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Memorial

Planejamento da Paisagem - 2020 - Prof. Catharina

Andrew Leal ​|​ 10266722


Fábio Fernando Tardelli Pikunas | 9784471
Felipe Leonidas Araújo ​|​ 10697466
Guilherme de A. G. da Silveira ​|​ 10274530
Lucas B. Karmann​ |​ 4563698
Murilo Marquine ​|​ 10337317

Introdução

O trabalho foi executado, basicamente, em duas etapas: leitura do território e


proposições. Na primeira etapa, devido a impossibilidade de visitar o território estudado, foi
fundamental construir um imaginário da região de Mairiporã por meio dos Sistemas
Geográficos de Informação (SIGs) disponíveis e da bibliografia disponível digitalmente.
Este imaginário referencial, por sua vez, foi fundamental para a reflexão e início de um
raciocínio projetual, diretamente atrelado ao planejamento.

Leitura do sítio

As primeiras leituras do território se deram por meio da produção de um mapa


ambiental síntese de Mairiporã. Foram levantados os remanescentes de vegetação nativa,
os rios juntamente com suas áreas de APP's, as declividades mais acentuadas da região e
também seus topos de morro.
A análise deste mapa se revelou bastante rica para a compreensão do objeto de
trabalho. Nele podemos observar como boa parte dos remanescentes de mata da região se
encontram nas áreas com maior declividade e também nos topos de morro. Já as várzeas
dos principais rios se encontram em sua maioria ocupadas pela população e carentes de
áreas naturais em seus entornos.

Em seguida, tendo o suporte de fotos aéreas e fotos do Plano Diretor, nós podemos
compreender que o Rio Juqueri é o principal divisor da geografia física da cidade,
cortando-a de sudoeste a nordeste. Esse corpo d’água, sua represa e o vale que o
acompanha são importantes formadores do desenho urbano da cidade. Podemos observar
isso, por exemplo, na enorme diferença da ocupação entre sua margem sul e norte, tendo
essa primeira praticamente monopolizado o desenvolvimento urbano, e dessa forma,
deixou o lado norte do Juqueri com o desenho de margem quase nu. Cruzando essa
informação com o mapa topográfico, podemos concluir que um dos fatores para tal é a alta
declividade dos morros e encostas que cercam o rio nesse lado, e portanto dificultam a
expansão urbana, fazendo com que a cidade tenha preferido expandir, a partir do seu
centro, para leste, oeste e sul.

Foto aérea do reservatório Paiva Castro e entornos da cidade de Mairiporã


Foto áerea de núcleo urbano no município de Mairiporã

A ocupação dessas áreas mais acidentadas e isoladas se deu principalmente por


chácaras e pequenas propriedades de veraneio que se esticam ao longo do rio e sobem o
Morro do Juqueri. Sendo Mairiporã adjacente à capital e com um corpo de leis de
preservação ambiental mais robusto, o município não abre muito espaço para a produção
agrícola, tendo assim grande parte de sua área rural aberta para construção de chácaras e
vilas. Assim como seus correspondentes mais densos, esses assentamentos buscam se
instalar nos fundos de vales, geralmente cercados por morros virgens, como é possível ver
no exemplo da Vila Pedra Vermelha.

Fotografias do Plano Diretor


As leituras do PDUI e do Plano Diretor de Mairiporã também acrescentaram
informações e permitiram um entendimento e reflexão mais aprofundados sobre a região.

O PDUI

É interessante notar que as diretrizes gerais do Plano de Desenvolvimento Urbano


Integrado da RMSP buscam conciliar a questão do desenvolvimento social e econômico
com a questão ambiental. Em verde, destacamos alguns pontos fundamentais das diretrizes
apresentadas no plano.

Sua finalidade é propor ​diretrizes, programas, projetos e ações para o ordenamento do


desenvolvimento territorial da RMSP.

...o PDUI cria nova forma de planejar, com ​decisões compartilhadas entre Estado, Municípios e
sociedade civil ​no campo das funções públicas de interesse comum. Instrumento de planejamento e gestão do
território metropolitano, o PDUI traça macrodiretrizes que vão nortear o ​desenvolvimento regional
sustentável, reduzindo desigualdades e beneficiando a população.

São princípios gerais: garantir ​a função social da cidade e a função social da propriedade, a
sustentabilidade ambiental, o planejamento, gestão democrática e a justa distribuição dos benefícios da
urbanização.

O objetivo principal é garantir a ​competitividade econômica da metrópole, reduzir suas ​profundas


desigualdades socioespaciais e contribuir para a melhoria da ​qualidade de vida da população, ​buscando o
desenvolvimento sustentável.

Os objetivos do PDUI que buscam consolidar tais diretrizes trazem a questão de


estruturar a ocupação do território juntamente com a questão da rede de centralidades; e
também do desenvolvimento a questão da sustentabilidade deste. Novamente, destacamos,
em vermelho, aspectos interessantes dos objetivos do plano.

Estimular o ​desenvolvimento econômico da RMSP, aprofundando sua competitividade nacional e


internacional.

Reduzir a ​desigualdade e/ou a segregação socioeconômica e territorial entre as áreas


componentes da RMSP.
Promover a estruturação de rede de centralidades.

Delimitar as áreas com r​ estrições à urbanização, visando à proteção do patrimônio ambiental e/ou
cultural, bem como as áreas sujeitas a controle especial pelo risco de desastres naturais (Art. 12, par. 1o, inciso
V do Estatuto da Metrópole)

.
Mediar os interesses conflitantes entre a expansão urbana, a preservação do meio ambiente e o
desenvolvimento econômico.

​ xpansão e a ocupação dos territórios servidos por eixos viários e de transporte de


Estruturar a e
caráter metropolitano (transporte de média e alta capacidades), bem como de áreas industriais em processo de
reconversão.

Sistema de Áreas Verdes e Áreas Protegidas

Dividiu-se a estrutura do Sistema de Áreas Verdes e Áreas Protegidas (SAVAP) em


duas vertentes no processo de elaboração do PDUI - RMSP.

Uma se resumiria em apontar propostas que visam responder a uma parte das
demandas formuladas pelo Poder Público e pela Sociedade Civil, tais como: criação de
implantação de parques, melhorias e revitalização de parques existentes, criação de
Unidades de Conservação (UCs) e Áreas de Proteção Ambiental (APAs), definição de
corredores ecológicos, estruturação de sistema metropolitano de áreas verdes, ou ainda
formulação e aplicação de instrumento de planejamento e gestão.

A outra vertente seria indicar onde essas propostas podem ser implementadas,
incluindo as diretrizes territoriais para o uso e ocupação do solo, ocupando um nível
intermediário entre o macrozoneamento e a definição das Áreas de Interesse Metropolitano
(AIMs).

Dessa forma, diversas ações prioritárias do PDUI apontaram para preservação e


proteção de áreas próximas a cursos d’água, aquíferos e bacias hidrográficas. As mesmas
em que se deu prioridade no desenvolvimento de propostas de intervenção realizadas pelo
grupo e mostradas a seguir.
Rede de Centralidades

As centralidades são áreas dentro de um determinado território, onde se concentram


as atividades econômicas e sociais de uma cidade ou região. Essas áreas, e
consequentemente as atividades ali realizadas, são fundamentais para o fortalecimento da
identidade municipal ou metropolitana.

Os pólos, por sua vez, se diferenciam das centralidades por serem monofuncionais,
com predomínio e concentração de um determinado uso ou serviço específico. No caso da
RMSP, temos alguns exemplos de pólos metropolitanos: Hospital das Clínicas, zona
industrial de Guarulhos e a Cidade Universitária.

A rede de centralidades corresponde à integração das centralidades e pólos, por


meio de sistemas estruturais e ambientais, potencializando o desenvolvimento urbano e,
consequentemente, o desenvolvimento econômico e social.

Centralidade à Potencializar: Norte

A Centralidade está localizada no município de Franco da Rocha e tem uma área de


expansão composta pelo extremo norte da Capital e a área central do município de
Caieiras. Nela também é necessário observar as restrições decorrentes das áreas de
preservação relativas à Serra da Cantareira e da APRM Alto Juquery.

Sistema de Mobilidade, Transporte e Logística

Contribuições encaminhadas por órgãos do setor público ligados aos diversos


sistemas de transporte da RMSP foram analisadas, inicialmente, por um grupo de trabalho
destinado às questões de mobilidade. Entretanto, dado o papel indutor da acessibilidade
para ordenação das atividades, as propostas foram estabelecidas em conjunto com o Grupo
de Trabalho de Centralidades, que passou a ser denominado Grupo de Trabalho de
Centralidades Ampliado. Esse foi o processo que aconteceu em estudos para o
desenvolvimento do PDUI, pensando dessa forma, foi alinhado um pensamento em
conjunto dos aspectos transporte e centralidade, gerando uma proposta de intervenção.

Plano Diretor de Mairiporã

O primeiro aspecto analisado no plano foi o macrozoneamento. Uma parcela mais


significativa do município se encontra na Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana.
O reservatório Paiva Castro e o rio Juqueri, importantes estruturadores do município.

Art. 57 – A
​ Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, em face de suas características 
físico-ambientais, apresenta diferentes graus de consolidação e qualificação e objetiva orientar o 
desenvolvimento urbano da cidade, m ​ ediante a aplicação de instrumentos urbanísticos e jurídicos, quando 
necessários, previstos nos arts. 8o ao 11 desta lei. 

Art. 60 – A
​ Macrozona de Proteção Ambiental, em face de suas características físico- ambientais, apresenta 
diferentes condições de preservação do meio ambiente e objetiva orientar os objetivos a serem atingidos, 
em conformidade com os diversos graus de proteção, mediante a aplicação de instrumentos ambientais, 
urbanísticos e jurídicos, quando necessários, previstos nos arts. 8o ao 11 desta lei. 

O Plano Diretor também contém informações sobre a densidade populacional no


município e as áreas de risco para a ocupação humana. Comparando os mapas do plano
com o nosso mapa síntese, notamos que as áreas mais densas se encontram nas várzeas,
assim como as áreas de declividade mais acentuada são impróprias para a habitação.

Mapa de aptidão ao assentamento urbano.

Densidade demográfica
Além dos mapas, também foi fundamental analisar os objetivos do plano. O que nos
chamou mais a atenção foi a importância dada pelo plano ao turismo.

Na perspectiva desse Plano Diretor, são considerados objetivos básicos do desenvolvimento para 
o Município  

- Sustentar o papel fundamental que tem o Município na ​guarda de patrimônio ambiental, imprescindível à 
qualidade de vida do planeta, assim entendido inclusive pela Unesco.  

- Sustentar o papel polarizador peculiar exercido pelo Município, no quadro metropolitano, no campo 
ambiental e do n
​ egócio turístico, visando a sua transformação em Estância Turística
 

- Favorecer a ​integração da comunidade local, com vistas à construção de sua identidade e, 
conseqüentemente, da sua auto-estima e motivação pela participação ativa nas decisões de interesse 
municipal.  

- Elevar os padrões de desempenho, sobretudo dos sistemas públicos de atendimento social, buscando 
sempre a melhoria contínua na qualidade de vida ​do munícipe.  

- Ampliar a o
​ ferta de empregos e serviços no Município, de modo a reduzir a dependência deste às ofertas 
externas.  

- Sustentar a b
​ ase econômica do Município e favorecer sua ampliação, de forma que Mairiporã disponha de 
meios e recursos próprios para a geração da renda e o incremento das oportunidades de trabalho. 

- Resgatar, em termos compatíveis com a escala já atingida pelo assentamento no Município, as condições 
originais de ​vivência ecológica propícias à criatividade e à produção intelectual.  

-Melhorar progressivamente as c​ ondições ambientais locais, com redução e eliminação, quando possíveis, 
das ocorrências de alto risco no assentamento e de dano ambiental à integridade do sítio municipal.
 

- Reduzir o grau de dissociação existente entre os diversos complexos de assentamento existentes no 
Município, de forma a propiciar a integração de suas populações à comunidade urbana local. 
 

- Elevar os ​padrões habitacionais médios presentes, com a redução dos assentamentos em condições 
subnormais, seja por sua regularização, urbanização e integração no abairramento, seja por sua 
erradicação, em casos de alto risco e potencial de dano ambiental.  
- Tornar mais elástica a capacidade presente de atendimento às demandas de desenvolvimento social p
​ ela 
ação do Município, tanto no que respeita à otimização dos recursos existentes quanto à ampliação da base 
de obtenção de recursos.  

- Inserir, progressivamente, de forma plena, a ​população de fixação recente no Município nas 


oportunidades e benefícios da vida urbana, através do acesso às ofertas de serviços, espaços para 
moradias, participação nas políticas públicas e na ação cultural. 

Propostas

O imaginário esboçado sobre Mairiporã foi sintetizado no croqui abaixo.

A situação que parece antagônica a princípio, deu o pontapé inicial para a etapa
propositiva. O desafio que se esboçou foi justamente como conciliar a ocupação humana
nas margens dos principais córregos com a ocupação humana.
O croqui acima representa a nosso primeiro passo em relação ao raciocínio projetual
da região. Foi imaginado um corte genérico no rio Juqueri e nele buscamos elaborar uma
primeira possibilidade para conciliar a ocupação humana com os entornos dos rios. Para
isso, os rios deveriam ter uma primeira faixa marginal de 50 metros que conteria sistemas
agroflorestais. Tais sistemas possibilitam uma APP urbana produtiva, e portanto, mais
plausível com esta realidade. Pensamos também em uma faixa marginal de 200 metros de
solo permeável, visando assim melhores condições ecológicas para as várzeas e o próprio
rio. Além de filtrar o escoamento superficial, tal medida reduziria os riscos de enchentes e
alagamentos.

As discussões acerca desta proposta inicial abriram caminho para pensarmos uma
nova diretriz. Compreendemos que é fundamental organizar e planejar a ocupação ao longo
dos rios.

Diretrizes

Visando garantir o desenvolvimento social, econômico e territorial da cidade de


forma sustentável, discutiu-se sobre objetivos e propostas possíveis para atingir tal diretriz,
presente também no PDUI e plano diretor do município. Dessa maneira, decidiu-se que
eixos estruturadores partindo do rio principal que corta a cidade, seria o princípio para
delimitar e organizar a ocupação e o uso do solo, uma vez que a ocupação existente já
possui o rio como base. Interligar o centro de ocupação com centralidades próximas já
desenvolvidas e em desenvolvimento, permitirá que Mairiporã se desenvolva mais rápido,
dessa forma, criou-se também uma forma de transporte com estas, minimamente
impactante ao meio ambiente. Além disso, outras duas propostas tendo em vista a
preservação e proteção das ricas fauna e flora da localidade, foram realizadas. Por fim, os
objetivos definidos foram:

● Delimitar e organizar o uso do solo em regiões de várzea do Rio Juqueri,


evitando ocupações irregulares próximas, agressivas ao meio ambiente;

● Gerar interconexões com centralidades próximas por meio do sistema VLT;

● Criar travessias (Corredores Verdes) para deslocamentos de espécies em


áreas verdes no eixo;

● Revisar os termos legais de forma aplicável na área urbana (Código


Florestal).

Eixo Estruturador Fluvial

A origem das cidades se dá no deserto. Neste contexto, a sabedoria da manipulação


da água, técnica conhecida como Qanat permitiu o desenvolvimento das primeiras cidades
no Oriente Próximo. A ocupação humana, historicamente, está atrelada aos rios e aos
canais artificiais.

Tendo em mente a conformação física de Mairiporã e onde se encontram seus


remanescentes vegetais mais significativos, acreditamos que a melhor caminho para
conduzir o crescimento de Mairiporã seja justamente por meio de seu rio principal, o
Juqueri, e o reservatório Paiva Castro. Com isso, por meio do planejamento da ocupação
urbana, julgamos possível conciliar questões sociais e econômicas com as questões
ambientais.

A foto abaixo, trecho do projeto do Grupo Metrópole Fluvial, foi a referência de


partida para a proposta do eixo estruturador fluvial. Se trata de um canal artificial a ser
construído entre a represa Billings e a represa Taiaçupeba. Deste projeto também
extraímos a ideia do VLT. É interessante ressaltar a íntima relação entre os modais de
transporte. O modal ferroviário nasce do modal hidroviário no contexto da Revolução
Industrial. Os trens são uma reinvenção do transporte feito sobre canais. Os barcos
estreitos eram puxados por cavalos, o que explica o nome dado para a potência dos
motores até hoje: HP ("horse-power").

Na nossa proposta, o reservatório Paiva Castro e o rio Juquerí passam a constituir o


eixo estruturador fluvial. Devido às diferentes características físicas, sociais e ambientais
deste trecho, ele foi setorizado em 6 tipologias diferentes.
A primeira tipologia, Rio Orla Urbana, corresponde aos entornos do reservatório
Paiva Castro. Para estimular o turismo na região, propomos a construção de praias
urbanas. Tal idéia teve origem nas estruturas palafitadas, das quais algumas são
restaurantes, em um pequeno banco de areia na represa Billings. Além disso, esta área
possui uma faixa marginal dos rios de 200m dedicada ao desenvolvimento urbano integrado
com parques fluviais. Tal faixa constitui o eixo estruturador fluvial.

No trecho da tipologia Rio Boulevard, devido a intensa e consolidada ocupação, o


que se propõe é um boulevard de vias arborizadas, visando amenizar os impactos da
ocupação nos entornos dos rios. Todos os outros setores possuem as faixas de 200 metros.
No trecho da Rio Parque Urbano, devido a maior área de várzeas livres, se pensou em um
parque urbano entre as zonas de desenvolvimento urbano e os outros parques. Por fim, os
trechos da tipologia Rio Floresta contam, além das faixas de 200m, com uma faixa interna
de 50 metros de agroflorestas.
Foto aérea de construções palafitadas na represa Billings
Eixo Estruturador Ferroviário

Buscando desenvolver a integração da cidade de Mairiporã com seu entorno, além


de questões de economia, trabalho, mobilidade urbana e crescimento populacional, nosso
grupo resolveu trabalhar com a proposta de duas linhas de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)
integrantes da rede estadual de CPTM e Metrô, que tendo Mairiporã como ponto
estruturador essencial, acabam por criar um entroncamento na cidade, propiciando
condições para um eventual crescimento populacional, econômico, turístico, etc.
A escolha desse tipo de veículo se deu por seu menor custo em relação ao metrô,
maior durabilidade em relação aos trens tradicionais e maior taxa de adesão da população,
segundo estudos, em comparação aos outros dois.
A primeira linha proposta é a Branca, com início no Tucuruvi, junto à estação de
metrô da linha azul e com destino final em Atibaia. Mairiporã, então, acaba por ficar no meio
do caminho da linha. Ao todo são sete estações, sendo elas: Tucuruvi, junto ao metrô;
Jaçanã; Vila Galvão, em Guarulhos, junto ao terminal de ônibus metropolitano; Parque dos
Pinheiros; Mairiporã; Bom Jesus da Terra Preta e Atibaia. Em suma, são 47,5 km com um
tempo de viagem aproximado de uma hora. Com essa linha, o tempo para chegar por meio
de transporte público de Mairiporã à Sé, por exemplo, seria reduzido para algo entre 45 e 50
minutos, fazendo com que a cidade se torne uma opção mais agradável para quem precisa
morar nas periferias da Região Metropolitana e trabalhar em seu centro.

Já a Linha Rosa parte de Mairiporã, criando assim uma estação que já integra duas
diferentes linhas, com destino a Barueri, junto da estação da Linha Prata.. Sua intenção é a
de criar um eixo de conexão entre as cidades do norte e noroeste da região metropolitana,
permitindo que haja um crescimento mais homogêneo na RMSP e ligando cidades que
acabam sendo prejudicadas do ponto de vista de infraestrutura à essa rede de diálogo
maior. São também sete estações distribuídas por cinco cidades ao longo de um trajeto de
63,5 km que pode ser vencido em em média 65 minutos. São as estações: Mairiporã, que
também integra a Linha Branca; Franco da Rocha, parte da Linha Rubi; Jordanésia e
Cajamar, ambas no município homônimo da segunda; Chácara do Solar/Fatec e Santana
de Parnaíba, ambas no município homônimo da segunda; e finalmente Barueri, junto à
Linha Prata da CPTM, ligando assim a principal linha de sentido norte à principal linha
sentido oeste. Assim, a Linha Rosa acaba por emular em parte o efeito do rodoanel.
Corredores Ecológicos

Para minimizar as possíveis consequências ambientais dos eixos estruturadores que


estamos propondo, pensamos na possibilidade da construção de corredores ecológicos.
Tais corredores teriam duas tipologias, uma comum, associada a estrutura de ponte sobre
um rodovia, e, uma outra, associada a uma estrutura palafitada nos rios.

Corredores ecológicos são regidos pelas Lei 9985/2000 - Sistema Nacional de


Unidades de Conservação da Natureza – SNUC e pelo Decreto 4340/2002, que altera
alguns artigos da Lei 9985.

São descritos como ​“porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando


unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da
biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem
como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com
extensão maior do que aquela das unidades individuais”​, ou seja para existirem e serem
reconhecidas pelo Ministério do Meio-Ambiente precisam ligar unidades de conservação
diferentes.

A partir disso, fomos atrás das Unidades de Conservação que existem em Mairiporã,
e existia apenas uma, o Parque Estadual de Itapetinga, que é uma Unidade de
Conservação da Natureza de Proteção Integral. Olhando mais atentamente para o decreto
que criou esse Parque (RESOLUÇÃO SMA Nº 119), vimos que ele foi criado justamente
para essa função, de ser um corredor ecológico ligando a Serra da Mantiqueira e a Serra da
Cantareira.

O Parque de Itapetinga passa pelas seguintes cidades: Atibaia, Bom Jesus dos
Perdões, Mairiporã e Nazaré Paulista, e tem o seguinte formato, ao norte chegando em
Atibaia e ao sul ocupando grande parte do leste de Mairiporã.
Como já se tinha então, um corredor ecológico, pensamos numa escala local, com
micro-corredores ecológicos, como o da foto a seguir, que serviriam para que os animais
pudessem passar por cima das vias sem que corressem o risco de serem atropelados,
conectando duas faixas de vegetação:

O próximo passo então foi de buscar e analisar no território de Mairiporã os locais


mais interessantes para fazer a inserção desses micro-corredores, para que tivessem o
maior aproveitamento. Feito isso, elaboramos um mapa, a seguir, e escolhemos 4 pontos
de maior interesse.
Os pontos 1 e 2 foram escolhidos pois são pontos em que se tem grandes faixas de
vegetação, mas que são cortadas pela rodovia Fernão Dias, que é uma rodovia de grande
porte e muito movimentada. E portanto, seria um corredor que atenderia a um grande
número de espécies que vivem nessas porções de vegetação, e hoje se encontram isoladas
pela barreira da rodovia.

O ponto 3 é um corredor por cima do Rio Juqueri, dentro do Parque Itapetinga, pois
ali é uma ligação entre o norte e o sul do Parque, porém cortada por um rio, que dificulta o
acesso dos animais para transitarem entre as áreas. Para baratear o custo, pensamos em
fazer esse corredor flutuante, com palafitas por exemplo, diferentemente do modelo viaduto
da foto anterior, que é bem mais cara de se implantar.

Já o ponto 4, foi pensado para ligar partes da mesma unidade de conservação, pois
analisando o mapa vimos que no trajeto marcado em vermelho não se tem construções de
nenhum tipo, sendo uma área fácil de se implementar. Entretanto, cabe aqui a observação
de que devem ser feitos estudos mais aprofundados para dizer se realmente vale a pena
fazer essa ligação, já que estaria ligando uma mesma área de conservação.
Revisão do Código Florestal

Analisando o Código Florestal, percebe-se que a definição das áreas de APPs são
as mesmas tanto para regiões rurais quanto urbanas, não considerando as particularidades
de cada meio. Como um ponto de partida para uma possível revisão do Código e
baseando-se no que foi estudado em Mairiporã, pensou-se numa mudança na definição das
APPs de rios em áreas urbanas.

Para isso, foram identificados as funções que as APPs de rios deveriam ser capazes
de realizar em cada meio:

1. em áreas densamente povoadas, parte das APPs poderiam ser utilizadas para
satisfazer necessidades da população local, como por exemplo, alimentos, lazer,
esporte ou transporte. Como a área total seria mais limitadas por conta da ocupação
humana, a preservação da fauna teria foco maior em espécies que sobrevivem em
áreas mais fragmentadas ou que não necessitem de áreas grandes para
sobreviverem (certos tipos de aves, como um exemplo).
2. em áreas menos povoadas, as APPs teriam um foco maior na preservação de
espécies, limitando assim o seu uso para outros afins.

É importante destacar que em ambos os casos essas APPs também realizariam as


funções de controle de enchentes e conservação da qualidade dos rios, imprescindíveis
para o desenvolvimento sustentável.

Pensando nisso, foi possível determinar a proposta inicial para a definição da APP
de rios urbana. Tomando como ponto inicial a margem do rio e cumprindo com as larguras
já determinadas pelo Código Florestal, essas APPs seriam divididas em duas regiões: uma
ocupando os primeiros 30% da largura e a outra os 70% restantes. A primeira região seria
reservada para sistemas florestais ou de agroflorestas, ou seja, com pouca intervenção
humana. Na segunda região, seria permitido a ocupação por atividades de baixo impacto
ambiental (parques, transporte limpo, hortas comunitárias, permacultura, entre outras)
desde que respeitasse uma alta taxa de permeabilidade (acima de 70%).

Aplicando essa proposta a parte do Código Florestal referente às APPs de rios, temos:
Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais, para os efeitos
desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os


efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta)


metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros;

[...]

Art X - Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas urbanas, para os efeitos


desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os


efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima equivalente a das
zonas rurais, respeitando o seguinte:

a) 30% (trinta por cento) da largura da Área de Preservação Permanente, contado a partir da
borda da calha do leito regular, ocupada exclusivamente por floresta ou agrofloresta;

b) 70% (setenta por cento) da largura da Área de Preservação Permanente restante pode ser
ocupada por ocupação de baixo impacto ambiental, com Coeficiente de Permeabilidade
superior a 70% (setenta por cento);
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Áreas de Preservação Permanente Urbanas​: o novo código


florestal e o judiciário. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 52, n. 206, p. 83-102,
abr./jun. 2015.

ARAÚJO, Suely Mara Vaz Guimarães de; GANEM, Roseli Senna. A Nova Lei Florestal e a
questão urbana. In: SILVA, Ana Paula Moreira da; MARQUES, Henrique Rodrigues;
SAMBUICHI, Regina Helena Rosa (org.). ​Mudanças no código florestal brasileiro:
desafios para a implementação da nova lei. Rio de Janeiro: Ipea, 2016. Cap. 4. p. 107-124.

BRASIL. ​Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012​. Código Florestal Brasileiro. Brasília, DF,
Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-201
4/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 20 jul. 2020.

BRITO, A.L.N.P et al. A difícil aplicabilidade da legislação de faixas marginais de


proteção de rios urbanos: O caso do município de Mesquita na Baixada Fluminense. II
Seminário Nacional de APPs Urbanas, 2012, Natal.

EMPLASA. ​Mairiporã Plano Diretor 2006/2015​. Mairiporã, 2006.

GRUPO METRÓPOLE FLUVIAL. Articulação Arquitetônica e Urbanística dos Estudos de


Pré-viabilidade técnica, Econômica e Ambiental do Hidroanel Metropolitano de São Paulo.
Relatório Conceitual​. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo, 2012b.

SÃO PAULO, Conselho de Desenvolvimento Região Metropolitana de. ​Caderno de


propostas do​ ​Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado​. Abril de 2019.

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