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CENTRO UNIVERSITÁRIO FACEX – CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR 1

DOCENTE: ARTUR FARKATT TABOSA DE MELO

ATIVIDADE AVALIATIVA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

DIRETO DE PREEMPÇÃO COMO DIREITO CONSTITUCIONAL


FUNDAMENTAL

A construção do direito de propriedade tem uma noção jurídica dinâmica e


bastante complexa, que se modifica no tempo junto com as atividades políticas,
econômicas e filosóficas de cada país.

Já na década de 70, percebe-se que a questão fundiária se encontra incluída entre


uma das preocupações dos países da Europa e América, devido à escassez de terra
urbanizada e a necessidade de controle sobre o aproveitamento e utilização da terra. A
criação de solos adicionais e sua relação com a densidade dos bairros, a sobrecarga sobre
a infraestrutura urbana e a consequente necessidade de compensação dessa sobrecarga, e
a necessária recuperação por parte do poder público da valorização da terra resultante do
processo de urbanização em termos gerais (REZENDE, FURTADO, OLIVEIRA,
BACELLAR, 2013), incluem-se nessas preocupações.

“A terra é um dos elementos fundamentais dos assentamentos humanos. Todo


Estado tem direito a tomar as medidas necessárias para manter sob fiscalização
pública o uso, a propriedade, a disposição e a reserva de terras. Todo Estado tem
direito a planejar e administrar a utilização do solo, que é um de seus recursos
mais importantes, de maneira que o crescimento dos centros populacionais tanto
urbanos como rurais se baseiem num plano amplo de utilização do solo. Essas
medidas devem assegurar a realização dos objetivos básicos da reforma social e
econômica para cada Nação, de conformidade com seu sistema e suas leis de
propriedade da terra". (C. J. Arquitetura, 1977, p. 4).

Ao analisarmos a produção de artigos, propostas de leis e outros estudos sobre a


construção do conceito e a discussão no Brasil da questão fundiária, identificamos uma
diferenciação entre aqueles produzidos nas décadas de 70 e 80 e os produzidos na década
de 90. Os primeiros buscavam principalmente justificar o assunto, conceituá-lo e suprir
dúvidas quanto à sua constitucionalidade e à necessidade ou não de se considerar
destacável o direito de construir do direito propriedade para a sua aplicação.

Após a Constituição de 1988, os textos e trabalhos escritos transformaram-se em


ponto de partida da reflexão sobre o processo de adensamento e verticalização das cidades
e a visível impossibilidade de inclusão dos grupos de vários níveis de renda, entre eles a
moradia e a infraestrutura viária e de saneamento, a partir de instrumentos tradicionais de
regulação urbana.

Mais especificamente, verifica-se que a Constituição Federal de 1988 estabeleceu


um direito de propriedade que concretiza os interesses da sociedade de forma expressa,
através de princípios e regras. Vale salientar que a propriedade foi regida pelo texto
constitucional no art. 5º, XXII a XXXI, que aborda os direitos e garantias individuais,
bem como no art. 170, II e III, sobre a ordem econômica. No mesmo artigo, o inciso
XXIII afeta a propriedade individual ao cumprimento de sua função social. No art. 170,
II e III, a Constituição Federal amplia a concepção de função social da propriedade,
positivando-a também como princípio da ordem econômica.

A função social da propriedade apresenta-se, assim, como um instrumento para


equilibrar a atividade econômica e também para sancionar o proprietário que a utiliza a
sem atender ao interesse social. Além de desempenhar os poderes exercidos pelo
proprietário, deve, também, evitar a subutilização da propriedade que possa vir a causar
descontentamentos sociais.

A idéia da utilização do Solo Criado como instrumento de controle do uso do solo


começa a ser desenvolvida no Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal
- CEPAM, atualmente Fundação Prefeito Faria Lima. Sendo este justificado pela correção
das injustiças causadas pelas leis de zoneamento e uma forma de intervenção deliberada
do poder público sobre a terra, com vistas a reequilibrar o melhor atendimento das
necessidades da comunidade (REZENDEL, FURTADO, OLIVEIRA, JORGENSEN,
2013).

Nesse sentido, verificamos o Direito de Preempção, que se aplica na preferência


do Poder Municipal por adquirir imóvel urbano objeto de negociação entre particulares,
sendo essencial para a viabilização de políticas e regularização fundiária nos municípios

Dentre os contextos em que podem ser aplicado o Direito de Preempção estão:


regularização fundiária, execução de programas e projetos habitacionais de interesse
social, constituição de reserva fundiária, ordenamento e direcionamento da expansão
urbana, implantação de aparelhamentos urbanos e comunitários, criação de espaços
públicos de lazer e áreas verdes, criação de unidades de conservação ou proteção de outras
áreas de interesse ambiental, e proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou
paisagístico.

Uma vez configurado o direito de preempção sobre determinada área, se o


particular desejar alienar o imóvel que nela se localiza, deverá notificar o Município para
que, no prazo máximo de 30 dias, manifeste seu interesse em comprá-lo. À notificação
do Município será anexada proposta de compra assinada por terceiro interessado na
aquisição do imóvel, da qual constarão o preço, condições de pagamento e prazo de
validade.

Por último, o Direito de Preempção de caráter urbanístico se dispõe um objeto


com grande fisionomia, enquanto resulta da descrição da lei, estando afastada na hipótese
qualquer interferência da vontade dos contratantes (CARVALHO, 2003). Resultando
como objeto de ajuste dentro do contrato de compra e venda no processo urbanístico, este
assume caráter notadamente coercitivo, constituindo-se como uma inovação para que o
Município possa processar e executar a reestruturação de ocupação organizada do solo
urbano.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Marcélia Ferreira de. O direito de propriedade versus a função social da


propriedade.

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de Direito Civil: Direito das Coisas. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2019.

CARVALHO, José Santos. Rev. Ministério Público, Rio de Janeiro, RJ, (17), 2003.

CJ ARQUITETURA. O anteprojeto da lei de desenvolvimento urbano. C. J.


Arquitetura, Revista de Arquitetura, planejamento e construção, nº 16. São Paulo: FC
Editora, 1977.

NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018. p. 829-
830.

REZENDE, V. L. F. M.; FURTADO, F.; OLIVEIRA, M. T. C.; BACELLAR, I. Revisão


bibliográfica comentada dos fundamentos da OODC. Revista de Direito da Cidade. , v.1,
p.1 – , 2013.

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