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SÃO LUÍS:

UMA LEITURA DA CIDADE

São Luís
2006
TADEU PALÁCIO
Prefeito

SANDRA TORRES
Vice-Prefeita

JOSÉ CURSINO RAPOSO MOREIRA


Secretário Municipal de Planejamento e Desenvolvimento

JOSÉ MARCELO DO ESPÍRITO SANTO


Presidente do Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade

© 2006. Prefeitura de São Luís


Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade

RAIMUNDA N. FORTES C. NETA


Projeto Gráfico e Editoração

Espírito Santo, José Marcelo (Org.). São Luís: uma leitura


da cidade. Prefeitura de São Luís / Instituto de Pesquisa e
Planificação da Cidade. São Luís: Instituto da Cidade, 2006.

94 p.

São Luís. Plano Diretor. Leitura Técnica. Diagnóstico.


PALAVRA DO PREFEITO

Tadeu Palácio
Prefeito
SUMÁRIO

1 ÁREA E SITUAÇÃO GEOGRÁFICA ............................................................................................. 10

2 CARACTERÍSTICAS ATUAIS DO MEIO FÍSICO-BIÓTICO E UNIDADES DE PAISAGEM .......... 12


2.1 Clima ........................................................................................................................................ 12
2.2 Geologia / Recursos Minerais ...................................................................................................... 12
2.3 Geomorfologia .......................................................................................................................... 12
2.4 Solos e Aptidão Agrícola ............................................................................................................. 14
2.5 Uso Atual dos Solos ................................................................................................................... 16
2.6 Recursos Hídricos Superficiais e Hidrogeologia ............................................................................. 18
4.7 Cobertura Vegetal ...................................................................................................................... 22
2.8 Complexo Estuarino ................................................................................................................... 26

3 DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO .............................................................................................. 28


3.1 Densidade Demográfica ............................................................................................................. 28
3.2 Crescimento Populacional ........................................................................................................... 30
3.3 Diversificação dos Setores Econômicos ........................................................................................ 32
3.4 Emprego ................................................................................................................................... 34
3.5 Renda ....................................................................................................................................... 34
3.6 Educação .................................................................................................................................. 36

4 DOMICÍLIOS ............................................................................................................................. 40
4.1 Abastecimento de Água .............................................................................................................. 44
4.2 Esgotamento Sanitário ............................................................................................................... 48
4.3 Coleta de Lixo ........................................................................................................................... 52

5 MOBILIDADE URBANA ............................................................................................................. 56


5.1 Infra-estrutura Urbana, Equipamentos Sociais e Serviços Urbanos ................................................. 60

6 FORMAÇÃO HISTÓRICA E O PROCESSO ATUAL DE DESENVOLVIMENTO DA CIDADE .......... 62


6.1 A Proteção Patrimonial do Centro Histórico .................................................................................. 70
6.2 O Acervo Preservado ................................................................................................................. 72
6.3 Planos Diretores e Expansão da Cidade ....................................................................................... 76

7 SÃO LUÍS NO SÉCULO XXI ....................................................................................................... 88

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 92
8 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

INTRODUÇÃO Habitação, Urbanismo e Fiscalização Urbana (SEMTHURB), Secretaria Planejamento e Desenvolvimento (SEPLAN) como o órgão central dos
Municipal de Transportes Urbanos (SEMTUR), Departamento do Sistemas de Planejamento de São Luís, do comando da Execução
Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico do Maranhão (DPHAP), Orçamentária e da coordenação dos sistemas de geração de trabalho,
Ao Poder Público Municipal cabe discutir e reavaliar o tipo de
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). renda e produção econômica da administração municipal. A esta
desenvolvimento desejado pela sociedade e construir um sistema de
Os problemas na legislação urbanística podem dificultar, ou SEPLAN cabe:
planejamento mais adequado à realidade que a cidade enfrenta,
considerando que a discussão sobre os instrumentos de planejamento mesmo, sob certas condições, paralisar os investimentos no setor da · Assessorar o prefeito no direcionamento político comum, na
disponíveis é uma oportunidade de construir um pacto local que, para construção civil. A numerosa quantidade de obras de pequeno porte, integração, na articulação, na coordenação e na garantia da
além da prospectiva econômica e social, indique também as opções intervenções e pequenos serviços de construção e reforma, feitos à continuidade do processo de desenvolvimento local, em consonância
urbanísticas e as bases de um novo modelo de desenvolvimento para revelia ou com o total desconhecimento da lei, também refletem a com os planos de desenvolvimento estadual, regional e nacional;
São Luís: o Desenvolvimento Urbano Sustentável. inadequação destes instrumentos legais às necessidades da sociedade · Coordenar o planejamento governamental e estratégico da
local, criando embaraços, conflitos e o total isolamento na relação cidade, a implementação da política de geração de emprego, trabalho,
A partir desta premissa geral o Prefeito de São Luis, Tadeu
entre o cidadão e a municipalidade. renda e desenvolvimento da produção, formulando estratégias de
Palácio, através da Secretaria Municipal de Planejamento e
Desenvolvimento, dos Eixos Macropolíticos de Desenvolvimento - Acrescente-se a este panorama as condições históricas muito desenvolvimento local; e
Ambiental e Urbano Sustentável / Humano, Social e Econômico particulares da cidade e, especialmente, dos instrumentos e estruturas · Promover a integração das macropolíticas e do processo de
Sustentável / Institucional e do Instituto de Pesquisa e Planificação municipais, que conduziram a uma articulação própria e específica planejamento governamental; o aprimoramento da qualidade e
da Cidade (Instituto da Cidade), vem propor o processo de Revisão entre os diferentes Planos de Governo (com claros objetivos sócio- promoção da excelência na gestão municipal, além do contínuo
da Legislação Urbanística de São Luís. econômicos) e o Plano Diretor Municipal (muito mais urbanístico e de aperfeiçoamento do quadro de recursos humanos da administração.
desenvolvimento físico da cidade), muitas vezes completamente
A estrutura da SEPLAN conta com três Assessorias de Eixo
dissociados.
O PLANEJAMENTO URBANO PARTICIPATIVO Macropolítico: de Desenvolvimento Institucional, de Desenvolvimento
A Prefeitura reconhece, portanto, a necessidade de propor Humano, Social e Econômico Sustentável, e de Desenvolvimento
mudanças nos dispositivos legais, medidas complementares à atual Ambiental e Urbano Sustentável, responsáveis pela articulação das
As transformações urbanas e as rápidas mudanças sociais ao legislação e, ainda, novos instrumentos de planejamento urbano que ações das secretarias e órgãos municipais afins.
longo da segunda metade do século 20 questionaram de forma pro- possibilitem intervenções na cidade capazes de redirecionar e
A SEPLAN ficaram vinculados o IPLAM, renomeado como
funda os métodos e os processos de planejamento do desenvolvimento redimensionar o desenvolvimento urbanístico de São Luís, a partir de
Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade (Instituto da Cidade) e
nas grandes metrópoles e nas cidades brasileiras de médio porte. novas premissas para seu crescimento sócio-econômico.
a Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (FUMPH), que substituiu
Em São Luís, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado foi O processo de articulação e operacionalização da revisão da a antiga Coordenação de Patrimônio Histórico (FUNC).
elaborado e aprovado na década de 70 para orientar o crescimento legislação urbanística data de setembro de 2003, quando o Prefeito
Eleito na Conferência Municipal da Cidade, em julho de 2005, o
físico decorrente da implantação de grandes plantas industriais e de Tadeu Palácio instalou uma Comissão Técnica para a Revisão da
Conselho da Cidade de São Luís foi institucionalizado pelo prefeito
redes de infra-estrutura - principalmente em sistema viário e Legislação Urbanística da Cidade de São Luís. Na ocasião discutiu-se
Tadeu Palácio em 29 de maio deste ano, como instrumento de
habitação – financiada por programas do governo federal. a abrangência do trabalho, as atribuições dos membros da Comissão
participação popular no sistema municipal de gestão e planejamento
A desatualização do Plano quanto à realidade dos movimentos e a possibilidade de regulamentação e operacionalização de todos os
urbano. Com 31 membros da sociedade civil e do poder público, o
econômicos e imobiliários na cidade levou, nos anos 90, a um instrumentos de planejamento disponibilizados pelo Estatuto das
Conselho tem a missão de propor e discutir diretrizes para a formulação
liberalismo desregulamentador que, na prática, se traduziu num choque Cidades. Neste primeiro momento, a atuação da prefeitura foi orientada
e implementação da política de desenvolvimento urbano e rural, além
entre a legislação em vigor e a realidade urbana. O próprio Poder a partir de três reuniões públicas sobre o assunto, realizadas em
de acompanhar e avaliar a sua execução, conforme dispõe a Lei nº.
Público Municipal acabou por constatar as dificuldades a que São Luís outubro daquele ano.
10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade) e correlatas,
vinha sendo submetida em matéria de investimentos públicos que A primeira reunião pública teve por objetivo apresentar uma com participação autônoma e organizada de todos os seus integrantes,
suportassem as transformações em curso no seu território. proposta de metodologia de trabalho, pelo IPLAM. Na reunião, a em conformidade com os trabalhos do Conselho Estadual das Cidades
É a partir deste contexto que se deve entender a aprovação, Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio e do Conselho Nacional das Cidades, de mesma finalidade.
em 1992 , do novo Plano Diretor de São Lu ís e suas Leis Cultural de São Luís e o curso de Arquitetura e Urbanismo da UEMA
O monitoramento dos problemas e soluções presentes no Plano
Complementares, e a preparação de um conjunto de projetos, de deram contribuições a respeito do perfil da revisão do Plano Diretor.
Diretor de São Luís e na Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e
incidência local, com impactos sobre a capital, incluindo a criação do Na segunda reunião ocorreu a discussão sobre as questões Ocupação do Solo Urbano, no período 2004 – 2005, e a Leitura Técnica
Instituto de Pesquisa e Planejamento do Município (IPLAM), como ambientais, em particular sobre as áreas a ocupar e preservar, de a que se tem dedicado o Instituto da Cidade indicam que a revisão da
reflexo da preocupação municipal com a estruturação de um processo forma a identificar as áreas de preservação permanente e as zonas legislação urbanística de São Luís deve integrar, para além das opções
de planejamento e gestão urbana. edificantes. A Secretaria Municipal de Terras, Habitação, Urbanismo e urbanísticas e das bases do novo modelo de desenvolvimento urbano
Desde janeiro de 1993, quando esta legislação passa a vigorar, Fiscalização Urbana proferiu a palestra “Contribuições do Plano Mu- para a capital maranhense, a prospectiva econômica e social
o IPLAM dedica-se ao acompanhamento sistemático da sua aplicação, nicipal da Paisagem para a Revisão da Lei de Zoneamento”. sobre a cidade.
identificando problemas técnicos e operacionais, além de acompanhar A terceira reunião pública teve como tema “O Zoneamento e os O Plano Diretor deve compatibilizar crescimento econômico com
a aplicação dos índices e normalizações referentes à expansão ur- Índices Urbanísticos de São Luís” que norteou as apresentações do a melhoria da qualidade de vida urbana através do acesso à moradia
bana e construtiva na cidade. IPLAM e do curso de Arquitetura e Urbanismo da UEMA. digna e aos bens e serviços públicos, da preservação do meio ambiente,
Este acompanhamento da aplicação dos dispositivos legais é Visando a melhor integração das ações e esforços municipais e da mobilidade urbana e da revitalização dos espaços de convivência
feito em parceria com outros órgãos da administração municipal e de em sintonia com o observado na maioria das capitais brasileiras, a Lei social, na perspectiva do desenvolvimento sustentável e da ampliação
outras esferas do poder público como a Secretaria Municipal de Terras, nº. 4.497, de 08 de julho de 2005, instituiu a Secretaria Municipal de do direito à cidade.
SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE 9

Desta forma o planejamento se constituiria num fórum de a revisão do Plano Diretor e suas leis complementares deve constituir consenso e contratualização – deve evoluir para modalidades mais
negociação entre os interesses locais e os processos gerais de um processo alicerçado em estratégias de trabalho participativo, largas de consultas e debates.
transformação e desenvolvimento urbano, nem sempre equilibrado. envolvendo governo e sociedade. Por outro lado, a complexidade Busca-se, neste processo, um alinhamento, uma aproximação
Neste sentido, a reorganização da ordem urbanística local através da técnica que apresenta requer a colaboração multidisciplinar, de entre o que se movimenta por conta própria, e não uma unidade de
Revisão da Legislação Urbana significa construir um pacto territorial profissionais habilitados em diferentes áreas, bem como da atuação ação, algo que seria inapropriado para o desenvolvimento de uma
que oriente o desenvolvimento para a superação da injustiça social, de equipes especializadas na elaboração dos seus elementos e cidade, pois esta já tem uma história e um modo de se fazer, um
diminuindo as desigualdades de oportunidades de acesso aos meios produtos, sempre tendo em perspectiva que: modo diversificado e com várias lógicas, linguagens e interesses,
para a satisfação de necessidades individuais e coletivas, como 1. O Plano deverá definir os objetivos gerais da política segundo seus atores e a correlação de forças existentes entre
trabalho, espaços públicos qualificados e transporte, entre outros. municipal para o desenvolvimento e ordenamento da expansão esses atores.
Considerando todas as mudanças e tendências da dinâmica da urbana, garantindo o cumprimento da função social da propriedade e Deste modo o planejamento passa a ser encarado como um
cidade e a necessidade de orientar e monitorar este desenvolvimento reconhecendo o direito de todos os cidadãos à moradia a aos processo participativo de elaboração, atualização e reelaboração de
atra vés de u ma legis lação ur banísti ca adequ ada às n ovas serviços urbanos. diretrizes técnico-políticas e intervenções técnicas e sociais no espaço
oportunidades e desafios que a cidade enfrenta, e considerando que 2. As diretrizes estabelecidas no Plano Diretor definem a forma urbano e rural, prevendo já a fiscalização e o acompanhamento da
a atual Legislação Urbanística Municipal, em particular o Plano Diretor, de ocupação do solo, prevendo a localização de atividades e usos implementação destas diretrizes e intervenções.
a Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano, atuais e futuros do espaço urbano, assegurando espaços adequados Tal planejamento se propõe a orientar a negociação política em
a Lei de Operações Urbanas e a Lei das Zonas de Interesse Social, para a provisão de novas moradias sociais e condições atraentes para torno dos destinos da cidade, fundamentando os ideais da reforma
está em vigência desde janeiro de 1993 e, ainda, tendo em vista o micro e pequenas empresas, com vistas a facilitar o acesso à terra urbana. Para tanto, mantém os instrumentos de que dispõe a serviço
prazo legal estipulado pela Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001 (o urbanizada e regularizada e a promover o desenvolvimento de uma avaliação estratégica da dinâmica da sociedade e não perde
Estatuto das Cidades), cabe a Prefeitura de São Luís coordenar a sócio-econômico. de vista o potencial político-pedagógico de novas institucionalidades,
atuação dos atores municipais na organização do processo de revisão
3. O Plano deve indicar quais são os instrumentos que como o Orçamento Participativo e os diferentes Conselhos Municipais
deste conjunto de Legislação Urbanística.
disponibilizará para a operacionalização da política urbana do Município que fazem interface com o Desenvolvimento Urbano.
A proposta de revisão da legislação urbanística de São Luís e quais as condições de sua aplicação. Esses instrumentos podem ser Se a cidade enfrentar o desafio da regulamentação e aplicação
pretende, portanto, proporcionar a atualização e adequação da de caráter institucional, jurídico, tributário e financeiro, urbanístico e deste conjunto de novos instrumentos urbanísticos num processo
legislação em vigor com a realidade dinâmica de crescimento e administrativo. participativo de planejamento, poderá orientar (mais do que normatizar,
transformação da cidade, através da construção de referenciais
4. O Plano deve incorporar os temas e as estratégias prioritárias como no planejamento urbano convencional) os seus destinos e
simbólicos, de clima social e da vontade de estabelecer consensos em
para o desenvolvimento da cidade, definidos após o debate público possibilidades na direção da idéia de desenvolvimento que todos
diversos campos ou em ações no âmbito estratégico.
das tendências, dos conflitos, problemas e potencialidades locais. Estes construirão juntos.
temas pertencem, entre outras, às áreas de meio ambiente, política
PLANO DIRETOR: Aspectos conceituais cultural, habitação, transporte e mobilidade e desenvolvimento
sócio-econômico.
José Antonio Viana Lopes
O Estatuto das Cidades, Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho 5. O Plano Diretor deve prever a estrutura e o processo
participativo de planejamento para implementar suas propostas e Presidente da Fundação Municipal de Patrimônio Histórico
de 2001, regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal
e estabeleceu parâmetros e diretrizes da política urbana no Brasil, monitorar seus resultados. O modo como o sistema de gestão e de
oferecendo aos municípios instrumentos que lhes permitem intervir planejamento será implementado e monitorado, para garantir o José Marcelo do Espírito Santo
nos processos de planejamento e gestão urbana e territorial em direção co ntro le s ocia l, dever á co rres ponder à capacidade de Presidente do Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade
à garantia de realização do direito à cidade a todos os cidadãos. gestão do município.
Para realização desses processos o Estatuto das Cidades A cidade já vem sendo pensada, também, por outros atores
estabeleceu o Plano Diretor como instrumento essencial para a política sociais, principalmente pelos movimentos sociais organizados. As
de desenvolvimento e ordenamento da expansão urbana do município. experiências comunitárias e as propostas dos movimentos sociais São Luís-MA, Julho de 2006.
O Estatuto, em seu artigo 40, deixou claro que o Plano Diretor é parte devem ser reconhecidas e assimiladas. A comunidade acadêmica, os
integrante do processo de planejamento municipal, devendo o Plano conselhos profissionais, os sindicatos patronais e de trabalhadores,
Plurianual (PPA), as diretrizes orçamentárias (LDO) e o orçamento os clubes de serviços e outros dessa magnitude, serão considerados
anual (LOA) incorporar os princípios e as prioridades nele contidas. de modo específico sobre temas estruturantes (meio ambiente,
qualidade de vida, reorganização da atividade econômica, plano
Entre as leis complementares ao Plano Diretor podemos
urbanístico, pactos políticos e outros) e políticas públicas (saúde,
relacionar a Lei do Perímetro Urbano, a Lei de Parcelamento do Solo, educação, cultura, transporte, turismo, acessibilidade, entre outras).
a Lei de Uso e Ocupação do Solo, a Lei do Sistema Viário, o Código Os Conselhos Municipais existentes também podem, e devem, explicitar
Municipal de Obras, o Código Municipal de Posturas, o Código Munici- suas preocupações maiores.
pal de Meio Ambiente e o Código Sanitário Municipal. Com base nestas linhas de desenvolvimento o processo de
O Plano Diretor define as funções sociais da cidade, organiza Revisão da Legislação Urbanística deverá seguir uma metodologia
os espaços habitáveis e pode proporcionar melhores condições ao que integre uma componente técnica e uma outra participativa. A
exercício da cidadania pela sua população. Portanto, a elaboração ou componente participativa - nas suas vertentes de diálogo, cooperação,
10 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

1 ÁREA E SITUAÇÃO GEOGRÁFICA

São Luís, capital do Maranhão, está localizada na face ocidental


da ilha de mesmo nome, possuindo uma área de 831,7 Km². A cidade
divide o espaço da Ilha com os municípios de São José de Ribamar,
Paço do Lumiar e Raposa, que formam a Região Metropolitana de São
Luís (juntamente com a cidade de Alcântara, situada no continente). Ilha de São Luís
O município de São Luís ocupa mais da metade (57%) da Ilha P onta

de São Luis, pertencendo-lhe ainda, politicamente, as ilhas de das A nças

Tauá-Mirim, Tauá-Redondo, do Medo, Duas Irmãs, Guarapirá e O C E A N O A T L Â N T I C O


Praia da Raposa
Baía do Curral

ILHA DO

das Pombinhas (Fig. 1.2). RA PO S A


CU RUP U

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A área pode ser localizada entre as coordenadas: S 02º 28’ 12" RAPOSA

Nu
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e 02º 48’ 09" e W 44º 10’ 18" e 44º 35’ 37". Apresenta altitude de 24 Ponta do Araçagi
Com bique
Tapeu
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metros e Fuso Horário 3hs GMT. B A I A D E S Ã O M A R C O S Praia Olho de Porco


B aía do Curupu
Praia do Araçagi Rio Paciencia

Com uma área de 831,7 km2, o município de São Luís apresenta


Ponta Grossa
P orto Ponta do Panaquatira
do Iguaíba

Rio Santo Antonio


Praia do Olho D' Agua P orto

os seguintes limites: Praia de São Marcos


Praia do Calhau

Calhau
Olho D'Água
G rande

S alina
Praia de
Panaquatira
Itapera

· Norte - Oceano Atlântico;


Praia da São Marcos P indoba
Ponta D' Areia
Iguaíba
Lagoa da
Jansen Itaperinha
Ponta Renascença Turu

· Oeste - municípios de Cajapió e de Alcântara;


D'Areia A najá M ojó
M aioba do
São Sta. Eulália M ocajituba
PAÇO DO LUMIAR
P anaquatira
Francisco Vinhais Cohama
Itapari

· Sul - municípios de Rosário e de Bacabeira;


ILHA DO Toari
do Naroco
M ED O Rio Anil M ocajituba
Ponta da Guia Tendal M irim
Bequimão Canaviera
Liberdade

· Leste - município de São José de Ribamar.


Centro Angelim
Vila P au D eitado
Nova Uirapuru Praia Itarari do Mar
ILHA DUA S Monte Alemanha Cohatrac Cururuca
Vila M ato Escuro
IRM Ã S Castelo
Palmeira M arac ajá

Conforme registros da Fundação Nacional de Saúde (1996), a

Rio
São Anil
V. Mauro Fátima João Barreto Sta Cruz Trizidela P araná M ercês
Raimundo

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Fecury Paulo S . J os é dos Indios

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Praia do Boqueirão S ÃO JO S É

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M irititua Ponta do Caura

população do município de São Luís está distribuída em um centro

ga
Vila Filipinho DE RIB AM AR
Santo G anharrinha
Bacanga
Anjo da Pindorama Sacavém Antonio Tijupá P au P elado
Ponta da Sá Viana Itapapidéu
Guarda Forquilha Q ueim ado

urbano com 112 bairros (que constituem a região semi-urbana) e 122


Madeira
Companhia Coroadinho Juaguaram a Janquara
Vale do Rio Doce Vila Embratel B oa V iagem

povoados (que formam a sua zona rural). Conforme registros do SÃO JOSÉ
Vila

SÃO LUÍS
Porto do S arney Costa
Itaqui
DE RIBAMAR
São Cristovão Cidade Operária
S ão B raz

Cadastro Técnico do Município de São Luís (1999) a cidade está dividida Conceiç ão Rio Jeripana

em 15 Setores Fiscais e 233 bairros, loteamentos e conjuntos


M acaco
F erv enta Cruzeiro de
S anta Sta. B árbara S antana

residenciais (Mapa “Estrutura Fundiária”).


B árbara
Tororom a B A I A D E S Ã O J O S É
Cajueiro P edreiras
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Grande Vila A ndiroba B om Jardim
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Tajaçuaba

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LIMITES DE MUNICÍPIOS
BR 135
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Estreito do Mojó
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Figura 1.1 - Palácio La Ravardière, sede do Executivo Municipal. Figura 1.2 - Localização geográfica e limites dos municípios da Ilha de São Luís.
12 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

2 CARACTERÍSTICAS ATUAIS DO MEIO FÍSICO-BIÓTICO E UNIDADES DE PAISAGEM 1, 2


O estágio de desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa mineral no Estado do Maranhão na década de
80, segundo o Departamento Nacional da Produção Mineral - DNPM (1987), não permitiam uma avaliação
melhor do potencial de exploração econômica dos recursos minerais do Estado. A área em estudo – São Luís
2.1 Clima
e seus municípios vizinhos - também se apresentava naquela década como um reflexo da situação estadual.
A arrecadação do Imposto Único sobre Minerais - IUM, no Estado do Maranhão, e particularmente na
O clima de São Luís é do tipo AW, Tropical Chuvoso, segundo classificação de Koeppen área em estudo, foi naquela década pouco relevante na composição da receita total do Estado, refletindo o
(apud AYOADE, 1986). Apresenta precipitações pluviométricas médias anuais de aproximadamente 2000 mm. fato de que a produção mineral do Estado do Maranhão era modesta e restrita a poucos bens minerais.
O regime de chuvas nessa área apresenta-se bem pronunciado, em dois períodos com características Ocorreram e ainda ocorrem destaques localizados em nível Estadual de alguns minerais e rochas, tais como
distintas. O primeiro caracteriza-se por uma estação seca, compreendendo o período julho a dezembro, os granitos de Rosário, o ouro dos garimpos da região da bacia hidrográfica do Gurupi (Centro Novo do
atingindo o clímax em dois meses não necessariamente repetitivos dentro deste período. O segundo, ao Maranhão) e o calcário de Codó, Balsas e Brejo.
contrário, é caracterizado por uma estação chuvosa, no período janeiro a junho, também atingindo geralmente A exploração mineral em São Luís atualmente se dá em sua quase totalidade sobre material destinado
as máximas precipitações em dois meses dentro deste período (abril e maio, normalmente), onde raramente à construção civil, especialmente da areia e de pedra bruta (laterita) o que leva à degradação de imensas
se encontram precipitações mensais inferiores a 200 mm. Este regime de chuvas, associado à evapotranspiração áreas na zona rural do Município, a exemplo de grande parte do território que compõe a APA do
na região (balanço hidroclimático), provoca a reposição de água ao solo com o excesso de água observado Maracanã (Fig. 2.1). Outros materiais como a argila e fragmentos de rocha são explorados esporadicamente para
entre os meses de fevereiro a maio. A retirada da água armazenada no solo se dá entre os meses de julho e fins medicinais e de ornamentação.
novembro por meio da evaporação e evapotranspiração e em função da escassez de chuva e das elevadas
temperaturas durante o dia. Os meses de excesso hídrico são caracterizados por intenso escoamento superficial,
o que gera problemas relativos à erosão hídrica e perdas de solos.
A região em estudo se encontra dentro do chamado cinturão equatorial, o que lhe confere temperaturas
elevadas (média 26,1°C) e pequenas amplitudes anuais (7,1°C). As maiores variações de temperatura se dão
entre o dia e a noite (8,5°C de amplitude) em comparação com as variações de sazonalidade.
Os ventos predominantes na região são de direção NE (nordeste), com velocidades da ordem de
3 m/s com ocorrências significativas de vento E (leste), sendo mais freqüentes e intensos na estação seca,
provocando, desta forma, maiores concentrações de poeira nesta época. No período diurno predominam os
ventos mais estáveis durante todo o ano, o que favorece a dispersão atmosférica de poluentes. Já no período
noturno as constantes calmarias na estação chuvosa, associadas às classes de estabilidade de vento, prejudicam
a dispersão dos poluentes atmosféricos durante essa época do ano.
Ocorrem algumas variações de temperatura de área para área dentro do território de São Luís em
função da formação de microclimas. Em áreas de acentuada urbanização (o Centro Histórico, por exemplo) é
comum um aumento de temperatura durante o dia em comparação com áreas onde há uma vegetação densa
e a presença de riachos com suas matas ciliares (no Maracanã, por exemplo).

2.2 Geologia / Recursos Minerais

Os estudos das características geológicas de São Luís identificam que o seu território está assentado
basicamente em duas formações: Depósitos Eólicos e Formação Itapecuru.
A Formação Itapecuru é a mais importante das duas formações: data do Cretáceo Superior, abrange
cerca de 50% do território do Estado e assume posição de destaque, seja pelas suas dimensões seja pela sua
importância econômica e social. Apresenta morfologia típica representada por topografia de baixas altitudes, Figura 2.1 - Área de extração de areia na APA do Maracanã.
numa faixa de 30 a 60 metros. É composta por sedimentos com alto grau de intemperização, normalmente
arenosos e siltosos, que apresentam uma baixa capacidade de troca catiônica (CTC) o que implica em baixa 2.3 Geomorfologia
fertilidade química dos solos (MOURA, 2004).
Os Depósitos Eólicos constituem ambientes de sedimentação mais recentes que a Formação Itapecuru São Luís está situada em toda a sua extensão no domínio geomorfológico Golfão Maranhense,
e apresentam uma forte presença de areia (quartzo) que dá aos solos nessa Formação originados, uma baixa subdivindindo-se segundo o Zoneamento Costeiro do Estado do Maranhão (2003) em Tabuleiros Costeiros
fertilidade química, ou seja, baixa aptidão agrícola. (unidade dominante) e Baixada Litorânea (nas regiões estuarinas que circundam a Ilha). Essa unidade
O substrato da Bacia de São Luís é representado por arenitos, siltitos e folhelhos do cretáceo superior, geomorfológica é resultante de uma série de processos de erosão, de soerguimento e de transgressão
compondo o Membro Psamítico da Formação Itapecuru. Estes litotipos afloram em pontos restritos da área marinha, que originaram numerosas lagoas fluviais, extensas várzeas inundáveis, áreas colmatadas
como nas falésias de Alcântara e próximas ao farol do Itacolomi; no farol de São Marcos e Porto do Itaqui na (sedimentadas) e um sistema hidrográfico divagante e labiríntico. É uma planície flúvio-marinha, formada
Ilha do Maranhão, inferindo-se como ambiente de deposição desta unidade o lagunar (GEAGRO, 2003). pela deposição/erosão dos sistemas de drenagem dos rios Mearim, Itapecuru e Munim.
As áreas de maior hipsometria coincidem com os Tabuleiros Costeiros, que na linha de costa são
acompanhados pela Baixada Litorânea, resultante do afogamento de rios encaixados nas bordas dos tabuleiros
1
Marcelino Silva Farias Filho, Geógrafo e Historiador; pelo mar, posteriormente convertidos em planícies aluviais e de marés, sob efeito das flutuações do nível do
2
Raimunda N. Fortes Carvalho Neta, Bióloga. mar e das alterações climáticas que afetaram a região no Quaternário (Mapa “Hipsometria”).
14 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Ao longo da Baixada Litorânea - baía de São Marcos (praia do horizonte A para B) garantem, na maioria dos casos, uma boa
Olho d’Água, por exemplo) - ocorrem terraços de abrasão marinha e resistência desses solos à erosão (GUERRA, 2001) quando este está
falésias esculpidas em rochas cretácicas e terciárias, dispostas provido de vegetação. Essa boa drenagem impede problemas com
perpendicularmente à costa (GEAGRO, 2003). alagamento provocado por excesso de chuva, problemas muito comuns
Os processos de denudação e de sedimentação em São Luís na maior parte dos solos da Formação Itapecuru. Apesar de possuir
são acelerados pelas chuvas intensas que atingem uma média de uma estrutura razoavelmente boa, esses solos não permitem uma
2000 mm ao ano e dão à topografia uma tipologia composta mecanização, pois, o revolvimento de suas camadas superficiais os
essencialmente por elevações de pequenas altitudes. expõe aos impactos diretos das chuvas e aos rigores dos raios solares,
o que implica em perdas no que se refere à matéria orgânica (que é
As cotas altimétricas estão situadas basicamente nas faixas de
queimada e “lavada” no local), a estrutura física e, em conseqüência,
0-15 e 15-30 metros, com poucas áreas situadas a mais de 45 metros
a sua produtividade. Dessa maneira, o desenvolvimento da agricultura
de altura em relação ao nível do mar.
na região é limitado pela baixa aptidão agrícola dos solos, cujos reflexos
Essa hipsometria contribui para a minimização de problemas se dão nas reduzidas colheitas e na reduzida produtividade das áreas
relativos a desmoronamentos e erosão nas áreas urbanas, à exceção plantadas em função da deficiência de nutrientes nesses solos.
das áreas já bastante degradadas pela ação antrópica (Mapa “Hipsometria
A redução das áreas cultiváveis, por outro lado, tem relação
Zona Urbana”). Por outro lado, as áreas de baixas cotas altimétricas,
direta com a situação fundiária baseada na concentração de terra
situadas em regiões próximas a manguezais e corpos d’água em geral
(que é uma realidade do Maranhão como um todo) e com a inutilização
estão sujeitas a alagamento. Isso é muito visível em áreas do bairro São
de extensas áreas para a produção de alimentos o que também
Francisco, Renascença (proximidades do Tropical Shopping e campus
contribui para a inibição do desenvolvimento da agricultura.
do UNICEUMA), parte da Alemanha, Vila Júlia e outros.
A degradação dos solos está ligada aos efeitos do sistema de
Os cursos d’água existentes em São Luís, ao seguirem os
corte e queima tradicionalmente utilizados no cultivo da terra
pequenos desníveis da topografia assumem uma forma meandrante,
(Fig. 2.2), à inserção de pastagens nessas áreas, ao desmatamento
característica de cursos d’água senis, ou seja, aqueles em que
para fins de urbanização, às queimadas criminosas, extração mineral
predomina a sedimentação em função das pequenas declividades do
de areia, argila e laterita (Fig. 2.3), à extração de madeira nas zonas
terreno o que os tornam mais suscetíveis ao assoreamento.
de capoeira para uso doméstico e comercial (Fig. 2.4), dentre outros.
Toda a área litorânea está sujeita a deposição de uma grande É importante ressaltar que essa degradação vem se intensificando na
quantidade de sedimentos, devido aos processos erosivos fluviais, zona rural de São Luís, numa faixa que vai desde o eixo Itaqui-Bacanga
marinhos e flúvio-marinhos. até as proximidades do bairro Cidade Olímpica, estendendo-se, inclu-
sive, para o território da APA do Maracanã e do Parque Estadual do
Bacanga, áreas legalmente protegidas no Município. Figura 2.3 - Área de extração de barro e laterita na APA do Maracanã.
2.4 Solos e Aptidão Agrícola

Grande parte do território do município de São Luís está


assentada na Formação Itapecuru e isso faz com que os seus solos
apresentem limitações para o desenvolvimento de algumas práticas
agrícolas, o que implica em reflexos sociais e econômicos para a
população que vive diretamente da agricultura. Isso porque, esses
solos apresentam uma forte presença de areia (quartzo) e de minerais
do grupo das caulinitas o que significa que os mesmos apresentam
uma baixa capacidade de troca catiônica (CTC) e, conseqüentemente,
uma baixa fertilidade química.
As altas condições de umidade e de temperatura da região dão
à paisagem uma morfologia típica representada por pequenas
elevações de topos arredondados e aos sedimentos um alto estado
de intemperização por meio do qual se formaram predominantemente
Plintossolos e Latossolos.
Em São Luís como um todo, o Latossolo vermelho-amarelado
(bastante propício ao cultivo de mandioca) é o solo predominante. No
entanto, existem manchas de Plintossolos (caracterizado pela forte
presença de plintita e laterita), pequenas manchas de Neossolos
Flúvicos (solos aluvionares, ou seja, formados pela deposição de
sedimentos dos rios) e sedimentos inconsolidados de mangue.
Os Latossolos, de um modo geral, apresentam reduzida
suscetibilidade à erosão. A boa permeabilidade e drenabilidade e a
baixa relação textural B/A (pouca diferenciação no teor de argila do Figura 2.2 - Corte e queima de vegetação para roças. Figura 2.4 - Madeira extraída de áreas de capoeira da APA do Maracanã.
16 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Em outras palavras, a redução de áreas cultiváveis decorrente


da concentração fundiária e da degradação ambiental gerou uma forte
pressão sobre as poucas áreas restantes (que normalmente coincidem
com áreas protegidas) o que implica numa queda de produção agrícola,
numa redução da segurança alimentar dos agricultores familiares e,
por conseqüência, num forte agravamento dos problemas ambientais
(Mapa “Degradação Ambiental”).
A pressão do aumento populacional gerou a ocupação de grande
parte dos solos de São Luís, inclusive em áreas demarcadas para a
constituição de APA’s (Itapiracó e Maracanã) e Parques (Estadual do
Bacanga). Essa ocupação urbana pode ser mencionada como um dos
agravantes dos processos erosivos associados aos desmatamentos
em casos como o do Bairro Coroadinho, Parque Pindorama e
imediações da APA do Itapiracó.
É importante ressaltar que os problemas ambientais do Município
estão diretamente ligados a outros problemas de não menor gravidade.
A exploração madeireira para o fabrico do carvão (utilizado em
atividades domésticas) e para diversas outras atividades (construção
de cercas, alimentação de fornalhas de panificadoras, construção civil
em geral) agravam ainda mais os problemas de degradação dos solos
de São Luís.

2.5 Uso Atual dos Solos

O uso atual dos solos em São Luís está intimamente ligado a


todo um processo histórico de uso e ocupação que remete aos atributos
edáficos de natureza física, química e biológica. As limitações agrícolas Figura 2.5 - Cultivo de frutíferas, tais como manga, caju, abacate, goiaba, banana, mamão dentre outras.
dos solos, aliadas às condições de clima e de vegetação degradada e
ao domínio de terras, atualmente inibem o desenvolvimento da
Os produtos normalmente cultivados são: mandioca, milho, feijão e vírus) e com a falta de preparo e planejamento dos agricultores na
agricultura em São Luís. aplicação de agrotóxicos.
hortaliças em geral.
Historicamente, a prática da agricultura na região esteve Grande parte dos solos de São Luís que ainda não foi urbanizada
Dentre os produtos agrícolas mais cultivados, a mandioca as-
associada à capacidade de regeneração das áreas exploradas e a está hoje ocupada por vegetação frutífera perene e isso acaba
sume posição de destaque em São Luís, tanto em produção quanto
uma itin erância ne cessá ria a o si stema de corte e que ima limitando outras práticas agrícolas, já que há uma redução de áreas
em área cultivada. O cultivo da mandioca é bastante difundido em
(roça no toco). disponíveis para o cultivo de grãos e hortaliças. As plantas mais
fun ção da a daptação des ta planta às con diçõ es de ba ixa cultivadas são: manga, caju, abacate, goiaba, banana, mamão dentre
A sucessão secundária em áreas de capoeira e a ciclagem de fertilidade química dos solos e à sua pequena suscetibilidade ao ataque outras (Fig. 2.5).
nutrientes desenvolvida ao longo dessa feição se configuraram, então, de pragas e doenças. O cultivo de árvores frutíferas segue a lógica de aproveitamento
como fatores essenciais para a sustentação da agricultura local
A olericultura é também significativa em São Luís, seja pelo das áreas de baixa fertilidade química e manutenção de uma cobertura
(FERRAZ JÚNIOR, 2000).
alto valor comercial dos produtos cultivados, seja pela exigência de vegetal perene diversificada, o que contribui para a redução dos
No entanto, práticas agrícolas que antes se mostravam uma pequena área para a instalação do plantio. Entretanto, o cultivo processos erosivos comuns nas áreas de cultivo de grãos, onde os
eficientes do ponto de vista ambiental e da sustentação de uma de hortaliças está normalmente vinculado à contaminação dos solos solos ficam por um período significativo do ano expostos aos raios
produtividade vêm se mostrando problemáticas diante de um solares e ao rigor das precipitações pluviométricas. Entretanto, é muito
e dos próprios produtos em função do uso exagerado de agrotóxicos.
aumento da densidade populacional e de uma redução das comum os quintais ou sítios terem a sua vegetação rasteira e mate-
Esse problema relaciona-se diretamente à alta incidência de pragas e
áreas cultiváveis. rial orgânico retirados nas “limpezas” rotineiras feitas pelos
doenças nas áreas de cultivos que tem íntima ligação com a degradação proprietários e isso implica em problemas relativos à perda da camada
Apesar das limitações dos solos de São Luís, a agricultura fa- dos solos e da vegetação das áreas do entorno, com a forte presença mais superficial dos solos e a prejuízos no processo de ciclagem
miliar de subsistência ainda é bastante presente na zona rural. de fitopatógenos na fauna do solo (nematóides, fungos, bactérias e de nutrientes.
18 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Além da agricultura, o uso dos solos para a criação de animais assume importância no contexto do A presença da unidade hidrogeológica Formação Barreiras, cujos afloramentos representam os
Município, apesar de, na maioria dos casos, os rebanhos serem formados por um pequeno número de mananciais do Paciência e do Cururuca, é de grande importância para o sistema de abastecimento de água da
animais. A avicultura, bovinocultura, caprinocultura e piscicultura são as atividades de maior destaque CAEMA. Os poços de média profundidade situam-se entre 60 a 70 m; já os mais profundos operados pela
neste setor. CAEMA atingem de 80 a 140 m de profundidade.
É comum o uso dos solos na Ilha do Maranhão para fins de extração mineral. A atividade mineradora Parte do volume total do consumo de água na ilha de São Luís é suprida pelos mananciais subterrâneos,
centra-se basicamente na exploração de jazidas de areia e de pedra (laterita) para a construção civil. sendo que, o limitante da capacidade de exploração desses lençóis é a infiltração de águas salobras.
Normalmente essa atividade é feita sem licença do IBAMA. Estudos de Hidrologia feitos pelo GERCO (1998), aplicou o Índice de Qualidade de Água (IQA), adotado
Em geral, a clandestinidade se dá pela não possibilidade de licenciamento da atividade mineradora pela CETESB, às bacias de diversos rios dos municípios da Ilha de São Luís, utilizando para o cálculo do IQA
pelo órgão competente, uma vez que a maioria das áreas exploradas estão encravadas em áreas protegidas os seguintes parâmetros: temperatura, oxigênio dissolvido, DBO, pH, coliformes, nitrogênio total, fósforo
por lei (Parque Estadual do Bacanga, APA do Maracanã e em regiões muito próximas a manguezais e corpos total, turbidez e sólidos totais. Foram consideradas “aceitáveis” as bacias do rio Paciência, Cururuca (embora
d’água). Essa ilegalidade acaba acelerando a degradação das áreas exploradas e não permitindo o seu afluente da Mata seja considerado impróprio), dos Cachorros e Tibiri (embora o afluente da Ribeira esteja
desenvolvimento de políticas (previstas em lei) voltadas para a reabilitação ou reutilização das áreas degradadas impróprio). Foi considerada como “bom” a Bacia do Rio Jeniparana, e “impróprio” as Bacias Oceânicas de São
pelas atividades mineradoras. Luís (litorânea), uma vez que funciona como receptáculo de dejetos produzidos pela região urbanizada.
A extração de pedra e de areia já é a maior causa dos processos erosivos observados na APA do Estudos mais recentes têm confirmado o grau de contaminação microbiológica das águas da Ilha de
Maracanã e em diversos pontos do eixo Itaqui-Bacanga. Além disso, provoca também perda da qualidade São Luis. Em dois projetos distintos, o Laboratório de Hidrobiologia (LABOHIDRO) da UFMA diagnosticou
das águas e assoreamento da maioria dos pequenos cursos d’água em função da grande carga de sedimentos índices excepcionais de coliformes e bactérias patogênicas nas águas dos rios Bacanga e Anil, bem como em
neles depositados (Fig. 2.6). alguns poços e nascentes da bacia do rio Bacanga que são utilizados para o abastecimento da população
(ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2003).
2.6 Recursos Hídricos Superficiais e Hidrogeologia

A Ilha de São Luís conta com uma grande quantidade de cursos d’água de pequeno volume,
desembocando em superfícies inundáveis pela maré e áreas cobertas de mangues. Ao longo do ano esses
cursos d’água sofrem reduções em seus volumes, devido ao clima da região, porém não chegam a caracterizar
rigores de uma seca.
Para efeitos de planejamento e gestão, as bacias hidrográficas do Município foram classificadas pelo
Plano de Paisagem Urbana da Prefeitura de São Luís (2005) em: Estiva, Inhaúma, Cachorros, Itaqui, Tibiri,
Bacanga, Anil, Paciência e Praias (Mapa da Ilha de São Luís - “Bacias Hidrográficas”).
A hidrografia de São Luís é formada pelos rios Anil, Bacanga, Tibiri, Paciência, Maracanã, Calhau,
Pimenta, Coqueiro, Cachorros e Represa Bacanga. São rios de pequeno porte que deságuam em várias
direções, abrangendo áreas de dunas e praias, sendo que os rios Anil, com 13.800 m de extensão, e
Bacanga com 9.300 m, drenam para a Baía de São Marcos, tendo em seus estuários áreas cobertas de
mangues, cuja hidrodinâmica é influenciada pelas marés que chegam a atingir em média 7 metros
(GERCO, 1998).
Os rios Bacanga, Anil, Tibiri, Paciência e Cururuca formam, na Ilha de São Luís, as principais
bacias hidrográficas locais. A bacia do Anil é a mais populosa com cerca de 244.982 habitantes, seguida
pela bacia do Bacanga com 224.742 habitantes (Mapa Urbano de São Luís - “Bacias Hidrográficas”).
Todavia, o rio Itapecuru, situado fora da Ilha no município de Rosário, é o maior da região para
aproveitamento como manancial de abastecimento, mas de acordo com MARANHÃO (1991), a qualidade
das águas desse rio já está prejudicada em muitos trechos em função de projetos agropecuários
implantados em seus vales que utilizam insumos tóxicos nas atividades agrícolas, além da poluição
residuária doméstica do crescente contingente populacional de sua bacia.
As bacias locais mais importantes em termos de mananciais para abastecimento da Ilha de São Luís
são as do Paciência, Itapecuru e Cururuca. Deve-se acrescentar a estas o subsistema do Sacavém, que não
constitui uma bacia hidrográfica, mas um complexo de abastecimento que agrega seis riachos e a barragem
de acumulação do Batatã. Figura 2.6 - Curso d’água com forte presença de sedimentos.
20 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Atualmente, as bacias hidrográficas do Município apresentam- e) pesca predatória – atividade ainda desenvolvida na maioria A água, pelas suas características de solvente universal,
se impactadas, variando apenas a intensidade das ações antrópicas das bacias hidrográficas, constituindo uma ameaça à ictiofauna incompressibilidade e alto calor específico é o depositório natural de
em cada uma delas. Dentre os problemas observados pode-se destacar: por ser praticada de maneira predatória, gerando sérios impactos todos os poluentes e impactos ambientais ocorrentes na bacia
para o ambiente como o despovoamento das águas de espécies hidrográfica. Conseqüentemente, seu monitoramento é um excelente
a) compactação dos solos – muitas residências são construídas
nativas em detrimento daquelas inseridas acidentalmente pela indicador de qualidade ambiental. Acrescente-se a estas vantagens,
muito próximas aos rios o que ocasiona a retirada da vegetação
o fato de existir legislação ambiental abundante sobre os parâmetros
de mata ciliar ou substituição da mesma por matas de sítios; piscicultura (por exemplo a tilápia, Oreochromis sp.) e pela
para monitoramento de corpos hídricos (por exemplo, a RESOLUÇÃO
além disso, a construção de vias de acesso intensificam mais carcinicultura (por exemplo o camarão gigante da Malásia,
CONAMA 020), e tecnologia acessível para monitoramento eficiente
ainda a compactação dos solos das margens dos rios, Macrobrachium sp.).
de grandes extensões hídricas (ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO
impermeabilizando-as parcialmente e intensificando o Sabe-se que não é possível discutir a sustentabilidade ambiental DO MARANHÃO, 2003).
escoamento superficial e, consequentemente, a sedimentação sem se avaliar o papel dos diversos usos dos cursos d’água.
e o assoreamento dos cursos d’água, especialmente nas Áreas
de Proteção Ambiental (Figs. 2.7 e 2.8);
b) retirada da cobertura vegetal – a cobertura vegetal das
margens dos rios é, em geral, caracterizada pela presença
de juçarais e buritizais, ou, no caso de sua substituição
quando da construção de residências, matas de sítios;
essa vegetação vem passando por sérios problemas pela
extração indiscriminada de algumas espécies para utilização
na construção civil e fabrico de carvão, tais como o
guanandi ( Symphoni globulifera ), a andiroba ( Carapa
guianensis), a juçareira (Euterpe oleracea) e o buritizeiro
(Mauritia flexuosa);
c) processos erosivos – as principais bacias hidrográficas de
São Luís vêm passando por um constante processo de erosão
Figura 2.7 - Águas do rio Maracanã, escoando sob ponte ferroviária
em toda a sua extensão devido a degradação da mata ciliar, a
extração mineral nas proximidades dos cursos dos rios e a
construção de novas vias de acesso em suas proximidades,
atividades que estão associadas ao processo de expansão
urbana e que têm como conseqüência principal o assoreamento
dos rios (Fig. 2.9);
d) despejo de dejetos sólidos e líquidos – em todas as bacias
hidrográficas de São Luís há problemas relativos ao despejo de
esgotos domésticos e industriais; na bacia do Tibiri, há o despejo
de resíduos líquidos da maior parte dos complexos industriais
ali instalados e problemas de contaminação provenientes da
infiltração e escoamento superficial do chorume do Aterro da
Ribeira; na bacia do Anil destaca-se o despejo de esgotos
domésticos e industriais da Merck; na bacia do Paciência,
ocorre despejo de esgotos domésticos e provenientes de
postos de lavagem de automóveis; na bacia do Itaqui, os
dejetos líquidos domésticos e a deposição de rejeitos de
matadouros clandestinos são muito comuns; além disso, em
todas as bacias há deposição de resíduos sólidos junto às
margens e no leito dos rios, mesmo havendo coleta regular
de lixo na maioria dos bairros; Figura 2.8 - Ponte ferroviária sobre o rio Maracanã. Figura 2.9 - Curso d’água assoreado na APA do Maracanã.
22 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

2.7 Cobertura Vegetal da praia (Cavalia rosea), murici (Byrsonima sericea), gramíneas foi utilizada pelos curtumes para tingir couro. Além disso, a madeira é
(Panicun racemosun) entre outras. As restingas constituem uma área usada para construção civil e, no início do século XX, foi largamente
de proteção contra a ação erosiva do mar. utilizada como lenha nas caldeiras das indústrias têxteis e como
A cobertura vegetal de São Luís varia de acordo com as
Nos apicuns e marismas (Fig. 2.11) dominam gramíneas e dormentes na Estrada de Ferro São Luís–Teresina.
características do relevo, a proximidade dos cursos d’água e o grau
de alteração antrópica que, em alguns trechos, provoca a vegetação de junco com inflorescência apical. Esses ambientes podem Já as outras espécies de mangue são usadas basicamente como
predominância de determinadas feições e espécies. ser descritos como salinas naturais, desenvolvendo-se entre o nível lenha, devidoamáqualidadedamadeira. O“manguesiriba”( Avicennia
das preamares equinociais e o nível das preamares de quadratura. germinans e A. schaueriana) forma uma segunda linha (atrás do
Historicamente, pouco se conhece sobre a composição florística,
Entre as espécies que ali de desenvolvem pode-se citar Spartina mangue vermelho), acompanhando as margens dos rios, geralmente
a estrutura e a distribuição das diferentes formações vegetais (com
alterniflora, Fimbristilis spadicea, Blutaparon portulacoides, Sporobolus na parte protegida próxima a interface entre a água e a terra
seus subtipos) de São Luís. Assim, para efeitos de uma análise
virginicus e Sesuvium portulacastrum. Também é freqüente a espécie (Fig. 2.13); essa vegetação, mais tolerante às altas salinidades, elimina
inicial, as formações vegetais do município foram divididas em
Batis marítima, constituída de oxalato de cálcio e sódio, apresentando o sal do interior da planta através de estômatos localizados na superfície
três grupos fisionômicos: formações pioneiras, matas secundárias
suas folhas salgadas, além de algumas ciperáceas (gêneros Scipus, das folhas e apresenta raízes aéreas conhecidas como pneumatóforos.
e vegetação frutífera.
Eleocharis , Crenea ). Essa vegetação serve ocasionalmente de O “mangue branco” (Laguncularia racemosa) apresenta folhas com
pastagem para bovinos e outros animais. pecíolo avermelhado com duas glândulas na base e também apresenta
a) Formações pioneiras Nos ecossistemas de manguezais, o “mangue vermelho” pneumatóforos (Fig. 2.14); as folhas dessa espécie é utilizada por
As formações pioneiras representam as primeiras fases do estágio (Rhizophora mangle) é a espécie mais conhecida ao longo do litoral uma espécie de caranguejo muito explorada comercialmente conhecida
sucessório de uma região ecológica. Em São Luís, essas feições estão (especialmente pela presença das raízes escoras ou rizóforos) e ocupa como caranguejo uçá (Ucides cordatus). O “mangue de botão”
representadas por áreas de influência marinha tais como dunas e restingas a linha costeira e a desembocadura dos rios, sendo tolerante ao (Conocarpus erectus) ocorre de modo espaçado e geralmente em
e áreas de influência estuarina como os manguezais e ecossistemas alagamento por longos períodos (Fig. 2.12). Seu sistema de reprodução locais bastante arenosos, na transição para a terra firme (2.15);
associados tais como apicuns e marismas (Mapa “Cobertura Vegetal). se dá através de propágulos que se desprendem da árvore-mãe prontos essa planta não apresenta grande tolerância à salinidade típica
para germinar (viviparidade). A casca da árvore é rica em tanino dos manguezais e é identificada por sua inflorescência de forma
Nas dunas e restingas (Fig. 2.10) predominam uma vegetação
(substância de cor avermelhada e impermeabilizante), que historicamente arredondada, originando uma infrutescência (muitos frutos juntos).
rasteira, dominada por salsa da praia (Ipomoea pes-caprae), feijão

Figura 2.10 - Vegetação de dunas. Figura 2.12 - Rhizophora mangle, mostrando as raízes escoras. Figura 2.14 - Laguncularia racemosa em associação com Spartina.

Figura 2.11 - Vegetação de apicum. Figura 2.13 - Avicennia sp., em terrenos mais arenosos. Figura 2.15 - Conocarpus erectus.
24 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Estudos realizados em todo o Estado do Maranhão mostram que a Ilha de São Luís é a região onde se
observa a maior degradação dos manguezais, destacando-se as atividades portuárias, o crescimento
desordenado das cidades, a ausência de saneamento, as atividades industriais e as práticas predatórias de
pesca e plantio como geradoras de erosão, assoreamento, desmatamento, poluição e diminuição da
biodiversidade nos manguezais (MOCHEL et all., 2001). A perda da área de manguezais na Ilha de São Luís
no período de 1972 a 1993 foi muito grande de acordo com os dados obtidos por REBELO-MOCHEL (1997):
em 1972 a área estimada era de 28.800 hectares, em 1979 foi reduzida para 23.200 ha, em 1991 para 20.730
e em 1993 restavam apenas 18.900 hectares, distribuídos em franjas ao longo da linha de costa, em depressões
(bacias) atrás das praias e dunas e nas margens de rios e igarapés.
A degradação dos manguezais acelerou-se no período de 1991 a 1993. A perda da área de manguezais,
em dois anos, foi da ordem de 2.000 ha contra 5.000 ha em vinte anos. Em contrapartida, os esforços para
a conservação dos manguezais têm aumentado na última década, tanto pelos novos conhecimentos trazidos
pela pesquisa (MOCHEL, 2002), quanto por ações de organizações não-governamentais, do ministério público,
do batalhão florestal, do IBAMA e por uma maior conscientização popular (ZONEAMENTO COSTEIRO DO
ESTADO DO MARANHÃO, 2003).

b) Matas secundárias
As chamadas matas secundárias correspondem às formações provenientes da devastação de
florestas pioneiras que se regeneram naturalmente nas áreas afetadas. A sucessão ecológica pode
atingir diferentes características, definindo formas diferenciadas de cobertura, tais como “capoeira aberta”
e “capoeira fechada”.
Nas “capoeiras abertas” (Fig. 2.16), são encontradas espécies arbustivas como jurubeba (Solanum
caavurana e S. grandiflorum), língua de vaca ou erva grossa (Elephantopus scaber), malícia (Mimosa sensitiva),
mamona ou carrapateira (Ricinus communis), pião-roxo (Vitex spongiocarpa), tucum (Bactris maraja), imbaúba
(Cecropia scyadophylla), urtiga (Urtica urens) e várias plântulas das espécies de capoeira fechada.
Já nas “capoeiras fechadas” (Fig. 2.17 e 2.18) são encontradas espécies nativas arbóreas em diferentes
estados de recuperação, tais como babaçu (Orbignya speciosa), pau d’arco (Tecoma serratifolia), andiroba
(Carapa guianensis), angelim (gêneros Diniza, Pithecolobium e Hymenplobium), guanandi (Symphoni
globulifera), juçara (Euterpe oleracae), buriti (Mauritia flexuosa), açoita-cavalo (Luthea grandifolia), pati
(Syagrus botryophora), embaúba (Cecropia scyadophylla), visgueiro (Parkia pendula), pente-de-macaco
(Pithecoctenium echinatum), sabiá (Minosa caesappinaefolia), marfim (Melochia umbelata), janaúba (Plumeria
sucuba), goiaba do mato ou de porco (Myrciaria floribunda) entre outras. Algumas dessas espécies ainda em
estágio jovem de sucessão são exploradas comercialmente, especialmente em bairros como Sá Viana, Gapara,
Maracanã, Vila Maranhão, Vila Cascavel (Mapa urbano de São Luís - “Cobertura Vegetal”).

Figura 2.16 - Capoeiras abertas. Figura 2.17 - Tucunzeiro em capoeira fechada. Figura 2.18 - Capoeira fechada em avançado grau de regeneração.
26 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

c) Vegetação frutífera Esses e outros impactos ambientais, associados à diminuição vez que todas as atividades econômicas necessitam de água para seu
A vegetação frutífera (Fig. 2.19) é característica das áreas gradativa de hábitats favoráveis à manutenção da fauna e da flora, sucesso, e que a água utilizada em qualquer atividade humana retorna
de sítios ou chácaras de particulares, cuja produção de frutas podem ser observados em outras áreas legalmente protegidas no ao corpo de água estuarino ou marinho através do ciclo hidrológico.
destina-se ao consumo e, em alguns casos, à comercialização. munícipio, muito mais fortemente na Área de Proteção Ambiental do Assim, a presença de um grande contingente populacional nas áreas
Entre as espécies mais comuns, destacam-se: abricó (Mammea Maracanã (Decreto Estadual nº 12.103), na Área de Proteção Ambiental metropolitanas da Ilha de São Luis ofusca o potencial hídrico,
americana), abacate (Persea americana), abacaxi (Ananás sativus), do Itapiracó (Decreto Estadual nº 15.618) e Zona de Reserva Florestal minimizando seu potencial para a absorção de diferentes problemas
ata ( Annona squamossa), azeitona (Syzygium jambolana), bacuri do Sacavém (Lei nº 3.253) que ainda não possuem Plano de Manejo. ambientais.
(Plantonia insignis), banana (Musa paradisíaca), cacau (Theobrona Estudos ecológicos executados até o momento evidenciam uma
cação), cajá (Spondias macrocarpa), caju (Anacardium occidentallis), 2.8 Complexo Estuarino redução na produção do sururu na região estuarina do Coqueiro e do
carambola (Averrhoa carambola), coco (Cocos nucifera), cupuaçu Estreito dos Mosquitos, além de certa contaminação dos moluscos
(Theobrona grandiflorum), fruta-pão (Artocarpus communis), goiaba por metais pesados (cromo), devido principalmente à presença de
(Psidium guajava), graviola (Annoma muricata), jaca (Artocarpus O sistema estuarino constitui uma espécie de barreira química indústrias de curtumes, fabricação de tintas, entre outras (LABOHIDRO/
integrifólia), jambo vermelho (Eugenia Malaccensis), jenipapo (Genipa e geoquímica entre tudo que é transportado pelo rio, originado UFMA, 2001).
americana), limão (Citrus limonum), mamão (Carica papaia), manga natural ou artificialmente, em direção ao sistema oceânico
(Manjifera indica.), maracujá (da família das passifloráceas), pitomba Os peixes da Ilha de São Luís têm sido drasticamente afetados.
(ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2003). Em 1987 MARTINS-JURAS et al verificaram predomínio das famílias
(Sapindus esculentos), tamarindo (Tamarindus indica) entre outras.
A ilha de São Luís faz parte de um grande complexo estuarino Ariidae (bagres), Mugilidae (tainhas), Sciaenidae (pescadas) e Engraulidae
denominado Golfão Maranhense, que é caracterizado como uma (sardinhas), tanto em número de indivíduos como de espécies no estuário
planície flúvio-marinha formada nos estuários afogados dos rios do rio Anil. Em 2003 PINHEIRO-JÚNIOR observou dominância das
Mearim, Itapecuru e Munim, constituindo uma região rebaixada com espécies Arius herzbergii (bagre guribú), Mugil curema (tainha sajuba),
numerosas lagoas fluviais, extensas várzeas inundáveis, áreas Pseudauchenipterus nodosus (papista) e Mugil gaimardianus (tainha
colmatadas e um sistema hidrográfico divagante e labiríntico. pitiu), representando cerca de 87% das espécies capturadas, não sendo
mais tão frequentes organismos da família Sciaenidae, de maior valor
Toda a região está sob influência da maré que apresenta ampli-
comercial. Além disso, certas áreas apresentam índices de diversidade
tudes da ordem de 7 metros, provocando intensa invasão das águas muito baixos, como é o caso da Lagoa da Jansen, onde em um período
marinhas no continente e penetrando pelos vales dos rios de baixa de 12 anos foi observada uma redução de cerca de 60% no número de
declividade até dezenas de quilômetros. Este domínio de correntes espécies presentes na área (CASTRO et al. 2002). A frequência de captura
marinhas altera as condições de transporte de sedimentos fluviais, de certas espécies dominantes nos estuários pela pesca artesanal também
resultando na formação de bancos de sedimentos e planícies aluviais. diminuiu drasticamente, segundo entrevistas com pescadores que ainda
As águas da região são tipicamente estuarinas e resultantes da exploram esses ambientes.
mistura das águas doces oriundas dos rios Pindaré e Mearim que Os derramamentos de óleo, com ocorrência na Ilha de São
lançam-se na baia de São Marcos, e dos rios Itapecuru e Munim que Luís, principalmente na zona de influência do Porto do Itaqui, e
desaguam na baia de São José. atividades portuárias que promovem circulação de material particulado
Figura 2.19 - Vegetação frutífera em sítios de particulares. em suspensão no ar e sua deposião sobre os manguezais, além de
As temperaturas elevadas, a salinidade ideal e a riqueza em
barragens, canalizações e drenagens interferem na circulação das
Vale ressaltar que a maioria das chácaras e sítios de particulares nutrientes, propiciam o desenvolvimento de intensa atividade biológica, marés e da água dos rios, provocando a mortalidade dos manguezais
estão encravados em áreas legalmente protegidas (Mapa do Município favorecendo a produtividade pesqueira. Outra característica importante (ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2003).
de São Luís - “Proteção Ambiental”), tais como o Parque Estadual do dessa mistura de sedimentos e material orgânico é a formação de
Resumidamente, os manguezais de São Luís, mesmo sendo
Bacanga (Decreto Estadual nº 7.545), que é uma Unidade de denso cinturão de manguezais que fornece um elo básico na cadeia legalmente protegidos pela legislação federal em toda a sua extensão
Conservação da categoria “Proteção Integral”, mas que possui cerca trófica através da ciclagem de nutrientes e material orgânico associados como Área de Preservação Permanente, estão sendo afetados pela
de 13 povoados, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde ao refúgio natural para organismos jovens, especialmente peixes, ação do homem, principalmente em função dos seguintes eventos:
(2002). Dados da ELETRONORTE de 2002 já mostravam que a área moluscos e crustáceos de importância comercial.
do Parque havia sofrido uma redução de cerca de 24%, devido a · aterro para construção de condomínios, clubes e casas (São
ocupações irregulares. As regiões estuarinas, por constituírem uma zona de transição Francisco, Renascença e Ponta d’Areia);
Mesmo sendo a única Unidade de Conservação no município de entre as águas continentais e marinhas, são as regiões mais duramente · desmatamento para a construção de palafitas (Jaracaty,
São Luís que apresenta Plano de Manejo (elaborado em 1992 pela atingidas pelas ações antrópicas. A especulação imobiliária e a Alemanha e Ivar Saldanha);
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Turismo, com apoio da ocupação desordenada das áreas litorâneas têm resultado na · despejo de esgotos (aterro do Bacanga e rio das Bicas);
Companhia Vale do Rio Doce) apresenta sérios problemas ambientais, destruição de manguezais por desmatamentos e aterros, invalidando · desmatamento e aterro para instalação de portos e marinas
vis to que a mai oria dos pro gram as propo stos não foram esta área, como espaço natural para atuações integradas entre a gestão de grande porte (Itaqui, Ponta da Madeira e Ponta da Espera);
implementados. Entre os impactos observados em campo podem-se costeira e o planejamento das bacias hidrográficas (CIRM, 1999). · pesca de arrasto para captura de camarão (foz dos rios Anil
destacar: extração de areia, no manancial na zona primitiva; extração Segundo dados levantados em campo pela equipe executora e Bacanga);
de madeira, em várias zonas, inclusive em mata de galeria; queimadas, · desmatamento e dragagens para mineração nas proximidades
do Zoneamento Costeiro do Estado do Maranhão (2003) os estuários
nas zonas de recuperação, uso extensivo e uso intensivo; do manguezal (bacia do Tibiri);
desmatamentos de áreas de juçareiras e buritizais; lixo acumulado na com maior pressão ambiental na zona costeira maranhense são aqueles
situados nas áreas metropolitana da Ilha de São Luis (rios Anil e · desmatamento para obtenção de lenha (toda a extensão dos
zona primitiva, adjacente à Vila Conceição; lixo acumulado na área do manguezais em São Luís);
Batalhão Florestal; pequenas áreas com cultivo de arroz, milho, ba- Bacanga). Tal zoneamento partiu do princípio de que o volume total
de água de superfície (marinha e estuarina) nas microbacias é um · descarga de materiais tóxicos provenientes de indústrias
nana e cana-de-açúcar nas zonas de uso extensivo e intensivo (bacia dos rios Anil e Tibiri).
(ANDRADE, 2003). bom indicador do potencial de absorção de impactos ambientais, uma
28 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

3 CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO Se a taxa média de crescimento anual do período de 2000 a A população ludovicense se distribui pelo território de forma
2005 fosse mantida (2,45% ao ano) a população de São Luís seria de desigual, em bairros, loteamentos e conjuntos habitacionais, com
Pelos dados do último censo demográfico do IBGE, 870.028 1.002.808 habitantes em julho de 2006, o que representaria mais de características e padrões distintos de ocupação.
pessoas viviam na Cidade de São Luís no ano 2000, com estimativa 80% da população de toda a Ilha. Vila Nova, Sá Viana, São Francisco, Olho D’Água, Bequimão,
de 978.824 habitantes para 2005. A população residente, considerada Quase a totalidade da população de São Luís (96%) vive na Vila Palmeira, Cohatrac, Coroadinho,Tirirical, Cidade Operária e Santa
pelo IBGE, constituiu-se de moradores que tinham seus domicílos área urbana e é representada na sua grande maioria por jovens de 10 Clara são só alguns exemplos entre os bairros com maior quantidade
como residência habitual e que, na data de referência do censo, a 19 anos e adultos da faixa etária de 20 a 29 anos (Fig. 3.1). de habitantes que compõem a Capital do Estado.
estavam presentes ou ausentes por período inferior a 12 meses Com relação ao sexo, o número de mulheres é superior ao de homens Como áreas menos povoadas destacam-se os bairros Ponta
(Tabelas 3.1 e 3.2). em 14%, o que equivale a 57.228 mulheres (Fig. 3.2). D’Areia, Renascença e Centro, este último devido a um processo de
Tabela 3.1 – População dos Municípios da Ilha de São Luís. FONTE: Faixa Etária da esvaziamento populacional característico de Centros Históricos.
IBGE/Censo 2000.
Figura 3.1 – Distribuição da população por faixa etária. FONTE: Uma intensa urbanização, verificada principalmente a partir da
Data dos População Residencial IBGE/Censo 2000.
População década de 70, acelerou a ocupação espacial da cidade, dificultando o
Recenseamentos Total Urbana Rural controle Municipal sobre o ordenamento do território. Esse fato estimulou
São Luís 23.94% o adensamento populacional ao longo de áreas concentradoras de
trabalho e áreas periféricas, em função do baixo custo dos terrenos.
1970 265.486 205.413 60.073 20.69%
19.23% 0 a 9 anos A valorização dos terrenos próximos à região das praias, e das
1980 449.432 247.288 202.144 áreas bem servidas de equipamentos urbanos, justifica o crescimento
10 a 19
1991 696.371 246.213 450.158 15.055% horizontal da cidade para além do limite do Município de São Luís e a
20 a 29
existência de baixas densidades populacionais nas áreas privilegiadas,
2000 870.028 837.584 32.444 30 a 39 pois a segregação espacial está nitidamente ligada ao poder aquisitivo
São José de Ribamar 9.86% 40 a 49 da população (Mapa “População Residente por Setor Censitário”).
1970 23.636 14.050 9.586 5.51%
50 a 59 A ocupação do “Conjunto Ambiental de São Luís” é caracterizada,
1980 32.320 18.765 13.555 5.69% 60 anos ou + portanto, por um duplo processo de assentamento populacional. De
um lado espontâneo, sem planejamento físico territorial e sem seguir
1991 70.571 26.044 44.527
as normas estabelecidas pela legislação urbanística vigente; e por
2000 107.384 27.245 80.139 outro, induzido pela implantação de infra-estrutura urbana.
Paço do Lumiar
1970 13.487 524 12.963 3.1 Densidade Demográfica
1980 17.209 588 16.621
Através do cálculo da área dos setores censitários do IBGE foi
1991 53.195 1.147 52.048
População Residente por Sexo e Idade possível identificar a densidade demográfica de São Luís por partes
2000 76.188 1.188 75.000 reduzidas do território e aproximar os dados disponíveis à realidade.
Raposa Dessa forma, entre os bairros mais populosos destacam-se:
Madre Deus, Camboa, parque Amazonas, Pindorama, Anjo da Guarda,
2000 17.088 11.370 5.718 0A9 82660
84655 Jaracaty e novamente Vila Nova, Sá Viana, São Francisco, Cohatrac,
10 a 19 110000 Coroadinho e Cidade Operária (estes já citados como bairros que
Tabela 3.2 – População Estimada da Região Metropolitana
98309
possuem grande quantidade de habitantes).
98177
20 a 29
É necessário esclarecer que os dados disponíveis referem-se
População estimada 2005 em 01/07/2005 81908
ao período do ano 2000 e que nos últimos 5 anos verificou-se um
São Luís 978.824 30 a 39 71838
59155 adensamento populacional expressivo no Bairro da Cidade Olímpica.
São José de Ribamar 130.448 45806
40 a 49 Com relação ao bairro do Turú, observa-se uma ocupação
Paço do Lumiar 97.689 40059
25953 populacional em ascensão, principalmente devido à presença de
Raposa 20.698 50 a 59
21991 Mulheres condomínios (horizontais e verticais) de padrão popular. O bairro
Alcântara 22.359 29194 Homens apresenta densidade relativamente baixa, com espaços vazios
60 ou m ais
Total Região Metropolitana 1.250.018 20323
disponíveis ao adensamento.
Os dez povoados e os dez bairros urbanos mais populosos,
Fig ura 3.2 – Pop ulação resid en t e por grup o d e id ad e e sexo. segundo a Fundação Nacional de Saúde em 1996, estão listados
1
Danielle Nogueira Magalhães, Arquiteta e Urbanista. FONTE: IBGE/Censo 2000 na Tabela 3.3.
30 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE
DENSIDADE DEMOGRÁFICA
POR REGIONALIZAÇÃO DOS SETORES CENSITÁRIOS IBGE

Tabela 3.3 – Bairros e povoados mais populosos. FONTE: Fundação Nacional de Saúde (1996).

DENSIDADE

264,93
LEGENDA

262,25
BAIRROS HABITANTES
1- Anjo da Guarda 28.865 DENSIDADE DEMOGRÁFICA DE 1991

2- São Francisco 24.976 DENSIDADE DEMOGRÁFICA DE 2000

3- Vila Embratel 24.077


4- Coroadinho 19.738
5- Fátima 18.587

141,99

141,02
144,5

135,22
132,09

129,89
6- Bequimão 18.442

128,69
126,19
123,56

121,28

121,29
114,36

112,25

111,92
109,03
7- Liberdade 16.305

102,69
102,02

101,46
100,96
99,62

99,23

95,85
94,82

93,71
89,82

88,88
8- Divinéia 15.257

88,53

87,19
86,36

86,14
82,22
78,69

74,26
73,85

72,48

71,78
9- Cohab-Anil 13.939

66,41
63,62

60,31

60,31
56,25

55,93

55,72
48,79

48,53

45,38
48,4
10- Vila Mauro Fecuri 13.551

42,98
39,92

38,57
37,66

40,8
35,03

31,64
29,06

25,13
POVOADOS HABITANTES

23,34

22,67

19,63

18,52
18,32
18,9
18,9

15,17

12,56

7,97
6,84
1- Vila Sarney 5.417

4,24

2,44
1,46
2- Vila Esperança 5.417

VILA MAURO FECURY

CID. OLÍMPICA E
VILA EMBRATEL
BEQUIMÃO

BAIRRO DE FÁTIMA
OLHO D'ÁGUA

RENASCENÇA

SÁ VIANA
VINHAIS

SANTA CRUZ

FILIPINHO

COROADINHO
PONTA D'AREIA

MONTE CASTELO

COHATRAC
TURU

CENTRO

BARRETO

SANTO ANTOÔNIO

OPERÁRIA
3- Santa Clara 4.408
4- Estiva 3.947
5- Vila Maranhão 3.837
6- Nova República 3.626
7- Pedrinhas 3.307 REGIONAIS
8- Tibiri 3.139
9- Tibirizinho 3.029 Figura 3.3 – Densidades demográficas por regionalização de setores censitários. FONTE: IBGE (Censos 1991/2000).
10- Quebra Pote 2.632
Os índices baixos de adensamento populacional são justificados em parte pela presença rarefeita de principalmente se forem analisados em conjunto com o crescimento industrial estabelecido na década de 80
edificações verticais na cidade, característica de cidades de porte médio em vias de desenvolvimento. As e os atrativos que foram criados com a implantação dos grandes projetos mínero-industriais na capital
áreas mais adensadas estão localizadas no entorno do Centro e no corredor Centro-Anil, onde o processo de maranhense.
urbanização já está consolidado (Fig. 3.3) Em relação à procedência dos migrantes evidenciou-se (ainda em 1970) que a maioria (cerca de
Na Região de Praias, onde foram implantados conjuntos habitacionais de padrão mais elevado, a 82,4%) naquela década foi proveniente de zonas urbanas. Este dado isolado escondeu um caráter “escalonado”
densidade apresenta índices mais baixos, evidencia-se nesta área a ocorrência de especulação imobiliária, da migração rural/urbana: o percurso deste movimento passou por uma série de cidades menores até a
em função da valorização do local e da presença de vazios urbanos. fixação naquelas maiores e mais estruturadas, que permitiram alternativas mais variadas de vinculação
Destaca-se ainda que entre as áreas de densidades mais baixas estão incluídas a Zona de Segurança econômica e de sobrevivência para a população migrante, como foi o caso de São Luís, no contexto
do Aeroporto e as áreas onde a presença da vegetação é significativa: Zonas de Reserva Florestal, Áreas de do Maranhão.
Proteção Ambiental e áreas verdes de um modo geral. O período de 1990 a 2000 também registrou a influência de São Luís como pólo de concentração
A Zona Rural como um todo apresenta índices baixos de densidade populacional e presença significativa populacional ascendente, o avanço do processo de urbanização e a redução do espaço rural (Tabela 3.3).
de cobertura vegetal (Mapa “Densidade Demográfica”).
Tabela 3.3 – Participação da população de São Luís no Estado. FONTE: Censos do IBGE.

3.2 Crescimento Populacional População Total Incremento Participação Taxa média


ano Populacional da no Estado de cresc.
Maranhão São Luís capital (%) (%) Anual (%)
As características agrofundiárias do Estado do Maranhão representam um aspecto fundamental na
dinâmica populacional da Cidade de São Luís, sendo responsável pelo intenso incremento demográfico ante- 1960 2 492 139 158 292 32,15 6,35 -
rior aos grandes projetos industriais instalados na Capital.
1970 2 992 678 263 595 66,52 8,81 5,31
O movimento migratório interno e contínuo consolidou o Município de São Luís como eixo polarizador,
apresentando taxas de crescimento significativamente mais elevadas em relação ao Estado como um todo. 1980 3 996 444 460 320 74,63 11,52 5,41
As décadas de 70 e 80 do século 20 demonstraram a presença de um fluxo populacional contínuo e 1990 4 930 253 695 119 51,00 14,10 6,00
ascendente, desde a década de 60, que coincidiu com o avanço espacial da urbanização de São Luís. Além 2000 5 651 475 867 690 24,83 15,35 2,53
disso, constituíram indicadores seguros das tendências de um movimento populacional mais recente, 2005 6 013 828 978 824 12,81 16,27 2,45
32 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

A população de São Luís apresentou um crescimento de, aproximadamente, 326,8% nesse período, São Luís foi um dos pólos importantes de destino final do deslocamento escalonado da migração rural-
e a população rural, que em 1970, representava 22,6% do total passou para 3,7% em 2000 (ZONEAMENTO urbana, ao reunir fatores de atração relacionados com a relativa concentração industrial e, como sede
COSTEIRO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2003). A população urbana que, em 1991, era de 246.244 habitantes, administrativa do Estado, pela expectativa de emprego no quadro do funcionalismo público. Apesar da existência
sofreu um aumento de 209,52%, e passou para 762.172 habitantes em 1996, já no período de 1996 a 2000 destes fatores favoráveis à atração populacional, o ritmo com que se processou o crescimento urbano indicou
o crescimento urbano foi de apenas 9,9%. que os fatores de expulsão rural foram decisivos neste processo (Mapa “Pessoas Residentes com Rendimento”).
Essa diminuição da população rural, e conseqüente aumento da população urbana, devem-se ao fato O setor industrial desenvolveu-se predominantemente em torno da produção de bens não duráveis, com
da Prefeitura Municipal de São Luís ter atualizado o limite entre a Zona Urbana e a Zona Rural com a implantação significativa interdependência do setor primário, beneficiamento de arroz, óleos de babaçu e amêndoas e outros
do Plano Diretor de 1992, quando algumas áreas que eram rurais passaram a ser consideradas urbanas. produtos alimentícios. Um novo revigoramento econômico teve início a partir de 1975, com o estímulo do setor
Além de concentrar a maioria da população do Estado, São Luís possui uma taxa de crescimento da construção civil, operando em paralelo ao crescimento dos ramos de produtos minerais não metálicos.
superior às verificadas para o conjunto dos municípios. Os índices de crescimento populacional são A característica de um crescimento urbano acelerado ao lado de uma industrialização dependente determinou
significativamente menores no restante do Estado do Maranhão, onde verificou-se um crescimento na população a ampliação da expressividade econômica do Setor Terciário, com um forte destaque das atividades informais.
total de 14,63% entre 1991 e 2000, e de 6,41% entre 2000 e 2005. Em São Luís, no intervalo de 1991 a 2000 Somaram-se a esta situação as tendências declinantes do Setor Primário, quer pela expansão territorial da
a população cresceu 24,83% e entreCRESCIMENTO
2000 e 2005 12,81% (Fig. 3.4).
POPULACIONAL urbanização, quer pelo processo de concentração fundiária e baixa exploração de áreas aproveitáveis.
Em relação ao Setor Primário observou-se uma redução de sua expansão territorial, onde foi determinante
HABITANTES

a urbanização de São Luís, o que afetou sua expressão econômica, já estruturalmente reduzida. Manteve,
contudo, significativo potencial social sob o prisma da vinculação da população, quer através da atividade
pesqueira, quer através do crescimento da pequena propriedade.
959.124
906.567
A atividade pesqueira possuía uma exploração artesanal, constituindo basicamente uma atividade de
subsistência. Na década de 80 esta atividade foi prejudicada pela baixa capitalização dos produtores (devido
978.824
867.690 923.526
870.028 a um expressivo número de intermediários) e pela falta de infra-estrutura.
A falta de apoio logístico foi resolvida, em parte, com a construção do Mercado do Peixe pelo Governo
696.371
do Estado, no Aterro do Bacanga (década de 90), porém o problema com os atravessadores persiste. Atualmente
o Portinho (onde foi implantado o Mercado de Peixe), comercializa cerca de 10 toneladas de pescado por dia.
O Setor Terciário é o que concentra a maior vinculação econômica da população através da expansão
das atividades de comércio e serviços e do mercado de trabalho informal. A elevação dos rendimentos
460.320
médios mensais é influenciada pela combinação entre trabalho formal e informal. Verifica-se também o
aumento da renda familiar pela intensificação do trabalho e não pela elevação do rendimento individual (um
número maior de membros colaboram para o aumento da renda familiar).
Neste contexto de acentuado crescimento urbano e de predominância das atividades do terciário, o
265.595
setor secundário manteve, historicamente, as características de uma industrialização incipiente, baseada nos
158.292
ramos “tradicionais”, com uma participação restrita na formação do PIB setorial e na geração efetiva de
85.583
119.785
empregos (Fig. 3.5).
53.484 52.929
801 26.315 29.475
13.145
Séc.. Séc. Séc. 1900 1910 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2001 2002 2003 2004 2005
XVII XVIII XIX PERÍODO
Figura 3.4 – Crescimento Populacional. FONTE: IPLAM/IBGE.

3.3 Diversificação dos Setores Econômicos

A partir dos anos 50, quando ocorreu um novo padrão de desenvolvimento industrial no país (desde o
centro-sul), foi reafirmada a vocação agrária do Estado, favorecida pela existência de mais de 15.000.000 ha
de terras virgens e devolutas.
Esta circunstância atraiu um significativo contingente migratório da região nordeste, que realizou o
avanço da fronteira agrícola com o estabelecimento de pequenas unidades de produção familiar, em particu-
lar a produção de cereais e babaçu. As grandes obras viárias interestaduais intensificaram este processo, ao
mesmo tempo em que realizaram a necessária integração regional do mercado.
No final dos anos 50 a valorização imobiliária ao longo das rodovias determinou o aparecimento de
grandes propriedades, o deslocamento de parcelas significativas dos ocupantes originais e a subordinação
econômica da pequena propriedade. A baixa capacidade de retenção populacional no contexto de expansão
da fronteira agrícola fundamentou o êxodo rural, cujos reflexos podem ser observados no crescimento da
urbanização desordenada de São Luís a partir da década de 60. Figura 3.5 – Contribuição dos setores econômicos no PIB Municipal. FONTE: IBGE (Censo 2000)
34 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

O valor estimado do Produto Interno Bruto (PIB) do município Estudos realizados sobre a situação de emprego no contexto Do total das pessoas que receberam rendimentos, a maioria
de São Luís no ano de 2002, foi de R$ 4,542 bilhões, ou 39,78% do da Ilha até a década de 80 assinalaram uma prevalência acentuada estava na faixa de até 1 salário mínimo, equivalente a uma
PIB do Estado. O PIB per capita de São Luís, a preços de mercado, foi do setor terciário como absorvedor de força de trabalho. Do ponto de percentagem de 35,41%. Acima deste nível observou-se uma parcela
estimado em R$ 4.938,04, ou 2,6 vezes o PIB per capita do Maranhão. vista setorial apontou um declínio do emprego agrícola e uma oscilação populacional decrescente que se traduziu em índices reduzidos para
do emprego industrial. A grande expansão do emprego ocorreu no os rendimentos maiores: 20,63% das pessoas recebem entre 2 a 5
O Município de São Luís con stitui u m do s pó los de
terciário: em 1960 respondia por 67,8% de todos os empregos, salários mínimos, 14,63% entre 5 a 20 salários mínimos, e apenas
desenvolvimento industrial do Estado em ascensão, principalmente
percentual que se elevou para 74,31% em 1980 e teve uma queda 2,62% acima de 20 salários mínimos (Figura 3.6).
devido a uma política econômica de canalização de investimentos
para a região, aproveitando as potencialidades energéticas de Tucuruí progressiva, passando para 67,18% em 1991 e 60,8% em 2000. Apesar da Cidade de São Luís possuir estruturas urbanas
e as reservas minerais da Serra de Carajás no Pará. consolidadas, uma concentração industrial influente e ser a sede do
Governo do Estado, na prática, todo esse potencial não se reverteu
Desde o final da década de 70, a capital maranhense assumiu 3.5 Renda em condições mais propícias para a elevação dos rendimentos
uma nova vocação econômica a partir da implantação de grandes individuais da população.
Rendimento Nominal Mensal
projetos envolvendo a exploração mineral, que se expressaram na
A renda é analisada aqui como um fator econômico, porque
construção da Estrada de Ferro Carajás e no Terminal da Companhia 35.41%
permite perceber o raio de influência dos efeitos multiplicadores da Até 1
Vale do Rio Doce (CVRD) em São Luís. Ao longo da década de 80 do
economia como um todo, que incide não apenas sobre o mercado de 26.68% Mais de 1 a 2
século 20 foram efetivadas também propostas de constituição de pólos
consumo em São Luís e nos municípios vizinhos, como também qualifica Mais de 2 a 3
de produção siderúrgica e de ferro-liga ao longo do corredor desta
as condições de vida da população. Mais de 3 a 5
estrada, em adição à implantação da Fábrica ALUMAR (Consórcio
Billiton-Alcoa) e ao projeto Usimar. Estas propostas foram reforçadas A renda per capita média da população local passou de R$189,45 9.96%
10.67%
9.81%
Mais de 5 a 10

com um protocolo assinado na década de 90 pelo Governo do Estado em 1991 para R$252,13 em 2000, tendo aumentado 33,09%. No 4.82%
Mais de 10 a 20

para a instalação de outra usina siderúrgica (DUFERCO). mesmo período, a porcentagem de pessoas com renda domiciliar per 2.62% Mais de 20
capita menor que R$75,50 (metade do salário mínimo vigente em
Porém, a especialização desta “vocação econômico-industrial”
agosto de 2000), decresceu de 43,8% (1991) para 39,9% (2000). No habitantes
esteve voltada, prioritariamente, para o mercado externo, contribuindo
entanto, o índice Gini, que mensura a desigualdade social, aumentou Figura 3.6 – Nível salarial da população com rendimento. FONTE:
parcialmente para o desenvolvimento econômico local.
de 0,61 para 0,65 em 2000 (Mapa “Rendimento Nominal Mensal”). IBGE (Censo 2000)
A industrialização de São Luís em 1980, em termos locais,
contribuiu com 19,2% para a formação do PIB da Ilha, o que
representou seis vezes mais que a geração do Setor Primário, porém,
apenas 1/4 do valor produzido no Setor Terciário. Em 2002, a
contribuição do Setor Industrial de São Luís no PIB da Ilha cresceu
para 33,3%, o Setor Agropecuário contribuiu com apenas 0,13% e o
Setor de Serviços prevaleceu como maior contribuinte representando
um percentual de 49,5% do PIB total da Ilha.

3.4 Emprego

O processo de urba niza ção acel erado da cidade, a


industrialização dependente e a proeminência do setor terciário
determinaram a tendência da vinculação, atratividade e incorporação
efetiva da população em empregos dos diferentes setores.
Os índices da PEA (População Economicamente Ativa) e da PO
(População Ocupada) constituem os indicadores privilegiados dessa
articulação. De acordo com o censo de 2000, a População
Economicamente Ativa (PEA) de São Luís, corresponde a 476 775
pessoas, 2,17 vezes maior que a PEA de 1991, que era de 219 119
pessoas. Do total da População Economicamente Ativa de São Luís,
21,9% é de desocupados.
O Setor Terciário continuou a ser responsável pela absorção da
maior parcela da população ocupada de São Luís, representando um
percentual de 60,8% de toda a PEA, seguido pelo setor secundário e
o primário em ordem de influência econômica. Figura 3.7 – Feira da Cidade.
36 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

3.6 Educação O nível de escolaridade predominante em São Luís é o fundamental (1ª a 8ª série) e a população com
nível superior representa 3,36% do total de habitantes (Figs. 3.8 e 3.9). Dos 870.028 habitantes
Através do mapeamento dos dados do IBGE foi possível identificar áreas da cidade com menor e maior registrados pelo Censo de 2000, 4,25% (37.000) nunca freqüentou escola ou não completou a 1ª série do
número de pessoas alfabetizadas e o nível de escolaridade da população. primeiro grau.
Foram consideradas alfabetizadas as pessoas capazes de ler e escrever um bilhete simples e analfabetas Albabetização/Zona Urbana
aquelas que não sabiam escrever ou apenas assinavam o próprio nome. Para identificar as pessoas alfabetizadas
ou não o universo pesquisado foi a população residente acima de 5 anos de idade.
Em São Luís, a taxa de analfabetismo caiu de 3,64% no período de 1991 a 2000 e a freqüência à escola 24.69%
aumentou em 9,57%. No mesmo período a Taxa de freqüência ao ensino médio cresceu 36,09%, quase quatro 13.69%
vezes o valor acrescido à taxa de freqüência do fundamental e do nível superior (Tablea 3.4). 7.82%
Não alfabetizada 5.34% 60 ou mais
3.36%
Tabela 3.4 – Taxa de alfabetização e de freqüência a escola 1991/2000. FONTE: Atlas de Desenvolv. Humano no Brasil, 2000 50 a 59
3.37%
43.85% 40 a 49
1991
30 a 39
75.30% 20 a 29
Taxa de Taxa bruta de Taxa bruta de Taxa bruta de Taxa bruta de 86.30%
10 a 19
alfabetização freqüência à freqüência ao freqüência ao freqüência ao 92.17%
(%) escola (%) fundamental ensino médio superior (%) Alfabetizada 94.65% 5a9
(%) (%) 96.63%
96.62%
56.14%
89,05 75,38 120,9 57,15 8,34

Figura 3.8 - Alfabetização na Zona Urbana. FONTE: IBGE/Censo 2000


2000 Alfabetização/Zona Rural

Taxa de Taxa bruta de Taxa bruta de Taxa bruta de Taxa bruta de 61.97%
alfabetização freqüência à freqüência ao freqüência ao freqüência ao 2.37%
(%) escola (%) fundamental ensino médio superior (%) 31.27%
(%) (%) Não alfabetizada 19.01% 60 ou mais
11.13% 50 a 59
7.66%
92,69 84,95 130,29 93,24 17,92 64.14% 40 a 49
30 a 39
38.02%
Com relação ao nível de escolaridade foram consideradas as pessoas com 10 anos ou mais de idade 20 a 29
2.47%
responsáveis pelos domicílios particulares permanentes. Uma classificação em anos de estudo foi estabelecida
68.72% 10 a 19
com o objetivo de compatibilizar os sistemas de ensino anteriores e atual. Neste caso o universo pesquisado
Alfabetizada 80.98% 5a9
abrangeu todas as pessoas com 10 anos ou mais de idade.
88.86%
O primeiro ao oitavo ano de estudo correspondem ao ensino fundamental, 1ª a 8ª série do primeiro 92.33%
grau e inclui ainda 1ª a 5ª série do ensino médio primeiro ciclo. O período de nove a onze anos de estudo 35.85%
equivale a 1ª, 2ª e 3ª série do segundo grau, ou do ensino médio segundo ciclo. De doze a dezesseis anos de
estudo estão os 5 anos do nível superior. Dezessete anos de estudo ou mais significa que a pessoa concluiu
o nível superior, fez mestrado ou doutorado (Mapa “Nivel de Escolaridade”). Figura 3.9 – Alfabetização na Zona Rural. FONTE: IBGE/Censo 2000
38 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

A Secretaria Municipal de Educação, para a realização de suas ações, dividiu a cidade em áreas geográficas Tabela 3.6 – Alunos matriculados na Rede de Ensino Municipal. FONTE: SEMED/2006.
onde estão distribuídas as 162 escolas, 76 unidades de educação infantil e 86 do ensino fundamental do ALUNOS QUANTIDADE
município. São sete núcleos de atendimento da rede escolar, seis deles fazem parte da área urbana (Centro/ Creche 920
São Francisco, Itaqui–Bacanga, Anil, Coroadinho, Turu/Bequimão e Cidade Operária) e um núcleo abrange Educação Especial 426
Nivel de Escolaridade do Responsável pelo Domicílio
toda a área rural (Mapa “Pessoas Residentes Alfabetizadas - 5 anos de idade ou mais”). Educação Infantil 11.124
Ensino Fundamental 74.219
Educação de Jovens e Adultos 10.495
TOTAL 97.184
32.77% Tabela 3.7 – Matrícula em todos os níveis de ensino. FONTE: Censo Escolar SINEST/SEDUC. Nota: Os alunos da
Antigo prim ário Educação Especial que frequentam clsses comuns, estão incluídos no nível/modalidade de ensino correspondente
28.83%
Ensino Fundam ental INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE MATRÍCULA EM TODOS OS NÍVEIS DE ENSINO - 2005
Matrícula Inicial por Nível e Modalidade de Ensino

ADM. ZONA Ensino Médio Educação de Jovens e Adultos


Ensino Médio Educ. Educ. Prof.
Creche Pré- Ñ Nível Técnico
Escolar 1ª Série 2ª Série 3ª Série 4ª Série Seriada Total Especial 1ª a 4ª 5ª a 8ª Médio Semi Total
16.32% presencial
Ensino superior
Estadual Rural 0 0 1610 1209 514 0 0 3333 0 442 806 594 0 1842 0
11.61%
9.95% Mestrado ou Urbana 0 431 24090 19682 15009 0 0 58781 1194 2782 9200 4352 1449 17783 67

doutorado Total: 0 431 25700 20891 15523 0 0 62114 1194 3224 10006 4946 1449 19625 67
Sem instrução e com Federal Rural 0 0 175 127 89 0 0 391 0 0 0 0 0 0 491

0.48% até 1 ano de es tudo Urbana 0 0 465 369 293 0 0 1127 0 0 0 0 0 0 1088
Total: 0 0 640 496 382 0 0 1518 0 0 0 0 0 0 1579
Municipal Rural 121 3191 0 0 0 0 0 0 48 1424 1347 0 0 2771 0
Urbana 799 7933 0 0 0 0 0 0 378 4353 3371 0 0 7724 0
Figura 3.10 – Nível de escolaridade. FONTE: IBGE/Censo 2000 Total: 920 11124 0 0 0 0 0 0 426 5777 4718 0 0 10495 0
Particular Rural 1449 3174 0 0 0 0 0 0 0 100 0 0 0 100 0
Urbana 10333 34440 3710 3658 3411 89 0 10868 515 1177 634 774 0 2585 899
Tabela 3.5 – Anos de estudo da população residente com 10 anos ou mais de idade. FONTE: IBGE Total: 11782 37614 3710 3658 3411 89 0 10868 515 1277 634 774 0 2685 899
Total: 12702 49169 30050 25045 19316 89 0 74500 2135 10278 15358 5720 1449 32805 2545

Instrução das pessoas residentes - 10 anos ou mais de idade Tabela 3.8 – Matrícula em todos os níveis de ensino fundamental. FONTE: Censo Escolar SINEST/SEDUC. Nota: Os Anos
Iniciais correspondem do 1° ao 5° Ano e os Anos Finais correspondem do 6° ao 9° ano.
Sem
INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE MATRÍCULA EM TODOS OS NÍVEIS DO ENSINO FUNDAMENTAL - 2005
instrução 11 a 14 15 anos ou Matrícula Inicial do Ensino Fundamental
1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos
e menos anos mais
de estudo de estudo de estudo ADM. ZONA Ensino Fundamental em 8 Anos
Ensino Fundamental em
de 1 ano de estudo de estudo 9 Anos TOTAL
1ª 2ª 3ª 4ª 1ª a 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 5ª a 8ª Anos Anos GERAL
de estudo Série Série Série Série Série Série Série Série Série Série
Total
Iniciais Finais
Total

Estadual Rural 306 366 400 394 1466 980 852 776 739 3347 4813 0 0 0 4813

37088 hab. 94571 hab. 212547 hab. 136678 hab. 189068 hab. 29208 hab. Urbana 6066 6578 6968 6895 26507 8721 8956 8714 7980 34371 60878 0 0 0 60878

Total: 6372 6944 7368 7289 27973 9701 9808 9490 8719 37718 65691 0 0 0 65691
Federal Rural 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Urbana 83 79 101 103 366 157 144 151 157 609 975 0 0 0 975
A Secretaria atende quase 100.000 pessoas, distribuídas entre Educação Infantil, Ensino Fundamen-
Total: 83 79 101 103 366 157 144 151 157 609 975 0 0 0 975
tal, Educação Especial, Educação de Joves e Adultos e Creches, perfazendo um total de 97.184 alunos
Municipal Rural 774 841 698 605 2918 697 585 474 332 2088 5006 7792 3502 11294 16300
matriculados (Tabelas 3.6, 3.7 e 3.8).
Urbana 3879 4154 3870 3770 15673 5082 3353 3962 2407 14804 30477 16556 10886 27442 57919
A Educação Especial promove a instrução dos alunos com necessidades especiais utilizando as escolas da Total: 4653 4995 4568 4375 18591 5779 3938 4436 2739 16892 35483 24348 14388 38736 74219
própria comunidade (são 90 escolas inclusivas), sem exigência de seleção. Antes da inserção nas classes regulares Particular Rural 873 624 495 395 2387 66 75 73 62 276 2663 0 0 0 2663
existe um trabalho de apoio pedagógico para preparação dos estudantes. Este programa de inclusão dos alunos Urbana 8923 8042 7376 6961 31302 4068 4041 3993 4098 16200 47502 0 0 0 47502
portadores de necessidades especiais está implantado desde 1999, e em 2004 contava com 1090 crianças Total: 9796 8666 7871 7356 33689 4134 4116 4066 4160 16476 50165 0 0 0 50165
matriculadas. Mais de 14% da população da capital possui necessidades educacionais especiais. Total: 20904 20684 19908 19123 80619 19771 18006 18143 15775 71695 152314 24348 14388 38736 191050
40 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

4 DOMICÍLIOS 1
Em São Luís, a média de moradores por domicílios particulares permanentes passou de 6,1 em 1970
para 5,5 em 1980 e para 4,3 no ano 2000, o que demonstrou um aumento proporcional maior de habitações
Até a década de 80 a forma de aquisição da moradia na ilha de São Luís esteve vinculada a três fatores: do que da população, significando uma melhoria, ainda que relativa, no atendimento às necessidades
o desmembramento do solo urbano, através da implantação de loteamentos de iniciativa privada; os conjuntos habitacionais da população.
habitacionais de iniciativa do poder público (COHAB-MA, IPEM, PROMORAR e as entidades de classe Os domicílios particulares (permanentes e improvisados) constituem cerca de 99,86% da totalidade
cooperativadas) e o fenômeno das invasões, que tornou-se uma alternativa a medida que as áreas dos domicílios no município de São Luís de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2000). A população
foram sendo regularizadas. Apesar desses investimentos realizados no setor habitacional, marcadamente residente nesses domicílios atingiu cerca de 868.137 pessoas (Tabela 4.3) ou 230.878 famílias,
de iniciativa estatal, detectou-se uma considerável parcela da população excluída do sistema de aquisição considerando uma média de 3,76 pessoas por família (Tabela 4.4).
da moradia.
Das 230.878 famílias residentes em domicílios particulares, 22.29% delas dividem com outras famílias
O déficit habitacional dessa época chegou à cerca de 7.624 famílias vivendo em condições de coabitação
a mesma unidade residencial. Isso nos mostra que mesmo com um elevado índice de domicílios particulares
em unidades residenciais, enquanto que na Ilha totalizavam 8.059 famílias vivendo na mesma situação,
conforme tabela abaixo. no município, ainda há um desafio de um grande déficit habitacional a ser superado (Mapa “Domicílios
Particulares Permanentes”).
Tabela 4.1 – Déficit habitacional da Ilha de São Luís na década de 1980. FONTE: GOVERNO DO ESTADO (1988).

Municípios Domicílios Famílias Déficit


Tabela 4.3 – População residente por espécie de domicílios. FONTE: Censo Demográfico IBGE, 2000.
São Luís 81 740 89 364 7 624
São J. de Ribamar 5 686 6 373 687
Município de São Luís Total
Paço do Lumiar 3 389 3 137 252
Total Ilha 90 815 98 874 8 059
População Residente 870028
Essa situação tornou-se mais agravante ainda, quando considerado o alto grau de ocorrência de domicílios
rústicos e improvisados. Só em São Luís, ainda na década de 1980, 34% dos domicílios foram considerados Domicílio particular Permanente 866083
pelo IBGE como rústicos ou improvisados. Enquanto que São José de Ribamar atingiu um percentual de 51%
e Paço do Lumiar 72% dos domicílios. Espécie do 868137
Improvisado 2054
As maiores ocorrências de déficit habitacional no município, nesse período, foram nos bairros do Anjo da domicílio
Guarda, na margem esquerda do Rio Anil, no Alto do Anil (nascente) e no Bacanga, próximo ao Rio das Bicas. Unidade de habitação em
1891
De acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2000), a situação da moradia na aglomeração urbana domicílio coletivo
de São Luís, quanto a sua situação, era de 82,30% dos domicílios particulares permanentes localizados na
área urbana. A área rural contava apenas com 17,70% da totalidade desses domicílios, conforme tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Domicílios Particulares Permanentes quanto a sua situação. FONTE: Censo Demográfico
IBGE, 2000. Tabela 4.4 - Famílias residentes em domicílios particulares e Número médio de pessoas por família residentes em
domicílios particulares. FONTE: Censo Demográfico IBGE, 2000.
Microrregião
Total
Aglomeração Urbana de São Luís Famílias residentes em domicílios particulares Número
Número de componentes (pessoas) médio
Domicílios particulares permanentes 246862 de
Pessoas
pessoas
Urbana 203174 Residen-
Situação do por
Total tes em
domicílio Rural 43688 família
De 01 a 04 De 05 a 10 Mais de 10 dom.
residen-
part.
Moradores em domicílios particulares permanentes 1065218 tes em
dom.
Situação do Urbana 874080 part.
domicílio Rural 191138
Aglomeração Urbana de São Luís
Média de moradores por domicílio particular permanente 4,32
Situação do Urbana 4,3 280.76
195.247 84.703 817 1.068.531 3,81
domicílio 8
Rural 4,38
Município de São Luís
230.87
162.575 67.791 512 867.954 3,76
1
Cíntia Maria de Aguiar Moraes, Arquiteta e Urbanista. 8
42 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE
Domicílios
A ocorrência de domicílios particulares improvisados, foi de 0.23% para 2.054 moradores e de domicílios Atualmente, a Prefeitura de São Luís, juntamente com a Caixa Econômica Federal, vem realizando uma
coletivos foi de apenas 0.12%, para 1.891 pessoas residentes (Fig. 4.1). série de investimentos e elaborando projetos no setor de habitação. Através do programa de Arrendamento
Residencial – PAR, que permite a aquisição de imóveis pelos servidores. Foram contemplados, ao total 450
99.63% servidores nesse programa, sendo que destes 296 com apartamentos e 154 com casas. Em 2004 a Prefeitura
Particulares a partir de financiamento com a Caixa Econômica Federal, deu início ao programa Pró-Moradia, projeto que
beneficiará no residencial Canudos, localizado próximo ao Parque Vitória, 1.100 famílias das cerca de 4.400
Permanentes que nele habitam. Na Vila Vitória, dos 5.600 habitantes que ocupam uma área de assentamento serão
beneficiadas 1400 famílias com o mesmo programa. Além de casas, serão construídas creches e bibliotecas,
Particulares além de melhorias no abastecimento de água, esgoto e drenagem da região.
Improvisados
Coletivos
0.23% 0.12%

Figura 4.1 – Percentual de Domicílios quanto à sua espécie. FONTE: Censo Demográfico IBGE, 2000

Quanto à situação de adequação da moradia, apenas 33.20% dos domicílios foram considerados
adequados para moradia, ou seja são domicílios providos de boas instalações de abastecimento de água por
rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo realizada por serviço de
limpeza e até 02 moradores por dormitório. A maioria dos domicílios do município pesquisados pelo IBGE,
apresentaram condições de semi-adequação para a moradia, 60% desses domicílios tem pelo menos um
desses serviços de infra-estrutura considerado inadequado. Dos domicílios registrados, 6.09% foram
considerados inadequados por apresentarem precárias condições de abastecimento de água, geralmente
proveniente de poço, nascente ou outra forma (Tabela 4.5). O esgotamento sanitário, realizado por fossa
rudimentar, vala, ou jogado diretamente no rio, lago ou mar. O lixo recolhido é queimado, enterrado ou
jogado em terreno baldio, rio, lago ou logradouro público (Mapa “Espécies de Domicilios”). Figura 4.2 – Ocupação espontânea próxima à Ponte do Caratatiua.

Tabela 4.5 - Domicílios particulares permanentes, por adequação da moradia. FONTE: Censo Demográfico IBGE, 2000.

Domicílios particulares permanentes

Adequação da moradia
Total

Adequada Semi-adequada Inadequada

Microrregião
Aglomeração Urbana de São Luís
246775
73792 155059 17923

Município de São Luís


202144
67127 122688 12328
Figura 4.3 – Sítio São Benedito e Lasquim e Conjunto Vinhais.
44 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

4.1 Abastecimento de Água As deficiências do sistema de abastecimento de água podem estar relacionadas a fatores como perdas
no sistema de distribuição associado ao precário estado de conservação das redes e à baixa qualidade da
água (baixo ph 4,5-5,0), provocando corrosão nos sistemas de distribuição.
No município de São Luís, o sistema de abastecimento de água é feito por captação na sua grande
maioria superficial, realizada pelos sistemas Sacavém e Itapecuru e totalizando 2.640 l/s. A forma de captação De acordo com os dados do IBGE, baseados no Censo Demográfico de 2000, no município de São Luís,
82,03% dos domicílios particulares permanentes são abastecidos por rede geral, canalizada em pelo menos
subterrânea é realizada, através do sistema Paciência, atingindo 460 l/s. A captação superficial é do tipo
um cômodo ou canalizada só na propriedade ou terreno. Dos domicílios pesquisados, 7,66% são abastecidos
convencional ETA-Estação de Tratamento de Água, enquanto que a captação subterrânea é realizada apenas
por poço ou nascente e 12,38% apresentam outras formas de abastecimento (Tabela 4.7), identificadas pelo
com cloração.
IBGE, como abastecimento por água de reservatório (ou caixa), por carro-pipa, por água de chuva ou ainda
A Companhia de Água e Esgotos do Maranhão – CAEMA, criada em 1966 detém o monopólio do por poço ou nascente, localizados fora do terreno ou da propriedade onde estava construído (Fig. 4.4).
abastecimento de água em São Luís, e a nível Estadual, é a principal responsável pelas ações de abastecimento
de água em 133 sedes municipais e 52 distritos, atendendo cerca de 30% da população total do Maranhão. Tabela 4.7 – Formas de Abastecimento de Água em São Luís. FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2000.
De acordo com análises do GERCO-MA (Gerenciamento Costeiro do Maranhão), de 1990 a 1995, a
expansão do atendimento de água em São Luís, foi de 8,34%. Nesse período, foram atendidos 8.866 novos Domicílios particulares permanentes
usuários residenciais aumentando em 6,34% o número de ligações dessa categoria. Em 1995, o sistema de
abastecimento de água de São Luís, composto pelos subsistemas: Italuis, Paciência e Sacavém, Forma de abastecimento de água
manteve uma produção média de 260 mil m3/dia, o que representa cerca de 59% de sua capacidade
Total
nominal de operação.
Poço ou nascente
Rede geral Outra
Nessa mesma época, houve um crescimento de 50% da capacidade nominal do sistema e de apenas (na propriedade)

5,75% da produção efetiva não acompanhou o rítimo de crescimento do volume faturado no mesmo período,
da ordem de 16,03% (Mapa “Abastecimento de Água em Domicílios Particulares Permanentes - Rede Geral”). Canali- Canali- Canali- Canali- Não Canali- Canali- Não
zada em zada só zada zada Canali- zada zada Canali-
Tal aumento não foi suficiente para modificar o perfil do atendimento requerido pelo mercado de São Luís, pelo na em só zada em só zada
menos proprieda pelo na pelo na
cuja cobertura seria de 85,3% em 1995 acumulando um déficit de 14,7% em relação ao atendimento
Total um de Total menos proprie Total menos proprie
registrado em 1990 (Tabela 4.6). cômodo ou um -dade um -dade
terreno como- ou como- ou
do terre- do terre-
no no
Tabela 4.6 – Capacidade de atendimento do Sistema de abastecimento de Água em São Luís. 1900-2005. FONTES:
GERCO - Gerenciamento Costeiro do Maranhão, 1998; CAEMA - Companhia de Água e Esgoto do Maranhão, 2005.
246862 188415 138821 49594 22746 8867 5270 8609 35701 6065 10748 18888

Sistema de Abastecimento de Água


202231 159282 Formas de Abastecimento de Água
122316 36966 16669 7086 3725 5858 26280 4326 8164 13790

anos

Discriminação 82.03%
1990 1995 2005 rede geral

Capacidade Nominal (m 3/dia) 295,0 442,5 303.683 poço ou


nascente
Extensão da Rede (m) 1.209.469 1.560.000 1.940.037 outras formas
7.66% 12.38%
Volume Produzido (1.000 m 3) 89.732,8 94.900,0 9.110.510

Volume Faturado (1.000 m3) 33.484,4 38.853,2 2.950.083


Figura 4.4 - Formas de Abastecimento de Água em São Luís. FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2000.
46 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Na área urbana de São Luís, quase a totalidade dos seus domicílios atendidos são abastecidos por
rede geral. Os bairros que apresentam piores índices dessa forma de abastecimento foram parte do Calhau,
Olho D’ água, Cohama, Turu e Vila dos Frades. Esses bairros possuem na sua predominância, poço ou
nascente na propriedade como forma de abastecimento de água (Figs. 4.5 e 4.6). Bairros como Cidade
Olímpica, Santa Clara, Tirirical, Vila Embratel, Conjunto São Raimundo, Gancharia, Vila Mauro Fecury I,
conjunto São Raimundo e Maiobinha, também apresenta índices muito baixos de abastecimento de água
por rede geral, havendo predominância de outras formas de abastecimento (Mapa “Formas de Abastecimento
de Água em Domicílios Particulares Permanentes”).
Atualmente, o Sistema Itapecuru constitui a principal fonte de abastecimento de água da região. O
seu manancial está localizado a 70 km ao sul de São Luís, apresentando uma vazão mínima de
60 m3/s e qualidade da água adequada para tal fim. A interligação do Itapecuru com os demais sistemas de
abastecimento de água de São Luís será a responsável pelo abastecimento das futuras demandas de
água da região.

Figura 4.5 - Poço artesiano e reservatórios da Caema. Figura 4.6 - Reservatórios da Caema.
48 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Outros Destinos de Esgotamento Sanitário


4.2 Esgotamento Sanitário
49.65%
A Companhia de Água e Esgoto do Maranhão – CAEMA é a responsável pelo sistema de esgotamento
sanitário em São Luís. Em 1995, foram atendidos 83.436 edificações, sendo que destas, 94% eram de
categoria domiciliar, os outros 6% eram de categoria comercial, industrial e correspondentes aos poderes
públicos (Mapa “Formas de Esgotamento Sanitário em Domicilios Particulares Permanentes”).
De acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2000), dos 171.612 domicílios particulares permanentes Rede Geral
com banheiro ou sanitário do município de São Luís, apenas 49.65% contam com esgotamento sanitário por
rede geral ou pluvial. Dos domicílios pesquisados, 13.31% são servidos por fossa séptica, 28.03% são Fossa Séptica
servidos por fossa rudimentar, 5.67% apresentam vala como forma de esgotamento, 2.29% são servidos por 28.03% Fossa Rudimentar
rio, lago ou mar e 1.02% tem outro escoadouro como forma de esgotamento sanitário (Tabela 4.8).
Vala
Rio, lago ou mar
Tabela 4.8. Formas de Esgotamento Sanitário em São Luís. FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2000.
13.31% Outro escoadouro
Domicílios particulares permanentes

Tinham banheiro ou sanitário


5.67%
2.29%
Não
1.02%
Tipo de esgotamento sanitário tinham
Banheiro
Total
Rede Nem Figura 4.9 - Formas de Esgotamento Sanitário em São Luís. FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2000.
Total geral Sanitá-
de Fossa Fossa Rio, lago Outro rio
Vala
esgoto Séptica Rudimentar ou mar escoa-
ou douro De acordo com o Gerenciamento Costeiro do Maranhão (GERCO, 1998), no período de 1990 a 1995, os
pluvial
investimentos em infra-estrutura de esgotos no município de São Luís não foram suficientes para suprir a
Microrregião demanda, uma vez que houve um crescimento de apenas 3.87% de usuários atendidos. Deste percentual,
1.97% foram de ligações de esgotamento para a categoria domiciliar, enquanto que a na categoria comercial,
Aglomeração Urbana de São Luís houve um crescimento de 2.854 para 4.325 ligações, totalizando uma expansão de mais de 50% do sistema
no mesmo período. Assim, o município de São Luís, contava em 1995 com 691Km de rede coletora, cuja
capacidade de esgotamento correspondia a 21,2 milhões de m³ anuais, registrando um modesto aumento de
246862 207290 92376 33042 64489 10746 4349 2288 39572
7,24% no período de 1990 a 1995 (Tabela 4.9).

Município de São Luís

202231 171612 83518 22524 50282 9675 3880 1733 30619 Sistema de Esgotamento Sanitário

anos
A maioria desses domicílios, com sistema de esgotamento sanitário por rede geral ou pluvial, estão
Discriminação
localizados na área central de São Luís e nos conjuntos habitacionais mais recentes. Na orla marítima apenas 1990 1995 2005
o loteamento do Calhau é atendido. Os bairros que apresentaram os piores índices de esgotamento sanitário
foram Cidade Olímpica, Santa Clara, Coroadinho, Jaracaty, Vila Itamar, Jardim São Cristóvão II, Tirirical, Extensão da Rede Coletora (m) 497.000 691.000 772.677
Conjunto São Raimundo, Pindorama, parte da Cohama e Olho D’água, os bairros localizados às margens do
Rio Anil e a área do Itaqui Bacanga. Esses bairros apresentaram um alto índice de domicílios com esgotamento Volume Esgotado (1.000 m3) 19.800 21.235 -
sanitário do tipo fossa rudimentar, jogado em rio, lago ou mar e esgotamento do tipo vala. Ponta D’areia,
parte do Calhau, Olho D’água, Turu, Bequimão, Forquilha, São Cristóvão e Anil, apresentaram fossa séptica Tabela 4.9. Capacidade de atendimento do Sistema de esgotamento sanitário em São Luís. 1900-2005. FONTES:
como forma de esgotamento sanitário predominante (Fig. 4.9). GERCO - Gerenciamento Costeiro do Maranhão, 1998; CAEMA - Companhia de Água e Esgoto do Maranhão, 2005.
50 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

A ilha de São Luís, na atualidade, enfrenta diversos


p r o bl e m a s d e d r e n a ge m p l u vi a l . E s t e s p r o b l e m a s e s tã o
relacionados a fatores como a sua formação física e geográfica,
especialmente em relação a sua grande oscilação de maré; a
ocupação desordenada em terrenos baixos, facilmente alagáveis;
a precariedade no sistema de manutenção, limpeza e pavimentação
das vias em alguns bairros, as modificações do terreno natural,
para a criação dos aterros e a inexistência ou precariedade de
uma rede coletora em alguns trechos da ilha.
O núcleo urbano de São Luís enfrenta os maiores problemas
relacionados à drenagem, devido a sua extensão. Na maior parte da
área urbana, a deficiência do sistema, está associada à sua
precariedade na operacionalização, relacionados a manutenção de
vias e limpeza de bocas de lobo.
Mas os maiores problemas, encontram-se nas bacias
hidrográficas do Anil e Bacanga. Na primeira, a inexistência de um
sistema de drenagem nos assentamentos situados à montante do rio,
aliada à precariedade na pavimentação das vias, provoca problemas
de inundação e erosão, agravados em alguns trechos onde o destino
das águas se faz por condutor a céu aberto (Fig. 4.10).
Os alagamentos ocorridos ao longo dos rios estão relacionados
às obras de aterro hidráulico, entupimento de bocas de lobo e variação
da maré. Na margem esquerda dessa Bacia, a situação é ainda mais
agravante devido ao grande adensamento populacional com
características de ocupação desordenada (Camboa e Liberdade).
A Bacia do Bacanga, também apresenta problemas de erosão,
principalmente no bairro do Anjo da Guarda, relativos à falta de
pavimentação e a inexistência de sistema de drenagem. No entanto,
os problemas mais graves estão relacionados aos movimentos de terra,
verificados nas proximidades do Rio da Bicas, dificultando a drenagem
natural e provocando conseqüentemente erosões.
E s t a s i t u a ç ã o to r n a - s e a i n d a m a i s a g ra va n te n o s
assentamentos situados em cotas baixas sujeitos à variação da
maré. Na margem direita do rio Bacanga, onde a característica de
assentamento é mais antiga, os problemas encontrados se
relacionam à precariedade na operacionalização do sistema,
relativos à limpeza e manutenção. A inexistência de uma rede
coletora de esgotos nesta área, torna crítica o sistema de drenagem
ocasionando a formação de lagos e bolsões, representando riscos
de contaminação e proliferação de doenças para a população
residente nessas áreas (Mapa “Tipos de Esgotamento Sanitário
em Domicilios Particulares Permanentes”). Figura 4.10 - Cabeceiras do rio Anil, Vila Palmeira. FONTE: ZEE (2003).
52 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

4.3 Coleta de Lixo No município de São Luís, de acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE (2000), em 73,15%
dos domicílios particulares permanentes a coleta de lixo é realizada por serviço de limpeza ou por caçamba
de serviço de limpeza. O lixo não coletado representa 26,85% dos domicílios particulares permanentes. Esse
O gerenciamento da limpeza pública em São Luís enfrentou duas fases da década de 70 até os dias de
percentual subdivide-se em 1,24% dos domicílios com lixo enterrado, 10.90% dos domicílios com lixo queimado,
hoje. De 1975 a 2002, a Companhia de Limpeza e Serviços Urbanos – Coliseu era a única responsável pelos
11,25% dos domicílios com lixo jogado em terreno baldio ou logradouro, 2,54% dos domicílios com lixo
serviços referentes à limpeza pública no município. Após vinte e sete anos de administração, devido à eminente
jogado em rio, lago ou mar e 0,89% dos domicílios classificados como outros destinos de lixo
crise pela qual passava a Coliseu, atestada pela incapacidade instalada para suprir a demanda da geração de
(Tabela 4.10 e Fig. 4.12).
resíduos em São Luís, as condições da cidade encontravam-se precárias. Para sanar essa situação emergencial,
tornou-se necessária a adoção de uma série de medidas cuja finalidade era organizar e implantar um novo
Tabela 4.10 – Destino do lixo em São Luís. FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2000.
modelo de gestão a fim de reverter à situação evidenciada anteriormente.
Esse novo modelo de gestão adotado pela atual administração de São Luís compreende a terceirização Domicílios particulares permanentes
de parte dos serviços de limpeza urbana permanecendo, porém, sob a gestão pública. As empresas contratadas
(LIMPEL e LIMP FORT) dividem com a Coliseu a operacionalização da atual limpeza urbana do município.
Destino do lixo em São Luís
Para planejar e coordenar as atividades operacionais, assim como fiscalizar o novo modelo de gerenciamento
dos resíduos foi criado o Núcleo Gestor de Limpeza Urbana, vinculado à SEMSUR (Secretaria Municipal de
Coletado
Serviços Urbanos), que em 2003, após reforma administrativa, tornou-se a atual Superintendência de Limpeza
Jogado
Pública (Mapa “Destino do Lixo em Domicílios Particulares Permanentes”). Total Queimado Enterrado em Jogado
Em (na (na terreno em rio, Outro
Essa melhoria nos serviços de limpeza pública do município de São Luís, proveniente do atual modelo Por caçamba proprie- proprie- baldio ou lago ou Destino
de gestão de resíduos, resultou no título de cidade com melhor serviço de limpeza pública do país de acordo serviço de dade) dade) logra- mar
Total
de serviço douro
com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasmarket e divulgada em setembro de 2003. limpeza de
limpeza
Atualmente, esse serviço conta com cerca de 1.800 empregados, sendo 1700 agentes trabalhando nas
ruas além de encarregados, fiscais, motoristas, operadores, auxiliares de fiscal e funcionários administrativos.
Microrregião
Conta também com a utilização de mais de 175 equipamentos incluindo caminhões compactadores, basculantes,
mini basculantes, pipas, pás, tratores, escavadeiras, contêineres de lixo e roçadeiras mecânicas, além de Aglomeração Urbana de São Luís

caminhões e veículos leves de transportes (Fig. 4.11).


246862 160343 150635 9708 41998 4911 31024 6063 2523

Município de São Luís


Destino do Lixo
202231 147940 139501 8439 22050 2527 22763 5138 1813

Lixo coletado
73 . 15%
Queimado (na
propriedade)
Enterrado (na
propriedade)
Jogado em terreno baldio
ou logradouro
Jogado em rio, lago ou
10 . 9 0 % 11. 2 5% mar
2 . 54 % 0 . 8 9 % Outro Destino
1. 2 4 %

Figura 4.11 – Agente de limpeza da Prefeitura. Figura 4.12 - Destino do lixo em São Luís. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
54 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Os piores índices de coleta de lixo foram encontrados nos bairros Cidade Olímpica, Santa Clara, Cidade Tabela 4.11 - Quantitativo de resíduos sólidos coletados e transportados por dia em São Luís. FONTE:
Operária, Turu, nos bairros localizados às margens do rio Anil e na área do Itaqui-Bacanga. Nesses locais há Superintendência de Limpeza Pública, 2005.
predominância de lixo jogado em terreno baldio ou em rio, lago ou mar ou de lixo queimado.
De acordo com dados da Superintendência de Limpeza Pública, são coletados e transportados diariamente
para o Aterro Municipal da Ribeira 1.400 toneladas de resíduos sólidos (Tabela 4.11) e varridos diariamente Quantitativo de resíduos sólidos coletados e transportados por dia
cerca de 2.300 km de sarjetas.
Para um melhor gerenciamento dos resíduos sólidos, a cidade foi dividida em quatro grandes Domiciliares e comerciais 600 toneladas/dia
áreas. A área de abrangência dos trabalhos de varrição e de coleta de resíduos na área urbana de São
Luís pode ser observado no Mapa “Lixo Coletado em Domicílios Particulares Permanentes”. Provenientes da limpeza de logradouros públicos 160 toneladas/dia
Uma das preocupações da Prefeitura é a questão da educação ambiental e da ação comunitária.
A primeira é realizada junto às escolas (Figs. 4.13 e 4.14), como uma forma de inserir no cotidiano das Entulhos depositados em pontos clandestinos 580 toneladas/dia
crianças, novos cidadãos do município, a importância e o respeito às questões ambientais. Para isso,
têm sido realizadas reuniões com a equipe pedagógica das escolas, oficinas de reciclagens, projeção de Serviços de Saúde (não infectante) 10 toneladas/dia
fitas de vídeo sobre o assunto, apresentações de teatro e palestras sócio-educativas.
Feiras e mercados 20 toneladas/dia
A ação comunitária é realizada diretamente com a população de São Luís, visitando comunidades,
estabelecimentos comerciais e associações de bairros, realizando reuniões com lideranças de bairros e
instituições de acordo com solicitações da população e da fiscalização de limpeza.

Figura 4.13 - Educação ambiental realizada nas escolas. FONTE: Superintendência de Limpeza Pública, 2005 Figura 4.14 - Educação ambiental realizada nas escolas. FONTE: Superintendência de Limpeza Pública, 2005
56 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

5 MOBILIDADE URBANA 1 Aplicados sobre a planta dos eixos das vias que compõem o sistema viário de São Luís, a metodologia desenvolvida pela Universidade de
Brasília no projeto Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização (2004) produziu um Mapa Axial que identifica, por cores, as áreas mais ou menos
integradas da malha viária, portanto favorecendo ou dificultando a mobilidade na zona urbana da cidade (Figura 5.1 e Mapa “Hierarquia Viária”).
Os fatores que permitem o estabelecimento da hierarquia viária
As cores próximas ao azul indicam as regiões menos integradas à cidade, relegando trechos significativos da cidade à segregação, como os
na área urbana da cidade (Mapa “Hierarquia Viária”) são a freqüência
vários bairros que compõe o eixo Itaqui-Bacanga, e Coroadinho, seguidos pela Cidade Operária, Santa Clara e São Raimundo. As cores próximas ao
de interseções entre as vias, o controle mínimo e máximo de
vermelho indicam, por sua vez, os trechos do sistema viário da cidade mais integrados, favorecendo a mobilidade urbana. Estes trechos são
velocidade, utilização da via por veículos pesados, existência de
compostos pelos bairros diretamente ligados aos eixos viários das avenidas Getúlio Vargas, Daniel De La Touche e Jerônimo de Albuquerque.
estacionamento e presença maior ou menor de pedestres.
A Lei 3.253 de 29 de dezembro de 1992, que dispõe sobre o
Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano de São
Luís, classificou as vias do município da seguinte forma:
· Via Local – É aquela destinada ao acesso direto aos lotes
lindeiros e à movimentação do trânsito local. Encontra-se em toda a
extensão da cidade, principalmente no interior mais homogêneo das
diferentes zonas urbanísticas da cidade.
· Via Primária – Também denominada como via arterial ou
preferencial, é aquela destinada à circulação de veículos entre áreas
distintas da cidade, com acesso às áreas lindeiras devidamente
controladas. Ex: Av. dos Franceses, Av. dos Portugueses, Av. dos
Holandeses, Av. Jerônimo de Albuquerque, Av. Daniel de La Touche,
Estrada de Ribamar.
· Via Secundária – É aquela que possibilita a circulação de
veículos entre as vias primárias e o acesso às vias coletoras. Ex: Av.
Getúlio Vargas, Av. João Pessoa, Av. Castelo Branco, Av. Kennedy, Av.
Camboa, Av. Mário Andreazza.
Ainda existem as vias coletoras, que têm a função de coletar o
tráfego das vias locais e encaminhá-los às vias primárias (ou arteriais).
No município de São Luís as vias coletoras subdividem-se em:
· Vias Coletoras Principais – Ex: Av. Magalhães de Almeida,
Rua das Cajazeiras, Rua do Passeio, Rua do Egito, Av. Grande Oriente,
Av. Leste/Oeste, Rua dos Bicudos, Rua Pernambuco.
· Vias Coletoras Auxiliares – Ex: Rua do Sol, Rua de Santana,
Rua Manacás, Rua da Paz, Avenida Gomes de Castro.
As vias primárias são as que possuem o maior fluxo de veículos,
tanto particulares quanto coletivos. Elas constituem-se nos principais
eixos de distribuição e mobilidade entre os bairros da cidade. Os bairros
mais periféricos e extremos de São Luís, como Cidade Operária, Santa
Clara, Coroadinho, Vila Embratel, onde há predominância de vias locais Menos integrado (segregado)
e coletoras, não apresentam tanta integração e mobilidade quanto os
bairros mais centrais do município, que são servidos pelas vias primárias.
Mais integrado
Figura 5. 1 – Mapa Axial de Indicadores de Mobilidade de São Luís. FONTE: DIMPU/UnB IN Inventário
1
Nacional de Bens Imóveis: Sítios Urbanos Tombados/IPHAN (Sistema INBI-SU/Mapeamentos em
Érica Garreto Ramos, Arquiteta e Urbanista
SIG: São Luís/MA 2001/2002).
58 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Conforme descrito sobre as características de fluxo, mobilidade


e tipologia das vias, as que possuem índices mais altos de acidentes
de trânsito em São Luís são as vias primárias. Dentre outros fatores,
esses acidentes acontecem pelo fato dessas vias proporcionarem uma
maior velocidade e mobilidade aos condutores. Outro fator indicado
como premissa a eventuais acidentes foi o aumento do número de
veículos particulares na cidade nos últimos anos (Tabelas 5.1 e 5.2).
Com esse aumento, os congestionamentos tornaram-se mais
freqüentes e as vias ficaram mais suscetíveis a situações de choques
e colisões com pedestres e outros veículos.
Em São Luís pode-se observar (Mapa “Pontos Críticos de Acidentes
de Trânsito”) que as vias com maior índice de acidentes, segundo o
Departamento Nacional de Trânsito no Maranhão (Detran/MA), são as
avenidas Daniel de La Touche, Holandeses, Jerônimo de Albuquerque,
Franceses, Africanos, Guajajaras, João Pessoa e Getúlio Vargas.
A avenida Jerônimo de Albuquerque, uma das vias mais
extensas da cidade e com mais alto índice de acidentes de trânsito
dentre as já citadas, possui diversos pontos críticos em seu trajeto.
Por ser uma via de grande mobilidade aos motoristas, que recebe
os ônibus que passam pelos terminais de integração do São
Figura 5.2 - Terminais da Integração.
Cristóvão, da Cohab e da Cohama/Vinhais, e possuir uma grande
quantidade de equipamentos urbanos em suas margens, podem
ser observadas diversas áreas de congestionamentos ao longo de
sua extensão nos horários de pico.

Tabela 5.1 – Quantidade de veículos por ano de fabricação.


FONTE: Detran/MA, 2006.
Ano de Fabricação Quantidade
2005 17.916
2004 14.501
2003 11.908
2002 10.939
2001 10.395
2000 9.132
1999 6.136
1998 6.588
1997 6.317
1996 5.233
1995 4.458

Ta be l a 5 . 2 – Q u a n ti d a de e e s pé ci e de ve í cu l o s . F O N TE :
Detran/MA, 2006.
Espécie Quantidade Porcentagem
Passageiro 140.724 82,37
Carga 23.131 13,54
Misto 6.651 3,89
Tração 172 0,10
Especial 164 0,10
Coleção 6 0,00
Corrida 2 0,00
Total: 170.850 100.00 Figura 5.3 - Tráfego da Avenida dos Holandeses.
60 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

5.1 Infra-estrutura Urbana, Equipamentos Sociais e Serviços Urbanos

Conforme o Plano Diretor da Cidade (1992) Infra-Estrutura


Urbana é o conjunto de sistemas e instalações físicas (administrados
pelo poder público ou por ele contratado e supervisionado), colocados
à disposição da comunidade com vistas a assegurar as melhores
condições de vida em termos de abastecimento de água e esgotamento
sanitário, drenagem pluvial, energia e iluminação pública,
comunicações e sistema viário, previstos aqui a manutenção dos
equipamentos necessários para a execução de suas finalidades e
estabelecimentos de critérios técnicos para sua interferência na
ordenação do espaço (Mapa “Equipamentos Urbanos”).
O mesmo instrumento legal define equipamentos sociais e
serviços urbanos como o conjunto de elementos programados e
construídos com a finalidade de atender à população nos setores de
saúde, habitação de interesse social, educação e cultura, lazer e
atividades comunitárias, cuja distribuição no território e localização
prendem-se às Disposições Gerais sobre o Parcelamento do Solo,
presentes em sua Lei Complementar referente ao Zoneamento,
Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano.
Na cidade existem equipamentos sociais públicos e privados
com características e funções próprias (Fig. 4.4). Eles destacam-se
por organizar e qualificar o espaço urbano e podem, por sua
característica ou importância, constituir-se numa referência para o
conjunto de moradores de um determinado bairro, ou de toda uma
região da cidade. Um caso a ser exemplificado no município de São
Luís é a Praça Deodoro, que representa para a população um dos
mais importantes pontos de convergência e distribuição para as outras
áreas da cidade, envolvendo tanto funções urbanas residenciais quanto
de serviços, institucionais e, principalmente, comerciais.
Figura 4.4 - Praça Maria Aragão.
O Sistema Integrado de Transporte, que tem como objetivo
priorizar o transporte coletivo municipal, por ser o meio mais eficiente
e seguro para atender à movimentação de grande contingente de de equipamentos urbanos e infra-estrutura encontra-se nas áreas dentre outros. Configura um bairro bem servido, pois agrupa em seus
pessoas, tem sido um importante instrumento de mobilidade, centrais e próximas à região das praias, de urbanização pós década limites diferentes opções de usos e instalações que proporcionam boa
distribuição e acesso da comunidade aos diversos pontos de São Luís. de 80 e que hoje configuram trechos considerados nobres pelo mercado qualidade de vida às pessoas que residem, trabalham ou transitam
Implantados em bairros estratégicos em relação às vias de maior imobiliário. Esse fator reforça a idéia de desigualdade da distribuição nesta área, além dos bairros adjacentes a ele.
fluxo e em relação aos outros bairros adjacentes a eles, os Terminais desses equipamentos na cidade, polarizada entre as áreas com Bairros relativamente novos e que já se constituem como área
de Integração da Praia Grande, Distrito Industrial, São Cristóvão, Cohab presença da população de maior poder aquisitivo e áreas com presença nobre da cidade por, dentre outros fatores, estarem próximo às praias,
e da Cohama/Vinhais promovem a facilidade de locomoção às mais da população de baixa renda. o São Francisco, Renascença e Calhau apresentam-se bem servidos
diversas áreas da cidade pela interligação das linhas de ônibus. Por ser o bairro que deu início à formação de São Luís, o Centro de equipamentos urbanos e infra-estrutura. Com a proliferação e
A qualidade e o acesso à Infra-Estrutura e aos Equipamentos Histórico possui grande variedade e quantidade de equipamentos consolidação de conjuntos habitacionais horizontais e de edifícios
Urbanos são indicadores do nível de vida dos bairros e condição de urbanos e possui uma boa infra-estrutura. Foram agregados às igrejas, multifamiliares, a implantação de estruturas que pudessem suprir
inclusão/exclusão social dos seus habitantes. Um outro indicador praças, escolas e hospitais instalados no período imperial outros às necessidades da população que nessas áreas se instalavam
dessas condições é a localização do bairro em relação às áreas equipamentos ainda hoje utilizados pela população, como hotéis, tornou-se imprescindível, propiciando assim melhor acesso aos
melhores servidas da cidade. No caso de São Luís, a maior concentração supermercados, tribunais, postos dos correios, terminais de ônibus serviços que se concentravam na parte central da cidade.
62 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

6 FORMAÇÃO HISTÓRICA E O PROCESSO ATUAL DE


DESENVOLVIMENTO DA CIDADE 1

Em 8 de setembro de 1612 Daniel de La Touche, Senhor de


La Ravardière, oficializou a fundação da cidade de São Luís de forma
cerimoniosa, conforme costume dos colonizadores franceses em todos
seus territórios coloniais. Uma vez iniciada sua edificação, o Forte de
Saint Louis (homenagem ao Rei-Menino Luís XIII) foi a principal
construção francesa na Upaon Açu (Ilha Grande), dominada pelos
índios Tupinambás. Estes aproximaram suas construções de pau e
folha de pindoba no entorno do forte, formando, juntamente com
barracões de madeira construídos pelos recém chegados o embrião
da principal praça da cidade, hoje denominada D. Pedro II (Fig. 6.1).
Através de mãos francesas e indígenas, esta intervenção no meio
natural daquele trecho do sítio, escolhido para instalação do forte, foi
determinante no desenvolvimento da cidade e permitiu o surgimento
do mais antigo espaço urbanizado de São Luís.
Somente em 1615 deu-se a reconquista do Maranhão pelos
portugueses, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque. Para
garantir e oficializar o domínio lusitano, São Luís passou por
organização administrativa, quando, entre outras medidas, o
Engenheiro-Mor do Brasil Francisco Frias de Mesquita executou um
plano de arruamento que deveria orientar o seu crescimento e que foi
deixado na Colônia como norma. A União Ibérica (entre 1580 e 1640),
quando a Coroa Portuguesa esteve sob domínio espanhol, determinou
este desenho próprio e particular ao desenvolvimento do núcleo urbano
agora sob colonização portuguesa.
Tal norma urbanística, de origem espanhola, marcou o domínio
físico do novo núcleo urbano sobre a cultura indígena encontrada na Figura 6.1 - Praça D. Pedro II e Palácio dos Leões (Vista aérea).
América, determinando aos colonizadores que só era permitida a
exploração econômica das novas terras ou a catequese dos indígenas Esta orientação de traçado urbano foi adotada nas ruas de São pontos cardeais favorecendo a insolação e ventilação uniformes de
à obediência da Metrópole e da Igreja após a conclusão do povoamento Luís, a ponto de, quando da invasão holandesa (1641), ser registrada todas as edificações, cujas fachadas apresentam regularidade na extensão
de fato, com a construção dos arruamentos estruturantes mínimos e no que são consideradas as mais antigas planta e vista da cidade da rua, ocupando toda a testada principal do lote sem recuos frontais.
das principais edificações governamentais. Em São Luís esta mesma (Figs. 6.2 e 6.3), já revelando o atual desenho urbano do Centro São Luís apresenta em seu Centro Antigo, no sítio original de
marca urbanística foi deixada por Frias de Mesquita como regra, uma Histórico. As praças (as plazas mayores e plazas de armas espanholas), sua fundação, o modelo da Plaza Mayor, contendo os principais edifícios
traça (do espanhol traza), um plano regulador em duas dimensões as ruas ortogonais orientadas de acordo com os pontos cardeais e as administrativos: o Palácio dos Leões (antigo Palácio dos Governadores),
que formará um novo tipo de cidade, agora regular e com regras para fachadas dos edifícios (que deveriam ser concebidas com o máximo a Arquidiocese e a Catedral da Sé (principais edifícios religiosos), o
sua expansão. de regularidade, simetria e belas visuais) marcaram o modelo Palácio La Ravardière, sede da Prefeitura Municipal (antiga Casa de
implantado pelos espanhóis em suas cidades coloniais e refletiram as Câmara e Cadeia) e já no século 20 (mantendo o caráter do logradouro
expectativas renascentistas de beleza, simetria e ordenação racional de espaço centralizador dos poderes) recebeu o Palácio da Justiça.
dos espaços públicos. São Luís apresentou seu desenvolvimento físico O desenvolvimento da cidade manteve este modelo urbano ao
1
José Marcelo do Espírito Santo, Arquiteto e Urbanista através de um arruamento ortogonal, também com orientação pelos longo dos séculos 18 e 19, na medida que se expandiu em direção ao
SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE 63

Em São Luís foi instalada a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão


(em 1755) que introduziu no Maranhão o cultivo do algodão em larga escala, através da mão-
de-obra negra. Agora integrado ao sistema mundial de comércio, através da exportação do
arroz, algodão e materiais regionais (agro-exportação), o Maranhão canalizou para São Luís
e Alcântara os principais portos de escoamento, determinando uma circulação de riquezas
que promoveu um florescimento cultural e urbano significativo para as duas cidades.
Também resultado deste período de desenvolvimento foi a elevação da Vila de Paço do Lumiar,
em 1761.
Porém, em 1755, no mesmo ano da criação da Companhia de Comércio, um terremoto
de grandes proporções destruiu um terço da cidade de Lisboa e deixou mais de 40 mil mortos.
Este fato determinou um plano de reconstrução que previu a primeira pré-industrialização dos
elementos arquitetônicos na história, determinados por Pombal para garantir maior velocidade
nas obras de recuperação física da capital lusitana.
As novas edificações em São Luís (fruto do desenvolvimento da Companhia de Comércio)
seguiram os mesmos princípios estilísticos hoje reconhecidos como Barroco Pombalino, surgidos
como resultado plástico das medidas normatizadoras propostas pela equipe de engenheiros e
arquitetos a serviço de Pombal na reconstrução de Lisboa. Aproximaram-se aqui os modelos
portugueses utilizados na reconstrução da chamada Baixa Pombalina, em Lisboa, dos modelos
adotados em São Luís do Maranhão.

Figura 6.2 - São Luís em 1641, em registro do cartógrafo holandês Johanes Vingboons. FONTE: REIS FILHO, 2000.

interior da ilha. A partir deste traçado original a formação e desenvolvimento dos espaços públicos e
privados prosseguiu de forma diferenciada do modelo colonial do resto do país, tipicamente portugueses,
que submeteram seu desenho urbano à topografia, como se apresenta em Alcântara. Somente após a
consolidação desta forma urbanística é que foram tomadas medidas para integrar o Maranhão à Coroa
Portuguesa, como a Criação do Estado do Maranhão (compreendendo as Capitanias do Grão-Pará, Ceará
e Maranhão) em maio de 1617 e instalação da Câmara Municipal de São Luís, elevada a categoria de
Vila, em 1619.
Na segunda metade do século 18 o Rei D. José I, através de seu Primeiro Ministro Sebastião José
de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, determinou uma série de investimentos e incentivos na
manufatura cerâmica, na produção do vinho e nas tecelagens, como forma de aumentar a oferta de
empregos para a população portuguesa. Para garantir o fornecimento de matéria-prima para a iniciante
indústria manufatureira da Metrópole, Pombal criou uma série de Companhias de Comércio em diferentes
regiões de suas colônias, como a Companhia da Ásia (1753), a Companhia da Pesca da Baleia e a da
Agricultura dos Vinhos do Alto Douro (1756) e a Companhia de Pernambuco e Paraíba (1759). Figura 6.3 - Vista de São Luís quando da invasão holandesa (1641), obra do pintor Franz Post. FONTE:
REIS FILHO, 2000.
64 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

São desse período a lavra das pedras de cantaria (as pedras de


liós) que compõem o acervo arquitetônico da cidade, também utilizadas
e provenientes de Lisboa como lastro dos navios mercantes que
chegavam à cidade para o transporte do algodão para a Europa e a
chegada dos primeiros lotes de azulejaria portuguesa para utilização
nos novos edifícios, financiados por comerciantes portugueses ligados
às atividades da Companhia Geral de Comércio (Fig. 6.4).

Figura 6.4 – Vista da Rua Portugal que apresenta características do Barroco


Pombalino, como: o uso freqüente de emolduramento dos vãos, sacadas
em pedra de liós, guarnecidas por balcões de ferro forjado ou fundido,
pisos, soleiras, molduras e portadas em cantaria.

O declínio do ciclo algodoeiro maranhense ocorreu com o


término da Guerra Civil Americana (a Guerra de Secessão), que permitiu
a retomada do cultivo do algodão em larga escala pelos Estados Unidos
e a venda por preços mais baixos ao mercado europeu.
A partir de 1808, com a vinda da Família Real para o Rio de Figura 6.5 – Praça Benedito Leite no início do século 20. A praça apresentava o estilo dos jardins franceses, onde predominava a vegetação topiária. FONTE:
Janeiro e a permissão para a instalação das primeiras indústrias têxteis CUNHA, Gaudêncio. Álbum do Maranhão, 1908.
no país, se desenvolveram em São Luís os curtumes, a indústria do
anil (ou índigo, produto responsável pelo tom azul dos tecidos, retirado
de leguminosas) e o soque do arroz. Ao final do século 19 a Abolição da Escravatura e a posterior A implantação das primeiras indústrias têxteis (somaram 24
Proclamação da República comprometeram a produção algodoeira, fábricas) e o surgimento de infra-estrutura e serviços urbanos (a criação
A crise do sistema agro-exportador, com os problemas do causando nova estagnação econômica que durou até o início da da Companhia de Águas e Companhia Telefônica) evidenciou um
transporte fluvial maranhense e a queda dos preços do algodão segunda metade do século 20, apenas interrompido por breve surto processo de crescimento, denotando a aplicação de recursos financeiros
no mercado externo, foi acompanhada pelo nascimento de um industrial têxtil nas décadas de 30/40, que, porém não resistiu à por parte do recém surgido empresariado, composto por agricultores
setor comercial interno, responsável pelo financiamento da concorrência do parque industrial do sul do país. que naquele momento passaram a trocar suas residências do interior
produção agrícola. É este capital mercantil que investirá nos do estado pela Capital.
serviços urbanos que surgiram neste período (1850 – 1870). São Se o século 19 caracterizou-se pela gradativa diminuição das
reflexos do desenvolvimento da cidade, fruto desta diversificação exportações de matéria prima (o algodão), com a internalização do Com a consolidação do processo de industrialização teve início
do capital acumulado na agro-exportação, a iluminação a gás comércio, e simultaneamente teve lugar o aparecimento das primeiras a expansão da malha viária e o aparecimento dos primeiros bairros
hidrogênio em 1863, o transporte de bondes puxados a burro indústrias, este fato trouxe repercussões espaciais na ocupação do suburbanos e operários, como o Anil (a 9 km do centro), próximo à
(1871) e os serviços de água canalizada (os chafarizes da solo urbano. Representou a expansão da malha urbana existente, Fábrica de Tecidos Rio Anil (atual CINTRA) e o aparecimento dos
Companhia do Rio Anil, em 1874) (Fig.6.5). que se restringia até então ao Centro Antigo e suas imediações. núcleos habitacionais fabris, no entorno das fábricas Camboa e
SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE 65

Santa Isabel. Em termos regionais foi implantada em 1921 a Estrada


de Ferro São Luís-Teresina, que garantiu importante corredor de
comunicação com o interior maranhense.
A chegada das décadas de 30 e 40 do século 20 representou
um declínio econômico para o Maranhão em função da perda da
atividade agro-exportadora e estagnação no crescimento das atividades
fabris. Porém reflexos das transformações econômicas repercutiram
na ocupação espacial da cidade, determinando deslocamentos
populacionais. De um lado a população de renda mais alta instalada
até então na área da Praia Grande se deslocou para o bairro Monte
Castelo, especificamente ao longo da avenida Getúlio Vargas. Neste
momento deu-se início ao processo de desvalorização da área central
que vai sendo ocupada pela população de renda mais baixa, dando
origem à formação dos cortiços.
Na década de 50, a expansão físico-territorial urbana foi induzida
pelos investimentos regionais, que propiciaram uma breve saída do
declínio econômico até então verificado. Isto foi propiciado pelo
aumento das exportações (principalmente do babaçu) e importações
no Estado, cujo incremento foi possível em função dessas mesmas
infra-estruturas regionais, especialmente pela implantação de rodovias
federais e estaduais.
Estas rodovias permitiram interligações entre as cidades de São
Luís e Teresina, bem como as demais existentes ao longo de seu
traçado, favorecendo principalmente os acessos através de
entroncamentos viários às cidades de Codó e Bacabal, passando por
Caxias e chegando em Teresina, estendendo-se esses benefícios às
cidades da região. Outra rodovia que data deste período foi a que faz
ligação da cidade de São Luís com Porto Franco, no extremo sudoeste
do estado, na divisa com Tocantins. Implementou-se o trecho Peritoró-
Pindaré da rodovia São Luís-Belém e a nível federal o período foi
marcado pelo aparecimento da rodovia Belém-Brasília, no trecho do
território maranhense.
Estas rodovias permitiram as ligações com o oeste e nordeste
do Estado e tiveram como objetivo principal a abertura de fronteiras
agrícolas, propiciando o desenvolvimento da policultura (babaçú, arroz,
milho e feijão), cujo escoamento anteriormente se realizava somente
pela Estrada de Ferro São Luís-Teresina. Estas atividades abrangeram
as cidades de Rosário, Itapecurú, Coroatá, Codó, Caxias e Timon.
Surgiram novos pólos de comercialização no interior do estado,
destacando-se Pindaré, Santa Inês, Bacabal, Pedreiras, Coroatá, Codó,
Caxias, Imperatriz e Chapadinha.
Os efeitos das novas rodovias e o desenvolvimento dos novos
núcleos de produção agrícola e comerciais no interior do estado
refletiram no desenvolvimento urbano da capital, principalmente no
corredor Centro-Anil, concretizando-se no assentamento de grandes
contingentes populacionais (12 km de expansão urbana). A capital
surgia como pólo natural para onde convergiam os movimentos
migratórios, que tiveram início justamente nesta década.
Na década de 60, a canalização de investimentos para a cidade
repercutiu no direcionamento dos vetores de crescimento da ocupação
física-territorial da malha urbana. Destacaram-se como fatores
determinantes da expansão da mancha urbana: primeiro a ampliação Figura 6.6 – Evolução/Expansão do Centro Histórico de São Luís: 1640/1970 (sobre base cartográfica de 2001). FONTE: ESPÍRITO SANTO (2006).
66 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

do sistema viário em áreas já urbanizadas; em segundo lugar a


consolidação dos bairros até então considerados suburbanos; em
terceiro a implantação dos primeiros conjuntos habitacionais pela
COHAB e, por último, a intensificação das migrações rurais
caracterizadas pelo início do processo de ocupação por “invasão”.
A ampliação do sistema viário urbano ocorreu concretamente
com o prolongamento da projeção do corredor Centro-Anil, ligando
os bairros mais afastados (situados na periferia) à área central,
formados pelo prolongamento da Avenida Getúlio Vargas e Avenida
João Pessoa. As barreiras físicas constituídas pelos rios Anil e Bacanga
também contribuíram para este vetor de crescimento (o corredor
sudeste) em direção ao Tirirical.
O crescimento físico-territorial atingiu 13 km de expansão da
área urbana, constituindo a consolidação dos bairros Liberdade
(Matadouro), Monte Castelo (Areal), Fátima (Cavaco), João Paulo,
Caratatiua, Jordoa e Sacavém.
A consolidação destes bairros determinou o deslocamento
das atividades comerciais ao longo do eixo viário principal pelas
avenidas Getúlio Vargas e João Pessoa. O João Paulo, até então
considerado subúrbio, tornou-se sub-centro funcional. Antes da
ampliação desta via a ocupação era esparsa e, com o seu
p r o l o n ga m e n t o, e s ta á r e a pa s s o u a e xe r ce r a t i v i d a de s
diversificadas no uso e ocupação do solo, onde as tradicionais
lojas do Centro Antigo passaram a manter suas filiais.
Outro vetor de crescimento foi determinado pela implementação
de um novo sistema viário urbano em fins da década de 60,
Figura 6.7 - Avenida Castelo Branco e bairro do São Francisco.
especificamente no período de 1967 a 1970, possibilitando o
crescimento a sudoeste e ao norte, com a construção respectivamente
Outro fator de ocupação direcionada esteve relacionado ao hoje no divisor de águas do Bacanga e do Anil e em áreas de mangues.
da Barragem do Bacanga, fazendo a ligação entre a área central de
aparecimento dos primeiros conjuntos habitacionais, implantados pelo Esta década representou um marco decisivo na expansão física-terri-
São Luís e o Porto do Itaqui, e a construção da segunda ponte sobre
sistema de financiamento da COHAB, especificamente nos anos de torial da mancha urbana, caracterizando-se por um processo
o Anil, Ponte José Sarney, em 1970. A primeira ponte sobre o Rio Anil 1967 e 1969, denominado Rio Anil I e II, respectivamente. relativamente rápido e desordenado de crescimento sem um
ligou o bairro do Caratatiua ao Ivar Saldanha em 1968. planejamento físico-territorial. Apenas em meados da década seguinte
Estes conjuntos foram implantados em área afastada do
A construção da barragem propiciou a ocupação do bairro Anjo tradicional centro residencial e comercial da cidade, evidenciando-se foram estabelecidas normas de parcelamento e uso do solo urbano,
da Guarda, loteamento implantado em 1968 para abrigar a população nesta época o surgimento de grandes bolsões de vazios urbanos, que na tentativa de ordenar a ocupação do espaço através do Plano Diretor
do bairro do Goiabal (próximo ao cemitério do Gavião) que havia sido acentuaram em parte a expansão urbana exagerada que a cidade de 1975, proposto pelo prefeito Haroldo Tavares.
desabrigada, na época, por ocasião de um incêndio, e antigos hoje apresenta. Surgiram aqui os mais graves problemas em termos O período formado pelas décadas de 70 e 80 foi marcado pela
moradores do Sítio Santa Quinta, nas margens do rio Bacanga, onde de fornecimento das infra-estruturas e dos serviços de abastecimento continuidade do crescimento verificado na década anterior,
hoje está situado o campus da Universidade Federal do Maranhão e saneamento, bem como de transporte e limpeza públicas. A princi- caracterizando-se por uma aceleração maior na ocupação física-terri-
(UFMA). Foi previsto no projeto a implantação de infra-estrutura pal oferta da rede escolar, hospitalar e de serviços ainda permanecia torial, também proporcionada pela ampliação do sistema viário e
de saneamento, porém não concluída. Compondo o atual eixo no Centro Histórico. consolidação dos vetores de crescimento anteriormente determinados.
urbano Itaqui-Bacanga, a área foi, em 1988, inteiramente ocupada O final da década de 60 foi marcado por uma grande migração Neste período foram feitos investimentos que resultaram na
por invasões. rural, que se relacionou à demanda de mão-de-obra na construção implantação do Distrito Industrial na Ilha de São Luís. Embora estudos
Já a ponte José Sarney possibilitou a formação dos bairros São civil, tanto na construção de novas vias e ampliação do sistema viário, para essa implantação datem da década de 60, o Distrito Industrial
Francisco e Renascença ao longo da década seguinte (1980), num como na construção dos novos loteamentos e conjuntos habitacionais. também se concretizou após a elaboração do Plano Diretor de 1974.
trecho da cidade anteriormente apenas ocupado por residências de Neste momento expandiu-se a área de palafitas ocupadas por Na década de 70 verificou-se o duplo processo de ocupação
veraneio ao longo da praia do Olho d’Água. populações de baixa renda, em ocupações que predominam ainda direcionada: de um lado um processo “espontâneo”, através da
68 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

proliferação de ocupações irregulares de áreas urbanas; e por outro


lado um processo “induzido” determinado pela implantação de grande
número de conjuntos habitacionais de iniciativa privada próximos a
loteamentos consolidados.
Ao lado destes fenômenos teve início a preocupação de
contenção do crescimento desordenado que vinha se refletindo no
processo de ocupação da ilha. O processo culminou na elaboração,
pela Prefeitura Municipal, dos Termos de Referência para o Plano de
Desenvolvimento Local Integrado (em 1974), com propostas de
direcionamento e disciplinamento do uso e ocupação do solo urbano.
Nestas propostas destacaram-se a implementação de um complexo
sistema viário na área urbana, implantação do Distrito Industrial e a
pre visã o de áre as de expans ão u rban a pa ra o s pr ováveis
assentamentos populacionais, através do incremento dos conjuntos
habitacionais populares.
No âmbito regional foram elaborados os primeiros estudos para
a implantação da ferrovia até a Ponta da Madeira em área do Porto do
Itaqui, aliado à conclusão da BR-135, ligando os núcleos urbanos
localizados no sul de São Luís e à cidade de Teresina. A reformulação
do plano rodoviário propiciou a reorganização dos fluxos para o Porto
do Itaqui. Com isso São Luís retomou a posição de centro polarizador
regional, provocando grandes fluxos populacionais e conseqüente
inchamento da cidade. Em termos regionais se deu nova expansão de
infra-estrutura, quando entrou em funcionamento a Usina de Boa
Esperança e a CEMAR (Companhia Energética do Maranhão, empresa
estatal de energia elétrica), em maio de 1970.
A construção da terceira ponte sobre o Rio Anil, denominada
Ponte Bandeira Tribuzzi, na década de 80, juntamente com o término
do Anel Viário e marginais dos rios Bacanga e Anil aproximaram não
só o Centro Histórico do Distrito Industrial como permitiram o
surgimento dos maiores conjuntos habitacionais populares da cidade, Figura 6.8 - Avenida Colares Moreira e bairro Renascença.

entre eles Cidade Operária, Cohatrac e Jardim São Cristóvão. Também


foram implementados nesta década nove novos conjuntos pela COHAB Nesta lógica de construção do espaço urbano destacam-se ainda
sua parte protegida pela legislação federal teve um esvaziamento
na Ilha de São Luís, paralelamente ao processo contínuo de ocupações no Centro Antigo as funções administrativas do Estado e do Município,
muito mais acentuado, agravado pela instalação de instituições
irregulares de áreas urbanas. bem como as atividades do comércio varejista, tradicional e de gêneros
administrativas federais, estaduais e municipais.
A instalação no Distrito Industrial da Alumar (Alumínio do alimentícios. O Centro apresenta, portanto, diversidade de usos e
O abandono da região central, que passou a comprometer
Maranhão) e CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), num primeiro situações urbanas que não afetam, no entanto, a sua homogeneidade
fisicamente grande parte da área, foi combatido parcialmente pela
momento contribuíram apenas para o acréscimo populacional na e riqueza ambiental enquanto conjunto urbano coerente e
legislação urbanística municipal e pelo projeto Praia Grande/Reviver, representativo.
cidade, oriundo da zona rural da ilha e do interior do estado. Em
de forma mais direta, com intervenções sobre as estruturas físicas
termos urbanísticos houve uma gradativa redução do uso residencial Valorizado do ponto de vista histórico, mas perdendo
daquele trecho da cidade. As intervenções compreenderam a
da área central da cidade, devido a transferência de moradores para gradativamente seus valores estéticos e ambientais, por conta de usos
restauração e adequação às novas funções dos edifícios históricos, incompatíveis com as suas características: tráfego de veículos pesados,
regiões periféricas, atraídos por melhores condições de moradia e
assim como a renovação de infra-estrutura urbana, com a reforma espaços públicos desqualificados e pouco vivenciados, raras áreas
preços mais baixos, com possibilidade de compra dos imóveis.
das redes de água, esgoto e drenagem, a substituição da rede verdes e equipamentos urbanos inadequados com o estilo do sítio, o
Ao mesmo tempo em que o Centro Histórico teve a função telefônica e elétrica aérea pela subterrânea, o alargamento das Centro Antigo, exige, como tem ocorrido, significativos investimentos
residencial substituída progressivamente pelo comércio e serviços, calçadas e a construção de praças e jardins. para a sua recuperação e requalificação.
70 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

6.1 A Proteção Patrimonial do Centro Histórico

O reconhecimento internacional sobre os valores patrimoniais


do acervo ambiental urbano de São Luís foi resultado de um processo
antagônico: estagnada economicamente ao final do século 19, a cidade
não proporcionou mudanças urbanísticas drásticas, nem por parte do
Poder Público, nem através da sociedade, sem fôlego financeiro para
substituir o acervo edificado de origem portuguesa pelas novas
tendências ecléticas que já despontavam em algumas poucas
edificações, como influência dos principais centros nacionais, em es-
pecial a então Capital Federal, Rio de Janeiro.
Parte do Centro Histórico de São Luís teve ao longo do tempo
sua função residencial substituída por comércio e serviços. Em par-
ticular a área sob tutela da legislação federal de tombamento sofreu
um esvaziamento mais acentuado, agravado pela instalação da função
administrativa federal, estadual e municipal em edifícios da área,
afastando cada vez mais a população residente.
O abandono da região central passou a comprometer fisicamente
grande parte do acervo edificado, sendo objeto de preocupação da
Prefeitura refletida através da legislação urbanística municipal (os
Planos Diretores de 1974 e 1992, que mostraram limitações como
instrumentos preservacionistas) e principalmente pelo Projeto Praia
Grande (de forma mais direta sobre as estruturas físicas daquele trecho
da cidade), iniciado pelo poder público estadual na década de 80.
Atualmente mantém-se uma parte significativa do Centro
Histórico ainda com uso residencial. Porém a área incluída na Listagem
do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) apresenta um uso comercial Figura 6.9 - Praia Grande e Centro Histórico.
intensivo (e em vários momentos danoso ao acervo) e muitas
edificações vazias, exatamente no entorno da área de intervenção do destruiu vários quarteirões coloniais e uma praça) e o alargamento Os primeiros trabalhos sobre o acervo artístico e arquitetônico de
governo estadual e sob proteção do Instituto do Patrimônio Histórico das ruas do Egito (que também demoliu casarões coloniais) e das São Luís voltados a um aprofundamento científico e de produção do
e Artístico Nacional - IPHAN. Cajazeiras (no extremo sul da atual área preservada). conhecimento a partir de bases metodológicas partiram da UNESCO,
Patrimônio Nacional desde 1974, 1.369 imóveis e logradouros A sucessão de ações de tombamento federal, surgidas como através de seus representantes que estiveram na capital maranhense
públicos do Centro Histórico de São Luís situados em aproximadamente resposta às ações reurbanizadoras do Poder Público estadual, foi para relatar sua conservação e o valor patrimonial de seu conjunto
100 hectares foram incluídos em dezembro de 1997 na Listagem do acompanhada pela Prefeitura com a criação da Comissão do Patrimônio ambiental urbano. Baseados em princípios internacionais de conservação
Patrimônio Mundial, passando a ter o título de Patrimônio Cultural da Artístico e Tradicional do Município e de um Decreto-Lei que impedia (em particular a Carta de Veneza) e apesar de não conseguirem efetivar
Hum anidade, ao lado de 582 loca lida des, sítios e be ns, a demolição ou reforma de edifícios com mirante e/ou azulejados. A a inclusão de São Luís na Listagem do Patrimônio Mundial naquela década,
internacionalmente reconhecidos como Veneza, a Torre de Pisa, as produção acadêmica e intelectual sobre o acervo ambiental urbano conseguiram influenciar trabalhos preservacionistas locais e parcialmente
Pirâmides do Egito e as Muralhas da China, entre outros. da cidade, naquele momento, referenciava a preservação justificada reverter o pensamento generalizado do governo e de camadas da
A preocupação com a preservação do acervo arquitetônico em pelos fatores históricos e de antiguidade de casarões isolados. intelectualidade sobre a substituição da cidade antiga pela imagem da
São Luís remonta a década de 40 do século 20, num momento em modernidade adquirida do sul do país.
Durante a década de 60, porém, retornou o pensamento de
que o então governo estadual implementava reformas urbanísticas necessárias reformas urbanísticas na cidade antiga, em parte resultado O primeiro destes trabalhos foi elaborado pelo arquiteto francês
na cidade que causaram reações controversas na opinião pública. do novo panorama político e euforia econômica que se propunha para Michel Parent, que se encontrava no Brasil na segunda metade da
Considerada na época velha e antiquada pelo governo interventor do o Maranhão, com a quebra da oligarquia política de Vitorino Freire, de década de 60 preparando um Relatório sobre o Pelourinho, o Centro
Estado Novo, a estrutura urbana de São Luís foi parcialmente alterada caráter fortemente conservador. Surgiram nesta época os principais Histórico de Salvador (Bahia). Parent foi chamado em 1966 pelo
pela abertura de eixos viários e alargamento de ruas, colocando frente exemplares de arquitetura moderna verticalizada no Centro Histórico governo estadual, incluindo São Luís e Alcântara em seus
a frente, pela primeira vez na história da cidade, defensores da de São Luís: a sede do Banco do Estado do Maranhão (Edifício BEM), apontamentos, entregues à UNESCO em 1968. Nesta ocasião foi
renovação urbana e preservacionistas. a sede do Instituto Nacional de Seguridade Social (Edifício João proposta a inclusão do Centro Histórico de Salvador na Listagem do
São deste período as intervenções urbanas que resultaram na Goulart), um edifício de escritórios (Edifício Colonial) e um edifício Patrimônio Mundial, bem como apontado o valor similar do acervo
comunicação viária formada pela Avenida Magalhães de Almeida (que residencial (Edifício Caiçara). das duas cidades maranhenses.
72 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

O segundo e mais importante contato da UNESCO com a cidade Tabela 6.1 – Caracterização do Centro Histórico de São Luís. FONTE: PREFEITURA DE SÃO LUÍS. IPLAM, 1998.
efetuou-se através do arquiteto português Alfredo Viana de Lima em
fins de 1973. No Brasil para elaborar um Relatório e Plano de
USO
Preservação para a cidade de Ouro Preto (Minas Gerais), no mesmo Comercial Serviços Institucional Industrial
Residencial Residencial
Misto Sem Uso
ano esteve em São Luís e Alcântara para a elaboração de um relatório Unifamiliar Multifamiliar
oficial sobre a preservação das duas cidades. Federal 18,30 % 13,19 % 13,49 % * 20,86 % 2,15 % 12,07 % 19,94 %
Foi após o seu Rapport et propositions pour la conservation,
Estadual 20,28 % 12,85 % 3,58 % 0 53,05 % 0,51 % 3,97 % 5,76 %
recuperation et expansion de São Luís/Maranhão e a partir de suas
considerações sobre a área de intervenção e critérios a serem adotados GABARITO
que o gover no e stadual pass ou a organizar s eu s iste ma 1 pavimento 2 pavim. 3 pavim. 4 pavim. 5 pavim. 6 pavim. ou + Lote Vazio
preservacionista na cidade, anteriormente apenas a cargo do IPHAN,
sobre bens e imóveis isolados. Federal 51 % 36 % 10 % 2% 1 ** ***
O trabalho de Viana de Lima foi o primeiro a revelar, de forma Estadual 68,31 % 27 % 2,61 % 0,51 % 0,12 % 0,12 % 1,33 %
precisa e metodológica, a natureza do desenho urbano da cidade, CONSERVAÇÃO
identificando as origens da arquitetura civil de São Luís a partir dos
modelos arquitetônicos Barroco-Pombalinos utilizados no processo de Ruína Péssimo Regular Bom Lote Vazio
reconstrução de Lisboa pós-terremoto de 1755. Federal 11 % 36 % 43 % 10 % ***
As recomendações do arquiteto português foram diretamente Estadual 0,71 % 7,71 % 22,72 % 67,53 % 1,33 %
utilizadas em duas frentes distintas: no sistema de preservação
estadual, que passou a ser organizado a partir da instalação do ESTILO ARQUITETÔNICO
Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico do Barroco
Neoclássico Moderno Art Deco Neocolonial Eclético Popular Lote Vazio
Maranhão – DPHAP-MA e num capítulo específico do Plano Diretor de Pombalino
São Luís, desenvolvido pelo governo municipal em 1974. Tem origem Federal 56 % 0,5 % 16,5 % 4% 4% 9% 10 % ***
neste documento técnico a divisão municipal do Centro Histórico em
áreas diferenciadas de proteção, com índices especiais e normas para Estadual 15,92 % 0 21,36 0,71 % 2,09 % 12,45 % 46,14 % 1,33 %
ocupação, usos e gabarito, que deveriam ser analisados pelo DPHAP- * Uso industrial não incluído no levantamento do IPHAN ** IPHAN considerou 5 pavimentos ou + *** Lotes vazios na área Federal contabilizados à parte
MA, incluindo formalmente a participação da instância estadual nos
processos de análise e aprovação de obras novas e reformas na área
de preservação, agora já tombada pelo órgão federal. O conjunto tombado é formado por 5.607 imóveis preservados sistemas construtivos informais que ao longo do tempo se apropriaram
A partir da década de 80 os recursos municipais tornaram-se por Legislação Federal, Estadual e Municipal, sendo 978 imóveis da imagem tradicional da arquitetura do Centro da cidade, porém
cada vez mais escassos. A proposta municipal de um Anel Viário como inseridos na área de proteção federal (60 hectares) e 4.629 imóveis sem uma unidade estilística que o defina claramente.
na área de proteção estadual (160 hectares). Toda área é classificada Também é significativa a presença de ampla rede educacional
proteção ao tráfego do Centro Histórico (iniciado em 1972 e concluído
como Zona de Proteção Histórica – ZPH pela atual Legislação (pública e privada) e de saúde (clínicas, consultórios, hospitais públicos
em 1985) representou o último grande investimento municipal na
Urbanística Municipal e, legalmente, o tombamento estadual engloba e particulares) no Centro Histórico, principalmente na área de
área. O governo estadual, porém, iniciou neste mesmo período o
e também protege a área federal de preservação. tombamento estadual, considerada pelos órgãos preservacionistas
Programa Plurianual de Valorização do Patrimônio Histórico e Artístico
do Estado, que após a 1ª Convenção Nacional da Praia Grande A área incluída na Listagem do Patrimônio Cultural da como área de proteção do entorno do trecho federal e do Patrimônio
transformou-se no Projeto Praia Grande, elaborado pelo arquiteto Humanidade da UNESCO possui 1.369 imóveis, num perímetro que Mundial.
americano John Gisiger. Este programa, após sucessivas alterações e envolve exemplares e logradouros na área federal e algumas quadras As atuações de órgãos municipais, estaduais e/ou federais (em
complementações que ultrapassaram diferentes governos estaduais, estaduais. Estes imóveis Patrimônio Mundial estão distribuídos nos ações como limpeza pública, obras, terras/habitação e concessionárias
foi responsável pelas principais intervenções de requalificação nas bairros do Centro, Praia Grande e Desterro e nas praças D.Pedro II/ de água, luz e telefonia), bem como as presenças da iniciativa privada
áreas do entorno do bairro da Praia Grande e em imóveis isolados até Benedito Leite, João Lisboa/Carmo, Antonio Lobo/Santo Antonio (An- e do s morado res do C entro Hi stórico, são dis cutidas pela
o final da década de 90. tonio Vieira) e São João. Apesar de possuir legislação própria para municipalidade desde 1998 a partir dos conceitos referentes ao
efetuar o dispositivo legal do tombamento, o Município ainda não Planejamento da Conservação Urbana Integrada, quando então se
possui acervo preservado. formatou o Plano Municipal de Gestão do Centro Histórico de São
6.2 O Acervo Preservado
A caracterização da área de preservação ao final de década de Luís. Os princípios da Conservação Integrada utilizados pelos técnicos
90 pode ser observada através da tabela 6.1, onde se destacava o da Prefeitura de São Luís foram sistematizados a partir dos conteúdos
O Centro Histórico de São Luís (áreas de expansão urbana uso predominante residencial unifamiliar em todo o conjunto da Declaração de Amsterdã (elaborada pelo Conselho da Europa em
desenvolvidas até a segunda metade do século 19) extrapola os limites preservado. Destacava-se também o percentual elevado de imóveis 1975) e teoricamente adotados nas atividades da Fundação Munici-
jurídicos de preservação, ocupando uma área de aproximadamente desocupados e com usos institucionais na área federal e as pal de Patrimônio Histórico (FUMPH) e de seu Núcleo Gestor, instância
220 hectares onde habitam pouco mais de 40 mil pessoas (CENSO características estilísticas ligadas ao denominado Barroco-Pombalino. instalada em agosto de 2003 para a potencialização de ações não só
IBGE 2000) distribuídas em 11 bairros: Centro, Desterro, Madre Deus, A área de tombamento estadual é marcada pelos estilos Moderno e dos poderes públicos atuantes na área, mas de todos os atores que
Goiabal, Lira, Coréia, Vila Passos, Fabril, Diamante, Camboa e Apicum. Eclético (incluídos o neocolonial e art déco) e Popular, derivados dos fazem interface com aquele trecho da cidade.
SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE 73

Tabela 6.2 - Imóveis e áreas construídas (m2) por usos no Centro Histórico de São Luís; FONTE: PREFEITURA DE SÃO LUÍS: IPLAM / SEMTHURB Cadastro Técnico Municipal–1998.

PRESTAÇÃO SERVIÇO
USO RESIDENCIAL COMERCIAL INDUSTRIAL INSTITUCIONAL FUNDAÇÃO RELIGIOSO
SERVIÇO PÚBLICO
BAIRRO H V H V H V H V H V H V H V H V soma
4.209 258 2.028 654 8 1 82 15 51 15 29 6 9 1 25 7.319
CENTRO
670.202 30.483 396.365 105.192 1.857 733 107.974 60.242 43.251 23.853 22.507 9.337 3.849 1.688 17.532 1.495.074
190 19 165 3 4 1 1 2 1 1 387
DESTERRO
28.482 2.139 37.054 1.951 4.065 2.521 33 745 7551 448 84.993
MADRE 344 3 28 2 2 1 2 1 383
DEUS 30.369 552 2.730 1.726 1.268 563 14.380 151 51.742
563 6 22 1 1 2 1 596
GOIABAL
31.799 540 1.849 132 92 972 50 35.437
1.365 5 38 1 2 1 1 2 1.415
LIRA
91.145 2.526 7.447 130 386 126 885 776 103.396
7.897 4 103 1 5 3 1 3 8.017
CORÉIA
54.094 583 11.020 37 1.143 817 68 727 68.492
VILA 475 5 31 4 1 1 1 1 2 1 523
PASSOS 61.332 788 6.581 250 123 236 235 361 211 290 70.411
388 46 42 2 2 1 2 483
FABRIL
34.865 6.808 9.058 1.085 226 213 556 52.813
576 93 45 32 1 14 1 2 1 1 3 769
DIAMANTE
50.227 5.999 11.448 768 474 4.894 265 4.982 96 297 1.026 80.480
244 1 15 2 262
CAMBOA
21.256 28 2.451 2.576 26.312
167 61 46 2 1 1 1 279
APICUM
23.102 5.180 16.634 2.306 176 718 1.489 49.608
1.113.291 56.127 505.200 110.466 6.277 734 120.574 63.281 51.019 24.754 38.440 9.343 12.780 3.179 23.486 291
soma 1.169.418 615.666 7.011 183.855 75.773 47.783 15.959 23.777
2.139.263

H = Construção Horizontal; V = Construção Vertical


74 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Figura 6.10 - Arquitetura Barroca-Pombalina Figura 6.13 - Arquitetura Eclética Figura 6.16 - Arquitetura Moderna

Figura 6.11 - Arquitetura Barroca-Pombalina Figura 6.14 - Arquitetura Eclética Figura 6.17 - Arquitetura Moderna

Figura 6.12 - Arquitetura Neocolonial Figura 6.15 - Arquitetura Art Decó Figura 6.18 - Arquitetura Art Decó
76 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

6.3 Planos Diretores e Expansão da Cidade pela implementação de medidas voltadas ao desenvolvimento econômico, O corredor Centro-Anil foi considerado prioritário pois a região
principalmente relativos à implantação de um Distrito Industrial. apresentava facilidades na complementação de infra-estruturas, além
Este plano previu tendências que viriam a se consolidar na de manter as relações de trabalho da população, já que se localizava
O processo de ocupação da Ilha de São Luís apresentou a partir
década seguinte, especialmente em relação ao direcionamento de em área próximo ao Distrito Industrial, aliado ao fato desta área possuir
do final da década de 60 do século 20 características próprias quanto
ocupação do solo urbano: de um lado o assentamento populacional densidades muito baixas, tornando-se, portanto, possível a sua
ao assentamento populacional na malha urbana, resultando num
e, de outro, a implantação do sistema viário urbano e de transporte. densificação. A segunda área (rio Bacanga) foi considerada prioritária
crescimento que em diferentes ocasiões extrapolou aos parâmetros porque criaram-se condições favoráveis à urbanização, em função da
propostos pela legislação urbanística vigente. Este crescimento foi Aliado a estes dois fatores e de igual importância foi a implantação do
Distrito Industrial em área já pré-determinada por decretos federais e construção da Barragem do Bacanga, que permitiu a ocupação de
provocado principalmente por grandes investimentos em infra- trechos antes inundáveis.
estruturas regionais introduzidas no Maranhão na segunda metade estaduais, antes mesmo da elaboração Plano Diretor de 1974, em
da década de 50, que propiciaram nas décadas seguintes um ritmo áreas especiais jurisdicionadas. Em relação ao sistema viário verificou-se, na prática, que as
medidas adotadas foram efetivamente concretizadas e incorporadas
acelerado de sucessivos fluxos populacionais do interior do estado Segundo o Plano Diretor de 1974 os maiores fluxos populacionais
à malha urbana existente. Baseavam-se fundamentalmente no
para a capital. deveriam ocorrer do centro para os bairros, numa previsão de 4 áreas
direcionamento da ocupação da cidade, induzindo o crescimento para
Foi, porém, na década de 70 que estes problemas se agravaram de maior concentração e distribuição de tráfego: Centro; Praias; Porto
áreas que na época se encontravam pouco ocupadas. Foram previstas
e foi, justamente num panorama de crescimento desordenado e sem e Distrito Industrial; e um eixo: Centro-Anil. No caso da área central,
áreas de maior intensidade de ocupação, resultado, principalmente,
planejamento físico-territorial, que surgiu a necessidade de imposição especificamente entre os bairros Monte Castelo, Fátima e João Paulo,
da construção de grandes e extensas avenidas ao norte em direção
de medidas para a contenção, controle e direcionamento do uso e da que aliado ao Anil, já constituíam naquela data sub-centros de bairro,
às praias, à sudeste em direção ao Tirirical e à leste em direção ao
ocupação do solo na cidade de São Luís. Tal necessidade foi reforçada permanecendo totalmente consolidados até hoje.
município de São José de Ribamar.
pela orientação do governo federal que, através do Serviço Federal O segundo fluxo populacional induzido pelo Plano Diretor de
Foram previstas 6 implementações viárias de maior destaque:
de Habitação e Urbanismo (SERFHAU), propunha aos municípios a 1974 ocorreria entre a área central e o Itaqui, por constituir zona de
Prolongamento da Avenida dos Franceses para o Sacavém; Ponte da
elaboração de um Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), uso previsto como fundamentalmente industrial. Além do Porto pre-
Camboa sobre o rio Anil (atual ponte Bandeira Tribuzzi); Eixo viário
que em São Luís foi coordenado por Wit Olaf Prochnik, mesmo via-se a implantação de uma siderúrgica (a SIDERBRÁS) já em área Tirirical-Sacavém; Via marginal do rio Bacanga (av. Presidente Médici,
profissional que, posteriormente, foi responsável pela elaboração dos do futuro módulo industrial. hoje av. dos Africanos); Anel Viário (executado ao longo da década de
Planos Setoriais para a instalação do Campus da Universidade A margem direita do rio Anil já apresentava, na década de 70, 80); e Via Marginal do rio Anil (em área urbanizável).
Federal do Maranhão no Bacanga e do Plano do Diretor do tendências de ocupação residencial hoje consolidadas em grandes e
Distrito Industrial. As medidas adotadas e previstas no Plano de 74 foram na sua
numerosos conjuntos habitacionais, de iniciativa pública e privada, maioria concluídas na segunda metade da década 70 e início da
No início da década de 70, portanto, realizaram-se os primeiros ainda mesclados pela presença de grande número de vazios urbanos. seguinte, destacando-se a Ponte Bandeira Tribuzzi, a av. dos Franceses
estudos que resultariam na elaboração preliminar do Plano Diretor da Também foi previsto no plano o crescimento das áreas da Ponta D’Areia, e as vias marginais dos rios Bacanga e Anil. A desativação de um
Cidade. Também nesta época foi destinada à Sociedade de Olho D’água, Tirirical e Itaqui. Previu-se um incremento quanto à trecho da antiga ferrovia São Luís–Teresina e a implantação em seu
Melhoramentos e Urbanismo da Capital - SURCAP (empresa munici- ocupação, o que realmente se efetivou, principalmente em função da lugar da via Tirirical-Sacavém ao longo de seu leito, em trecho que vai
pal de urbanização), uma área de 3.690 ha, denominada “Gleba Rio implantação do então novo sistema viário. do aeroporto à área central (12 km de extensão), concretizou-se em
Anil”, localizada na porção norte, entre as praias e o Rio Anil (da Apesar do surgimento de centros de bairros no Olho D’Água e meados da década de 80 e atualmente ainda encontra-se em processo
Ponta D’Areia e São Francisco até a Avenida São Luís Rei de França). no São Francisco, previu-se que o principal centro de empregos de urbanização. Também em relação ao Anel Viário a obra para conclusão
Estas áreas foram gradativamente sendo comercializadas pelo poder continuaria sendo a área central de São Luís. Previu-se também o do trecho IV (e último) foi completada em 1987.
público municipal, através da implantação de diferentes loteamentos surgimentos de centros de empregos vinculados à uma natureza Das medidas implantadas estas foram as que levaram mais
e parcelamentos do solo. turística nas praias da Ponta D’Areia e Olho D’Água. tempo para ser concluídas. Isso ocorreu devido a uma forte pressão
O primeiro Plano Diretor de São Luís (elaborado em 1974) e Estimou-se um acentuado crescimento populacional e, para nas duas últimas décadas relacionadas a uma demanda exercida pela
sua respectiva lei complementar de Zoneamento, Parcelamento, Uso tanto, foram definidas áreas de expansões urbanas com maiores grande quantidade de loteamentos, que canalizaram os investimentos
e Ocupação do Solo Urbano, definiram como diretrizes básicas três densidades em locais de fácil acesso à zona industrial e em áreas em obras de saneamento para estas outras áreas de interesse, além
elementos: primeiro a hierarquização das vias urbanas; segundo a ainda desocupadas, o que acarretou o aparecimento de grandes de loteamentos na porção norte (das praias) e conjuntos à leste (áreas
organização do espaço urbano em zonas de uso diferenciado e, por bolsões urbanos. Porém o acentuado crescimento populacional da consideradas prioritárias), para viabilizar e consolidar a ocupação
último, a preservação da paisagem. cidade, muito acima do projetado pelo Plano Diretor, determinou um residencial nas mesmas.
Estas medidas tiveram por objetivos básicos disciplinar a esvaziamento das originais funções do Centro Histórico, bem como Também na década de 80 foi iniciada a implantação da av.
circulação de veículos e de pedestres, o desenvolvimento harmônico um crescimento descontrolado de bairros periféricos como forma de Atlântica (atual av. Litorânea), margeando as praias ao norte da cidade.
da cidade e assegurar a proteção ao meio ambiente natural, que atendimento às demandas por habitação. Esta medida não foi prevista no Plano de 1974, nem mesmo nas duas
resultaram e induziram a ocupação de determinadas áreas, assim Em relação ao assentamento populacional, portanto, o plano Leis de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo
como restringiram o uso de outras. de 1974 e sua respectiva Lei de Zoneamento definiram duas áreas subseqüentes, sendo apenas concluída no início da década de 90.
Posteriormente (em 1981) a Lei de Zoneamento foi modificada, prioritárias de ocupação residencial. Uma no extremo leste do corredor Quanto à organização do espaço urbano e sua divisão em zo-
numa reelaboração efetuada em função das transformações ocorridas Centro-Anil, onde já se localizavam os primeiros conjuntos habitacionais nas de uso, foi verificada uma quantidade considerável de mudanças
no desenvolvimento da cidade. Na prática em decorrência, de um implantados pela COHAB no final da década de 60 (ZR-5), e outra na formulação do Plano Diretor de 74 e de sua Lei de Zoneamento
lado, de forte pressão social por demandas de espaço para habitação área nas proximidades do rio Bacanga (ZR-6). Estas medidas visavam que culminaram na alteração dessa última, através da lei delegada nº
e ineficácia de uma política pública ou fiscalização com base nessa o não adensamento da área central (por conta das características 2.527 de 24 de junho de 1981.
mesma legislação para atenuar essas demandas, e, por outro lado, patrimoniais históricas e culturais) e seu entorno imediato. Estas mudanças específicas da lei de Zoneamento em relação
78 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

ao Plano Diretor se detiveram, basicamente, na incorporação de no- um lado a não disponibilidade de áreas para uso residencial em locais Itaqui-Bacanga (à sudoeste da ilha) e Tibiri-Pedrinhas (ao sul). Estes
vas áreas urbanizáveis e, portanto, em modificações quanto à nova mais bem servidos de mínima infra-estruturas (bem como oferta de documentos legais tinham por objetivo restringir a ocupação da área,
divisão de zonas em relação ao plano anterior. Por outro lado trabalho, que para estas populações se encontrava especificamente e es tabelece ram as bases pa ra execução de um Plan o de
verificaram-se mudanças quanto à classificação e intensidade dos usos na área central e nos sub-centros do corredor Centro-Anil), por outro Desenvolvimento Urbanístico da Área Metropolitana, onde foi prevista
adequados, tolerados e proibidos. Este fato demonstrou a ineficácia lado significou também uma tentativa do Poder Público de induzir o a instalação do futuro Distrito Industrial de São Luís.
da primeira Lei de Zoneamento (1974) e portanto a necessidade de processo de ocupação para estas áreas. Neste sentido é exemplar o Porém foi na elaboração do Plano de Desenvolvimento Local
sua reformulação enquanto adequação à realidade existente e na registro histórico da formação do bairros Anjo da Guarda (no Itaqui) Integrado (1970), que resultaria posteriormente no primeiro Plano
indução de crescimento. e Santa Bárbara (próximo ao Tirirical). Diretor da cidade em 1974, que se estabeleceram efetivamente as
Foi na mesma década de 80 ampliado o perímetro urbano, que No primeiro caso a área já vinha sendo gradativamente ocupada normas de uso e padrões de ocupação para esta área industrial. Assim
avançou em área rural à leste, em direção a São José de Ribamar com uso residencial desde 1969, data de implantação do loteamento o Distrito Industrial, implantado em 1974, ocupou grande parte da
(Mapa X), avançando por sobre o limite municipal de ambos e onde projetado pelo Poder Público Municipal. Esta área seria destinada ao área de abrangência dos decretos que a delimitavam, inclusive em
atualmente se encontram os conjuntos da COHAB e de bairros e assentamento populacional com alto índice de adensamento. área com características rurais. A zona industrial dividiu-se então em
conjuntos vizinhos formados por sucessivos processos de invasão de Entretanto o conjunto foi ocupado pelo assentamento de famílias de duas categorias de uso, ZI-1 e ZI-2, sendo que ambas apresentaram
terras e consolidação de assentamentos informais. Tal processo baixa renda, vítimas de um incêndio no bairro Goiabal (no Centro), (como “tolerado”, segundo texto legal) o uso residencial.
resultou, inclusive, na alteração por parte da Assembléia Legislativa situado próximo ao Cemitério do Gavião e aos bairros Lira e Belira. A diferenciação entre as duas zonas se deu especificamente
do Estado dos limites dos municípios em 1985. A zona urbanizada Desta forma verificou-se junto ao estabelecido pelo Plano Diretor quanto à classificação e ao porte industrial: a ZI-1 (localizada nas
também foi ampliada ao sul, próximo ao Estreito dos Mosquitos, de 1974 e sua respectiva Lei de Zoneamento uma desconformidade proximidades do Tirirical e ao longo da BR-135) estabeleceu como
passando de zona rural para zona de uso estritamente industrial. quanto ao uso estabelecido nesta área: dimensionada como zona in- uso adequado indústrias em geral de pequeno e médio porte, enquanto
Na porção norte da ilha (na região litorânea), a zona de uso dustrial quando na verdade parte da área já se caracterizava por uma que a ZI-2 estabeleceu os mesmos usos da ZI-1 acrescidos de indústrias
especial foi ampliada e não se restringiu mais somente a uma pequena significativa ocupação residencial. de grande porte, localizando-se numa área de abrangência maior (do
faixa (a das praias), mas avançando até a Avenida dos Holandeses, Estreito dos Mosquitos ao Porto do Itaqui).
Ao mesmo tempo a mudança dos usos - de industrial para
onde se encontram atualmente loteamentos de alto padrão. Em relação residencial - que se verificou na área imediatamente envolvente à As mudanças constantes na reformulação da Lei de Zoneamento
aos usos, permaneceram as restrições já previstas no zoneamento área de proteção da Reserva Florestal do Sacavém, foi justificada na em 1981 verificaram-se tanto em relação à divisão das zonas de uso,
anterior, ou seja, predominantemente residencial e concomitante com época a partir de dois fatores. O primeiro para eliminar a possibilidade quanto em relação às áreas, especificamente ao sul, nas proximidades
uso de incentivo ao turismo. Foi delimitada uma zona de uso especial de conflitos em função da proximidade entre zonas de usos bastante do Estreito dos Mosquitos, onde parte da área fora designada pelo
com interesse em preservação paisagística (ZE-1). Plano Diretor de 1974 e seu respectivo Zoneamento como zona rural.
distintos: industrial e de proteção à Reserva Florestal do Sacavém.
A área central e o corredor Centro-Anil também sofreram Assim a criação de uma zona residencial intermediária entre ambas Modificações de uso ocorreram também nas áreas em direção
modificações quanto à divisão das zonas de uso, sendo que a área viria amenizar a possibilidade do aparecimento desses conflitos. Na ao Porto do Itaqui, especificamente na bairro Anjo da Guarda e ao
central (a zona de interesse histórico), de uso comercial predominante, prática, porém, o uso habitacional foi, nas últimas décadas, o longo da BR-135, do trecho que vai desde o Tirirical até o
passou a abranger uma área maior de edificações com este fim, res pons ável pel a in vasã o gradativa de á reas pro tegi das entroncamento rodo-ferroviário ao Sul, ao lado da Reserva Florestal
adequada aos processos de tombamento efetivados pelo governo ambientalmente da Reserva. do Sacavém, já anteriormente delimitada. A área do Anjo da Guarda
estadual. Já no corredor Centro-Anil, em área imediatamente passou a classificar-se como zona residencial (com densidades de
A ampliação do perímetro urbano, avançando em área rural
envolvente à central, permaneceram as zonas de uso de sub-centro ocupação significativas), estendendo-se até a área imediatamente
(especificamente ao sul da ilha nas proximidades do Estreito dos
de bairros, porém com índices restritos de ocupação, resultando vizinha ao Campus da Universidade Federal do Maranhão.
Mosquitos), que passou a ter uso estritamente industrial a partir de
densidades menores a partir de 1981. 1981 e onde foi instalado o consórcio ALUMAR, explicou em parte o Já a área do Distrito Industrial delimitada anteriormente no
Outra grande modificação ocorreu nas proximidades do Porto surgimento desta zona de uso residencial ao sul da área de proteção plano de 1974, ao longo da BR-135 nas proximidades do Tirirical e da
do Itaqui onde se localizou o loteamento Anjo da Guarda e as invasões à reserva do Sacavém. Considerando que por ocasião da implantação Reserva Florestal, teve sua área modificada, em função da mudança
circunvizinhas após a instalação do mesmo loteamento, acrescidas da ALUMAR foram desapropriadas aglomerações rurais existentes na caracterização da zona que passou a classificar-se como uso
das invasões Sá Viana (ao lado do Campus da Universidade Federal nessa área, necessário se fez a oferta de áreas residenciais alternativas. residencial também com características voltadas à densificação. Quanto
aos usos adequados e tolerados nessas zonas, verificou-se a
do Maranhão), Sítio Encantado e Outeiro. Esta área era classificada Essas populações foram alojadas em área do Coqueiro I, manutenção da ZI-1. Nela foram localizadas na década de 80 os
como zona de uso estritamente industrial no Zoneamento de 1974, próximo à Santa Bárbara e ao Tirirical, ao longo da BR-135. Esta área módulos M-1 e M-2 do Distrito Industrial. Na ZI-2 as restrições foram
passando em 1981 para zona residencial, com alta densidade. apresentava características de ocupação rural, que poderia dar mais acentuadas quando comparadas ao Zoneamento de 1974, sendo
A zona de proteção ao aeroporto teve a sua área subtraída, continuidade às atividades agrárias de subsistência que caracterizavam estabelecido como uso adequado indústrias de pequeno porte, médio
justamente nas proximidades do Campus da Universidade Estadual do as populações desapropriadas. Entretanto esta tentativa fracassou, e grande porte, proibindo-se o uso residencial.
Maranhão e da MA-201, em direção à São José de Ribamar, onde se pois a população desapropriada deslocou-se para os bairros do Anil e
Foi estabelecida uma zona numa estreita faixa, ao longo da
instalaram o Jardim São Cristóvão e os conjuntos COHAB–Cidade João de Deus, além de localidades rurais dos municípios vizinhos de
BR-135 e Ferrovia Carajás-CVRD, com uso destinado à proteção
Operária. Também ao sul da reserva Florestal do Sacavém verificou-se Rosário, Simão, Arari e Itapecuru, áreas cuja fertilidade das terras é
paisagística, tolerando-se porém unidades industriais de apoio às
uma mudança de uso, que passou de zona industrial para zona residencial. mais apropriada às atividades agrárias.
indústrias de maior porte. Esta zona se localizou em área intermediária
As duas últimas alterações demonstram uma pressão social Desde 1970 destinou-se para a atividade industrial uma área entre as duas zonas industriais. Foi por onde se realizaram as infra-
dos fluxos populacionais verificados nos últimos anos da década de que representava aproximadamente 1/3 da área total do Município de estruturas industriais de transporte, linha de transmissão de energia
80 por demanda de espaço para habitação, que acabaram instalando- São Luís. Essa área foi demarcada e delimitada através de Lei e e adutora de abastecimento.
se em locais afastados da área central. Se este fato demonstrou por Decretos Federais e Legislações Estaduais, denominadas como glebas
80 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Finalmente estas transformações culminaram na elaboração de


um novo Plano Diretor do Distrito Industrial de São Luís, através da
Companhia de Desenvolvimento Industrial (CDI), que definiu as
diretrizes do plano urbanístico dessas zonas de uso. O estudo (de
1985) foi baseado no levantamento de uma hipótese de ocupação,
atrelado especificamente quanto ao panorama econômico e vocação
industrial: análise urbanística; diagnóstico dos sistemas de infra-
estrutura existentes; relações funcionais da cidade e do distrito;
pesquisa nas indústrias e efeitos multiplicadores locais diretos e
indiretos. O plano considerou ainda algumas restrições quanto ao
uso, especificamente em relação ao controle do meio ambiente, índices
de ocupação e preservação de algumas aglomerações rurais já
existentes na área.
Assim o Plano Diretor Industrial elaborado pela CDI estabeleceu
novas zonas de uso em relação ao zoneamento vigente do município,
que foram absorvidos pela municipalidade na reformulação de seu
Zoneamento (através da Lei nº 2.527 de 24 de julho de 1981). Estas
novas zonas de uso configuraram 10 subdivisões modulares, que
tiveram como critério as bacias de esgotamento sanitário (como forma
de redução dos custos de investimentos em infra-estrutura em
saneamento de frenagem).
O Distrito Industrial abrangia ao final da década de 80 do século
20 uma áre a to tal de 1 9.94 3,23 ha, res tando po rtan to
aproximadamente 34.000 ha, que se encontravam distribuídos em Figura 6.19 - Verticalização da cidade.
áreas rurais e urbanas. O módulo 1 encontrava-se no mesmo período
praticamente consolidado em termos de área ocupada por indústrias Objetivos políticos, sociais, físico-ambientais e administrativos, Aprovada na mesma data do Plano Diretor, sua principal lei
diversificadas de pequeno e médio porte. Verificou-se também em Diretrizes sociais, físico-ambientais e político-administrativas e complementar instituiu novo Zoneamento, Parcelamento, Usos e
todos os módulos a tolerância quanto à instalação de estabelecimentos Instrumentos institucionais, jurídicos, tributários e financeiros, formas de Ocupação do Solo Urbano, dividindo a cidade em 38 tipos
para prestação de serviços ao Distrito Industrial. urbanísticos e administrativos compunham uma matriz de propostas de Zonas (distribuídas em 54 áreas distintas), mais 66 Corredores
para o desenvolvimento da cidade. viários, que, possuindo índices urbanísticos específicos quanto à
No início da década de 90 do século 20 o Distrito Industrial apresentava-
se super-dimensionado em áreas modulares relativamente extensas e apenas Dentre os instrumentos foram aprovados com o Plano Diretor intensidade de uso do solo (limites de ocupação, afastamentos, área
parcialmente ocupadas, restando apenas os módulos 2, 6, 7, 9 e 10 com de São Luís de 1992 vários que posteriormente seriam oferecidos aos máxima de edificação e número de pavimentos) perfazem um total
áreas disponíveis para ocupação futura. Destes módulos, um (o de nº 6) foi municípios, através do Estatuto da Cidade. Em artigos, incisos e alíneas de 120 setores urbanísticos contendo usos residenciais, comerciais,
reservado desde o Decreto Federal de cessão da área para implantação da específicas foram detalhados os Direitos de Superfície e de Preempção, de serviços, institucionais, industriais, agrícolas e especiais.
SIDERBRÁS. Os módulos 7 e 9 poderiam ser desmembrados e o módulo 10 Direito Real de Concessão de Uso, Reurbanização e Urbanização Um dos principais objetivos da Lei de Zoneamento de 1992 foi
só permitia usos paisagísticos. Consorciadas, Operações Urbanas (Solo Criado) e Transferência do o incentivo à ocupação dos vazios urbanos existentes em quantidades
A partir da obrigatoriedade constitucional que exigia o Plano Potencial Construtivo. Fruto do Sistema de Planejamento e Gestão significativas na cidade. Da mesma forma a ocupação destas áreas,
Diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes e amparado no Urbana proposto pelo Plano Diretor de 1992, foi criado no mesmo associadas aos índices não atrativos nas faixas limítrofes do município,
conjunto de informações técnicas que tramitavam naquela data entre ano o Instituto de Pesquisa e Planejamento do Município (IPLAM), impediriam o crescimento da cidade em direção a São José de Ribamar.
Câmara e Senado Federais reunidas num Projeto de Lei que instalado em janeiro de 1993 (hoje denominado Instituto de Pesquisa O incentivo a essa ocupação foi efetivado através dos índices
posteriormente se transformaria no Estatuto da Cidade, o Poder Público e Planificação da Cidade). urbanísticos, que em vários trechos da área urbana tiveram, por
Municipal deu início em 1990 aos trabalhos técnicos de revisão de sua Apesar da atualidade dos instrumentos disponibilizados - São exemplo, seu gabarito ampliado de forma significativa (de seis para
legislação urbanística básica. Luís foi o primeiro Município brasileiro a apresentar em sua legislação doze pavimentos), reforçados pela implantação do solo criado, que
urbanística estes instrumentos do Estatuto da Cidade - o Plano Diretor possibilitou edifícios de até 15 andares.
O Plano Diretor resultante, aprovado juntamente com sua Lei
Complementar de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do de 1992 encontrou a mesma dificuldade apresentada por vários Os índices urbanísticos distribuídos pelo território municipal
Solo Urbano em dezembro de 1992, foi dividido em Objetivos, Diretrizes municípios do país a partir daquela data: os instrumentos, para sua seriam responsáveis pelas densidades projetadas (p. 85), que
e Instrumentos, além de um título específico para as definições sobre plena utilização, além de suas leis complementares específicas, garantiriam uma ocupação induzida nos vazios urbanos identificados.
a Política de Desenvolvimento Urbano, Função Social da Cidade e necessitariam estar distribuídos no território municipal. Ou seja, Estas densidades, porém, quando comparadas às densidades atuais,
Função Social da Propriedade Urbana. Títulos específicos norteavam deveriam constar num mapa da cidade anexado a Lei do Plano Diretor, revelam a grande concentração construtiva apresentada em apenas
as políticas públicas de Preservação do Meio Ambiente, Patrimônio informando de maneira clara em quais trechos da cidade os alguns pontos da cidade - em particular sobre áreas do Loteamento
Cultural, Habitação, Transporte, Desenvolvimento Econômico e instrumentos propostos poderiam ser utilizados. Desta forma apenas Boa Vista, em trecho compreendido entra as avenidas Colares Moreira
Tecnológico. Um título final determinava critérios para um Sistema de o solo criado, aprovado em lei específica juntamente com o Plano e Holandeses - e um total desinterese pelo mercado imobiliário local
Planejamento e Gestão Urbana. Diretor, teve utilização prática na cidade. na urbanização de outras áreas.
82 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Foi utilizada como fonte cartográfica nos trabalhos da nova lei lar, não foi implementado em sua totalidade. Apenas a criação do IPLAM não foi suficiente, ao longo do tempo de vigência da Lei, para o pleno
de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano a monitoramento da aplicação da legislação urbanística na cidade. Um Sistema de Informações Físico Territoriais proposto, bem como um Conselho de
base aerofotogramétrica produzida em 1988 pela Companhia de Águas Planejamento Urbano, não foram efetivados e mesmo com a criação de um específico Instituto Municipal de Controle Ambiental (IMCA) parte da
e Esgotos do Maranhão (CAEMA), resultado de fotos aéreas elaboradas dinâmica urbana ainda ocorre sem o devido acompanhamento técnico municipal. Esta parte estratégica do sistema municipal de planejamento
em 1987. Também foram elaborados dois estudos específicos sobre a urbano foi complementado pela criação e regulamentação do Conselho Municipal da Cidade, que com representação dos poderes públicos municipal
zona urbana, contratados a partir de consultoria externa à equipe e estadual (executivo e legislativo), dos movimentos sociais populares, representações sindicais, das universidades e de organizações não
municipal, responsáveis pela produção do conhecimento específico governamentais preenchem uma lacuna significativa ao permitir discussões abertas mais aprofundadas sobre o desenvolvimento urbano da cidade.
sobre a cidade. O Diagnóstico Urbano, elaborado pela empresa
Econométrica, apresentou a situação da distribuição de usos, infra-
estrutura, equipamentos e serviços na cidade, enquanto o estudo
Unidades Geoambientais e os Aspectos Evolutivos da Ocupação Ur-
bana do Município de São Luís/MA, elaborado pela Procarta (grupo técnico
formado por professores e pesquisadores ligados à Universidade Fed-
eral do Ceará), traçou o perfil das características geológicas, geográficas,
de vegetação e ambientais da área urbana municipal.
Porém a utilização de uma imagem da cidade de 1987 (uma
década de intenso desenvolvimento e expansão física da cidade),
associada a falta de uma memória técnica precisa (inexistência de
arquivos de plantas e loteamentos aprovados) determinou um conjunto
de imprecisões no lançamento dos memoriais de zona da respectiva
lei, fazendo com que várias áreas já edificadas em 1992 fossem
lançadas como áreas de proteção ambiental e, no sentido inverso,
áreas de proteção ambiental obrigatória por força de legislação supe-
rior fossem lançadas como passíveis de edificação. Da mesma forma
problemas textuais dos memoriais e o não respeito pela legislação
específica federal e estadual na área do Distrito Industrial determinaram
que a lei fosse corrigida em duas oportunidades (2000 e 2005).
Ao longo do processo de aplicação e monitoramento da atual
Lei de Zoneamento foram identificados pelo Poder Público Municipal
problemas quanto a existência de áreas edificadas no interior da área
urbana que se apresentam sem zoneamento (portanto sem índices
urbanísticos), áreas com ocupações irregulares (áreas que, por lei
específica, não poderiam ser destinadas à edificação), áreas
urbanizadas com memoriais imprecisos e trechos de expansão ur-
bana que cresceram fora dos limites previstos pela legislação de 1992.
Também foram identificadas áreas que se encontram edificadas
e que apresentam riscos quanto à ocupação (Mapa “Áreas de Riscos”).
Tais áreas apresentam riscos por exposição à rede de alta tensão,
áreas com possibilidade de deslizamentos, inundações e desabamentos
e que não possuem especificações preventivas em lei.
O Sistema de Planejamento e Gestão Urbana proposto pelo
Plano Diretor que, ao ser instalado, garantiriam a participação popu- Figura 6.20 - Conflitos de ocupação urbana e proteção do meio ambiente
84 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Tabela 6.3 - Revisão Preliminar - Lei 3.253 (Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano).

Capítulo VI
Lei n.º 3.253

Capítulo IV
Capítulo I Capítulo III Capítulo V Capítulo VII Capítulo VIII Capítulo IX Capítulo X Cap. XII
Capítulo II Capítulo XI
PRESERVAÇÃO
USO E
NORMAS LIMITE DAS PARCELAMEN- E FORMAÇÃO OCUPAÇÃO DOS ESTACIONA- DISPOSIÇÕES HIERARQUIA DISPOSIÇÕES
ZONEAMENTO OCUPAÇÃO DAS DEFINIÇÕES
GERAIS ZONAS TO DO SOLO DE ÁREAS LOTES MENTOS GERAIS VIÁRIA FINAIS
ZONAS
VERDES

Divide o
Estabelece
Município em
critérios para a
Zonas, para fins Determina os
localização da
de utilização tipos de
Dispõe sobre Complementa edificação sobre o Dispõe sobre Estabelece os
urbana e/ou Parcelamento do Apresenta o Anexos:
Apresenta Usos, Dimensão e artigos referentes lote: recuos Estacionamentos: Empreendimentos Classifica as Vias
Conteúdo

rural Solo e a Infra- “Glossário Lay out das


Apresenta os Memoriais das Testada Mínima à ZPA e ZRF, laterais e de dimensões e de Impacto, de e suas Dimensões
Estrutura Urbana Técnico” dos Vias, Tabelas,
Objetivos da Zonas Urbana dos Novos Lotes, faixas de proteção fundo, Taxa quantidade Interesse Social, Mínimas,
(38 tipos de mínima termos Listagem de
Lei e Rural ATME, ALML, ambiental e Máxima de mínima de vagas Licenças e estabelece Faixas
Zonas, em 54 necessária para apresentados na Categorias de
(forma textual) Afastamento critérios para sua Impermeabilizaçã (de acordo com o Infrações para non aedificandi
áreas e 66 cada tipo e porte Lei Usos e Mapas
Frontal e Gabarito ocupação o pilotis, poços de uso do imóvel) obras irregulares
corredores. de
iluminação/ventil
Total de 120 empreendimento
ação e Elementos
áreas
da Construção
urbanísticas)
Adequar o
Fornecer Equilibrar as Garantir Esclarecer os
Plano Ordenar a Garantir a Estimular o uso
Definir os diretrizes áreas livres, Otimizar e ampliação do termos da Lei, Permite rápida
Objetivos

Diretor à ocupação do organização eficiente do Garantir a


parâmetros de equilibradas verdes e maximizar o sistema viário permitindo e precisa
Legislação solo e físico-espacial espaço urbano, utilização
desenvolvime para a edificadas, uso da terra para sem indenização transparência visualização
Complem. oferecer urbana/rural, tornando a equilibrada da
nto urbano e urbanização e mantendo a justiça social no de benfeitorias e nos processos do
Municipal, transparência induzindo a densidade via pública
rural ocupação do qualidade uso do solo maior área de análise e zoneamento
Estadual e à cidade infra-estrutura gerenciável
solo ambiental verde aprovação
Federal
Desatualizado
quanto ao - Redação
HABITAT - Áreas de imprecisa e
- Zonas não
II, Carta interesse - Tabela de omissa sobre - Glossário
respeitam
Mundial do ambiental Usos está - Desatualizado Pilotis, - Redação falho e
loteamentos - Erros gráficos; -Anexos
Direito à classificadas incompleta; frente à Balanços, imprecisa e incompleto;
já aprovados; - Dimensio- - Inexistência dissociados
Cidade e como - Zonas sem legislação Mezanino, omissa; - Falta de vários
- Limites namento do PD Viário dos artigos da
encontros urbanizáveis e uso; federal; - Desatualizado Ocupações. em - Erros gráficos; termos
imprecisos e ultrapassado - Dissociação c/ Lei;
nacionais e vice/versa; - Testadas e - Não frente à Declividade - Empreend. de utilizados na
memoriais para as os projetos da - Mapas e
internacionais - Usos Dimensões contempla todos legislação - Tabela de Impacto super Lei;
incorretos necessidades da SEMTUR gráficos de má
Problemas

relacionados Especiais não Mínimas dos os tipos de federal, estadual Poços de dimensionados; - Má redação
- Limites de cidade; - Áreas non qualidade
à questão aparecem em Lotes não Parcelamento e municipal; Iluminação e - Infrações dos termos
SL diferem - Inexistência de aedificandi visual;
urbana; nenhuma condizem com a do Solo; Ventilação juridicamente listados;
da legislação Altera
“Pólos eliminam lotes
Desatualizado Zona; realidade; - As vilas não irreal; irreais e
estadual; prejudicialmente Geradores de pequenos; Favorece erros
quanto ao - Nenhuma - Gabaritos apresentam inaplicáveis; Omissões e erros na localização
- Toponímia a morfologia Tráfego”;
Estatuto da menção é feita restritivos e/ou especificações; Obstrui o Criam insatisfa-
retardam o de imóveis e
desatualizada urbana e a A falta de processo de
Cidade e à Zona Rural; abusivos em desenvolvimento
Trazem prejuízos ções em parcela prejudica a
Afasta a qualidade de vida por não refletir os monitoramento do análise e
Agenda 21; Restrição ao várias zonas; ao tráfego que se dos proprietários análise e
Transtornam as legislação do anseios Poder Público aprovação e aprovação dos
desenvolviment refletem em toda de imóveis
Impede o densidades em Estratifica a mercado populares; torna a legislação permitem projetos
o e causam a cidade
acesso diferentes cidade e impede o imobiliário ativo Cria situações inflexível “interpretações”
confusão inadequadas dos projetistas
municipal a partes da desenvolvimento
tributária na densidade
financiament cidade
o externo
86 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

Tabela 6.4 - Categorias de Uso e Tipos de Ocupação. FONTE: Carta de Uso e Cobertura da Terra, escala
1:100.000, Gerco-MA (1996) / IPLAM.

Tipo de Ocupação – Município – Área (km 2) e Porcentagem


Categoria de Uso
Cobertura estabelecida São Luís % Total %
Residência padronizada, área
Área Urbanizada residencial consolidada e/ou 68,65 11,74 84,49 8,83
atividade terciária.
Conjunto arquitetônico com valor 1,70 0,29 1,70 0,18
Área Tombada histórico cultural.
total 143,48 24,53 236,09 24,67
Unidades de Conservação 47,35 49,63
Parque Estadual do Bacanga 30,28 (1)
Parque Estadual do Itapiracó 1,37
Parque Ecológico da Lagoa da 1,50
Jansen
Restrita à Ocupação APA da Região de Maracanã 14,20
APA de Upaon-Açu /Miritiba
/Alto Preguiças 406,09(2)
Restingas 8,49
Manguezais 89,16 158,67
Área Verde 1,88 1,88
Apicum 4,24 5,30
Mata Galeria 0,85 12,12
total 15,48 2,65 22,31 2,33
Área de instituições
Institucional governamentais 9,27 16,10
Área de Proteção do Aeroporto 6,21 6,21
Jurisdicional Distrito Industrial (3) 166,05 28,39 166,05 17,35
Áreas residenciais não 21,05 3,60 38,82 4,06
Áreas de Ocupação padronizadas
Espaço Não Construído Loteamento 5,19 0,89 61,56 6,43
total 13,35 2,28 19,91 2,08
Aproveitamento Cultivo 0,04
econômico (primário) Estabelecimento agropecuário 10,87
Extração de argila plástica/areias 2,09
Granja 0,35
total 0,44 0,07 0,86 0,09
Lazer Clube social 0,44
Camping
Turismo Cordão arenoso/praias 3,60 0,62 15,43 1,61
total 117,84 20,14 266,51 27,84 Figura 6.21 - Expansão urbana no período 1988– 2001. Comparação da mancha urbana ao final da década de 80 (em
Expansão Capoeira 17,44 28,70 vermelho) com a mancha urbana de 2001 (em cinza), demonstrando o avanço sobre os municípios vizinhos. FONTE: IPLAM
Floresta Secundária Mista 100,40 237,81
Solo desnudo (Sítio Santa Eulália 2,18 0,37 2,18 0,23
Diversos e manguezal degradado)
total 25,92 4,43 41,14 4,30
Rios 24,55 39,64
Água (4) Lagoa de estabilização (Caema) 0,09
Lagoa de captação (Alumar) 0,24
Represa do Batatã 1,04
Dados obtidos a partir de interpretação automática da referida carta baseado em SGI-INPE.
Total Geral para São Luís e Ilha 584,93 100,00 957,05 100,00
1. Excluindo-se a área de 1,04 km2 referente a Represa do Batatã;
2. Os dados referentes a APA de Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças não foram considerados uma vez que haveria sobreposição em
Cobertura estabelecidas por Município e Área (km2) e para a Microrregião da Aglomeração Urbana de São Luís, relação a outras categorias e uso/tipo de ocupação-cobertura estabelecida
1996 (São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa). 3. A área oficial do Distrito Industrial de São Luís corresponde a 199,43 km2, todavia considerou-se a delimitação dos módulos
excetuando-se os usos identificados nesses, como por exemplo áreas de extração de argila plástica/areias, urbanizada, manguezais,
apicuns, capoeira e ocupação desordenada.
4. Em função de não se dispor de material cartográfico que representasse as águas territoriais (incluindo limites), é que se justifica a
ausência das mesmas nesta categoria, bem como a diferença entre as áreas totais consideradas nesta análise e aquelas divulgadas
pelo IBGE (1997).
88 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

7 SÃO LUÍS NO SÉCULO XXI 1

22 22
Dos anos 50 até meados da década de 80, a ocupação urbana 21
de São Luís foi induzida pelos investimentos públicos em infra-estrutura
20
- seja em escala regional (rodovias), seja em escala local (sistema
viário, habitação, etc.) - e pelos assentamentos espontâneos na
17
periferia. Nos anos 90/2000, a ocupação urbana foi regulada pelo
planejamento urbano e definida pelo urbanismo espontâneo dos 15 15
assentamentos e pela arquitetura de mercado. Os investimentos 14

PRÉDIOS
públicos, neste período, voltaram-se para a qualificação das infra- 13 13
estruturas existentes.
12 12
11 11
Aprovado após a desestruturação das políticas nacionais de
planejamento e habitação, o Plano Diretor de 1992 assumiu um caráter 9
regulador, em uma cidade que cresceu entre o urbanismo espontâneo
de habitações autoconstruídas e a arquitetura voltada para os nichos 7
de mercado imobiliário.
6
5
Os conjuntos habitacionais implantados nas décadas de 70/80 4 4
(empreendimentos de COHAB/BNH), entregues sem a infra-estrutura 3 3
necessária (rede de coleta e tratamento do esgoto) e sem a urbanização 2 2 2 2
dos espaços públicos, consolidaram-se em sub-centros, com 1 1 1
residências padronizadas, comércio e serviços. Atualmente verifica-
se em algumas situações, a ocupação privada irregular das áreas
institucionais e áreas verdes remanescentes destes conjuntos.

1980

1990

2000
1988

1998
1976
1979

1984

1986

1989

1994

1996

1999

2004
1982

1992

2002
1983

1993

2003
1975

1985

1995

2005
1987

1997
1981

1991

2001
Também intensificou-se a verticalização da arquitetura
residencial e comercial de alguns bairros da cidade (Fig. 7.1), com o
aparecimento de edifícios modernos de inspiração funcionalista, e ANOS
surgiram novas modalidades de parcelamento do solo, como os Figura 7.1 – Número de prédios construídos/ano em São Luís. FONTE: SEMA/SEMTHURB.
condomínios horizontais que colaboraram para o crescimento do
número de construções formais na cidade. Por outro lado, a legislação Esta cidade em rede, com áreas de baixa e de média densidades, população. Com a consolidação dos bairros periféricos e a segregação,
urbanística e a falta de um mercado imobiliário e turístico dinâmicos, é conformada pela consolidação das estruturas ambientais reforçada pelos custos de deslocamento – em tempo e dinheiro – e
contribuíram para o controle do adensamento da faixa litorânea, com historicamente configuradas e sua verticalização em alguns pontos, pelas novas fronteiras urbanas – espaços de exclusão – cresceu, nos
suas áreas de proteção ambiental (ZPA 1 e ZPA 2). por novas formas de parcelamento do solo e pelo aumento da situação últimos anos, a tendência ao “confinamento” das populações de baixa
A cidade configurou-se, no início do século 21, em uma estrutura de informalidade, com novos padrões de segregação sócio-espacial e renda ao próprio bairro ou suas vizinhanças, diminuindo ainda mais
policêntrica de territórios ligados em rede, na qual é possível distinguir o comprometimento dos recursos naturais locais. suas possibilidades de integração à dinâmica da economia urbana.
estruturas ambientais urbanas diferenciadas. Neste contexto, ganham A pressão imobiliária em um tecido urbano expandido e os Nesta cidade segregada estabeleceram-se “circuitos de deslocamento”,
importância social e econômica os centros de bairros – muitas vezes avanços nas tecnologias de transportes, comunicações e segurança, para os indivíduos, a partir de suas atividades ou classes sociais de
localizados em corredores viários estruturantes - e invariavelmente, definiram mudanças no padrão de segregação espacial. Considerando origem.
cresce o dinamismo e as potencialidades econômicas de todo o segregação (possuidora de uma dimensão social e uma dimensão No ano 2000, dos 196.868 domicílios particulares da cidade,
território, assim como a diversidade das situações de exclusão social. espacial) como sendo a separação, exclusão ou diferenciação entre 20,28% não estavam ligados à rede geral de abastecimento de água
Elementos estruturantes como o sistema viário principal em indivíduos, privando-os da igualdade de direitos, deveres e e 57,7% não contavam ainda com esgotamento sanitário (IBGE: 2000).
anéis e os rios, lagoas, praias e áreas de preservação ambiental, oportunidades, podemos entender que ao modelo de segregação Quase a metade dos responsáveis pelos domicílios da cidade (48,03%),
conferem sentido e coesão aos diferentes fragmentos do tecido urbano, centro-periferia, sobrepõe-se o padrão dos enclaves fortificados, tem rendimento inferior a três salários mínimos: 24,64% destes, ou
áreas residenciais que por sua vez guardam as qualidades e intensificando as tensões entre “incluídos” e “excluídos” que, próximos 48.132 pessoas, tem rendimento de até ½ salário e 23,39% ganham
especificidades locais em bairros e conjuntos habitacionais. mas separados por muros, tendem a não circular ou utilizar áreas comuns. de 1 a 2 salários; 16.974 pessoas, ou 8,68% dos responsáveis pelos
Sintoma desse processo foi a construção de condomínios domicílios da cidade, não tem rendimento. Estes números refletem o
fechados, torres residenciais, shopping center’s e outras áreas de lazer baixo dinamismo do mercado de trabalho urbano e abrem caminho
(clubes, etc.), espaços segregados e homogêneos que diminuem a para novas formas de marginalidade: por exemplo, seqüestros-
1
José Antonio Viana Lopes, Arquiteto e Urbanista diversidade do ambiente urbano e excluem uma parcela da sua relâmpago e assaltos a ônibus urbanos (são registrados em média
90 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

200 assaltos a ônibus por ano em São Luís, conforme dados do SET). problemática social e dinamizem o setor produtivo local ainda ocorre aumentaram a temperatura de São Luís, que apresenta atualmente
A implantação dos empreendimentos mínero-metalúrgicos em no âmbito das instituições públicas, como as universidades (Estadual temperaturas mais elevadas que as registradas para o intervalo 1960–
São Luís, apesar de gerar certo número de economias locais e o incre- e Federal) e em instituições como a FAPEMA e a EMBRAPA. Iniciativa 1990. O aumento das temperaturas variou de 0,8°C a 1,0°C por mês
mento dos sistemas de abastecimento de água, energia e transporte importante para o debate sobre a cidade foi a implantação do curso em relação aos meses do período 1960–1990 e, de acordo com o
urbano, não significou a formação de um parque industrial integrado, de Arquitetura e Urbanismo na UEMA (que formou sua primeira turma Núcleo de Meteorologia da Universidade Estadual do Maranhão, em
que dinamizasse o setor produtivo local. As indústrias presentes na em 1998) e em faculdades particulares, aumentando a atuação de maio de 2004 a temperatura local atingiu os 34°C à sombra, valor
cidade são, no geral, de pequeno porte, seja pelo número de pessoal arquitetos no âmbito do Poder Público municipal e estadual e na que não havia sido registrado no intervalo citado.
ocupado, seja pelo volume do capital, o que apresenta vantagens iniciativa privada local. Deste modo, no início do século XXI, a cidade apresenta
como a proximidade residência/trabalho e menores custos de Localizada em uma ilha, a cidade de São Luís faz parte de um problemas ambientais como a erosão, inundações, poluição,
implantação (com a disponibilidade de infra-estruturas) mas, por vezes, ecossistema flúvio-marinho complexo. A situação insular, apesar de comprometimento dos aqüíferos, destruição do ecossistema dos
gera conflitos de usos em zonas urbanas. Vale notar que as grandes continental, é acentuada pela faixa de domínio dos campos alagados manguezais e modificações nos microclimas locais. Estes problemas
indústrias estão localizadas fora do perímetro urbano e ocupam uma de perizes, e define um território recortado por estuários, repleto de acarretam desequilíbrios da fauna e flora urbana e propiciam a
parcela importante do território e da economia do município. Convivem manguezais, mas onde ainda encontram-se capoeiras e terras constituição de áreas urbanas insalubres, com a perda da qualidade
na cidade, portanto, a modernização tecnológica e gerencial das agricultáveis. A expansão da cidade neste território também foi ambiental e paisagística da cidade.
empresas transnacionais e a precariedade de vínculos empregatícios condicionada por sua geomorfologia e se dá a partir dos espigões No entanto, apesar do intenso processo de transformação das
e das condições de trabalho nas pequenas unidades industriais. para as várzeas. A situação fundiária, com uma parcela significativa paisagens naturais em paisagens culturais construídas, São Luís ainda
Por sua vez, o desempenho comercial da cidade na região se do território em propriedade da União ou do Estado, também é possui certa reserva de espaços livres de ocupação (incluídos aqui os
manteve em destaque, com a instalação de empreendimentos determinada pela condição de ilha. canteiros centrais e espaços livres em corredores viários) que, em
atacadistas de capital internacional e redes nacionais de supermercados Na década de 90 as áreas de interesse ambiental do município alguns casos, constituem verdadeiro estoque urbano de paisagens de
e shopping’s, além de investimentos regionais e centros de serviços foram delimitadas e formalizadas em lei, seja como Zonas de Proteção exceção: dunas, mangues, parques, espaços urbanos com vegetação
(médicos, automotivos e outros). Os novos empreendimentos Ambiental (ZPA), de acordo com o Plano Diretor de 1992, seja como significativa. Estes espaços foram mantidos muitas vezes pela lógica
comerciais, incorporando centros de comercialização de materiais de Áreas de Proteção Ambiental (APA’s), municipais, estaduais e especulativa da expansão urbana, pelas características geofísicas
construção e hipermercados, instalaram-se em áreas com pouca ou particulares (Tabela 1). destes espaços e pela própria regulação urbana. Também a
nenhuma densidade comercial anterior, com presença de habitações No entanto outra característica da São Luís contemporânea foi recuperação da qualidade da água dos rios Bacanga e Anil, e o combate
de classe média ou assentamentos residenciais de baixa renda. o comprometimento dos recursos naturais, com o lançamento de ao assoreamento do canal do rio Anil, são aspectos diretamente
Apesar disso, não constituíram novas centralidades, mas ilhas de esgotos domésticos e industriais in natura nos rios, o assoreamento relacionados com a sustentabilidade do sistema urbano.
exclusão, uma vez que não se integraram a uma estrutura sócio- dos rios que abastecem a capital, retirada de areia para a construção O número de veículos emplacados na cidade cresceu de cerca
espacial pré-existente. civil, assentamentos espontâneos em áreas de proteção ambiental de 80.000, em 1986, para mais de 140.000, em 2003, quase o dobro,
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à agricultura (em particular, na margem esquerda do Rio Anil, no Parque Estadual com um alto índice de motorização (um veículo para cada seis
praticada no município. Das lavouras permanentes, cerca de 55 hect- do Bacanga e na APA do Itapiracó) e a continuidade do processo habitantes). Esses números se refletem na quantidade de acidentes
ares de terras são ocupadas com o plantio de frutas – principalmente histórico de aterramento do mangue. de trânsito (1053 acidentes no ano de 2003). Além da demanda local,
banana, mas também mamão, manga, coco-da-baía, limão, melancia Além destes problemas a expansão do sistema viário, sem a a malha viária e o sistema de transportes sofrem os impactos dos
e maracujá. Além das frutas também são cultivadas, no território do fluxos populacionais intermunicipais, uma vez que as outras cidades
implantação de um sistema de drenagem, e o desrespeito às taxas de
município, cana-de-açúcar, feijão, milho, arroz. Quanto ao potencial da Ilha funcionam como cidades-satélites da capital, que é o pólo
impermeabilização para as construções estipuladas pela Lei de
econômico da agricultura metropolitana, a lavoura permanente de concentrador de oportunidades de trabalho e dos laços sociais e
Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (1992),
mandioca, com 140 hectares plantados, gera uma renda de 40 mil políticos que atraem a população insular.
desconsiderando os percursos naturais das águas, os aqüíferos e a
reais para os pequenos proprietários, enquanto o tomate, em 4 hect-
vegetação existente, colaboram para a impermeabilização do solo, Para minimizar os problemas de circulação e transporte urbano,
ares, gera cerca de 21 mil reais.
prejudicando a renovação dos lençóis freáticos e criando pontos de possibilitando a integração das diferentes estruturas ambientais da
Em São Luís, o crescimento populacional tende a se manter, cidade, os investimentos do poder público foram direcionados para a
alagamento e erosão na cidade.
embora em ritmo menos acelerado uma vez que a taxa de crescimento qualificação das vias de tráfego (com a construção dos elevados do
anual vem diminuindo (2,44% em 2004). Com o desemprego aberto Desde os anos 90 os assentamentos espontâneos têm ocupado
Calhau, Cohama, Cohab e Franceses), para a abertura ou consolidação
chegando a 21,9%, verifica-se grande pressão por postos de trabalho áreas de encosta, de mangue e de talvegues, desvalorizadas pelo
de avenidas (Av. Litorânea, Av. Ferreira Gullar, Av. Eduardo Magalhães
por parte de uma população jovem desocupada e a necessidade de mercado, mas em São Luís verificou-se a desconsideração pelas
e a avenida de contorno da Lagoa da Jansen; a MA-202, que liga São
criar postos de trabalho qualificados (que exigem alguma especialização) questões geotécnicas mesmo na implantação das infra-estruturas
Luís aos Municípios de São José de Ribamar e Paço do Lumiar, também
e oportunidades de inserção dos jovens no mercado formal. habitacionais regulares. Esta situação foi agravada por iniciativas de
recebeu melhorias, com duplicação em alguns pontos) e para a
Atualmente, o crescimento do número de faculdades particulares desmatamento, por movimentações de terra (cortes, aterros e
implantação ou atualização da sinalização viária. Além desses
contribuiu para satisfazer a demanda reprimida por educação e para mineração) e por assentamentos agrícolas inadequados. investimentos, as políticas públicas previram a reestruturação do
a qualificação dos profissionais que atuam na região. No entanto, o Nesse período, o asfaltamento das vias, o número de transporte público, com implantação do Sistema de Integração de
desenvolvimento de centros de pesquisa que investiguem a construções e, principalmente, a diminuição das áreas verdes Transportes (ônibus urbanos) e do Centro de Controle de Tráfego (CET).
SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE 91

Nesse período ocorreu também a consolidação de estruturas


ambientais importantes como a Lagoa da Jansen e a construção ou
qualificação de espaços públicos com a implantação de praças e
equipamentos comunitários. Ocorreu a reestruturação dos serviços
de iluminação pública e limpeza urbana, municipalizados; de segurança
pública, com implantação do Centro Integrado de Operações Policiais; e
de saneamento, com a implantação de estações de tratamento de esgotos
e a atualização das exigências sanitárias para os novos loteamentos.
Como reflexo dessa situação, de 1991 a 2000 ocorreu um
aumento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade, em
suas variáveis Renda (de 0,648 para 0,696), Educação (de 0,845 para
0,901) e Longevidade (de 0,670 para 0,737). O IDH/São Luís passou
de 0,721 em 1991, para 0,778 no ano 2000.
Nas últimas décadas o Poder Público carreou significativos
investimentos para o Centro Antigo da cidade, reconhecido como
Patrimônio Cultural da Humanidade (pela UNESCO, em 6 de dezembro
de 1997) e as intervenções estatais inseriram-se numa ótica
desenvolvimentista, baseada na exploração das potencialidades
turísticas da cidade.
O Centro Antigo sofreu várias intervenções urbanísticas, como
a recuperação da infra-estrutura através da renovação das redes de
água, esgoto e drenagem, a substituição parcial da rede telefônica e
elétrica aérea pela subterrânea, bem como a construção de praças,
jardins e alargamento de calçadas. Empreendimentos hoteleiros,
comerciais (artesanato) e institucionais (Faculdade de Arquitetura,
Escola de Música) têm se instalado na área, o que, espera-se, irá
dinamizar a economia do bairro. Figura 7.2 - Novas tipologias e sua inserção no meio ambiente.
O bom estado de preservação do conjunto urbanístico, no
No início do século 21, intensificou-se o processo de qualidades ambientais locais, através da gestão integrada dos recursos
entanto, não garante a conservação dos edifícios, tomados
transformação das estruturas urbanas e arquitetônicas existentes, da Ilha. No entanto, a Região Metropolitana da Grande São Luís, que
isoladamente. Por outro lado, as intervenções têm acarretado, em
particularmente nas áreas adjacentes ao Centro Antigo, como o bairro reúne os municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar
certos casos, na descaracterização de imóveis tombados. No mais, o
do Monte Castelo, por exemplo e a expansão da mancha urbana con- e Raposa (e em recente alteração, também Alcântara), ocupando toda
inverno rigoroso, com repentinas trocas de temperatura típicas do
tinua, levando a processos de conurbação com o município vizinho e a Ilha de São Luís, não constitui ainda unidade político/administrativa,
clima tropical úmido, e a falta de uma cultura da manutenção do
ao adensamento de áreas desprovidas de infra-estrutura urbana e embora tenha existência legal desde 1998.
imóvel continuam acarretando graves danos ao acervo construído.
equipamentos sociais, na faixa de fronteira. Em São Luís a permanência da cidade antiga e a construção de
Em uma cidade na qual uma parte significativa do território é
Atualmente a cidade se expande em direção a leste, aos estruturas ambientais modernas em áreas de expansão desocupadas
protegido por legislação federal, estadual ou municipal como patrimônio
municípios de São José de Ribamar e Paço do Lumiar, ocupando a criaram uma cidade onde a herança colonial barroca e sua plasticidade
cultural, com uma riqueza e diversidade cultural expressa em tantas
Bacia do Rio Paciência, em áreas adequadas à urbanização. Em outro convive com a simplicidade formal do modernismo e da arquitetura
atividades, festas e tradições, o grande desafio é adaptar os sítios
vetor de expansão, a oeste, a cidade cresce em direção ao Distrito contemporânea. Assim a racionalidade industrial manteve os vínculos
históricos à vida contemporânea sem comprometê-los enquanto
Industrial, ocupando áreas de ecossistema fluvio-marinho frágil, já com a cultura local, aumentando a diversidade do ambiente urbano e
herança social valiosa para as futuras gerações.
ameaçado de degradação ambiental e com forte presença de ocupações suas potencialidades econômicas e ambientais.
São Luís hoje é uma cidade fragmentada, com segmentos irregulares. O terceiro vetor de expansão da cidade é para o eixo sul, Com um processo de industrialização incipiente e baixa produção
urbanos globais, que participam dos fluxos informacionais do mercado em direção ao continente, ocupando áreas lindeiras à BR135. Estas agrícola e pecuária, São Luís se consolidou como centro de serviços e
financeiro e da rede mundializada de distribuição de mercadorias, ocupações, apesar de limitadas pelas grandes áreas de propriedade exportação de minérios, apresentando grande potencial para o
com internet, tv a cabo e flat´s, mas ainda hoje fornecendo insumos da Alumar e da CVRD, tendem a se espalhar pelas bacias do Tibiri, desenvolvimento do terciário superior, em particular, do turismo cul-
e consumindo produtos industrializados, e com segmentos urbanos Inhaúma e Estiva, com o mesmo padrão de ocupação encontrado na tural e de negócios. A cidade contemporânea, no entanto, ainda não
desconectados, excluídos do acesso aos serviços básicos e às cidade, a partir das áreas altas em direção às encostas e vales. foi capaz de responder às demandas por habitação e serviços urbanos
oportunidades de trabalho. Estes fragmentos de territórios estão cada
Esses vetores de expansão exigem do Poder Público o controle básicos (possibilitando a integração social da população) decorrentes
vez mais próximos e mais separados.
que garanta a qualidade dos assentamentos e a preservação das da posição da capital no quadro econômico regional.
92 SÃO LUÍS: UMA LEITURA DA CIDADE

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de Hidrobiologia - LABOHIDRO/Núcleo Geoambiental - UEMA, 2003.
Federal do Maranhão, São Luís-MA, 2003. 1ª ed. Maranhão Typogravura do Frias, 1870)
2 CD-ROM.
INSTITUTO DA CIDADE

EQUIPE TÉCNICA

Ana Rachel Cabral Marques Ferraz


Arquiteta e Urbanista (UEMA/2003)
Especialista em Iluminação e Design de Interiores
(Universidade Castelo Branco- RJ/CREA-MA, em curso)

Camila Bezerra de Carvalho


Arquiteta e Urbanista (UNAMA-PA/2001)
Especialista em Preservação do Patrimônio Arquitetônico (Belém-PA/2003)

Cíntia Maria de Aguiar Moraes


Arquiteta e Urbanista (UEMA/2001)

Danielle Nogueira Magalhães


Arquiteta e Urbanista (UEMA/2001)

Évilla Carollinne Maciel Delgado Ribeiro


Arquiteta e Urbanista (UEMA/2004)

Érica Garreto Ramos


Arquiteta e Urbanista (UEMA/2004)

Francisca Maria Fortes Farias


Programadora de Informática (CEFET/1998)
Administradora de Empresas (UEMA/2005)

Geísa Veloso Maracaipe


Gestora em Turismo e Hotelaria (UNICEUMA/2005)

José Antonio Viana Lopes


Arquiteto e Urbanista (UEMA/1998)
Especialista em Conservação Urbana Integrada (UFPE/2000)
Mestre em Desenvolvimento Urbano e Regional (UFPE/2004)

José Marcelo do Espírito Santo


Arquiteto e Urbanista (FAUUSP/1987)
Mestrando em Desenvolvimento Urbano e Regional (UFPE)

Luciana Helena Salgado Leite e Leite


Arquiteta e Urbanista (UEMA/2003)
Especialista em Engenharia Ambiental (UNICEUMA, em curso)

Lucilândria Corrêia Lindoso


Desenhista Técnica/Projetista (Bacelar Portela/1993)
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo (UEMA)

Marcelino Silva Farias Filho


Licenciado em Geografia (UEMA/2003), Licenciado em História (UFMA/2004)
Mestrando em Agroecologia (UEMA)

Raimunda N. Fortes Carvalho Neta


Bióloga (UEMA/2000), Licenciada em Educação Artística (UFMA/2000)
Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas (UFMA/2004)

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