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Resumo
Ao longo do desenvolvimento das metrópoles, se mostrou necessário a implementação de novos
instrumentos urbanísticos para acompanhar essa evolução político-social, e por meio dessa co-dependência
criou-se as Operações Urbanas Consorciadas, buscando trazer melhorias para áreas e situações
degradantes no espaço urbano. Foi concebido que a mesma engloba as mais diversas vertentes e
participantes em sua atuação. O objetivo da pesquisa é trazer um entendimento acerca de tal instrumento e
seus impactos, assim como a importância do edifício e sua vizinhança para com a cidade. Visando nos
nortear e nos aprofundar sobre o assunto em questão, foi essencial a leitura dos diversos materiais que
abordam as mesmas temáticas, a fim de desenvolver uma análise crítica da OUC da Lagoa do Papicu como
estudo de caso. O que se pode concluir, é que apesar de ser um instrumento novo em seu âmbito geral e na
cidade de Fortaleza na época em que foi implementada neste recorte espacial, e busca fazer uma união de
várias partes, ele também é suscetível a problemas e fragilidades administrativas.
Palavras-chave: Uso do Solo; Operação urbana consorciada; Espaço urbano; Instrumento urbanístico.
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1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de intervenções e
medidas coordenadas pelo Município, com a participação dos proprietários,
moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de
promover a ocupação adequada de áreas específicas de acordo com o
cumprimento das funções sociais da cidade e a requalificação do ambiente
urbano. (FORTALEZA, 2009).
Tal conceito é também bastante similar ao que se encontra descrito também no Art. 32 do
Estatuto da Cidade, onde foi regulamentado pela primeira vez em 2001.
Esse instrumento surge em um contexto de busca por equilíbrio de benefícios entre
parcerias público-privadas no âmbito urbano, que já existiam desde a década de 1980,
segundo Hissa e Araújo (2017), mas que normalmente estavam mais focadas em trazer
retornos positivos para o setor privado do que realmente proporcionar um retorno social
que trouxesse melhorias para áreas desvalorizadas da cidade. Sabendo disso, a criação
das OUCs em Fortaleza tentaria fazer com que haja melhor equilíbrio de benefícios
adquiridos por ambas as partes, que seriam garantidos por requisitos presentes no Art. 33
do Estatuto da Cidade, para garantir que os objetivos da operação sejam alcançados.
A parceria entre os poderes público e privado consiste em uma troca em que o
setor imobiliário providencia apoio financeiro para a execução dos projetos necessários, e
ganha benefícios como alteração de parâmetros e usos permitidos no local de acordo
com a lei, aumento do Coeficiente de Aproveitamento, dentre outros. A participação dos
moradores nesse processo é necessária para que sejam atendidas suas reais
necessidades, porém, nem sempre isso acontece.
Outro problema presente em muitos casos de OUCs, como apresentado por Hissa
e Araújo (2017), é a falta de alinhamento das propostas com os requisitos exigidos pelo
Estatuto da Cidade no Artigo 33, deixando de lado alguns pontos importantes e
necessários para que os projetos realmente tenham impacto social significativo, como o
programa de atendimento econômico e social para a população diretamente afetada pela
operação e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).
Dessa maneira, apesar das OUCs terem a proposta de tornar as parcerias
público-privadas algo benéfico para ambas as partes, já nota-se que a gestão dessas
operações, na maioria dos casos, continuam a priorizar o setor privado, enquanto as
ações sociais que deveriam servir para proporcionar melhorias em áreas desvalorizadas,
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acabam por causar pouco impacto, continuando o mesmo processo de degradação que já
vinha acontecendo antes da criação desse instrumento.
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em situação de abandono, sendo um vazio urbano) para construção do Shopping Riomar
e de torres comerciais e residenciais no local.
Fonte: Mapa elaborado pela equipe com base nos arquivos da SEUMA.
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anos e novos tributos ISS, ITBI e IPTU do empreendimento a ser implantado. Para o outro
lado, a Prefeitura permitiu a redefinição do uso do solo (industrial para comercial e
residencial), além da flexibilização na taxa de permeabilidade (de 30% para 20%), no
índice de aproveitamento (de 2 para 3) e possibilidade de superquadras acima de 250
metros no parcelamento.
No caso desta operação, ressalta-se que a principal concessão dada pela
Prefeitura para a iniciativa privada, no que tange ao impacto ao entorno da obra, foi a
permissão para mudança do uso do solo para um centro de compras de grande porte e a
possibilidade de superquadras. Ao liberar que fosse construído um shopping center com
aproximadamente 93 mil metros quadrados de área construída em uma vizinhança com
um sério problema de vazios urbanos, a dinâmica do local mudou bruscamente.
Mudanças por vezes são sim bem-vindas, entretanto, os problemas causados pelos
vazios no local (como a insegurança) só foram substituídos por outros causados por um
equipamento de grande porte que se isola da cidade e atrai somente um restrito grupo
social, como é o caso do Shopping Riomar Fortaleza.
Segundo Hissa (2017), as mudanças que aconteceram no espaço foram definidas
muito mais a partir de elementos que viabilizaram a construção dos novos
empreendimentos do que de obras e planejamento que de fato melhorasse o desenho
urbano e a distribuição de atividades do local. Isso também se deve ao fato que a área de
intervenção definida foi pequena para causar mudanças significativas. Além disso, as
desapropriações que ocorreram foram feitas muito mais em função das intervenções na
malha viária para carros particulares, o que beneficia diretamente o centro de compras
por se tratar de um local que recebe grande volume desses automóveis.
Em relação aos moradores e usuários da área, não houve participação desses
grupos na formulação da lei que normatiza a Operação Urbana Consorciada da Lagoa do
Papicu. Segundo Hissa (2017): “constatou-se a negociação direta entre a prefeitura e os
investidores privados para a definição da lei”. Tal exclusão das pessoas que lá já estavam
no acordo de contrapartidas fere as definições que constam no Plano Diretor De Fortaleza
(2009) sobre as Operações Urbanas Consorciadas.
Atualmente, de acordo com Medeiros (2017), a situação dos residentes das
Comunidades do Pau Fininho e das Areias é de insegurança habitacional devido ao fato
que o preço dos serviços e imóveis dentro da comunidade aumentou significativamente
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devido à mudança do uso do solo de industrial para comercial e residencial, o que
acarretou a concentração de investimentos nos entornos. Tal aumento nos preços dos
imóveis e serviços é ruim para os moradores pois pode resultar em uma expulsão branda
deles do local. Ainda segundo Medeiros (2017, s.p.):
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Figura 02: Margens da Lagoa do Papicu.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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provável que ocorra uma gentrificação, ou seja: os residentes expulsos de seu espaço
devido à especulação imobiliária, que foi o que ocorreu neste recorte espacial.
Mesmo as reformas na infraestrutura urbana, que, de certa forma, são sim boas à
população por melhorar o tráfego no local e fornecer iluminação de qualidade, parecem
ter sido feitas muito mais para o shopping mall, pois favorecem mais os veículos
motorizados do que os moradores das comunidades, que utilizam majoritariamente
veículos não motorizados, transporte público ou andam a pé.
Por fim, pelo fato da fábrica estar abandonada no terreno do shopping ser um vazio
urbano e não estar com função social ativa, era preciso sim haver intervenção na área
para a melhora da qualidade de vida da população, mas, com a concessão desse novo
uso, o impacto ambiental do Shopping Riomar naquela parte do Papicu resultou no fato
de que a contrapartida à comunidade foi desproporcional aos ganhos individuais do Grupo
JCPM. Em equipamentos deste porte, é esperado que os imóveis ao redor aumentem
seus preços e que haja conflito das lojas do centro de compras com os pequenos
comércios existentes na comunidade, o que ressalta que tal mudança no uso do solo
permitida poderia ter sido pensada de maneira mais cuidadosa para proteger a população
a longo prazo.
As mudanças significativas que a construção do shopping, viabilizada por esta
OUC, resultaram reforçam como mudanças e melhorias sócio-espaciais necessitam ser
planejadas em conjunto com as comunidades e precisam levar em conta a preservação
dos aspectos positivos das relações que aquelas pessoas possuem com o lugar, por mais
precário que ele seja.
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REFERÊNCIAS
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