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Queridos Irmãos,
no entanto, nós, os aprendizes, fomos informados de que não devemos pisá-lo; de que é
preciso contorná-lo no sentido horário em nossa circulação em Templo. Mais que isso, o
piso domina o centro do Templo e nos enche de respeito à sua simbologia, ainda que,
nesses primeiros contatos com a Maçonaria, desconheçamos o seu significado. Era
preciso pesquisar mais, encontrar respostas a perguntas simples como: por que o branco
e o preto? Por que o piso mosaico do nosso Templo não tem as mesmas dimensões e tipo
de assentamento das lajes da planta apresentada no Manual?
Diz a lenda que Moisés, líder do povo hebreu na passagem bíblica do Êxodo, teria
assentado pequenas pedras coloridas no chão do Tabernáculo, que era o templo móvel
utilizado na longa caminhada dos hebreus. Aquelas pedras vieram a chamar-se ao longo
da história, piso mosaico. A palavra “mosaico” pode ser usada tanto como adjetivo ou
substantivo. Neste uso, serve hoje para designar “qualquer pavimento de ladrilhos ou os
desenhos formados por pedras ou peças coloridas”, na definição de AURÉLIO
BUARQUE DE HOLANDA. Como adjetivo, relaciona-se ao patriarca e líder Moisés,
como nos exemplos “legislação mosaica”, “pavimento mosaico” e outros.
Outros povos usaram o piso sumeriano como motivo de decoração para seus templos,
sem a atribuição de sagrado e é certo que os hebreus não o utilizaram.
A Maçonaria adotou para seus templos o piso quadriculado, sem a conotação de sagrado.
Sequer houve unanimidade na adoção do piso, pois alguns ritos escoceses do século
XVIII sequer o mencionam, ainda segundo JOSÉ CASTELLANI.
Quando a lenda é mais bonita que os fatos, adota-se a lenda. É linda a lenda segundo a
qual o pavimento mosaico adornava o Templo de Jerusalém e que lá os antigos maçons
teriam buscado inspiração para a adoção do Piso Mosaico. Mas os fatos apontam que não
havia piso mosaico no Templo de Jerusalém e que sua origem é, verdadeiramente,
sumeriana e sobre seu resgate como adorno dos templos maçônicos, falarei mais adiante.
O Pavimento Mosaico, como adorno sem valor filosófico que é, não consta das obrigações
estatuídas nos artigos da Constituição do Grande Oriente do Brasil. Mais que isso, o artigo
18 dessa Constituição, em seu inciso IV, assegura às lojas até o direito de mudar de Rito.
OS RITOS.
RIZZARDO DA CAMINO, em seu trabalho “Introdução à Maçonaria”, lista 117
diferentes ritos maçônicos em ordem alfabética, indo do Rito da Adoção, que nasceu na
França em 1730, que admite mulheres em seus quadros e é popular no Brasil, até o Rito
Zodíaco Maçônico, que aplicava a astrologia em seus trabalhos e que teve efêmera
duração. Entre eles, apenas como curiosidade, consta até um Rito Gaúcho, inspirado no
Escocês Antigo e Aceito, que muda os três graus simbólicos para peão, capataz e patrão,
ao invés dos nossos aprendiz, companheiro e mestre.
Da longa lista, destacam-se dois ritos pertinentes ao tema do Pavimento Mosaico. Esses
ritos são o SCHROEDER e o de YORK, ambos fundados na Europa no século XVIII,
atualmente bastante divulgados entre os brasileiros e reconhecidos pelo Grande Oriente
do Brasil.
Concluindo esta pesquisa, a bem da brevidade e não porque o tema se tenha esgotado,
proponho a questão:
A idéia se sustenta, pois ainda hoje há pigmentos raros. O vermelho carmim natural, por
exemplo, somente é produzido através de um tipo de besouro encontrado apenas nos
Andes e seu preço é estratosférico. O amarelo puro, ainda que sintético, é o corante mais
caro dentre todos. Há apenas 500 anos atrás, o pau-brasil fez a fama de nosso País
exatamente pela raridade do tom de seu pigmento, que tingia as vestes de autoridades
eclesiásticas e de nobres das cortes européias.
Se hoje aceitamos com naturalidade que o branco e o negro simbolizam o bem e o mal,
resta sabermos quando esse conceito foi trazido ao interior do Templo Maçônico, com
finalidade estética e simbólica. Viajemos no tempo.
NICOLA ASLAN sugere o dia 24 de junho de 1717 como data histórica da fundação da
Maçonaria moderna e que a história da própria Inglaterra até essa data deve ser o ponto
de partida para os estudiosos maçônicos. O tempo histórico compreendido entre 1 277 e
1 666, foi conhecido como Maçonaria Operativa, quase um precursor dos atuais
sindicatos. Naqueles tempos, os operários que exerciam algum ofício do tipo autônomo
eram obrigados a aderir às respectivas Livery Companies. Os talhadores de pedras
especializados organizaram a sua, a Company of Masons, que era uma das 91 associações
de classe existentes em Londres e sequer figurava entre as 12 maiores e mais importantes.
Mas ela resistiu.
Ainda estou pesquisando o Piso Mosaico, embora vos possa parecer uma longa volta no
tema e no tempo.
Portugal, que desde 1580 passara a depender politicamente da Espanha, sentiu na própria
carne o absolutismo, o Santo Ofício e a censura. Nem a restauração da Monarquia
Portuguesa, em 1640, conseguiu reerguer o país ao brilhantismo do século anterior. A
nação ficou adormecida e ensimesmada, até meados do século XVIII.
Tudo isso coincide com o surgimento das Sociedades para a Reforma da Conduta, que
leva o autor NICOLA ASLAN a indagar-se: “Não teria a Maçonaria realizado a sua
metamorfose de 1 717 a fim de servir de Sociedade para a Reforma da Conduta das classes
superiores?” Mas eram tempos difíceis, de poder absoluto e conflitos e perseguições
religiosas. Como já disse um crítico, “quando o espírito não pode criar, esmerilha frases.”
O propósito de reforma da conduta, se ocorrido, somente poderia ser demonstrado
veladamente, através de símbolos, alegorias, jogos de palavras, distorção do sentido
original dos vocábulos, que são, ainda hoje, as primeiras características da Maçonaria
com que nós, os aprendizes, nos deparamos com alguma dificuldade. São características
barrocas, próprias do período de formação da Maçonaria Operativa, e que persistem
incrustadas nos ritos e permitem a longevidade da própria instituição. Como uma catedral
gótica, a Maçonaria atravessa os séculos, provocando admiração e suscitando hipóteses.
Desta forma, dentro do contexto histórico e social do período operativo, que coincide com
a fase barroca do pensamento humano, o branco e o negro podem ter sido o primeiro
símbolo da Maçonaria como Sociedade para a Reforma da Conduta. Assim, aquele
caminhar no fio da navalha que faz o candidato à Iniciação, aqueles passos na via
esotérica, convivendo com as divergências e os opostos, podem abrir uma larga e
luminosa estrada ao seu ideal e vislumbrar o objetivo básico da instituição, que é o alcance
da Fraternidade Universal, através da reforma da conduta, entre outros preceitos.
Venerável Mestre, queridos Irmãos, estas são as conclusões a que cheguei no estudo da
história e simbologia do Pavimento Mosaico. Aos Mestres mais sábios e mais versados
no tema, peço complacência ante as opiniões que possa eu ter formulado sob o peso do
noviciado.
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