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Danton Medrado
São Paulo - SP
DEDICATÓRIA
1 – Introdução
2 – Da elite, religiosa e branca
5 – O que é a loja
6 – A minha loja é melhor
7 – Como funciona uma loja
11 – Formação duvidosa
12 – A vergonha de Hiram
13 – O dono da loja
16 – Para concluir
INTRODUÇÃO
Meus irmãos, não queria me parecer um agitador ao apresentar este opúsculo, mas, não
posso negar minha formação libertária e de incansável buscador, apaixonado pela ordem,
principalmente.
Não sou de abrir mão de meus direitos e procuro saber dos meus deveres, não só em
relação à Maçonaria, como também aqueles relacionados às minhas ações sociais, base
de boa convivência entre diferentes e diferenças.
O fato é que, ser maçom hoje, tornou-se algo banal, desprovido de propósito e sentido. A
Maçonaria atualmente é um campo fértil onde medram às centenas: incautos, pérfidos e
curiosos, e onde sobejam fanáticos religiosos aos milhares, presos em suas gaiolas de
ouro dos ditos salvos e escolhidos, abraçados a outros tantos com complexo de pavão
misterioso ou de grande mago do ocultismo.
Visto pelo ângulo conservador, (no sentido pejorativo da palavra) poder-se-ia dizer que esta
abertura é uma oportunidade sem precedentes para aqueles que sempre tiveram
curiosidade de saber como funciona a Maçonaria. Chegam prontos para redesenhá-la, dar-
lhe novas configurações com base em preceitos religiosos, oportunistas e invencionices de
folhetins ou baboseiras da internet. Que ações podemos esperar de lojas formadas sob
estes parâmetros?
Essa sua abrangência nas ações não pode ser vista de modo algum como sendo
impositiva ou autoritária, pois, fundamenta-se justamente na liberdade, direito máximo e
inalienável do ser humano, que é justamente o que municia essas ações, justifica esses
atos e valida a constante busca pelo bem social comum.
O conceito de homens livres, pedreiros livres e até o de livres pensadores justifica-se pelo
fato (também) de respeitarmos e complementarmos a liberdade do outro, lutarmos por ela,
e por ela vivermos.
Não se impõe Maçonaria aos indivíduos, e mais, é condição vital para pertencer à Ordem,
que o sujeito seja efetivamente alguém devotado à emancipação da humanidade, que não
esteja preocupado apenas com o seu umbigo ou seu status quo. Do mesmo modo que não
se pode imaginar uma loja maçônica que se reúna sob princípios fascistas e/ou
autoritários, visto que estes se baseiam no cerceamento das liberdades e dos direitos
individuais, os quais defendemos.
Este texto trata de temas que tocam o indivíduo e a ordem maçônica no geral, muito
embora ele represente tão somente a minha opinião, e tentarei aqui expô-la, para que
vocês mesmos possam decidir se é ou não aproveitável como instrução e incentivo ao
estudo maçônico. Antes devo lembrar-lhe de que não sou especialista em nada, sou
apenas um buscador, assim como você.
Sou defensor de uma Maçonaria pensante, racional, laica e ativa. Defendo também um
expurgo geral de indivíduos que permanecem em nosso meio como cânceres, corroendo
nossas entranhas diariamente sem que providenciemos um remédio, uma cura, ou mesmo
extirpação deste órgão doente. Assim como eu, muitos outros sonham com isso, pois, a
doença se espalha e acaba por infectar muitas mentes ainda em formação nas lojas, e que
deveriam ser tratadas com mais zelo, cuidado e responsabilidade.
Como qualquer outra entidade que agrega pessoas diversas, a Maçonaria não é perfeita, e
por mais que tenha sofrido muitas perseguições, permaneceu em atividade constante
perpetuando a ideia de contínuo movimento pela liberdade de pensamento, estreitamento
de laços fraternais e aprendizado contínuo. Sua força sempre foi a união. E hoje, ela se
tornou ferida exposta .
Temos passado continuamente por cima dos princípios maçônicos (e dos nossos próprios),
trazendo para nosso convívio pessoas que nunca deveriam sequer passar perto de nossas
lojas, mas, que hoje chamamos vergonhosamente de irmãos. Sim, eu tenho vergonha de
assumir que certos indivíduos são maçons. Se me perguntam, eu nego categoricamente,
pois, a primeira coisa que fazem é comparar ou questionar.
Sou acusado de ser radical quando exijo o cumprimento inflexível do dever e do juramento
maçônico, ou, quando peço que sejam banidos para sempre de nosso meio os perjuros,
não permitindo que voltem nunca mais a frequentar uma loja. Sim, me chame de
intolerante, até porque, tolerar nesse caso é admitir convivência com o erro.
O fato é que, assim como você, tenho na loja a minha família, e faço de tudo para protegê-
la, não me importando com o título ou prestígio que o camarada traga do mundo profano.
Decerto que o radicalismo não é bem-visto no meio maçônico, ao menos não pelos
“defensores da moral e dos bons costumes”. Claro que se dependêssemos desses
puritanos não teríamos libertados os escravos, ou conquistado a emancipação do país
etc… Mas, não será toda essa “mansidão” fruto dessas mentes doentias que se achegam e
tentam nos cegar com suas pretensas riquezas, títulos e berços?
Não espere de uma mente livre que ela se submeta a desvarios, crendices e injustiças
sociais. Se paramos para pensar, a simples ideia de defendermos a igualdade de direitos, a
liberdade de expressão e manifestação de ideias, ou mesmo antes, quando lutamos pela
libertação dos escravos, derrubamos tiranos e instituímos a república, para muitos maçons
da época isso também era radicalismo, subversão e violência.
A Maçonaria através de seus adeptos tem encampado lutas em todo o mundo em prol de
justiça e direitos sociais, sua força residia na defesa da liberdade, foi sempre assim, exceto
de alguns tempos para cá, quando nos tornamos apáticos, “igrejeiros”, subservientes,
covardes e reféns do sistema. Isso também aconteceu e acontece com outras associações.
Os inimigos da emancipação humana, aos poucos foram adentrando em nossas lojas até
tornarem-se a maioria. Estabeleceram suas leis, normatizaram nossos conceitos,
impregnaram-nos com suas crenças e promulgaram novos padrões morais e de
comportamento. Querem-nos assim, apáticos e calados. Logo seremos conhecidos como:
“Aqueles que aceitam”.
Estou cansado, e acredito que você também, de lojas onde os irmãos colam as costas nas
cadeiras e se eximem de participação. Estou cansado dos que se omitem, dos que se
vendem, dos que se apoderam, dos que traem, dos que mentem… Infelizmente, esse
fenômeno da submissão cega, do cordeiro que segue o lobo, nós encontramos em todas
as esferas de nossa ordem, uma contradição óbvia a nossos princípios de liberdade, uma
afronta à razão e um atentado à dignidade humana.
Meus irmãos me reconhecem como maçom, e por isso mesmo trabalho por uma Maçonaria
mais ‘fechada’, ativa de fato, política como deve ser, e com sua imprescindível função
social. Felizmente ainda temos entre os maçons alguns livres-pensadores, homens bons e
do bem, dignos e competentes para mudar a história, aliás, para nos inserir de volta na
história, essa que um dia ajudamos a construir.
Cansei de ver maçons amorfos, vacas de presépio, comparecendo sem saber nem o
porquê, contente com o título de maçom, contrariando suas crenças e seus familiares,
achando que pode converter a loja e os indivíduos à sua fé e à sua moral medieval.
Estou farto de ter que ver em lojas verdadeiros cultos religiosos, com direito a oração e
tudo mais, com a desculpa de ser uma oração ecumênica, aliás, um ecumenismo que se
desfaz facilmente quando se é proposto uma outra oração de religião não convencional por
exemplo, evidenciando um preconceito doentio e uma discriminação odiosa. Se eu não
respeito as diferenças, eu contrario o conceito de liberdade, de igualdade e de justiça.
Respeito sua fé meu irmão, acredite, mas, exijo que você respeite o meu direito de não
compartilhar contigo a mesma opinião sobre sua crença. A loja não é uma igreja, livre-nos
de suas pregações, de suas crendices e de suas banalidades. Temos uma sociedade em
ebulição, preocupemo-nos com ela.
Se você sai da loja, por exemplo, e vai para a “farra”, volta bêbado e agride sua esposa,
não diga que isso é problema seu apenas. Você me compromete, você joga na lama a
instituição e milhares de outros indivíduos que como eu prometeu defender. Sua arrogância
para com seus empregados na empresa que dirige; o desrespeito aos cidadãos no trânsito;
o apoio ao candidato corrupto em troca de favores… Tudo isso me compromete, tudo isso
me abala, tudo isso me ofende.
Alguns bondosos e compreensivos irmãos acreditam que esses profanos de avental estão
entre nós por acaso, e que é apenas uma questão de tempo para que deixem a loja. Não
creia nisso! Eles estão conosco porque nós os apresentamos, nós somos os responsáveis
por essas anomalias, nós somos cúmplices de seus crimes, nós, os que apadrinhamos
desconhecidos.
Sei que muitos não acreditarão, mas, não sou candidato a nada, não estou galgando
cargos aqui ou ali, não pretendo ser condecorado o rei da cocada preta, apenas expresso a
minha indignação por ver constar em nossos quadros pessoas que não deveriam jamais ter
chegado nem à porta de um templo, e em ver também agigantar-se cada vez mais a
ignorância, os preconceitos e os erros onde deveria haver ao menos o esforço para cessá-
los. O que nós juramos combater começa a medrar incessantemente nas lojas como uma
maldita praga.
Estou longe de ser santo, mas, quem disse que eu quereria ser? Porém, se eu não
trabalhar para meu progresso e a evolução da humanidade, combatendo os males que
assolam os indivíduos e a sociedade, continuarei estagnado e propenso a erros
constantes. Só um tolo engana a si mesmo achando que assim engana os outros.
Claro que é muito mais cômodo ir à loja uma vez por semana ou mês, usar o ritual só para
acompanhar a sessão, cumprir com suas “obrigações maçônicas”, usar um pesado anel no
dedo, duzentos adesivos no carro, dobrar seus joelhos na igreja, dar esmolas arrotando
bondade, votar porque é obrigatório, render-se ao que a mídia determina, servir a governos
tiranos só porque é cidadão… É como se ser maçom fosse apenas um ‘status’… É status?
Muito mais tem se dito sobre isso, sobre quebra de sigilos, sobre perjuros, sobre
intolerâncias, sobre as iniciações indiscriminadas em busca de números e outras coisas
mais. Existe até campanha de moralização da maçonaria, (claro que não oficialmente), e
se existe isso é porque muitos maçons estão desgostosos com o rumo tomado pela
organização. Esses verdadeiros maçons cansaram de ser comparados, confundidos ou
jogados no mesmo balaio que os profanos de avental.
Assim como os maçons não querem e não podem ser confundidos com os profanos de
avental, a Maçonaria também paga caro por ter em seus quadros homens que representam
tudo aquilo que ela combate, ou combateu. Sim, eu sei, a maçonaria mudou, mas não foi
ao extremo a ponto de inverter todo o seu ideal humanista.
Não adianta se esconder no passado glorioso, a realidade pode ser invisível para alguns,
mas, não para todos. Tornamo-nos reacionários, conservadores e doutrinários.
Retrocedemos mais ainda em nosso machismo ridículo, em nossa intolerância às lutas, em
nossa moral religiosa medieval e no patriotismo do beija-mão.
Existe uma crença popular tão verdadeira quanto a insinuação de que o Tronco de
Beneficência é repleto de ouro, quando não, cheia de dinheiro, é a de que a Maçonaria é
apenas para pessoas brancas e da elite.
É preciso deixar claro que isso não é norma, regra ou lei, e que o indivíduo é apresentado
à Ordem, dentre outras coisas, pela sua dedicação às causas da humanidade, pelo modo
como atua na sociedade, e pelo empenho em progredir e aprender, independentemente de
sua raça, origem, crença e posses.
O candidato a maçom é avisado (ao menos deveria) de seus compromissos para com a
Maçonaria, inclusive o compromisso financeiro, que não pode comprometer a manutenção
de sua família. O fator liberdade é interessante no processo de admissão, mas, reconheço-
o como muito complicado dentro dos padrões sociais atuais, onde o cidadão tem sua vida
pautada pela servidão e submissão, mas, isso é trama para outro livro.
Não podemos generalizar, pois, pude conviver com irmãos nascidos em berço de ouro e
que eram obreiros dedicados e humildes, de coração sensível ao bem, e com imenso
desejo de justiça social. Assim, é preciso ampliar nossa concepção de Maçonaria para
podermos convidar aqueles que porventura queiram aprender, e tenham o que ensinar e
compartilhar.
Não precisamos ir longe na história para saber que somos herdeiros das tradições das
antigas guildas de pedreiros, simples construtores, detentores de conhecimentos
específicos, devotados ao próximo, religiosos mas, não fanáticos extremistas. Ricos em
conhecimentos e amor fraternal, com um aditivo séculos depois de novos pensadores
humanistas que complementaram o que faltava para sua universalização.
É muito comum encontrarmos em livros e sites na internet, listas imensas com nomes de
supostos maçons famosos. Nelas são citados estadistas, inventores, cientistas, militares,
clérigos, políticos, músicos etc. Não podemos esquecer que nesta lista tivemos também,
corruptos, tiranos, bandidos, assassinos, criminosos e outras coisas mais, porém esses
não são os únicos escondidos, costuma-se omitir professores, mecânicos, eletricistas,
comerciantes, barbeiros, padeiros, artesãos, gráficos etc. Da mesma maneira que os
negros foram omitidos em algum momento, não pela Maçonaria, mas, por algum maçom
inocente, ignorante ou maldoso.
Quanto a ser uma religião então, é algo que sempre ouvimos. Não, não vamos aqui entrar
na questão etimológica da palavra, mas, o fato é que a Maçonaria não é uma seita
religiosa, e nem mesmo satanista como apontam alguns, e muito menos cristã ou
muçulmana, para o desespero de outros tantos.
Vale aqui salientar que dependendo do período e país, a Maçonaria foi perseguida e
banida pelas principais religiões que conhecemos pelo simples fato de aceitar, conviver
fraternalmente e respeitar indivíduos dos mais variados credos.
Não é possível que um candidato chegue às nossas portas com essa mentalidade sem que
seja orientado pelos seus proponentes sobre o que é a Ordem, pois muitos dos que assim
chegam, acreditam que ficarão materialmente ricos quando se tornarem mestres. Ao
profano é até permitido que pense ser a Maçonaria assim, é natural e até compreensível
essa construção ilusória.
A convivência fraterna entre homens que buscam uma sociedade melhor seria uma
tentativa inútil se houvesse exclusão, qualquer que fosse, inclusive como a que se faz com
as mulheres, o que é preciso reparar com extrema urgência.
Infelizmente, não podemos negar que do lado de cá do mundo, parece que a Maçonaria
resolveu andar de braços dados com o poder, a igreja e a elite sim, mas isso é resultado de
uma leitura equivocada de mentes obscurecidas pela ignorância que chegaram ao poder,
maçônico.
Dentro das lojas essa diferença não existe, e para o maçom não importa se dentro ou fora
da loja, a condição de ser humano é o que nos torna irmãos em qualquer circunstância,
não havendo espaço para a discriminação, os preconceitos e os partidarismos. Sim, a livre
manifestação de ideias é imprescindível para nossa evolução como organização.
Todo ser livre deveria ter acesso à Maçonaria, independente de raça, credo, gênero e
origem social, e acho que um dia isso acontecerá. Precisamos parar de julgar. Precisamos
urgentemente “educar” nossos irmãos. Não nos esqueçamos de que a Ku Klux Klan (só
para citar um exemplo bem conhecido) era composta por membros de lojas maçônicas e
de igrejas evangélicas. Se perdermos o norte, corremos o risco de sermos guiados por
alguém com uma lanterna, e isso não convém, afinal, temos as estrelas das ações
humanitárias como guias. O Velho dito popular já esclarece: “Quando cego guia cego,
ambos caem no abismo”.
Sabemos que nada é estático, estamos em constante mudança e movimento, assim como
nossas leis e regulamentos. Então, como nas instituições profanas, essas que estão
infestadas de maus elementos, elementos esses que fabricam leis de acordo com as suas
ambições, valores e crenças, sem se preocuparem com o próximo, a Maçonaria e o povo
maçônico correm os mesmos riscos. Minto, passamos a fazer o mesmo!
Pergunto-lhe: - O que mudou em nossas vidas sabermos que há uma chamada “bancada
maçônica” no Congresso Nacional? Aliás, se tivesse mudado algo apenas para os maçons
já seria um imenso erro. Os políticos são eleitos para atenderem aos cidadãos, e não a
grupos específicos. Já sabendo que o sistema político-administrativo no Brasil é um
engodo, funcionando apenas como jogo de interesses, tomar parte disso já seria uma
ofensa para o maçom.
Não que não tentemos (ou não se deva tentar) mudar essa fórmula, mas, não é o que
acontece. Quem chega lá (no poder) acaba por jogar com as regras do dono da bola, e
logo vicia-se no jogo.
As pessoas se agrupam normalmente por afinidades, o que faz com que um irmão
apresente para a sua loja sempre alguém muito semelhante a si mesmo.
Devemos estar atentos àqueles que surgem como salvadores, donos do conhecimento,
protetores da moral e dos bons costumes. Se não for da vontade dos obreiros e pelos
obreiros, todas essas mudanças que a “modernidade” traz para a Maçonaria pode ser o
próprio cupim que corroerá impiedosamente nossas colunas algum dia. Sabemos que o
novo sempre vem, como diz a canção, já tem sido assim, mas nada que venha pode
conflitar com o anseio de liberdade, não importa o quanto é novo e tá na baila.
Acredito que todos tenham ciência de que só podemos dar o que temos. Esse dar, na
Maçonaria hoje tem sido motivo de pavor entre os irmãos. Espantoso, não? Que não me
ouçam os profanos e os puristas!
Há maçons que deixam de atender um telefonema achando que do outro lado da linha um
irmão irá lhe pedir algo. A doação, a fraternidade, o auxílio ou mesmo uma simples ação
voluntária são palavras que perderam o sentido no meio maçônico, e tornaram-se
sinônimos de “encheção de saco”. O que funciona mesmo é o doar para se aparecer, esse
sim é o que mais valia tem nos tempos atuais. Citarei um exemplo.
Numa dessas catástrofes ocorrida no sul do país, lembro-me como se hoje fosse, um grupo
de lojas maçônicas enviou um caminhão de mantimentos para as vítimas do temporal.
Esse caminhão fez o seu trajeto portando uma faixa enorme escrito: “Doação da
Maçonaria”. Vale salientar que boa parte dos maçons seguem alguma religião que diz
condenar algo parecido com isso. Confesso que fiquei morrendo de vergonha daquilo.
Na mesma semana, um estudante primário, através de ações nas escolas dos bairros na
proximidade onde morava, em São Paulo, conseguiu enviar três caminhões de
mantimentos para o mesmo local. Esses caminhões, pasmem, seguiram sem nenhuma
identificação ou estardalhaço.
É claro que não queremos ver nenhum irmão em dificuldade, mas, se o encontramos
assim, não seria nosso dever socorrê-lo? Isso se aprende no primeiro dia na ordem.
Por outro lado, nas vezes em que a loja decide ajudar determinado irmão, faz-se de modo
a expô-lo o máximo possível, como se fosse um castigo, uma punição por ele ter dado
esse trabalho. Enfim, vem a ajuda, mas, com um monte de questionamentos, sem contar
que alguns torcem até o nariz. Isto é realmente necessário?
Há aqueles que indicam um emprego. Oferecer cargos ou dinheiro muitas vezes não é a
solução para resolver o possível problema do irmão, as vezes até é insuficiente para sua
urgência. Que tal conversar com ele, ou solicitar que o Ir. Hospitaleiro faça isso em nome
da loja? Estamos entre irmãos e é preciso que sejamos o mais sincero e justo possível.
Ah, e não adianta depois sair falando mal do irmão para os demais, você pode acabar
sendo confundido(?) com um hipócrita.
Não acredito que alguém opte por passar dificuldades, não sem um bom motivo. Já vi
casos onde a única necessidade do irmão era uma palavra de carinho e de apoio, porém
ele recebia apenas desprezo, sendo poucos os que procuravam-no para conversar. Apesar
disso, há lojas que tem seus favoritos, aqueles escolhidos que todos estão sempre
dispostos a auxiliar e amparar, mas, essa coisa de favoritismo, por coincidência só
acontece com os mais ricos, estes são mimados ao extremo, até mesmo sem necessidade.
Lembra-se do pedido de ajuda feito em nome de uma senhora viúva, no momento mais
intenso de nossas vidas, quando estamos destituídos de tudo, coberto apenas por uma
peça de roupa? Foi tão marcante para mim que depois disso ofereço água até a
pernilongo. Digo mais, se seu coração não se sentiu tocado neste momento de sua
iniciação, rapaz, você não é pedra bruta, é titânio puro.
Lembre-se porém de que o auxílio aos seus irmãos é do tamanho de suas condições, por
isso, não tema nunca em dar a sua ajuda, nem que seja um abraço fraterno.
MAÇONARIA E HISTÓRIA
Um dia fizemos parte ativa da história, construímos, fomos sujeitos da história, seja no
Brasil ou no mundo, é fato. E hoje, o que somos?
Numa época em que os tentáculos da igreja tentavam sufocar toda a sociedade dentro de
suas normas e preceitos, os maçons proclamaram a república e criaram o estado laico.
Não pense que não foram eles censurados ou perseguidos, inclusive por seus próprios
irmãos.
Hoje o que temos é um bando de igrejeiros tentando converter os irmãos às suas crenças,
ou arrastá-los para seus partidos na tentativa de obter maioria política. Essa prática é
utilizada constantemente da loja ao mais alto poder do país. Percebem o quanto nossa
mentalidade foi debilitada? Caminhamos em direção contrária àqueles que lutaram por um
país laico, justa e igualitário.
No início do século XX, as manifestações de rua não ocorriam sem a presença de maçons
e da Maçonaria, e não falo de manifestações da direita conservadora, como acontece
agora.
Atualmente podemos ver a Maçonaria em desfiles militares por quase todo o país,
enquanto que ainda na década de 20 a Ordem saia às passeatas contra as guerras, a favor
das escolas livres e laicas e pela não extradição de operários tidos como subversivos. Foi
assim contra a primeira guerra mundial, contra a execução do maçom anarquista Francisco
Ferrer, a favor das escolas modernas, e antes disso, contra o sistema escravagista, e
tantos outros casos na história.
Foi essa Maçonaria ativa, participativa e forte que eu conheci, à qual fui apresentado. Sim,
tive como inspiração Bakunin, Ferrer, Reclus e Proudhon, e não me importavam os
generais e suas estrelas, ou os estadistas e suas guerras. Interessavam a mim os
libertários, os que buscavam construir uma sociedade melhor.
Os que se dedicavam às causas sociais e humanistas faziam Maçonaria dentro e fora das
lojas, já que nossos trabalhos nunca cessam, e que o maçom nunca descansa. Onde foi
parar os maçons livres-pensadores?
Lembre-se, só seremos livres quando não houver mais grilhões, e só dormiremos
tranquilos quando todos estiverem sob um teto e com a fome saciada, maçons ou não.
Sentar-se na sua fileira com avental impecável e instrução em dia, é muito válido, mas, sua
instrução como teoria requer a prática, a ação que transforma o homem e a sociedade, e é
dessa prática que estamos carentes, necessitados ao extremo.
Sobejam nas lojas falácias, bajulações e discursos vagos, e pra variar, orações demais e
ações de menos.
Eis o lema: ORDO AB CHAOS… Quem quer entender, entende; quem não quer entender,
está no lugar errado.
É na loja que recebemos as instruções que utilizamos socialmente e que nos preparam
para a vida, é lá que recebemos as instruções e as ferramentas que muitas vezes
esquecemos jogadas em algum lugar, perdidas de nós mesmos. É um templo? Sim, da
constante investigação e da construção do saber.
Entendo a Maçonaria como uma grande escola que não só ensina a pescar, ela também dá
ferramentas para a construção de sua vara de pescar, de seu barquinho, de como preparar
a isca, e de como compartilhar o resultado da pescaria. Sua riqueza está na abrangência,
dentre outras coisas.
Por alguma razão qualquer e que desconheço, alguns maçons insistem em tratar a loja
como sendo uma igreja ou templo religioso; outros tratam-na como um clube de troca de
favores, inclusive com pedidos ilegais que poderiam comprometer seriamente quem se
propusesse a ajudar; e tem também aqueles que acham que se reúnem lá só para ler o
ritual e depois beber e comer à vontade no “Copo d'água”.
São erros que se repetem constantemente e que nos arruínam. O camarada chega na loja
e a primeira coisa que pergunta é: - Onde vai ser o copo d'Água, hoje?
A Maçonaria é laica quando se coloca contra a influência religiosa na sociedade, muito
embora tenha bases religiosas. Devo antes de mais nada lembrá-lo que laicidade não tem
absolutamente nada a ver com ateísmo, como querem fazer acreditar alguns religiosos
evangélicos. Assim, quando eu defendo o meu ponto de vista na loja, tenho que saber que
não sou o dono da verdade, e que minha verdade pode não ser a verdade dos outros, e
quase sempre não é.
Trazer assuntos religiosos que geram discussão em loja é algo que não poderia acontecer
nunca, mas alguns que se intitulam salvadores, acreditam serem os escolhidos para
pregarem a palavra de seu deus, que consequentemente é o melhor e o único que salva, e
não segui-lo é perdição na certa. Percebe-se que por conta disso passa-se a discutir
menos sobre política e sociedade, assuntos que trariam benefícios reais, e perde-se tempo
tentando mudar o termo GADU para deus, por temer algum tipo de castigo… (fala sério!)
Por mais que alguns ritos e graus tenham características e traços de determinada religião,
não significa que o maçom possa subir ao oriente e de lá fazer uma pregação religiosa, ou
rezar uma missa, como se estivesse em sua comunidade religiosa. Na verdade a
discussão religiosa não cabe em nossos templos, muito menos aquelas que se propõem a
querer convencer os demais de sua superioridade, unicidade e pureza. Já inventamos
moda demais, está na hora de darmos um basta.
Não devemos nos esquecer de que a Loja é uma assembleia de homens livres e racionais,
regulada por leis e normas, e que tem suas reuniões obedecendo um ritual, esse que tem
por finalidade afiar as ferramentas dos obreiros para que possam melhor trabalhar em prol
da sociedade e de si mesmo. Essa assembleia conta com autoridades que ocupam cargos
hierárquicos, mas que são delegados do povo maçônico, pois apenas referendam a
vontade dos indivíduos que compõem o seu todo, fazendo valer e ser cumpridas as
determinações do grupo, decisões essas tomadas ali sob o mesmo teto, expressadas
através de voto livre, pessoal e intransferível.
Sou dos que acreditam que o sistema democrático só funciona em pequenas comunidades
e grupos, e na loja maçônica a democracia faz valer o seu nome. Sei bem que nem todos
concordam com esse argumento, aliás existem até os que acham que política não se
discute em loja, no que eu discordo completamente. É na loja que nós podemos fazer
política, afinal, fazer política é interagir com o meio.
Por fim, lembre-se de que não há loja sem maçons, assim sendo, o maçom é o principal
fator para a existência da loja, e portanto, é mais do que justo o direito de participar, opinar,
expressar, escolher e agir… livremente. Participar das reuniões não só lhe garante
regularidade como também lhe dar o poder de saber o que se passa em sua loja, o que
pode acontecer com ela, detectar falhas quando houver e sugerir mudanças quando forem
necessárias.
O que é a loja? - A loja é a vontade do indivíduo expressa num grupo, ou seja: É uma
comunidade autônoma, soberana e auto-organizada.
A MINHA LOJA É MELHOR
A loja tal trabalha assim.... Na loja X os irmãos são ... Na loja Y eles não fazem isso…
Quanta incongruência! Pelas barbas de Salomão!!! A não ser que os ritos sejam diferentes,
as condições, funcionamento e harmonia das lojas são as mesmas, partem dos mesmos
rituais, juramentos, leis e regulamentos, então, que besteira é essa?!
Nossos vícios que começaram como teias de aranhas, agora já se comparam a cabos de
aço. Sabemos que a comparação é um fator muito natural para o ser humano, faz parte de
nosso processo de crescimento e aprendizagem. Mas cá pra nós, não precisamos fazer
essas comparações, que são inclusive agressivas.
A visitação é um direito garantido ao maçom, mas não está implícito aí que ele julgará a
loja que visita ou os irmãos que nela trabalham. Não podemos sair por aí acreditando que:
Ah, na minha loja as coisas funcionam direitinho… na minha loja isso não acontece… na
minha loja eu não permito etc. Primeiro porque não somos donos da verdade, e segundo,
já não somos mais crianças disputando com os colegas pra saber quem é mais
“descolado”.
Temos uma tendência natural a interpretar as coisas a nosso modo, e mesmo quando
temos um só ritual, a sua interpretação é ampla, principalmente quando o que está escrito
não é muito claro. Outra, boa parte do que está escrito, se não for mostrado na prática por
outro irmão, fica difícil de entender mesmo, e para isso é que existem as instruções, ou
seja: Tente ser compreensivo para com seu irmão.
Os estudos e a prática constante, ou mesmo a correção feita por parte de um irmão com
mais conhecimento ajudam a diminuir as diferenças entre as práticas ritualísticas das lojas
do mesmo rito, mas, se não está como você acha que deve ser, releve, você não está
disputando medalhas. Até porque, o tratamento que recebemos das lojas que visitamos
quase sempre é um tratamento maravilhoso, a ponto de nos sentirmos em casa.
Se não se encontrar apto a se sentir em casa em outras lojas, fique mais tempo
aprendendo na sua. Além do mais, nada como estar em casa, não é?
A Maçonaria é uma só, não importando se esta ou aquela loja tenha mais ou menos
obreiros, se são juízes ou professores, nada disso importa. Aprenda a cuidar das outras
lojas do mesmo modo como você cuida da sua. A regra é simples, tem algo de bom
compartilhe com todos, mas, se for algo ruim, converse com o Venerável ou com o irmão
que o convidou, assim, em vez de sair por aí falando mal, você estará ajudando a
organização.
O mesmo vale para as discussões mesquinhas em relação às potências. Não há potência
maior do que o maçom. Para quê ficarmos discutindo se o grande X é melhor do que o
grande Y e ambos piores do que a grande W? No fundo, sabemos que os irmãos se
respeitam e se auxiliam independentemente de suas potências. O amor fraternal e o
juramento maçônico estão acima dessas mesquinharias. Anote aí: A família do maçom é a
humanidade e sua pátria é o mundo.
COMO FUNCIONA UMA LOJA
Qualquer Mestre Maçom pode se candidatar a um cargo em loja, é um direito dele, desde
que obedeça a alguns critérios, na sua maioria, tempo de uso do avental de mestre. Muito
tem se criticado o fato de que apenas os Mestres têm direito a voto, mas, os que criticam
isso estão presos à limitações ou a interesses.
O Mestre vota, não por ser melhor, mas por estar no grupo há, pelo menos, três anos, o
que faz dele conhecedor dos problemas que a loja possivelmente tenha. Imagine você se
um grupo de recém-chegados tivesse que votar, sem saber absolutamente nada sobre os
acontecimentos ocorridos na loja? Pense sobre isso.
As chapas eleitorais, que algumas lojas criam para facilitar o processo de escolha de suas
administrações, não são previstas na legislação, sem contar que também pode inibir algum
irmão que tenha a intenção de ocupar algum dos cargos.
No caso das eleições especificamente, eu sou favorável a uma prévia com a participação
de todos os obreiros, inclusive aprendizes e companheiros, assim, tem-se uma noção da
vontade popular, antes dos irmãos partirem para uma disputa, algumas vezes chata e
desnecessária.
Essa metodologia tem sido aplicada por algumas lojas e têm dado bons resultados, mas
claro, cada loja tem suas particularidades.
Quando escolhemos alguém para determinado cargo, nós delegamos a ele um poder,
acreditando na sua capacidade e competência, mas, se o irmão que ocupou o cargo não
cumpre com a sua função, ele poderá ser legalmente destituído, afinal, o mandato dele
pertence à loja.
Essa regra também vale para os deputados, que deveriam participar de todas as reuniões
obrigatoriamente, procurando saber com antecedência a posição da loja sobre determinado
assunto que será votado pela assembleia.
Imagine você, um deputado que erroneamente ganha imunidades, além da não
obrigatoriedade de participar das reuniões regulares de sua loja? Para que nos serviria um
camarada desse? E mais, como pode um deputado decidir na assembleia estadual ou
federal, sobre determinado assunto/tema/lei, com base apenas em sua opinião, sem
consultar a loja? É simplesmente ridículo!
Quer ser deputado? Que bom, mas terá que participar ativamente da vida da oficina.
Acredite, alguns irmãos acham essa situação muito normal, e com isso as Potências
Maçônicas vão se transformando em cópias exatas dos erros administrativos do estado
organizado que eles tentam copiar.
Para que funcione uma loja sem muitos problemas, precisamos saber se os irmãos
escolhidos para a administração podem realmente ocupar esses cargos, pois deles
demandam tempo, preocupações, trabalho e muita responsabilidade, principalmente hoje,
onde as lojas adequam-se às normas legais profanas para seus funcionamentos.
Caso o irmão indicado pela maioria acredite não ter condições, não aceite a função,
acredite, ela é maior do que o cargo! Justifique a sua negativa para que os demais
entendam e respeitem sua postura. É o melhor a ser feito nesses casos, e não significa
que você não tenha interesse em ajudar a loja, pelo contrário, em casos como esses, o que
o maçom faz é justamente ajudar.
Quanto aos obreiros, nada mais justo do que questionar o candidato a respeito da
possibilidade de assumir tal cargo: - O irmão realmente tem condições de exercer esse
cargo, mesmo sabendo que dele demandam algumas responsabilidades e tempo?
É o melhor a ser feito. A conversa entre irmãos tem que ser sempre franca e aberta,
costumo dizer: Se não podemos confiar num irmão, em quem mais confiaremos?
Não irei aqui citar cargo por cargo, afinal os irmãos sabem que a falha de qualquer um
desses cargos já causa grande problema para toda a ordem, e não só àquela oficina
específica.
A loja tem que permanecer sempre forte, crescer diariamente, ou no mínimo se manter
num determinado patamar, não podendo esperar que um Venerável Mestre corrija o rumo
dela num piscar de olhos, como num passe de mágica. Lembre-se, traçar os rumos da loja
ou mesmo corrigi-lo, é tarefa de todos os obreiros, sem exceção, e não apenas do
venerável, como alguns acreditam. É muito fácil chegar à loja e ir direto para sua cadeira
sem se preocupar que alguns tiveram que organizar as tarefas durante a semana.
A escolha de uma boa administração é um dos caminhos para o bom funcionamento da
loja, isso tudo agregado à participação constante dos irmãos em todas as sessões,
propondo, votando, decidindo, opinando, ouvindo e se fazendo ouvir, isso é imprescindível.
O maçom deve saber que sem a sua participação, sem as suas propostas, sem as suas
opiniões, sem o seu voto, seu o seu trabalho e dedicação não há loja. Deixa de haver uma
assembleia livre e passa a ser muitas vezes dois ou três irmãos tentando manter a loja de
pé, cada um agarrado a uma das colunas, lutando inutilmente contra o óbvio.
Uma Loja Maçônica funciona como uma máquina gigante onde cada indivíduo é uma
engrenagem que se encaixa e se apoia umas nas outras, cabendo à administração manter
as engrenagens lubrificadas e a máquina funcionando, pois é assim que trabalha a
Maçonaria. A falta de uma peça já sobrecarrega outra, e isso leva ao cansaço e até a
falência.
Quando tiver que escolher o Venerável de sua loja, não tente se basear apenas naquele
que é o mais rico ou o mais letrado, procure na humildade daquele que de fato conhece e
‘sente’ a loja; procure um irmão que saiba agregar valores e criar um ambiente de
harmonia onde reine as diferenças.
FERRAMENTAS PARA FORMAÇÃO
As instruções dos rituais especificamente falando, tem por finalidade nos esclarecer sobre
o que é Maçonaria, como ela funciona, o porquê de sua existência, além de trazer os
aspectos ritualísticos e hierárquicos dentre outras coisas. Já outras instruções, estas
abordam temas diversificados como: filosofia, história, espiritualidade, ciências, artes etc, e
existem para ampliar o campo de visão e de entendimento do indivíduo sobre si mesmo, o
mundo em que vive e sua própria existência.
Um grande número de lojas fica em débito com os seus obreiros no que diz respeito aos
ensinamentos, sem contar que frustram em grande parte a expectativa dos aprendizes que
esperam muito mais do que recebem.
De uns tempos para cá criou-se um hábito desgraçado de criar expectativas mil na cabeça
do recém-chegado à Ordem. O intuito disso é simples: parecer-se melhor, superior etc. Ou
seja, em vez de criar e alimentar o senso de respeito, humildade e responsabilidade no
aprendiz desde o início, não, já começa fantasiando e iludindo o sujeito.
Não custa lembrar que Aprendiz não significa ser bobo, disso já sabemos. Reparem que
anteriormente eu disse “um grande número” e não todas as lojas, mas, é preciso muito
cuidado com o que se promete ao ainda profano. A ideia é lembrá-lo sempre de que haverá
muitas responsabilidades para quem é aceito na Maçonaria, afinal, dedicar-se à causa
humana nunca foi tarefa fácil.
Quanto aos trabalhos, é muito comum ouvirmos indagações de aprendizes, como: “- Será
que é só isso? ... Alguns poucos trabalhos, a leitura e o tempo? Não pode ser só isso,
pode?”.
A resposta é: - Não. Não pode, meu irmão. Não pode, mesmo! Converse com o vigilante
responsável pelas suas instruções, respeitosamente indague sobre seu aprendizado.
Exponha suas dúvidas e procure não criar expectativas com base na ficção ou no que leu
na internet.
Já dizia Confúcio: Quem pergunta é tolo uma vez; quem não pergunta é sempre tolo. Não
podemos esquecer que existe a necessidade de também instruir os mestres, estes,
esquecidos no que diz respeito a instruções. Sei que é difícil de acreditar, mas tem mestres
maçons que só conhecem o seu grau pelo que supostamente viram na exaltação, nada
mais. Vão ensinar o quê?
O jeito é calar-se diante das perguntas dos naturalmente curiosos aprendizes. É como se
virar mestre em algumas lojas, por si só já os tornassem grandes sabedores da Maçonaria.
A coisa é mágica! Tem Mestre que fez o sinal de identificação do grau no dia da exaltação,
e passou anos até fazer novamente… e errando, claro!
Você teoricamente foi escolhido para fazer parte da Maçonaria, não surgiu ali de
paraquedas, (muito embora tantos tenham surgido assim nas últimas décadas). Sua
instrução deve ocorrer normal e calmamente, porém dentro de um prazo, que infelizmente
não é muito bem organizado, basta analisarmos o tempo de instrução de um companheiro
em comparação com a exigência do grau, chega a ser ridículo. Instruções para mestres,
em algumas oficinas nem acontecem. É normal? - Não!
Muito embora a falta de estudos reais e sérios ocorra em algumas lojas, os irmãos devem
lembrar-se de que a oficina tem uma agenda (que foi previamente discutida) e de nada
adianta querer atropelar as coisas ou se precipitar. Mas, uma agenda que tenha como
objetivo único contabilizar o tempo para colação de grau, é uma afronta e um descaso para
com a Ordem.
É bom salientar que uma loja não existe apenas para parir maçons.
Parte-se do princípio de que o mestre que o apresentou à Maçonaria julgou-o digno e apto
a aprender, compartilhar e praticar os conhecimentos maçônicos, é o mínimo que ele
poderia ter feito. Trazer para a ordem um ignorante, um fanático, um preconceituoso, um
hipócrita, um bandido ou qualquer um outro que não tenha o mínimo discernimento sobre
respeito, é um crime contra a organização, contra a humanidade e contra você mesmo.
Por outro lado, convidar um indivíduo totalmente inapto, e nem sequer instruí-lo, traz
resultados desastrosos para toda a maçonaria.
Ali estamos porque fomos julgados capazes de progredir e revolucionar, e isso vai além do
que ler rituais. Nosso aprendizado diz respeito não apenas ao mundo maçônico, não se
iluda. O estudo maçônico é muito maior do que isso, conhecer a Maçonaria como consta
nos rituais é a obrigação, a base, o alicerce que lhe garantirá erguer seu templo à virtude e
cavar masmorras ao vício, e isso é o começo do caminhar, por mais árdua que possa ser
essa trilha, ela é só o começo, e essa jornada deve ser alcançada com estudos, ampliação
do conhecimento.
Eu admiro o conhecimento e a busca tenaz desses tantos irmãos que passam anos
estudando os ritos e suas características, sou um dos que gostam desse tipo de estudo,
mas, tenho preferência pela área histórica; minha cobrança é que, da mesma forma que
nos debruçamos em livros para estudar ritualísticas, deveríamos fazer o mesmo em
relação a maçonaria prática, seus princípios e fins. Afinal, de que me adianta ter recebido
as ferramentas, aprendido a manuseá-las e não fazer uso das mesmas? Um pedreiro não
levanta uma casa lendo livros apenas, e de nada valem teorias sem ações práticas.
Fazer novos progressos na Maçonaria talvez seja o mais difícil, pois, requer que se cumpra
o que foi dito antes, o combate às paixões, e a submissão das vontades suas às do
coletivo. Reconheço que não seja tarefa fácil, e nem precisa ser, afinal, Maçonaria é
sinônimo de trabalho constante, mas, como superar estas barreiras?
- Ensinando.
Quem me conhece sabe que sempre achei que os métodos de aprendizagem maçônicos
são partes dos pontos fracos da Ordem. O modo como formamos pode ter funcionado um
dia, numa época em que o homem estava menos sujeito a um mundo tão amplo e
complexo, quando vivia em comunidades longe de tudo, e quando o mundo era uma
pequena parte do que temos hoje em tamanho, população e informação.
Lidar com um ser em constante movimento, cego por suas paixões, essas criadas por um
sistema que o condiciona desde pequeno a buscar o seu espaço sem se preocupar com o
próximo, aliás, tendo o próximo como uma ameaça, esse homem quase sempre é um
refém da realidade em que vive. Qualquer mudança de rumo pode ser traumática, quando
não, uma perda de tempo.
Manter um sistema de ensino tradicional agora é aplicar um antídoto inócuo num paciente
picado pela mortal serpente do sistema predominante, ou seja, um engana o outro. Prova
disso é que comumente os novos maçons mantêm o seu modo de ser e de pensar profano,
e pior, conseguem até passar adiante seus erros. A Maçonaria nada acrescenta à sua vida,
ele não permite. É como aquele evangélico que abandona a faculdade por não querer
acreditar que as línguas têm origens, e que não é a torre de Babel.
No final, continuamos cultivando nossos erros, alimentando nossas paixões e vícios como
se nada tivesse acontecido de novo em nossas vidas. A Maçonaria não consegue alcançar
esses maçons, eles estão fechados em suas redomas a tal ponto de não serem pedras
brutas e sim algo comparado ao titânio, de tão duro e impenetrável.
As instruções nesses casos são como brincadeiras, um teatrinho que remonta o tempo do
colégio, partes de um ritual arcaico, a ser esquecido no minuto seguinte. Para os maçons
fechados ao aprendizado, as situações vividas em loja são como uma peça de teatro, sem
fins educativos, e não adianta tentarmos convencê-los do contrário.
Como não nos cabe convencer ninguém, deveríamos ao menos pensar maneiras de
despertá-los para a realidade. Se o indivíduo torna-se maçom e não muda nada em seu
íntimo, continua o mesmo sujeito de antes, pode significar um erro tê-lo apresentado à loja.
Sua arrogância, seu individualismo, seu fanatismo, seus vícios e preconceitos impedem-no
de crescer e progredir como ser humano. Se eu não posso servir ao próximo, para quê
sirvo eu? Se você não está apto a servir à humanidade, não justifica sua presença nas
fileiras da Maçonaria.
O mundo só será melhor para mim quando assim o for para todos os seres. Isso não
significa abrir mão de meus projetos, ou deixar de dedicar-me às minhas coisas. Cedo
aprendi que só posso dividir se tiver algo para dividir.
No fundo, o que quis dizer aqui é que a Maçonaria exige do maçom dedicação ao lema:
Igualdade, liberdade e fraternidade. Entendendo a amplitude deste lema, você estará apto
a entender o que é ser irmão.
Lembre-se mais uma vez: Você não é, seus irmãos é que o reconhecem.
NÃO AJO, NÃO PENSO E NÃO PARTICIPO
Isso mesmo! Não ajo, não penso e não participo, é assim que se mostram muitos maçons,
de Aprendizes a Mestres. Não é de se estranhar, afinal, nada lhes foi ensinado, exceto ler
os rituais e fazer trabalhos sobre rituais.
Instruções que preparariam para o debate, para a pesquisa, para expor opiniões e
defendê-las, para opinar e propor, simplesmente inexistem. Sem isso a loja é capenga,
apenas um arremedo de assembleia livre, e não adianta culpar ninguém, exceto a própria
loja.
Por mais que o irmão seja um exímio pesquisador, estudioso da ordem, falta-lhe o espírito
do contestador, do que expõe os contrastes, do que interroga, do que argumenta, do que
cobra ação, e isso é parte da responsabilidade educativa da loja. Faltaram-lhes as
instruções de que tanto falo…
Entrar mudo e sair calado, como costumamos ouvir no mundo profano, passa a ser crime
na Maçonaria, e não significa que o irmão não tenha argumentos e nem vontade de expô-
los, na verdade ele não sabe se deve, e nem como fazer isso; sente receio em ferir o
venerável que é seu amigo; sente medo de criticar a postura de um irmão mais velho;
atormenta-se por não ter aprovado algo proposto por um dos fundadores da loja que
garantia ser o melhor a fazer no momento…
Onde está a loja dos iguais? Cadê o tão propalado lema: Liberdade - Igualdade -
Fraternidade? Tudo bem, foi dado o direito, mas, assim como se dá as ferramentas para o
recém-iniciado, ele necessita também da ajuda do Vigilante para guiá-lo no trabalho diário,
e o que falta é esse guia. Percebe a importância de tudo funcionar bem?
Não basta aos maçons estarem ótimos em ritualística, requer que não seja uma lástima em
relação a ser maçom, pois assim contribuem mais ainda para o estado de cegueira de
nosso povo e de nossos governantes, que cada vez mais se veem enterrados em
corrupções e falcatruas.
Cada vez mais temos irmãos corrompidos e corrompendo, irmãos que em nada contribuem
para acabar com a ignorância, cada vez mais apegados às superstições, quase sempre
apoiando a tirania, tantas vezes validando as injustiças, encobrindo erros e defecando em
nossas tradições. Ficamos no discurso, nas fotos dos grandes eventos, nas festividades
patrióticas, e nos afastamos lentamente das causas da humanidade que sempre moveram
a Maçonaria.
Nunca estivemos tão distantes de nossos ideais, se baseado em nosso lema. De grandes
pensadores, libertadores que enxergavam à frente de seus tempos, nos tornamos fanáticos
religiosos, políticos corruptos, patrões injustos ou até mesmo, pais irresponsáveis. A falta
de participação dos maçons na vida ativa da loja causa danos algumas vezes irreparáveis,
e quando é possível reparar, sempre gera um grande conflito seguido de rachas.
FORMAÇÃO DUVIDOSA
Muitas vezes o erro já vem desde a indicação de um possível candidato. Ainda há pessoas
que acreditam que apenas pelo fato de trabalhar no mesmo escritório ou ir juntos à mesma
festa ou igreja, já seja motivo para indicar o amigo para ingressar na Maçonaria. Erro
gravíssimo!
Não é porque você estava apto a ingressar na Maçonaria que seu companheiro de trabalho
ou de festas também esteja, e não é pelo fato de ele ser seu amigo que isso o torna um
candidato natural para os quadros de sua loja.
Após o ingresso desses desavisados surgem quase sempre duas situações tristes.
Primeiro, o agora aprendiz perde total ou parcialmente o seu senso crítico em relação à
ordem, ou é medo mesmo, despreparo. As coisas passam a acontecer e o sujeito ali, sem
condições de saber sequer como proceder, muitos inclusive abandonam a loja pouco
tempo após a iniciação. Ou, no segundo caso, como não foi bem escolhido no mundo
profano, tenta moldar a todos com a sua arrogância, crença, destempero e desrespeito
para com os membros da loja. Alguns desses valem-se de títulos obtidos no mundo
profano, que por sinal, valor nenhum tem dentro da loja. Claro que não são todos os casos,
mas está cada vez mais comum. A indicação é tão importante quanto a instrução, aliás,
não estão dissociadas.
Sempre fui crítico em relação ao modo como se instrui na Maçonaria, no fundo, cria-se
“experts” em rituais e esquece-se totalmente das ritualísticas e das práticas maçônicas, da
solidariedade e das ações sociais. O maçom autômato aprende tudo sobre leis, e atropela
o que possa haver de humanitário e revolucionário em si e em suas buscas.
Cresce o aprendiz nesse contexto, sedento de conhecimento que não aparecerá se ele não
for um buscador de fato, quando não, torna-se mestre sem ao menos ter aprendido a
aprender. O mais comum é o simples manter-se simples, e o arrogante mais arrogante
ainda.
O Indivíduo dedicado, tão logo se adapta àquele novo mundo, é alçado já ao grau seguinte,
e ao outro grau mais rapidamente ainda, com o intuito de supostamente fortalecer a loja.
Será que fortalece mesmo?
A evolução deste maçom foi comprometida, e é quase certo que ele se transforme num
lagarto, ficando a balançar a cabeça concordando com tudo o que é dito ou; deslumbra-se
com suas vestimentas novas e transmuta-se em um pavão misterioso numa constante
corrida para conquistar medalhas e graus. Teremos aí mais um mestre que não aprendeu,
e portanto, não está apto a ensinar.
A formação irrisória e a busca por aprender sobre rituais e leis transforma o maçom num
inútil, quando o assunto é irmandade. Falo isso porque conheci valorosos irmãos que se
decepcionaram ao presenciar muitos discursos belos e nenhuma ação razoável para ajudar
o próximo.
Concordo quanto a conhecer bem o seu ritual e suas leis, mas chamo a atenção para o
fato de que elas mudam, diferente do compromisso do maçom.
A VERGONHA DE HIRAM
Talvez a grande vergonha de Hiram seria ver um mestre maçom, “fabricado nas coxas”,
assinando documentos e atas de reunião que não participou, ou aprovando um candidato
“sujo”, apenas para não contrariar o Venerável da Loja ou um outro grande figurão do
quadro de obreiros.
Muito embora ainda sem muito entender, esse importante membro da loja passa a convidar
seus amigos, afinal, ele não tem responsabilidade nenhuma sobre isso. Se der errado,
problema da loja! É o típico sujeito que tenta fazer média com alguém apresentando-o à
Maçonaria…
Sujeitos como esses são como cânceres para uma loja, e que para se curar, ela (a loja)
acabará por perder alguns órgãos eficientes, e se não tomar cuidado acabará com três
abnegados agarrados às colunas numa tentativa vã de manter-se de pé. Não entendo, não
entendo mesmo essa gana de querer trazer todos para dentro da loja de uma só vez e a
qualquer custo. Talvez seja aí um sinal de que a loja nunca deveria ter levantado colunas.
Quantas vezes não nos deparamos com lojas montadas por mestres inexistentes?
Inexistente eu digo no sentido de o indivíduo ter apenas dado o nome e o CIM para ajudar
a formar a nova oficina, e depois disso, não sabe nem o nome dela. Não é cobrada dessas
pessoas a responsabilidade devida, então, fica fácil tratar o que seria uma família como se
fosse um clube de pôquer.
Mestres que não amassam massa em conjunto com os aprendizes da loja, não ensinam,
até porque as vezes nem aprenderam, não vivenciaram a comunhão de ideais e propósitos
da loja. Mestres que se recusam a abrir suas mentes e aprender, que se recusam a
abandonar seus vícios e que em vez de combater o despotismo, o fanatismo e o erro,
vivem exatamente sob esses preceitos.
Quem os reconhece? … Nós. Chegam eles totalmente imunes ao veneno mortal da Taça
Sagrada, que é tão fatal aos perjuros. Nós os abraçamos, os vestimos e os instruímos.
Não, não somos inocentes ou incautos, somos bem piores, nos tornamos a vergonha de
Hiram.
O DONO DA LOJA
Tem assunto tão chato quanto esse dos donos de loja? É extremamente irritante, e
infelizmente constante, o uso deste encardido termo em tudo que é lugar onde
encontramos com os irmãos, seja em loja, seja num almoço no mundo profano, num papo
por telefone, e até numa conversa mais séria em câmara do meio.
Eu tenho duas opiniões sobre isso e aqui irei expô-las rapidamente, aliás, como tudo nesse
livreto.
Comumente os irmãos chamados e apontados como sendo donos de loja, sofrem de uma
tremenda injustiça, na verdade são eles que suprem as necessidades administrativas da
loja, sozinhos, por falta de responsabilidade, comprometimento e demais falhas dos oficiais
eleitos para os cargos, e que não cumprem com suas obrigações como deveriam.
Esses ‘donos de loja’ ao perceberem que os placet’s não são protocolados; ao perceberem
que não foram providenciados aventais, rituais, regulamentos e constituições; ele vai lá e
compra tudo, arruma, traz para loja, prepara ou providencia os “copos d’água”, sugere
algumas atividades e assim por diante, coisas simples (se quiser assim acreditar) mas, que
trariam sérios problemas para a oficina se não fossem feitas.
Os donos de loja, não se apoderam do caixa da loja, não preparam as atas suprimindo ou
acrescentando o que não foi discutido em assembleia, não acharcam irmãos aprendizes,
não vendem honrarias, não corrompem os obreiros e assim por diante. Eles agem por
instinto de sobrevivência e responsabilidade.
Os irmãos denominados ‘donos de loja’ quase sempre são os que carregam nas costas o
peso da loja, por omissão, incapacidade, irresponsabilidade e desconhecimento dos
demais obreiros da oficina. E, por se preocuparem demasiado com ela e sua saúde,
carregam a pecha de serem “os donos de loja”.
Minha segunda opinião é sobre " O Dono da Loja". Esse, quando se apropria da loja
poucos percebem; organiza panelinhas, omite informações, tenta se perpetuar no poder, só
a opinião dele é válida, não se pode contradizê-lo, ele decide onde e como as coisas
acontecem, costuma assumir o caixa da loja, manipula a secretaria e é o símbolo maior da
arrogância e da vaidade.
O Dono da Loja comumente é aquele que primeiro se afasta quando o barco começa a
afundar, e sai em busca de um novo lugar para ludibriar novamente.
Eu vejo grande diferença entre 'donos de lojas' e 'Os Donos das Lojas', mas, sei bem onde
eles têm origem: Eles medram na omissão dos obreiros do quadro. Se eu não faço, alguém
precisa fazer; se eu não apresento propostas, alguém apresenta; se eu omito minha
opinião, alguém opina; se eu não compareço na loja, os demais comparecem; se não me
proponho a ocupar um cargo, alguém se propõe… Essa é a melhor forma de se criar dono
de loja, por obrigação e responsabilidade; Já 'O Dono da Loja', bem, este nasce por
oportunismo de uns e ignorância dos obreiros.
Tudo isso que vos falo só poderá ser corrigido com as tão mencionadas instruções.
Precisamos instruir nossos obreiros, precisamos fazê-los pensar maçonicamente, e assim
contribuiremos para uma maçonaria racional e ativa em todas as esferas sociais.
Em minha vida maçônica conheci os dois tipos, e claro, não aceito nenhum deles, porém,
os irmãos votam nas eleições da loja como votam nas eleições profanas, ou seja, escolhe
pela aparência, pelo discurso ou pelo vínculo de amizade, não levando em conta a
necessidade de propostas e planos para manutenção e administração da oficina, a
responsabilidade e o zelo à frente dos trabalhos, dentre outras coisas.
Claro que quer, é um direito, por sinal! Mas, para isso não podemos atropelar o andamento
normal de uma loja e nem a vontade dos obreiros, concorda?
Ser Venerável Mestre nem sempre é o desejo de quem briga na loja em busca da
presidência dela, muitos na verdade só querem, necessitam, imploram, por um avental com
azul e dourado… Eh, aventalzinho cobiçado!!!
Mas, o que esse avental tem de tão valioso? Será que é ouro aquele dourado? Ou será
que ele traz consigo a sabedoria do rei Salomão? Vaidade de vaidades… Tudo é vaidade.
Para bom entendedor pingo é pingo, letra é letra.
Atentem para isso, todas as decisões que comprometem a vida do grupo é tomada pela
loja; a loja, o conjunto de irmãos, deverá sugerir, discutir, opinar e votar, decidir se aprovam
ou não determinada proposta, seja ela qual for. Aprovada a proposta, o Venerável ordena
ao secretário que registre em ata, inclusive o número de votos favoráveis, os contra e
também as abstenções.
Assim funciona uma loja, vontade popular levada adiante pelo presidente. O que acontece
é que por formação, alguns já chegam com a cultura do soberano dono do mundo, e que
acredita que como venerável pode fazer e desfazer dentro daquele grupo. Esses ganham
força na falta de instrução dos obreiros e logo tornam-se verdadeiros ditadores. Passam a
ser adorados e ganham até seguidores.
Ah, e esses famintos pelo título de Mestre Instalado, se contrariados, a primeira coisa que
fazem é pegar seus séquitos e montar uma nova loja… Fácil né? No poder, esses
pseudosmestres se perpetuam e agem como se as lojas fossem suas propriedades. Eles
mesmos tomam decisões, arregimentam séquitos e votam o que bem querem, sem levar
em consideração a vontade dos obreiros.
Está aí tudo o que você não precisa para a sua oficina, mas que infelizmente, surge
sempre e se alimenta de nossa ignorância.
Pois bem, sendo o defensor da opinião de sua loja, e seu representante legal, a
responsabilidade do Venerável é dobrada, e por isso devemos sempre escolher alguém
que tenha no mínimo capacidade de administrar opiniões e vontades diversas. Além disso,
conhecer os direitos e deveres do indivíduo; saber intervir nas horas precisas evitando
assim problemas maiores; saber traçar objetivos e tentar cumpri-los; entender as
dificuldades e trabalhar para aprimorar o nível de conhecimento e de crescimento da loja;
são algumas das tantas coisas que contam a favor de um candidato a presidente de uma
loja maçônica.
Quando for escolher seu Venerável, pense que ele será espelho de sua loja.
AFINAL, QUEM MANDA NA LOJA
Ainda tem dúvida meu irmão? Você é a loja, muito embora a loja não seja apenas você.
Então, quem “manda” na loja é a assembleia de irmãos que se reúne para estudar, ensinar,
aprender, opinar, discutir e aprovar.
Não podemos imaginar a loja como sendo algo que possa ser mandada, ela tem que ser
vista como um todo, sendo cada um de nós parte deste todo. Ninguém manda, ninguém
obedece. Todos se entendem e respeitam as possíveis e naturais diferenças. Não
precisamos pensar iguais, temos sim que agir de modo uníssono.
Somos nós, indivíduos, maçons, homens livres que não admitem a tirania nem o
despotismo, nem dentro nem fora das lojas, que mandamos em nossas vidas e que não
permitimos a intolerância, que lutamos contra os preconceitos, as superstições e os erros.
Não há senhores e escravos entre nós, melhores ou piores. Somos nós os pedreiros,
construtores sociais; somos nós, o grupo, a família, a loja.
PARA CONCLUIR
Acreditar que o normal de uma loja e de um maçom seja sentar-se, ler rituais e trocar
favores entre si é uma abominação. Um templo não se edifica sozinho, para isso requer
ação contínua e dedicação constante.
Aceitamos demasiado, concordamos mais ainda, onde está o que se diz pedreiro livre? A
dita zona de conforto é apenas um engodo, uma desculpa, exceto para aquele que vive
numa redoma. Não podemos nos ausentar do mundo e nem fechar os olhos para seus
problemas. Somos parte em tudo isso, principalmente quando tomamos consciência.
Não somos perfeitos, mas podemos ser melhores, e mais do que ter ferramentas, nós
somos as próprias ferramentas para construção de uma sociedade melhor e mais justa.
Dediquemo-nos meus irmãos, à causa da humanidade. E por fim, nunca nos esqueçamos
de que não somos, são os nossos irmãos que reconhecem nossa condição de pedreiros
livres. Tudo podemos construir, do mesmo modo que tudo podemos derrubar, porém não
destrua, se não sabes construir.
SOBRE O AUTOR
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