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Secretaria Geral de Educação e Cultura

Biblioteca Virtual do GOB

A AÇÃO DA MAÇONARIA NAS CRISES SOCIOECONÔMICAS


DENTRO DA LOJA

I - INTRODUÇÃO

Em face ao tema abordado, se faz necessário uma pequena


explanação sobre o que é Maçonaria. É importante que se vislumbre este
aspecto já que as crises sociais abrangem a sociedade como um todo. Assim
essa peça de arquitetura procura abordar o tema no círculo geral da condição
maçônica e mais especificamente no seio das Lojas no seu particular.

O termo maçom, substantivo masculino; do francês “maçon” =


pedreiro e nomeia o pedreiro livre, ou o homem iniciado na Maçonaria. Esta por
sua vez designa uma sociedade atualmente discreta difundida por toda a face
da terra. De caráter social e filosófico adota símbolos e instrumentos usados na
construção de edifícios, como os da geometria e da arquitetura dos pedreiros,
dos entalhadores de pedra, dos canteiros, etc.

A Maçonaria, apesar das mistificações relativas à sua história, teve


sua semente embrionária nas “Associações de Ofício”, organizadas há
aproximadamente seis séculos a. C., chegando ao seu ápice com a chamada
Maçonaria de Ofício na Idade Média.

A guisa de esclarecimento esta não é uma afirmativa de que a


Maçonaria possua uma história milenar, todavia alerta para a semente plantada
nas “Associações de Ofício” que, mais de mil anos mais tarde, viria germinar as
“Associações Monásticas”, posteriormente os “Ofícios Francos” e por fim a
“Maçonaria de Ofício” ou a “Francomaçonaria”, cujos participantes destes
“Ofícios” eram literalmente construtores com a pedra calcária (pedreiros).

É somente a partir do século XVII com a decadência do estilo gótico


e com o advento do movimento registrado pela história como Renascimento que
se iniciaria a grande transformação da Maçonaria chamada Operativa para a
Maçonaria Especulativa, cuja característica fora a aceitação (iniciação) de
homens não ligados à “Arte de Construir”.

Esta transformação traria então a forma atual da Maçonaria,


rotulada como a Maçonaria dos Aceitos ou Especulativa, sendo daí designada
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como uma Instituição composta por homens imbuídos na construção do edifício
social, moldando-se a si mesmo para compor as paredes deste edifício dedicado
à virtude universal.

Muito se tem escrito e comentado nos dias atuais sobre o que é


Maçonaria, cuja definição mais aceita é a de uma Instituição educativa e
filosófica cujo objetivo é o do aperfeiçoamento moral, social e intelectual do
homem, por meio do culto inflexível do dever, da prática desinteressada da
beneficência e da livre e constante investigação da Verdade, atuando dentro dos
padrões éticos consubstanciados na própria essência sociológica da política com
a manutenção das grandes conquistas sociais da humanidade, na defesa do
liberalismo e das idéias libertárias.

Vale a pena salientar que a Maçonaria, - sem a pretensão de ferir


os que ainda delas querem-na fazer uma Instituição mística - eclética e
embrionária, é observadora da história e das manifestações filosófico-culturais
do pensamento humano, tendo por escopo principal a construção do Templo
interior do Homem de conformidade com a máxima de que “arrumarás o homem
e consertarás o mundo”.

DO TEMA PROPOSTO PRÓPRIAMENTE DITA.

A Ordem Maçônica ao longo dos tempos tem sido observada como


um grupo social alicerçado na fraternidade e embasada num amplo sentido de
moralidade, cujas portas de seus Templos são abertas para homens livres e de
bons costumes sôfregos a dar de si sua contribuição para a felicidade do gênero
humano.

A qualidade moral do homem Maçom é um dos pontos mais


importantes para aquele que terá uma visão justa do mundo e, num caráter
introspectivo na Ordem, contará com a sua própria participação no mundo social,
cuja baliza estará representada pela retidão, equidade e justiça daquele que
assume a responsabilidade para com a Sublime Instituição - o ônus do
cumprimento do dever independente da sua classe social e econômica.

Numa análise histórica da Maçonaria relativa à condição


socioeconômica daquele que compõe os seus quadros, a Ordem Maçônica
nunca legou a condição de riqueza material ou posto social do cidadão como

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princípio basilar de aceitação para os integrantes das suas fileiras, senão a
condição de liberdade e postura social ilibada.

Entretanto o que tem ocorrido na atualidade, envolvendo inclusive a


Maçonaria como instituição, tem sido a condição exacerbada de uma chamada
globalização imposta por um sistema financeiro internacional onde impera a lei
do mais forte, deixando as virtudes da fraternidade não raras vezes
completamente esquecidas. Os adeptos do neoliberalismo, tem propiciado uma
avalanche de efeitos malignos ao sabor dos mais belos contos maquiavélicos. A
pobreza se alastra indiscriminadamente acompanhada do aumento frenético do
desemprego conduzindo uma grande parte da sociedade às barras da
indignidade humana. A exclusão social é patente e a criminalidade adota
progressivamente todos os setores da atividade humana, especialmente nos
países menos desenvolvidos.

Destarte a situação atual e a conivência da sociedade como um todo


dentro deste capitalismo desenfreado onde imperam as injustiças sociais, não
seria a Ordem Maçônica poupada. A questão é a sobrevivência e neste caso
menciona-se a sobrevivência de uma Loja.

A condição socioeconômica abordada atua diretamente na


manutenção das fileiras dos quadros das Lojas. Parece que tudo tem se
resumido à característica de uma bola de neve - quanto mais rola mais aumenta
de tamanho.

Assim um dos pontos principais para a manutenção das Colunas de


uma Loja tem sido sempre aquela que se reporta ao elemento “homem”. Mas
que “homem” seria esse? Ora, embora em se tratando da Moderna Maçonaria,
é o homem e sua condição moral, obviamente.

Tanto as Constituições e as “Old Charges” (Antigas Obrigações) como


princípios basilares das atuais Obediências Maçônicas (Grandes Orientes e
Grandes Lojas) sempre determinaram os parâmetros exequíveis para esse
escopo. Mas, na condição atual, como ficaria a subsistência financeira do
elemento homem – o Obreiro?

Em Maçonaria moralmente não é de direito se acreditar que só aos


afortunados é dado o direito de pertencer aos seus quadros (Nível = igualdade),
já que a Instituição não se define como um clube de homens bem sucedidos
monetariamente, contudo uma Instituição que trabalha em prol da construção de
um Edifício Social. Nesse canteiro de obras o homem Maçom é importante pelo
que ele é e não pelas suas aparências.

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Pergunta-se: Como conduzir a Arte Real aos seus reais propósitos se
a carga financeira é pesada para a sua manutenção? Nota-se que grandes
homens que muito teriam a dar à Ordem estão impedidos na atual conjuntura de
adentrar os umbrais de nossos templos pura e simplesmente pela falta de
condição financeira. Digamos que exista uma renovação em nossas fileiras. Hoje
em dia estas são compostas em uma grande parte por homens de meia idade
que indubitavelmente exercem suas atividades no mundo profano com muita
dificuldade e a realidade é esta, pois a vida mais parece uma competição.

Enfocados nesta ótica observamos o custo de manutenção


da Ordem como um todo, a exemplo da disponibilidade financeira para a
construção de nossos Templos, para a construção de nossa sede central, para
a manutenção do obreiro em si para a Loja e para os poderes constituídos,
central e estadual; as campanhas, os places, a documentação necessária, as
viagens de intervisitação, os custos dos paramentos, as mútuas, os seguros, as
doações de benemerência, custo dos rituais, de impressos, enfim, uma gama de
obrigações as quais chamamos de obrigações pecuniárias que se não
cumpridas levam a razão principal da existência da Ordem que é o maçom a cair
na irregularidade, e, na grande maioria, alheio a sua própria vontade, em em
face de atual conjuntura econômica que assola o nosso País.

É muito difícil encontrar alguém com o perfil econômico-


social capaz de enfrentar tal empreitada. Encontra-se sim, e até com certa
facilidade, homens verdadeiramente talhados para a Arte mas quando se enfoca
a situação financeira raramente encontramos equilíbrio e é justamente aí onde
muitos entram e logo sucumbem, isto sem contar com o descaso para com as
instruções. Nos parece que esta condição econômica deveria ser melhor
esclarecida pelos proponentes à seus propostos e aos nossos governantes
buscar uma solução, não paliativa, mas definitiva para que pudéssemos nos
dirigir aos reais propósitos, não que com isto estejamos afirmando que nada está
sendo feito, mas que, poder-se-ia fazer muito mais.

É oportuno esclarecer, até tomando por base a doutrina esotérica da Ordem, que
nosso propósito principal é despertar no maçom suas qualidades morais para
que possa por em prática a ciência dos bons costumes praticando as virtudes
para consigo e para com os seus semelhantes num ideal de justiça e de
compreensão. Saliente-se que isto não depende única e exclusivamente da
condição socioeconômica mas sim do homem, independente da sua posição
social.

Não buscamos combater o progresso mundial seja neste ou


naquele setor, mas buscamos sim a harmonia e a felicidade humana e
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necessitamos resgatar este escopo embora situados na condição social e
econômica presente.

CONCLUSÃO

O tema é vasto e não seria o nosso propósito encontrar uma


solução nesta modesta peça de arquitetura, mas como nos foi dada esta
oportunidade, aproveitamos o ensejo não para fazer proselitismo político aos
moldes tão conhecidos do povo brasileiro onde a situação governamental do
nosso País está repleta de demagogia e inconteste atos de desigualdade social
e uma oposição política que se farta na mesa da incompetência fazendo dela,
nos parece, a razão de sua existência, sem sequer apresentar qualquer solução
para os problemas, agravando ainda mais a situação do tão sofrido povo
brasileiro.

Mas como dissemos a nossa proposta é para que


busquemos uma solução e esta deve ser conseguida junto a todo o universo
maçônico brasileiro. Consideramo-nos uma pequena partícula deste universo e
nossa proposta é para que todos os Maçons, desde os mais altos postos, sejam
eles administrativos ou liturgico, ao banco dos Aprendizes, se conscientizem que
devemos levar a situação das Lojas nesta conjuntura a amplo debate nacional.
Quem sabe em um congresso, encontro ou coisas do gênero para que junto com
outros temas de suma importância, se trate deste ponto com especial atenção,
que, ao nosso ver, é crucial para o desenvolvimento e o progresso da Maçonaria
Brasileira em geral de do Grande Oriente do Brasil em particular. Juntos
acreditamos que chegaremos a um denominador comum que é o estado de
direito perante a Ordem daqueles grandes homens que pela atual conjuntura não
podem com a sua grandeza tornar ainda mais fortes as vigas mestras da
Maçonaria brasileira.

Voltamos a frisar que se faz necessário amplo debate sobre


a situação e é com absoluta convicção de vitória que buscaremos irmanados
pela elevada moralidade e compreensão a superação da crise. Lembremos
sempre que só seremos fortes se realmente compreendermos o propósito
principal da Maçonaria como um todo que é o de arrumar o homem, pois só
assim é que ele constituirá sua meta pautada em atos de justiça ditada pela
retidão da palavra do GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO e pelo compasso
da sua própria consciência.

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Morretes, 10 de fevereiro de 2.000

PEDRO JUK MM

AGOSTO/2018

jukirm@hotmail.com
http://pedrojukk.blogspot.com.br

BIBLIOGRAFIA

CASTELLANI, José – Rito Escocês Antigo e Aceito – História, Doutrina e Prática –


EDITORA MAÇÔNICA A TROLHA – 1.988
VAROLLI, Theobaldo – Curso de Maçonaria Simbólica – Tomo I – EDITORA A
GAZETA MAÇÔNICA – 1981

HORNE, Alex – O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica – EDITORA


PENSAMENTO – 1.995

GRANDE ORIENTE DO BRASIL – O Esquadro – Diversos – BRASÍLIA 1998/1999

LOJA MIGUEL ARCHANJO TALOSA – A Egrégora – Brasília – Dezembro 99/Fevereiro


2000

TRAUTWEIN, Breno – Novos Rumos à Maçonaria – EDITORA MAÇÔNICA A


TROLHA – 1.999

PUBLICADO NA REVISTA A TROLHA N.º 175 – maio de 2.001

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