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LODOS, Elcio. 21 dias no lugar secreto. 2016.

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Visite também: www.ihopkc.org/portugues.
Desenvolvendo um Novo Hábito
de Encontrar-se Com Jesus Todos os Dias.

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4
Para Jackie,

Por quem meu amor e paixão continua crescendo a


cada dia. Você, mais do que qualquer outra pessoa me fez
ver Jesus em Cantares.

Ao participar da sua jornada e dos seus encontros


com Jesus no lugar secreto, tenho sido profundamente toca-
do para perseverar na minha própria jornada em direção ao
amado da nossa Alma!

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SUMÁRIO

1 – INICIANDO UMA NOVA JORNADA.........09

1. Formação de Novos Hábitos


2. Mergulhando Em uma Jornada
de profundidade

2 – JORNADA DA ALMA....................................13

1. Estradas e Caminhos
A. A trilha da quietude
B. O caminho da meditação

3 – ADICIONANDO JEJUM...............................25

1. Um Novo Paradigma para Jejum


2. Jejum da Noiva

4 – JORNADA DA ALMA EM CANTARES.....29

1. Linguagem Divina
2. Linguajem para relacionamento de alma
3. Interpretação Espiritual
4. Aplicação Pessoal

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21 Dias

5 - OLHANDO COM MAIS


PROFUNDIDADE INTERPRETAÇÃO
ESPIRITUAL.........................................................43

1. Origem da Interpretação Alegórica


2. Origines
3. A legitimidade da Interpretação Alegórica de
Cantares

6 – DIREÇÃO PRÁTICA PARA


MEDITAÇÃO........................................................65

1. Definindo Meditação
2 Princípios para meditação Bíblica
3 Tipos de Meditação

PARTE II
PROGRAMA DIÁRIO DE 21 DIAS
DE MEDITAÇÃO EM CANTARES...................75

8
21 Dias

INICIANDO
UMA NOVA JORNADA

Desde que Daniel relatou seu período de consagra-


ção de 21 dias (Dn.10), com o resultado de uma tremenda
visitação angelical e da revelação da sua última grande vi-
são profética, que se aplica ao final dos tempos, a prática de
21 dias de consagração tornou-se comum na vida espiritual
de servos e servas do Senhor ao longo da história.

Mais recentemente, nas últimas décadas especial-


mente, a disseminação da noção de que um novo hábito
pode começar a ser formado em nossas vidas, se o prati-
carmos pelo menos por 21 dias, tem reforçado em círculos
cristãos e não cristãos o chamado “Princípio dos 21 dias”.

1. Formação de Novos Hábitos

Provavelmente uma das primeiras pessoas a falar so-


bre isto de uma forma científica, foi o Dr. Maltz, que foi um
cirurgião plástico nos anos cinquenta.

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21 Dias

Dr. Maltz começou a observar um padrão estranho em


seus pacientes. Quando ele realizava um operação, como
plástica nos lábios, ou matriz, ele notou que levava mais
ou menos 21 dias para que o paciente se acostuma-se a ver
sua nova face. Semelhantemente, quando um paciente tinha
um braço ou perna amputada, Maltz percebeu que que o
paciente sentia uma espécie de membro fantasma por cerca
de 21 dias, antes de se ajustar à nova situação.

Estas experiências levaram Dr. Maltz a pensar em


seus próprios períodos de adaptação e mudanças, e ele per-
cebeu que ele também levava cerca de 21 dias para formar
um novo hábito. Maltz afirmou: “Estes, e muitos outros fe-
nômenos comumente observados, tendem demonstrar que
é necessário um mínimo de cerca de 21 dias para uma ima-
gem mental antiga se dissolver e uma nova se firmar”.

Em 1960, Dr. Maltz publicou um livro chamado “Ci-


bernéticas psíquicas”, com suas conclusões sobre mudança
de comportamento. O livro vendeu mais de 30 milhões de
cópias, tornando-se uma referência no desenvolvimento do
“princípio dos 21 dias”.

Estudos mais recentes e mais completos apontam


para um período mais longo. Phillips Lally, uma pesqui-
sadora na área de saúde psicológica, da Universidade do
Colégio de Londres, Inglaterra, publicou um estudo cientí-
fico, onde 96 pessoas foram analisadas por 12 semanas, na
questão de quanto tempo leva para formar um novo hábito.

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21 Dias

Em média, suas análises concluíram, leva-se mais de


2 meses para que um novo hábito se torne automático - 66
dias para ser exato. Uma outra conclusão é que o tempo
para a formação de um m novo hábito pode variar depen-
dendo do comportamento, da pessoa e da circunstâncias.
Nos estudos de Lally, levou-se de 18 dias a 254 dias para
pessoas formarem novos hábitos.

Meu ponto, com esta exposição, é o de demonstrar


que ao estabelecer um caminho e um plano de 21 dias no
Lugar Secreto, você estará no mínimo começando a adqui-
rir um novo hábito. O hábito mais saudável e Bíblico que
qualquer filho ou filha de Deus possa adquirir. O hábito de
gastar tempo diário na presença de Deus.

Por esta razão, escolhi construir a segunda parte


deste livro, como um guia de 21 dias, para sua jornada ini-
cial no lugar secreto. Recomendo que você faça o processo
de 21 dias e que depois repita o processo continuamente
mais uma ou duas vezes. Desta forma você consolidará em
sua vida um novo hábito, que tem valor eterno; hábito culti-
vado pelos homens e mulheres de Deus na Bíblia e ao longo
da história.

2. Mergulhando Em uma Jornada de profundi-


dade
Nestes 21 dias nosso objetivo é que você embarque
em uma jornada de profundidade na sua vida em Deus e que
isto se torne parte permanente da sua caminhada cristã.

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21 Dias

Meditar em Deus através da sua Palavra precisa ser


parte da nossa disciplina de vida. Nosso desejo é que você
descubra neste período algo que fascine o seu coração e que
te leve a uma entrega diária, não somente por 21 dias, mas
pelo resto da sua vida na terra.

Nestes 21 dias estaremos caminhando em medita-


ção diária no livro de Cantares. Estaremos meditando em
uma porção do livro a cada dia. O desafio é que você invis-
ta a primeira meia hora ou a primeira hora do seu dia em
oração e em meditação, usando Cantares como base. Você
terá uma introdução, ou seja, um pequeno comentário para
cada dia, mas isso será somente um ponto de partida. De-
senvolva a sua própria meditação e escreva o que o Senhor
for trazendo em seu coração.

Nosso desejo e oração é que isso seja um instrumen-


to de ajuda para o crescimento da sua alma. Que você passe
pelos processos que Sulamita, a Noiva de Cantares, passou
e que o resultado seja mais santidade a maior Intimidade
com o Rei dos Reis. É Ele quem está nos convidando para
virmos para a mesa do banquete, onde a maior atração é Ele
mesmo: “Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte
sobre mim é o amor” (Ct 2.4).

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21 Dias

JORNADA DA ALMA

“Todos temos duas vidas; nossa vida interior e nos-


sa vida exterior. Sua vida interior é sua vida na alma, que
inclui sua mente, vontade e emoções. Sua vida exterior é
sua vida física. E embora Deus se preocupa com todos os
aspectos da sua vida, Ele está mais preocupado com sua
vida interior do que com sua vida exterior” - Joyce Meyer.

“Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso


homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova
de dia em dia.” (2 Cor. 4.16)

O principal trabalho de Deus em nós é interno e não


externo. A obra dele em nós é mais no invisível do que no
visível. É no “homem interior do coração”; para usar uma
expressão Paulina. É em nossa Alma!

Algo belo e maravilhoso está acontecendo agora mes-


mo dentro de você. Deus está trabalhando em você. Sua
alma está em uma jornada, como João da Cruz colocaria;

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21 Dias

uma jornada em direção a união com Deus. “Minha alma


tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face
de Deus?” (Sl 42.2).

Ao nos referirmos a “jornada da alma“ queremos fa-


zer uso da palavra alma da forma que a Bíblia faz, especial-
mente o uso Neo Testamentário.

No Novo Testamento temos referências a separação


da alma, espírito e corpo como sendo três partes distintas
dentro de nós. “E o próprio Deus de paz vos santifique com-
pletamente, e o vosso espírito, alma e corpo sejam manti-
dos plenamente irrepreensíveis para a vinda de nosso Se-
nhor Jesus Cristo” (1Tes. 5.23).

Embora esta divisão seja clara e definida no Novo


Testamento, algumas vezes a palavra “alma” é também
usada de uma forma mais genérica, referindo-se àquela par-
te dentro de nós que está em contato com Deus, que está em
processo de transformação, e até a parte dentro de nós que
é eterna; “Pois, que adiantaria ao homem ganhar o mundo
inteiro e perder a sua alma” (Mc 8.36).

“Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão


a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lc.
12.20).
“Essa esperança é para nós âncora da alma” (Hb.
6.19).

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21 Dias

“Amados, exorto-vos como a peregrinos e estrangei-


ros a vos absterdes dos desejos carnais, que combatem con-
tra a alma” (2 Pd 2.11).

“Amado, desejo que seja bem sucedido em todas as


coisas e que tenhas saúde, assim como a tua alma prospe-
ra” (3 Jo 1.2).

Quero chamar sua atenção em especial para os últimos


dois versos. Tanto Pedro como João referem-se a alma em
processo. Pedro apontando para o aspecto negativo e João
para o aspecto positivo. Ambos usando a palavra “alma”
como a parte interior do nosso ser que está em uma jornada.

Isso também é claro nos Salmos; “Como o servo an-


seia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia
por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus
vivo; quando entrarei e verei a face de Deus?” (Salmo
42:1,2).

Esta é a jornada da alma!

Deus quer habitar com a alma humana, mas esta alma


precisa ser transformada. A transformação da alma começa
no calvário, ao pé da cruz. Começa na redenção, no novo
nascimento. Mas isto é só o começo, a transformação da
alma é um processo contínuo, uma jornada. E este é o traba-

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21 Dias

lhar de Deus, Ele usa circunstâncias externas; as promoções


e as perdas, os castelos e as prisões, tudo isto com o objeti-
vo de produzir transformações internas.

Nossa principal jornada não é em direção ao céu, mas


em direção ao centro da nossa alma, onde Deus habita, o
céu é só consequência.

Por isto meditaremos em Cantares, pois mais do que


em qualquer outro lugar nas Escrituras Sagradas, na lingua-
gem poética de Cantares, temos a jornada da alma em dire-
ção a união perfeita com Deus.

1. Estradas e Caminhos

O destino é a nossa união com Deus. É experimentar


Deus de uma forma maravilhosamente real dentro de nós.

“Sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos,


para que também tenhais comunhão (relacionamento ínti-
mo) conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu
Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos para que a
vossa alegria (vosso gozo) seja completa” (1Jo 1.3).

Parte deste processo em nossa jornada, é aprender-


mos a praticar algumas coisas que normalmente não são
parte do nosso entendimento da vida cristã, embora eram

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21 Dias

parte integral da vida de Jesus e dos Apóstolos. Dentre es-


tas coisas quero destacar duas: A primeira é Quietude e a
segunda meditação.

A. A Trilha da Quietude

“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado


entre as nações, sou exaltado na terra” (Sl 46.10).

“Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o


deserto, e lhe falarei ao coração” (Os 1.14)

Este talvez seja o maior obstáculo moderno à nossa


percepção de Deus: A falta de capacidade de aquietarmos.

Vivemos em um mundo que está freneticamente em


movimento. Vivemos em um mundo poluído: poluição so-
nora, visual e verbal. Para pertencer precisamos estar em
movimento. Para termos valor precisamos estar fazendo
algo. O mundo demanda agitação.

E nossa alma responde. Mesmo quando paramos, não


estamos realmente parados. A agitação continua dentro de
nós.

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21 Dias

Na média, uma pessoa, quando se deita para dormir


no final do seu dia, terá visto mais de dez mil imagens, ou-
vido centenas de sons e falado ou pensado por mais de no-
venta por cento do seu tempo. Não é de admirar que até
dormindo não conseguimos parar. Nossa alma continua agi-
tada, deitamos e levantamos cansados porque a alma não
parou, mesmos quando as luzes se apagaram.

Não perceberemos Deus neste ritmo. É preciso pa-


rar! Deus se recusa correr do nosso lado e gritar mais alto
do que outros sons. Deus espera. Ele espera dentro de nós.
Ele espera e chama, na verdade Ele sussurra! Se você não
se ´aquietar`, na maioria das vezes, você não o perceberá.

Maria escolheu a melhor parte, disse Jesus, e esta não


lhe será tirada! Que parte é esta que Maria escolheu?

Ela escolheu sair do mundo de Marta, o mundo que


valoriza a pessoa pelo resultado que seus movimentos fre-
néticos produziram; Que jantar maravilhoso, que casa per-
feita, que mensagem articulada!

Maria escolheu parar, sair da roda, desplugar o Ma-


trix! Ela escolheu aquietar-se aos pés de Jesus. E Ele, o
mestre, nos alerta: Esta é realmente a única escolha neces-
sária. Esta é a única que não nos será tirada, nem por pesso-
as, nem pelo tempo, nem pela vida – Lc 10.42.

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21 Dias

Você já parou para pensar que a multidão de informa-


ções e atividades que fomos convencidos serem necessárias
para nós se tornam obsoletas e totalmente inúteis com incrí-
vel rapidez? Que time ganhou a penúltima copa do mundo?
Quantas medalhas o Brasil teve nas últimas olimpíadas?
Qual foi o último filme da Angelina Jolie? Quem foi minis-
tro da educação do governo Lula? Aliás, Quem foi Lula?
Nada disso tem mais importância. Mas pouco tempo atrás
ocupou horas e horas do nosso tempo, era o assunto do mo-
mento no final dos cultos.

Você precisa aprender a parar. Desacelerar. Descobrir


a arte de aquietar-se. Só assim sua alma poderá começar a
ser livre da tirania das inutilidades passageiras e focar na-
quilo que tem valor eterno. “Pensai nas coisas de cima e
não nas que são da terra; pois morrestes, e a vossa vida
está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.2,3).

Comece separando tempo para Deus. Desconecte-se


de tudo e fique só com Deus. Jejue, pois o jejum serve para
nos desacelerar. Jejue de comida sim, mas jejue também de
distrações; Jejue seus olhos, seus ouvidos, sua boca.

Provavelmente muito do que sua alma acha importan-


te hoje, está, como Pedro nos preveniu, ´combatendo con-
tra ela`. À medida que você desacelerar, aquietar, focar no
eterno que vive dentro de você, sua alma começará a verda-
deiramente prosperar, como João afirmou que aconteceria.

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21 Dias

B. O Caminho da Meditação

“E na sua lei medita noite e dia” (Sl 1.2). “Você medi-


tará na minha Palavra noite e dia...” (Jos. 1.9).

Quando o Pastor mártir, Dietrich Bonhoeffer, foi


questionado do porque ele meditava, ele respondeu: “Por-
que eu sou um cristão!”.

Um dos grandes assaltos que o inimigo fez aos segui-


dores de Cristo nesta geração foi roubar o conceito e prática
de meditação. Hoje quando a maioria de nós houve o termo
meditação, imediatamente fazemos uma associação com
algo não bíblico, muito mais relacionado com nova era ou
com religiões orientais como budismo ou hinduísmo.

A consequência é que sem meditação somos deixados


com um cristianismo um tanto quanto racional, intelectual,
pragmático e consequentemente raso. Mas é tempo de re-
tomar território, restaurar o que o inimigo roubou e chamar
esta geração para a saudável disciplina bíblica da medita-
ção.

Vamos portanto começar conceitualmente separar o


joio do trigo, a moeda falsa da verdadeira. A suposta me-
ditação ensinada e praticada por pessoas desconectadas da
realidade de Deus através do evangelho de Jesus Cristo é
falsa e humanista. Ela abre a alma das pessoas para influ-

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21 Dias

ências espirituais malignas e exalta o ego, distanciando as


pessoas da verdade, consequentemente da verdadeira paz
em Cristo Jesus.

Richard Foster em seu clássico livro, Celebração da


Disciplina, coloca isto de uma forma bem clara: “Sempre
que a ideia cristã de meditação é levada a sério, veremos
aqueles que assumem que isto é sinônimo com o concei-
to de meditação nas religiões orientais. Na verdade os dois
conceitos representam dois mundos totalmente separados.
Meditação oriental é uma tentativa de esvaziar a mente;
Meditação cristã é uma tentativa de encher a mente. As
duas ideias são bem diferentes”.

Meditação oriental enfatiza a necessidade de se tor-


nar desconectado do mundo. Há uma ênfase em perder a
personalidade e individualidade, unindo-se com a mente
cósmica. Há um desejo de ser liberto dos pesos e dores
desta vida e ser liberado na impessoalidade do Nirvana.
Identidade pessoal é perdida, na verdade, personalidade é
vista como a maior de todas as ilusões. Há um escapismo da
roda miserável que é a existência. Não há um Deus para se
conectar ou para ser ouvido. Desconexão é o alvo final das
Religiões Orientais.

Meditação cristã vai muito além da noção de desco-


nexão. Há uma necessidade para conexão - um “Sábado de
contemplação” como Pedro de Celles, um monge benediti-
no do século XII coloca isto.

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21 Dias

Mas há um perigo em se pensar somente em termos


de desconexão, como Jesus indica em sua história do ho-
mem que tinha sido esvaziado de espíritos malignos, mas
que não tinha sido cheio do espírito bom.

“Quando um espírito impuro sai de um homem...Ele


vai e traz sete outros espíritos piores do que ele, e eles en-
tram e habitam lá; e o estado deste homem se torna pior do
que antes” (Lc 11.24-26).

Não, desconexão não é suficiente; precisamos nos


mover para conexão. A desconexão da confusão que está
a nossa volta é com o propósito de termos uma mais rica
conexão com Deus. Meditação cristã nos guia à plenitude
interior necessária para nos darmos a Deus livremente”.
(Celebração da Disciplina, Richard Foster, pg.20,21)

Na meditação cristã Deus é o centro e o alvo ao mes-


mo tempo e Sua Palavra o terreno firme onde nos apoiamos.
O método da meditação cristã não é esvaziar a mente, mas
enchê-la com a Palavra de Deus. Ao meditarmos abrimos a
Palavra, lemos a Palavra, refletimos na Palavra, oramos a
Palavra e através da Palavra encontramos Deus, desenvol-
vemos comunhão com Ele e experimentamos sua presença
(Ct 1.2).

A grande experiência transformadora da meditação


cristã é que quando embarcamos nela estamos interagindo

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21 Dias

com um Deus vivo e pessoal que nos deu um texto escrito,


que vai além do que qualquer outra literatura humana, Ele
nos deu uma Palavra que é viva. Ela não somente tem o po-
der de nos ensinar princípios para a vida, mas também tem
o poder de nos conectar com o próprio Deus.

Daí a importância da meditação na nossa jornada cris-


tã, ela nos conecta com nosso Deus de uma forma real e
dinâmica. E ela sempre funciona, pois não é baseada em
nosso estado de espírito, em nosso dia a dia, mas no que ela
é: a Palavra viva e infalível de Deus!

Quando paramos para meditar separamos um tem-


po onde aquietamos as vozes externas e internas, lemos e
oramos uma porção das Escrituras de uma forma contínua,
algo sobrenatural acontece. Uma conexão real é estabele-
cida dentro de nós, entre nós e este Deus único que mora
dentro de nós.

Quando fazemos isto como uma disciplina, isto é,


de uma forma planejada e constante – como parte da nossa
agenda diária, um processo de transformação e crescimento
acontece em nós. É aqui, e somente aqui, que experimenta-
mos o que Paulo fala em 2 Cr 3.18: “...Somos transforma-
dos na mesma imagem (de Jesus) de glória em glória, pelo
Espírito do Senhor”.

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21 Dias

A disciplina da meditação produz contínua transfor-


mação interior, que tem como fruto a transformação exte-
rior. Muitos de nós tem tentado atalhos, mas transformação
não ocorrerá sem contínua prática de meditação. Com cer-
teza esta é uma das razões do porque Satanás tem investido
tanto em nos manter distraídos e ocupados e ao mesmo tem-
po descreditar esta disciplina bíblica.

Uma geração de cristãos superficiais, correndo atrás


de soluções mágicas e rápidas para seus problemas é tudo
que o inimigo deseja para poder liberar seu ataque final –
Um espírito de sedução tão poderoso e tão fascinante , que
arrastará milhões de pessoas com seu engano, falsa paz e
prosperidade.

O antídoto para o veneno desta velha serpente é o que


Deus falou a Daniel: “...Mas o povo que conhece o seu Deus
será forte, e fará grandes proezas. E aqueles do povo que
tiverem entendimento, instruirão muitos” (Dn11.32,33).

Daí a urgente necessidade de voltarmos com absoluta


prioridade e urgência para a ordem bíblica: “Você meditará
na minha Palavra noite e dia” (Josué 1.9).

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21 Dias

ADICIONANDO JEJUM!

“... e nesses dias jejuarão”


(Mt 9.15b).

Você pode fazer períodos de 21 dias de meditação


como estou instruindo aqui, isto em si já será maravilhoso,
desenvolverá em você um novo hábito espiritual que dará
uma solidez à tua vida cristã e te levará a experimentar Je-
sus de uma forma mais e mais profunda. Mas se você puder
adicionar jejum em um destes períodos de 21 dias, você
experimentará a realidade de Deus ainda em mais profundi-
dade.

Ou ainda, se você já estava planejando uma estação


de Jejum e quiser usar este livro como seu guia diário neste
período, creio que também será muito proveitoso.

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21 Dias

1. Um Novo Paradigma para Jejum

Jesus ensinou claramente que devemos jejuar. Ele


disse: “Quando Jejuardes” (Mt.6:16), não “se jejuardes”.
Ele também nos ensinou sobre jejum com uma perspectiva
nova da que tínhamos até então na Bíblia (Mt.6:17,18). São
estes princípios de Jesus sobre jejum, que chamo de novo
paradigma para jejum. Foi só após meu entendimento ter
sido aberto neste lugar, que pude efetivamente cultivar um
estilo de vida de jejum.

Meu antigo paradigma era o de que o jejum nos


ajuda a conquistar uma benção de Deus. Eu jejuava para
solucionar um problema. Jejuava para ganhar uma benção.
Jejuava para ficar mais ungido. Mas Jesus nos deixou um
outro tipo de jejum. Jesus introduziu um paradigma com-
pletamente novo; o jejum do amor, o jejum para conecção.
Mais do que qualquer outro tipo de jejum, este é o jejum
que precisamos cultivar em nossas vidas.

2. Jejum da Noiva

Quando o Senhor Jesus falou sobre o tempo e a ne-


cessidade de jejum para seus discípulos, ele falou no con-
texto de relacionamento, especialmente relacionamento em
intimidade, pois Ele usa a figura do casamento mais uma
vez; “...Podem estar tristes os convidados, enquanto o noi-
vo está com eles? Dias, porém, virão em que o noivo lhe
será tirado, e nesses dias jejuarão” (Mt 9.15).

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21 Dias

Nesta passagem, Jesus relaciona sua ausência física


da terra, com um estilo de vida de jejum. Porque?

A resposta é que o jejum nos conecta com a realidade


da presença de Cristo em nós, de uma forma poderosa. De
certa forma, é difícil explicar em termos humanos, o fato de
que ficarmos sem comer por um ou por alguns dias, acres-
centando a isto mais oração e mais meditação na palavra
de Deus, abra uma avenida tão larga e fluente de ligação
com Jesus em nosso próprio coração, mas, mesmo sendo
um mistério, o fato é que é isto que acontece.

Este chamado para um estilo de vida de jejum, é um


chamado do próprio Noivo: “Quando eu for tirado...eles
jejuarão”.

E é também uma resposta voluntária da própria Igre-


ja, a Noiva do Cordeiro, que deseja vê-lo. Que deseja ter
comunhão (Koinonia) com Ele em espírito. A Noiva jejua
pois tem saudade, fica sem o alimento das coisas terrenas,
sem as distrações naturais, pois descobre que este ato de
voluntário sacrifício a conecta com o amado da sua alma.

“Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é


o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e
debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu pala-
dar.” (Ct. 2:3)

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21 Dias

Quando jejuamos, estamos aprendendo a desacele-


rar, a “assentar debaixo da sombra do amado - Jesus”. Fa-
zemos isto porque nossa alma “desfalece de amor”(Ct 2.5).

Ela deseja os frutos do amado mais do que os frutos


terrenos. Para isso ela se santifica. Ela jejua e intercede pela
manifestação do amado de sua alma. Pelo consolo que vem,
pela restauração da esperança, pela renovação das forças, e
principalmente pelo aumento da sensação, espiritual e natu-
ral, de sua presença.

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21 Dias

JORNADA DA ALMA
EM CANTARES

“Porque o teu criador é o teu marido”


Is 54.5

“Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; por-


que vos tenho preparado para vos apresentar como uma
virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” - 2 Cor. 11.2

Deus se relaciona conosco em termos da união espi-


ritual que é refletida no natural em termos da união entre o
homem e a mulher no casamento.

Em Cantares, Deus nos dá um livro que é extrema-


mente rico em nos instruir poeticamente sobre este aspecto
de nossa união com Jesus Cristo.

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21 Dias

1. LINGUAGEM DIVINA

“Cântico dos Cânticos” ou “Música das músicas”.


Esta é a primeira frase do livro de Cantares. Este não é o
único lugar das Escrituras que o Senhor nos dá canções po-
éticas; temos os Salmos, os Provérbios e muitos outros tex-
tos no Velho e Novo Testamento neste formato, mas Can-
tares é o mais longo. É uma canção poética de 8 capítulos,
mais longa do que vários livros proféticos e do que vários
livros do Novo Testamento.

Todas as poesias bíblicas tem propósitos específicos.


Algumas são para nos dar uma linguagem de adoração, ou-
tras são profecias em forma cantada, outras são orações de
petição. Todas elas nos ensinam, nos dão linguagem para
nossa própria jornada em Deus. Além disso também nos
dão linguagem de oração, por exemplo, não deve haver um
só cristão no mundo que nunca tenha orado: “O Senhor é
meu Pastor e nada me faltará”(Sl 23).

No entanto, Cantares, de tudo que já tenha sido escri-


to “debaixo do sol” é a mais excelente de todas as poesias.
Nos dá uma linguagem de amor!

Tanto nos banhamos e somos reafirmados na lingua-


gem extravagante de Jesus sobre nós, como recebemos uma
licença bíblica para devolver para Jesus profundas declara-
ções de amor.

30
21 Dias

Não é por acaso que homens como Agostinho e To-


más de Aquino consideravam o livro de Cantares um prín-
cipe dentre os livros das Escrituras.

2. LINGUAGEM PARA RELACIONAMENTO


DE ALMA

Cantares nos dá linguagem para nosso relacionamen-


to de intimidade com Jesus. Nos dá linguagem de oração.
E isto é precioso! Mas também é pouco entendido ou até
apreciado, pois o homem moderno perdeu a linguagem da
intimidade, perdeu a linguagem do coração.

Deixe-me explicar isto um pouco mais; Eugene Pe-


terson, escrevendo sobre a linguagem da oração, afirma:
“O que tenho aprendido sobre linguagem, reduzi de forma
básica em três tipos, vou chamar aqui de Linguagem tipo I,
tipo II e tipo III.

Linguagem tipo I é a linguagem da intimidade e re-


lacionamento. É a primeira linguagem que aprendemos.
Inicialmente não é uma fala articulada. É a linguagem que
acontece entre pais e um infante; incrivelmente rica em sig-
nificado mas menos impressiva em conteúdo. Os sons de
um bebe não impressionam. As sílabas sem sentido dos pais
não têm definição no dicionário. Mas na troca dos ...gus-
-gus... e dos Runs fora do tom, confiança é desenvolvida.
Palavras não inteligíveis de pais transformam os gritos do

31
21 Dias

bebe em suspiro de esperança. A pedra fundamental nesta


linguagem são nomes, ou apelidos: mama, papa. Apesar de
todo vocabulário limitado e sintax cortada, parece mais do
que adequada para trazer em expressão a realidade de um
amor complexo e profundo. Linguagem I é linguagem pri-
mária, a linguagem básica para expressar e desenvolver a
condição humana.

Linguagem tipo II é a linguagem da informação. Á


medida que crescemos, descobrimos este maravilhoso
mundo de coisas que nos rodeiam, e tudo tem um nome:
pedra, água, chateado, garrafa. Gradualmente, ao adqui-
rirmos linguagem, somos direcionados para um mundo
de objetos. Distante da intimidade relacional com pessoas
onde começamos, nos encontramos em um ambiente ob-
jetivo de árvores e carros de bombeiros e tempo. Dia após
dia novas palavras são adicionadas. Coisas que têm nome
não são mais estranhas mas familiares. Fazemos amizade
com o mundo. Aprendemos a falar em sentenças, fazendo
conecções. O mundo é maravilhosamente diversificado e
nossa linguagem nos permite definir tudo, reconhecendo o
que está lá e como tudo é conectado. Linguagem tipo II é a
principal linguagem usada nas escolas.

Linguagem tipo III é a linguagem motivacional. Des-


cobrimos bem cedo que palavras têm o poder de fazer coi-
sas acontecerem, de trazer algo concreto do nada. Um grito
de um bebe trás comida e fralda enchuta. Um comando dos
pais move o comportamento da criança. Sem envolvimento
de força física. Sem causa material visível. Apenas pala-

32
21 Dias

vras: pare, vá, cale-se, fale, coma tudo que está no seu prato.
Somos movidos por linguagem e usamos linguagem para
mover outros. Crianças adquirem uma eficiência surpreen-
dente nesta linguagem, movendo pessoas bem maiores e
bem mais inteligêntes do que elas a extremadas atividades
(e geralmente contra a inclinação e melhor julgamento des-
tas pessoas). Linguagem III é a linguagem predominante de
propaganda e política.

Linguagem II e III são claramente as linguagens as-


cendentes da nossa cultura. Linguagem informativa (II) e
linguagem motivacional (III) dominam nossa sociedade.
Somos todos escolas em linguagem que descreve o mun-
do onde vivemos. Somos bem treinados em linguagem que
move pessoas a comprarem e votarem. Enquanto isto, Lin-
gagem tipo I, a linguagem da intimidade, a linguagem que
desenvolve relacionamento de confiança, esperança e en-
tendimento, desaparece. Por um período curto recuperamos
a linguagem tipo I, quando nos apaixonamos na adolescên-
cia e gastamos horas e horas falando no telefone usando
linguagem que poderiam ser classificadas como murmú-
rios. No amor romântico, descobrimos que esta é a única
linguagem adequada à realidade da nossa paixão. Quando
nos tornamos pais, reaprendemos esta linguagem básica e a
usamos por um pouco. Mas algumas poucas pessoas nunca
param de usá-la – alguns poucos apaixonados, alguns poe-
tas, e os santos – mas a maioria a deixa de lado.” (Eugene
Peterson, O Pastor Contemplativo, pg. 91, 92).

33
21 Dias

Linguagem tipo I é a linguagem de relacionamento, é


a linguagem da oração!

Cantares é escrito na linguagem tipo I, daí a dificulda-


de de muitos teólogos e estudantes da Bíblia, pois só apren-
deram a ler e decodificar as coisas na linguagem tipo II e
III.

“Eu sou do meu amado e Ele é meu...


Meu amado pastoreia entre os lírios...
Melhor é o seu amor do que o vinho...
Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales...
Os teus olhos são como pombas...
Tu és toda formosa amada minha e em ti não há
mancha...
Põe-me como um selo sobre o teu coração...
As muitas águas não podem apagar o amor, nem
os rios afogá-lo...” (frases do livro de Cantares)

Estes são alguns exemplos em Cantares da linguagem


tipo I. Em Cantares Deus nos dá a linguagem do coração,
Deus nos proporciona uma linguagem para falarmos com
Ele na linguagem que Ele ama; de coração para coração!

34
21 Dias

Por causa de Cantares eu posso orar: ´Jesus, Beija-me


com os beijos da sua boca (sua Palavra).` (Cant.1:2). Você
pode orar: ´Leva-me à sala do banquete (lugar de íntimida-
de), e o seu estandarte sobre mim seja o amor.` (Cant. 2:4).

Cantares nos introduz à uma elevada linguagem de


oração. Podemos orar informando Deus dos fatos (lingua-
gem tipo II), podemos orar barganhando com Deus (Lin-
guagem tipo III). Mas a mais sublime das oraçãos é a ora-
ção que busca relacionamento, é a oração da conecção, é
a oração da troca de amor. Esta é a oração da linguagem
tipo I. Esta é a linguagem da alma, e é por esta estrada que
Cantares nos conduz.

3. INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL

Existem várias leituras possíveis (interpretações) no


livro de Cantares. Nosso foco neste estudo será a interpre-
tação espiritual, pessoal e neotestamentária, isto é, vamos
olhar para esta história como olhamos para as parábolas de
Jesus nos evangelhos. Jesus nos contou histórias com o ob-
jetivo de nos ensinar princípios espirituais. São as chama-
das parábolas.

Uma parábola é uma história que usa circunstâncias


do cotidiano para ensinar princípios morais e espirituais. Je-
sus usou parábolas porque esta é a melhor forma de comu-

35
21 Dias

nicar verdades para pessoas de todos os níveis. O homem


moderno continua usando e apreciando parábolas. Filmes e
peças teatrais muitas vezes são parábolas que tem o propó-
sito de passar uma filosofia de vida.

Por exemplo, na parábola das dez virgens (Mt.25),


entendemos que Jesus está falando da igreja. Na sua segun-
da vinda, uma parte da igreja estará pronta e outra estará
sem óleo, sem saber o caminho que levará em direção a Ele.
São as cinco virgens que ficarão de fora. Aqui temos uma
leitura espiritual desta história.

O livro de Cantares é também uma parábola. É o úni-


co livro inspirado por Deus nas Escrituras que nos conta
uma parábola do começo ao fim.

A leitura espiritual considera a autoria e propósito ori-


ginal de Salomão, mas também vê um propósito maior de
Deus com esta história. Nesta interpretação, Salomão repre-
senta Deus e Sulamita o povo de Deus.

A leitura espiritual judaica vê Salomão como sendo


Deus e Sulamita Israel. Em várias outras passagens profé-
ticas Deus se apresenta como Marido de Israel (Livro de
Oséias). Esta é uma interpretação comum entre muitos es-
tudiosos judaicos.

36
21 Dias

A igreja ao longo dos séculos tem aplicado a inter-


pretação espiritual, em que o Rei de Cantares é Jesus e a
serva que se torna esposa, a Igreja. Cantares é lido como a
jornada espiritual da Igreja em seu crescimento de amor por
Jesus. Dentro desta leitura duas aplicações são possíveis. A
noiva como a igreja corporativa, ou seja, o corpo universal
de Cristo ou a noiva como sendo cada cristão em sua jorna-
da em Deus. Centenas de autores ao longo dos séculos tem
comentado o livro de Cantares deste lugar.

Embora as outras leituras sejam legítimas e tenham


o seu lugar e propósito, nossa leitura e meditação neste guia
será a da jornada da alma. Meu propósito é que cresçamos
em nosso relacionamento pessoal com o “Amado da nossa
alma”. O Espírito de Jesus tem nos chamado para esta ca-
minhada.

Precisamos com urgência crescer em nosso amor por


Jesus. Esta geração precisa se fascinar novamente (voltar ao
primeiro amor). E que ferramenta mais efetiva poderíamos
ter do que o Cântico dos Cânticos, a parábola de amor mais
profunda e mais fascinante de toda a Bíblia.

Precisamos sim nos tornar “Almas com Propósito”!`


Precisamos crescer em nosso relacionamento pessoal com
Jesus. Ele não virá buscar empregados, Ele não virá buscar
servos, Ele virá buscar sua noiva!

37
21 Dias

Uma noiva que só tenha olhos para Ele, uma noiva


que só tenha desejos por Ele, uma noiva que esteja “doente
e amor” (Ct 2.5). Uma noiva que esteja querendo sua união
com seu amado, mais do que qualquer outra coisa. Uma
noiva que esteja dizendo noite e dia: “Volta, Volta, Volta
logo Jesus!” – Ap 22.17.

4. APLICAÇÃO PESSOAL

Algumas pessoas, especialmente as que fizeram al-


guma forma de estudo teológico, questionam a leitura es-
piritual do livro de Cantares, dizendo que cada comentário
de interpretação espiritual que lemos traz uma interpretação
diferente e que consequentemente não podemos ter certeza
da interpretação exata do livro.

Por alguns anos tenho refletido sobre isto. Tenho bus-


cado do Senhor clareza e direção. Por um lado, é claro que
Cantares é uma parábola de amor para nossa jornada, por
outro lado, por que tantas interpretações e visões diferen-
tes?

A resposta que recebi veio no formato da minha pró-


pria experiência. Eu estava meditando em um dos versos de
Cantares e o Senhor começou a falar comigo através daque-
le verso, fui muito edificado naquela hora. Depois fui com-
parar o que havia recebido nesta meditação com minhas
anotações naquele mesmo verso. Vi que haviam algumas

38
21 Dias

coisas diferentes, até mais profundas e claras. Então percebi


que na minha própria jornada, minha leitura e conclusão
diferenciavam. Senti o Senhor me respondendo.

O livro de Cantares não é um livro doutrinário, isto é,


não podemos estabelecer doutrina sistemática ou teologia
através dele. Ele existe como texto poético para ilustrar, en-
riquecer e edificar. Neste sentido ele não é um livro para ser
interpretado com as mesmas regras de hermenêuticas que
devem ser aplicadas em textos formativos e doutrinários.

A riqueza e singularidade deste livro está exatamente


neste lugar. Deus, em sua infinita sabedoria e capacidade,
nos deu um texto que fala ao nosso coração de formas di-
ferentes e que consequentemente, pode falar com você de
uma forma e comigo de outra. Pode ainda falar com você
de uma forma em um estágio da sua caminhada espiritual e
pode falar de outra maneira em outro estágio.

Sua experiência pode edificar e abençoar minha vida,


assim como a minha pode edificar a sua, mas nenhuma de-
las pode ser colocada como inspirada no mesmo nível que
a Bíblia é inspirada, isto é, nossa interpretação do texto não
é questão fechada. Nenhuma interpretação de Cantares é.

Deixe-me tentar explicar isto melhor. Algumas vezes


bons autores produzem literaturas especiais. Algumas des-
tas literaturas tem a capacidade de falar conosco de forma

39
21 Dias

diferente em tempos diferentes. Sabe-se que o livro ´O Pe-


queno Príncipe`, fala com as pessoas de formas diferentes.

É fato aceito que se uma pessoa ler este livro com


cinco anos de idade ela entenderá a história e fará uma apli-
cação. Mas se esta mesma pessoa ler ´O Pequeno Príncipe`
aos 15 terá outra aplicação e se o fizer aos 30 terá ainda ou-
tra aplicação. Alguns críticos dizem que ´Romeu e Julieta`,
escrito por Willian Shakespeare, tem o mesmo efeito.

Bem, meu ponto é, se um homem pode escrever uma


literatura que fale conosco de formas diferentes, dependen-
do de onde estamos em nossa jornada nesta vida, quem dirá
o nosso Deus. Se um autor humano pode nos fascinar com
uma história e nos dar variações de entendimento, quem
dirá o autor divino.

Veja bem, isto não é para ser aplicado em toda a Bí-


blia. A Palavra de Deus é clara e objetiva. Sua interpreta-
ção, na maioria dos casos, é literal e segue regras teológicas
e literárias que não podem ser quebradas, com o risco de se
estar criando heresias e sistemas doutrinários antibíblicos.

Mas no livro de Cantares o Senhor nos deu uma lite-


ratura, que coexiste com o mesmo nível de autoridade ins-
piracional que os outros livros da Bíblia possuem, mas que
é única no sentido de nos proporcionar diferentes leituras

40
21 Dias

e diferente interpretações, que são capazes de edificar pro-


fundamente nossas vidas de uma forma real e legítima.

E o que é ainda mais extraordinário sobre este livro


que o Senhor nos deu é que aquilo que edificou a sua vida
ou até a vida de um servo dele mil anos atrás, pode também
edificar a minha. Muitas vezes tenho lido comentários de
Cantares que foram escritos mais de mil anos atrás e sou
profundamente tocado e percebo o Espírito de Deus falando
comigo.

O erro de muitas pessoas no passado teve duas natu-


rezas. Por um lado alguns ao entenderem isto sobre Canta-
res, fizeram esta leitura espiritual do livro, mas aí quiseram
aplicar o mesmo princípio no restante da Bíblia (alegoriza-
ção das escrituras). Por outro lado, outros não entenderam
este princípio único de Cantares e por receio de errarem,
ensinaram que a única leitura legítima do livro seria a lite-
ral, como se é feito nas outras partes das Escrituras.

Minha conclusão é que o Senhor nos deu esta história


de amor não para nos dar novas doutrinas, mas para nos dar
uma literatura sagrada que trabalhasse nesta dinâmica de
transformação e continuidade que todos nós experimenta-
mos.

Sobre isto Mike Bickle ensina: “Toda conclusão dou-


trinária achada por nós em nossa jornada pessoal no livro
de Cantares precisa ser confirmada claramente por textos

41
21 Dias

doutrinários do Novo Testamento. Qualquer ensino ou prin-


cípio que seja achado em Cantares que contradiga ou não
esteja claramente exposto no Novo Testamento, deve ser
descartado como não bíblico ou herético. Este livro não é
doutrinário, mas inspirativo”.

42
21 Dias

OLHANDO COM MAIS


PROFUNDIDADE PARA A
INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL

Como existem muitas pessoas, inclusive Pastores e


professores de seminários teológicos, que têm um genuíno
desejo de encontrar Jesus em Cantares em sua meditação,
mas encontram uma grande dificuldade em aceitar a inter-
pretação espiritual ou alegórica do livro. E como passei por
este mesmo processo, quero usar este capitulo para ir um
pouco mais profundo nisto, pois creio que ajudará muitas
pessoas.

Por muitos anos tive a mesma dificuldade, pois ve-


nho de uma formação teológica, onde a interpretação literal
das Escrituras Sagradas foi corretamente ensinada, e onde
as regras Hermenêuticas são respeitadas e aplicadas.

Quero começar afirmando que continuo acreditando


que a vasta maioria dos textos bíblicos devem ser interpre-

43
21 Dias

tados de forma literal. Mas, hoje acredito, que existem al-


gumas passagens das escrituras, que não somente podem
ser interpretadas de forma espiritual ou alegórica, mas na
verdade demandam esta interpretação. Creio que o livro de
Cantares está nesta categoria e é minha humilde intenção,
tentar demonstrar isto neste capítulo.

No entanto, quero afirmar claramente, que nenhum


texto que nos permite ou que nos indique uma interpretação
espiritual, pode ser usado para formulação dogmática, ou
seja, para estabelecimento de doutrina. Isto é, não podemos
formular nossa teologia com base em textos alegóricos. Se
a doutrina não estiver claramente estabelecida na Bíblia, em
textos literais, no Novo Testamento, então não é bíblica.
Não é correta. É herética.

Creio caber aqui a questão: Para que servem então


estes textos alegóricos-espirituais?

Por que os temos nas Escrituras Sagradas? A respos-


ta a isto está na natureza divina e nesta mesma natureza re-
fletida em nós. Veja só: A raça humana é uma raça poética.
Apreciamos como seres humanos uma boa história de amor
ou até um drama. Nossa alma é elevada ao embarcarmos
em histórias como “O Rei Leão” ou “Romeu e Julieta”.

Somos assim, porque nosso Deus, que nos criou


à sua imagem e semelhança também é assim. Deus tem

44
21 Dias

emoções. Deus é amor. A redenção humana, executada por


Deus; da queda até o calvário, quando colocada em pala-
vras, é o maior drama, a maior história de amor que já tenha
sido escrita.

Portanto, na verdade, seria fora do normal, fora da


natureza de Deus, se Ele nos desse um texto sagrado que
não encorpara-se esta faceta do espírito e da química emo-
cional humana.

Em outras palavras, se o próprio homem, inspira-


do pela sua própria imaginação, produz literatura capaz de
levar outros seres humanos a embarcarem em uma viagem
que mexa com sua emoções e valores, quanto mais Deus,
que faz tudo infinitamente superior.

Afirmar que Deus não pode produzir uma literatura,


ou contar uma história ilustrativa que exemplifique sua lite-
ratura sistemática e doutrinária, seria reduzir Deus a menos
capaz e criativo do que suas próprias criaturas.

Pelo contrário querido leitor, Deus não somente nos


conta histórias, mas quando Ele as conta, Ele o faz de uma
forma muito superior e com muito mais profundidade do
que qualquer novelista humano.

Os textos alegóricos nas Escrituras, servem portan-


to, para ilustrar as verdades doutrinárias já estabelecidas em

45
21 Dias

outras passagens literais. Servem para elevar nossas almas,


para nos dar uma linguagem onde podemos expressar nosso
relacionamento com nosso Senhor de uma forma mais pro-
funda, mais calorosa, mais relacional, isto é, mais gente.

Afinal, o próprio Deus se fez gente, e quando andou


entre nós, nos contou muitas histórias, muitas parábolas.
E então Ele colocou estas histórias nos evangelhos. Com
elas somos fascinados, somos inspiradas, somos desfiados
e emocionados.

1. Origem da Interpretação Alegórica

Além das próprias histórias que temos no Novo Tes-


tamento, especialmente nos evangelhos, vemos também
que o Novo Testamento está repleto de interpretações ale-
góricas ou como prefiro chamar, interpretações espirituais.
E ainda mais, até mesmo alguns textos do Novo Testamento
demandam interpretações espirituais.

Deixe-me te dar alguns exemplos destes dois pontos:


A. Interpretações espirituais no Novo Testamento.
B. Textos que demandam interpretações espirituais.

Em 1 Coríntios 10:1-4 vemos o Apóstolo Paulo, ins-


pirado pelo Espírito Santo, pegar o evento literal da cami-
nhada do povo de Israel no deserto e fazer uma aplicação

46
21 Dias

espiritual ou alegórica: “...nossos pais estavam debaixo


da nuvem e todos passaram o mar, todos foram batizados
em Moisés nas nuvens e no mar, todos comeram a mesma
comida espiritual, e beberam da mesma bebida espiritual.
Pois eles beberam daquela Rocha que os seguiam e a Ro-
cha era Cristo” .

A ‘rocha, da qual os Israelitas beberam água era


‘Cristo’. Ao nos dar esta interpretação alegórica daquele
evento histórico na vida de Israel o Espírito Santo nos abriu
grandes avenidas para olharmos para todo o processo de 40
anos da peregrinação no deserto e identificarmos os princí-
pios espirituais que se aplicam à Nova Aliança.

Me sinto tentado e explorar mais esta abertura, mas


não é meu foco aqui, deixe-me te dar outro exemplo.

“Como Moisés levantou a serpente no deserto, as-


sim deve o Filho do homem ser levantado, para que quem
quer que creia nele não pereça mas tenha a vida eterna”
(Jo 3.14,15).

Por causa deste texto podemos identificar o evento


histórico de Moisés fazendo uma serpente de bronze e le-
vantando para que o povo olhasse e ficasse livre da morte
por picadas de cobras, com Jesus Cristo sendo levantado na
cruz do calvário para livrar todos que tem sido picados pela
velha serpente, o Diabo.

47
21 Dias

Vamos para meu último exemplo do meu primeiro


ponto, Em Gálatas 4, Paulo está lidando com a questão da
Lei e da Graça; em como não devemos nos apoiar em ne-
nhum aspecto da lei mas depender totalmente da graça de
Jesus, conquistada gratuitamente na cruz do calvário.

Para explicar isso Paulo não só usa uma alegoria, mas


cita a própria palavra alegoria. “...Pois bem, isso é uma ale-
goria” (Gl.4:24), afirma Paulo. Então ele segue dizendo: “...
estas mulheres simbolizam duas alianças. Uma é a aliança
do monte Sinal, que dá à luz filhos para a escravidão: esta
é Agar”. Agar representa o monte Sinai na Arábia e corres-
ponde à Jerusalém atual, pois é escrava com seus filhos.
Mas a Jerusalém do alto é livre; e esta é a nossa mãe....
“Portanto irmãos não somos filhos da escrava, mas da li-
vre” (Gl 4.25, 26, 31).

Esta aplicação alegórica de conectar Agar com o


monte Sinai e com a Jerusalém terrestre, que é feita por
Paulo é inspirada pelo Espírito Santo. Portanto interpreta-
ção alegórica é legitimada pela própria Palavra de Deus.

Meu segundo ponto é o de que mesmo textos do


Novo Testamento demandam uma interpretação alegórica.
Temos as parábolas do Senhor Jesus. Muitas delas só po-
dem ser entendidas corretamente se fizermos uma aplicação
alegórica e não literal detalhada.

48
21 Dias

Vou usar apenas um exemplo: a parábola das dez vir-


gens. Depois de explicar em Mateus 24 os acontecimentos
cronológicos da sua segunda vinda, Jesus fala uma série
de três parábolas, a primeira delas é a das dez virgens (Mt
25.1-13).

Embora a palavra igreja não apareça em nenhuma


parte do texto, percebemos que Jesus não está falando lite-
ralmente de dez moças virgens, como também Ele não está
falando literalmente de lamparinas e óleo, mas da sua igreja
e da preparação para sua vinda.

Estas dez virgens representam a igreja dos últimos


dias, uma parte estará pronta para se encontrar com ele,
isto é com óleo de reserva e outra parte da igreja não estará
pronta, são as chamadas por Jesus de virgens insensatas.

Note que em nenhuma outra parte dos evangelhos


aparece qualquer explicação desta parábola, como Jesus faz
algumas vezes com outras de suas parábolas. Mas mesmo
sem nenhuma explicação na sequência do texto a parábola
das dez virgens demanda uma interpretação espiritual, isto
é, alegórica.

Tenho certeza, que todos nós pregadores, já pregamos


várias vezes neste texto, seguindo esta linha de interpreta-
ção alegórica, sem termos tido nenhum constrangimento ou
dúvida.

49
21 Dias

2. Origines

Origines é considerado o pai da interpretação alegóri-


ca. Dele temos o primeiro comentário do livro de Cantares,
embora o original não tenha sido conservado, temos partes
de duas traduções. Uma das grandes acusações feitas a Ori-
gines nesta área, é que ele teria se valido da filosofia Grega
de Platão, para desenvolver suas idéias de interpretação ale-
górica da Bíblia.

Descobri, que meu pouco estudo sobre esta grande


figura da história da igreja não me habilita a um julgamen-
to correto. Origines, o primeiro grande teólogo da era pós-
-apostólica, nasceu no Egito em 185 e morreu na Palestina
em 254. O que é interessante é que tanto em seu século,
como nos séculos vindouros a grande controvérsia em torno
de Origines não foi tanto em relação à sua Hermenêutica,
mas sim sua teologia.

Origines viveu e escreveu antes dos grandes Concí-


lios da igreja, onde a doutrina (teologia) da igreja foi defi-
nida. Em 325 no Concílio de Nicéia, onde o Arianismo foi
rejeitado, tanto Ario quanto seu oponente Atanasius, fize-
ram uso de Origines para defender suas posições. Em 553,
portanto 225 anos após sua morte, Origines foi condenado
pelo altamente político Concílio de Constantinopla, que
fora convocado e manipulado pelo imperador Justino, para
servir suas necessidades políticas. A partir daí uma sombra
de heresia passou a repousar sobre ele.

50
21 Dias

Mas, como já falei, não quero entrar a fundo em ten-


tar analisar Origines. Deixe-me apenas colocar algo mais,
algo que descobri em minhas pesquisas. Um dos grandes
argumentos sobre a interpretação alegórica de Origines é
de que ele teria sido totalmente influenciado pela filosofia
Grega, especialmente o Platonismo.

Mas existe algo interessante, que só estudos ressentes


tem trazido à luz. Embora ele tenha sido criado em Ale-
xandria e estudado lá por boa parte da sua vida, combateu
arduamente a cultura Helênica. Sabemos disto por seu clás-
sico livro ´Contra Celsum` escrito em 245 A.D. Existe o
forte argumento que ao fazê-lo, Origines tenha incorporado
elementos do platonismo em sua teologia. Daí teria vindo
sua espiritualização ou alegorização do texto de Cantares.

A maioria dos que estudam isto sabem todas estas


coisas. O que é mais recente, é a descoberta da grande in-
fluência judaico-rabínica na vida de Origines. Ele passou as
últimas décadas da sua vida na Palestina, e lá viveu exem-
plarmente como um fiel seguidor de Jesus Cristo até sua
morte.

E. Ann Mattrer, pesquisador da Universidade da


Pennsylvania, passou anos de sua vida estudando Origines.
A pesquisa de Mattrer sobre a vida de Origines é de profun-
da valia para nós.

51
21 Dias

Sobre a influência Judaica, na interpretação alegórica


de Origines Matter escreve: “O contato de Origines com os
Rabinos da Palestina começou a ser estudado em profundi-
dade somente recentemente. Como Elizabeth Clark escre-
ve: ´O interesse acadêmico recente moveu-se de Origines,
o místico, para Origines, o pregador e exegeta e nisto nos
transportou de Alexandria para Cesaréia`.

Enquanto, essencialmente polêmico em sua atitude


em relação ao Judaísmo, Origines mostrou um forte respei-
to pelo conhecimento Judaico da Bíblia. Ele tentou apren-
der a linguagem e técnicas das interpretações rabínicas an-
teriores para prover os Cristãos com melhores ferramentas
para refutações.

Acadêmicos com interesse no desenvolvimento da


Exegese tipológica cristã tem apontado que elementos es-
senciais do método alegórico de Origines têm suas raízes na
interpretação judaica.” (The Voice of My Beloved, E, Ann
Matter, University of Pennsylvania Press, pg.20, 21).

Se isto é verdade, temos uma nova luz em relação


a origem da Interpretação Alegórica de Origines, pois tam-
bém sabemos que parte da tradição Rabínica, anterior a
Origines, interpreta Cantares alegoricamente, onde o Noivo
seria Deus e a Noiva Israel.

Uma outra forte corrente de interpretação rabínica an-


terior a Origines, olha para os três livros de Salomão com

52
21 Dias

uma visão alegórica fazendo um paralelo com a estrutura


do templo: Eclesiastes seria o Átrio, Provérbios o Lugar
Santo e Cantares o Santo dos Santos.

É extremamente abundante o número de comentá-


rios no Livro de Cantares nos séculos que se seguiram. A
vasta maioria deles fazendo uma interpretação alegórica ou
espiritual. Foi só depois da Reforma protestante, no século
XVI que o interesse por Cantares foi gradualmente dimi-
nuindo, até quase que desaparecer totalmente dos estudos
acadêmicos.

Novamente, comentar sobre este vasto assunto não


é tarefa fácil e demandaria muito mais tempo, pesquisa e
espaço, mas não posso deixar de pelo menos levantar esta
questão.

Sabemos que a Reforma protestante restaurou a Bí-


blia para seu devido lugar de autoridade e isto foi extraor-
dinário. Mas sabemos também que nos séculos posteriores
a chamada “crítica literária” e “crítica histórica”, especial-
mente o que foi denominado “alta crítica” desenvolvida por
muitos supostos teólogos que não acreditavam na inspira-
ção sobrenatural das escrituras, trouxe tremendos prejuízos
à fé e formação de milhares de líderes cristãos.

No bojo de tudo isto, desenvolveu-se uma pressupo-


sição de que tudo que veio da idade média em termos de

53
21 Dias

interpretação bíblica era superficial e sem real base aca-


dêmica. Devido ao livro de Cantares ter sido o livro mais
comentado na Idade Média, especialmente no Século XII,
o ataque a interpretação alegórica foi ainda mais forte. Só
mais recentemente, com pesquisas acadêmicas mais apro-
priadas que esta noção tem sido questionada.

Sobre isto Matter escreve: “Um dos imperativos teo-


lógicos da Reforma foi a estabelecimento firme de uma tra-
dição de estudo bíblico literal. Acadêmicos da reforma in-
sistem que a Bíblia fala claramente, no nível literal. Assim,
a explosão de estudos bíblicos do século XVI tratou com
desdém o que passou a ser visto como artifício de alegoria
medieval. Mais tarde, no período moderno, o crescimento
da análise crítica da forma das Escrituras, procurando re-
construir a forma e função original de cada livro da Bíblia,
mudou a ênfase ainda para mais longe das normas exegéti-
cas medievais. No caso de Cantares, o resultado normal é
a interpretação do texto como sendo a celebração do amor
humano”.

Matter segue comentando que isto se deu devido a


um entendimento superficial e errado do processo exegético
do período medieval. ´É um moderno entendimento errado
da prática literária medieval, de descartar os esforços de in-
terpretação de Cantares, como sendo plagiarismo ou igno-
rância e exegese medieval como sendo muito complicada,
não original ou simplesmente errada.

54
21 Dias

Este julgamento moderno, ligado a condenação da


interpretação alegórica, enfraqueceu a autoridade da tradi-
ção medieval. Gradualmente, as grandes coleções de co-
mentários bíblicos medievais, não mais apreciados, enten-
didos ou mesmo lidos, passaram a acumular poeira”.

Matter continua sua análise: “De fato, Cantares é um


livro da Bíblia que não apela para a exegese teológica mo-
derna, desde que não oferece leis divinas, princípios morais
ou história sagrada. Esta última observação faz isto ainda
mais intrigante porque Cantares foi o livro mais frequente-
mente comentado no Cristianismo medieval ” (E, Ann Mat-
ter, The voice of My Beloved, pg.4 - 6).

Minha intenção, com estes parágrafos, é o de chamar


a sua atenção para o questão de que muito do criticismo fei-
to à interpretação espiritual de textos das Escrituras, espe-
cialmente ao Livro de Cantares, vem destas pressuposições,
que só recentemente têm sido questionadas por estudos aca-
dêmicos mais apropriados.

3. A legitimidade da Interpretação Alegórica de


Cantares

Finalmente, quero citar algumas razões do porque


Cantares deve ser visto como um texto espiritual ou alegó-
rico, dadas por Gorge Borrowes, em seu livro “Comentário

55
21 Dias

no Cântico de Salomão”, publicado pela primeira vez em


1853. Os comentários bíblicos de Borrowes são profunda-
mente respeitados, mas seu comentário de Cantares é con-
siderado um clássico. Acredito que este é um dos melhores
materiais que já encontrei sobre interpretação alegórica.

Sobre a interpretação alegórica de Cantares, Bor-


rowes escreve: “Em Cantares, a verdade é ensinada não
por declarações didáticas, mas por ilustrações figurativas.
Como as doutrinas relacionadas com o trabalho e pessoa de
Jesus são colocadas literalmente no Novo Testamento, mas
são ilustradas pelo emblemático do culto judaico. Assim o
amor recíproco de Cristo e o seu povo, colocado por decla-
rações claras em outras porções da Bíblia, é aqui elucidada
por imagens poéticas e comparações. Os tipos são correta-
mente interpretados por um conhecimento das doutrinas do
Novo Testamento, enquanto estas doutrinas, consequente-
mente se tornam mais claras somente pela compreensão in-
teligente do significado destas tipologias. Então o amor do
Redentor e dos Redimidos, como ensinados por Ele mesmo
e seus discípulos inspirados, é ilustrado na linguagem em-
blemática deste Cântico”.(pg 13).

Sobre alegoria, Borrowes, explica: “Um único em-


blema ou ilustração, se destacando sozinho, é chamado um
tipo ou uma figura de coisas que virão. Quando os emble-
mas são multiplicados e a figura continua por uma certa
distância, o todo se torna uma alegoria. Esta é a natureza
deste livro. É uma ilustração alegórica da operação do amor
no seio dos santos e do redentor”.(pg.13).

56
21 Dias

Ao comentar sobre a inclusão do livro de Cantares


no cânon sagrado, Borrowes sita Fairbairns (Fairbains Ti-
pologia, Vol. 1, pg.5), que diz: “Recebendo este livro como
parte do cânon, que razões temos nós para dar a ele uma
interpretação alegórica?”

Ao proceder em mencionar estas razões, considera-


mos este ponto como definido, que nenhuma outra porção
das Escrituras têm um melhor direito do que este Cântico,
para um lugar no meio das páginas inspiradas. Tomando
este livro como Canônico, devemos nós não ir além do sen-
tido literal, ou devemos nós dar a ele um significado ale-
górico? Nós damos a ele um significado alegórico pelas
seguintes razões:

1. A recepção deste livro no cânon só pode ser atri-


buída ao fato de que representa alegoricamente o recíproco
amor de Cristo e seu povo. A razão por colocá-lo no cânon
não pode ter sido por cantar sobre o amor carnal, a isto todo
o objetivo das Escrituras se opõe.
2. “Impossível! Impossível”, diz Aben Ezra, o cele-
brado Rabino, “que o Cântico dos Cânticos trate de amor
carnal. Tudo é expressado nele na forma de alegoria. Se
este livro não fosse da mais alta dignidade, jamais teria sido
incorporado entre os escritos sagrados”.

3. Rosen Miller diz: “O casamento de Salomão não


era uma coisa de tanto importância para levar os judeus

57
21 Dias

a colocarem nas sagradas escrituras uma canção restrita a


este tópico somente. Nada foi admitido no cânon que não
seja inspirado e que não tenha uma direta influência no
crescimento espiritual do homem – que não seja útil para
instrução em justiça. (2 Tm 3.16)”.

4. A interpretação alegórica está em perfeito acordo


com o espírito da poesia oriental. O Cântico dos Cânticos
é um poema oriental. E esta forma alegórica de descrever
a união sagrada existente entre a raça humana como um
todo ou um indivíduo ou alma piedosa e o grande criador,
é comum em quase todos os poetas do oriente, dos tempos
antigos até os modernos.

O sentido alegórico das palavras mais frequente-


mente usadas neste tipo de poesia é: Vinho; que significa
devoção. Dormir; que significa meditação. Perfume; que
significa esperança religiosa. Beijo; que significa arrebata-
mento piedoso. Embriagado; que significa ardor religioso.
Lábios; que significa, mistérios de Deus. E beleza; que sig-
nifica perfeições de Deus.
Como Cântico dos Cânticos é uma produção oriental,
para uma pessoa familiarizada com o espírito da literatura
oriental, a interpretação alegórica é a mais natural. Para tal
pessoa, a interpretação literal é que pareceria errada, super-
ficial e anormal.

58
21 Dias

5. O nomes usados para designar as duas pessoas


mais importantes do Cântico provam que ele é alegórico.
Shelomoh e Shulamith diferem um do outro como Cornélio
difere de Cornélia. Eles estão em perfeita harmonia com o
tom da alegoria, como João Bunyans Cristão e Cristã estão
com o escopo do Peregrino Progresso.

De acordo com a profecia, Jesus seria chamado de


Príncipe da Paz (Is. 9:6), e Anjos proclamaram sua vinda
como sendo “paz na terra”. Os nomes aqui adotados estão
de acordo com tal caráter – Shelomoh significando Príncipe
da Paz e Shulamith, a Noiva de Sholemoth, a Princesa da
Paz.

6. Existem muitas coisas em Cantares que não podem


ser explicadas pelo conhecimento que temos dos costumes
Hebreus ou na verdade de nenhuma outra forma, sem consi-
derarmos o livro como uma alegoria. Tal distância de fatos
e costumes rígidos é somente permitido em uma alegoria.

Ao lermos uma história, nosso objetivo é o de ter


reproduzido um quadro dos eventos como eles realmente
existiram, em uma alegoria nós buscamos apenas uma ilus-
tração da verdade.

Ao poeta é universalmente permitido colocar seus


personagens, ainda que sejam estritamente históricos, em
circunstâncias, das quais sabemos não poderiam ter sido as
circunstâncias que os envolviam. E devemos notar a dife-

59
21 Dias

rença entre uma alegoria e uma tipologia. Tipos são aconte-


cimentos, personagens ou objetos apontados na velha dis-
pensação como ilustração de verdades a serem reveladas no
futuro. O significado mostrado por elas é metafórico, mas
os acontecimentos nos quais este significado é incorporado,
não são imaginários em nenhum nível; são totalmente reais.

Enquanto uma alegoria é uma metáfora contínua, o


material que a compõe pode ser tirado indiscriminadamente
do domínio de fatos ou ficção. Este Cântico não é uma tipo-
logia, mas uma representação alegórica do amor de Cristo
e sua igreja, um amor que existe e precisa de elucidação
tanto na velha aliança como na Nova. Todas as dificuldades
de interpretação dos acontecimentos do livro desaparecem
quando ele é visto como uma alegoria.

7. A conexão óbvia deste Cântico com o Salmo 45


e 72 é um outro fator para se dar a ele um significado ale-
górico. Eles são todos parte de uma unidade e pegam suas
imagens da corte e reino de Salomão. Os mais antigos intér-
pretes, tanto Judeus como Cristãos, dão a estes dois Salmos
uma clara interpretação alegórica.

Considerando-se, portanto, a identidade deles com o


livro de Cantares, em termos de imagens, espírito e pro-
pósito, todos os princípios corretos de exposição requerem
que demos a Cantares, como é dado aos dois Salmos, uma
igual interpretação alegórica.

60
21 Dias

8. As Escrituras aplicam o espírito desta alegoria a


Cristo e a Igreja. Em muitas passagens a relação de mari-
do e mulher é usada para estabelecer o relacionamento do
redentor e dos redimidos. Para estabelecermos a inspiração
de um livro, não há necessidade de que ele tenha sido expli-
citamente citado por Cristo e seus apóstolos.

Cantares não é o único livro do Velho Testamento


onde estas comparações são usadas. Como pode haver qual-
quer dúvida após uma linguagem como esta: “Tenho com-
parado a filha de Sião com uma bela e delicada mulher“
(Jr.6.2).

Depois de frequente repetição disto por toda reve-


lação bíblica, uma das últimas coisas nas Escrituras é o es-
tabelecimento desta alegoria além de qualquer questiona-
mento, ao chamar a igreja a Noiva, a esposa do Cordeiro.
(Ap 21.9). E como poderíamos buscar algo ainda mais sa-
tisfatório do que as palavras de nosso Salvador em Mateus
12.1-10 e 25.1-13?

O significado é feito absolutamente claro pela decla-


ração; “O reino dos céus é como um Rei que organizou um
casamento”. O Espírito Santo, inspirador de toda a Bíblia,
claramente destacou que a noiva é a igreja redimida, a alma
santificada, e que “seu Criador é seu marido, o Senhor dos
exércitos é o seu nome”.

61
21 Dias

9. As Escrituras fazem mais do que simplesmente


aplicar o espírito desta alegoria a Cristo e sua Igreja. Elas
estabelecem a união de Cristo e sua Igreja como o grande
fato em que a relação de casamento é fundamentada, em
sendo a ilustração desta união para a própria compreensão
do homem.

Em Ef 5. 22-23, o apóstolo pega a verdade da unida-


de entre Jesus e seu povo e faz disto a base de um argumento
para ilustrar e estabelecer as obrigações do relacionamento
conjugal.

Ele não parte do relacionamento conjugal para a


união entre Cristo e sua igreja, como se o anterior fosse o
primeiro e melhor princípio estabelecido. Mas ele vem da
união de Jesus com seu povo para a relação conjugal, no
sentido de que esta união era a primeira e o melhor fato
estabelecido.

No propósito de Deus, esta união entre Cristo e seu


povo, existiu antes da criação do homem e da instituição do
relacionamento conjugal. Amor na alma humana é a ima-
gem do amor em Deus e o amor do esposo e da esposa é a
imagem deste amor de Deus em Cristo exercido para seu
povo.

Espero que, a partir desta exposição, o livro de Can-


tares passe a ter um novo significado e consequentemente
um novo lugar em sua caminhada em direção a união com
o Senhor.

62
21 Dias

Um último ponto que quero fazer antes de nos mo-


vermos para a parte mais prática deste livro, é que ao medi-
tarmos no progresso do relacionamento da Noiva de Canta-
res com o Noivo em seus vários atributos, adquirimos uma
nova linguagem de oração, que nos conecta com Deus em
níveis emocionais e espirituais mais profundos.

Descobrimos que nosso relacionamento com Deus


em oração não precisa ser seco, acadêmico, legal. Mas, que
pode e deve ser fluido, orgânico, vivo e dinâmico. Como
Mike Bickle diz; Cantares nos dá permissão para usarmos
uma linguagem romântica em nossa vida de oração.

63
21 Dias

64
21 Dias

DIREÇÃO PRÁTICA
PARA MEDITAÇÃO

É um dos meus objetivos centrais neste livro, que


ao engajar nestes 21 dias, você desenvolva habilidade em
meditar na Palavra é que isto comece a se formar como um
hábito em sua vida. Usaremos o livro de Cantares, mas este
princípio pode ser aplicado a qualquer parte das Escrituras
Sagradas.

Neste capítulo quero caminhar passo a passo com


você em como meditar. Vou me basear no material de Kirk
Bennet, por ser um dos materiais mais simples e práticos
que já encontrei nesta área.

É importante que você estude bem este capítulo,


porque à medida que você começar a praticar meditação no
seu tempo com o Senhor, você se utilizará dos princípios
aqui ensinados.

65
21 Dias

1 - DEFININDO MEDITAÇÃO

A. Definição do Dicionário em Português

Submeter a exame interior, estudar, ponderar, pensar.


Ato ou efeito de meditar, reflexão, oração mental.

B. Pessoal
1. Definição simples

Ler uma frase ou verso bíblico, repetir várias vezes e


falar com Deus sobre o verso.

2. Definição de meditação da Escritura

A meditação é uma repetição planejada de versos ou


frases das escrituras pelo qual o espírito de uma pessoa é
aprofundado em Deus. Esta repetição é feita em um “con-
texto de oração. Esse ato de disciplina é intencional, cum-
prido pela fé e movido em direção a um novo encontro com
Cristo.

66
21 Dias

2 - PRINCÍPIOS PARA MEDITAÇÃO BÍBLICA

A. Leia

Leia o mesmo verso por várias vezes. Busque por pa-


lavras ou frases chaves. Foque no que você lê e no que isso
pode significar dentro do contexto. Pense em outras ma-
neiras de dizer as palavras. Note quais palavras podem ser
enfatizadas e como isso afeta o significado da frase.

B. Escreva

Escreva uma vez o verso exatamente como está es-


crito. Feche sua Bíblia e a coloque de lado. Uma vez que
você tem o verso, não precisará de outro verso para tirar sua
atenção do verso escolhido. Escreva uma pequena frase e
passe para o próximo passo – diga a frase.

Escreva as impressões, pensamentos e revelações que


você receber. Escreva a frase várias vezes em sua medi-
tação. Escrever fornece entendimento de coisas que nem
sempre a leitura trará. A Palavra escrita é poderosa e embo-
ra simples, é a profunda verdade que nos trará alegria, direi-
to, privilégio e oportunidades de escrever as maravilhosas
palavras do Deus não criado.

67
21 Dias

C . Diga (Fale)

Fale alto o verso ou a frase. Diga isso alto o suficien-


te para que seus ouvidos ouçam. Fé vem pelo ouvir e ouvir
a palavra de Deus. A maioria das coisas que você crê, são
coisas que você tem ouvido mais e mais. Ao passo que você
repete o verso ou a frase, certas palavras vão saltar em você.
Essas palavras devem ser repetidas mais e mais vezes.

D. Cante

Louvar é um meio de desbloquear o coração. Pegue a


frase que você isolou e cante várias vezes. Use a melodia ou
harmonia da música que esteja tocando no fundo. Escreva
aquilo que você sentir ou perceber.

Quando cantamos, nossa voz funciona de uma ma-


neira totalmente diferente de qualquer outro instrumento
musical. Nenhum outro instrumento musical carrega ao
mesmo tempo o fluxo de pensamentos e uma melodia. Essa
combinação de música e pensamento além de um grande
chamado é também um grande privilegio!

Declarar um verso bíblico em forma de canção im-


pacta nosso espírito, alma e corpo de uma forma dinâmica.
E Deus também nos prometeu que nosso louvor a Ele mo-
veria seu coração.

68
21 Dias

E. Ore

Oração é uma maneira divina de comunhão com


Deus. Quando repetimos uma frase e cremos nela estamos
falando ela de volta para Deus, o que é uma oração. Todas
as frases das escrituras são um convite para crermos e ter-
mos fé para caminhar nelas. Enquanto você esta orando,
peça a Deus que lhe ajude a crer no verso. Se a frase é uma
convocação de fé, então peça a Deus que lhe ajude a viver
o verso.

3 - TIPOS DE MEDITAÇÃO

A. Considerando

Quando sentamos e consideramos ou repetimos sim-


ples pensamentos em Deus, a eternidade se abre sobre nos-
sas cabeças. A coisa mais sábia que uma pessoa pode fazer
é pensar em Deus cada vez mais. Essa simples forma de
meditar para adquirir introspecção em Deus nos ajudará a
sermos mais como nosso criador e amado de nossa alma.

B. Ministrando para Deus

O capítulo 3 de 1 Samuel fala sobre um período onde


um pequeno garoto ministrou ao Senhor e como resultado
uma nação inteira ouviu a palavra do Senhor. Não há for-
ma mais poderosa de impactar nossas famílias, cidades e
nações do que ministrar a palavra de Deus de volta para Ele.

69
21 Dias

Esse ministério de escolher as escrituras e repeti-las


de volta para o Senhor é o chamado de todo cristão. Deus
habita nessa atividade, uma vez que Ele é o mais glorificado
quando sua palavra retorna para Ele e cumpre tudo aquilo
que Ele disse que faria.

C. Escribas

Escrever as escrituras e as palavras “Rhemas” de


Deus (as palavras específicas para o momento), é algo mais
poderoso do que quando palavras são simplesmente fala-
das. Os escribas eram mandados por Deus para lembrar
e relembrar quando a voz do Senhor havia falado. Deus
até requeria que todo rei de Israel fizesse uma cópia das
escrituras como parte do seu papel como líder da Nação.
O ministério dos escribas está sendo restaurado na igreja
hoje. Nunca antes houve tantas bíblias, sermões, profecias,
sonhos e visões escritos do que nesses últimos anos da his-
tória humana.

Uma outra coisa que acontece quando escrevemos


é que no próprio ato de escrever nossas conclusões rece-
bemos mais revelação. Quando você começa a escrever, o
Espírito Santo trabalha em níveis mais profundos, pois sua
atenção e concentração é bem maior e seus sentidos espiri-
tuais estão mais aguçados.

70
21 Dias

D. Contemplando

Contemplar ao Senhor é olhar continuamente para


Ele. A contemplação é o próximo degrau. Você gasta tempo
meditando e depois de um tempo naturalmente você é mo-
vido pelo Espírito de Deus para a contemplação. Ela não
vai acontecer todos os dias, mas à medida que seu homem
interior amadurecer através da meditação a habilidade de
contemplar será mais e mais manifestada.

Na contemplação, podemos focar em um atributo do


Pai ou do Filho e virtualmente fixar nossos olhos naquela
porção de Deus por horas. Aquilo em que focamos nosso
olhar é o que mais influenciará nosso homem interior. Esse
entendimento se chama “contemplando e se tornando”. Ao
focarmos nosso olhar em Deus, nos tornaremos mais pare-
cidos com Ele. (Sl 27.4).

E. Modelo para Meditação

Na segunda parte deste livro você terá folhas espe-


cialmente preparadas para sua meditação. O propósito des-
tas folhas é o de facilitar sua jornada na meditação.

Como este é um programa de 21 dias de meditação,


você terá 21 folhas com espaço par registrar sua meditação
(com algumas extras no final do livro).

71
21 Dias

72
21 Dias

Abaixo segue um modelo autoexplicativo de como


você poderá usar estas folhas:
MEDITAÇÃO Tarefa:

Meditação: Use essa sessão


para escrever
Tenha a disposição um papel sombreado
qualquer coisa
como esse ou abra uma pasta em seu
que considere
computador e escreva direto nele.
uma distração.
1. Faça dessa parte maior a sessão Escreva ambos,
para escrever sua meditação. bons ou maus
2. Escreva o verso aqui exatamente pensamentos e
como está escrito na Bíblia. ideias. Se você
3. Escreva uma porção isolada estiver tentando
do verso. lembrar de
4. Escreva qualquer pensamento, coisas para
impressão, visão ou qualquer coisa fazer mais tarde
relevante a Deus ou ao verso. ou tentando
5. Use a técnica do L-E-D-CO se livrar de
(leia-escreva-diga-cante e ore) pensamentos
negativos,
Você iniciará uma batalha quando
escrever tais
começar a meditar e isso continuará
coisas fazem
durante o tempo que gastar diante do
com que sua
Senhor. Muitas coisas virão em sua
mente não
mente que parecerão razões para parar.
se distraia,
Usualmente distrações aparecem como
fazendo com
boas ideias, dormir ou pensamentos
que você foque
pecaminosos. A maior luta dessas 3 serão
novamente na
as boas ideias. Então, colocara disposição
meditação.
um papel como esse lhe ajudará a
organizar seus pensamentos com o
objetivo de manter-se focado
na meditação.

Busca: Escreva nesse espaço outros versos e temas para


procurar mais tarde.

73
21 Dias

74
21 Dias

PARTE II

21 DIAS NO LUGAR SECRETO


Desenvolvendo um Novo Hábito
de Encontrar-se Com Jesus Todos os Dias

75
21 Dias

76
21 Dias

PROGRAMA DIÁRIO DE 21 DIAS


DE MEDITAÇÃO EM CANTARES

Agora chegamos no propósito central deste livro.


Você iniciando sua própria jornada de meditação em Can-
tares. Sua vida será impactada nestes dias. Minha oração é
para que você tenha encontros com o Senhor que produzam
fascinação e transformação. Que este seja o início de uma
nova jornada na sua vida em Deus.

Escolhi caminhar por todo o livro de Cantares nestes


21 dias com o propósito de te dar uma visão geral e contí-
nua do livro, mas tenho o claro entendimento de que é im-
possível meditar em todo o texto em um período tão curto.

Por isto, depois de ter lido o texto escolhido para cada


dia, escolha um ou dois versos para você meditar durante o
dia. É muito difícil meditar em 4 a 5 versículos por dia em
profundidade.

77
21 Dias

O comentário que faço para cada dia é apenas uma


simples exposição da minha jornada até aqui, que pessoal-
mente considero superficial e introdutória. Em outras pala-
vras, ainda nem dei os primeiros passos, continuo engati-
nhando em relação ao conteúdo e profundidade deste livro.

Provavelmente eu faria melhor se em cada parte colo-


casse o comentário de Madame Guyon ou de Teresa de Avi-
la ou de João da Cruz ou de Penn Lewis ou Mike Bickle ou
ainda de Jaqueline K. Lodos. Estes são alguns dos que tem
tocado profundamente minha vida através dos seus anos de
meditação neste livro.

Mas resolvi colocar o meu próprio, pois mesmo em


simplicidade e sem muita profundidade creio que inspirará
você a fazer o mesmo. Se eu posso fazer você também pode.

A segunda razão de colocar o meu simples a não po-


lido comentário é a de que minha intenção é a de que você
não fique preso a ele, mas o veja apenas como uma referên-
cia.

78
21 Dias

Você pode fazer o seguinte:


• Leia o Texto em oração.
• Leia o comentário.
• Volte para o texto e comece a meditar.
• Faça suas anotações, escreva tudo que o Espírito
Santo trouxer à sua mente sobre a frase ou texto que você
destacou em sua meditação.
• Repita este processo por várias vezes.
• Agora, no final da sua meditação, se você quiser
voltar para meu comentário e fazer uma comparação talvez
seja útil. Mas não faça nenhuma alteração nos seus comen-
tários por causa do meu.

79
21 Dias

80
21 Dias

1º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 1.1- 4


Meditação:

v.1 - Cantares é o Cântico dos Cânticos (v.1), isto é,


o musical dos musicais. A inspiração foi dada ao Rei Sa-
lomão, mas o inspirador é o próprio Senhor Jesus. Há um
paralelo aqui com o Cântico do Cordeiro, que é cantado nos
céus (Ap 5.9; 15.3).
Este Cântico dos Cânticos, que também é chamado
de Cantares na maioria das traduções para o Português, é
cantado e declamado ora pelo Noivo (Jesus) ora pela Noiva
(Igreja preparada), com algumas interlocuções das Virgens
de Jerusalém (Igreja despreparada, que não entende esta re-
lação de amor).
Mas é importante termos em mente que todo o livro
foi Inspirado por Jesus. É Ele quem desenvolve a história
de amor, que revela as etapas, os processos que a própria
Noiva passaria. É importante ver isso neste início, que Je-
sus faz as declarações do Noivo, mas também inspira a res-
posta da Noiva. É ele quem está escrevendo todo o Livro,
quem está dando toda a revelação a Salomão.
v.2 – A Noiva deseja intimidade. Deseja ser tocada e
tocar o amado. Ela começa declarando seu desejo por inti-
midade. Somos chamados a desejar o beijo de Deus. Este

81
21 Dias

beijo, é o beijo da intimidade, da revelação, da Palavra fala-


da como “Palavra Rhema” em nossos corações.

Pois teu amor é melhor do que o vinho.


O vinho pode ser as boas dádivas de Deus, os dons,
os ministérios, o chamado. Receber o amor de Jesus é me-
lhor do que receber qualquer outra coisa de Deus.
Vinho também fala dos desejos naturais da vida, da-
quilo que alimenta os nossos sensos. Ainda que seja um le-
gitimo vinho que nutra minha necessidade natural eu digo
que prefiro ficar com o Senhor. Prefiro o abandono do jejum
e oração do que qualquer outra provisão sensorial.
v.3 – O perfume de Jesus é agradável a mim. Pois seu
perfume me fala do Seu nome. Salvador, redentor amado.
Cheiro suave. “Cheiro de vida para a vida...” (2 Cr 2.16).
v.4 – Por isso eu quero te buscar. Quero correr após
ti. Quero me alegrar e me regozijar somente em ti. Quero
me lembrar de ti todo o tempo, mais do que qualquer outro
atrativo.
Oh, Senhor introduza-me nas tuas recamaras! Leva-
-me para o lugar onde eu possa estar a sós contigo. Em inti-
midade com meu Jesus, o amado da minha alma.

82
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

83
21 Dias

2º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 1.5-11


Meditação:

v.5 e 6 – A noiva é segura em si mesma, pois ela sabe


que o Rei a ama como ela é. Ela é assim, pois foi exposta
pelos filhos de sua mãe. Nem sempre a noiva comprometida
com o noivo será poupada e admirada, mas os testes deste
processo nos amadurecem. O sol nos torna mais resistentes
e até agradáveis ao Senhor.
v. 7 – O Senhor disse: minhas ovelhas ouvem a minha
voz”(Jo 10). A Igreja que sabe de sua identidade de noiva
não quer andar errante, seguindo qualquer pastor. Ela quer
seguir o único legítimo pastor das nossas almas, Jesus Cris-
to. Nada de aventuras fora do aprisco do bom pastor.
v.8 – Ele responde com doçura. Para ele, quando o
buscamos, somos a Noiva formosa. Ele nos manda seguir
pela pisada das ovelhas. Nunca perdermos esta identidade.
Somos ovelhas e se seguirmos humildemente por estas pi-
sadas o encontraremos.
v.9-11 – O amado trata a noiva como “querida amig”a.
Jesus falou em João 15.15: “Já não vos chamo mais ser-
vos mas amigos, pois os servos não sabem o que fazem seu
Senhor. Antes, tenho-vos chamado amigos, pois tudo o que
ouvi do meu Pai tenho vos dado a conhecer”.

84
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

85
21 Dias

3º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 1. 12-17


Meditação:

v.12-14 – Aqui a figura do amado não é mais de Pas-


tor mas de Rei. O meu amado Rei está assentado à mesa.
Estou a contemplá-lo e posso sentir o seu perfume. Ele me
envolve como o agradável perfume do nardo. Por isso ele
é como um agradável perfume; como ramalhete de mirra e
como ramalhete de hena. O perfume de Cristo é o perfume
que nos atrai, que nos eleva e nos fascina.
v. 15 – A resposta do Amado, do Rei apaixonado, é
a de exaltar a formosura da Noiva. O Senhor nos vê desta
forma, como belos diante dele.
v.16, 17 – A resposta da noiva: Em contrapartida so-
mos chamados a responder no mesmo nível, exaltando a
formosura do Senhor. Ele é amável. E o lugar da nossa inti-
midade é agradável, é desejável, é bonito.
Este lugar de intimidade no Senhor é um lugar segu-
ro, não é uma casa construída na areia, mas tem suas traves
de cedro e suas varandas de ciprestes.

86
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

87
21 Dias

4º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 2.1-4


Meditação:

v. 1 – O amado é como a flor que não cresce no jardim


fechado, mas nos campos abertos e nos vales. Ele é para ser
buscado ainda que haja riscos nesta busca.
v.2 – Viver neste lugar de Noiva apaixonada é viver
como uma flor delicada entre espinhos perigosos. Não bus-
camos popularidade ou compreensão, buscamos apenas
nosso amado.
v.3 – Pois nosso desejo é pelo nosso amado. Deseja-
mos a sua sombra e o seu alimento. Como Maria, nos assen-
tamos aos pés de Jesus, pois uma coisa só nos é necessária.
o fruto da sua presença nos é doce ao paladar.
v.4 – Mais uma vez desejamos estar a sós com ele.
Desejamos ser selados com o seu amor. Estandarte é o sím-
bolo Real, seu brasão, sua identidade. Que esta identidade
em nós seja o amor que nos une.

88
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

89
21 Dias

5º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 2.5-9


Meditação:

v.5 – O Senhor Jesus é tão maravilhoso, tão extraor-


dinário que não podemos nem imaginar viver sem Ele. Ele
nos fascina tanto, ao ponto de ficarmos doentes de amor.
v.6 – É neste lugar que desejamos a conexão com nos-
so amado Jesus. Queremos ser totalmente envolvidos por
Ele. A Palavra diz: “Porque morrestes, e a vossa vida esta
escondida com Cristo em Deus”(Cl 3.3).
v.7 – As filhas de Jerusalém representam a Igreja que
não entende esta paixão. Elas são virgens, são parte da igre-
ja, mas suas lamparinas estão apagadas. Elas não tem auto-
ridade para lidar com a Noiva apaixonada.
v.8,9 – Eu mesmo, diz a noiva, estou pronta para ou-
vir a voz do meu amado. Ele é como o animal selvagem,
que aparece e se esconde. Se mostra e se esconde, pois Ele
deseja ser buscado com intensidade.

90
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

91
21 Dias

6º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 2.10-13


Meditação:

v.10-13 – O Senhor nos convida para sairmos do lu-


gar de descanso, do lugar do comodismo. É tempo de se
levantar. Sair deste nível, mudar de estágio. Os sinais dos
tempos estão visíveis, o tempo profético já está se cumprin-
do, a figueira já está amadurecendo, dando os seus frutos.
É tempo para nos levantarmos e entrarmos em novos níveis
de adoração. O tempo de cantar chegou.
v.14 – Chega de se esconder, o Senhor quer ver a tua
face. Quer sentir você pleno, entrando em completa ado-
ração. Sua adoração é agradável ao Senhor e sua presença
desejável. “ Sua voz é doce e o teu rosto formoso”.
v.15 – As raposas e as raposinhas são as pequenas
coisas que nos tiram do lugar de comunhão. Nos tiram do
jardim da Adoração e Intimidade. Muitas vezes, quando es-
tamos bem perto de romper neste lugar, permitimos que pe-
quenas coisas destruam nossas flores. São os chamados pe-
quenos e inofensivos pecados, aqueles que só afetam a nós,
às vezes cometidos na calada da noite, sem ninguém estar
vendo. Mas é aí, bem aí que o inimigo com suas pequenas
raposas tem roubado nossa intimidade com o Senhor.

92
21 Dias

v.16 – Temos que lembrar que o Senhor se manifesta


entre os lírios. Lugar de beleza e pureza. Temos que nos
lembrar sempre que somos dele e somente dele e que tam-
bém Ele é nosso amado.
v.17 – Em meio as pequenas distrações, as raposi-
nhas, O perdemos de vista, mas não queremos ficar assim.
O clamor da nossa alma é: “Volta amado meu”. Pode ser
como o Gamo e o filho da Gazela, que se mostra e depois
se esconde, pois queremos saber onde está em que direção
ir para te encontrar.

93
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

94
21 Dias

7º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 3.1-5


Meditação:

V.1-2 – Como noiva apaixonada devemos pagar o


preço necessário para encontrar o Senhor. É necessário sair
da nossa zona de conforto, do nosso ninho aquecido.
v.3 – Em nossa busca, vamos encontrar outros que
estão apenas cumprindo suas obrigações religiosas. Não
devemos nos deter com eles, pois eles não sabem como en-
contrar o Noivo.
v.4 - É quando nos afastamos destes círculos seguros
que logo encontramos o Senhor. Quando o acharmos deve-
mos parar, nos deter, permanecer com ele. Quantas vezes o
Senhor vem e o deixamos ir pois temos outras atividades
que consideramos espirituais para fazer.
v.5 – O amor não é um ato religioso, forçado, mas um
fluir espontâneo do coração. Quem não tem amor, não pode
despertar amor em outros.

95
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

96
21 Dias

8º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 3.6-11


Meditação:

v.6 – O Rei Jesus está subindo do deserto. Foi a saída


do deserto que marcou o inicio do seu ministério na terra
(Lc 4). Ele vem com toda unção necessária para o seu ca-
samento.
v.7-11 – O Rei vem para desposar a Noiva. Esta é a
descrição do processo de preparação do Casamento do Rei
Jesus. É com o “Rei Jesus” que vamos nos casar para rei-
narmos com ele em seu reino milenar e eterno.
Este dia, o dia das bodas, do casamento do Cordeiro,
será um dia de grande júbilo. É o dia de “júbilo do seu co-
ração”.

97
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

98
21 Dias

9º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 4.1-7


Meditação:

v.1-5 – Depois das núpcias (casamento), descrita nos


versos anteriores (3.6 -11), o noivo, agora esposo, fala da
beleza que ele encontra em sua Amada esposa. Agora que
ele a conhece em mais intimidade, ele pode descrever no-
vos aspectos de sua beleza.
Este esposo apaixonado não tem reservas, não tem
vergonha em declarar para sua nova esposa o quanto ela é
linda, o quanto ele a admira. Cada aspecto da sua constitui-
ção física é agradável a ele. Ela é toda formosa. Jesus quer
que saibamos o quanto ele nos admira. Em seu olhar espiri-
tual ele olha para sua igreja e encontra nela formosura.
Somos admirados por Jesus. Efésios nos diz que ele
está trabalhando em nós, ele está nos aperfeiçoando, para
em primeiro lugar nos apresentar para si mesmo (Ef 5.27).
O processo do Deus apaixonado é o seguinte: Ele nos
salva, nos purifica, nos transforma, nos embeleza como se-
res humanos, para então nos admirar, nos apreciar. É isto
mesmo: você tem a identidade da ´Noiva` que é aprecia-
da por Jesus. Pois Ele vê o trabalho dele em você. Somos
transformados de glória em glória para ficarmos mais pare-
cidos com Ele (2 Cor 3.18).

99
21 Dias

v.6 – O monte da mirra e o outeiro do incenso falam


do lugar da adoração. Nossa adoração e intercessão atraem
ao Senhor. Ele deseja se encontrar conosco neste lugar.
Isto também nos mostra uma restauração do plano
original de Deus, pois era neste mesmo horário que Deus
vinha se encontrar com o primeiro casal da criação (Gn 3.8).
v.7 – Aos olhos do amado não temos defeito, pois Ele
nos vê através do calvário. Na sua obra redentiva fomos fei-
tos novas criaturas, tudo já se fez novo. Ele nos olha como
produto resultado final do seu sacrifício na Cruz (“...Ele
verá o fruto do seu trabalho e ficará satisfeito”- Is 53.11).

100
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

101
21 Dias

10º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 4. 8-11


Meditação:

v.8 – “Vem comigo do Líbano esposa minha”. Até


agora te chamei minha justa, minha amada, minha pomba,
mas pela primeira vez te chamo; minha esposa. E é deste
lugar de destino de ser a esposa eterna do Cordeiro que ele
nos chama para sair do Líbano, que representa lugar estran-
geiro e lugares baixos, para entrarmos em uma nova reali-
dade de ver dos lugares altos. Dos montes da revelação. “...
sobe aqui...e te mostrarei...”(Ap 4.1). Mas é preciso saber
que neste processo precisamos estar prontos a passar pelos
montes dos desafios, (moradas dos leões e montes do leo-
pardo). Viver por Ele. Sofrer por Ele.
v.9 – “Arrebataste o meu coração, minha irmã, minha
esposa”. Este convite para se abandonar nele nos lugares al-
tos é real, pois Ele está fascinado por sua esposa. Uma ação,
uma manifestação de amor, de nos embelezarmos (santifi-
carmos) para Ele já o move, já o comove.
v.10, 11 – Agora é Ele quem declara que o amor de
sua esposa é melhor do que o vinho. Nossa entrega de amor,
nossa resposta pessoal é que move Jesus. Isso representa
mais para Ele do que todos os trabalhos que possamos ofe-
recê-lo.

102
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

103
21 Dias

11º PRIMEIRO DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 4:12-15


Meditação:

v.12. Jesus continua expressando seu desejo de ter co-


munhão conosco. “Jardim fechado” fala da nossa adoração
secreta.
(“Tu quando orares entra no teu lugar secreto...” -
Mt.6.6).
v.13-14 Neste lugar secreto, onde é só Ele e nós, nos-
sa expressão de amor (adoração) é para o Senhor como per-
fume de muitas especiarias. É extremamente agradável .
“...Cada um tinha uma harpa e taças de ouro cheias
de incenso, que são as orações dos santos” (Ap 5.8).
v.15. O Senhor reafirma que nós o tocamos, que nos-
sa adoração é como água fresca que sai de uma fonte.

104
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

105
21 Dias

12º SEGUNDO DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 4.16


Meditação:

v.16. Nesta altura, a resposta desta noiva, que está


amadurecendo mais e mais para ocupar sua legítima po-
sição de “esposa do cordeiro”, é apropriada. Ela diz não
importa o preço que eu tenha que pagar. Estou disposta a
sair da minha zona de conforto e deixar o vento soprar. Na
verdade ela convida o vento para soprar sobre ela.
“ Venha vento norte! Venha, vento sul! Sopre sobre
o meu jardim...” Vento que traz os favores de Deus, mas
também ventos que trazem batalhas. Que os movimentos
dos ventos bons e dos ventos maus possam gerar novos per-
fumes de adoração para meu amado. “Porque para Deus
somos o bom perfume de Cristo...” (2 Cr 2.15). “Quero co-
nhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a partici-
pação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua
morte, para de alguma forma, alcançar a ressurreição den-
tre os mortos” (Fl 3.10, 11). Que o jardim do nosso coração
possa receber os ventos e ser movimentado para exalar o
verdadeiro perfume de adoração ao amado da nossa alma.
Ele é digno de receber nossa resposta voluntária de amor
em todas as circunstâncias.

106
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

107
21 Dias

13º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 5.1-8


Meditação:

v.1. No verso anterior a alma apaixonada diz: “quero


que meu amado entre no seu Jardim...”(4.16b). A respos-
ta do amado é contundente: “Entrei no meu jardim, minha
irmã, noiva minha...” O Senhor sempre responde aos nos-
sos movimentos em direção a Ele. O perfume da nossa ado-
ração é irresistível ao Senhor.
v.2-8. No processo de amadurecimento do amor eu e
você passaremos por testes, por provações. Às vezes o Se-
nhor se manifestará com o doce perfume da sua presença e
às vezes Ele nos deixará sentir o seu perfume, mas se ausen-
tará e teremos que buscá-lo. A Palavra diz: “Buscar-me-eis
e me achareis quando me buscardes de todo o coração” (Jr
29.13).
Algumas vezes no processo desta busca nossa alma
passará por grandes lutas e incertezas. “...os guardas dos
muros, espancaram-me, feriram-me...”(v.7). E às vezes
sentiremos que perdemos a graça, a unção, a cobertura: “...
arrancaram o meu manto... “(v.7b). Será na perseverança
que nosso amor será testado e que teremos o resultado que
desejamos (v8). “ Na vossa perseverança, ganhareis a vos-
sa alma” (Lc 21.19).

108
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

109
21 Dias

14 º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 5. 9-16


Meditação:

v.9. Depois do ataque frontal vem o ataque sútil, aque-


la voz que tenta trazer dúvida e frieza para nosso coração.
“Quem é o teu amado mais do que outro amado?”
O ataque vem para questionar o valor único de Jesus
para nossa vida.
v.10-16. Mas a noiva (nossa alma), que neste estágio
já está amadurecida em sua caminhada de amor com o Se-
nhor, ao invés de lamentar e reclamar por causa das bata-
lhas de sua jornada, foca no valor e beleza do seu amado.
Este é o lugar que todos podemos chegar. A alma
tão apaixonada, tão fascinada por Jesus, que tudo que sai
é exaltação ao que Ele é. Ele é digno de receber a honra , o
louvor e o poder pelos séculos dos séculos. (Ap 5.12).

110
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

111
21 Dias

15 º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 6.1-9


Meditação:

v.1-3. O amado ainda não foi encontrado, mas a alma


amadurecida está descansada, pois aprendeu a confiar no
Senhor, o seu amado. Mesmo que ninguém veja e mesmo
que eu não sinta nada, sei que meu amado está trabalhando
em meu coração. “O meu amado desceu no seu jardim...
para cuidar do rebanho e para colher os lírios” (v.2). Neste
lugar de confiança e descanso ela afirma mais uma vez: “Eu
sou do meu amado e o meu amado é meu...”(v.3).
v.4-9. Depois de um longo período de silêncio, onde
a alma é provada em seu amor voluntário e em sua perseve-
rança, mesmo sem ver ou sentir nada, o Senhor explode em
uma magnificente declaração de amor por nós.
Ele nos diz que somos únicos para ele (v.9), que um
simples olhar nosso em sua direção o atrai para nós (v.5).
Como o Senhor Jesus valoriza nosso amor por Ele e nossa
perseverança. Nenhum dos seus movimentos de obediência
amorosa voluntária são passados despercebidos por Jesus.
Ele aprecia e valoriza cada um deles.

112
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

113
21 Dias

16 º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 6.10-13


Meditação:

v.10. Aqui está a Noiva amadurecida, a igreja pre-


parada, a alma corretamente posicionada. É neste estágio
da igreja que o Senhor começará os preparativos para vir
buscá-la e consumar o casamento. É neste lugar que nossa
alma precisa chegar.
“Para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa,
sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante,
mas santa e irrepreensível”(Ef 5.27).
V.11,12. Neste estágio ela (a alma, a igreja) deseja
a união final, ela busca por sinais para ver se a hora já está
chegando.
“...Quando os ramos se renovam e as folhas brotam,
sabeis que o verão está próximo. Da mesma forma, quando
virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, às
portas” ( Mt 24.32; 33).

114
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

115
21 Dias

17 º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 7.1-8


Meditação:

v.1-8. A apreciação do Senhor sobre sua Noiva con-


tinua e se intensifica. Como um jovem apaixonado, que na
noite de núpcias só tem olhos para a beleza de sua amada,
assim é o Senhor quando olha para nossa alma.
Quando nos entregamos totalmente a Ele, sua respos-
ta de amor é de exaltar nossas virtudes e de desfrutar do
relacionamento espiritual conosco. O Senhor realmente tem
prazer em nós. “Como és linda, como és bela, ó amor em
delícias!” (v.6).
Em Isaías 53.11 está escrito que “Ele verá o fruto do
trabalho da sua alma (nossa vida salva “e dedicada a ele) e
ficará satisfeito (terá prazer)”.
“Porque o Senhor tem prazer no Seu povo; Ele embe-
lezará o humilde com salvação” (Sl149.4).

116
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

117
21 Dias

18º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 7. 9-13


Meditação:

v.9. No começo da jornada a alma deseja ser beijada


pela Palavra de Deus (1:2). Aqui ela responde a experiência
de ter sido tocada com a revelação da Palavra do Senhor
em sua jornada e reconhece que experimentar os beijos do
Senhor (sua presença e sua Palavra) é o que traz plena sa-
tisfação.
v.10. Neste lugar de amor maduro, ela não mais busca
seus próprios interesses, mas sim o interesse do seu amado.
“...eu sou do meu amado, e o desejo dele é por mim”.
v.11-13. O único desejo desta alma fascinada e con-
victa é o de estar com o Senhor, sem mais nenhuma dis-
tração. Pela noite, pela manhã, todo o tempo, tudo que ela
deseja é continuamente lhe dar o seu amor.
“Por isso estão diante do trono de Deus e o servem
de dia e de noite no seu santuário, e aquele que está assen-
tado no trono estenderá o seu tabernáculo sobre eles”. (Ap
7.15).

118
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

119
21 Dias

19 º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 8.1-5


Meditação:

v.1-4. No mesmo espírito de amor voluntário maduro,


ela, a alma, a noiva do Cordeiro, que está pronta para as bo-
das, deseja desfrutar de mais intimidade com Ele. Tudo que
esta igreja deseja neste estágio final é o Senhor. Nada mais
tem valor, nada mais tem graça. Ela deseja estar com Ele 24
horas por dia. Ele quer continuar aprendendo. “..te traria à
casa da minha mãe, e tu me ensinarias” (v.2).
Ela deseja agradá-lo com sua devoção, com sua ado-
ração “...te daria vinho aromático...e néctar das minha ro-
mãs” (v.2b).
Ela deseja a contínua presença manifesta do Senhor
(v.3). Ela está pronta para viver só para Ele por toda a eter-
nidade. Ela é vista totalmente dependente do Senhor (v.5).

120
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

121
21 Dias

20 º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 8.6-7


Meditação:

v.6. A resposta do Senhor a nós neste estágio é: Eu


mesmo te atraí para mim, fui Eu quem te amei primeiro.
Antes mesmo que você existisse Eu já tinha te escolhido
para ser minha. “Antes que eu te formasse no ventre te co-
nheci, e antes que nasceste te consagrei...” (Jr 1.5). “Deus...
que desde o ventre da minha mãe me separou e me chamou
pela sua graça” (Gl 1.15).
v.7. Por isto Ele reafirma a nossa escolha. Ele reforça
que o lugar de dedicação exclusiva onde chegamos é o lu-
gar do nosso destino.
É necessário selar isto. Estabelecer algo que não pode
ser rompido, como o “selo real em um documento”. Pois
este lugar de amor é o ápice da nossa jornada, o pináculo do
nosso chamado para Deus e não há nada mais forte do que
isto. É mais forte do que a própria morte, mais forte do que
a sepultura. É forte como o fogo. Fogo vivo de amor.

122
21 Dias

MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

123
21 Dias

21º DIA: ___/___/___

Texto base: Cantares 8. 8-14


Meditação:

v.8,9. Na fase final de união muitos pensarão que a


noiva ainda não está pronta. Ela parecerá pequena, frágil e
imatura para os olhos carnais, pois suas virtudes de amor
estão no secreto do seu interior.
v.10. No entanto ela sabe que está pronta para a con-
sumação da união. Ela é a noiva preparada, pronta para
entregar tudo ao seu amado. Sua vida, seu ministério (vi-
nha-v.12) seu futuro. Tudo que ela deseja é ouvir a voz do
Seu amado. “...deixa-me ouvir tua voz”. (v.13). “Minhas
ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me se-
guem” (Jo10.27). Ela quer ouvir a sua voz para seguir a sua
liderança, pois ela também tem um clamor. Algo que está
explodindo dentro dela.
v.14. Este clamor é o clamor pela sua volta: “Venha
depressa, amado meu”. Ela está totalmente pronta para se
encontrar com Ele e viver com Ele para sempre. “O Espí-
rito e a Noiva dizem vem” (Ap 22.17). E a resposta do Se-
nhor para sua Noiva é esta: “Certamente venho em breve!”
(Ap 22.20). E nosso eco é: Amém. Vem, Senhor Jesus! (Ap
22.20b)

124
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MEDITAÇÃO Tarefa:

Verso (s):

Revelação:

Busca:

125
21 Dias

126
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