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Augusto Temóteo Simione.

O Uso da Normas e Práticas Costumeiras como Princípio de Aquisição do Direito de


Uso e Aproveitamento da Terra pelas Comunidades Locais.

Mestrado em Direito Civil

Relatório de MIC

Universidade Pedagógica-Maxixe

Universidade de Lisboa

Maxixe

Abril de 2020
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Augusto Temóteo Simione.

O Uso da Normas e Práticas Costumeiras como Princípio de Aquisição do Direito de


Uso e Aproveitamento da Terra pelas Comunidades Locais.

Relatório de MIC apresentado ao


departamento de Mestrado para
fins de avaliação.

Orientadores: Professores:

Teodoro Waty e Henriques Henriques

Universidade Pedagógica-Maxixe

Universidade de Lisboa

Maxixe

Abril de 2020
3

Introdução
A pesquisa que nos propusemos a estudar subordina-se ao tema " O uso das
normas e práticas costumeiras como princípio de aquisição do DUAT pelas
comunidades locais". Com este estudo pretende-se suscitar debates sobre a forma pela
qual as comunidades locais e as pessoas singulares adquirem o DUAT e participam na
gestão de terras, pretende-se ainda explicar o conteúdo da Lei de terras e o seu
regulamento.

Actualmente, o crescimento populacional, a entrada massiva de estrangeiros e a


explosão dos mega projectos tem vindo a aumentar a procura da terra, levando o direito
de posse sobre a terra cada vez mais enfraquecida, principalmente para os que detêm
por meio das normas e práticas costumeiras e pela ocupação de boa fé. No que concerne
ao estudo das normas e práticas costumeiras iremos analisar o contexto histórico de
ocupação de terras, a sua delimitação, sua evolução até aos dias de hoje. Portanto, o
centro do nosso estudo prende-se essencialmente no modo de aplicação de normas e
práticas costumeiras pelas comunidades locais e pessoas singulares para aquisição do
direito de uso e aproveitamento da terra.

Deste modo espera-se enriquecer o debate sobre a participação das comunidades


locais no processo de aquisição do DUAT de modo a promover o desenvolvimento
inclusivo onde a comunidade local desempenhe um papel mais activo na gestão de
terras.
Prevemos neste trabalho dividi-lo em cinco capítulos nomeadamente: o primeiro
capítulo irá se centrar na introdução, o segundo capítulo iremos nos concentrar no
historial do uso das normas e práticas costumeiras para a aquisição do direito de uso e
aproveitamento de terra, a discussão doutrinal e nas formas mais frequentes de
aquisição e extinção desse direito. No terceiro capítulo, apontaremos a relevância do uso
das normas e praticas costumeiras na aquisição do direito de terras, a discussão das
alíneas a) e b) do artigo 12 da LT. No quarto capítulo tratará da participação das
estruturas locais na resolução de conflitos de terra. No quinto e último capitulo as
conclusões a que chegamos no nosso estudo.
4

Objectivos:

Objectivo Geral
Analisar a situação actual de ocupação de terras pelas comunidades locais através
do uso das normas e práticas costumeiras.

Objectivos específicos
• Explicar o conteúdo do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra;
• Avaliar o regime jurídico da posse da terra através do uso das normas e práticas
costumeiras;
• Demonstrar a aplicação da lei de terras e seu regulamento na que tange as
normas e práticas costumeiras;
• Dimensionar qualitativamente e quantitativamente o surgimento dos actuais
conflitos de terras com predominância do uso das normas e praticas costumeiras;
• Justificar a razão do nosso estudo e as conclusões tomadas.

Justificativa
Para analisar este tema partimos do princípio fundamental consagrado no artigo 4
CRM pluralismo jurídico, o nº.3 do artigo 109 da Constituição da Republica de
Moçambique que estabelece que a terra serve como meio universal de criação da
riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo
moçambicano, conjugado com o artigo 111 do mesmo dispositivo legal, que realça o
uso das normas e práticas costumeiras como meio de aquisição do direito de uso e
aproveitamento da terra.

Note-se que apesar dessa consagração constitucional e normativa que visa dar as
mesmas oportunidades a todos cidadãos inclusive as comunidades locais no acesso a
terra através das normas e práticas costumeiras, a pratica e relativamente a aquisição do
DUAT pelas comunidades locais mostra-se ser ainda ser um sonho visto que a
protecção do DUAT por essa via está cada vez mais enfraquecida em virtude da
autorização do Estado (título).
5

Justifica ainda a escolha deste tema a falta de estruturas locais competentes para
lidar com as questões fundiárias o que propicia maiores índices de violação de direito de
uso e aproveitamento de terra que as comunidades locais possuem daí que
constantemente verificavam-se actos de apropriação de terra por pessoas singulares
diante uma inacção dos Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro, órgão
responsável pela gestão de terra.

Problema e problemática
O tema que se propõe estudar mostra-se relevante na actual conjuntura nacional,
na qual se assiste o crescimento acelerado da população moçambicana o que aumenta a
demanda da terra para habitação ou para investimento. De tal modo que nas zonas rurais
e urbanas a procura de terrenos em zonas preferenciais causa desconforto para as
comunidades locais (famílias), que na sua maioria são alvos do apossamento de terra
pois, esta preferência dos cidadãos ignora muitas vezes os direitos preexistentes destas
famílias que já vem usando a terra.
Sabe-se que a terra é propriedade exclusiva do Estado1 e que coube a este
determinar as condições de seu uso, acesso e aproveitamento para garantir que não haja
falta de terra para prática da agricultura como meio de desenvolvimento das
comunidades mas, a preferência de que nos referimos anteriormente e o
desconhecimento dos direitos nela existentes tem originados novos conflitos de terra
que têm deixado as comunidades locais à sorte.

Será que as normas e práticas costumeiras garantem a protecção do direito de uso


e aproveitamento da terra?

Hipóteses
H1- As normas e práticas costumeiras garantem a protecção do direito mas a sua
aplicação é ainda defeituosa.

1
Vide o nº 1 do art. 109 CRM
6

H2- Assumimos ainda que as de normas e práticas costumeiras garantem a permanência


do direito mas as fragilidades das mesmas causam conflitos de ocupação.
H3- As normas e práticas costumeiras em si não garantem a protecção do direito por
causa da falta de garantias jurídicas palpáveis.

Metodologia
A materialização deste projecto para a dissertação basear-se-á na leitura, análise e
interpretação dos dispositivos legais, bibliografia, revistas e jornais. Esta pesquisa será
realizada através de entrevistas que pressupõe o contacto directo ou seja o diálogo com
o grupo alvo da nossa investigação (homens e mulheres), também vai-se trabalhar com
juristas e advogados que lidam com os conflitos de terra no que concerne ao uso de
normas e práticas costumeiras como princípio de aquisição do direito de uso e
aproveitamento de terra com vista a produzir um conhecimento actual.
De referir que nesta etapa da metodologia da pesquisa, seguimos os ditames
aplicados aos estudos em ciências sociais segundo o rigor metodológico aplicado no
ensino superior com base no cronograma e partindo desde a identificação da questão
problemática até as conclusões a alcançar neste estudo.
7

Revisão da Literatura
Definição de conceitos

Comunidade local: agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa


circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de
interesses comuns através da protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam
cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de
água e áreas de expansão2.

Direito de Uso e Aproveitamento de Terra é o conjunto de prerrogativas atribuídas


às pessoas singulares, colectivas e as comunidades locais com a finalidade de, com as
devidas limitações, usarem e aproveitarem a terra.3

A discussão que incide no Direito de Uso e Aproveitamento da Terra tem sido


complexa quando diversos autores tentam de enquadrar ou no direito público ou no
direito privado mas, pode-se afirmar que seguramente o direito de uso e aproveitamento
da terra tem uma natureza híbrida

Assim, o período anterior a colonização era possível encontrar terras sob o regime
de propriedade particular, terras sob o regime publico, e ainda terras sob o regime de
diversas normas e práticas costumeiras. Nesse período o direito a terra era regulado pelo
direito costumeiro e com o passar do tempo, durante a colonização o direito a terra
passou a ser regulado pelo Regulamento de Concessão e Ocupação de Terrenos nas
Províncias Ultramarinas4. Este Regulamento regulava duas situações de terrenos: Zonas
Rurais (comunidade, indivíduos ou particulares). Nessa altura a ocupação de terrenos
pelas comunidades era regido pelo direito costumeiro, bem como para os particulares
mas para estes últimos com uma outra alternativa que é a via oficial através do
Regulamento de Ocupação e Concessão de Terrenos nas Províncias Ultramarinas. Para
as pessoas colectivas era mais viável a aquisição do direito da terra pela via oficial
devido ao seu tratamento. Nas Zona Urbanas, aqui adquiria-se o direito a terra por três
vias: aforamento; arrendamento e por compra e venda. Portanto, neste último as pessoas
podiam comprar ou vender a terra como um negócio jurídico qualquer.

2
Redacção dada pelo artigo 1 da Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro -Lei de Terras.
3
Hugo Elias Gomes, o conteúdo de Duat, p.85
4
Aprovado pelo Decreto n.º 43894, de 6 de Setembro de 1961.
8

Entretanto, este cenário muda com a proclamação da independência onde a


propriedade da terra passou a pertencer exclusivamente ao Estado que por sua vez
adoptou regas de uso e aproveitamento para os sujeitos tanto singulares, colectivos e
comunidades locais, matéria que iremos enriquecer na nossa tese de dissertação.

Ocupação de terras através de normas e praticas costumeiras:

Define-se as normas e prática costumeiras como,

"A prática reiterada dos mesmos actos por parte de um grupo de indivíduos desde que
não seja contrário aos princípios de boa fé. Ainda, acrescenta que, no caso da
ocupação de terras através de normas e práticas costumeiras é realizado através
de sistemas comunitários locais5".

A ocupação de terras através de normas e práticas costumeiras,

" Conferem um direito definitivo sobre a terra porventura mais forte que o
adquirido por outras formas porque este não esta sujeito a prazos e nunca fica
prejudicado por falta de titulo, e em caso de litigio, a falta de prova documental
não lhe retira nenhuma garantia de defesa perante a autoridade, seja judicial ou
administrativa6".

Por normas e práticas costumeiras entende-se que,

"São mais frequentemente usadas que a ocupação de boa-fé como base de


reconhecimento de DUAT existente. A pressão crescente sobre a terra significa
que as comunidades estão a ser encorajadas a formalizar e documentar as suas
áreas através de processos de delimitação que culminam na emissão dum
Certificado de Delimitação e o lançamento dos limites da comunidade nos
mapas dos Serviços Províncias de Geografia e Cadastro7."

5
Maria da Conceição, Manual de Direito da Terra, Centro de Formação Jurídica e Judiciaria, Maputo,
2004, p.48.
6
André Calengo et all, Direito da Terra e Questões Agrárias, Escolar Editora, Maputo, 2014
7
ACIS, O Quadro Legal Para o Reconhecimento e Obtenção de Direitos de Terra em Áreas Rurais em
Moçambique, Guia Para a Legalização da Ocupação, 1ª Edição, Centro de Formação Jurídica e
Judiciaria, Maputo, 2007, p.52.
9

Ainda sobre mesmo assunto, o Legislador moçambicano não avança um conceito


sobre as normas e práticas costumeiras mas assumiu na Lei de terras e no seu
Regulamento que, as comunidades locais que estejam a ocupar a terra segundo as
práticas costumeiras adquirem o direito de uso e aproveitamento de terras.

No entanto, acrescenta-se que a Lei de Terras, e muito menos o seu Regulamento,


não codificam estas normas e praticas costumeiras. Nesse sentido reconhece o
pluralismo jurídico que caracteriza a sociedade moçambicana, de que as regras de uso e
aproveitamento de terra são uma das manifestações mais características8.

Assim, na pratica verifica-se violação do artigo 12 L.T, na medida que a realidade


actual ou os aplicadores da lei tentam fazer do titulo como o único meio de prova do
direito, descaracterizando as outras formas de aquisição do DUAT.

8
André Calengo et all, Direito da Terra e Questões Agrárias, Escolar Editora, Maputo, 2014, p.117.
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Cronograma de Actividades
N◦ Actividade Período
Set. e Out, Janeir, Abril, Junho
Agos Out Nov, Fever e 2021 de 2021
Dez Març
I Pesquisa Bibliográfica X
II Recolha de dados X
III Processamento da informação X X
IV Redacção da Dissertação X X X
V Encontro com Orientador X X
VI Correcções da Dissertação X
VII Entrega da Dissertação X
VIII Apresentação Pública X
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Estrutura Provisória

Índice

Introdução

CAPITULO I

1. Direito de Uso e Aproveitamento da Terra


1.1 Aspectos gerais
1.1.1 DUAT e Direitos Reais
1.1.2 Aspectos específicos do DUAT
1.1.3 Aquisição, transmissão e duração do DUAT
1.2 Extinção do DUAT
1.3 Garantias e poderes do Titular do DUAT
1.4 Direito de Uso e Habitação das Comunidades Locais

CAPITULO II

2. 1 POSSE
2.1.1 Noção e Natureza da posse
2.1.2 Constituição e transmissão da posse
2.1.3 Sucessao na posse da terra pelas comunidades locais
2.2 Extinção da posse
2.3 Efeitos jurídicos da posse
2.4 Presunção de titularidade do DUAT
2.5 A posse da terra e as benfeitorias
2.6 A posse e a usucapião
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Bibliografia
Obras Primárias:

ACIS, O Quadro Legal Para o Reconhecimento e Obtenção de Direitos de Terra


em Áreas Rurais em Moçambique, Guia Para a Legalização da Ocupação, 1ª Edição,
Centro de Formação Jurídica e Judiciaria, Maputo, 2007.

CARVALHO, Orlando De, Direito das Coisas, 1ª Edição, Coimbra Editora,


Coimbra, 2012

CALENGO, André et all, Direito da Terra e Questões Agrárias, Escolar Editora,


Maputo, 2014

Centro de Formação Jurídico e Judiciário, Manual de Delimitação de Terras,


Maputo, 2008

JUSTO, A. Santos, Direitos Reais, 3ª Edição, Coimbra Editora, Lisboa, 2011

MARENJO, Dilária, TANKAR, Issufo, e ALFREDO, Nelson, Manual de


Delimitação de Terras Comunitárias Com o Uso de Mobilizadores Comunitários,
Centro Terra Viva, Maputo, 2013

QUADROS, Maria da Conceição, Manual de Direito da Terra, Centro de


Formação Jurídica e Judiciaria, Maputo, 2004.

Legislação

Constituição da Republica de Mocambique-2004.

Politica Nacional de Terras – Resolução No. 10/95 de 17 de Outubro.

Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro. Lei de Terras. Promulgada a 1 de Outubro de 1997.

Regulamento da Lei de Terras – Decreto No. 66/98 de 08 de Dezembro.

MICOA, Politica e Legislação sobre o Ordenamento do Território, 1ª edição, Maputo,


2009.
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Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3

Objectivos: ........................................................................................................................ 4

Objectivo Geral................................................................................................................. 4

Objectivos específicos ...................................................................................................... 4

Justificativa ....................................................................................................................... 4

Problema e problemática .................................................................................................. 5

Hipóteses .......................................................................................................................... 5

Metodologia ...................................................................................................................... 6

Revisão da Literatura ........................................................................................................ 7

Cronograma de Actividades ........................................................................................... 10

Bibliografia ..................................................................................................................... 12

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