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Secretaria Geral de Educação e Cultura

Biblioteca Virtual do GOB

LEITURA DO LIVRO DA LEI – GRAU DE COMPANHEIRO


AMÓS

RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

I - INTRODUÇÃO:
Em atenção a rogativas que eu tenho recebido, destas muitas relacionadas à
leitura em Amós do Livro da Lei durante a abertura da Loja no Segundo Grau, é que
resolvi condensar esse pequeno escrito sobre o tema que, embora não tenha a
pretensão de esgota-lo, pelo menos tende a despertar mais atenção para esse
importantíssimo procedimento ritualístico do não menos admirável e tradicional grau de
Companheiro Maçom.
Para que não pareça um tema generalizado em relação à Maçonaria, cabe
então aqui salientar que a leitura desse trecho do Livro da Lei durante a abertura dos
trabalhos da Loja não é unânime na prática maçônica, senão como parte integrante da
liturgia de alguns Ritos que compõem a Maçonaria. Assim, em relação à leitura em
Amós 7 no Segundo Grau, esse costume teria surgido no Yorkshire - Inglaterra e
posteriormente abandonado pelo Craft inglês, todavia permaneceria como prática em
outros ritos maçônicos, como é o caso do Segundo Grau do Rito Escocês Antigo e
Aceito.
II – AMÓS.
Personagem tido como profeta do Antigo Testamento e autor do Livro de Amós,
ele era nativo de uma pequena cidade de nome Tekua nos limites do deserto de Judá,
próximo à Jerusalém. Considerado com um dos doze Profetas Menores1, ou os Doze
Últimos Livros Profético, cujo título, assim ficaria conhecido, devido ao seu pequeno
volume literário.
Amós, cujo significado etimológico, segundo alguns autores, designa aquele
que auxilia a transportar carga, ou que em hebraico significa “levar”, estaria ainda ligado
à forma abreviada da expressão Amosiá – “Deus levou”.
Ele era um homem de origem humilde, condutor de gado e agricultor que
laborava no cultivo de uma espécie de fruto comestível muito parecido com figo, comum
àquela região.
Mais tarde Amós (760 a.C.) abandonaria a sua vida tranquila de camponês para
pofetizar e denunciar episódios acontecidos durante o reinado de Joroboão II, quando
este atingira a sua máxima prosperidade. Esse mesmo reinado então seria também
acompanhado do aumento da luxúria, do vício e da idolatria. Nessa conjuntura, a
magnificência luxuosa dos ricos ultrajava a miséria dos fracos e dos oprimidos, bem
como o esplendor do culto dissimulava a carência de uma religião verdadeira. Amós
seria, portanto convocado por “Deus” para advertir ao povo de Israel sobre a existência
da “Sua Lei pautada na equidade” alertando e chamando o povo ao arrependimento.

1Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Sacarias e
Malaquias.
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Ao cumprir os desígnios de “Deus”, Amós com altivez apontava toda aquela situação
com rudeza simples e altiva de um homem oriundo do campo. Seu pronunciamento
incomodava, sobretudo as classes abastadas e sacerdotais, (Juízes) porque ele ao
anunciar a justiça e o julgamento de “Deus” alcançava além das nações pagãs,
objetivamente também o povo escolhido que já se considerava salvo, embora no
exercício da vida fosse mesmo pior do que os pagãos.
NOTA – os destaques em negrito relativos às palavras equidade e
justiça até aqui mencionadas, bem como as outras que porventura
seguem a essa nota, salientam o objetivo da leitura do texto feita na
abertura do Livro da Lei no Grau de Companheiro, cuja interpretação
maçônica, mesmo que superficial, será o objetivo final dessa lauda.
Além da injustiça social, especificamente Amós denunciava os ricos que
acumulavam cada vez mais riquezas para viverem em ostentação, o que muitas vezes
criava um regime de opressão; as mulheres abastadas que, para viverem no luxo,
estimulavam seus cônjujes a explorar os fracos; os hipócritas que roubavam e
exploravam e depois se dirigiam ao templo para rezar, pagar dízimo e dar esmolas para
aplacar a própria consciência; os Juízes que julgavam de acordo com os numerários
auferidos pelos subornos; os inescrupulosos comerciantes que deixavam os pobres
incapacitados de adquirir e comercializar suas mercadorias por preço justo.
Nesse contexto o Livro de Amós pertence ao Antigo Testamento da Bíblia e
vem depois do Livro de Joel e antes do Livro de Obadias. A profecia deste livro
integrante da Torá hebraica fora primeiramente dirigida ao reino setentrional de Israel e
segundo alguns exegetas bíblicos teria sido em princípio proferida oralmente, cujos
reinados coincidiram entre 829 e 804 a. C., sendo daí em diante assentada por escrito,
presumivelmente após o profeta voltar a Judá.
Dentre todo o contexto de denúncia contra a injustiça social na construção de
uma sociedade justa e as pregações, destacam-se os seguintes sete crimes de Israel:
1) a venda do justo por prata - desprezo ao devedor; 2) o indigente por um par de
sandálias - escravização por dívidas ridículas; 3) esmagam sobre o pó da terra a cabeça
dos fracos – humilhação e opressão dos pobres; 4) tornam torto o caminho dos pobres
– o desprezo pelos humildes; 5) um homem e seu filho vão à mesma jovem - opressão
dos fracos (das empregadas e escravas; 6) se estendem sobre vestes penhoradas, ao
lado de qualquer altar - falta de misericórdia nos empréstimos; 7) bebem vinho daqueles
que estão sujeitos a multas, na casa de seu Deus - mau uso dos impostos (ou multas).
Assim no Livro de Amós textualmente o profeta defende a justiça e a equidade
e é em seu amparo que Amós vai profetizar. Em cinco visões simbólicas (dos
gafanhotos e o fogo; o estanho e o fim do verão; a visão do santuário), Amós anunciaria
o fim do Reino Setentrional de Israel, devido à situação precária, ou insustentável diante
de Deus, cujas visões aparentam serem sinais que o profeta vislumbra no cotidiano da
vida e simbolizam a conjuntura problemática à época da nação israelita.
Não obstante às cinco visões proféticas desde a praga de gafanhotos até a
destruição do santuário, tem aquela em que Amós vê o “Senhor” (cap. 7, vs. 7-9)
verificando o alinhamento de um muro com um fio de prumo. É justamente essa a que
suporta a alegoria presente na Moderna Maçonaria durante a abertura e leitura do Livro
da Lei no Grau de Companheiro Maçom.
Antes, porém de ingressar no assunto relativo à Maçonaria e a abertura do
Livro da Lei envolvendo Amós, cabe aqui ainda outra consideração importante: O muro
que está enviesado e desaprumado simboliza Israel, assim deverá ser primeiro
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demolido para ser novamente realinhado pela perpendicular (tinha um prumo nas
mãos). Isso porque muro desaprumado não tem conserto. Só derrubando.
Amós nesse caso não intercederia suplicando ao “Senhor”. É uma realidade
corrupta que não tem conserto e a certeza do castigo pela justiça (prumo) torna-se cada
vez mais premente “eu nunca mais passarei por ele”.
Em linhas gerais é o prenúncio da destruição do Reino Setentrional de Israel já
que no capítulo seguinte (cap. 8, vs. 1-3) Amós vê o cesto de frutas maduras que
simboliza o fim do verão e o início do outono, estação que precede o Inverno e a morte
da Natureza – o fim de Israel. É que na quinta visão Amós conta que, desta vez, é o
próprio IAHWEH (IAVÉ) quem atua e de modo dramático. Diante do edifício do santuário
o “Senhor” bate nos capitéis provocando um terremoto que destrói o santuário e
extermina as pessoas que lá estavam abrigadas.
Esta visão é o ponto máximo e epílogo deste ciclo. O próprio Senhor volta-se
contra o local no qual se lhe prestava culto. Na visão de Amós, o santuário (de Betel2)
traiu seu papel de conduzir o povo a “Deus” e à vida. Tornou-se um lugar de culto sem
sentido, amparando e ocultando as múltiplas opressões e injustiças que se cometiam
no Reino do Norte.
III - LEITURA DO LIVRO DA LEI – 2º GRAU MAÇÔNICO - EXEGESE:
O Segundo Grau, ou de Companheiro Maçom indiscutivelmente é o Grau mais
genuíno da Maçonaria que, infelizmente e equivocadamente tem sido tratado por
algumas Obediências como um Grau intermediário. Na sua tradicional existência
oriunda desde os canteiros medievais, possui a pragmática inerente à juventude, ação
e trabalho – em síntese o Companheiro é o elemento que “eleva” a Obra e a dá por
concluída no final do outono, antes que o inverno prive a Terra da Luz. Dentre outros,
os seus simbólicos cinco3 anos de aperfeiçoamento soam equânimes com o sentido
lato da justiça e da equidade na construção social, cuja obra especulativa da Moderna
Maçonaria o Companheiro a eleva aprumando os cantos (o prumo não pende como as
oblíquas).
O Companheiro quando passa para a perpendicular ao Nível (em Loja, do
Norte para o Sul, ou do Nível para o Prumo), de modo especulativo ele está aplicando
as suas ações (trabalho) na vida, desde que suportada pela justiça (Prumo).
Existe a máxima de que não há retorno para a vida, assim, se quiseres bem
aproveitá-la, pensa na morte (eis que porei um prumo no meio do meu povo Israel4; e
jamais passarei por ele).
A Obra da Vida pautada na justiça é um dos motes iniciáticos maçônicos na
transformação inerente ao segundo ciclo da existência. Juventude (meio-dia) para a
maturidade (meia-noite).
A Obra perene é o exemplo de vida deixado. Assim, a alegoria de Amós
aplicada no Segundo Grau tem por objetivo conduzir o Obreiro a uma reflexão antes
que chegue o tempo em que ele dirá: essa idade não me agrada! (a implacável
aproximação da morte [inverno] e a destruição do Templo).

2 Betel – a casa do Senhor.


3 As cinco visões proféticas.
4 Israel aqui significa o Templo Interior, o Homem e, por conseguinte a Obra da Vida. Em tradução

livre do hebraico Israel significa “o combatente de Deus”.


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Como Amós, a Maçonaria procura lembrar ao homem Maçom que ele
certamente terá através da sua consciência a visão do muro e do prumo nas mãos.
Certamente a consciência lhe dirá: o que vês tu? A questão é: a parede estará ou não
levantada a prumo? Como o inverno se avizinha ninguém mais passará por ele - não
haverá mais tempo para reconstruir uma parede que por ventura tenha sido construída
fora do prumo (pensai na morte; a efemeridade da vida).

III – CONSIDERAÇÃO FINAL

O Prumo, a Justiça e a Equidade – essa tríade expressa à lição de se ter


pautado a vida com disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um. Tal como
Amós, o dever de possuir um sentimento de justiça avesso a qualquer critério de
desigualdade e tratamento ilegal. O muro levantado a prumo suporta um conjunto de
princípios imutáveis de justiça que induzem o juízo da consciência a possuir um critério
de moderação e de igualdade, ainda que em detrimento do direito objetivo.
Amós e a abertura do Livro da Lei importam nos elementos alegóricos que
aludem àquele que busca aprimoramento norteado para uma vida de igualdade, retidão
e equanimidade.
Superficialmente é o que se pode considerar.

Pedro Juk
jukirm@hotmail.com
http://pedro-juk.blogspot.com.br

ABRIL/2014

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