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Princípios
E
Ética Maçônica
Curitiba, 2015
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Etimologicamente falando, ética vem do grego "ethos", e tem seu correlato no latim
"morale", ambos os conceitos com o mesmo significado: conduta, ou relativo aos costumes.
Podemos concluir que, etimologicamente, ética e moral são palavras sinônimas. Contudo, os
filósofos distinguem os dois conceitos. Para muitos estudiosos:
1. Ética é princípio, moral são condutas específicas;
2. Ética é permanente, moral é temporal;
3. Ética é universal, moral é cultural;
4. Ética é valor, moral é regra;
5. Ética é teoria, moral é prática.
Dessa forma, o estudo da ética maçônica se confunde com o estudo de seus princípios
fundamentais e a moral é o conjunto de comportamentos esperados, quer dizer: socialmente
construídos, de quem adota esses princípios.
Isso não é apenas um jogo de palavras. Lembro-me de minha época de criança, no
interior do Estado, que quando os adultos falavam que alguém era maçom, isso significava
quase que um atestado de probidade. A conduta esperada de um maçom era de integridade,
dedicação à comunidade, respeito às pessoas e amabilidade no trato. Essa conduta derivava de
valores, implícitos ou explícitos: honestidade, espiritualidade, etc.
Hoje, podemos falar, grosso modo, de três concepções da ética:
tava. Se por um lado a Maçonaria não precisava mais ser secreta e tomava a decisão histórica
de manifestar-se ao mundo, tinha que considerar que esse mundo se abria para a modernidade.
E o que mais profundamente caracterizava essa modernidade? O desenvolvimento da ciência;
o rompimento com o absolutismo político e religioso; a multiculturalidade; um sistema eco-
nômico dominado por uma burguesia esclarecida. Isso punha uma questão nova para uma
ética do relacionamento: como conciliar a universalidade dos valores com a diversidade de
pensamento?
No plano institucional o debate está mais vivo do que nunca. Uma medida recente
tomada pelo Governo da França, vetando a utilização de signos religiosos ostensivos, como a
burca para muçulmanas ou o crucifixo em ambientes de governo, provocou e ainda provoca
calorosos debates. Não é questão de fácil solução.
Aos poucos, porém, vai se tornando evidente que o princípio da igualdade, em qual-
quer de suas vertentes, veio para ficar. Associado, na esfera dos valores, à dignidade, suplan-
tou a honra, com sua pressuposição hierárquica e aristocrática. Como dizia Rousseau (O Con-
trato Social), o problema está em "encontrar uma forma de associação que defenda e proteja
com toda a força comum a pessoa e os bens da cada associado e pela qual cada um, unindo-
se a todos, não obedeça, porém, senão a si próprio e permaneça tão livre quanto antes; este,
o problema fundamental cuja solução é dada pelo contrato social".
Mas sem um elevado grau de tolerância, é absolutamente impossível se aceitar o direi-
to à diferença, especialmente das minorias. O princípio de Rousseau tende a gerar uma "dita-
dura da maioria", uma tendência homogeneizadora, a menos que se acrescente a ele o princí-
pio da tolerância.
Mas de que tolerância se fala? Herbert Marcuse, um dos membros da chamada "Escola
de Frankfurt" e guru dos movimentos de maio de 1968, efetuou, em 1965, uma crítica da no-
ção de tolerância. Seu argumento é o de que, em uma sociedade violenta, repressiva ou desi-
gual, defender a tolerância em termos absolutos equivale a legitimar essa sociedade, o status
quo. Dito de forma mais simples: a tolerância absoluta deve envolver também a tolerância
com ditaduras e ditadores.
Um exemplo bem próximo que põe à prova os limites da tolerância na sociedade de-
mocrática é a exibição do polêmico filme "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson. Sob pretexto
de fidelidade ao Antigo Testamento, Mel Gibson acaba reproduzindo uma versão da vida de
Jesus que provocou críticas e até violência. Como proceder diante desse filme? Como defen-
der o direito à sua apresentação aceitando, implicitamente, a atitude anti-semita que ele gera-
ria colateralmente?
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Mas este é apenas um exemplo dos dilemas enfrentados pelas sociedades democráticas
contemporâneas diante da idéia da tolerância. A questão reside em saber até onde se pode
tolerar sem recair na omissão ou no relativismo.
Outros teóricos, não necessariamente marxistas, defenderam que se passe dos direitos
formais para a efetividade dos direitos. É o caso de Norberto Bobbio. Em A Era dos Direitos
afirma que, hoje, já se deve passar da luta pelo reconhecimento dos direitos para a luta por sua
implantação. Isso significa a luta pela igualdade de direitos e pela justiça. Considerando-se
que propugnar pela liberdade e pela tolerância é admitir, por pressuposto, que as pessoas são
diferentes, de que igualdade se fala? Pelo fato de a Maçonaria defender que a humanidade é
uma condição comum a todos, independentemente de sexo, raça, religião ou posição social,
decorre que, em primeiro lugar, ela se propõe a defender a igualdade de condições. Esse é um
valor universal, embora as condições possam mudar a cada época. Hoje, reconhecemos como
fundamentais os direitos à educação, à saúde, à moradia e à vida, por exemplo. Essas são con-
dições humanas fundamentais. Além daí, é necessário considerar que deve haver direitos
iguais para pessoas em situação social igual. Não há justiça, por exemplo, no fato de que indi-
víduos que desempenhem a mesma função no mesmo sistema recebam salários diferenciados
por conta de seu sexo, cor ou preferência política.
Isso coloca uma questão importante para a ética, especialmente maçônica: adotar valo-
res e princípios, defendê-los nas discussões, sem que se atue no sentido de implementar as
condições para o real exercício desses valores e princípios, é absolutamente inócuo. Nossa
doutrina não fala em "defender" valores, mas em "construir" Templos às Virtudes e Masmor-
ras aos Vícios. Não adianta nada, por exemplo, termos em tese liberdade de deslocamento se,
na prática, por condições financeiras, dificuldades de transporte ou outros obstáculos não po-
demos de fato nos deslocar. Como falar em liberdade de escolha de ocupação em situação de
elevado desemprego? Como falar, por exemplo, em igualdade racial em um país em que a cor
é levada em conta na hora de selecionar para um emprego? Como falar de igualdade no traba-
lho quando as mulheres continuam ganhando menos do que os homens, sujeitas a assédio
sexual e profissional? Como falar em direitos do trabalhador quando se sabe que, na prática,
as pessoas que estão empregadas trabalham cada vez mais, sem ganhar horas extras?
CONCLUSÃO: a Maçonaria Moderna, herdeira direta da visão de mundo do Ilumi-
nismo, tem como objeto de sua doutrina a Humanidade. Como ética ou princípio, a busca das
condições fundamentais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade para todos os Homens. Como
método, propõe o esforço progressivo do ser humano em busca da aquisição e fortalecimento
de valores, atitudes e hábitos que induzam seus membros a se engajarem na luta por condi-
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ções sociais, culturais e econômicas cada vez mais propícias ao desenvolvimento desses ide-
ais.
Esses princípios, por serem paradigmáticos, não excluem outros, desde que esses ou-
tros não estejam em contradição com eles. Dessa forma, a Maçonaria consegue colocar-se
valores universais que se adequam às variadas condições de tempo e espaço em que existem
as sociedades "reais", ao mesmo tempo em que servem de orientação a todos os obreiros do
orbe.
Albert Schweitzer: "ética é a ilimitada veneração diante da vida e o respeito diante de cada ser".