “Vingarei a morte de Cristo com a minha morte. Porque
da mesma maneira que Cristo Jesus deu o seu corpo por mim, da mesma forma
estou preparado para dar a minha alma por meus irmãos”. esta é uma oferenda
apropriada, um sacrifício vivente e do agrado de Deus.

SOBRE OS SACERDOTES E CLÉRIGOS QUE SERVEM A CARIDADE

64 – A totalidade do concílio em conselho os ordena prestar oferendas e todas


as classes de esmola, sem importar o modo que possam ser dadas, aos capelães e
clérigos e aos demais na caridade por um tempo determinado. Seguindo os
mandatos de Deus nosso Senhor, os que servem a Igreja só podem receber roupa
e comida, e não podem ter a presunção de possuir nada, a menos que o Mestre
deseje dar-lhes por caridade.

SOBRE OS CAVALEIROS SECULARES

65 – Aqueles que por piedade servem e permanecem convosco por um tempo


determinado são cavaleiros da casa de Deus e do Templo de Salomão. Portanto,
com piedade rezamos e assim dispomos finalmente que se durante a sua
permanência o poder de Deus se manifesta a algum deles, por amor a Deus e
próprio da fraternal misericórdia, um mendigo seja alimentado durante sete dias
para a salvação da sua alma, e cada irmão nessa casa deverá rezar trinta pai-
nossos.

SOBRE OS CAVALEIROS SECULARES QUE SERVEM POR TEMPO


DETERMINADO

66 – Ordenamos que todos os cavaleiros seculares que desejem com pureza de


coração servir a Cristo Jesus e à casa do Templo de Salomão por um período
determinado, que adquiram, cumprindo a norma, um cavalo e armas adequadas e
tudo o necessário para a tarefa. E mais, que ambas as partes dêem um preço ao
cavalo e que esse preço fique por escrito para não ser esquecido, e deixai que
tudo o que o cavaleiro, seu escudeiro e o seu cavalo necessitem provenha da
caridade fraterna segundo os meios da casa. Se durante esse tempo determinado
ocorrer que o cavalo morra a serviço da casa, se a casa o puder custear, o Mestre
o responderá. Se ao final da sua permanência o cavaleiro deseja regressar ao seu
país, deverá deixar na casa, por caridade, a metade do preço do cavalo e a outra
metade pode, se o desejar, recebe-la das esmolas da casa.

SOBRE A PROMESSA DOS SARGENTOS

67 – Dado que os escudeiros e sargentos que desejam caritativamente servir na


casa do Templo pela salvação da sua alma e por um período determinado venham
de regiões muito diversas, é prudente que as suas promessas sejam recebidas para
que o inimigo invejoso não os faça se arrepender e renunciar às suas boas
intenções.

SOBRE AS CAPAS BRANCAS

68 – Por unânime consenso da totalidade do capítulo, proibimos e ordenamos a


expulsão, por vicioso, a qualquer que sem discrição haja estado na casa de Deus e
dos Cavaleiros do Templo. Também, que os sargentos e escudeiros não tenham
hábitos brancos, dado que esse costume trouxe grande desonra à casa, pois nas
regiões além das montanhas falsos irmãos, homens casados e outros, que fingiam
ser irmãos do Templo, as usaram para jurar sobre elas sobre assuntos mundanos.
Trouxeram tanta vergonha e prejuízo à Ordem de Cavalaria que até os seus
escudeiros riram; e por esta razão sugiram muitos escândalos. Portanto, que se
lhes entregue hábitos negros, mas se esses não se pode encontrar, dever-lhes-á
ser dado o que se encontre nessa província ou que seja mais económico que o
burel.

Sobre irmãos Casados

69 – Se homens casados pedirem para ser admitidos na fraternidade, prestar


favores e ser devotos da casa, permitimos que os recebais sob as seguintes
condições; ao morrer deverão deixar uma parte das suas propriedades e tudo que
tiverem obtido desde o dia do seu ingresso. Durante a sua permanência, deverão
levar uma vida honesta e se comprometerem a agir em favor dos seus irmãos,
porém, não deverão levar hábitos brancos nem mandil. E mais, se o senhor falecer
antes da sua esposa, os irmãos ficarão só com uma parte dos seus bens, deixando
para a dama o resto a fim de que possa viver sozinha durante o resto da sua
existência, posto que não é correcto perante nós, que ela viva como confrade
numa casa junto a irmãos que prometeram castidade a Deus.

Sobre Irmãs

70 – A companhia das mulheres é assunto perigoso porque por sua culpa o


experimentado diabo desencaminhou a muitos do recto caminho do Paraíso.
Portanto, que as mulheres não sejam admitidas como irmãs na casa do Templo.
Por isso, queridos irmãos, que não consideramos apropriado seguir esse costume
para que a flor da castidade permaneça sempre impoluta entre vós.

Que não tenham intimidades com mulheres

71 – Cremos imprudente para um religioso olhar muito o rosto de uma mulher.


Por esta razão ninguém se deve atrever a beijar uma mulher, seja viúva, menina,
mãe, irmã, tia ou outro qualquer parentesco, e recomendamos que a cavalaria de
Cristo Jesus evite a todo custo os abraços de mulheres, pelos quais muitos homens
pereceram, para que se mantenham eternamente perante Deus com a consciência
pura e a vida inviolável.

Não ser Padrinhos

72 – Proibimos que os irmãos, de agora em diante, levem crianças à pia


baptismal. Ninguém se deverá envergonhar de recusar a ser padrinho ou
madrinha, já que esta vergonha traz consigo mais glória que pecado.

Sobre os Mandatos

73 – Todos os mandatos que se mencionaram e escreveram aqui nesta presente


Regra estão sujeitos ao juízo do Mestre.
Estes são os Dias Festivos e de Jejum que todos os Irmãos devem Celebrar e
Observar

74 – Que saibam todos os presentes e futuros irmãos do templo que devem


jejuar nas vigílias dos doze apóstolos, que são: São Pedro, São Paulo, Santo André,
São Thiago, São Felipe, São Tomé, São Bartolomeu, São Simão, São Judas Tadeu,
São Mateus. A vigília de São João Batista, a vigília da Ascensão e os dois dias
anteriores, os dias de rogativas, a vigília de Pentecostes, as quatro Têmporas, a
vigília de São Lourenço, a vigília de Nossa Senhora da Ascensão, a vigília de Todos
os Santos, a Vigília da Epifania. E deverão jejuar em tosos os dias citados segundo
disposição do Papa Inocêncio no Concílio da cidade de Pisa. E se alguns dos dias
de jejum cai numa Segunda-feira, deverão jejuar no Sábado anterior. Se o Natal
de Nosso Senhor cai numa Sexta-feira, os irmãos comerão carne em honra da
festa, mas deverão jejuar no dia de São Marcos devido às Litanias, porque assim
foi estabelecido por Roma para os homens mortais. Não obstante, se cai durante
a oitava da Páscoa, não deverão jejuar.

Estes são os Dias de Jejum que deverão ser observados na Casa do Templo

75 – Natal de Nosso Senhor; a festa de Santo Estevão; São João Evangelista; os


Santos Inocentes; o oitavo dia depois do Natal, que é o dia de Ano Novo; a
Epifania; Santa Maria Candelária; São Matias Apóstolo; a Anunciação de Nossa
Senhora em Março; Páscoa e os três dias seguintes ao dia de São Jorge; os Santos
Felipe e Thiago, dois apóstolos; o encontro da Vera Cruz; a Ascensão do Senhor;
Pentecostes e os seguintes: São João Batista; São Pedro e São Paulo, dois
apóstolos; Sant Maria Madalena; São Thiago Apóstolo; São Lourenço; a Ascensão
de Nossa Senhora; a natividade de Nossa Senhora; a Exaltação da Cruz; São
Mateus Apóstolo, São Miguel; Os Santos Simão e Judas; a festa de Todos os
Santos; São Martinho no Inverno; Santa Catarina no Inverno; Santo André; São
Nicolau no Inverno; São Tomé Apóstolo.

76 – Nenhuma das festas menor se deve observar na casa do Templo e


desejamos e aconselhamos que se cumpra estritamente: todos os irmãos do
Templo deverão jejuar desde o Domingo anterior a São Martinho até o Natal de
Nosso Senhor, a menos que a enfermidade o impeça. Se ocorrer que a festa de
São Martinho caia num Domingo, os irmãos não comeram carne no Domingo
anterior.

Bernardo de Claraval

Tradução de Monserrat Robrenyo, Barcelona, 2000. Tradução de Judith Upton-


Ward.

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