° MA(OMI A "ONTADEDI 'NTI'"''
NA IfALIDADI ',O'A""
Ir:. Valter Manoel Gomes - Florianópolis -
ARLS:. "Fiel Amizade" nO72 - Grande Oriente de Santa Catarina - GOSC
H
Irmãos que pensam ser dever da Ordem Maçô-
nica abordar, de frente, problemas da realidade
ública atual, com a intenção de intervir imedia-
tamente. Assim fizeram nossos Irmãos mais velhos, no
século XIX, quando abraçaram as causas da formação da
nacionalidade brasileira e da emancipação política do país.
Eram movimentos "in. status nascendi", ainda candentes
e muito carentes de reflexão mais demorada, menos r0-
mântica, mais realista.
Em virtude disso, o Brasil que surgiu em 1822 não foi
o desejado em Loja. Decepção! Escandaloso fracasso! Por
que? Porque os Irmãos não se prepararam internamente,
intimamente, por meio de um paulatino aperfeiçoamen-
to, para a nova realidade que estava sendo criada.
Em que consistia o despreparo? Não havia homens com
plenitude ética maçônica à altura dos acontecimentos. As
maiores lideranças tinham a ilusão de que estavam pron-
tas. Os homens se prepararam exotericamente, mas fal-
tou-lhes a sabedoria. Tinham a informação de que a Ma-
çonaria possui princípios, mas ainda não haviam alcan-
çado o estágio da vivência de tais princípios: faltou àque-
les homens, nossos Irmãos, a solidez, a firmeza de uma
conduta subordinada às verdades extraídas do simbolis-
mo do Esquadro e da Régua. Eram desconhecidas as pai-
xões pessoais e não se aplicava o simbolismo do Compas-
so sobre as razões e sobre os sentimentos relativos aos
novos desafios da história. Mesclaram-se os sentimentos
de oportunismo, de indignação, de revolta, de
personalismo, de vaidades. Era a afoiteza alimentada por
bela retórica, porém desprovida de humildade, de espíri-
to de grupo e, sobretudo, sem a vivência dos comporta-
mentos próprios da democracia que era apregoada.
Não busquemos em outros lugares os vícios políticos
do Brasil Império ao Brasil atual, os vícios dos
autoritarismos, do suborno de adesistas e do "é dando que
se recebe".
É muito louvável o desejo, essa aflição para intervir já
na tragédia brasileira atual, tragédia encaminhada pela
história feita de despreparos técnicos e éticos do povo e
dos condutores desse povo; realmente, tem-se, não raras
vezes, ímpetos quixotescos de "quebra tudo". Entretanto,
além de não ser um comportamento inteligente (=eapaci-
dade humana para solucionar problema a partir de estu-
do reflexivo sobre dados percebidos), também não é perti-
nente aos objetivos da Maçonaria.
40 - Revista O PRUMO - N9 158
se
A Loja não é um laboratório de revoluções sociais, no
sentido de pretender impor uma nova ordem ou de dese-
jar purificar a ordem vigente. A Maçonaria - o GOSC, por
exemplo - não tem essa intenção, nem esse poder. E, se
tentasse isso, estaria contra as leis do Estado a que jura
nunca se contrapor. Os obreiros podem tornar-se revolu-
cionários, mas a Maçonaria é, apenas, inieiãtica, para que
cada obreiro faça - primeiro - a revolução em si.
O que se quer dizer quando se diz "iniciátiea"?
A Loja e a Maçonaria, em geral, convidam os obreiros
somente para um "pessoal", para um "individual" aperfei-
çoamento de dentro para fora, e não da ideologia de uma
revolução em diante. A única revolução que a Maçonaria
apregoa é a da autotransformação do obreiro que irá se
parir homem novo à medida que der respostas inteligen-
tes, buscadas na sabedoria, a perguntas como "quem sou?",
"o que é a vida?", "qual o sentido da minha vida?", "para
onde vou?", "qual a importância do outro, da morte, do
sofrimento e do poder?", "tenho deveres?", "quais?", "o que
significa vida vivida na horizontal caridade e na vertical
transcendentalidade?" Trata-se da "revolução" que cria a
atitude, o hábito, de se buscar uma verdade bem funda-
mentada na ética amorosa e-vivê-Ia.
A Maçonaria não diz qual é essa verdade: o obreiro vai
alcançá-Ia no seu nível pessoal de aperfeiçoamento, que é
resposta ao seu esforço, ao tempo de 'uso do seu Avental
no trabalho em si. Esse é o sentido da formação maçônica.
Um Aprendiz há de ser o seu próprio Mestre, principal-
mente se sentir necessidade de consultar outros Mestres
mesmo fora da Maçonaria, como, por exemplo, nas religi-
ões. Não se deve esquecer que o projeto de criação de um
homem novo - pós-profano - é pessoal, é individual e in-
comunicável.
O método iniciático (o único da Maçonaria) é o da bus-
ca desse auto-aperfeiçoamento, necessariamente ante-
rior a qualquer tentativa de reforma da sociedade.
Na vida profana os maçons deverão ser membros atuan-
tes da sociedade, amorosamente conscientes das suas li-
mitações, competências e habilidades e cheios de entusi-
asmo para realizarem as suas potencialidades e vocações
à glória do Grande Arquiteto dos Mundos.
Essa é uma intervenção saudável, anônima, mas efici-
ente, não é heróica, mas é santa, gota d'água que apaga
incêndio, velinha acesa em torno da qual as trevas se dis-
sipam ...••