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comunitários.
Abril, 2015
Papel da Consulta Comunitária na preservação dos direitos comunitários.
Ficha Técnica:
Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental
Autor: Issufo Tankar
Revisor: Marcos Pereira
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Índice
1. Introdução ..................................................................................................................................... 4
2. Análise e Justificação do Problema.............................................................................................. 4
2.1 Objectivos .................................................................................................................................... 6
2.2 Local da pesquisa ........................................................................................................................ 7
2.3 Descrição de Massingir Agro-Industrial ................................................................................... 7
3. Metodologia .................................................................................................................................. 8
3.1 Limitações do Estudo ................................................................................................................. 8
3.2 Consulta Comunitária no Contexto Legal Moçambicano ....................................................... 9
3.3 Processo de consulta comunitária ........................................................................................... 10
4. O Caso de Massingir Agro-Industrial ....................................................................................... 11
4.1 Acta de consulta comunitária .................................................................................................. 15
4.2 Problemas e Desafios Encontrados ......................................................................................... 17
5. Conclusões e Recomendações .................................................................................................... 19
5.1 Conclusões ................................................................................................................................ 19
5.2 Recomendações ......................................................................................................................... 20
Bibliografia .......................................................................................................................................... 22
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1. Introdução
Por isso, torna-se relevante realizar estudos e pesquisas para apurar os problemas que
enfermam o processo e propor medidas que possam não só reduzir conflitos de terra
mas sobretudo tornar a comunidade um agente activo do desenvolvimento da sua
própria comunidade.
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todo o povo moçambicano2". É nesta base que foram aprovadas a Politica Nacional de
Terras em 1995, a Lei de Terras em 1997, o regulamento da Lei de Terras em 1998 e o
Anexo Técnico ao Regulamento da Lei de Terras em 2000.
Assim, à luz do quadro legal sobre Terras, a atribuição do DUAT deve ser precedido de
consultas comunitárias realizadas com objectivos de: (i) Promover parcerias que tragam
benefícios para todas partes envolvidas (Comunidades, Investidor, Estado); (ii)
Confirmação de que a área requerida está livre de ocupação e que o projecto se
compatibiliza com os interesses locais e de desenvolvimento evitando deste modo
sobreposição de direitos; e (iii) garantir a participação das comunidades locais no
processo de tomada de decisões sobre a gestão de recursos naturais, incluindo o
processo de atribuição do direito de uso e aproveitamento de terras comunitárias a
investidores para vários fins3;
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O Estudo publicado em 2011 pela Justiça Ambiental em Parceria com a UNAC
constatou que a consulta, não parece ser o termo mais adequado ao que de facto tem
ocorrido, visto que o mesmo estudo verificou que as comunidades rurais não
questionam (nem estão preparadas para questionar) os potenciais impactos e
desvantagens a longo prazo dos projectos, deixando-se levar pela perspectiva de curto
prazo apresentada, a geração de emprego. O mesmo estudo explica ainda que em
muitos casos, apenas as elites locais são envolvidas no processo de consulta. Foram
encontrados alguns líderes comunitários que tinham pessoalmente aprovado projectos
nas suas comunidades, apesar da oposição generalizada dentro da comunidade. É
evidente que estes líderes locais gozam de enorme autoridade e quando criticados ou
questionados pela comunidade em relação às suas decisões a respeito do uso da terra
comunitária, os membros são ameaçados e até fisicamente agredidos. Perante este
cenário, é bastante conveniente para as empresas selecionar apenas alguns
representantes da comunidade, facto que tem criado conflitos no seio das
comunidades4.
2.1 Objectivos
Face a situação descrita acima, foi realizada presente pesquisa com objectivos de:
4 Nilza Matavel, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas. 2011. Os senhores da terra - Análise Preliminar do Fenómeno de
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2.2 Local da pesquisa
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Os dados colhidos no campo mostram uma grande similaridade entre a PROCANA e a
MAI tanto em termos de objectivos, assim como área, postos de trabalho e ate mesmo
no pessoal Moçambicano envolvido o que leva a população local a especular que trata-
se da mesma empresa que mudou apenas de nome.
3. Metodologia
Esta pesquisa decorreu no distrito de Massingir, local onde o projecto selecionado está a
ser implementado e teve a duração de 12 meses. Para além da Revisão bibliográfica,
entrevistas semiestruturadas para informantes chaves (Administrador distrital, Director
do SDAE, Administrador do PNL, Representante da MAI) e grupos focais (Técnicos de
ONG’s, Membros das comunidades e Agricultores), o processo de recolha de dados foi
complementado com observação directa no terreno.
Para realização do trabalho de campo, foram realizadas duas visitas de 1 semana cada,
para colher dados junto dos diferentes actores incluindo membros das comunidades. As
visitas tiveram uma separação aproximada de 1 ano para avaliar as mudanças ocorridas
como consequência da PROCANA.
Durante este processo, foram, visitadas 4 comunidades, das quais três vivem na área
abrangida pelo projecto e a quarta fora da área atribuída a PROCANA. Contudo, as
actividades diárias serão influenciadas com fundos das associações.
Uma das principais limitações do estudo relaciona-se com o facto do Governo Local e o
representante da empresa em disponibilizar as actas de consulta bem como a
impossibilidade de acompanhar os encontros de consultas comunitárias. Nos contactos
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feitos junto das autoridades locais, o Administrador distrital autorizou o director do
SDAE a entregar cópias das actas de consulta. Contudo, este quando contactado para o
efeito limitou-se a dizer que todas actas foram enviadas aos SPGC junto com o processo.
Por sua vez, a representante da Empresa mostrou aos pesquisadores as actas que
tinham na sua posse mas não autorizou que as mesmas fossem copiadas alegando não
possuir autorizações para o efeito.
Para materializar este direito, a Lei de Terras (Lei 19/97)8, no seu Artigo 10, permite que
as pessoas nacionais, colectivas e singulares (homens e mulheres), e as comunidades
locais, sejam titulares do DUAT, podendo este ser adquirido por ocupação segundo
normas e práticas costumeiras (Artigo 12, alínea a); ocupação de boa-fé (Artigo 12, alínea
b), ou ainda por autorização de um pedido (Artigo 12, alínea c).
O acesso a terra por ocupação obedece a normas e práticas costumeiras que podem
variar de comunidade para comunidade mas não devem, nem podem contrariar a
constituição. Entretanto, nos termos do artigo 13 nº 3 da LT/97, “O processo de titulação
do direito de uso e aproveitamento da terra inclui o parecer das autoridades administrativas
locais, precedido de consulta às respectivas comunidades, para efeitos de confirmação de que a
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área está livre e não tem ocupantes ”. Isto significa que nenhum pedido de DUAT, pode ser
autorizado sem que a comunidade seja devidamente informada e consultada.
A Lei de Terras, explica que a consulta é feita a comunidade Local. Isto significa que
todas (homens, mulheres, jovens, velhos, etc) as pessoas, membros da comunidade
devem ser consultadas.
O mesmo diploma, estabelece que a acta de consulta é assinada pelos membros dos Conselhos
Consultivos de Povoação e de Localidade e que um exemplar da acta de consulta, após emitido o
parecer pelo Administrador do Distrito, deve ser entregue à comunidade local. A entrega da
acta de consulta à comunidade local é uma forma que o Estado criou para que a
comunidade local pudesse provar os compromissos assumidos durante o processo de
consulta comunitária, e assim exigir a sua realização.
9 Nhantumbo, I. and Salomão, A. (2010), Biofuels, Land Access and Rural Livelihoods in Mozambique, IIEd, London.
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O Diploma ministerial 158/2011, estabelece ainda que não são válidas as consultas que
não respeitarem os procedimentos estabelecidos no presente Diploma Ministerial e
demais legislação aplicável.
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mesmo que a PROCANA pretendia fazer -mudaram apenas de casaco - mas as pessoas são as
mesmas. Por isso, pedimos a Empresa para respeitar os limites indicados pelas Comunidades”.
De acordo com Leonor Tivane, Gestora da MAI10 após o governo anunciar que o
concurso foi ganho pela MAI, foi iniciado o processo de Licenciamento com vista a
obtenção do DUAT, Licenças Ambientais e outras exigidas por Lei tendo sempre o
cuidado de evitar cometer os mesmos erros cometidos pela PROCANA.
A gestora da MAI explicou que no processo de pedido de DUAT foram seguidos todos
procedimentos estabelecidos por Lei, incluindo apresentação do projecto à comunidade,
várias reuniões de consulta comunitária e visitas pelos líderes ao terreno requerido para
o reconhecimento dos limites físicos da área solicitada. Foram ainda selecionadas 10
pessoas por cada comunidade para ajudar na demarcação das áreas em que os camiões
deveriam circular, com vista a não destruir as machambas ou outras actividades que as
comunidades possam ter já iniciado nesta área.
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O governo distrital, num encontro realizado no dia 19 de Junho de 2012, onde
participou o Administrador do Distrito e o director do SDAE, também confirmou a
realização de várias reuniões, constituição de grupos de 10 pessoas e realização de visita
a africa do sul entre outros aspectos para evitar repetição dos mesmos erros cometidos
pela PROCANA.
De facto, a informação dada pela gestora da MAI bem como pelos membros do governo
local presentes na entrevista (Administrador distrital e director do SDAE) foi
confirmada pelos membros das comunidades de Massingir sede, Banga, Nanguene e
Chibotane realizadas pelos pesquisadores. Importa referir que as comunidades
entrevistadas mostraram uma certa satisfação da forma como o processo decorreu mas
reiteraram certa preocupação sobre o cumprimento das promessas feitas, sobretudo
durante a segunda visita realizada em 2013, cerca de 1 ano após a primeira, altura em
que a empresa estava já a abrir as vias de acesso mas não estava a fazer nada do que
prometeu.
O Sr. Joaquim Nombora, membro da AZAMA, explicou por exemplo que o Governo
organizou em Abril um encontro onde apresentou a empresa que iria substituir a
PROCANA. Depois deste encontro, estes levaram os líderes para visitarem projectos
similares da mesma empresa na Africa do Sul, onde viram muita produção e pessoas
com carros adquiridos com rendimentos das suas machambas. Um membro da
Comunidade de BINGO, explicou que a comunidade acha que a entrada do MAI foi
muito clara, talvez venham a surgir problemas futuros.
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Apesar da maioria dos intervenientes enaltecerem a forma como as reuniões de consulta
foram organizadas, mencionaram também alguns aspectos negativos relacionados com
a entrada da MAI.
Foto: Residentes do Bairro de Nanguene, durante a entrevista (Manuela Wing, Junho de 2013).
11Este bairro é constituído por famílias que residiam na aldeia de Nanguene localizada interior do PNL, que foram
reacentadas na comunidade de Chinhangane, passando por isso a pertencer a esta comunidade.
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4.1 Acta de consulta comunitária
Porém, no encontro realizado com o Governo Distrital em Junho de 2012, este explicou
que não havia ainda entregue as cópias das actas de consulta mas prometeu fazê-lo em
breve incluindo a disponibilização de algumas cópias à equipe de pesquisa do CTV.
Contudo, em Julho de 2013, pouco mais de 1 ano após o primeiro encontro, verificou-se
em todas comunidades abrangidas pelo estudo que nenhuma delas tinha recebido a
acta de consulta comunitária, nem se quer sabia que trata-se de um direito da
comunidade receber uma cópia da acta de consulta, contrariando-se deste modo ao
estabelecido no Nr. 3 do artigo 2 do diploma ministerial 158/11 que estabelece o
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seguinte: Um exemplar da Acta de consulta, após emitido o parecer pelo Administrador
do Distrito, é entregue à comunidade local.
Como foi já explicado, os investigadores tiveram acesso as actas através da MAI, mas
sem autorização para as fotocopiar. Nelas verificou-se que as comunidades estão a favor
do projecto e alguns dos seus pedidos são emprego, construção de sistemas de
irrigação, campo de futebol, equipamento desportivo, escolas entre outros.
Por sua vez, as comunidades explicaram terem sido realizadas várias reuniões entre a
comunidade, investidor e governo que culminou com um compromisso onde a
comunidade cedia parte da sua área a empresa e esta comprometeu-se a vedar e
preparar uma área agricola da comunidade, construir hospital, escola, moageira, campo
de futebol e equipamento para equipe local, e melhorar a represa de agua para consumo
local.
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4.2 Problemas e Desafios Encontrados
O processo de consulta serve apenas para dar informação geral sobre o projecto e os
benefícios que o mesmo irá trazer tal como emprego, energia, estradas etc. mas não fala
dos impactos negativos como a redução da área de pastagem, de caça, de extração da
lenha entre outros. Segundo explicaram os líderes comunitários, durante as consultas o
investidor explicou que o projecto criaria emprego e benefícios para a comunidade
tendo inclusive levado alguns líderes para visitar projectos similares na República da
Africa do Sul o que deixou-os bastante impressionados. Porém, em nenhum momento
as comunidades foram confrontados com o cenário real que irá ocorrer com a
implantação do projecto como é o caso da redução da área de pastagem,
disponibilidade de carvão e lenha principais fontes de energia, aumento da densidade
populacional resultante da vinda de pessoas de outros locais a procura de emprego
entre outros.
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O processo de consulta comunitária limitou-se apenas a discussões gerais, não se tendo
avançado para detalhes sobre o número de empregos a criar, nível de pessoas a
empregar, actividades a realizar e respectivo cronograma, sequencia das acçoes a
realizar nas comunidades em termos de período, duração e tamanho. A ausência deste
tipo de discussão faz com que 1 ano após a realização de consultas, as comunidades
começam a duvidar da seriedade do investidor. No encontro realizado na comunidade
de Banga os participantes afirmaram estarem satisfeitas com o acordo estabelecido mas
preocupados pelo facto do mesmo não estar a ser cumprido pois na sua perspectiva
tudo deve ser feito em simultâneo. Para exemplificar um dos membros da comunidade
de Banga disse: “A empresa já começou a abrir ruas na área cedida pela comunidade mas esta
ainda não fez nada do que prometeu para comunidade. Eu acho que tudo deve ser feito na mesma
altura”. Isto realça a necessidade de detalhar os acordos estabelecidos entre as
comunidades e o investidor para não criar expectativas exageradas que podem levar ao
descontentamento das comunidades.
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5. Conclusões e Recomendações
5.1 Conclusões
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documentação relativa ao pedido de DUAT e Licenciamento ambiental para
técnicos de ONG’s bem como para membros das comunidades.
6. As negociações entre as comunidades e o investidor são feitas de forma superficial
não indicando o período da realização dos compromissos assumidos, muito menos
as quantidades de pessoas a contractar, salas de aulas a construir etc, o que cria
percepções e expectativas diferentes de ambas as partes. Este procedimento resulta
em entendimentos de curto prazo, que podem resultar em conflitos a médio e
longo prazos à medida em que as suas expectactivas não se consumarem.
5.2 Recomendações
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assunto para evitar conflitos resultantes de má interpretação dos compromissos
assumidos.
5. A Consulta Comunitária deve ser vista como parte da criação de confiança
mútua e estabelecimento de parceria justa e duradouro e não apenas como
cumprimento de um mero formalismo previsto na Lei.
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Bibliografia
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Anexo: Guião de Entrevistas
1. O Governo atribuiu uma área da vossa comunidade a empesa Massingir Agro-Industrial.
Como é que o processo foi conduzido?
a) Quantas reuniões foram realizadas?
b) Quem participou?
c) Que informação foi dada a comunidade?
3. Estão satisfeitos com o acordo? A empresa esta a cumprir com o mesmo? Porque afirma
isso?
5. Caso tenha outra informação ou comentários que não foram colocados, pedimos que o
faça.
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