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LOJA DOUS DE DEZEMBRO – A Abertura do Livro da Lei no Grau de Aprendiz

ABERTURA DO LIVRO DA LEI


NO GRAU DE APRENDIZ

E o Livro da Lei representa a âncora teológica, a revelação da energia do Criador,


disponibilizada para todos os seres humanos.

Colocada sobre o Altar dos Juramentos, a Bíblia representa a


Lei divina e pode ser, de acordo com a religião dominante em
cada país, o livro sagrado da religião nele seguida.

Muitos são os Livros Sagrados, dependendo da situação


geográfica em que estiver a Loja. No Brasil como em toda
parte ocidental do Mundo, o Livro Sagrado será a Bíblia. É
evidente que poderá surgir uma Loja no Brasil composta de
membros hindus e que coloquem sobre o Ara o “Bhagavad-
Gita”.

Por este meio de expressão, embora a Maçonaria não seja uma religião no sentido
vulgar do vocabulário, não deixa de ser uma associação fundada em bases religiosas.
Entende assim que um homem sem princípio base, sem bases morais a obedecer ou a
seguir, será incapaz de todo ideal e de toda a beleza que encerra o conceito divino dos
Maçons, e, portanto incapaz de se tornar um soldado positivo da Maçonaria.

Além disso, a Maçonaria reconhece e tem reconhecido sempre que na Bíblia, como em
todos os livros sagrados dos vários povos, encontram-se os princípios da Lei Natural,
que se tornam a base da Moral Universal.

O Livro da Lei significa Sabedoria e representa a espiritualidade do Maçom. Também


simboliza o G A D U , porque segundo se julga, é por meio deste livro que tem
revelado mais preceitos e provas do seu divino poder do que por outro qualquer meio.
Este Livro nos dá, por conseguinte, a luz para podermos cumprir nossos deveres para
com Deus.

No ato de prestar o Juramento, a Bíblia é considerada como o símbolo da Vontade


Divina, ou seja, os Ditados de Deus, ou do Espiritualismo maçônico que todo Maçom
deve possuir.

Aberta a Bíblia pelo Ir indicado e depois de ler os versículos apropriados, coloca
sobre o Livro da Lei o Esquadro e o Compasso na posição prescrita para o grau, este
apontando para o Ocidente, aquele para o Oriente.

Lembramos aqui, que no grau de Aprendiz, o Esquadro deve ser colocado por cima do
Compasso; no grau de Companheiro, os dois instrumentos ficam entrelaçados e, no grau
de Mestre o Esquadro fica por baixo do Compasso.

Nesta ocasião, o esquadro simboliza a Matéria e o Compasso o Espírito. Assim, no


simbolismo do 1o grau, esta posição significa que, no Aprendiz, a Matéria ainda domina
o Espírito; no 2o grau, o Espírito e a Matéria são forças que se equilibram no
Companheiro, ao passo que, no 3o grau, o Mestre conseguiu, simbolicamente sobrepujar

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a Matéria, fazendo prevalecer o Espírito. Isto pode acontecer alguma vez, porém
reconhecemos que é algo bastante difícil e por isso muito raro.

O LIVRO DA LEI SAGRADA É A GRANDE LUZ DA MAÇONARIA.

A obrigatoriedade da “Abertura do Livro da Lei”, em todas as secções maçônica, está


respaldada nos Landmarks.

A palavra Landmarks (land = terra e mark = limite, fronteira) cuja origem é inglesa, no
seu sentido etimológico, pode ser entendida como: “Limites fronteiriços” que delimitam
um território e que, por esse fato, não podem ser alterados ou removidos.

Allec Mellor – Dicionário da Franco Maçonaria, editado pela Martins Fontes p.159 –
assim define os Landmarks: “Landmarks são as regras de conduta que existem desde
tempos imemoriais – seja sob a forma de lei escrita ou não escrita que são co-
essenciais à sociedade (maçônica), que são imutáveis, e que todo maçom é obrigado a
manter intactas, em virtude dos mais solenes e invioláveis compromissos.”

O grande escritor norte americano Albert G. Mickey compilou vinte e cinco Landmarks,
tidos como aceitos e que as Grandes Lojas Americana e Inglesa acolheram.

Especialmente, interessa-nos o vigésimo primeiro, que diz: “É indispensável à


existência no Altar de um Livro da Lei, o Livro que, conforme a crença, se supõe conter
a verdade revelada pelo G A D U não cuidando a Maçonaria de intervir na
peculiaridade da fé religiosa de seus membros. Exige, por isso, este Landmark que, um
livro da Lei seja parte indispensável dos utensílios de uma loja maçônica”.

A abertura do Livro Sagrado, numa Loja Maçônica, simboliza a presença efetiva da


palavra do Grande Arquiteto do Universo.

Os estudiosos da Maçonaria garantem que o egrégora da loja toma força e vigor quando
o irmão Orador abre o Livro da Lei, declama o salmo e coloca o esquadro e compasso
sob a Bíblia.

EM LOJA DO 1o GRAU - APRENDIZ

No 1o Grau, o do Aprendiz, o Livro Sagrado é aberto


sobre o ARA (Altar) no Salmo 133:

O Salmo 133, é uma descrição da beleza do Amor


Fraternal, apropriado para ilustrar a filosofia do grau de
Aprendiz.

Vamos agora estudar o Salmo 133 analisando, separadamente, os três versículos.

É um dos 15 Cânticos dos Degraus de Davi.

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“Eis quão bom e quão agradável é habitarem junto os Irmãos! É como o


óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce sobre a barba, a barba de
Aarão, e que desce sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de
Hermon, que desce sobre os montes de Sião. Pois ali, Jeová ordenou a
benção, a Vida para sempre.”

O ponto central e fixo do Salmo 133, resume-se numa única frase:

“Eis quão bom e agradável é habitarem junto os Irmãos”.

O primeiro verso declara o propósito temático do salmo a - União Fraternal.

Sendo um hino de louvor, de uso no culto público, ele exalta o valor da unidade do povo
hebreu, no contexto do reinado teocrático do Rei David (1070 – 970 A. C.).

A expressão “habitarem unidos os irmãos” nos dá uma direção natural para interpretar o
texto: O VERSO SE REFERE À UNIDADE DO TERRITÓRIO DE ISRAEL. O verso expressa a
bênção da unidade no reino davídico; e esta bênção da unidade é relatada na expressão
"bom e suave”. "O Salmo expressa a esperança da unificação do reino do norte e do sul,
com Jerusalém sendo a capital de um reino unido".

Portanto, o primeiro verso é uma expressão da bênção alcançada, na união das doze
tribos, sob o reinado de Davi, após o problemático e tumultuado reinado do Rei Saul.

O que se segue, são frases comparativas e explicativas; só podemos compreender o


significado do “amor fraterno”, se entendermos o valor da aspersão do “óleo sagrado”
sobre a cabeça de alguém escolhido para a consagração do Sacerdócio; alguém
respeitado, pois, na época o uso de barbas longas significava distinção. Basta lermos a
origem dessa descrição que se encontra no livro do Levítico capítulos 8 e 9. “Derramou
do óleo de unção sobre a cabeça de Aarão, e ungiu-o para santificar.”

“É como o óleo precioso sobre a cabeça, descendo sobre a barba, a


barba de Aarão que desce sobre a orla das suas vestes.”

O segundo verso expressa a unidade das doze tribos de Israel sob a orientação do
serviço sacerdotal, simbolizado na figura de Aarão, PRIMEIRO SUMO SACERDOTE
DE ISRAEL.

Somente, com o óleo precioso, da unção sagrada, poderia ocorrer a consagração do


Sumo Sacerdote.

Este óleo derramado sobre a cabeça, descendo sobre a barba, símbolo da virilidade e da
autoridade, chega a orla, isto é, a barra de suas vestes, unificando tudo com a unção
sagrada.

A importância da vestimenta e ornamentos vem revelada pela necessidade do óleo


precioso (ou santo) “descer” da cabeça para a barba e da barba à gola das vestes. Nota-
se, portanto, que o óleo descia da cabeça pelo rosto, seguindo pela barba, pelas vestes,
até a gola, ou orla segundo outras traduções. Não era um banho de óleo, mas sim, uma
aspersão no sentido dado ao vocábulo “aspergir”.

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O dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira diz:

“ASPERGIR: respingar, borrifar, orvalhar, fazer aspersão com o hissope


ou um ramo molhado.”

“É como o orvalho de Hermon que desce sobre Monte de Sião;


porque ali o Senhor ordenou a bênção e a vida para sempre.”

Ao norte de Israel existe uma cordilheira; nesta cordilheira se encontra o Monte Líbano,
famoso por seus cedros, nas suas encostas.

Dentro desta cordilheira, fazendo divisa entre Israel, Líbano e a Síria encontra-se o
Monte Hermon com seus 2814 metros de altura e seu cume sempre nevado.

Nessa região a evaporação da umidade concentra-se nas montanhas e retorna durante a


noite sob a forma de orvalho.

Dessa forma, ele supria a falta de chuvas e propiciava as condições para uma boa
colheita oferecendo, assim, as circunstâncias para a fixação do homem na região.

O Monte Hermon, na visão de David, através de seu orvalho e de sua neve, é sinal de
vida.

O terceiro versículo traz uma nova e interessante figura; como no segundo versículo,
uma comparação é introduzida. "Como o orvalho do Hermon, que desce sobre os
montes de Sião." A comparação não se concentra no "orvalho do Hermon", mas nos
resultados do "orvalho do Hermon que desce sobre os montes de Sião".

Assim, a riqueza de vida do Hermon se faz presente em toda a extensão de Israel até as
proximidades do Sião.

Aquele “que desce”... como o óleo precioso… que desce… como o orvalho, como a
neve que traz bênção sobre todo Israel.

Na segunda parte do versículo três, Deus elege o monte Sião e não o Hermon; "porque
ali o Senhor ordena a bênção”.

Qual é a bênção prometida?

"VIDA PARA SEMPRE."

Em suas encostas, a vegetação é magnífica e do HERMON descem mananciais de água


que irão formar o rio Jordão.

A evaporação forma “Orvalho do Hermon” que face aos ventos, o conduz para o
“Monte de Sião”, ou seja, sobre Jerusalém.

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A aridez do solo e a escassa vegetação não permitem a evaporação e consequente


densidade do ar à noite e essa provém do HERMON, como “benção”, para permitir a
humanidade tão necessária à vida.

Por esse motivo e fenômeno climatérico é que o “Orvalho do Hermon”, vem decantado
pelo povo Hebreu, há milênios.

É a suavidade do orvalho comparada com o “amor fraterno”. A “aspersão” do orvalho


equipara-se à aspersão do óleo sagrado, portanto, é recebido o orvalho como uma
consagração permanente sobre Sião, que representa, mitologicamente ao próprio Aarão.

O “amor fraterno” é complementado com a “habitação em conjunto” que significa


“coletividade”. A Maçonaria toma esse Salmo porque ele faz referência à uma
“congregação”, ou seja, o Quadro da Loja.

O “amor fraterno”, não será, portanto, cultuado, individualmente, mas sim,


coletivamente, visando o aperfeiçoamento social, grupal, familiar.

A mensagem de “União Fraternal”, retratada nos versos do Salmo 133, nos permite a
ilação:
... Como é bom e suave;
... Ela é como o óleo precioso que desce da cabeça à barra das vestes da maior
autoridade teológica de Israel - Aarão;
... Assim como o Orvalho e a Neve do Monte Hermon traz a fartura e a
abundância sobre todo Israel.

Assim como Aarão é ungido, a terra também o é, e todos são abençoados .. (União
Fraternal) com a Vida Eterna!

Temos outras traduções bíblicas que, ao invés de usarem o vocábulo “juntos”, referem a
expressão mais condizente com o espírito maçônico: “em união”; no entanto, aparecem
esses vocábulos como sinônimos.

A transcrição do Salmo 133 foi extraída da versão grega.

O “quão bom”, traduz a recomendação da união, enquanto o “quão agradável”, traduz a


satisfação e a alegria da fraternidade. Portanto pode-se interpretar o Salmo da seguinte
forma:

“Recomenda-se a união dos irmãos, para o bem estar e a alegria dos


mesmos, ou da fraternidade.”

É a fórmula para a satisfação; é o meio para alcançar a eficiência do amor fraterno que
resulta na alegria do Grupo.

O amor fraterno constitui uma “benção”; a dedicação fraternal em união constitui a vida
eterna, ou seja, o estado permanente da conquista, da satisfação e da Paz.

Procedida à leitura, compassadamente e em voz audível, o Oficiante, entrelaça o


Esquadro e o Compasso e os deposita no centro do Livro Sagrado.

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Representam a medida justa que deve presidir todas as ações, isoladas, de cada um
componente da Loja e, conjuntas, dentro do trabalho maçônico, cujas ações não podem
se afastar da Justiça e da Retidão, que regem todos os atos de quem, realmente, tem
consciência de ser maçom.

As pontas do Compasso, ocultas sob as extremidades do Esquadro, demonstram que o


Aprendiz deve ser paciente no trabalho da Pedra Bruta, pois só poderá usar o
instrumento linear até apresentar a sua obra aceitável aos olhos da Loja, e submetê-la à
decisão sábia do Venerável Mestre.

O fato de o Esquadro e o Compasso estarem entrelaçados sobre o livro da Lei que se


encontra aberto, comprova que a obra divina, não cessou.

Assim, o Aprendiz que irá manusear o Esquadro para desbastar a pedra que lhe foi
entregue, na qualidade de depositário transitório, estará executando uma obra divina, eis
que a Pedra Bruta é ele próprio.

O Esquadro e o Compasso sempre estão juntos, para demonstrar que se usado o


Esquadro, ainda será necessário recorrer ao uso do Compasso; se chegado o momento
de ser usado o Compasso, permanecerá presente o Esquadro para lembrar que jamais, os
primeiros passos e as primeiras tarefas, tornam-se supérfluas. O Aprendiz deverá,
sempre, retornar ao uso de seu primitivo instrumento, mesmo quando tiver atingido a
magnitude Maçônica.

O Oficiante abre o Livro Sagrado, ou seja, abre o Universo e ao ler em voz alta o
Salmo, oferece o seu sopro, iniciando com a sua vibração, os mistérios ocultos da
Maçonaria, espiritualizando os símbolos que cercam, numa ação de criatividade, sempre
diferente para cada reunião que se inicia.

Todos devem acompanhar o cerimonial com atenção porque participam dos resultados,
desaparecendo o homem profano, para que numa perfeita união, possam as palavras do
Salmista penetrar no íntimo de cada um transformando as dificuldades da vida em
momentos de indizível paz.

O homem necessita de momentos de recolhimento onde possa encontrar misticismo,


religiosidade, compreensão, amor fraterno, fugindo ao cada vez mais cruel contato com
os seus semelhantes na competição do quotidiano.

Encerrada a leitura, o Oficiante passa a executar com ambas as mãos o seu trabalho;
toma com a mão direita o Esquadro e o coloca no centro do Livro; com a mão esquerda
entrelaça o Compasso. A obra está consumada e retira-se satisfeito por ter cumprido,
posto que simbolicamente, a tarefa que lhe foi deferida.

Este é, finalmente, o sentido místico do Salmo da Fraternidade: “Aquele que ordena a


vida para sempre, é a própria fonte da Vida e da Eternidade”.

Aristeu Augusto Mattos Neto


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Fontes:
 A Bíblia Sagrada – Editora Vozes, 1996, com concessão de Paulo Evaristo, CARDEAL ARNS,
Arcebispo Metropolitano de São Paulo.
 Denizart Silveira de Oliveira Filho – Da Iniciação Rumo à Elevação – Editora A Trolha, 2012.
 Jones Rodrigues Neves e José Ricardo Laricchia – Palestra apresentada na Loja Lauro Sodré
em 27/04/2010, tema: “A Abertura do Livro da Lei No Grau de Aprendiz”.
 Nicola Aslan – Comentários ao Ritual de Aprendiz – Vade Mécum Iniciático – Editora
Maçônica 1975.
 Nicola Aslan – Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – Editora A
Trolha, 2000.
 Rizzardo da Camino – O Aprendiz Maçônico – Editora Madras, 1995.
 Rizzardo da Camino – Simbolismo do Primeiro Grau – Editora Madras, 1998.
 Theobaldo Varoli Filho – Curso de Maçonaria Simbólica – Aprendiz, Editora A Gazeta
Maçônica, 1976.

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