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Resumo
Macapá é permeada por áreas denominadas de “Ressacas”. Tais áreas são prote-
gidas ambientalmente, porém sofrem pressão por ocupações informais por parte
população. Dessa forma, este artigo objetiva, ponderando sobre a relevância do
plano diretor e sobre a problemáticas das ocupações informais, descrever o que o
plano diretor infere sobre as ressacas. Em seguida, busca averiguar as controvér-
sias e fragilidades existentes entre o atual Plano Diretor, legislações, zoneamentos
e sua aplicação nas ocupações informais nas ressacas. Para tanto, o método em-
pregado consiste em revisão bibliográfica, pesquisa documental e análise de ma-
pas oficiais. Constata-se diversas controvérsias e fragilidades no Plano Diretor e
em intervenções do Poder Público em relação às ocupações informais nas ressa-
cas, em que fica explícito a necessidade de mais debates sobre o assunto, bem
como um novo plano que melhor articule a questão habitacional com o meio
ambiente, inclusive considerando soluções tecnológicas e criativas para encontrar
um equilíbrio entre ambos aspectos.
Palavras-chave: Ocupações informais; Ressacas; Proteção Ambiental.
Introdução
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Os distintos olhares do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá – 2004 ● José Alberto Tostes (org.)
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O plano e as ressacas
Art 129. Sem prejuízo de outros casos, serão implantadas Áreas de Interesse
Social 1 nos seguintes assentamentos habitacionais:
I - ...
II - ocupação residencial nas áreas de ressaca já comprometidas com ater-
ramento e próximas à área central da cidade de Macapá, sendo reconheci-
damente a situação dos seguintes casos:
a) ressaca Laguinho/Nova Esperança;
b) trecho da ressaca do Pacoval;
c) trecho da ressaca Chico Dias;
d) trecho da ressaca do Beirol, incluindo parte do bairro do Muca;
e) trecho da ressaca do Tacacá;
f) demais ressacas consideradas irrecuperáveis por estudos realizados sobre
as áreas de ressaca, especialmente o Estudo de Ações para Intervenções nas
Ressacas desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológi-
cas do Estado do Amapá (IEPA). (MACAPÁ, 2004)
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em seu entorno.
- Zona em Processo de Ocupação Urbana – Z3: Zona em Processo de
Ocupação Urbana é formada por áreas com médio adensamento populaci-
onal e de construções dentro e no entorno das ressacas, apresentando indí-
cios de ocupação recente ou em processo de ocupação atual.
Zona com Ocupação Urbana Consolidada – Z4: Zona com Ocupação Ur-
bana Consolidada é formada por áreas com médio a alto adensamento po-
pulacional e de construções dentro e no entorno das ressacas, apresentando
paisagens altamente antropizadas, alto grau de poluição sanitária e uma mul-
tiplicidade de usos e ocupação. (TAKIYAMA et al., 2012, p. 68)
Controvérsias e fragilidades
Ainda que o plano traga soluções às ocupações informais nas áreas de ressaca,
observa-se controvérsias e fragilidades institucionais para remediar a problemá-
tica. O que ocorre desde a concepção do plano, pois, mesmo devendo ser parti-
cipativo de acordo com o previsto pelo Estatuto da Cidade, teve baixa participa-
ção social (SOUZA, 2014). O que, aliado a baixa capacitação técnica presente no
município, reproduziu propostas idealizadas, distantes da realidade (IBID).
Ana Souza (2014), em sua dissertação sobre planejamento urbano, nos mos-
tra a atual situação entre os instrumentos legais e programas propostos a partir
das estratégias do Plano Diretor. Em relação à estratégia de “Proteger o Meio
Ambiente” e “Gerar Trabalho e Renda”, os Programas de Proteção e Recupera-
ção das Ressacas e de educação ambiental não foram efetivados, e o programa de
Valorização e Preservação do Patrimônio Ambiental não foi identificado. Quanto
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Importa salientar que o Poder Público, longe de ser homogêneo, possui vo-
zes contraditórias com interesses conflitantes. Por um lado, temos as secretarias
ambientais (SEMA e SEMAM) e, por outro, há secretarias capazes de dotar infra-
estruturas (como a PLANURB e SEMOB). Soma-se aos órgãos locais, as legisla-
ções urbanísticas que devem ser seguidas. Isso dificulta intervenções, seja para
preservar ou urbanizar (SOUZA, 2019). O exemplo já citado da construção das
19 passarelas no bairro do Congós, ilustra bem essa contradição, pois o projeto
arquitetônico das passarelas foi feito pela PLANURB, aquém das legislações am-
bientais, mas que, ainda assim, teve aprovação da SEMAM.
Outro problema consiste na representação das ocupações informais nas res-
sacas contida nos mapas do PDDUAM. Vale lembrar que os mapas são enuncia-
dos bidimensionais para contar narrativas em espaços-tempos. Como objeto, não
são reflexos pacíficos e neutros do mundo, mas são mediadores que agenciam os
atores envolvidos, “diz algo sobre o real e sobre este produz efeitos” (ACSE-
RALD, COLI, 2008, p. 13). Tem função estratégica. São dotados de valores, im-
buídos de “verdade, em que o crer se localiza no ver” (BALANDIER, 1987, apud
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Por fim, importa salientar que o termo urbanização só aparece nos atuais
instrumentos de planejamento urbano ou em certas pesquisas acadêmicas. A fala
“urbanizar” não é citada nos meios jornalísticos. O que é construído pelo Poder
Público, seja rede de energia, rede de água ou passarelas, é mostrado de forma
pontual. Portanto, não há uma discussão ampla do termo.
Considerações
O plano diretor trata da proteção ambiental das ressacas, bem como da ques-
tão habitacional da cidade, considerando as ocupações informais nas áreas de res-
saca. A ênfase recai na preservação desses espaços e no reassentamento das habi-
tações. Porém, também oferece abertura à urbanização, em consonância com a
lei estadual nº 0835/2004, mas restringe à possibilidade de oferecer saneamento
básico, drenagem de águas pluviais, diminuição do impacto ambiental e serviços
públicos, e não delimita quais áreas são passíveis de urbanização.
São diversas as controvérsias e fragilidades existentes entre o atual Plano Di-
retor em relação a legislações, zoneamentos, bem como com as intervenções do
Poder Público nas ocupações informais nas ressacas. Fica explícito a necessidade
de mais debates considerando a complexidade inerente do assunto, bem como
um novo plano que articule melhor e mais detalhadamente a questão habitacional
e o meio ambiente, inclusive considerando soluções tecnológicas e criativas para
encontrar um equilíbrio entre ambos aspectos. Outro ponto importante corres-
ponde na real participação para englobar os desejos, necessidades e conhecimen-
tos dos moradores de tais áreas e habitantes em geral da cidade.
Referências
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